quinta-feira, 31 de agosto de 2023

Enterizo Bobal Rosé 2021

 

Como estou a “navegar” pelos mares da novidade no vasto e ainda inexplorado mundo dos vinhos, resolvi fazê-lo com mais afinco na Espanha. E quantas regiões temos a desbravar naquele país que conta com uma das mais proeminentes produções de vinhos do planeta.

E devido a tal condição, não se pode limitar-se a Rioja e Ribera del Duero, apenas, por mais que essas regiões sejam emblemáticas e fizeram, claro, por merecer, mas que não nos tira o direito e, diria, a obrigação de conhecer outras regiões da Espanha.

E uma, em especial, vem descortinando diante dos meus olhos e enchendo a minha taça, belos e surpreendentes rótulos: falo de Utiel-Requena. Uma região que, até pouco tempo, não tinha o status de grandiosa, sob o aspecto mercadológica, pois os vinhos produzidos eram comercializados apenas na região, atualmente vem ganhando o mercado consumidor brasileiro.

E consigo vem a sua casta “vitrine” que, ao que consta, só é produzida nesta região: a Bobal. Outra gratíssima “descoberta”, trata-se de rótulos frutados, que, dependendo de sua vinificação, traz complexidade e longevidade aos vinhos.

A Bobal é muito cultivada na Espanha, sobretudo em Utiel-Requena e vem ganhando cada vez mais em apreciação internacional e isso está fazendo com que mais rótulos com a casta ganhe destaque e visibilidade, afinal, é mais e mais ofertas de Bobal para aqueles que estão se enamorando, como eu, pela variedade.

E o exemplar de hoje vem em outro “caráter”, vem no formato rosé. Claro, nunca havia degustado um Bobal Rosé e, para variar, não consigo esconder o meu interesse, a minha ansiedade em degustar o rótulo que escolhi.

E esse rótulo, em especial, veio com um excepcional custo, na faixa dos R$ 35 e, diante de uma novidade para mim a esse valor está mais do que válido o risco em compra-lo. Ficou, logo após a minha aquisição, um tempo razoavelmente curto e logo decidi desarrolhá-lo para um deleite à Bobal.

E quando esse momento chegou a expectativa valeu e muito! Então, sem mais delongas vamos às apresentações do vinho! O vinho que degustei e gostei veio, como disse, de Utiel-Requena e se chama Enterizo, um 100% Bobal rosé da safra 2021. E para não perder o costume vamos de história!

Utiel-Requena

Recentemente, foram descobertos registros arqueológicos que comprovam que, desde o século V a.C., era praticada a vitivinicultura na região de Utiel-Requena. Sítios arqueológicos como El Molón, em Camporrobles, Las Pilillas, em Requena e Kelin, em Caudete atestam o passado vinícola da região. Quando do domínio romano sobre a região, estes introduziram novas técnicas de vinificação, propiciando a melhora dos vinhos ali produzidos.

El Molon

Utiel-Requena têm sua história também ligada ao período conhecido como Reconquista: a retomada, a partir do século VIII, do controle europeu dos territórios da Península Ibérica, dominados pelos árabes (mouros) desde o século VI. Muitas das cidades da região foram fundadas e/ou possuem grande influência islâmica em suas construções, bem como vestígios de fortalezas e construções mouras, como a cidade de Chera, por exemplo.

Em 1238, a região cai sob o domínio do reino de Castela. No século seguinte, após conflitos envolvendo este reino e seu vizinho, Aragão, ocorre a união entre a rainha Isabel (Castela) e Fernando (Aragão), conhecidos como os Reis Católicos, e, após a conquista dos demais reinos ibéricos por estes (exceto Portugal), constitui-se o Reino da Espanha. Utiel-Requena, consequentemente, torna-se domínio espanhol.

Fortaleza Moura

Durante o século XIX, eclodem na Espanha as Guerras Carlistas, que dividem a população espanhola entre os partidários do absolutismo e do liberalismo; reflexo de outras manifestações do mesmo cunho ocorridas Europa afora.

Utiel (absolutista) e Requena (liberal), assim como as demais cidades da região, assumem posições antagônicas, situação somente resolvida com a conclusão da Primeira Guerra Carlista.

Utiel-Requena localiza-se na porção leste do território espanhol, dentro da província de Valencia. Situa-se numa zona de transição entre a costa mediterrânea e os platôs da região da Mancha. Seus vinhedos localizam-se predominantemente entre os rios Turia e Cabriel.

Utiel-Requena

A região possui um dos climas mais severos de toda a Espanha. Os verões costumam ser longos e quentes (máximas por vezes de 40 graus), enquanto os invernos são muito frios, com ocorrência frequente de geadas e granizo (mínimas podem chegar a -10 graus).

No entanto, as vinhas encontram-se adaptadas a tais rigores e oscilações e, como atenuante, sopra do Mar Mediterrâneo o Solano, vento frio que ajuda a suavizar o efeito dos quentes verões da região. O solo possui cor escura, de natureza calcária e pobre em matéria orgânica.

Utiel-Requena é uma DOP (Denominación de Origen Protegida – Denominação de Origem Protegida) pertencente à Comunidade Valenciana, a qual possui certa autonomia em relação ao governo central espanhol. Não possui sub-regiões.

Tradicionalmente, Utiel-Requena é a terra da Bobal, cepa tinta autóctone (originária da região) bastante adaptada aos rigores do clima da região. Ocupa 75% da superfície total dos vinhedos, também sendo bem adaptada ao calcário típico do seu solo.

São produzidos rosés e tintos, em sua maioria varietais, desta cepa; os primeiros costumam ser muito aromáticos, remetendo geralmente a frutas negras e muito fresco no paladar. Os tintos, por sua vez, geralmente são muito bem estruturados e potentes, com aromas de frutas maduras, especiarias e notas de couro.

Possuem bom potencial de envelhecimento. Uma curiosidade: quando da expansão da filoxera pelo continente europeu, as vinhas de Bobal demonstraram grande resistência à praga, ao contrário da maior parte do vinhedo do continente, o que permitiu à região manter por algum tempo as plantações sem a enxertia com a videira americana, e também propiciou um grande aumento das vendas e exportações de seus vinhos, avidamente procurados por consumidores “puristas”, em busca de vinhos oriundos de videiras sem a enxertia.

