quinta-feira, 30 de setembro de 2021

Elk Merlot 2019

 

Há pouco tempo atrás eu participava de uma dessas “lives” que, em virtude do caos pandêmico, virou uma moda necessária e urgente, de um especialista e crítico de vinhos. O tema era as principais castas tintas do mundo. A Merlot foi escolhida para ser comentada e discutida.

Em algum momento eu comentei que atualmente, no Brasil, a Merlot está no auge, no ápice da produção e da sua qualidade expressando o máximo de nosso terroir, com muita tipicidade.

O especialista leu o meu comentário e disse literalmente que eu era um ufanista fazendo uma defesa cega e ultranacionalista da Merlot produzida em nossas terras e pediu serenidade para dizer isso, levando em consideração que há grandes Merlots produzidos na França, no Chile etc.

Em momento algum baseei o meu comentário no devaneio do ufanismo, de um pensamento sem qualificação técnica ou coisa que o valha, mas com base em um histórico gradativo de qualidade de degustação de vários Merlots nacionais e o momento mágico em que a casta e seus rótulos estão vivendo nesse país. As degustações dizem por si só!

Vamos então aos fatos: Peguei uma fala do enólogo da Casa Valduga, diretamente do site da renovada “Revista Adega, Daniel Dalla Vale, que diz: “A Merlot vem se destacando há vários anos e é a variedade mais constante, especialmente no Vale”. Nos últimos 20 anos em que temos trabalhado aqui, ela é que tem mais constância. Se você pegar um super ano, vai ter Cabernet que vai dar um grande vinho, mas, quando falamos de constância nos tintos, é o Merlot”. Quer ler a matéria completa? Acesse: "Os segredos da Merlot, a cepa mais consistente da Serra Gaúcha".

Então hoje decidi ir à busca de um Merlot nacional e de preferência com aquele precinho camarada, que não dói ao bolso. Descobri em minha cidade um local que vende vinhos a preços muito acessíveis e vi um rótulo, claro, da casta Merlot, bem interessante, com um rótulo descontraído e modernoso. O preço estava atraente, na casa dos R$30, então resolvi arriscar, sem contar que, para variar, fiz uma busca, uma pesquisa sobre o rótulo e descobri que o produtor é pouco conhecido. Tenho me interessando por esses produtores pouco conhecidos, com seus rótulos “undergrounds”, afinal precisamos valorizar esses produtores pouco conhecidos e que tem pouco espaço mercadológico.

Enfim, o abri. Que vinho surpreendente! É muito melhor se surpreender positivamente com vinhos baratos do que aqueles icônicos que a margem de aceitação é enorme! O vinho que degustei e gostei veio (adivinhem?) da emblemática Serra Gaúcha, do Brasil e se chama ELK, a casta é a Merlot e a safra é 2019.

Então hoje decidi ir à busca de um Merlot nacional e de preferência com aquele precinho camarada, que não dói ao bolso. Descobri em minha cidade um local que vende vinhos a preços muito acessíveis e vi um rótulo, claro, da casta Merlot, bem interessante, com um rótulo descontraído e modernoso. O preço estava atraente, na casa dos R$30, então resolvi arriscar, sem contar que, para variar, fiz uma busca, uma pesquisa sobre o rótulo e descobri que o produtor é pouco conhecido. Tenho me interessando por esses produtores pouco conhecidos, com seus rótulos “undergrounds”, afinal precisamos valorizar esses produtores pouco conhecidos e que tem pouco espaço mercadológico.

Enfim, o abri. Que vinho surpreendente! É muito melhor se surpreender positivamente com vinhos baratos do que aqueles icônicos que a margem de aceitação é enorme! O vinho que degustei e gostei veio (adivinhem?) da emblemática Serra Gaúcha, do Brasil e se chama ELK, a casta é a Merlot e a safra é 2019.

E quando a gente fala de grandes vinhos, em grandes regiões e a adaptabilidade das castas às regiões, convém e muito saber um pouco da região para entender e sentir, em seus aromas e paladares, o vinho que estamos degustando. Então falemos um pouco sobre a Serra Gaúcha.

Serra Gaúcha

Situada a nordeste do Rio Grande do Sul, a região da Serra Gaúcha é a grande estrela da vitivinicultura brasileira, destacando-se pelo volume e pela qualidade dos vinhos que produz. Para qualquer enófilo indo ao Rio Grande do Sul, é obrigatório visitar a Serra Gaúcha, especialmente Bento Gonçalves.

Serra Gaúcha

A região da Serra Gaúcha está situada em latitude próxima das condições geo-climáticas ideais para o melhor desenvolvimento de vinhedos, mas as chuvas costumam ser excessivas exatamente na época que antecede a colheita, período crucial à maturação das uvas. Quando as chuvas são reduzidas, surgem ótimas safras, como nos anos 1999, 2002, 2004, 2005 e 2006.

A partir de 2007, com o aquecimento global, o clima da Serra Gaúcha se transformou, surgindo verões mais quentes e secos, com resultados ótimos para a vinicultura, mas terríveis para a agricultura. Desde 2005 o nível de qualidade dos vinhos tintos vem subindo continuamente, graças a esta mudança e também do salto de tecnologia de vinhedos implantado a partir do ano 2000.

O Vale dos Vinhedos, importante região que fica situada na Serra Gaúcha, junto à cidade de Bento Gonçalves, caracteriza-se pela presença de descendentes de imigrantes italianos, pioneiros da vinicultura brasileira. Nessa região as temperaturas médias criam condições para uma vinicultura fina voltada para a qualidade. A evolução tecnológica das últimas décadas aplicada ao processo vitivinícola possibilitou a conquista de mercados mais exigentes e o reconhecimento dos vinhos do Vale dos Vinhedos. Assim, a evolução da vitivinicultura da região passou a ser a mais importante meta dos produtores do Vale.

Vale dos Vinhedos

O Vale dos Vinhedos é a primeira região vinícola do Brasil a obter Indicação de Procedência de seus produtos, exibindo o Selo de Controle em vinhos e espumantes elaborados pelas vinícolas associadas. Criada em 1995, a partir da união de seis vinícolas, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale), já surgiu com o propósito de alcançar uma Denominação de Origem. No entanto, era necessário seguir os passos da experiência, passando primeiro por uma Indicação de Procedência.

O pedido de reconhecimento geográfico encaminhado ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) em 1998 foi alcançado somente em 2001. Neste período, foi necessário firmar convênios operacionais para auxiliar no desenvolvimento de atividades que serviram como pré-requisitos para a conquista da Indicação de Procedência Vale dos Vinhedos (I.P.V.V.). O trabalho resultou no levantamento histórico, mapa geográfico e estudo da potencialidade do setor vitivinícola da região. Já existe uma DOC (Denominação de Origem Controlada) na região.

O Vale dos Vinhedos foi a primeira região entregue aos imigrantes italianos, a partir de 1875. Inicialmente desenvolveu-se ali uma agricultura de subsistência e produção de itens de consumo para o Rio Grande do Sul. Devido à tradição da região de origem das famílias imigrantes, o Veneto, logo se iniciaram plantios de uvas para produção de vinho para consumo local. Até a década de 80 do século XX, os produtores de uvas do Vale dos Vinhedos vendiam sua produção para grandes vinícolas da região. A pouca quantidade de vinho que produziam destinava-se ao consumo familiar.

Esta realidade mudou quando a comercialização de vinho entrou em queda e, consequentemente, o preço da uva desvalorizou. Os viticultores passaram então a utilizar sua produção para fazer seu vinho e comercializá-lo diretamente, tendo assim possibilidade de aumento nos lucros.

