Quando falamos na clássica casta branca Alvarinho, o que nos
faz lembrar? Da emblemática região do Minho, dos Vinhos Verdes, onde ela reina
de forma soberana em termos de representatividade, qualidade e popularidade.
Há alguns lugares na Espanha que produzem a casta com o nome
de Albariño, mas o Minho, em Portugal, traz a cepa como vitrine e exportação
por todos os cantos do mundo e todas as mesas também.
Mas hoje temos algumas abnegadas vinícolas brasileiras que
está produzindo o Alvarinho e trazendo alguns suspiros carregados de elogios.
Recentemente, mais precisamente em 2022, participei de um evento de degustação
de vinhos da região, que também está crescendo para o Brasil, Serra do Sudeste,
da Vinícola Hermann, que apresentou o seu Alvarinho da safra 2018.
O início do evento começou de forma muito agradável com a
degustação de alguns borbulhantes, como Prosecco, brancos tranquilos e rosés,
quando serviram o Alvarinho da safra 2018 e que confesso fiquei maravilhado!
O vinho mesmo no auge dos seus quatro anos de garrafa à época, gozava de muita jovialidade, frescor e fruta, com destaque para o pêssego maduro. Claro que a Alvarinho tem potencial de guarda e esse goza dessa condição também, mas está no ápice da degustação.
Então não hesitei e comprei afinal, além da grande
experiência sensorial agradável, tem o privilégio de degustar um Alvarinho
brasileiro pela primeira vez, um orgulho, ufanismos à parte.
E hoje com cinco anos na garrafa chegou a hora de tê-lo por
inteiro em minha humilde taça, por inteiro, porque terei toda a garrafa e não
apenas uma taça como no evento a qual participei. O momento também é propício
afinal estamos em dias quentes do verão, então nada mais apropriado degusta-lo.
Então sem mais delongas vamos às apresentações do vinho! O
vinho que degustei e gostei veio da Serra do Sudeste, no sul do Brasil, e se
chama Matiz Alvarinho da safra 2018. Para não perder o costume vamos de
história da região que cresce em visibilidade de forma vertiginosa e da casta
emblemática do Minho, a Alvarinho.
Serra do Sudeste
Nossa mais famosa região vinícola é, sem dúvida alguma, a
Serra Gaúcha, da qual faz parte a primeira área de Indicação de Procedência
brasileira, o Vale dos Vinhedos. De dentro para fora, sabemos que o Vale está
chegando ao seu limite de plantio.
Como área de procedência certificada, as regras que controlam
sua existência são rígidas e hoje sobram poucas terras de qualidade às
vinícolas para que plantem suas uvas. Ele não deixa de ser, no entanto, o polo
para onde convergem as atrações turísticas e as grandes instalações produtoras
das vinícolas, incluindo suas adegas.
Os outros municípios que compõem a região da Serra Gaúcha vêm
se desenvolvendo com constância como Garibaldi, Flores da Cunha e Farroupilha.
Mas algumas novidades interessantes estão aparecendo em cidades a noroeste de
Bento Gonçalves, como Guaporé, na linha Pinheiro Machado e Casca, na direção de
Passo Fundo.
Mas tem uma região que, apesar de ter sido descoberta na
década de 1970, pode-se considerar que se trata de uma região nova, pois
somente a partir dos anos 2000, com investimentos feitos pelas vinícolas da
Serra Gaúcha, que o potencial dela foi, de fato, explorado. Essa região é a
Serra do Sudeste.
Ela forma uma espécie de ferradura virada para o mar, ligando
os municípios de Encruzilhada do Sul e Pinheiro Machado, separados ao meio pelo
rio Camaquã, que deságua na Lagoa dos Patos. Essa região faz divisa com outra
importante área vinícola brasileira, a Campanha Gaúcha, dividida entre Campanha
Meridional (que começa na cidade de Candiota) e Campanha Oriental, que segue a
linha da fronteira com o Uruguai.
A Serra do Sudeste tem colinas suaves, que facilitam o
plantio e a mecanização, tornando-a um terroir mais simples de trabalhar.
Aliadas a isso, estão as condições climáticas mais favoráveis do que no Vale
dos Vinhedos.
Essa região tem o menor índice de chuvas do Estado do Rio
Grande do Sul, além de noites frias mesmo no verão, justamente a época da
maturação das uvas. Essas condições naturais, além de um solo mais pobre e de
origem granítica, ajudam a ter maior concentração de cor, estrutura e potencial
de envelhecimento dos vinhos.