Também se faz presente a cepa Tempranillo, plantada cerca de 10% das vinhas da região. Outras cepas tintas permitidas pela legislação: Garnacha (Grenache) Tinta, Garnacha Tintorera, Cabernet Sauvignon, Mertlot, Syrah, Pinot Noir, Petit verdot e Cabernet Franc.

Diante da predominância tinta, naturalmente a participação das vinhas brancas na composição da denominação é baixa: cerca de 6%. A cepa mais cultivada é a também autóctone Tardana, de amadurecimento tardio. Produz vinhos de cor amarela, pálidos com reflexos dourados.

Os aromas geralmente remetem a frutas como abacaxi e maçã. Frescos e equilibrados no paladar, costumam ser bem estruturados e de boa persistência na boca. Outras variedades brancas plantadas são: Macabeo, Merseguera, Chardonnay, Sauvignon Blanc, Parellada, Verdejo e Moscatel de grano menudo.

Bobal

As primeiras notícias da Bobal datam do século XIV. Da costa de Valência, esta uva estabeleceu-se com sucesso em outras regiões do interior da Espanha. Lugares como Utiel-Requena, Ribera e Manchuela, todas Denominação de Origem Controlada, tem a Bobal como uma das suas principais variedades, chegando seu cultivo ser quase que majoritário.

A Bobal é pouco cultivada fora da Espanha, há plantações dela nas regiões de Languedoc-Roussillon, no sul da França, e da Sardenha, na Itália. Dentro dessas regiões é também conhecida por requena, espagnol, benicarlo, provechón, valenciana, carignan d’espagne, balau, requenera, requeno, valenciana tinta ou bobos. Seu nome é derivado da palavra latina Bovale, que significa touro, e refere-se à semelhança que os seus cachos têm com a cabeça de um touro.

Bobal

É uma uva de porte médio para grande, com bagos redondos e cheios de sumo; além disso, apresentam quantidade razoável de taninos e sabores de chocolate e frutos secos. Seus cachos, por sua vez, são muito grandes, bem compactados e pesados.

Dá-se muito bem com climas mediterrâneos. Elabora diferentes tipos de vinhos, com especial destaque para os vinhos rosés, sempre jovens, com muita cor e com boa acidez; a Bobal ainda é responsável pelos aromas frutados destas bebidas. Os tintos desta uva são pouco alcoólicos, mas muito saborosos e de coloração cereja escura profunda e boa estrutura de taninos.

Por sua versatilidade e acidez adequada, a Bobal pode ainda ser ainda utilizada para produzir espumantes. As peles grossas de Bobal têm uma elevada quantidade de uma substância que dá cor intensa aos vinhos, bem como presenteia a bebida com uma presença importante de taninos finos, esse é um dos motivos que tem dado a esta uva um destaque especial na produção espanhola, principalmente na região de Manchuela, cujo status de Denominação de Origem deu respaldo ao cultivo da Bobal e aos vinhos elaborados com ela frente ao mercado interno e externo.

E agora finalmente o vinho!

Na taça tem um rosado brilhante, com alguma intensidade, com um cor salmão, com discretas lágrimas finas e rápidas.

No nariz um inusitado aroma de goma de mascar, algo como balas de morango. Muito frutado, trazia algo de morango, framboesa, frutas frescas mesmo. Macio, leve, traz uma incrível sensação de frescor.

Na boca é leve, de paladar fresco e agradável, muito equilibrado, com as notas frutadas protagonizando, como no aspecto olfativo, com uma acidez equilibrada, correta e um final com alguma persistência com um retrogosto frutado.

Uma casta autóctone, ainda emergente no mercado, uma região que também cresce em visibilidade e um rosé que traz todo o caráter que um vinho desta proposta pode proporcionar: frutado, fresco, leve, que tem tudo a ver com o clima de nosso país e o melhor: com um excelente valor! Um verdadeiro achado que vale e muito a pena degustar e sair do óbvio, da temível zona de conforto. A Bobal definitivamente se apossou de minha adega. Tem 12% de teor alcoólico.

Sobre a Bodegas Coviñas:

A Bodegas Coviñas, fundada em 1965, é uma união dos proprietários de terras mais proeminentes da região. Ela foi fundada em esforços para criar uma destilaria para utilizar a abundância de mosto de suas vinícolas individuais.

Durante os tempos sombrios do ditador Francisco Franco, a maior parte da produção de vinhedos veio de cooperativas sindicalizadas que empregavam milhares de proprietários de terras. Cada viticultor é considerado um “funcionário” e recebe os benefícios que acompanham a estabilidade.

A Bodegas Coviñas sempre se esforçou para cuidar das pessoas de UR, pagando caro pela fruta da mais alta qualidade, tornando-se a base sobre a qual a região sobrevive e um destino desejado de frutas de qualidade pelos habitantes locais.

Mais informações acesse:

https://covinas.com/

Referências:

“Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/os-prazeres-da-uva-bobal/

Blog “O Mundo e o Vinho”: http://omundoeovinho.blogspot.com/2015/11/utiel-requena.html

“Center Gourmet”: https://centergourmet.com.br/enterizo-bobal-rosado-utiel-requena-dop-2021/













sábado, 26 de agosto de 2023

Sanjo Núbio Cabernet Sauvignon 2012

 

Não existe aquele ditado popular que diz: “Um raio não cai duas vezes no mesmo lugar”. Olha que, segundo especialistas, um raio não só pode cair em um mesmo lugar duas vezes como muitas e muitas vezes e eu acho, melhor, tenho certeza que essa questão, com metáforas à parte, pode se aplicar ao universo do vinho! O que quero dizer com isso?

Simples! Um vinho pode sim ser degustado várias outras vezes! Aquele vinho de mesmo rótulo, porém de safras diferentes ou de mesmo rótulo e também de safras iguais. Aprendi, com um conhecido especialista e jornalista do vinho, chamado Didu Russo, que podemos comprar o mesmo vinho, da mesma safra, degustar um de forma imediata e deixar o outro guardado por alguns anos e fazer as devidas comparações entre eles.