Para alcançar este objetivo e atender às exigências legais da Indicação Geográfica, seis vinícolas se associaram, criando, em 1995, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale). Atualmente, a Aprovale conta com 24 vinícolas associadas e 19 associados não produtores de vinho, entre hotéis, pousadas, restaurantes, fabricantes de produtos artesanais, queijarias, entre outros. As vinícolas do Vale dos Vinhedos produziram, em 2004 9,3 milhões de litros de vinhos finos e processaram 14,3 milhões de kg de uvas viníferas.

E agora o vinho!

Na taça revela um vermelho rubi com lindos e brilhantes reflexos violáceos com finas lágrimas de média persistência e em pequena quantidade.

No nariz destaca-se os aromas frutados, extremamente frutado, frutas vermelhas maduras, como groselha, cereja e morango com notas discretas de madeira, graças aos 3 meses de passagem por barricas de carvalho e 3 meses em garrafa antes de sair da vinícola, com toques de baunilha.

Na boca é seco, mostrou-se alcoólico, mas não desequilibrado, pelo contrário, é um vinho harmonioso e equilibrado, além de jovem, frutado, com alguma expressividade, taninos sedosos, mas um tanto quanto presentes, acidez na medida, que denuncia a sua jovialidade, com um discreto tostado e arriscaria dizer com um toque de chocolate. Um final persistente.

Claro que a intenção sempre é expor, de forma civilizada e respeitando as diversidades de opinião, os assuntos mais inquietantes e complexos do universo do vinho, mas não podemos e nem devemos negligenciar o auge em que os nossos rótulos, feitos com a casta Merlot, estão. Há muito a se caminhar, a cultura vitivinícola brasileira é jovem, temos muito problemas e entraves de toda a ordem a resolver, a superar, mas não podemos negar que a Merlot encontrou nas terras gaúchas o seu lugar. O ELK Merlot, da Casa Motter, é um vinho simples, despretensioso, informal, mas mostra com fidelidade a cara, o DNA do Merlot brasileiro, um vinho frutado, leve, fácil de degustar, ainda jovem, na sua plenitude, com todas as características de um bom Merlot, mostrando-se, nesse sentido, toda a sua expressividade, sim, um vinho de alguma personalidade. Então brindemos o Merlot brasileiro! Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Casa Motter:

Fundada em 1974 por Guerino Motter, a Casa Motter é uma vinícola familiar apaixonada pela vitivinicultura que preza pela elaboração de vinhos, sucos e espumantes de alta qualidade. O cuidado começa no vinhedo, passa pela vinificação e vai até o amadurecimento do vinho. Durante todo o processo, o enólogo Michel Motter com formação internacional, acompanha cada detalhe para garantir o máximo de expressão em cada vinho elaborado.

Uma bela e imponente casa, na cidade de Tenna, Itália, com vista para o lago Caldonazzo e para seus vinhedos. Por causa da guerra e da crise do governo italiano, Valentino e Giudita Motter e seus 4 filhos deixam tudo para traz e emigram para o Brasil em busca da ¨Cucagna¨. Falava-se de um país de clima quente, onde não se pagavam impostos, cujas terras medidas em cm na pequena cidade de Tenna, no Brasil seriam em Km, onde haveria muita fartura.

Em 1879, de trem, saíram de Trento até Genova onde embarcaram em um navio aborrotado de imigrantes. À bordo, pais, filhos, com poucos pertences, mas grandes sonhos. No navio nasce o 5º filho de Valentino e Giudita, Luigi, pai de Guerino. Merica, Merica, Merica, Cosa Sarala Sta Merica, esta era uma parte da música que cantavam. Não sabiam ao certo o que era a América, mas almejavam construí-la.

Ao desembarcarem no dia 17 de janeiro de 1880, viram seus sonhos transformados numa dura realidade. O que encontraram não foi um ¨Bel Mazzolino Di Fior¨. A Terra acidentada que lhes foi destinada foi regada com suor e lágrimas. Mas com muito trabalho, fé e determinação, logo surgem os primeiros parreirais. A uva era amassada com os pés e com isso faziam o vinho para o consumo. Esse amor pelo cultivo da uva e elaboração dos vinhos foi passando de geração em geração. Guerino Motter, neto de Valentino, juntamente com a esposa e seus nove filhos, vinificavam no porão de sua casa toda a produção de uva e comercializavam, para uma cooperativa. Em 1974 fundou a vinícola Casa Motter. Atualmente o proprietário é Roque Motter, filho de Guerino.

Mais informações acesse:

http://casamotter.com.br/vinhos-finos-e-espumantes/

Referência:

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/os-segredos-da-merlot-cepa-mais-consistente-da-serra-gaucha_10653.html

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=SERRAGAUCHA

 

 

 






sábado, 25 de setembro de 2021

Rilievo Pinot Nero 2019

 

Por isso que sempre digo que o universo do vinho é vasto e inexplorado. Há muito a se falar, há muito que descobrir, há muito que conhecer e melhor: Há muito para degustar! Eu recebi do clube de vinhos que faço parte, alguns rótulos bem interessantes, mas um me chamou verdadeiramente a atenção.

Pinot Nero era a casta estampada em um dos rótulos que recebi e que eu confesso no ápice de minha ignorância vínica, não conhecia. Mas quando sou “provocado” nesse sentido eu me ponho a pesquisar e quando descobri a resposta, fui tomado por uma grata surpresa: trata-se apenas da emblemática e maravilhosa Pinot Noir como é chamada no país da Bota, a velha e necessária Itália.

A palavra italiana “Nero” significa “escuro” e também aparece em castas autóctones e tradicionais da Itália como a Nero d’Avola que significa a casta escura de Ávola, uma região italiana.

Muito prazeroso para mim, que faz questão de degustar história, pois vinho é assim, degustar história e cultura de um país, de um povo, de uma região, descobrir esses pequenos grandes detalhes de rótulos que degustamos. E o que também me surpreendeu foi encontrar um Pinot Noir produzido na Itália. Uma maravilha, principalmente levando em consideração que a casta tão difícil para se cultivar.

E logo quando o vinho chegou não hesitei em demorar e logo me coloquei à disposição, que não sou bobo nem nada, a degusta-lo. A tarde, com sol brilhando e com temperatura agradável foi o pano de fundo para degustação desse Pinot Nero e quando desarrolhei a garrafa e os primeiros sinais de fruta e de um aroma floral começaram a se manifestar, meus sentidos logo ficaram aguçados.

A taça inundada do líquido me animou ainda mais. As papilas receberam o bombardeio de sabores do vinho e que maravilha! Que belo e interessante Pinot Noir italiano. Então vamos às apresentações. O vinho que degustei e gostei veio do Vêneto (IGT Trevenezie), na Itália e se chama Rilievo da casta Pinot Nero, safra 2019. Antes de falar do belo vinho falemos um pouco da importante região do Vêneto.

Vêneto

O Veneto é a terra natal de algumas das mais conhecidas denominações italianas, como Prosecco, Valpolicella e Bardolino. Um dos maiores vinhos italianos produzidos nesta região é o encorpadíssimo Amarone. Situada no nordeste da Itália, a região do Veneto apresenta uma área total um pouco menor do que as demais áreas vinícolas de Piemonte, Lombardia, Toscana, Puglia e Sicília, no entanto, possui um volume de produção maior do que tais regiões italianas.

Vêneto

Embora as regiões da Puglia e Sicília fossem, por um longo tempo, as principais produtoras de vinho na Itália, a partir da metade do século XX esse cenário passou por notáveis mudanças. Na década de 1990, o Vêneto conquistou cada vez mais espaço e reconhecimento com a produção de alguns dos melhores vinhos italianos, como os tintos Valpolicella e Amarone, além do maravilhoso vinho branco Soave e do espumante Prosecco.

Na região do Vêneto encontra-se Valpolicella e sua sub-região Valpatena. Tal área é a responsável pela produção de meio milhão de hectolitros de vinho por ano e, em termos de volume, Valpolicella é a única DOC italiana capaz de competir com a famosa DOC Chianti, na Toscana. Ao leste do Veneto encontra-se Soave, responsável por abrigar o vinho branco seco que carrega o mesmo nome e encontra-se entre os vinhos italianos mais apreciados.