O Instituto de Pesquisa Agrícola do Rio Grande do Sul mapeou
pela primeira vez esta área nos anos 1970, mas é no começo da década de 2000
que as primeiras vinícolas de certa importância começam a plantar vinhedos por
aqui, entre os municípios de Encruzilhada do Sul, o principal, Pinheiro Machado
e Candiota (mesmo próxima de Bagé Candiota é considerada pelo IBGE como
pertencente à Serra do Sudeste e não à Campanha, embora haja controvérsias).
Em grande parte, se trata de uma região vitícola, geralmente
as uvas aqui colhidas são conduzidas nas instalações das vinícolas na Serra
Gaúcha e lá transformadas em vinho, esta região ainda não possui, e nem
pleiteia em curto prazo, o reconhecimento a Denominação de Origem Controlada,
quando, e se, isso ocorrer o vinho deverá ser produzido por aqui, já que este é
um fator crucial na lei das denominações de origem.
As castas internacionais dominam a viticultura na Serra do
Sudeste, tintas e brancas que na Serra Gaúcha podem representar um desafio pelo
clima úmido, aqui prosperam com mais facilidade, o índice pluviométrico é
alinhado com o estado do Rio Grande do Sul, chove um pouco menos que no Vale
dos Vinhedos, mas o que mais importa é que as chuvas são mais bem distribuídas
ao longo do ano, raramente coincidindo com o período da colheita das variedades
tardias.
A característica dos vinhos daqui é o bom nível de aromas, a
acidez pronunciada por conta da presença do calcário e o perfil gastronômico,
boa acidez, taninos enxutos nos tintos e presença mineral nos brancos. Uvas
mais cultivadas na região são: Malbec, Cabernet Franc, Merlot, Gewurztraminer,
Sauvignon Blanc e Malvasia.
Se é verdade que a Serra do Sudeste não possui o panorama
encantador da Serra Gaúcha, é também verdade que seus vinhos representam um
patrimônio da vitivinicultura brasileira que merece ser descoberto, e sem
demora.
Alvarinho
A Alvarinho ou Albariño, é a variedade branca que dá vida a
alguns dos mais celebrados vinhos de dois lados da fronteira de Portugal com a
Espanha. Minho, do lado português, e seus Alvarinhos; Galícia, na parte
espanhola, e seus Albariños.
E apesar da primeira menção sobre a casta ser somente em
1843, especialistas acreditam que ela é uma variedade muito mais antiga. Isso
se deve à sua enorme diversidade morfológica, indicando muitas que gerações da
uva já passaram pelos terrois mundo afora.
Tanto que vinhedos com idade entre 200 e 300 anos na região
da Galícia possuem indícios de que ela já era plantada na região bem antes de
ser descrita. Outra sugestão dessa verdadeira arqueologia vínica é que
possivelmente a casta originalmente seja a Albariño, nascida no lado espanhol
da fronteira.
A história mais curiosa envolvendo a Alvarinho é uma grande confusão que ocorreu com ela e a casta francesa, muito cultivada na região de Jura, Sauvignon Blanc. Esta última foi confundida com a Albariño na Espanha por muitos anos e o pior, o erro foi exportado! Mudas da “Albariño” foram enviadas para a Austrália e por isso, muito do que hoje é tido como Albariño na Austrália, na verdade é Sauvignon Blanc.
A Alvarinho tem baixa produção, pois seus cachos são pequenos
e com muita semente. Apesar dos bagos serem pequenos, a uva tem a pele grossa o
que permite suportar o frio. Possui teor de açúcar elevado, o que resulta em
vinhos mais alcoólicos, e acidez alta.
São vinhos delicados e perfumados, mas bem estruturados.
Mesmo sendo um vinho branco, o Alvarinho apresenta uma quantidade relativamente
alta de taninos. É uma casta muito aromática, com notas que mesclam flores e
frutas, com nuances de banana, limão, maçã, maracujá, erva cidreira e flor de
laranjeira. O paladar é fresco, com notas cítricas e minerais, e acidez
equilibrada.
Possui graduação alcoólica, acima dos 11%, quando comparadas as demais castas dos Vinhos Verdes que rondam os 9%. Tem grande potencial de envelhecimento, durando até os dez anos de idade com toda a plenitude.
Mesmo tendo capacidade para fermentação em madeira,
dificilmente o ganho será superior à perda da fruta. Mas alguns produtores têm
apostado nisso, justamente para dar uma nova cara para a região.
Os vinhos brancos originários da casta podem ser degustados
sem acompanhamento de refeições, entretanto, é perfeito para ser degustado e
apreciado na companhia de pratos que levem peixes e frutos do mar, exaltando e
evidenciando as características marcantes e únicas que a uva Alvarinho propicia
aos brancos elaborados a partir da sua casta.