Mas confesso que essa máxima cairá hoje por terra e a ansiedade é a resposta para isso. E o rótulo em questão é o da linha “Núbio” da Vinícola Sanjo, de São Joaquim, em Santa Catarina. Mais precisamente do Cabernet Sauvignon da safra 2012.

Tive o prazer e a alegria de ter degustado o Núbio Cabernet Sauvignon 2012 no último réveillon de 2022 para 2023 em companhia mais do que recomendada de um churrasco com aquela carne sangrando. Nada melhor que harmonizar um belo Cabernet Sauvignon com um churrasco.

A intenção era guardar uma nova garrafa que adquiri, em uma bagatela de R$ 55 (pasme) para um vinho de guarda e decidi degustar a que já possuía em adega e deixar a outra guardada por mais cinco anos para fazer as comparações, mas não consegui! 

Que seja! O degustarei certamente no auge, em seu melhor momento como foi a primeira. Onze anos, onze longos anos, guardado, evoluindo enquanto tantas e tantas mudanças em nossa sociedade acontece!

E ainda temos pessoas aqui no Brasil que rejeitam os rótulos tupiniquins que são concebidos com a cepa, a rainha das castas tintas, a Cabernet Sauvignon. Ela vem ganhando tipicidade, a cara dos nossos terroirs, com mais frescor, mais frutas e não tão calcado na estrutura como os produzidos no Chile, por exemplo.

Então sem mais delongas, vamos a já sabida apresentação do vinho que, mais uma vez degustei e gostei que veio da região fria de São Joaquim, de Santa Catarina, que se se chama Sanjo Núbio Cabernet Sauvignon da safra 2012. Para não perder o costume também, vamos de história, vamos de história de São Joaquim.

São Joaquim, Serra Catarinense, Brasil

A vitivinicultura no Brasil ficaria restrita a pequenas áreas em distintos pontos do território nacional até 1875, quando se inicia, no Rio Grande do Sul a instalação de imigrantes italianos. Concebe-se então, como marco da indústria vitivinícola brasileira a chegada destes imigrantes italianos (século XIX) e sua instalação na Serra Gaúcha.

Em Santa Catarina, as primeiras mudas de uva plantadas pelos imigrantes italianos que chegaram, em 1878, na região onde seria fundada a cidade de Urussanga, são as responsáveis pelo início da vitivinicultura catarinense que conhecida atualmente.

Os italianos trouxeram mudas e sementes de vitis viníferas, mas elas não se adaptaram à úmida região”. A cultura da uva e o hábito do consumo do vinho faziam parte do patrimônio cultural acumulado dos imigrantes italianos oriundos na sua maioria da região do Trento, acostumados a dispor do vinho em seu ritual à mesa.

Diante das condições naturais adversas, foram buscar videiras que se adaptassem às características climáticas da região de Urussanga, mesmo que o vinho resultante se apresentasse diferente da bebida já consumida na Itália. Recorreram então às variedades americanas e híbridas, como a Isabel, mais resistentes a pragas e ao clima tropical.

Atualmente, a região Meio-Oeste é a maior produtora de vinhos do estado de Santa Catarina. Foi nela que, na primeira metade do século XX, italianos que haviam migrado do Rio Grande do Sul deram início à construção da mais expressiva cadeia vitivinícola de Santa Catarina. A produção da uva e do vinho no Meio-Oeste catarinense é constituída principalmente de uvas de origem americana e híbrida.

Apenas na década de 1970, com a criação em Santa Catarina do PROFIT (Projeto de Fruticultura de Clima Temperado) é que houve um grande incentivo para o plantio de castas europeias.

Desde o final da década de 1990, entretanto, vem ocorrendo uma reversão das expectativas no plantio das variedades de castas europeias, representada por novos plantios, inclusive em áreas não tradicionais para o cultivo da videira, como é o caso das regiões de elevada altitude (acima de 950 metros). Assim como ocorreu com o setor macieiro, as condições geográficas da região do planalto catarinense favorecem a produção de uvas, especialmente as da variedade vitis viníferas.

A partir de estudos visando o desenvolvimento da vitivinicultura no planalto serrano, iniciados na década de 1990 pela EPAGRI e de investimentos de empresas de outras regiões identificados no mesmo período, a produção de vinhos finos vem crescendo. Além das características geoclimáticas adequadas para a produção das castas europeias, há que se considerar também o emprego de sofisticadas técnicas enológicas, bem como as modernas instalações produtivas.

Pode-se também atribuir o início do cultivo de parreiras e da fabricação de vinhos na serra catarinense à fixação de descendentes de italianos oriundos da região sul do estado de Santa Catarina que migraram para o planalto.

O início dos experimentos da EPAGRI e o plantio de 50 plantas experimentais de uvas Cabernet Sauvignon realizado pela vinícola Monte Lemos que detém a marca Dal Pizzol foram o incentivo que faltava para que Acari Amorim, Francisco Brito, Nelson Essenburg e Robson Abdala adquirissem uma propriedade em São Joaquim, no ano de 1999, dando início a Quinta da Neve.

Em 2000, o empresário Dilor de Freitas adquiriu uma propriedade no município de Bom Retiro, onde em 2001 iniciou o cultivo de uvas finas. No ano de 2002, adquiriu sua propriedade de São Joaquim e lançou a construção de sua vinícola onde localiza-se a sede da Villa Francioni e o centro de visitações.

O empresário Nazário Santos, a partir de uma sociedade com um grupo de profissionais liberais paulistas, idealizou a Quinta Santa Maria, sendo um dos pioneiros produtores de vinhos de uvas vitis viníferas em São Joaquim.

Os novos terroirs de Santa Catarina, localizados em altitudes que podem chegar a 1.400 metros no Estado que registra as temperaturas mais baixas do País, têm vantagens para quem planta uvas viníferas.

Em regiões mais frias e altas, o ciclo da videira se desloca para mais tarde, e esse ciclo longo ajuda a concentrar açúcares e taninos, além de melhorar a sanidade dos grãos. Atualmente, na região vitivinícola de São Joaquim, já é possível destacar os municípios de São Joaquim, Urubici, Urupema e Bom Retiro.

