quinta-feira, 30 de junho de 2022

Cavas do Vale Reserva Merlot 2008

 

Vou contar uma história recente com uma das minhas castas preferidas, a Merlot, para enfatizar um antigo apreço por esta variedade. E, contando essa história, vou enaltecer esse carinho, esse apego sentimental por ela, responsável por me introduzir no universo dos vinhos finos, vitis vinífera.

Estava eu participando de uma live, um recurso tecnológico de comunicação que ganhou certa receptividade pelas pessoas atualmente, muito em decorrência dos períodos sombrios pandêmicos em que não podíamos socializar, mantendo um distanciamento físico, com um desses emergentes críticos e especialistas de vinhos, acredito que era um sommelier, mas que escrevia também sobre vinhos e que também lecionava sobre.

Hoje estamos também testemunhando, muito graças, penso, a proliferação de alguns formadores de opinião do vinho e não falo com rejeição, mas, em alguns momentos com preocupação, pois, com o advento das redes sociais, o filtro de competência e qualidade nas informações disseminadas não são tão, digamos, apuradas, mas precisamos, mesmo em momentos como esse, respeitar essas movimentações democráticas e saber separar o que cada um de nós julga ser bom ou ruim para a gente, no que tange aos conteúdos.

O tema da “live” era as principais castas tintas, as mais famosas. Quando a pauta passou a ser o Merlot, eu decidi participar e fiz uma pergunta que julgava ser importante discutida sobre o atual cenário de cultivo desta no Brasil: Perguntei se podemos considerar a Merlot brasileiro, os rótulos dessas castas produzidos no nosso país, as melhores do mundo.

Não sei se eu não me fiz entender direito ou ele que não compreendeu, mas disse que era para ter cautela nessa observação e que poderia ser um comentário ufanista. Nunca! Cautela? Talvez! Ufanista? Nunca! É fato que, apesar dos tributos, da miopia dos nossos produtores sob o aspecto corporativo da coisa, o custo Brasil alto, os rótulos brasileiros melhoraram, ganhou em tipicidade e, ao longo do tempo e sou testemunha disso, que os Merlots nacionais é o que vem tendo destaque, não tanto quanto os nossos espumantes, mas vem sim, tendo visibilidade.

E depois dessa live decidi me debruçar nas pesquisas e buscar algumas respostas para as minhas dúvidas e perguntas, bem como eventuais equívocos de minha parte em relação a esse tema e li algumas matérias, alguns comentários de outros especialistas acerca da Merlot brasileiro e achei uma que me chamou a sua atenção do Dirceu Vianna Júnior, Master of Wine do Brasil e radicado há muitos anos em Londres.

Ele reuniu, em 2010, um grupo de 40 profissionais internacionais, entre eles 15 Masters of Wine, para uma degustação às cegas de vinhos com a variedade Merlot produzidos em 11 países diferentes. O resultado foi impressionante: entre os 10 melhores classificados pelos especialistas, oito eram brasileiros (ler matéria completa em: Sucesso da Merlot no Brasil). Acredito que esse dado corrobora a questão por mim levantada na live, que expressa o promissor cenário dos grandes rótulos produzidos em nossas terras, com o nosso terroir que vem se destacando e não podemos negligenciar isso. Claro que não podemos negar os centros tradicionais, como Bordeaux, por exemplo, a questão não é uma corrida para ser o melhor, mas colocar o Brasil no rol dos melhores pode ser uma realidade. 

E falando em terroir, a Serra Gaúcha, a mais importante e tradicional região vinícola do Brasil, vem se tornando o centro dos grandes Merlots. E por que estou dizendo tudo isso e contando toda essa história? Para enfatizar o meu carinho e a minha gratidão por essa casta e que a meu caminho para descobri-la, em todas as suas nuances e características, de acordo com o seu terroir, continua e prezo pelas novidades. Então hoje, nesta fria, mas agradável noite, decidi abrir um “debutante”, um quase debutante de quatorze anos de vida, de safra!

E um Merlot dos Vale dos Vinhedos, da Serra Gaúcha! É sempre muito gratificante degustar um Merlot da Serra Gaúcha, mas mais gratificante ainda é degustar um vinho com certa idade, com mais de uma década de garrafa. Certos caminhos eu jamais pensei em percorrer e esse, de experimentar vinhos com esse tempo de safra, sempre me pareceu impossível. Mas cá estou relatando, registrando nesse texto esse momento único, importante para mim e melhor: Um vinho nacional! Quem disse que os brasileiros não podem, não conseguem fazer rótulos com longevidade?

O vinho que degustei e gostei, com todas as honras, privilégios e reverências possíveis, veio do Vale dos Vinhedos, da Serra Gaúcha, do Brasil e se chama Cavas do Vale Merlot Reserva da safra 2008. E o mais prazeroso de ser submetido a essas experiências sensoriais é de degustar vinhos de pequenos e desconhecidos produtores que sim, merecem respeito e respaldo do poder público e de toda a cadeia do vinho neste Brasil. Então sem mais delongas falemos um pouco da Serra Gaúcha e do Vale dos Vinhedos que hoje, vem ganhando notoriedade no universo do vinho brasileiro.

Serra Gaúcha

Situada a nordeste do Rio Grande do Sul, a região da Serra Gaúcha é a grande estrela da vitivinicultura brasileira, destacando-se pelo volume e pela qualidade dos vinhos que produz. Para qualquer enófilo indo ao Rio Grande do Sul, é obrigatório visitar a Serra Gaúcha, especialmente Bento Gonçalves.

Serra Gaúcha

A região da Serra Gaúcha está situada em latitude próxima das condições geoclimáticas ideais para o melhor desenvolvimento de vinhedos, mas as chuvas costumam ser excessivas exatamente na época que antecede a colheita, período crucial à maturação das uvas. Quando as chuvas são reduzidas, surgem ótimas safras, como nos anos 1999, 2002, 2004, 2005 e 2006.

A partir de 2007, com o aquecimento global, o clima da Serra Gaúcha se transformou, surgindo verões mais quentes e secos, com resultados ótimos para a vinicultura, mas terríveis para a agricultura. Desde 2005 o nível de qualidade dos vinhos tintos vem subindo continuamente, graças a esta mudança e também do salto de tecnologia de vinhedos implantado a partir do ano 2000.

Vale dos Vinhedos e a sua Indicação de Procedência

O Vale dos Vinhedos localiza-se no centro do triângulo formado pelas cidades de Bento Gonçalves (nordeste), Monte Belo do Sul (noroeste) e Garibaldi (sul). O Vale dos Vinhedos compreende a parte da bacia hidrográfica do Rio Pedrinho, situada a montante da foz de um córrego afluente deste e situado a sudeste da comunidade de Vale Aurora, no município de Bento Gonçalves.