Apesar de as uvas mais cultivadas no Vêneto serem da casta Merlot e Prosseco, as videiras que deram origem aos vinhos com certificação de Denominação de Origem Controlada (DOC) são, na verdade, das castas Pinot Grigio, Riesling, Garganega, Pinot Nero, Barbera e Corvina, atualmente, as uvas de maior importância para a produção dos vinhos do Veneto apreciados e cultuados mundo afora.

Formado pelas sub-regiões de Veneza, Belluno, Verona e Rovido, o Veneto extrai a maior parte de sua produção de Verona, contabilizando anualmente cerca de dois milhões de hectolitros de vinhos italianos. O destaque dessa sub-região vai além do volume de produção local, Verona é o berço dos reverenciados, famosos e cultuados exemplares de Bardolino e Valpolicella.

Uma curiosidade a respeito do Vêneto é sua forte ligação com a vinicultura do Brasil, que recebeu muitos imigrantes italianos desta região na Serra Gaúcha, hoje a melhor área de elaboração de vinhos do nosso país. Não por acaso, a maioria das vinícolas de sucesso do Vale dos Vinhedos, na Serra Gaúcha, pertence a famílias de descendentes desses imigrantes de Vêneto, no nordeste da Itália.

E agora o vinho!

Na taça tem um vermelho rubi com reflexos violáceos muito brilhantes, com curtas e rápidas lágrimas finas.

No nariz o destaque são os aromas frutados, de frutas vermelhas como morango, cereja e groselha, algo de geleia em compota, sem soar enjoativo, um toque floral bem delicado, além de notas de especiarias tais como cravo, canela.

Na boca é seco, equilibrado, harmonioso, elegante e fresco. A fruta também tem destaque, mas não tanto quanto no aspecto olfativo. É levemente tânico, percebe-se alguma adstringência, porém nada que desagrade ou incomode, com uma incrível acidez que entrega o frescor tão típico da Pinot Noir (Pinot Nero). Tem um final curto.

Um belo Pinot Nero, um Pinot Nero da Itália, de uma região emblemática italiana, o Vêneto. Um vinho fresco, extremamente frutado, mas sem ser enjoativo, com toques de especiarias, diria terroso, aroma delicado, um floral elegante, típico da casta. O nome pode se revelar diferente para com o resto do mundo, mas entrega o que há de melhor das essenciais características da Pinot Noir. Um vinho versátil, aquele que podemos degustar com pratos leves, mais condimentados, uma refeição simples ou sozinho, sem acompanhamentos. Um vinho de personalidade, com alguma expressão, de bom volume de boca, acidez marcante para um tinto, também típica da casta. Uma grata surpresa, sem contar que o aspecto visual também deixa o seu recado, que linda garrafa! Que o universo continue a conspirar a nosso favor e que revele grandes e novas experiências. Tem 12% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Botter:

A vinícola Botter foi fundada por Carlo Botter e sua esposa Maria em 1928 em Fossalta di Piave, uma pequena cidade perto de Veneza. Começou como um pequeno negócio de venda de vinhos locais em barricas e garrafões.

Na década de 60 os dois filhos, Arnaldo e Enzo, ingressaram na Companhia e passaram a comercializar vinhos em garrafas. Aumentaram a presença da Empresa no mercado italiano e - o mais importante - deram vida a um processo gradual de expansão para outros países, que se tornaria a principal fonte de receitas da Empresa.

Na década de 70, a Botter conseguiu acompanhar o crescimento do mercado internacional e expandir sua variedade. Alguns de seus vinhos do Veneto vieram dos vinhedos da família, localizados perto de Treviso.

Nos anos 80, graças a várias colaborações estreitas com produtores locais, Botter começou a fornecer novos vinhos de Abruzzo, Campânia, Puglia e Sicília, oferecendo uma ampla gama de produtos feitos com uvas de vinhas nativas; este foi apenas o ponto de partida da abordagem multiterritorial de Botter que mais tarde se desenvolveria e se espalharia por todo o país, do norte ao sul da Itália.

No final dos anos 90, a terceira geração - Annalisa, Alessandro e Luca - entrou na Companhia e Botter passou a testemunhar uma nova evolução. Foi adotado um modelo de negócio totalmente novo, mais adequado às necessidades de um mercado dinâmico e global.

Hoje, Botter é um dos maiores produtores e exportadores de vinhos italianos:1 em cada 35 garrafas de vinho italiano exportadas para o mundo é produzida por Botter.

Mais informações acesse:

https://www.botter.it/

Referências:

“Vinci”: https://www.vinci.com.br/c/regiao/veneto

“Blog Sonoma”: https://blog.sonoma.com.br/regioes/veneto-entre-amores-e-vinhos/

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/regiao/veneto

 

 

 

 




sábado, 18 de setembro de 2021

Novas Gran Reserva 2013

É significativo, é singular quando degustamos um vinho repleto de simbolismos e mensagens edificantes para a nossa vida, mas, sobretudo, claro, degustar um grande vinho que preencha todos os nossos anseios, que arrebate as nossas experiências sensoriais. Por isso que defenderei sempre e com urgência a necessidade quase que latente da busca incansável pela “identidade” cultural do vinho, o DNA do vinho com a sua história, a sua região, a filosofia e a marca que o produtor pretende entregar etc.

Atualmente temos testemunhado um avanço significativo de rótulos sustentáveis ou orgânicos, nomenclatura esta a mais difundida, em tempos da necessidade da discussão e da efetivação desse conceito na nossa sociedade, aonde a saúde humana vem sendo ceifada de forma latente, mas, por outro lado, silenciosamente, por uma percepção torta de qualidade de vida extremamente destrutiva.

A indústria do vinho, preocupada com o desenvolvimento sustentável, seja econômico, mercadológico e socioambiental, direciona as suas intenções, suas gestões e principalmente as suas produções para rótulos de cunho orgânico, mitigando o uso de agrotóxicos nos seus vinhedos entre outros produtos corrosivos na sua vinificação e produção.

O clima, a terra de onde nascem os vinhedos tem uma predominante participação no conceito de vinhos orgânicos. O discutido e tão falado conceito de terroir nunca teve tanta importância, o seu protagonismo é evidente, é latente. A valorização da terra, da cultura, as manifestações comportamentais nunca foram tão importantes para a consolidação dos vinhos orgânicos.

Toquei no assunto dos vinhos orgânicos porque embora a minha história com esses rótulos sejam curtas e não tenha aquela profusão de vinhos degustados, os poucos que tive experiência foram extremamente relevantes, especiais. São vinhos definitivamente com caráter, expressivos, especiais. Não sei dizer, confesso, se existe, no momento da degustação, diferença entre rótulos orgânicos e tradicionais, mas o fato é que os orgânicos traz personalidade, são marcantes.

E em 2017 participei de um evento de degustação na minha cidade, em Niterói, o Festival de Vinhos do Supermercado Real, e fui apresentado a um rótulo especial de uma das mais importantes, se não for a mais significativa vinícola da América Latina e do mundo, chamada Emiliana Organic Vineyards, que definitivamente me trouxe uma espécie de arrebatamento. Já conhecia a linha mais popular e conhecida deles chamada de “Adobe” e havia gostado muito, mas esse vinho elevou o conceito de complexidade e expressão máxima do terroir. Um vinho de muita tipicidade.

Quando o degustei e refleti de forma categoria, parecia que eu gritava para todos naquele evento: Vou comprar esse vinho. Semanas após esse evento, fui ao supermercado que organizou esse evento na esperança de encontrar esse rótulo que degustei e eis que choquei com ele e não hesitei, ainda mais com um preço muito convidativo. O levei!