Ao investigar a vitivinicultura de altitude de São Joaquim, observa-se a tendência e a existência de significativos acertos no processo de desenvolvimento do setor. A identificação de recursos naturais raros e diferenciados se apresenta como um fator capaz de gerar vantagens competitivas, estruturando a atividade produtiva com o foco na segmentação de mercado.

Através do suporte de instituições de pesquisa como mecanismo de desenvolvimento de todo o setor produtivo da uva e do vinho, da articulação entre os recursos disponíveis, dos maiores investimentos em publicidade e propaganda realizados pelas empresas do setor e dos projetos que visam o diferencial do produto afirmado pelas indicações geográficas identifica-se a importância das tipicidades que procedem dos vinhos finos de altitude, confirmando então, a criação de um produto diferenciado no país.

Indicação Geográfica (IG) da Serra Catarinense

Em 29 de junho de 2021, o INPI concedeu a Indicação Geográfica Santa Catarina para Vinhos de Altitude (serra catarinense) da espécie Indicação de Procedência (IP), para vinho fino, vinho nobre, vinho licoroso, espumante natural, vinho moscatel espumante e brandy. O pedido da IG foi solicitado pela “Vinhos de Altitude – Produtores e Associados”, em 2 de junho de 2020.

A área geográfica da IP Vinhos de Altitude de Santa Catarina abrange 29 municípios que correspondem a 20% da área do estado catarinense: Água Doce, Anitápolis, Arroio Trinta, Bom Jardim da Serra, Bom Retiro, Brunópolis, Caçador, Campo Belo do Sul, Capão Alto, Cerro Negro, Curitibanos, Fraiburgo, Frei Rogério, Iomerê, Lages, Macieira, Painel, Pinheiro Preto, Rancho Queimado, Rio das Antas, Salto Veloso, São Joaquim, São José do Cerrito, Tangará, Treze Tílias, Urubici, Urupema, Vargem Bonita e Videira.

Atualmente são aproximadamente 300 hectares de área cultivada, concentradas entre 900 e 1400 metros de altitude, na região vitivinícola de maior altitude e mais fria do Brasil. Do ponto de vista sensorial, os vinhos da IP irão enriquecer ainda mais a paleta de cores e sabores dos vinhos brasileiros.

A paisagem, o solo, o relevo e o clima particular dessas regiões de altitude favorecem a biossíntese dos pigmentos e dos aromas, preservando a acidez e atribuindo estrutura e corpo aos vinhos, permitindo a expressão plena da genética de cada variedade de uva.

Os vinhos da região têm sua qualidade atribuída, também, ao elevado nível tecnológico empregado nos vinhedos e nas vinícolas.  São vinhos com uma excelente expressão de sabor e elevada tipicidade, são vinhos com um sentido de lugar.

Foram aprovadas para produção dos vinhos da IP as variedades finas (Vitis vinifera L.) Aglianico, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Chardonnay, Garganega, Gewurztraminer, Grechetto, Malbec, Marselan, Merlot, Montepulciano, Moscato Bianco, Moscato Giallo, Nero d’Avola, Petit Verdot, Pignolo, Pinot Noir, Rebo, Refosco dal Peduncolo Rosso, Ribolla Gialla, Rondinella, Sangiovese, Sauvignon Blanc, Sémillon, Syrah, Touriga Nacional e Vermentino.

Diversos requisitos de produção fazem parte do Caderno de Especificações Técnicas da IP. Dentre eles, destaca-se que 100% das uvas devem ser produzidas na área delimitada, em áreas de altitude. Os sistemas de condução autorizados para os vinhedos são a espaldeira e o Ýpsilon, sendo que a produtividade máxima permitida é de 7000 litros de vinho por hectare/ano.

Para a vinificação, as uvas devem atingir níveis de maturação definidos por tipo de vinho, os quais, por sua vez, devem ser elaborados na área delimitada pelos municípios integrantes da IP.

Os vinhos atendem padrões analíticos de qualidade, próprios da IP, e devem ter a qualidade sensorial aprovada em degustação realizada às cegas; normas de rotulagem dos vinhos, facilitando a identificação das garrafas pelo consumidor, incluindo um selo de controle numerado exclusivo da IP; controles sob a gestão do Conselho Regulador que aplica um Plano de Controle para atestar a conformidade dos produtos em relação aos requisitos de produção.

Para a vinificação, as uvas devem atingir níveis de maturação definidos por tipo de vinho, os quais, por sua vez, devem ser elaborados na área delimitada pelos municípios integrantes da IP.

Os vinhos atendem padrões analíticos de qualidade, próprios da IP, e devem ter a qualidade sensorial aprovada em degustação realizada às cegas; normas de rotulagem dos vinhos, facilitando a identificação das garrafas pelo consumidor, incluindo um selo de controle numerado exclusivo da IP; controles sob a gestão do Conselho Regulador que aplica um Plano de Controle para atestar a conformidade dos produtos em relação aos requisitos de produção.

E agora finalmente o vinho!

Na taça tem um atraente rubi intenso, escuro, com tons granada, denotando seus onze anos de vida, com lágrimas finas, lentas e em profusão.

No nariz traz aromas delicados, elegantes, mas complexos, intensos de frutas vermelhas e pretas compotadas, quase que em calda, uma geleia, com notas amadeiradas, entregando um balsâmico instigante, um cedro, algo como madeira de móvel antigo, caramelo, defumado, terra molhada e tosta, além de um herbáceo e discreto pimentão.

Na boca é estruturado e complexo, com uma incrível pureza da fruta, algo de vinoso, diria. É volumoso, cheio, quente, alcoólico, mas sedoso, elegante e macio, fácil de degustar, graças aos seus onze anos de garrafa, o tempo lhe foi gentil, evoluindo muito bem. É amadeirado, um carvalho bem integrado, graças aos 50% do lote que passou 12 meses em barricas. Entrega, além da madeira, caramelo, chocolate, terra molhada, baunilha, café, com taninos ainda vivos, mas domados pelo tempo, com uma acidez média, corroborando sua boa evolução. Tem um final persistente.