A parte do vale a jusante é denominada de Vale Aurora. A maior parte da área do Vale dos Vinhedos fica localizada em território do município de Bento Gonçalves, com 55% do total, e a menor parte fica localizada em território de Monte Belo do Sul, com 8% na porção noroeste. A parte sul do Vale pertence ao município de Garibaldi, com 37% da área total. Parte da zona urbana de Bento Gonçalves situa-se dentro do perímetro do Vale, haja vista que a linha divisória de águas entre as bacias do Rio Pedrinho e do Rio Buratti passa pela parte oeste da cidade. Localizam-se ao longo desta linha, ou próximo desta, a pista do Aeroclube de Bento Gonçalves, a Estação Rodoviária de Bento Gonçalves, o Estádio da Montanha e a Estação Ferroviária de Bento Gonçalves.

Vale dos Vinhedos

O Vale dos Vinhedos é a primeira região vinícola do Brasil a obter Indicação de Procedência de seus produtos, exibindo o Selo de Controle em vinhos e espumantes elaborados pelas vinícolas associadas. Criada em 1995, a partir da união de seis vinícolas, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale), já surgiu com o propósito de alcançar uma Denominação de Origem. No entanto, era necessário seguir os passos da experiência, passando primeiro por uma Indicação de Procedência.

O pedido de reconhecimento geográfico encaminhado ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) em 1998 foi alcançado somente em 2001. Neste período, foi necessário firmar convênios operacionais para auxiliar no desenvolvimento de atividades que serviram como pré-requisitos para a conquista da Indicação de Procedência Vale dos Vinhedos (I.P.V.V.). O trabalho resultou no levantamento histórico, mapa geográfico e estudo da potencialidade do setor vitivinícola da região. Já existe uma DOC (Denominação de Origem Controlada) na região.

Sua norma estabelece que toda a produção de uvas e o processamento da bebida seja realizada na região delimitada do Vale dos Vinhedos. A DO também apresenta regras de cultivo e de processamento mais restritas que as estabelecidas para a Indicação de Procedência (IP), em vigor até a obtenção do registro da DO, outorgado pelo INPI.

Vale dos Vinhedos DO

O Vale dos Vinhedos foi a primeira região entregue aos imigrantes italianos, a partir de 1875. Inicialmente desenvolveu-se ali uma agricultura de subsistência e produção de itens de consumo para o Rio Grande do Sul. Devido à tradição da região de origem das famílias imigrantes, o Veneto, logo se iniciaram plantios de uvas para produção de vinho para consumo local. Até a década de 80 do século XX, os produtores de uvas do Vale dos Vinhedos vendiam sua produção para grandes vinícolas da região. A pouca quantidade de vinho que produziam destinava-se ao consumo familiar.

Esta realidade mudou quando a comercialização de vinho entrou em queda e, consequentemente, o preço da uva desvalorizou. Os viticultores passaram então a utilizar sua produção para fazer seu vinho e comercializá-lo diretamente, tendo assim possibilidade de aumento nos lucros.

Para alcançar este objetivo e atender às exigências legais da Indicação Geográfica, seis vinícolas se associaram, criando, em 1995, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale). Atualmente, a Aprovale conta com 24 vinícolas associadas e 19 associados não produtores de vinho, entre hotéis, pousadas, restaurantes, fabricantes de produtos artesanais, queijarias, entre outros. As vinícolas do Vale dos Vinhedos produziram, em 2004 9,3 milhões de litros de vinhos finos e processaram 14,3 milhões de kg de uvas viníferas.

Detalhes da Denominação de Origem do Vale dos Vinhedos

1 - A produção de uvas e a elaboração dos vinhos ocorrem exclusivamente na região delimitada do Vale dos Vinhedos, uma área de 72,45 km2 localizada nos municípios de Bento Gonçalves, Garibaldi e Monte Belo do Sul.

2 - Existem requisitos específicos para de cultivo dos vinhedos, produtividade e qualidade das uvas para vinificação;

3 - Os espumantes finos são elaborados exclusivamente pelo “Método Tradicional” (segunda fermentação na garrafa), nas classificações Nature, Extra-brut ou Brut; para este produto as uvas Chardonnay e/ou Pinot Noir são de uso obrigatório;

4 - Nos vinhos finos brancos, a uva Chardonnay é de uso obrigatório, podendo ter corte com a Riesling Itálico;

5 - O uso da uva Merlot é obrigatória para os vinhos finos tintos da DO, os quais podem ter cortes com vinhos elaborados com as uvas Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Tannat;

6 - Os produtos que passam por madeira envelhecem exclusivamente em barris de carvalho;

7 - Para chegar ao mercado, os vinhos brancos passam por um período mínimo de envelhecimento de 6 meses; no caso dos vinhos tintos são 12 meses; os espumantes finos passam por um período mínimo de 9 meses em contato com as leveduras, na fase de tomada de espuma;

8 - Os vinhos apresentam características analíticas e sensoriais específicas da região e somente são autorizados para comercialização os produtos que obtenham do Conselho Regulador da DO o atestado de conformidade em relação aos requisitos estabelecidos no Regulamento de Uso.

E agora falando do vinho:

Na taça revela um vermelho granada, atijolado, com halos evolutivos, denunciando seus 14 anos de safra, límpido e muito brilhante. Com lágrimas em profusão, finas e lentas, desenham as bordas do copo.

No nariz o destaque fica para os aromas terciários e as notas frutadas, frutas vermelhas maduras, frutas secas e em compota, como: avelã, groselha e cereja. As pipas de madeira, onde o vinho ficou armazenado, pronunciou as frutas. Percebem-se também terra molhada, fumaça, um defumado, as especiarias, representadas pela pimenta e ervas secas. Sente-se também, discretamente, um floral, flores vermelhas.

Na boca traz austeridade e não é por uma eventual estrutura, pois o vinho é leve, mas por ser equilibrado, elegante, sofisticado, garantido pelos seus anos de safra. É leve, porém de marcante personalidade, principalmente pela sua complexidade e um bom volume de boca, graças também as notas frutadas. Tem uma acidez correta, o que surpreende pelo tempo de vida, taninos domados, finos e um final cheio, longo e de retrogosto frutado.

Há um longo caminho a se percorrer para o Brasil se tornar um polo de referência na produção vitivinícola? Sim! Somos muitos jovens na produção de vinhos finos no Brasil, sobretudo diante de uma longa e secular história de vinhos coloniais, por exemplo, os famosas uvas de mesa, dos garrafões, mas vejo, por intermédio de rótulos que, cada vez mais expressam a tipicidade e os terroirs das principais regiões do Brasil na produção de vinhos, um futuro promissor e brilhante pela frente, mesmo com algumas adversidades de quem deveria fomentar o apoio. Mas sigamos aprendendo com os erros.