Um momento especial também com relação ao tempo de safra: 8 anos de safra! Será que está bom? O que ele me reservará de bom? Dúvidas e perguntas que convenhamos anima, estimula ainda mais para a degustação! Deixei, propositalmente, evoluir na adega por longos 4 anos, até atingir seu ápice, o seu melhor momento, de um vinho austero, complexo. Será?

Saiu da adega cheio de expectativa, veio junto com ele tudo o que o enófilo espera dele: complexidade, estrutura, tipicidade. A rolha, delicadamente foi removida com aquele indescritível barulhinho que inaugura o ritual da degustação. O vinho desemboca na nossa taça, os sentidos começam a ser desafiados, ficam aguçados, a sedução inicia, o flerte entre o vinho e o enófilo fica mais evidente.

E voilá! O vinho que degustei e gostei veio da emblemática Vale do Colchágua, do Chile e se chama Novas Gran Reserva, com um corte igualmente emblemático do Chile de Carménère (85%) e Cabernet Sauvignon (15%) da safra 2013. Um vinho de 8 anos de vida, mas vivo, pleno, cheio de personalidade, intenso, mas austero e delicado, e com a estrutura que só a complexidade que a idade lhe confere. Então antes de tecer aqueles comentários maravilhosos do vinhos falemos um pouco do Colchágua Valley.

Vale do Colchágua

O Vale do Colchágua está localizado à aproximadamente 180 km de Santiago no centro do país, exatamente entre a Cordilheira dos Andes e o Pacífico. É cortado pelas águas do rio Tinguiririca, suas principais cidades são San Fernando e Santa Cruz, e possui algumas regiões de grande valor histórico e turístico como Chimbarongo, Lolol ou Pichilemu. Colchágua significa na língua indígena “lugar de pequenas lagunas”.

Vale do Colchagua

A fertilidade de suas terras, a pouca ocorrência de chuva e constante variação de temperatura possibilita o cultivo de mais de 27 vinhas, que, com o manejo certo nos grandes vinhedos da região e padrões elevados no processo de produção, faz com que os vinhos produzidos no vale sejam conhecidos internacionalmente, com alto conceito de qualidade.

Clima estável e seco (que evita as pragas), no verão, muito sol e noites frias, solo alimentado pelo degelo dos Andes e pelos rios que desaguam no Pacífico, o Vale de Colchágua é de fato um paraíso para o cultivo de uvas tintas e produção de vinhos intensos.

Em Colchágua, predomina o clima temperado mediterrâneo, com temperaturas entre 12ºC como mínima e 28ºC, máxima no verão e 12ºC e 4ºC, no inverno. Com este clima estável é quase nenhuma variação de uma safra para a outra; e a ausência de chuva possibilita um amadurecimento total dos vários tipos de uvas cultivadas na região. Entre as principais variedades de uvas presentes no Vale de Colchágua estão as tintas Cabernet Sauvignon, Merlot, Carmenère, Syrah e Malbec, que representam grande parte da produção chilena. 

O cultivo das variedades brancas, apesar de em plena ascensão, ainda se dá de forma bastante reduzida se comparada às tintas; as principais uvas brancas produzidas no vale são a Chardonnay e a Sauvignon Blanc. Ambas as variedades resultam vinhos premiados e cultuados por especialistas e amantes do vinho.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um vermelho rubi intenso, profundo, escuro, mas com algum brilho e uma profusão de lágrimas grossas e lentas que desenham as paredes do copo.

No nariz traz a explosão, um mix de frutas vermelhas maduras e pretas, aonde se destacam morango, ameixa, amora e cereja, com notas amadeiradas, tostadas e de baunilhas com toques de especiarias, tais como pimenta.

Na boca é estruturado, mas elegante e equilibrado, ainda pleno com as frutas vermelhas maduras e pretas em franca evidência, apesar dos 8 anos de safra, com estrutura, bom volume de boca, alcoólico, complexidade. As notas amadeiradas, de torrefação e chocolate são perceptíveis, graças aos 70% do lote que passaram por barricas de carvalho por 12 meses e os outros 30% em tanques de aço inoxidável trazendo um equilíbrio entre as características do aporte da madeira com as essências da cepa. O toque de especiarias, de pimenta, tabaco e carpete são notados dando um pouco de rusticidade ao vinho, com taninos presentes e correta acidez e um persistente final.

Todos os detalhes contam todas as nuances são significativas e explodem na sua taça e deixa os seus sentidos, as suas experiências no ápice, em um estado de glória. É isso! Glória! Um momento de vitória, maravilhoso, um momento em que você se encontra com o vinho que se identifica, com a proposta que ele entrega. É uma espécie de conexão, de uma simbiose química, sim, um casamento químico, a melhor das harmonizações. O Novas Gran Reserva entrega o que de melhor há no vinho chileno: voluptuosidade, expressividade, caráter! Foram as primeiras palavras que pensei para descrever o vinho quando o degustei, pela primeira vez, naquele evento em minha cidade. O enlace de duas castas emblemáticas que escolheu o Chile como o seu porto seguro adquirindo características especiais fazendo deste vinho orgânico especial, singular, único. Estruturado, mas elegante, austero, mas fácil de degustar, complexo, mas redondo e equilibrado. Esse é o Novas Gran Reserva. Tem 14,5% de teor alcoólico.

Ah uma curiosidade sobre o nome e rótulo do vinho: O desenho do rótulo é a constelação de Orion e o nome escolhido, “Novas”, vem de uma palavra em latim, usada pelos antigos astrônomos, para dar nome ao nascimento de novas estrelas.

Sobre a Emiliana Organic Vineyards:

No final dos anos 90, Rafael e José Guilisasti, foram visionários após perceberem que o mercado estava começando a mudar e que o consumidor global estava começando a se tornar mais consciente dos produtos que estavam consumindo, não só por uma questão de saúde, mas também por seu efeito ambiental e social.

Foi assim que eles, juntamente com a visão enológica de Álvaro Espinoza, iniciaram o processo de conversão de uma vinícola chilena convencional em uma vinícola 100% orgânica e biodinâmica, com o firme objetivo de criar vinhos da mais alta qualidade com grande respeito pela natureza e pelas pessoas.

Depois de mais de duas décadas, o que começou como um sonho, hoje está corporizado em um portfólio completo, com grande reconhecimento nacional e internacional, e que está adaptado às novas necessidades dos consumidores.

Linha do tempo da Emiliana Organic Vineyards:

Com foco na produção de vinhos orgânicos de qualidade, na última década a Emiliana tornou-se uma das mais importantes vinícolas orgânicas e biodinâmicas do mundo. Hoje, presente nos mais importantes vales vinícolas do Chile, ela reflete a harmonia entre a mais alta qualidade de seus vinhos e o respeito ao meio ambiente e às pessoas.

1998

O desenvolvimento da agricultura orgânica e biodinâmica começou nos vinhedos da Emiliana.

2001

Primeira vinícola no Chile e sétima no mundo a obter a certificação ISO 14001 (Gestão Ambiental). Obtenção da certificação de uvas e sistemas de produção orgânica pela IMO Suíça.

2003

Os primeiros vinhos orgânicos (COYAM & NOVAS) foram lançados no mercado. COYAM 2001 (1ª safra) ganhou os prêmios de “Best in Show” e “Best Blend” no Primeiro. Prêmio Anual de Vinhos do Chile.

2006

Gê 2003 é o primeiro vinho do Chile e da América Latina a obter a certificação biodinâmica da Demeter, Alemanha.

2007

A IMO certificou a responsabilidade social da Emiliana, suas boas condições de trabalho e ser uma organização justa e transparente (For Life).

2008

Emiliana comemora 10 anos de agricultura orgânica.

