Sempre tive dificuldades para encontrar bons vinhos
espanhóis. Não sei dizer exatamente o motivo, talvez pelo fato de que eu não
tinha conhecimento dos lugares certos, ideais para compra-los ou desconhecia
alguns fatores como região, castas autóctones ou coisas que o valham, confesso
que o meu interesse por esses quesitos dos vinhos era praticamente nulo. O meu
leque aumentou e consequentemente a minha adega com vinhos espanhóis se deram
graças a incessante busca, de minha parte, por novas regiões, novas castas,
novos pontos de compra. Claro! Era tudo isso que gerava a minha dificuldade
para comprar bons rótulos espanhóis com preços mais convidativos e qualidade
atestada para o meu humilde palato.
E graças a esse empenho descobri, muito tardiamente, que há uma
legislação que regem alguns vinhos, ou melhor, os vinhos espanhóis nas suas
mais diversas propostas. E no que tange a proposta, um termo que sempre faço
questão de enfatizar, a Espanha delimita esse quesito com honra, com um
requinte de detalhe simplesmente incrível! E são vinhos jovens, crianza,
reserva, gran reserva, cada um com suas particularidades, seus terroirs na mais
pura e evidente essência, regido por uma lei que foi sancionada recentemente,
pasmem, no início dos anos 2000. Veja em classificação dos vinhos espanhóis.
E o melhor que essas nomenclaturas são as propostas dos
vinhos: amadeirados, complexo nos aromas, no paladar, estruturados, elegantes....
Muitos deles com vocação para guarda, vinhos evoluídos, do jeito que eu gosto,
sou um réu confesso dos vinhos evoluídos: penso que tem história para contar,
são singulares, diferentes e interessantes. Vinhos espetaculares de um país que
é um verdadeiro polo de produção de vinhos.
Hoje, com a cortesia de meu grande e estimado amigo Paulo,
meu confrade amigo, teremos um contato imediato com um “crianza”, da casta
emblemática da Espanha, Tempranillo, que escreverá uma humilde página em nossa
humilde vida de enófilos. O vinho que degustei e gostei veio da região de
Castilla La Mancha, um DO, da Espanha, um “crianza” chamado El Misionero, 100%
Tempranillo, da safra 2015. Agora o que significa “crianza”? Não se enganem que
tenha haver com algo relacionado a “criança”, em uma tradução literal. Então
desvendemos.
Crianza
O termo “Crianza”, encontrado em alguns dos rótulos dos
vinhos espanhóis, ainda causa muita confusão. Ao contrário do que muitos
imaginam, a palavra não está relacionada à jovialidade do vinho (não tem nada a
ver com criança). A questão principal ao falar sobre um vinho Crianza é a sua
maturação. O termo Crianza em espanhol é aplicado para determinar que àquele
vinho passou por um processo em barrica de carvalho, desse modo, entrando em
contato com madeira, e com isso, adquirindo corpo.
Geralmente um crianza estagia, no mínimo, seis meses em barrica de carvalho. E o que isso representa? Que é um vinho mais elaborado e que, por ter amadurecido em contato com a madeira, ganhou mais complexidade de aromas e sabores quando comparado a vinhos que não passam por este estágio.
Como todos os vinhos que passam por madeira – e podemos incluir os vinhos Reserva e Gran Reserva – os vinhos Crianza são vinhos com maior volume de aromas, complexidade e sabores. São indicados para uma apreciação paciente e para acompanhar pratos que exijam uma presença de vinhos aromáticos.
Castilla La Mancha, a terra de Dom Quitoxe e os seus Moinhos de Vento
Bem ao centro da Espanha, país com a maior área de vinhas
plantadas em todo o mundo e o terceiro maior mercado produtor de vinhos, está
localizada a região vitivinícola de Castilla La Mancha. Um território com
grande extensão de terra quase que completamente plana, sem grandes
elevações. É nessa macrorregião que se
origina quase 50% do total de litros de vinho produzidos anualmente na Espanha.