Especial, singular, incrível! Adjetivos não faltam ao Sanjo Núbio Cabernet Sauvignon que, mesmo aos onze anos de vida, teria muitos anos pela frente e a evoluir fantasticamente. E não é especial apenas por isso, mas por ser oriundo de regiões frias e a Cabernet Sauvignon precisa ser cultivada em climas quentes, então são poucas as safras, são poucos os anos cujos rótulos são concebidos. Para se ter uma noção da dimensão disso e do quão especial é degustar esse vinho, é de que a safra de 2012 é a mais atual dessa linha de rótulos. Tem 14% de teor alcoólico.

Sobre a Sanjo Cooperativa Agrícola de São Joaquim:

Formada originalmente por 34 fruticultores, em sua maioria imigrantes e descendentes de japoneses oriundos da cooperativa paulista de Cotia, a Sanjo construiu uma história de sucesso comercial investindo em qualidade e tecnologia agrícola. Nossa produção alcança mais de 50 mil toneladas anuais de maçãs, em uma área plantada de 1240 hectares.

No Brasil, as variedades mais consumidas de maçãs são a Gala e a Fuji. A Sanjo produz ambas em grande volume, comercializadas em todo o país, e divididas entre as marcas Sanjo, Dádiva, Pomerana e Hoshi, conforme a categoria. A empresa também comercializa com sucesso a linha de maçãs em sacolas Sanjo Disney, destinada ao público infantil.

A partir de 2002, aliando os valores da tradição japonesa à qualidade das uvas francesas e à experiência de enólogos de descendência italiana, vindos das tradicionais vinícolas da Serra Gaúcha, a Sanjo passou a investir também com sucesso na produção de vinhos finos de altitude, contribuindo para o reconhecimento alcançado pelos vinhos produzidos na Serra Catarinense.

São 25,7 hectares das variedades Cabernet Sauvignon, Merlot, Chardonnay e Sauvignon Blanc, cultivadas com as mais avançadas tecnologias de produção de uvas para a elaboração de vinhos.

Mais informações acesse:

http://www.sanjo.com.br//












 


sexta-feira, 25 de agosto de 2023

Encostas do Trogão Reserva 2015

 

Acredito que, em algum momento da minha vida, eu disse que Portugal, embora tão pequeno em dimensões territoriais, se revela gigante e significativo com as suas 14 regiões vitivinícolas que são extremamente reconhecidas, não tão somente em seu território, mas em todo o planeta, algumas mais conhecidas que outras, é bem verdade, mas sempre prestigiadas.

Prestigiadas principalmente pelo forte apelo regionalista, graças a cultura de vinificação/produção, a cultura do seu povo que, claro, influencia diretamente na cultura de vinificação, do clima, da terra e também de suas autóctones castas, algumas delas ou a sua esmagadora maioria cultivada apenas em Portugal ou ainda apenas em uma ou poucas regiões espalhadas por aquele país.

Eu estou atualmente buscando o exercício das degustações de rótulos as quais já tive experiência no passado, primeiro porque deixou algum impacto positivo em minha vida, segundo para fazer algumas, digamos, experiências de percepção de um vinho com certo tempo de garrafa.

E neste caso não é tão somente a experiência satisfatória e prazerosa ou experiências aliadas às descrições dos vinhos propriamente dito que me chamou a atenção do rótulo de hoje, mas também por pouco degustar a região a qual foi concebido. Falo da tradicional Trás-os-Montes.

Não sei dizer com precisão, mas me parece que a região de Trás-os-Montes não é tão conhecida em nossas terras brasileiras, pouquíssimas são as opções de rótulos que temos à disposição em sites de vendas ou lojas especializadas. Então uni o útil a urgência da pouca opção de vinhos dessa região.

Lembro-me que conheci essa região em um evento de degustação de vinhos em minha cidade, Niterói, organizado por uma rede de supermercados da cidade, o “Festival de Vinhos Supermercado Real 2017”, onde os rótulos expostos para degustação eram os mesmos que estavam sendo ofertados em suas filiais.

Já para o final do evento, eu já estava praticamente me preparando para deixar o local do evento e vi, ao longe, um estande, até pouco procurado e com poucos rótulos disponíveis para degustação e vi um rótulo, simples, mas que me chamou a atenção: era Trás-os-Montes. Comprei o Encostas do Trogão Reserva 2011! E que grande e especial vinho! O degustei com 8 anos de vida e ainda reluzia vivacidade! 2011 tinha sido um ano espetacular para toda a Portugal.

Encostas do Trogão Reserva 2011

Então vamos às apresentações que, de certa forma, já foi feita! O vinho que degustei e gostei veio da região de Trás-os-Montes e se chama Encostas do Trogão Reserva composto pelas castas Tinta Roriz, Touriga Nacional e Trincadeira agora da safra 2015. Uma nova versão, para os mesmos 8 anos de garrafa! Vejamos o que iremos encontrar! E para variar vamos às histórias, vamos de Trás-os-Montes!

Trás-os-Montes

Já durante a ocupação dos romanos se cultivava a vinha e se produzia vinho na região de Trás-os-Montes. Situada no nordeste de Portugal, a província de Trás-os-Montes e Alto Douro é um lugar onde a identidade portuguesa, fruto de tradições culturais enraizadas, sobreviveu como em nenhuma outra região do país lusitano. O seu conhecido isolamento, bem como o alto índice de emigração e despovoamento, são características que acompanham a região há muito tempo.

Situada a Norte de Portugal a Região de Trás-os-Montes revela-se por entre montes e pronunciados vales numa grande área de extensão. Esta é uma Região única com características especiais. Em toda a região o cenário muda rapidamente, entre exuberantes vales verdejantes, ou colinas antigas cobertas por uma colcha de retalhos de bosques, ou olivais verde-cinza, extensas vinhas verdes brilhantes, ou amendoeiras floridas e outras árvores de fruto.

Sua capital é a cidade de Vila Real, e, ao longo da história, sofreu diversas modificações em seu território e nas atribuições administrativas. Desde o século XV, passou de Comarca a Província, e suas fronteiras territoriais, cujos limites foram se adequando com a aquisição ou perda de regiões, já não são as mesmas da época de sua fundação. Atualmente, é formada por três sub-regiões: Chaves, Valpaços e o Planalto Mirandês.