O fato é de que, além de fatos, estudos, depoimentos e história, a maior prova, a prova mais contundente e cabal é aquela que está na nossa taça, nas nossas adegas, nas nossas mesas, de rótulos como o Cavas do Vale Merlot Reserva que, mesmo com quatorze longos anos, se mostra vivo, pleno e com algum tempo pela frente, caso optasse pela continuidade de seu repouso, de sua evolução. E como evoluiu bem esse vinho, revelando às notas terciárias, as especiarias, as notas de frutas secas, a terra molhada. Como é prazeroso ser submetido à essas experiências e como nos tornamos pequenos perante a natureza e a sua gigante capacidade de nos proporcionar o que de melhor dela vem. Que possamos ter saúde para testemunhar as redenções do Brasil vitivinícola e dos seus rótulos. Tem 12,3% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Cavas do Vale:

A Cavas do Vale é uma vinícola pequena, familiar, artesanal, que elabora vinhos a partir de uvas próprias cultivadas no coração do Vale dos Vinhedos, pelo método tradicional e pipas de madeiras, com a menor intervenção possível de maquinários e produtos enológicos.

A sua história começa em 1954 quando Lucindo Brandelli inicia uma pequena produção de vinhos no porão de casa para consumo próprio, logo a paixão pela vitivinicultura cresceu e o cultivo de uva e produção de vinho tornou-se o negócio da família.

Em 2005, dando continuidade ao projeto do patriarca, um de seus filhos, Irineu Brandelli, enólogo com mais de 30 anos de experiência, funda a Cavas do Vale, elaborando vinhos das uvas Merlot, Cabernet e Tannat e já na primeira safra é brindado pela natureza com a histórica safra de 2005, que originou o vinho Gran Reserva Lucindo Brandelli.

Hoje a vinícola Cavas do Vale se destaca pelos seus vinhos de guarda, o Cavas do Vale Reserva Safra 2008 e o Gran Reserva Lucindo Safra 2005, vinhos vivos, ricos, complexos e com muitos anos de vida pela frente e que refletem ao máximo o terroir do Vale dos Vinhedos.

Mais informações acesse:

https://loja.cavasdovale.com.br/

Referências:

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=SERRAGAUCHA

“Blog Sonoma”: https://blog.sonoma.com.br/o-sucesso-da-merlot-no-brasil/amp/

“Vinho IG”: https://vinho.ig.com.br/2010/08/17/merlot-brasileiro-e-melhor-do-mund.html

“Wikipedia”: https://pt.wikipedia.org/wiki/Vale_dos_Vinhedos#Denomina%C3%A7%C3%A3o_de_Origem_Vale_dos_Vinhedos

“Viajali”: https://www.viajali.com.br/vale-dos-vinhedos/

“Embrapa”: https://www.embrapa.br/indicacoes-geograficas-de-vinhos-do-brasil/ig-registrada/do-vale-dos-vinhedos

 

 

 

 

 









sábado, 25 de junho de 2022

Santa Ema Gran Reserva Cabernet Sauvignon 2017

 

Têm castas que já estão inseridas em nossas vidas de enófilo desde sempre. Está tão inserida que nos traz a sensação de que a conhecemos profundamente, todas as suas nuances e características, cada detalhe. Nem tanto, nem tanto...

Claro que, dependendo da uva, da variedade, se adapta em vários solos, em vários terroirs, ganhando uma personalidade única, com nuances e peculiaridades inerentes a cada região.

A Cabernet Sauvignon, por exemplo, é tida, por muitos, como a rainha das uvas tintas. Não é para menos, claro, se adapta em vários climas e solos, é uma das cepas mais cultivadas do planeta, é a mais consumida também. Tem a sua nobreza pela sua história e representatividade. É digna de sua fidalguia.

Mas ainda há possibilidades de se surpreender com a Cabernet Sauvignon, sobretudo quando se conhece algumas regiões onde ela reina, em termos de qualidade. Falo da emblemática região chilena chamada Vale do Maipo.

E por que estou associando o Maipo com a Cabernet Sauvignon? Exatamente pela qualidade, pela referência dessa região para o cultivo da variedade, conhecida por ser a melhor região para a produção da cepa e de rótulos de plena representatividade em todo o Cone Sul.

A degustação de Cabernets do Maipo felizmente para mim não é novidade. Já havia tido uma experiência e tanto com um rótulo tradicional do Chile, além da região em si, que é o Marquês de Casa Concha Cabernet Sauvignon da safra 2014 e que experiência maiúscula, intensa, plena. De fato, não há o que contestar em degustar um Cabernet Sauvignon do Maipo.

E a segunda oportunidade me veio com outro rótulo de um produtor promissor, expoente em qualidade e tipicidade, que vem ganhando a predileção do enófilo brasileiro, falo da Santa Ema. Eu já tive o prazer de degustar o Merlot, de proposta intermediária da vinícola, o Santa Ema Select Terroir Merlot da safra 2018, e me surpreendeu pela personalidade e a representação do terroir que se confirma, inclusive, no nome.

E este rótulo de hoje se apresenta como um Gran Reserva, um Cabernet Sauvignon, do Vale do Maipo! Algumas combinações no mínimo instigante. Eu o mantive na adega por um tempo desde a compra. A intenção inicial foi deixa-lo por algum tempo na adega e degusta-lo com alguns anos de vida, mas a ansiedade venceu a paciência e a decisão de desarrolhá-lo foi dada.

Mas acredito que esteja no seu auge, no ápice de sua condição. E voilá! Um vinho estupendo, intenso, complexo, mas elegante, redondo, envolvente. Não preciso dizer, mas direi, para não perder o costume. O vinho que degustei e gostei veio do Vale do Maipo, Chile, e se chama Santa Ema Gran Reserva Cabernet Sauvignon da safra 2017. Então antes da descrição organoléptica do rótulo vamos às apresentações da tradicional Vale do Maipo.

Vale do Maipo

O Vale de Maipo é a única região vinícola do mundo com vinhedos nos limites urbanos de uma capital, Santiago, de 5,5 milhões de habitantes. O vale abriga o maior número de vinícolas do Chile, muitas delas com uma longa tradição vinícola que remonta ao início da produção chilena, e caves do século 19. Os vinhedos se estendem pelo Andes, onde são produzidos os melhores Cabernets, até o planalto central.

Maipo está localizado no extremo norte do Valle Central, onde a faixa costeira separa a costa do Oceano Pacífico e, no lado oriental a Cordilheira dos Andes se divide, separando a região de Mendoza do Vale do Maipo. As primeiras vinhas cultivadas na região chilena datam de 1540, contudo, foi apenas em 1800 que a cultura vinícola começou a se expandir notoriamente, tornando-se uma referência entre os vinhos sul-americanos.

