segunda-feira, 26 de setembro de 2022

Casal Mor Bical (60%) e Arinto (40%) 2020

 

A busca por novos rótulos, com novas regiões e castas te propõe novas experiências sensoriais, te estimula a desbravar as novas histórias, caso você tenha simpatia por elas. A mim, em especial, a história não traz apenas o prazer por ela só, mas tem tido um peso preponderante para a escolha dos vinhos.

Embora quase tudo isso seja fato, algo que venho defendendo e textualizando em muitos dos meus textos, faço questão sim de afirmar e reafirmar, pois o meu momento de degustação tem sido muito especial, pois a adega tem refletido, dentro do possível, essa diversidade que fomenta tais degustações.

E já que falamos nisso, tem uma região portuguesa que eu estou, a cada dia que passa a cada rótulo degustado, se revelando maravilhosamente. Uma região tradicional, importante para o cenário vitivinícola português, mas que no Brasil, ainda não atingiu, penso a representatividade que ostenta em seu país: falo da Bairrada.

E eu não posso deixar de contar uma história e a forma como conheci a região. Eu estava assistindo a um programa de televisão, no antigo Canal Globosat, chamado “Um Brinde ao Vinho”. Eles fizeram um especial, uma temporada nas principais regiões portuguesas e a Bairrada estava na rota da equipe deste programa televisivo.

Eu fiquei maravilhado com a sua história, os seus rótulos e decidi sair à busca de um vinho, de um rótulo dessa região. Depois de alguns meses do programa de televisão eu descobri alguns rótulos, descobri um grande produtor da Bairrada que descortinou os vinhos da Bairrada aqui no Brasil e com um ótimo custo, com valores muito atrativos, que é a Adega de Cantanhede.

Mas o rótulo de hoje é de outro produtor, também tradicional na região, a Caves Primavera, e será um branco, um bom branco que tem um apelo regionalista muito forte, não caracterizado pela obviedade da região, mas pelas castas, pelas variedades que o compõe: Bical e Arinto. Quer algo mais regional que ter um branco lusitano, da Bairrada, com as castas mais famosas deste país?

Então sem mais delongas vamos às apresentações! O vinho que degustei e gostei veio da Bairrada, Portugal, e se chama Casal Mor, um branco composto pelas castas Bical (60%) e Arinto (40%) da safra 2020. Lembrando que eu já degustei a “versão tinta” deste rótulo e tive uma bela impressão, o Casal Mor Reserva da safra 2017. Antes de falar do vinho, vamos, para variar, às histórias da gloriosa Bairrada! 

Bairrada

Localizada na região central de Portugal e se estendendo até o Oceano Atlântico, especificamente entre as cidades de Coimbra e Águeda, a região vinícola da Bairrada, cujo nome é uma referência ao solo argiloso que a compõe (barro) tem clima temperado bastante favorável às vinhas.

A Bairrada é uma daquelas regiões portuguesas com grande personalidade. Apesar de sua longa história vínica, a certificação da região é recente. A Denominação de Origem Controlada (DOC Bairrada) para vinhos tintos e brancos é de 1979 e para espumantes de 1991. A Região Demarcada da Bairrada possui também uma Indicação Geográfica: IG Beira Atlântico.

Bairrada

António Augusto de Aguiar estudou os sistemas de produção de vinhos e definiu as fronteiras da região. Em 1867, vinte anos mais tarde, fundou a Escola Prática de Viticultura da Bairrada. Destinada a promover os vinhos da região e melhorar as técnicas de cultivo e produção de vinho.

O primeiro resultado prático da escola foi a criação de vinho espumante em 1890. E foi com os espumantes que a região conquistou o mundo. Frutados, com um toque mineral e boa estrutura esses vinhos tornaram-se referencias e, até hoje, fazem da Bairrada uma das maiores regiões produtoras de espumantes de Portugal. Com o passar do tempo, as criações tintas ganharam espaço.

Muito por conta do que os produtores têm feito com a Baga, casta autóctone da região. O grande responsável pelo fortalecimento internacional da região é o engenheiro Luís Pato. Conhecido como o "Mr. Baga", Pato tem um trabalho minucioso sobre as uvas, tudo para conseguir um vinho autêntico com o mínimo de interferência externa. A uva Baga, uma das principais uvas nativas de Portugal, é capaz de oferecer enorme complexidade aos rótulos que compõe.