2009

Gê, Coyam e Fundo Los Robles são certificados como neutros em carbono pela TÜV SÜD, Alemanha. Coyam é o segundo vinho no Chile a ser certificado como Biodinâmico.

2011

A Emiliana certifica suas práticas de Comércio Justo (FLO).

2012

A Emiliana é escolhida como a “Vinícola Verde do Ano” (Green Winery of the Year) pela revista inglesa Drinks Business. A vinícola é certificada sob o Código de Sustentabilidade de Vinhos do Chile.

2014

A certificação CarbonZero é obtida.

2015

Emiliana é escolhida como “Vinícola do Ano” pela Wines of Chile.

2018

20º Aniversário da Agricultura Orgânica. Entrada na lista das 50 marcas de vinho mais admiradas de 2018, de acordo com a Drinks International.

2019

A Emiliana obtém a certificação vegana (Vegan Society) que certifica que na produção de seus vinhos orgânicos e biodinâmicos não utiliza produtos derivados de animais.

Mais informações acesse:

http://www.emiliana.cl/pt/

Referências:

“Clube dos Vinhos” em: https://www.clubedosvinhos.com.br/um-passeio-pelo-vale-do-colchagua/

 






 

domingo, 12 de setembro de 2021

Señorio de Ayud tinto 2018

 

Costumo dizer de forma entusiasmada e demasiada que o universo do vinho é vasto e inexplorado. Há muito a se caminhar e nunca chegar, nunca concluir, porque é uma diversidade de informações, de grandes e novas experiências que te proporciona seguir a estrada do conhecimento que, para o nosso deleite, nunca terá fim. É isso! É a confirmação de que ninguém detém o pleno conhecimento, a perfeição da sapiência, da onisciência no mundo do vinho.

Mesmo com algumas décadas degustando vinho, eu consigo me permitir degustar novidades, ter novas e diria, sem medo, experiências sensoriais de extrema relevância e consistência. E, desta vez, tive a alegria, o prazer de degustar um vinho, espanhol, oriundo das terras da Catalunha, cujo blend são de castas francesas, das mais famosas e importantes: Cabernet Sauvignon e Syrah.

Sempre vi alguns rótulos espanhóis sendo ofertados, não com a proporção de uma Tempranillo, com a casta Cabernet Sauvignon ou Syrah, seja no “formato” varietal ou brilhando em blends com algumas castas autóctones ou emblemáticas da Espanha, mas nunca tive, por vários motivos, a oportunidade de degustar. Mas desta vez a oportunidade chegou com o protagonismo de duas castas divididas de forma igualitária: 50% para cada uma delas. É a possibilidade única de ter em nosso paladar e olfato as percepções de cada uma, cada uma com sua peculiaridade, com as suas marcantes características.

A adaptação dessas duas castas francesas na Espanha é latente, evidente e que trafega em vinhos mais diretos, básicos e jovens aos mais complexos e estruturados. Penso que o vinho que degustei e gostei de hoje navega nas duas propostas: Entrega maciez, a fruta, tão evidente e essencial nas duas castas, mas a robustez, a estrutura e diria alguma complexidade que é de realidade da velha e única Cabernet Sauvignon e a gigante Syrah.

Bem, sem mais delongas apresentemos o vinho: Señorio de Ayud, da região da Calatayud, província de Zaragoza, na tradicional região dos castelos medievais, Aragão, composto pelo blend Cabernet Sauvignon (50%) e Syrah (50%) e a safra é 2018. E para não perder o costume, já que falamos do caminho do conhecimento e da inquietação da busca do saber, falemos da região da Calatayud.

Calatayud

Calatayud é uma denominação de origem dos vinhos produzidos no entorno da região de mesmo nome, localizada a oeste da província de Zaragoza. O nome consiste em 46 municípios, dos quais o município de Calatayud é a sede principal. A área é irrigada por vários rios como o Jalón , Jiloca , Piedra, Mesa, Ribota e Manubles.

O cultivo da vinha na região traz registros desde o século II a.C. A civilização romana desenvolveu colheitas e, após um período de abandono pelos muçulmanos, os cristãos novamente deram-lhe importância como cultura colonizadora. No final do século XII os monges cistercienses promoveram a plantação da vinha com a fundação do Mosteiro de Pedra. Com a chegada da filoxera na França, os vinhedos cresceram para mais de 44.000 ha., processo favorecido pelas comunicações ferroviárias de Calatayud, que permitia a exportação. Na década de 1960 foram criadas cooperativas e obtiveram a denominação de origem em 1990. O DO Calatayud é a denominação de vinho aragonesa mais jovem e é identificada pela qualidade de seus vinhos e as condições extremas de seus vinhedos.


DO Aragão

O clima do Calatayud DOP é caracterizado por sua continentalidade, com invernos frios e verões quentes. A temperatura média anual é de 13,1 ° C, com grandes diferenças entre a noite e o dia durante o período de amadurecimento, de 5 a 7 meses de geadas, as temperaturas e as chuvas variam desde o fundo da cava com temperaturas amenas e chuvas baixas, até temperaturas mais baixas e chuvas ligeiramente mais altas, à medida que se sobe com uma precipitação média de 300 a 550 mm.

O terreno é ondulado, com a maior parte da videira assentando em solos rochosos, soltos, pobres em nutrientes e com uma elevada proporção de calcário. Eles têm boa permeabilidade e são saudáveis, favorecendo a produção de vinhos bastante intensos, encorpados, com alta graduação alcoólica e forte coloração.

A região de Calatayud dá origem aos chamados vinhos de altura. Os vinhedos estão plantados de 500 a 1040 metros de altitude, na parte mais ocidental de Zaragoza, próximo a Madrid.

Predomina o cultivo da Garnacha em vinhas com mais de 50 anos, que hoje ocupam 54% de toda a área de plantio da região. Sem dúvida, é a mais representativa do local. Em segundo lugar, fica a Tempranillo, com 21% da área, além da Cabernet Sauvignon, Syrah, Merlot, Mazuela e Monastrell. Algumas variedades brancas também são cultivadas por lá, como Gewurztraminer, Viura, Malvasia, Moscatel e Chardonnay, mas representam menos de 10% do cultivo.

Uma curiosidade: Os primeiros habitantes da cidade, os celtíberos, se assentaram a 4 km da atual cidade de Calatayud, num povoado denominado Bílbilis, que foi posteriormente conquistada pelos romanos, transformando-se numa importante cidade.

Até hoje, os nascidos em Calatayud são chamados de bilbilitanos. No entanto, Calatayud “aparece no mapa” com a chegada dos árabes em 716, quando foi construído o Castelo de Qual at Ayub, que deu o nome à cidade. No século XI, Calatayud transformou-se numa das maiores cidades da Taifa de Zaragoza. Foi reconquistada em 1120 pelo rei Alfonso I “El Batallador”, quando então recebeu o foro.

Desde 2006 celebram-se as festas chamadas “Las Alfonsadas“, quando a cidade volta a ter um aspecto medieval, recriando os acontecimentos que sucederam durante o processo da reconquista. A necessidade de repovoamento do território depois de reconquistada fez com que o foro da cidade fosse respeitoso com as minorias. A partir de então, passaram a conviver junto com os cristãos, os judeus e os mouros.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um vermelho rubi intenso, quase escuro, com reflexos violáceos que confere um lindo brilho, além de lágrimas finas, lentas e em profusão.

No nariz é muito aromático e protagoniza as frutas vermelhas bem maduras, com destaque para a groselha e a cereja, com notas de especiarias, amadeiradas, mas bem discretas e em equilíbrio com a fruta, dando espaço às características das castas, com toques de tosta, graças aos 5 meses de passagem por barricas de carvalho.