Maipo Valley

A região pode ser dividida em três sub-regiões, Maipo Bajo, Central Maipo e Alto Maipo. Os vinhedos cultivados em Alto Maipo, ou Maipo Superior, percorrem a borda oriental da Cordilheira dos Andes, se beneficiando de altitudes entre 400 e 760 metros. Nesta altura, os dias são quentes e as noites frias, proporcionando uma lenta maturação das uvas, isto é, uvas com maiores índices de acidez.

Central Maipo, conhecida também como Maipo Médio, é uma sub-região de clima mais quente do que no Alto Maipo, bem como solos com maiores composições de argila, dando origem a vinhos mais refinados e elegantes.

A uva Cabernet Sauvignon continua sendo a variedade mais cultivada na região, apesar de existirem pequenos cultivos da Carmenère, casta beneficiada graças as temperaturas mais quentes, bem como Merlot, Syrah, Cabernet Franc, Malbec, Chardonnay, Sauvignon Blanc e Semillón.

Por fim, a sub-região do Bajo Maipo está situada em torno das cidades de Talagante e Isla de Maipo, onde apesar de existir o cultivo das vinhas, encontra-se com maior facilidade diversas vinícolas.

Alguns produtores estão localizados perto do rio, onde a brisa fresca proporciona microclimas adequados para o cultivo, principalmente, de uvas brancas, além da Cabernet Sauvignon. Valle del Maipo ganhou sua denominação de origem controlada em 1994, decretada pelo governo chileno.

A região vinícola do Valle del Maipo possui 13 denominações: Alhue (DO), Buin (DO), Calera de Tango (DO), Colina (DO), Isla de Maipo (DO), Lampa (DO), Maria Pinto (DO), Melipilla (DO), Pirque (DO), Puente Alto (DO), Santiago (DO), Talagante (DO) e Til Til (DO).

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um intenso e profundo vermelho rubi, mas com reflexos violáceos que estimula um lindo brilho, com lágrimas finas lentas e em profusão que desenham as bordas do copo.

No nariz explodem em aromas frutados, de frutas pretas bem maduras, onde se destacam amora, ameixa e groselha. As notas amadeiradas estão também em evidência e estabelecem uma bela sinergia com a fruta, com a presença de baunilha, especiarias, como pimenta, pimentão, além do tabaco. Os dez meses em barricas de carvalho aportam tais características.

Na boca é seco, de paladar arredondado, elegante, sofisticado, sendo muito equilibrado. Tem média estrutura, bom volume de boca, carnudo, cheio, alcoólico, mas bem integrado ao conjunto do vinho, com taninos pronunciados, presentes, porém redondos com uma excelente acidez que corrobora ou enfatiza o seu bom volume. A madeira traz também o aporte de tosta média, chocolate meio amargo e torrefação. Final agradável e prolongado.

As descrições do produtor referente a safra de 2017 no Chile e a Cabernet Sauvignon que abrilhantou esse rótulo especial pareceu ter ecoado as minhas percepções sensoriais de uma forma avassaladora e brilhante. Diz:

“A safra de 2017 foi uma das primeiras safras da última década, com pelo menos três semanas de antecedência devido a uma primavera seca e um verão quente, com temperaturas muito quentes. Os rendimentos foram abaixo do esperado, mas de excelente qualidade, com uvas muito saudáveis, aromáticas e altamente concentradas. Vinhos desta safra serão lembrados por sua grande complexidade, redondeza, volume e textura. ”

É o que se resume o Santa Ema Gran Reserva Cabernet Sauvignon: elegância, sofisticação envoltos em uma textura de complexidade e alguma estrutura, com as notas típica da passagem por carvalho.

É a personificação do Maipo, sintetiza a região, com o seu apelo regionalista, explodindo na taça em tipicidade e qualidade. Mais uma vez a Cabernet Sauvignon chilena muito bem representada! Teor alcoólico de 13,5%.

Sobre a Vinícola Santa Ema:

O começo da Santa Ema remonta ao início do século XX, mais precisamente em 1917, quando Pedro Pavone Voglino, imigrante italiano, do Piemonte atleta e empresário, descobriu na Ilha de Maipo um Terroir, onde até hoje, é a sede da vinícola, adquirindo a Fazenda Santa Ema, de 35 ha.

O fundador, juntamente com seu filho Félix Pavone Arbea, um grande empreendedor e visionário, fundou a empresa vinícola, Vinhos Santa Ema, em 1956, proporcionando uma avançada infraestrutura industrial para o desenvolvimento e gerenciamento de vinhos embalados de alta qualidade.

A partir de então, a Santa Ema se abriu para o Chile e para o mundo, iniciando suas exportações, em 1986, com um processo de crescimento sólido e ininterrupto, que hoje atinge a mais de 30 países de destino nas mãos da terceira e quarta geração da família.

Se existe algo que caracteriza o espírito, a missão e a visão dos Vinhos de Santa Ema, que continua pertencendo à Família Pavone, hoje em sua quarta geração, é uma adesão plena e sustentada aos seguintes valores fundamentais: compromisso, qualidade, respeito, honestidade e responsabilidade.

Mais informações acesse:

https://www.santaema.cl/pt-br/?active=S

Referências:

“Vinci”: https://www.vinci.com.br/c/regiao/valle-del-maipo

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=MAIPO#:~:text=O%20vale%20abriga%20o%20maior,produzidos%2C%20at%C3%A9%20o%20planalto%20central.

“Blog Divvino”: https://www.divvino.com.br/blog/colchagua-chile/

“Turistando Chile”: https://www.turistandochile.com.br/tours_ver/valle-del-maipo

“Viagem e Turismo Chile”: https://viagemeturismo.abril.com.br/cidades/valle-del-maipo/

 

 

 

 

 




quinta-feira, 23 de junho de 2022

Condado de Eguren Viúra 2019

 

Dizem que nada combinado transcorre da forma que esperamos. Não sei se é mais ou menos assim a frase, mas, no cotidiano de nossas vidas costumamos dizer que se fosse combinado não seria melhor. Parece que as coisas que acontecem sem combinar, sem projetar ou coisa que o valha têm um “sabor” diferente. Será?

Bom não vou contextualizar essa questão, mas acredito que tais fenômenos se adequem ao universo do vinho. Esse “sabor” diferente torna-se afável aos sentidos. Bem pelo menos para mim as experiências têm sido agradáveis.

Uma em especial vale ser contada, mas confesso que não projetei nada de bom no início, mas o valor, extremamente atrativo, me estimulou a levar esse rótulo, cuja casta, até então, não conhecia. Esse ponto também foi o que me chamou a atenção sendo preponderante para a minha decisão de compra.