Demonstrando muita classe e estrutura, a variedade da casta de tintos é única no seu valor e possui um fantástico potencial de envelhecimento, que atua com o vinho na garrafa durante anos após sua fabricação. Além de refinados e inimitáveis, os vinhos produzidos com esta variedade de uva apresentam muita personalidade e distinção. No passado, a Baga era conhecida por ser empregada na produção de vinhos rústicos, excessivamente ácidos e tânicos e de pouca concentração. Porém, após a chegada do genial Luís Pato, conhecido como o “revolucionário da Bairrada” e maior expoente desta variedade, a casta da uva Baga foi “domesticada”.

A localização da DOC Bairrada e suas características de clima e solo fazem dela uma região única. Paralelamente, o plantio das vinhas é feito em lotes descontínuos de pequenas proporções e faz divisa com outras culturas e outros usos de solo. Com isso, seus vinhos são de terroir, ou seja, o local onde a uva é plantada influencia diretamente em suas particularidades. Delimitada a Sul, pelo rio Mondego, a Norte pelo rio Vouga, a Leste pelo oceano Atlântico e a Oeste pelas serras do Buçaco e Caramulo, a região é composta por planalto de baixa altitude.

O solo é predominantemente argilo-calcário, mas há algumas poucas regiões com solos arenosos e de aluvião. O clima é mediterrânico moderado pelo Atlântico. A região recebe forte influência marítima do oceano Atlântico. Os invernos são frescos, longos e chuvosos e os verões são quentes, suavizados pela presença de ventos frequentes nas regiões junto ao mar. A área se beneficia de grande amplitude térmica na época do amadurecimento das uvas. A variação que pode chegar aos 20ºC de diferença entre o dia e a noite.

Decreto-Lei n.º 70/91 estabeleceu as castas autorizadas e recomendadas para produção de vinhos na DOC Bairrada. A lei descreve as diretrizes para elaboração dos vinhos tintos, rosés, brancos e espumantes. Para a produção de tintos e rosés com o selo DOC Bairrada, as castas recomendadas são Baga (ou Tinta Poeirinha), Castelão, Moreto e Tinta-Pinheira. No conjunto ou separadamente, deverão representar 80% do vinhedo, não podendo a casta Baga representar menos de 50%. As castas autorizadas são Água-Santa, Alfrocheiro, Bastardo, Jaen, Preto-Mortágua e Trincadeira.

Para os vinhos brancos as castas recomendadas são Maria-Gomes (também conhecida como Fernão Pires), Arinto, Bical, Cercial e Rabo-de-Ovelha, no conjunto ou separadamente com um mínimo de 80% do encepamento: e as autorizadas são Cercialinho e Chardonnay. O vinho base para espumantes naturais devem ser elaborados através das castas recomendadas Arinto, Baga, Bical, Cercial, Maria-Gomes e Rabo-de-Ovelha; ou das autorizadas Água-Santa, Alfrocheiro-Preto, Bastardo, Castelão, Cercialinho, Chardonnay, Jaen, Moreto, Preto-Mortágua, Tinta-Pinheira e Trincadeira.

Em 2012 foi publicada a Portaria n.º 380/2012, que atualiza a lista de castas permitidas para e das portuguesas Touriga Nacional, Castelão, Rufete, Camarate, Tinta Barroca, Tinto Cão e Touriga Franca. Vinhos elaborados com castas que não estejam relacionadas na elaboração dos vinhos DOC Bairrada.  Foi incluída recentemente uma autorização para o cultivo das castas internacionais Cabernet Sauvignon, Syrah, Merlot, Petit Verdot e Pinot Noir Decreto-Lei, não podem receber o selo de DOC Bairrada e são rotulados com o selo Vinho Regional Beira Atlântico.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um amarelo palha, claro, com discretos reflexos esverdeados, com algumas lágrimas, finas e razoavelmente lentas.

No nariz é extremamente aromático, com o protagonismo da fruta, das frutas brancas, de polpa branca e cítricas, tais como pera, maçã-verde, melão, lima e abacaxi, com um delicado e agradável floral que me traz a sensação de frescor.