Na boca apresenta certa estrutura, médio corpo, um bom volume de boca, um vinho quente, alcoólico, mas em perfeita harmonia com o conjunto do vinho, a madeira e as notas tostadas são perceptíveis, além da fruta que traz maciez e frescor. Os taninos estão bem domados, quase macios, graças aos 5 meses que “descansou” na garrafa antes de sair da bodega, com uma acidez correta e equilibrada, com um final longo e persistente.

Mais um capítulo especial escrito em minha jornada de enófilo, mais uma página escrita com maestria e que se personificou nos meus sentidos, nas minhas experiências sensoriais. Foi tão prazeroso degustar um corte tão marcante, tão cheio de personalidade como a Cabernet Sauvignon e Syrah na sua versão espanhola que figura de forma latente e importante naquele país. Essa adaptação de castas francesas às terras da Espanha mostra esse intercâmbio cultural, mas que, ao mesmo tempo se configura a tipicidade da terra tão abençoada da Calatayud: o global nunca foi tão regional. Uma jovem região vinícola para mundo, mas tradicional e história desde à época dos romanos, os primeiros viticultores da região. Um vinho especial, de marcante personalidade, complexo, mas macio, fácil de degustar, frutado e intenso. Que possamos sempre degustar vinhos dessa região. Tem 14,5% de teor alcoólico muito bem integrado ao conjunto do vinho.

Sobre as Bodegas Langa:

As vinícolas Langa estão localizadas nas proximidades de Calatayud. Esta adega, propriedade desde o seu início pela família Langa, é uma referência no mundo do vinho nesta área vitivinícola. Não em vão, tem mais de 150 anos de história e os Langas são os fundadores do DOP Calatayud .

Além disso, é uma vinícola histórica do Cava. Assim, poderá desfrutar não só da sua excelente Grenache, mas também de alguns cavas muito especiais. A adega está situada num espaço emblemático, aos pés da Sierra Vicor, local sagrado para os celtiberos e fonte de inspiração do poeta clássico de Bilbao, Marco Valerio Marcial.

Bodegas Langa oferece três experiências interessantes de enoturismo:

Toda Adega: consiste numa visita guiada à adega do Langa e uma prova de três vinhos de qualidade. É realizado em grupos de no máximo 50 pessoas e tem duração de 1 hora e 30 minutos.

Total Wine Tourism: acrescente à experiência “all winery” uma visita às vinhas, orientada pelo Diretor Técnico, que ensinará a distinguir entre as diferentes castas, sistemas de condução etc. É destinado a grupos de no máximo 8 pessoas e tem duração de 2 horas.

Vinho, História e Gastronomina: como o próprio nome indica, à visita à adega e degustação de três vinhos se soma uma visita guiada ao histórico Calatayud (introdução e passado romano da cidade, complexo jesuíta e interior da igreja de San Juan el Real (pinturas de Goya - desde que não interfiram nos horários de culto), Igreja de San Pedro de los Francos (exterior) e Palácio de Barón de Warsage, Igreja Colegiada de Santa María, Igreja de San Andrés (opcional, dependendo durante a visita), Praça do Mercado e Mesón de la Dolores Por fim, prova-se uma refeição típica de Bilbao. Os grupos são de no máximo 50 pessoas.

Mais informações acesse:

https://www.bodegas-langa.com/

Referências:

“Vino Aragones”: https://www.vinoaragones.com/bodegas-langa/

“Heraldo Gastronomia”: https://www.heraldo.es/noticias/gastronomia/2015/08/13/un-repaso-detallado-por-la-historia-de-la-d-o-calatayud-294707.html?autoref=true

“Wikipedia”: https://ca.wikipedia.org/wiki/Calatayud_(vi)

Portal “Um brasileiro na Espanha”: https://umbrasileironaespanha.wordpress.com/2015/11/22/calatayud-comunidade-de-aragon/ 


 




sábado, 11 de setembro de 2021

Baron du Tertre Malbec 2016

 

Quando degustei, pela primeira vez, um Malbec da região francesa de Cahors, o que convenhamos não é algo habitual, prometi que buscaria novas opções, novos rótulos para continuar seguindo o meu precoce caminho pela região que, de fato, é a mãe da Malbec que se notabilizou em terras argentinas, do outro lado do Oceano Atlântico.

Na realidade não foi sequer um Malbec puro, genuíno, ou seja, um Malbec 100%, mas um corte com a casta Merlot. Havia a predominância da Malbec, mas não era um Malbec pleno, cheio, integral. Precisava, além de providenciar mais um rótulo da região francesa de Cahors, de um Malbec 100%!

Depois da experiência muito interessante, diria atípica, mais emblemática da degustação do Carte Noire Malbec e Merlot da safra 2013, eu ansiava por mais um rótulo, era preciso. As minhas humildes percepções sensoriais clamavam por mais um momento como esse.

E um se apresentou para mim, diante dos meus olhos, da forma mais despretensiosa possível. Parece que dessa forma tem uma mágica, uma forma especial e peculiar. E para variar muito me interessou. Porém para ter apenas uma noção básica do que eu estava adquirindo, pesquisei algumas referências sobre o rótulo e pouco encontrei de relevante apenas algumas descrições curtas e soltas nesses perniciosos aplicativos de vinhos.

Mas descobri o site do produtor: Chateau Laur. Não vou, pelo menos ainda, tecer detalhes sobre a vinícola, mas li que a mesma tem uma posição de destaque e importância na produção de grandes Malbecs na região de Cahors e isso me encheu de entusiasmo para comprar esse rótulo. Quem sabe com esse dado tão relevante, os medos e possíveis preconceitos se dissipem?

Foi o que aconteceu! Fui tomado por um entusiasmo tão grande que comprei sem muitas hesitações o tão esperado rótulo. Ah esse rótulo é sim, um Malbec na sua versão integral! O momento tão esperado chegou!

Mais uma vez o sudoeste francês, a região de Cahors inundará a minha simples e humilde taça. Um momento especial, haja vista que a região vizinha a famosa Bordeaux, não figura com tantas vezes, nas mesas dos brasileiros, tão diferente da tão disseminada Malbec dos hermanos.

Então sem mais delongas a rolha espocou, aquele barulho agradável que inaugura o ritual da degustação, o líquido inunda a taça de forma implacável, os sentidos aguçados e a degustação acontece e...

O vinho que degustei e gostei veio de Cahors, no sudoeste francês, e se chama Baron Du Tertre Réserve, da casta Malbec e a safra é 2016. Um vinho estupendo, delicioso, um Malbec atípico, que não revela alguns toques óbvios do mais famoso, os argentinos. Mas para entender melhor essa nuances, antes de quaisquer juízos de valor intolerantes, convém conhecer um pouco da história de Cahors e do seu Malbec.

Cahors, o berço da Malbec

De Cahors na França vem a famosa uva Malbec muito plantada na Argentina e hoje uva símbolo de lá.  Mas ela não é argentina. A uva Malbec é alóctone da Argentina e autóctone de Cahors. Sim Cahors é o seu verdadeiro berço, onde ela nasceu e recebeu o nome de Côt. Pelo que contam os registros de época, as primeiras plantações de Malbec, uva conhecida na região como “Côt” datam de 92 d.C.

O vinho é frequentemente citado como o mais antigo da Europa e foi conhecido devido a sua cor intensa como o vinho “negro” de Cahors. Os vinhos de Cahors desde a idade média são longevos e escuros com forte personalidade. As plantações ocupam atualmente cerca de 4.300 hectares, sendo a produção máxima permitida de 50 hectolitros por hectare.

Na região, a uvas permitidas para vinhos tintos são a Côt (Malbec), a Tannat, a Cabernet Franc e a Gamay em Coteaux du Quercy. Cahors permanece com a marca da antiga Côt que se revela em personalidade forte insistente, arrojada e com expressão mais rústica, compensando em longevidade.

Oferece assim, robustez, estrutura e boa guarda. A uva é liberada para os cortes de Bordeaux, mas pouco utilizada por lá, hoje em dia.A região de Cahors fica a cerca de 230 KM de Bordeaux no departamento de Lot, na região Sud-Est da França fazendo fronteira com o departamento da Dordogne.