Estava eu, em minhas incursões aos supermercados, fazendo aquelas compras cotidianas, algumas inclusive frívolas, e, como ainda tinha tempo, era um domingo ensolarado, decidi passar na adega para ver se havia alguma novidade.

Os olhos correndo as gôndolas avistou algo interessante. Um rótulo simples, mas impactado por um preço imbatível: R$ 19,90! Tomei a garrafa em minhas mãos e, a princípio, não vi nada que me chamasse a atenção. Olhando um pouco mais, com aquele requinte de detalhes, percebi a palavra “Viúra”. Não conhecia e, de posse de meu celular, alguns caprichos da tecnologia, me pus a pesquisar e percebi que se tratava de uma variedade branca muito popular na Espanha, mas eu não conhecia.

Não era uma casta tão difundida lá para o ano de 2019, creio, pois nunca tinha visto um rótulo desta variedade. Agora tomado por uma curiosidade, mas temeroso pela qualidade do vinho, decidi leva-lo, mas decidido também em degusta-lo naquele mesmo dia. Que vinho surpreendente foi o El Lagar de la Aldea Viúra 2017. Decidi comprar mais rótulos desta variedade.

Ao longo do tempo descobri que a Viúra também se chama Macabeo e também é usada para compor blends do famoso espumante espanhol Cava. O meu desejo em degustar o Cava aumentou e degustar alguns poucos rótulos, mas eu precisava degustar o Viúra, o branco tranquilo. Vi uma promoção muito interessante em um site de vendas de vinhos popular e não hesitei e comprei.

E ele demorou algum tempo para ser degustado, mas agora não vai passar despercebido, será “abatido” mesmo que nessa noite de início de inverno. Estou longe do ortodoxo, afinal, nem sempre tenho de degustar tintos encorpados no inverno.

E ele não decepcionou! Então sem mais delongas vamos às apresentações! O vinho que degustei e gostei veio da minha queridinha região de Castilla La Mancha e se chama Condado de Eguren da casta Viúra da safra 2019. Já tem algum tempo, três anos de safra, fiquei um tanto quanto temeroso, mas está ótimo, de ótima drincabilidade. Mas antes de falar do vinho contemos a história da terra de Dom Quixote e da casta branca mais popular da Espanha: Viúra.

Castilla La Mancha

Bem ao centro da Espanha, país com a maior área de vinhas plantadas em todo o mundo e o terceiro maior mercado produtor de vinhos, está localizada a região vitivinícola de Castilla La Mancha. Um território com grande extensão de terra quase que completamente plana, sem grandes elevações.  É nessa macrorregião que se origina quase 50% do total de litros de vinho produzidos anualmente na Espanha.

O nome “La Mancha” tem origem na expressão “Mantxa” que em árabe significa “terra seca”, o que de fato caracteriza a região. Neste território, o clima continental ao extremo provoca grandes diferenças de temperaturas entre verão e inverno. Nos dias quentes de verão os termômetros podem alcançar os 45°C, enquanto nas noites rigorosas de frio intenso do inverno, as temperaturas negativas podem chegar a até -15°C.

A irrigação torna-se muitas vezes essencial: além do baixo índice pluviométrico devido ao caráter continental e mediterrâneo do clima, o local se torna ainda mais seco graças ao seu microclima, que impede a entrada de correntes marítimas úmidas. A ocorrência de sol por ano é de aproximadamente 3.000 horas. Esta macrorregião é composta por várias regiões menores, incluindo sete “Denominações de Origem”, das quais se pode destacar La Mancha e Valdepeñenas.

Castilla La Mancha

Sub-regiões de Castilla

La Mancha: é a principal região dentre elas, sendo considerada a maior DO da Espanha e a mais extensa zona vinícola do mundo.  O território abrange 182 municípios, distribuídos em quatro províncias: Albacete, Ciudad Real, Cuenca e Toledo. As principais uvas produzidas naquele solo são a uva branca Airen e a popular tinta espanhola Tempranillo, também conhecida localmente como Cencibel.

Valdepeñenas: localizada mais ao sul, mas com as mesmas condições climáticas, tem construído sua boa reputação graças à produção de vinhos de grande qualidade, normalmente varietais da uva Tempranillo ou blends desta com castas internacionais.

A DO La Mancha conta mais de 164.000 hectares de vinhedos plantados. Com isso, é a maior Denominação de Origem do país e a maior área vitivinícola contínua do mundo, abrangendo 182 municípios, divididos em quatro províncias: Albacete, Ciudad Real, Cuenca e Toledo.

A regulamentação comunitária permite a produção de vinhos com indicação geográfica (IGP Vinos de la Tierra de Castilla), desde que tenham sido obtidos a partir de determinadas castas e provenham de uma determinada zona de produção. Na Espanha, esses vinhos são chamados de Vinos de la Tierra e podem usar menções em sua rotulagem relacionadas às variedades, safras e nome da vinícola, bem como às condições naturais ou técnicas da viticultura que deram origem ao vinho.

A importância social e econômica do setor na região, bem como o esforço de modernização feito pelos produtores, transformadores, engarrafadores e comerciantes nos últimos anos, exige um instrumento que lhes permita oferecer os seus vinhos de qualidade dignamente rotulados ao mercado.

Os tipos de vinhos que podem ser elaborados no IGP Vinos de la Tierra de Castilla são: vinhos brancos, rosés e tintos; Vinhos espumantes; Vinhos espumantes; vinhos licorosos; e vinhos de uvas maduras. São eles:

Brancas: Airén, Albillo Real, Chardonnay, Gewürztraminer, Macabeo oViura, Malvar, Malvasía Aromática, Marisancho o Pardillo, Merseguera, Moscatel de grano menudo, Moscatel de Alejandría, Parellada, Pedro Ximénez, Riesling, Sauvignon blanc, Torrontés, Verdejo, Verdoncho e Viognier.

Tintas: Bobal, Cabernet-sauvignon, Cabernet-franc, Coloraillo, Forcallat tinta, Garnacha tinta, Garnacha tintorera, Graciano, Malbec, Mazuela, Mencia, Merlot, Monastrell, Moravia agria, Moravia dulce o Crujidera, Petit Verdot, Pinot Noir, Prieto picudo, Rojal tinta, Syrah, Tempranillo o Cencibel, Tinto de la pámpana blanca e Tinto Velasco o Frasco.

As castas mais cultivadas em Castilla de La Mancha, sejam DO ou IGP, são: Airén, Viúra, Sauvignon Blanc e Chardonnay entre as brancas e as tintas são: Tempranillo, Syrah, Cabernet Sauvignon, Merlot e Grenache.

Classificação dos rótulos da DO de Castilla La Mancha:

• Jóven: Categoria mais básica, sem passagem por madeira, para ser consumido preferencialmente no mesmo ano da colheita.