Na sub-região de Chaves a vinha é plantada nas encostas de pequenos vales, onde correm os afluentes do rio Tâmega. A sub-região de Valpaços é rica em recursos hídricos e situa-se numa zona de planalto. No Planalto Mirandês é o rio Douro que influencia a viticultura.

Trás-os-Montes

O cultivo da vinha e a produção de vinho na Região de Trás-os-Montes tem origem secular, estando esta intrinsecamente marcada nas suas rochas, uma vez que por toda a região existem vários lagares cavados na rocha de origem Romana e Pré-Romana. A existência de vinhas velhas com castas centenárias marca também de uma forma muito peculiar a qualidade reconhecida dos vinhos desta região.

As paisagens desta província apresentam uma beleza natural e rural exuberante, sendo suas terras ricas em cerais, legumes e frutos como amêndoas e cerejas, além das oliveiras que produzem azeites. Para completar, ainda existe a cultura vitivinícola, que, com as inúmeras vinhas da região, fazem de Trás-os-Montes e Alto Douro um destino turístico perfeito para os amantes da gastronomia e do vinho de alta qualidade. Montes é uma das regiões mais ricas em descobertas arqueológicas. Destacam-se as estações do paleolítico da serra do Brunheiró e Bóbeda, assim como dólmenes e povoados do período neo-eneolítico.

Trás-os-Montes é uma região montanhosa, caracterizada por sua diversidade de relevo e de clima – altitude, temperatura, pluviosidade, solo, etc, variam conforme cada cidade da província. As diferenças são bastante acentuadas. De maneira geral, seu relevo é formado por uma série de elevadas plataformas onduladas atravessadas por vales e bacias profundas, os solos se apresentam como graníticos, mas com presença importante de xisto.

Trás-os-Montes tem clima com influência mediterrânico-continental, com áreas de muito frio nas partes mais altas e outras mais quentes na região do Douro. A natureza privilegiada é fonte de riqueza para a região: os recursos hídricos, com rios importantes, por exemplo, são utilizados para gerar energia elétrica e produzir água mineral.

Essas diferenças climáticas acentuadas permitiram definir três sub-regiões para a produção de vinhos de qualidade com direito a DO Trás-os-Montes. Os critérios tidos em conta foram essencialmente as altitudes, exposição solar, clima e a constituição dos solos, tendo sido a Denominação de Origem (DO Trás-os-Montes) reconhecida a partir de 9 de Novembro de 2006 (Portaria n.º 1204/2006).

No que se refere aos vinhos com Identificação Geográfica Transmontano, estes podem ser produzidos em toda a Região, sendo que a Indicação Geográfica Transmontano (IG Transmontano), foi reconhecida a partir de 9 de Novembro de 2006 (Portaria n.º 1203/2006).

Outra possibilidade de riqueza retirada da natureza da região são as vinhas dispostas nos vales que circundam o Douro e que originam vinhos excelentes e apreciados no mundo todo. O principal deles: o famoso Vinho do Porto. A vitivinicultura em Trás-os-Montes e Alto Douro tem história e tradição.

Além de ter sido a primeira região regulamentada para produção vinícola do mundo, em 1756, foi reconhecida pela UNESCO, em 2001, como Património da Humanidade por causa da beleza de suas vinhas. Quanto à produção, 50% dos vinhos elaborados nas vinícolas da região são destinadas para o Vinho do Porto, a outra metade se dedica à produção de vinhos que utilizam a denominação de origem controlada (DOC) “Douro”, e que são tão diversos quanto os microclimas e solos da província.

O controle e a defesa da Denominação de Origem e Indicação Geográfica são da responsabilidade da entidade certificadora “Comissão Vitivinícola Regional de Trás-os-Montes” esta tem por objetivo, proteger e garantir a qualidade e genuinidade dos vinhos de qualidade produzidos na região de Trás-os-Montes.

Constituída em 1997 a CVRTM, viria ajudar a impulsionar o desenvolvimento da região, e a levar mais alto, aquém e além-fronteiras, os vinhos Transmontanos. Tendo iniciado a sua atividade com apenas um agente económico, esta entidade conta já com 62 associados, que contribuíram para o renascimento da região e para o incremento de qualidade dos seus vinhos, sendo que a sua atividade resulta num volume anual de litros certificados de aproximadamente 3 milhões.

Tradicionalmente, as vinhas são plantadas de maneiras diferentes em Trás-os-Montes, aproveitando toda a diversidade da região. Essa característica se reflete nos vinhos produzidos, que além do vinho do Porto, pode resultar excelentes vinhos tintos e brancos. As castas brancas dominantes são: Côdega do Larinho, Malvasia Fina, Fernão Pires, Gouveio, Rabigato, Síria e Viosinho, e nas tintas Bastardo, Tinta Roriz, Marufo, Touriga Franca, Touriga Nacional e Trincadeira. Os vinhos brancos são suaves e com aroma floral. Os vinhos tintos são geralmente frutados e levemente adstringentes.

No que se refere à tipicidade dos vinhos da região de Trás-os-Montes, para além da diversidade existente podem ser referidos alguns traços comuns a todos os vinhos, os vinhos brancos apresentam equilíbrio aromático com grande intensidade de aromas frutados e leves florais, na boca revelam uma acidez correta não sendo excessivamente pronunciada.

No caso dos vinhos tintos, são vinhos com uma intensidade corante muito consistente e elevada, aromaticamente muito frutados, na boca relevam-se estruturados, e apesar dos teores alcoólicos normalmente elevados verifica-se uma acidez fixa correta, tornando-se vinhos robustos, mas agradáveis e muito equilibrados.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um vivo e intenso rubi, escuro, com halos granada denotando seus oito anos de garrafa, com lágrimas finas e lentas em profusão.

No nariz nota-se a presença aromática de frutas pretas e vermelhas bem maduras, quase geleia, algo compotado. As especiarias doces são percebidas, talvez pimenta, cassis, um toque herbáceo, terroso. Nota-se também um discreto floral, violeta.