Cahors

Cahors sofreu forte influência de seu poderoso vizinho, Bordeaux, em sua dramática história. O vinhedo foi criado pelos romanos e, durante a Idade Média, seu prestígio teve expressivo crescimento. O casamento de Eleanor de Aquitânia com Henrique II, rei da Inglaterra, abriu as portas do grande mercado consumidor inglês, antes dominado pelos vinhos de Bordeaux.

No entanto, os poderosos produtores e comerciantes bordaleses, sentindo-se ameaçados, mobilizaram-se para pressionar Londres e conseguiu arrancar do rei da Inglaterra alguns privilégios exorbitantes, o que resultou num duro golpe para os produtores gascões. Além de sofrerem pesada taxação, os vinhos do sudoeste só podiam chegar à capital inglesa depois que toda a produção bordalesa estivesse vendida.

Tal regra durou cinco séculos (foi interrompida apenas em três curtos períodos) e o vinho da região sentiu o golpe. Esta conduta só foi abolida em 1776, pelo liberal ministro de finanças de Luís XVI, Jacques Turgot, quando se iniciou um novo ciclo dourado dos fermentados de Cahors.

Jacques Turgot

Apesar da Revolução Francesa e das guerras do Império já no século XIX, 75% do vinho da região era exportado e um terço das terras agriculturáveis eram dedicadas à vinha, que cobria a impressionante área de 40 mil hectares. A região enfrentou bem a praga do oídio (de 1852 a 1860) e a superfície plantada subiu ainda mais, chegando a 58 mil ha. Para se ter uma ideia da queda que viria mais tarde, a área do vinhedo de Cahors hoje é de apenas 4.200 ha.

Mas o território teve pior sorte ao enfrentar a filoxera no final do século XIX. Como se sabe, todos os vinhedos atacados no mundo tiveram de ser replantados, desta vez, de forma enxertada. Então, as vinhas de Malbec reagiram muito mal a esta nova situação, dando origem a fermentados medíocres, com qualidade muito abaixo da que tinha anteriormente.

Apenas no final dos anos 1940, depois de muita pesquisa, chegou-se ao clone 587 da Malbec, que teve muito boa adaptação. Assim se retomou, então, sua marcha ascendente até chegarmos a 1971, quando Cahors é declarada região AOC (Appellation d'Origine Contrôlée, denominação de origem controlada).

As normas dessa denominação determina que o vinho deve ser composto de, pelo menos, 70% de Malbec, sendo o restante feito com a tânica Tannat e a macia Merlot. A Cabernet Sauvignon e a Cabernet Franc não são permitidas. O vinho é bastante escuro e encorpado, com boa fruta e mais austero e seco do que o Malbec argentino. Dependendo da sub-região, pode ser mais leve e para consumo mais precoce, ou mais estruturado e passível de longa guarda.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um vermelho rubi intenso, quase escuro, com reflexos violáceos que trazia um brilho bonito, com lágrimas finas e que logo se dissipavam das paredes do copo.

No nariz é pouco aromático, apenas uma discreta nota de frutas pretas, talvez groselha negra ou amora, com toques de especiarias, alguma rusticidade típica da região berço da Malbec, Cahors.

Na boca é seco, de médio corpo, um pouco alcoólico, mas bem equilibrado com o conjunto do vinho, pouco ou quase nada frutado, com a presença rústica graças as notas terrosas, de couro, tabaco e de especiarias, algo de pimenta, talvez. Os taninos são estruturados e marcantes, com uma boa acidez e um final de média persistência.

Mais uma página escrita em minha história de enófilo. E foi um capítulo consistente e especial na minha caminhada no vasto, inexplorado e incrível universo dos vinhos. Degustar um Malbec de Cahors é especial! Não é todo dia, não é habitual, é diferente, é diria uma sensação indescritível. Os sentidos agradecem as reações sensoriais, as experiências se revelam únicas, singulares. É claro que as percepções são pessoais, cada um se identifica com aquilo que te faz bem, que te traga prazer, óbvio, mas é preciso entender as nuances, as propostas que cada vinho entrega, com o seu terroir, as características marcantes de sua terra e de sua cultura. O Baron Du Tertre Réserve trazem notas mais rústicas, e não o frutado típico do vinho argentino, os taninos mais intensos, poderosos, até um pouco mais adstringentes. E são essas nuances que faz do mundo do vinho algo apaixonante e especial. Um belo vinho, um vinho especial, um vinho de personalidade, um vinho que ficará marcado! E que muitos outros vinhos de Cahors encha de história novas páginas da minha caminhada de um simples, mas feliz, enófilo. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre o Chateau Laur:

Desde que fundou as suas atividades em 1881, é nas altas colinas de Floressas, berço ancestral da vinha de Cahors, que a família Laur se anima por uma ambição constante há seis gerações: produzir vinhos de qualidade.

Hoje, três gerações trabalham juntas, sendo que enquanto os mais velhos trazem o método tradicional, os mais novos melhoram o cuidado contínuo com as vinhas e as colheitas. “Château Laur” é uma propriedade de 46 hectares com vinhas que se beneficiam de um terroir de excelência composto por solos argilosos – calcários ferruginosos intrincados, bem como uma exposição ideal que garante um sol privilegiado à vinha.

A família Laur acumulou o know-how de gerações no trabalho com a Malbec, casta única e histórica da AOC Cahors, e assim produzir com excelência os varietais da casta. No momento em que atingem a maturidade ideal, as uvas são colhidas delicadamente e curadas rapidamente para preservar o máximo de aroma e garantir um perfeito estado sanitário da vindima.

A vinícola exerce um controle tradicional das temperaturas para as macerações preferenciais em macerações frias assim como as macerações quentes no final da fermentação. Cada parcela e cada videira são vinificados separadamente para assim criar o conjunto mais harmonioso e mais elegante. O vinho é envelhecido em prestigiadas barricas de carvalho francês de tal forma que obtém um casamento harmonioso e complexo entre os aromas do terroir e os libertados pelos finos grãos da barrica (notas de tosta, chocolate, baunilha, outros).

A riqueza e a diversidade dos terroirs incentivaram a família a criar vários cuvées onde cada um expressa uma tipicidade, um carácter assim como uma expressão de terroir diferente. O “L’hor” cuvée, o cuvée confidencial da propriedade, é um dos mais belos exemplos da denominação e é um dos locais certamente obrigatórios quando se fala sobre os grandes rótulos. 

Mais informações acesse:

https://vignobles-laur.fr/en/chateau-laur-wines/

Referências:

Portal “Enoestilo”: https://www.enoestilo.com.br/cahors-o-berco-malbec-2000-anos-de-historia/ e https://www.enoestilo.com.br/mapas-vinho-dicas-regiao-de-cahors/

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/cahors-outra-terra-da-malbec_439.html




 

 


segunda-feira, 6 de setembro de 2021

Nzinga Cape Red 2018

História, degustações, celebrações, experiências sensoriais... Sempre enalteço essas palavras quando penso ou falo sobre vinhos. Não há como dissociar, como falar, de forma isolada, sobre essas questões quando falamos sobre vinho. Claro que há pessoas que não ligam muito para a história do vinho, do rótulo que está degustando, tais como as castas, as regiões etc.

Respeitamos essas decisões, mas penso como enófilo, que ter acesso a história, por exemplo, de um vinho, pode ser preponderante para a decisão de compra e melhor: criar uma identidade com o tipo de vinho que gosta, ajuda a você a chegar ao vinho que gostaria de degustar no momento ou a construção de suas predileções para com determinadas propostas da poesia líquida.