• Tradicional: Sem passagem por madeira, porém com mais estrutura do que o Jóven.

• Envelhecimento em barris de carvalho: Envelhecimento mínimo de 90 dias em barris de carvalho.

• Crianza: Envelhecimento natural de dois anos, sendo, pelo menos, seis meses em barris de carvalho.

• Reserva: Envelhecimento de, no mínimo, 12 meses em barris de carvalho e 24 meses em garrafa.

• Gran Reserva: Envelhecimento de, no mínimo, 18 meses em barris de carvalho e 42 meses em garrafa.

• Espumante: Produzidos a partir do método tradicional (segunda fermentação em garrafa), com no mínimo nove meses de autólise.

Viúra ou Macabeo

A Viura, conhecida também como Macabeo, é uma variedade de uva branca amplamente utilizada na Espanha e em algumas áreas vinícolas da França. Trata-se de uma casta versátil, podendo dar origem a vinhos tranquilos, secos, doces e espumantes. Os nomes Macabeu e Maccabéo são mais comuns em Languedoc-Roussillon, no sul da França.

Os vinhos elaborados a partir da Viura podem ser frescos, aromáticos e florais quando as uvas são colhidas cedo e os exemplares envelhecidos em barris de aço inoxidável. Quando as uvas permanecem um tempo a mais na videira e a bebida é envelhecida em barris de carvalho, os vinhos adquirem aromas de mel e noz.

A Espanha é o lar da uva Viura, principalmente, as regiões do norte do país. A variedade é o principal ingrediente dos vinhos brancos de Rioja, onde é utilizada em quase todos as áreas da Catalunha, principalmente, no espumante Cava, ao lado das uvas Parellada e Xarel-lo. No Sul, ao longo da costa do Mediterrâneo, a Viura pode ser encontrada em diferentes regiões, especialmente em Jumilla, Valencia e Yecla.

Trata-se de uma uva com baixa complexidade aromática e sua relativa neutralidade a torna uma boa candidata para vinhos de corte. Quando colhida antecipadamente, os vinhos varietais Viura podem apresentar sabores de toranja com altos níveis de acidez, no entanto, quando permanece por mais um tempo na vinha, os vinhos em geral apresentam um gosto mais de carvalho.

A uva Viura pode ser utilizada por conta própria para dar origem a vinhos varietais, no entanto, a variedade é comumente misturada com outras uvas locais. Na região de Rioja, as principais parceiras da Viura são as uvas Malvasia e Garnacha Blanca, enquanto na Catalunha as uvas que aparecem ao lado da Viura são a Parellada e Xarel-lo.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um amarelo pálido, palha, límpido e bem brilhante, mas com reflexos esverdeados.

No nariz não entrega complexidade, expressividade aromática, mas se percebe as notas de frutas brancas e cítricas e delicados e agradáveis notas florais, de flores brancas.

Na boca tem o seu destaque. As frutas brancas e cítricas ganham protagonismo, onde se nota abacaxi, maça-verde, pera, lima, com belíssimo volume de boca, cheio, marcante, compensando a baixa acidez. Tem um final com um discreto dulçor, fazendo dele prolongado e persistente.

Uma casta popular na Espanha e que certamente será popular em minha taça! Um vinho frutado, leve, despretensioso. Não é tão aromático, mas compensa e muito pelo sabor marcante na boca. Um vinho altivo, vivaz e com uma personalidade muito marcante, mesmo que seja um branco leve e despretensioso. Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a Bodegas Condado de Eguren:

A Bodega Condado de Egúren é uma adega familiar, localizada em Laguardia. Inovadora, com projeção internacional, autofinanciada e independente, dedicada à produção e comercialização dos nossos vinhos Rioja Alavesa.

Tem 130 hectares de vinha própria onde cultivam e controlam a produção das uvas de forma tradicional em harmonia com as mais recentes técnicas vitícolas.

As uvas usadas para fazer os vinhos são provenientes de vinhedos nos solos argilo-calcários de Labastida, Páganos, Leza e Elciego, no coração da Rioja Alavesa. Procura-se uma orientação norte-sul e são realizados em treliças altas, garantindo assim uma maior exposição solar. Como as vinhas não são irrigadas, estão totalmente dependentes das condições climáticas. Realiza-se a vindima manual e mecanicamente, para que as uvas cheguem à adega no seu melhor momento.

A adega está na sexta geração de uma família dedicada ao cuidado da vinha, com uma adega e um hotel entre vinhas localizado em Laguardia.

Mais informações acesse:

https://egurenugarte.com/

Referências:

“Vinho Blog”: http://blog.vinhosite.com.br/la-mancha-maior-regiao-produtora-vinhos-espanha/

“Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/245-a-regiao-de-castilla-la-mancha-a-terra-de-dom-quixote

Blog “Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/245-a-regiao-de-castilla-la-mancha-a-terra-de-dom-quixote#:~:text=Este%20livro%2C%20universalmente%20famoso%2C%20trata,no%20centro%2Fsudeste%20da%20Espanha.&text=Os%20primeiros%20escritos%20da%20cultura,vinhas%20foram%20introduzidas%20pelos%20romanos.

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/vinhos-dos-moinhos_4580.html

“Blog VinhoSite”: http://blog.vinhosite.com.br/la-mancha-maior-regiao-produtora-vinhos-espanha/

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/viura

“Adega Tanino”: https://www.adegatanino.com.br/uva/macabeoviura

 

 

 

 

 


sábado, 18 de junho de 2022

Moinho de Sula Reserva Baga 2014

 

Eis que, finalmente, ela me surge por inteiro! Falo de uma casta que é o símbolo, a personificação de uma região que, tem pouco tempo, que conheci e que, a cada rótulo, me deixo seduzir: Falo da casta Baga e da Bairrada!

E quando falo que ela me surge por inteiro é na sua versão varietal! Em várias experiências ela veio em corte, em blends, igualmente sedutores em que ela protagonizou e entregou vinhos peculiares, diria arrebatadores.

São definitivamente vinhos pouco usuais, pouco ortodoxos, diria difíceis para aqueles que estão adentrando no universo do vinho ou ainda aqueles que se entregam às zonas de conforto dos vinhos escancaradamente frutados.

Mesmo que a Baga, em tempos contemporâneos, graças ao enólogo e vinhateiro Luis Pato, conhecido como aquele que “domou” a Baga, a variedade é, por si só, extremamente peculiar, diferente, por assim dizer.

Como? Não sei dizer, tecnicamente! Talvez é mais algo mais orgânico ou pelo menos deveria ser os dois, mas a Baga traz, ainda hoje, algo de selvagem, de rústico, que a caracterizou nos seus primórdios, traz contornos de tabaco, de couro, de frutas secas e pretas. Em suma, uma casta pouco usual.