Na boca é estruturado, mas harmonioso, redondo e macio, afinal os oito anos de garrafa deram ao vinho a elegância evidente. É volumoso em boca, alcoólico, traz como no aspecto olfativo, as notas frutadas, chocolate, com taninos evidentes, vivos, mas domados, com acidez controlada e um final de média persistência.

Mais uma vez o vinho estava ótimo, muito equilibrado, harmonioso e que o produtor, acertadamente, decidiu não o repousar em madeira, elevando ainda mais as características de cada cepa, destacando-se as frutas, a acidez e os taninos que em uma impressionante sinergia, brilharam sem um ofuscar o outro. Um vinho de oito anos de vida, porém cheio de vida, personalidade e pegada. Tem 14% de teor alcoólico.

Sobre a Adega Cooperativa de Rabaçal:

Com cerca de 400 associados, oriundos dos concelhos de Vinhais, Valpaços, Mirandela e Macedo de Cavaleiros, a Adega Cooperativa de Rabaçal, C.R.L.recebe 1,5 milhões de quilos de uvas de uma zona de transição entre a Terra Quente e a Terra Fria, que garante um grau surpreendente em todos os néctares que ali são vinificados.

A reconversão da vinha que está em curso e a aposta nas castas Touriga Nacional, Touriga Franca, Trincadeira e Tinta Roriz já está a dar os seus frutos ao nível da qualidade do produto final. Ao nível da promoção, a adega que labora em Rebordelo vive um período de evolução, bem patente na criação de uma imagem institucional que simboliza o vinho e os quatro concelhos produtores.

No que se refere à tipicidade dos vinhos da região de Trás-os-Montes, para além da diversidade existente, a base dos mesmos assenta nas especificidades únicas das nossas castas.

“Porque o mundo é um mar de oportunidades e também de desafios, hoje globais; porque acreditamos que, para além de nos inserirmos num país que se afirma cada vez mais enquanto produtor de vinhos de excelência e também numa região privilegiada, Trás-os-Montes, a Adega Cooperativa de Rabaçal, C.R.L. afirma-se com base nos efetivos vitícolas da Adega, que a alimentam com as melhores castas autóctones, mantidas por várias gerações, num percurso que se aprimorou cada vez mais a nossa região, cultura e história, numa descoberta, aqui de novos «territórios sensoriais», os seus vinhos”.

Filosofia do produtor

Mais informações acesse:

http://www.adegarabacal.com/www/default.asp

Referências:

“Clube dos Vinhos Portugueses”: https://www.clubevinhosportugueses.pt/vinhos/regioes/tras-os-montes/doc-tras-os-montes/

“Wine Tourism Portugal”: https://www.winetourismportugal.com/pt/regioes/tras-os-montes/

“Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/tras-os-montes-e-alto-douro-um-paraiso-vinicola-em-portugal/

“Dre.tretas”: https://dre.tretas.org/dre/203153/portaria-1204-2006-de-9-de-novembro

“Terras de Portugal”: http://www.terrasdeportugal.pt/tras-os-montes-e-alto-douro

“Instituto da Vinha e do Vinho”: https://www.ivv.gov.pt/np4/76/

“Infovini”: http://www.infovini.com/pagina.php?codNode=3891

 

 

 

 

 















sábado, 19 de agosto de 2023

Matiz Plural 2013

 

Reza a máxima de que quando gostamos de algo, desejamos sempre repetir e não se enganem, no universo dos vinhos não é diferente! Sempre temos aqueles rótulos que nos permitiu uma grande experiência sensorial que queremos repetir, degustando safra por safra etc.

E o rótulo de hoje é especial cujo produtor eu não conhecia e descobri em um evento realizado por uma loja de vinhos da minha cidade, Niterói. Na realidade eu não conhecia o produtor, mas conheço o enólogo que participou do projeto de concepção dos rótulos: Anselmo Mendes, português conhecido como “O Rei do Alvarinho”.

Tendo essa alcunha já tem dimensão da importância desse projeto que envolve a Vinícola Hermann que vem explorando uma região emergente no Rio Grande do Sul chamada Serra do Sudeste.

Uma soma de fatores mais do que interessante e atraente que, além do vinho propriamente dito, foram preponderantes para uma nova aquisição deste vinho que já degustei e gostei. Falo do Matiz Plural com um inusitado blend de Aragonez, Cabernet Sauvignon, Merlot, Touriga Nacional e Cabernet Franc da safra 2013.

Como disse eu já degustei o mesmo vinho, da mesma safra, há cerca de um ano atrás, cuja resenha pode ser lida aqui e estava maravilhoso, com nove anos de vida, mas pleno, vivo e que certamente poderia descansar por mais alguns anos em garrafa na escuridão da adega.

E a intenção, após a compra desta segunda garrafa, era guarda-lo por mais alguns anos, talvez cinco anos, mas simplesmente a ansiedade falou, praticamente gritou mais alto e o abri com uma década de garrafa, o que também está interessante.

O vinho se mostra também vivo e intenso no nariz e no paladar. Mas não falarei, pelo menos por enquanto, do vinho, mas sim da região da Serra do Sudeste que definitivamente vem ganhando credibilidade entre os especialistas do vinho e enófilos espalhados pelo Brasil.

Serra do Sudeste

Nossa mais famosa região vinícola é, sem dúvida alguma, a Serra Gaúcha, da qual faz parte a primeira área de Indicação de Procedência brasileira, o Vale dos Vinhedos. De dentro para fora, sabemos que o Vale está chegando ao seu limite de plantio.

Como área de procedência certificada, as regras que controlam sua existência são rígidas e hoje sobram poucas terras de qualidade às vinícolas para que plantem suas uvas. Ele não deixa de ser, no entanto, o polo para onde convergem as atrações turísticas e as grandes instalações produtoras das vinícolas, incluindo suas adegas.

Os outros municípios que compõem a região da Serra Gaúcha vêm se desenvolvendo com constância como Garibaldi, Flores da Cunha e Farroupilha. Mas algumas novidades interessantes estão aparecendo em cidades a noroeste de Bento Gonçalves, como Guaporé, na linha Pinheiro Machado e Casca, na direção de Passo Fundo.