Alguns vinhos confesso, me chamam a atenção pelo aspecto visual, pelo que apresenta nos seus rótulos. Algumas manifestações do marketing certamente explicam tal fenômeno, mas é deveras cuidadoso levar isso a ferro e fogo no quesito vinho. Nem todos os vinhos entregam ao degustador qualidade pelo fato de ostentar um bonito rótulo, pelo que ele necessariamente diz, mas, por outro lado, pode ser relevante para entendê-lo, daí a importância de se estudar o que o rótulo quer transmitir.

Quando vi o rótulo de um vinho sul-africano logo me chamou a atenção, me atraiu pela beleza e pelo nome que me parecia muito peculiar. Mas não fiquei restrito ao que ele dizia e logo comecei a garimpar o que ele queria traduzir no rótulo e o que poderia me proporcionar de especial. As informações, aos poucos, mesmo que limitadas, foram surgindo e isso foi atraindo a minha atenção.

E de posse de algumas informações, bem como alguns detalhes do vinho propriamente dito, tais como castas, safra etc, decidi compra-lo, afinal, nada mais importante e especial celebrar o amor ao vinho por vinhos da África do Sul tão constantes hoje em nossa realidade, o que era inviável há 20 anos, quando ainda era apenas uma distante possibilidade de tê-los em nossa adega.

E quando o vinho finalmente foi aberto, mais uma vez, não fui decepcionado. Então vos apresento o vinho que degustei e gostei e que veio da toda poderosa região de Western Cape, e se chama Nzinga Cape Red, um excelente blend composto pelas castas Cabernet Sauvignon (68%), Merlot (18%) e Syrah (14%) da safra 2018.

Ah e já que falei das “atrações” que podem gerar interesse e que estão contidas nos rótulos dos vinhos, de cara, quando o vi pela primeira vez, o nome “Nzinga” me atraiu, me interessou e o que, após, a compra, no seu contra rótulo o produtor diz que o significado da palavra é:

 “Nzinga é um nome da África Central que significa ‘beleza e coragem’”.

Mas em uma pesquisa mais aprofundada vi que “Nzinga” era um nome de uma princesa africana, a Princesa Nzinga, que foi uma forte figura que fez oposição ao lucrativo comércio de escravos no século XVII. Leia mais em: “Nzinga, a rainha negra que combateu os traficantes portugueses”.

Mas antes de falar desse vinhaço, falemos da região de onde é oriundo, da toda poderosa Western Cape, uma dos maiores produtores de vinho da África do Sul.

Western Cape: a toda poderosa região vinícola sul africana

Localizada a sudoeste da África do Sul, tendo a Cidade do Cabo como ponto central, Western Cape é a principal região vitivinícola do país, responsável por cerca de 90% da produção vinícola do país.

Boa parte da indústria do vinho sul-africana se concentra nessa área e microrregiões como Stellenbosch e Paarl são alguns de seus principais destaques. Com terroir bastante diversificado, a combinação do clima mediterrâneo, da geografia montanhosa, das correntes de ar fresco vindas do Oceano Atlântico e da variedade de uvas permite que Western Cape seja considerada uma verdadeira potência da produção de vinhos no país.

Suas regiões vinícolas estendem-se por impressionantes 300 quilômetros a partir da Cidade do Cabo até a foz do rio Olifants ao norte, e cerca de 360 quilômetros até a Baía Mossel, a leste – para entender essa grandiosidade, vale saber que regiões vinícolas raramente se estendem por mais de 150 quilômetros.

 

Western Cape

O clima fresco e chuvoso também favorece o plantio e a colheita por toda a região. Entre os grandes destaques de Western Cape estão as uvas Pinotage, Cabernet Sauvignon e Shiraz, que dão origem a excelentes varietais e blends. Entre os brancos – que, por si só, têm grande reconhecimento mundial –, brilham a Chenin Blanc, uva mais cultivada do país, a Chardonnay e a Sauvignon Blanc.

As primeiras vinhas plantadas na região remetem ao século XVII, trazidas por exploradores europeus que se fixaram por lá. Durante vários séculos, fatores como o estilo rudimentar de produção, o Apartheid e a falta de investimentos mantiveram a cultura vitivinícola sul-africana limitada ao próprio país.

Somente no início do século XX, com a formação da cooperativa KWV, que a África do Sul começou a responder por todo o controle de qualidade do vinho que se produzia por lá, e seus rótulos passaram a chamar a atenção do mercado internacional, dando início a um processo de exportação que conta, inclusive, com selos de qualidade específicos para a atividade.

A proximidade da Cidade do Cabo facilita o acesso dos visitantes às inúmeras rotas vinícolas e turísticas de Western Cape, que incluem experiências como caminhadas, degustações por suas muitas bodegas, além de ótimos restaurantes e hospedagens em suas pequenas e aconchegantes cidades, a maioria em estilo europeu.

E agora finalmente o vinho!

Na taça entrega um vermelho rubi intenso, quase escuro, com brilhantes reflexos violáceos, com uma razoável quantidade de lágrimas finas e que logo se dissipavam das paredes do copo.

No nariz uma explosão de frutas negras como ameixa e amora e frutas vermelhas como groselha e cereja, uma compota de frutas que traz jovialidade, frescor e até personalidade ao vinho, isso graças aos 10 meses em tanques inox, privilegiando as características de cada cepa sendo evidenciado também no paladar. Notas de especiarias também são percebidas.

Na boca é saboroso, marcante, por ser muito frutado, com as nuances bem definidas das castas que compõe o blend, onde a personalidade da Cabernet Sauvignon é perceptível, bem como a maciez da Merlot e os agradáveis e discretos toques apimentados e herbáceos garantidos pela Syrah. Têm taninos sedosos, boa acidez e um final cheio e prolongado.

História, celebração, degustações, nomes que pode parecer um tanto quanto deslocado para muitos, mas que pode revelar rótulos especiais para quem tem apreço pelas taças sempre cheias. Nzinga Cape Red traz uma versão sul africana de um vinho fresco, frutado, mas especial por sua simplicidade, por ser direto, jovem, harmonioso e com uma incrível capacidade de harmonização, sendo muito versátil. A incrível capacidade dos vinhos sul africanos onde mesmo sendo jovial, frutado e direto, revela uma marcante personalidade. Personalidade esta, acredito, que já começa no seu interessante blend: A personalidade entregue pela Cabernet Sauvignon, a maciez da Merlot e as especiarias da Syrah. Um vinho que expressa toda a tipicidade da África do Sul, do terroir de Western Cape. Um vinho belo, saboroso, delicado e intenso. Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Marianne Wine Estate & Guesthouse:

Originário de Bordeaux, a família possui 3 propriedades vinícolas, se aproximando da África do Sul graças as suas várias viagens pelo mundo, aportando no sul da África.

O sonho era combinar o Velho e o Novo Mundo para fazer vinhos próximos da da visão de perfeição dos produtores. Portanto, decidiram comprar a Marianne Wine Estate & Guesthouse, uma vinícola boutique de 32 hectares (incluindo 24 em vinhas) localizada no vale Simonsberg em 2004.

A colheita manual, a seleção das melhores uvas, o envelhecimento em carvalho francês e acácia, combinados com um "savoir-faire" francês do enólogo sul-africano Jos Van Wyk, irão levá-lo a explorar alguns dos melhores vinhos produzidos na região.

Mais informações acesse:

http://www.mariannewines.com/

Referências:

“Vinho Capital”: https://vinhocapital.com/tag/wine/page/3/

“Wine”: https://www.wine.com.br/winepedia/enoturismo/western-cape-a-gigante-sul-africana/?doing_wp_cron=1611015613.7245669364929199218750#:~:text=Localizada%20a%20sudoeste%20da%20%C3%81frica,alguns%20de%20seus%20principais%20destaques.

“Portal Geledés”: https://www.geledes.org.br/nzinga-a-rainha-negra-que-combateu-os-traficantes-portugueses/