E quem abriu as cortinas, os meus olhos para a Baga, a Bairrada e o Beira Atlântico, a região coadjuvante, mas não menos importante, foi a Adega de Cantanhede. A Cantanhede me foi revelada, de uma forma quase despretensiosa, por um de seus rótulos mais falados e premiados, o Marquês de Marialva Colheita Selecionada. Eu degustei a safra 2014 no ano de 2019! Achei que estaria “avinagrado”, ruim! Enganei-me! Um senhor vinho! Vivo, pleno aos 5 anos! A Bairrada se revelara para mim com esse rótulo! A Baga se mostrava com a sua incrível capacidade longeva!

O interesse pelos rótulos desse produtor, pelos vinhos da Bairrada e do Beira Atlântico foi instantâneo. Para o Beira Atlântico foi um pulo! E a linha Moinho de Sula me foi apresentada! O Colheita Selecionada branco, o Reserva Arinto e mais recentemente o Colheita Selecionada tinto degustado com 6 anos de safra e tendo a Baga predominante.

Então dessa vez a Baga será protagonista e o vinho escolhido é da “família” Moinho de Sula. E este já está com seus oito anos de vida! Será que resistiu? Será que está em sua plenitude? A Ansiedade me toma de assalto nesse momento. O vinho ganha a liberdade com a retirada da rolha, o ritual traz a textura inicial à degustação.

A taça finalmente é inundada pela poesia líquida e finalmente o vinho que degustei e gostei veio do Beira Atlântico e se chama Moinho de Sula Reserva da casta Baga (100%) da safra 2014. E como gostei! Todas as características da Baga, que conheci, há pouco tempo, estão neste rótulo e agora figurando solitariamente, mas ricamente.

Então sem mais delongas, antes de tecer maiores e melhores, sem dúvida, comentários do vinho, contemos um pouco a história da Baga e da região onde domina: Beira Atlântico.

Baga

A uva Baga, uma das principais uvas nativas de Portugal, é capaz de oferecer enorme complexidade aos rótulos que compõe. Demonstrando muita classe e estrutura, a variedade da casta de tintos é única no seu valor e possui um fantástico potencial de envelhecimento, que atua com o vinho na garrafa durante anos após sua fabricação.

A uva Baga é uma variedade amplamente utilizada na costa central de Portugal, na elaboração de ótimos vinhos tintos. Particularmente na região da Bairrada, a Baga é, sem dúvida, uma das uvas tintas mais cultivadas, além de ser plantada também no Dão e em Ribatejo. Há quem diga que a casta nasceu nas terras do Dão, inclusive alguns produtores locais mais tradicionais defendem essa tese, mas foi nas terras da Bairrada que ganhou reputação, onde ocupa mais de 90% dos vinhedos.

A Baga é conhecida tradicionalmente pela espessura de sua pele, em proporção com o tamanho das pequenas bagas que o cacho apresenta. Além disso, essa variedade é extremamente tânica, podendo ser notado o caráter adstringente em alguns vinhos.

Baga

A Baga é uma uva pequena, com casca grossa, capaz de oferecer classe e estrutura aos rótulos que compõem, que vão desde os tintos até os rosés e espumantes. É exatamente o fato do fruto ser pequeno que faz com que os vinhos da uva Baga tenham taninos em alta concentração e acidez acentuada.

No passado, a Baga era conhecida por ser empregada na produção de vinhos rústicos, excessivamente ácidos e tânicos e de pouca concentração. Porém, após a chegada do genial Luís Pato, conhecido como o “revolucionário da Bairrada” e maior expoente desta variedade, a casta da uva Baga foi “domesticada”.

Luis Pato

O cultivo da Baga é árduo e trabalhoso, demorando para que o amadurecimento ocorra. A fruta desenvolve-se melhor quando plantada em solos argilosos e necessita de uma excelente exposição ao sol durante o processo de cultivo. Entretanto, após os devidos cuidados e maturação, a Baga produz preciosos rótulos, podendo envelhecer na garrafa durante anos, garantindo complexidade e elegância para seus exemplares, além de tornar os vinhos concentrados, aromáticos e possuidores de uma coloração escura.

Conhecida também como Tinta da Bairrada, Tinta Poeirinha ou Tinta Fina, a uva Baga atualmente é considerada uma das maiores uvas portuguesas, com enorme complexidade, estrutura e classe, sendo muito apreciada no mundo do vinho. A casta Baga dá origem a vinhos portugueses com muita personalidade, altamente interessantes e únicos.

Beira Atlântico

A produção de vinho na região remonta ao tempo dos romanos, fazendo disso prova os diversos lagares talhados nas rochas graníticas (lagares antropomórficos), onde na época o vinho era produzido. Já nos reinados de D. João I e de D. João III, respectivamente, foram tomadas medidas de proteção para os vinhos desta área do país, dadas a sua qualidade e importância social e econômica.

A tradição destes vinhos remonta ao reinado de D. Afonso Henriques, que autorizou a plantação das vinhas na região, com a condição de ser dada uma quarta parte do vinho produzido. Estendendo-se desde o Minho ate a Alta Estremadura, e uma região de agricultura predominantemente intensiva e multicultural, de pequena propriedade, aonde a vinha ocupa um lugar de destaque e a qualidade dos seus vinhos justifica o reconhecimento da DOC "Bairrada".

Beira Atlântico

Os solos são de diferentes épocas geológicas, predominando os terrenos pobres que variam de arenosos a argilosos, encontrando-se também, com frequência, franco-arenosos. A vinha e cultivada predominantemente em solos de natureza argilosa e argilo-calcaria. Os Invernos são longos e frescos e os Verões quentes, amenizados por ventos de Oeste e de Noroeste, que com maior frequenta e intensidade se faz sentir nas regiões mais próximas do mar.

A região da Bairrada situa-se entre Agueda e Coimbra, delimitada a Norte pelo rio Vouga, a Sul pelo rio Mondego, a Leste pelas serras do Caramulo e Bucaco e a Oeste pelo oceano Atlântico. E uma região de orografia maioritariamente plana, com vinhas que raramente ultrapassam os 120 metros de altitude, que, devido a sua planura e a proximidade do oceano, goza de um clima temperado por uma fortíssima influencia atlântica, com chuvas abundantes e temperaturas médias comedidas. Os solos dividem-se preponderantemente entre os terrenos argilo-calcários e as longas faixas arenosas, consagrando estilos bem diversos consoantes à predominância de cada elemento.

Integrada numa faixa litoral submetida a uma fortíssima densidade populacional, a propriedade rural encontra-se dividida em milhares de pequenas parcelas, com dimensões medias de exploração que raramente ultrapassam um hectare de vinha, favorecendo a presença de grandes adegas cooperativas e de grandes empresas vinificadoras, a par de um conjunto de produtores engarrafadores que muito dignificam a região.