Mas tem uma região que, apesar de ter sido descoberta na década de 1970, pode-se considerar que se trata de uma região nova, pois somente a partir dos anos 2000, com investimentos feitos pelas vinícolas da Serra Gaúcha, que o potencial dela foi, de fato, explorado. Essa região é a Serra do Sudeste.

Ela forma uma espécie de ferradura virada para o mar, ligando os municípios de Encruzilhada do Sul e Pinheiro Machado, separados ao meio pelo rio Camaquã, que deságua na Lagoa dos Patos.

Essa região faz divisa com outra importante área vinícola brasileira, a Campanha Gaúcha, dividida entre Campanha Meridional (que começa na cidade de Candiota) e Campanha Oriental, que segue a linha da fronteira com o Uruguai.

Serra do Sudeste

A Serra do Sudeste tem colinas suaves, que facilitam o plantio e a mecanização, tornando-a um terroir mais simples de trabalhar. Aliadas a isso, estão as condições climáticas, mais favoráveis do que no Vale dos Vinhedos.

Essa região tem o menor índice de chuvas do Estado do Rio Grande do Sul, além de noites frias mesmo no verão, justamente a época da maturação das uvas. Essas condições naturais, além de um solo mais pobre e de origem granítica, ajudam a ter maior concentração de cor, estrutura e potencial de envelhecimento dos vinhos.

O Instituto de Pesquisa Agrícola do Rio Grande do Sul mapeou pela primeira vez esta área nos anos 1970, mas é no começo da década de 2000 que as primeiras vinícolas de certa importância começam a plantar vinhedos por aqui, entre os municípios de Encruzilhada do Sul, o principal, Pinheiro Machado e Candiota (mesmo próxima de Bagé Candiota é considerada pelo IBGE como pertencente à Serra do Sudeste e não à Campanha, embora haja controvérsias).

Em grande parte, se trata de uma região vitícola, geralmente as uvas aqui colhidas são conduzidas nas instalações das vinícolas na Serra Gaúcha e lá transformadas em vinho, esta região ainda não possui, e nem pleiteia em curto prazo, o reconhecimento a Denominação de Origem Controlada, quando, e se, isso ocorrer o vinho deverá ser produzido por aqui, já que este é um fator crucial na lei das denominações de origem.

As castas internacionais dominam a viticultura na Serra do Sudeste, tintas e brancas que na Serra Gaúcha podem representar um desafio pelo clima úmido, aqui prosperam com mais facilidade, o índice pluviométrico é alinhado com o estado do Rio Grande do Sul, chove um pouco menos que no Vale dos Vinhedos, mas o que mais importa é que as chuvas são mais bem distribuídas ao longo do ano, raramente coincidindo com o período da colheita das variedades tardias.

A característica dos vinhos daqui é o bom nível de aromas, a sapidez pronunciada por conta da presença do calcário e o perfil gastronômico, boa acidez, taninos enxutos nos tintos e presença mineral nos brancos. Uvas mais cultivadas na região são: Malbec, Cabernet Franc, Merlot, Gewurztraminer, Sauvignon Blanc e Malvasia.

Se é verdade que a Serra do Sudeste não possui o panorama encantador da Serra Gaúcha, é também verdade que seus vinhos representam um patrimônio da vitivinicultura brasileira que merece ser descoberto, e sem demora.


E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um rubi intenso, com o atijolado, o granada em evidência, denunciando uma década de vida, com uma boa profusão de lágrimas, finas e lentas.

No nariz traz aromas expressivos e complexos de frutas vermelhas e negras maduras, sentindo ainda as evidentes, mas integradas notas amadeiradas, graças aos longos quinze meses em barricas de carvalho, com toques de baunilha, caramelo, couro, tabaco, defumado e um latente defumado extremamente agradável.

Na boca é elegante, redondo e macio, afinal o tempo lhe permitiu essa condição, mas que goza de boa complexidade. Replicam-se as notas frutadas, como no aspecto olfativo, bem como protagoniza o amadeirado, mas muito bem integrado ao conjunto do vinho, conferindo-lhe a tal complexidade, bem como a tosta, o café torrado e a terra molhada. Os taninos, devido ao tempo, estão com uma textura sedosa, com baixa acidez e um final longo e persistente.

Um vinho que mesmo com os seus 10 anos de vida ainda estava pleno, vivo e intenso e que poderia evoluir mais e mais. Uma região nova que sem dúvida poderá nos brindar com muita tipicidade, expressividade e qualidade com os seus rótulos. Sim os vinhos brasileiros têm potencial de guarda, têm complexidade, têm relevância e têm a cara do vinho brasileiro, sem cópias e comparações com o Velho Mundo. O Matiz representa a elegância, a complexidade, o arrojo que todo vinho com a sua proposta pode entregar. Foi ótimo repeti-lo sem cair na temível zona de conforto. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Hermann:

A família Hermann trouxe todo o seu know-how de profundos conhecedores de diversas regiões vinícolas do mundo para a esfera da produção de vinhos, apostando no potencial dos melhores terroirs da região sul do Brasil.

Proprietários de uma das maiores importadoras de vinhos de alta qualidade do país, a Decanter, compraram em 2009 um vinhedo de grande vocação em Pinheiro Machado, na Serra do Sudeste no Rio Grande do Sul, plantado com mudas de alta qualidade por um dos viveiros líderes de Portugal.

A assessoria enológica de um dos mais brilhantes enólogos de Portugal, o renomado “rei do Alvarinho” Anselmo Mendes - “Enólogo do Ano” pela Revista de Vinhos de Portugal em 1997 - ao lado do talentoso enólogo Átila Zavarizze, garante a excelência na transformação das uvas promissoras em grandes vinhos brasileiros, com caráter e tipicidade.

Mais informações acesse:

http://www.vinicolahermann.com.br/

Referências:

“Marco Ferrari Sommelier”: https://www.marcoferrarisommelier.com.br/blog.php?BlogId=33

“Cave BR”: https://www.cavebr.com.br/serra-do-sudeste-1

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/a-nova-fronteira-sul_8619.html

“intelivino”: https://intelivino.com.br/serra-do-sudeste