Alvarinho nos Vinhos Verdes
O Alvarinho diferencia-se dos demais vinhos verdes pelo seu
corpo robusto, grau alcoólico alto e boa capacidade de envelhecimento. Tem cor
cítrica brilhante e aromas de florais e de frutas. O paladar é cheio com
equilíbrio entre açúcar, álcool e acidez. É fresco, leve e com certa
mineralidade com final longo e persistente. São vinhos de alta qualidade e
rústicos. Leia mais sobre o Vinho Verde.
Albariño na Espanha
Assim como em Portugal, os vinhos de Albariño são famosos por
serem frescos e aromáticos. Combinam aromas florais e frutados e preenchem a
boca com bom corpo e ótima acidez. É uma das castas brancas de maior reputação
da Península Ibérica. Muito encontrada nas Rias Baixa, em Galiza, região com
clima bastante úmido e frio, a casta é muito utilizada em cortes, mas
principalmente em varietais. Esses considerados alguns dos melhores vinhos
brancos da Espanha.
Para conhecer a casta em sua tipicidade máxima o ideal é
buscar exemplares das duas denominações de maior prestígio, Rías Baixas, na
Espanha, e Vinhos Verdes, onde ela pode dar origens a varietais nas sub-regiões
de Monção e Melgaço, em Portugal.
E agora finalmente o vinho!
Na taça manifesta um lindo amarelo palha brilhante,
reluzente, tendendo para o dourado com algumas finas e rápidas lágrimas.
No nariz o destaque é para as frutas brancas, amarelas e
cítricas, sobressaindo o pêssego maduro, além do abacaxi, maracujá, lima e
limão siciliano, com uma textura plena, marcante, untuoso, cremoso, graças aos
4 meses sobre as lias nas barricas de carvalho, conferindo-lhe complexidade,
tudo isso envolto em um delicado floral.
Na boca é fresco, atraente, mas com personalidade, mostrando
uma incrível sinergia entre as frutas, que ganham protagonismo, como no aspecto
olfativo, dando-lhe refrescância e a cremosidade, a untuosidade que lhe confere
intensidade e volume. A acidez média e instigante corrobora as impressões
anteriores com um final envolvente, longo e persistente, com retrogosto frutado
e cremoso.
Melhor do que degustar um excelente e especial Alvarinho
brasileiro é degustar um Alvarinho de uma região que, a cada dia, está ganhando
uma grande e bela exposição entre os terroirs nacionais, a Serra do Sudeste. E
melhor: o Matiz Alvarinho, bem como todos os rótulos da Vinícola Hermann,
contou com a consultoria do grande lusitano Anselmo Mendes, conhecido
exatamente por ser o “Rei da Alvarinho”. É muito legar ter a expertise de um
homem como Anselmo Mendes que valoriza o terroir da região e não promove uma
espécie de sucursal do Minho em nossas terras. Que possamos desbravar e
valorizar os nossos terroirs com vinhos estupendos como Matiz Alvarinho. Tem 13,4%
de teor alcoólico.
Sobre a Vinícola Hermann:
A família Hermann trouxe todo o seu know-how de profundos
conhecedores de diversas regiões vinícolas do mundo para a esfera da produção
de vinhos, apostando no potencial dos melhores terroirs da região sul do
Brasil.
Proprietários de uma das maiores importadoras de vinhos de
alta qualidade do país, a Decanter, compraram em 2009 um vinhedo de grande
vocação em Pinheiro Machado, na Serra do Sudeste no Rio Grande do Sul, plantado
com mudas de alta qualidade por um dos viveiros líderes de Portugal.
A assessoria enológica de um dos mais brilhantes enólogos de
Portugal, o renomado “rei do Alvarinho” Anselmo Mendes - “Enólogo do Ano” pela
Revista de Vinhos de Portugal em 1997 - ao lado do talentoso enólogo Átila
Zavarizze, garante a excelência na transformação das uvas promissoras em
grandes vinhos brasileiros, com caráter e tipicidade.
Mais informações acesse:
http://www.vinicolahermann.com.br/
Referências:
“Marco Ferrari Sommelier”: https://www.marcoferrarisommelier.com.br/blog.php?BlogId=33
“Cave BR”: https://www.cavebr.com.br/serra-do-sudeste-1
“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/a-nova-fronteira-sul_8619.html
“Intelivino”: https://intelivino.com.br/serra-do-sudeste
“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/alvarinho-ou-albarino-o-que-voce-precisa-saber-sobre-uva-branca-mais-famosa-da-peninsula-iberica_13185.html
“Reserva 85”: https://reserva85.com.br/vinho/castas-uva-vitis-vinifera/alvarinho/
“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/alvarinho
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