As fronteiras oficiais da Bairrada foram estabelecidas em 1867, por Antônio Augusto de Aguiar, tendo sido das primeiras regiões nacionais a adoptar e a explorar os vinhos espumantes, uma vez que na região, o clima fresco, úmido e de forte ascendência marítima favorece a sua elaboração, oferecendo uvas de baixa graduação alcoólica e acidez elevada, condição indispensável para a elaboração dos vinhos espumantes.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um vermelho granada intenso e límpido, típico da casta e talvez pelos seus oito anos de safra, com lágrimas finas, lentas e abundantes.

No nariz traz ainda, apesar do tempo de safra, um considerável aroma de frutas vermelhas e pretas bem maduras em perfeita sinergia com as notas amadeiradas, graças aos nove meses de passagem por barricas de carvalho, com toques de especiarias, diria um herbáceo, além de leve tosta e defumado.

Na boca apresenta um corpo médio, com um bom volume de boca e complexidade, mas elegante, redondo, equilibrado. A fruta madura protagoniza, como no aspecto olfativo, bem como o amadeirado, que ainda entrega o chocolate, a baunilha. Percebem-se também especiarias doces, terra molhada e tabaco. Tem taninos macios e uma incrível acidez. Final longo e cheio.

A experiência foi incrível! A Baga de fato traz personalidade! Essa é a palavra! E o vinho está no auge, no ápice com os seus oito anos de vida. A plenitude de uma casta retratada com as suas mais fiéis características e mesmo com a sua domesticação, se mostrou rústica, corpo médio, estrutura marcante, mas macio, elegante como bom vinho de oito anos de vida. Que a Baga se revele para todos dignos dela! Que a Baga se revele para mim sempre que eu merecer! O seu apelo regional merece o mundo! Tem 13,5% de teor alcoólico.

Curiosidades sobre o nome “Moinho de Sula”:

O Campo Militar da Batalha do Bussaco distribuiu-se por uma extensa zona da Serra do Bussaco e duas áreas, correspondentes a dois locais de combate distintos: o Campo de Santo António do Cântaro, situado abaixo da cumeada da Serra; o Campo de Moura/Sula, que inclui os moinhos com o mesmo nome, o Obelisco comemorativo da Batalha, erigido em 1873; e a Capela da Vitória, originalmente das Almas, que serviu de enfermaria de campanha às tropas da batalha.

Localizado na freguesia de Trezoi, no alto da Serra do Bussaco, o moinho de Sula foi construído entre os séculos XVII e XVIII. Com uma vista privilegiada sobre o vale de Mortágua, este lugar emblemático do Bussaco serviu de posto de comando ao general Robert Craufurd, comandante das tropas luso-britânicas que defendiam o flanco norte da Serra, em 1810.

Moinho de Sula

A cerca de 2 km do moinho de Sula, encontra-se o Moinho da Moura, moinho que foi albergue do posto de comando do Marechal André Massena, comandante em chefe das forças francesas, na Batalha do Bussaco, travada a 27 de setembro de 1810.

Um agradecimento especial e carinhoso à Adega de Cantanhede por gentilmente ceder o subsídio histórico de Moinho de Sula que entregue seu nome ao vinho que degustei e gostei.

Sobre a Adega de Cantanhede:                    

Fundada em 1954 por um conjunto de 100 viticultores, a Adega de Cantanhede conta hoje com 500 viticultores associados ativos e uma produção anual de 6 a 7 milhões de quilos de uva, constituindo-se como o principal produtor da Região Demarcada da Bairrada, representando cerca de 40% da produção global da região. Hoje certifica cerca de 80% da sua produção, sendo líder destacado nas vendas de vinhos DOC Bairrada DOC e Beira Atlântico IGP.

Reconhecendo a enorme competitividade existente no mercado nacional e internacional, a evolução qualitativa dos seus vinhos é o resultado da mais moderna tecnologia, com foco na qualidade e segurança alimentar (Adega Certificada pela norma ISO 9001:2015, e mais recentemente pela IFS Food 6.1.), mas também da promoção das castas Portuguesas, que sempre guiou a sua estratégia, particularmente das variedades tradicionais da Bairrada – Baga, Bical e Maria Gomes – mas também de outras castas

Portuguesas que encontram na Bairrada um Terroir de eleição, como sejam a Touriga Nacional, Aragonez e Arinto, pois acredita que no inequívoco potencial de diferenciação e singularidade que este património confere aos seus vinhos.

O seu portfólio inclui uma ampla gama de produtos. Em tinto, branco e rose os seus vinhos vão desde os vinhos de mesa até vinhos Premium a que acresce uma vasta gama de espumantes produzidos exclusivamente pelo Método Clássico, bem como Aguardentes e Vinhos Fortificados. É um portfólio que, graças à sua diversidade e versatilidade, é capaz de atender a diferentes segmentos de mercado, com diferentes graus de exigência em qualidade, que resulta na presença dos seus produtos em mais de 20 mercados.

A sua notoriedade enquanto produtor, bem como dos seus vinhos e das suas marcas, vem sendo confirmada e sustentadamente reforçada pelos prémios que vem acumulando no seu palmarés, o que resulta em mais de 750 distinções atribuídas nos mais prestigiados concursos nacionais e internacionais, com destaque para Mundus Vini – Alemanha, Concours Mondial de Bruxelles, Selections Mondiales du Vins - Canada, Effervescents du Monde – França, Berliner Wein Trophy – Alemanha e Japan Wine Challenge, sendo por diversas ocasiões o único produtor da Bairrada com vinhos premiados nesses concursos e, por isso, hoje um dos mais galardoados produtores da região. Em 2015 integrou o TOP 100 dos Melhores Produtores Mundiais, pela WAWWJ – Associação Mundial dos Jornalistas e Críticos de Vinho e Bebidas Espirituosas. Nos últimos 8 anos foi eleita “Melhor Adega Cooperativa” em Portugal por 3 vezes pela imprensa especializada.

Mais informações acesse:

https://www.cantanhede.com/

Referências:

“Divinho”: https://www.divinho.com.br/uva/baga/

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/baga

“Vinci”: https://www.vinci.com.br/c/tipo-de-uva/baga

“Winepedia”: https://www.wine.com.br/winepedia/sommelier-wine/serie-uvas-baga/

“Região de Coimbra”: https://visitregiaodecoimbra.pt/cultura-e-patrimonio/roteiros-de-3-dias/terras-ferteis-de-ilustres-guerras/mortagua/moinho-de-sula/#

“Soulwines”: https://www.soulwines.com.br/uvas-de-vinhos/baga

“IVV”: https://www.ivv.gov.pt/np4/503/