Na boca é meio seco, leve, porém untuoso, com certa cremosidade em boca, enchendo-a, talvez pelo tempo curto e parcial em barricas de carvalho, cerca de 4 meses, com o processo de bâtonnage, que consiste na movimentação do mosto (suco da uva) com o auxílio de um bastão — em francês, chama-se bâton. A fruta revela, como no aspecto olfativo, o seu destaque, com acidez equilibrada, trazendo frescura e um final de média persistência e com um dulçor inusitado, mas saboroso, como o vinho se mostra.

Tem sido sempre um momento especial degustar vinhos da Bairrada, tem sido especial desbravar, a cada rótulo, a sua magistral história, as suas castas mais proeminentes, importantes e tão peculiares, graças as suas marcantes personalidades, a sua longevidade etc. O Casal Mor branco trouxe o melhor, dentro de sua proposta, das castas produzidas na Bairrada. A Bical, extremamente popular nesta região, e a Arinto, talvez a variedade branca mais cultivada em Portugal, dispensa maiores comentários. Um belo vinho. Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a Caves Primavera:

As Caves Primavera foram fundadas em 1944 por dois irmãos, Lucénio e Vital de Almeida. A empresa começou como Vinícola Primavera chamava-se Vinícola precisamente porque não possuía uma cave, e as suas primeiras instalações foram no centro da aldeia de Aguada de Baixo, a sensivelmente 800 metros das instalações atuais.

A história das Caves Primavera só foi possível devido ao esforço, dedicação e trabalho de dois grandes homens, os irmãos Lucénio e Vital de Almeida. Os fundadores iniciaram a sua atividade desde muitos jovens. Lucénio e Vital de Almeida eram homens sérios, confiantes, com enorme dedicação e que faziam uma dupla fortíssima. Sempre motivados pelos seus sonhos, conseguiram fazer com que o nome Primavera estivesse associado a algo mais do que apenas a estação do ano. Foram homens de bem, únicos, humildes, benfeitores da região, que nunca serão esquecidos.

Dois homens, Lucénio e Vital Rodrigues de Almeida foram e serão sempre os principais responsáveis pelo sucesso das Caves Primavera. Foram eles que levantaram voo e iniciaram um novo ciclo no mundo dos vinhos e deram uma nova dimensão à expressão “aí vem a Primavera”.

Primeiramente a atividade centrou-se na produção de vinhos tranquilos (inicialmente até era dedicada à produção de “pirolitos” que era uma bebida não alcoólica, com uma esfera de vidro a servir de tampão). À medida que foi crescendo, passou a diversificar a sua atividade e a necessitar de um espaço maior. Em 1954 foram inauguradas as instalações atuais, e a empresa incorporou a produção e comercialização de espumantes e licores.

A empresa passou então por uma fase de grande crescimento: alargamento da cave e a automatização de processos nos anos 1970, onde a empresa cresceu muito graças ao desenvolvimento das ex-colónias, tendo já uma vertente exportadora que se acentuou a partir de 1975, com a independência dos atuais Palops; modernização da empresa, com anos de grande fulgor comercial e aposta nos produtos engarrafados nos anos 1980; inauguração do centro de vinificação nos anos 1990, onde hoje é produzida a totalidade dos produtos Bairrada e Beiras que é comercializado e onde decorre anualmente a vindima entre Setembro e Outubro de cada ano.

Nos últimos anos foram realizadas pequenas alterações ao layout da empresa, acrescentando inovações em áreas essenciais – laboratório, zona de enchimento, equipamentos para degorgment, obtendo a certificação de qualidade da norma ISO 9001 (primeira certificação em 1999, hoje em dia certificados na norma ISSO 9001:2015), consolidando, com isso, o crescimento nos mercados externos, com destaque para os mercados escandinavos. A exportação representa atualmente cerca de 40% da nossa faturação total.

Mais informações acesse:

https://www.cavesprimavera.pt/

Referências:

Mistral: https://www.mistral.com.br/regiao/bairrada

Reserva85: https://reserva85.com.br/vinho/indicacao-geografica-ig-denominacao-de-origem-do/regioes-demarcadas-de-portugal/bairrada/









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