“Em um lugar em La
Mancha, cujo nome eu não quero lembrar, existiu há não muito tempo um
cavaleiro, do tipo que mantinha uma lança nunca usada, um escudo velho, um
galgo para corridas e um cavalo velho e magro”.
“Dom Quixote de La Mancha ou o Cavaleiro da triste figura” de
Miguel de Cervantes.
O nome “La Mancha” tem origem na expressão “Mantxa” que em
árabe significa “terra seca”, o que de fato caracteriza a região. Neste
território, o clima continental ao extremo provoca grandes diferenças de
temperaturas entre verão e inverno. Nos dias quentes de verão os termômetros
podem alcançar os 45°C, enquanto nas noites rigorosas de frio intenso do
inverno, as temperaturas negativas podem chegar a até -15°C. A irrigação
torna-se muitas vezes essencial: além do baixo índice pluviométrico devido ao
caráter continental e mediterrâneo do clima, o local se torna ainda mais seco
graças ao seu microclima, que impede a entrada de correntes marítimas úmidas. A
ocorrência de sol por ano é de aproximadamente 3.000 horas. Esta macrorregião é
composta por várias regiões menores, incluindo sete “Denominações de Origem”,
das quais se pode destacar La Mancha e Valdepeñenas.
La Mancha: é a principal região dentre elas, sendo
considerada a maior DO da Espanha e a mais extensa zona vinícola do mundo. O território abrange 182 municípios,
distribuídos em quatro províncias: Albacete, Ciudad Real, Cuenca e Toledo. As
principais uvas produzidas naquele solo são a uva branca Airen e a popular tinta
espanhola Tempranillo, também conhecida localmente como Cencibel.
Valdepeñenas: localizada mais ao sul, mas com as mesmas
condições climáticas, tem construído sua boa reputação graças à produção de
vinhos de grande qualidade, normalmente varietais da uva Tempranillo ou blends
desta com castas internacionais.
A DO La Mancha conta mais de 164.000 hectares de vinhedos
plantados. Com isso, é a maior Denominação de Origem do país e a maior área
vitivinícola contínua do mundo, abrangendo 182 municípios, divididos em quatro
províncias: Albacete, Ciudad Real, Cuenca e Toledo.
As castas mais cultivadas em Castilla de La Mancha são:
Airén, Viúra, Sauvignon Blanc e Chardonnay entre as brancas e as tintas são:
Tempranillo, Syrah, Cabernet Sauvignon, Merlot e Grenache.
Classificação dos rótulos da DO de Castilla La Mancha:
Jóven: Categoria mais básica, sem passagem por madeira, para
ser consumido preferencialmente no mesmo ano da colheita.
Tradicional: Sem passagem por madeira, porém com mais
estrutura do que o Jóven.
Envelhecimento em barris de carvalho: Envelhecimento mínimo
de 90 dias em barris de carvalho.
Crianza: Envelhecimento natural de dois anos, sendo, pelo
menos, seis meses em barris de carvalho.
Reserva: Envelhecimento de, no mínimo, 12 meses em barris de carvalho
e 24 meses em garrafa.
Gran Reserva: Envelhecimento de, no mínimo, 18 meses em
barris de carvalho e 42 meses em garrafa.
Espumante: Produzidos a partir do método tradicional (segunda
fermentação em garrafa), com no mínimo nove meses de autólise.
E agora o grande momento: Sobre o vinho!
Na taça goza de um intenso vermelho rubi, mas com entornos
violáceos e uma grande concentração de lágrimas finas que teimavam em se
dissipar das paredes da taça.
No nariz a predominância de frutas negras era latente, tais
como ameixa, amora e cereja negra, com notas de tabaco, de couro e estrebaria.
Não é tão aromático, mas um vinho perfumado, elegante ao olfato.
Na boca é redondo, equilibrado, seco e elegante. Percebe-se
também as notas de especiarias, a percepção de pimentão e baunilha é notável,
bem como discretas notas amadeiradas, graças aos 10 meses de passagem por
barricas de carvalho e mais 15 meses evoluindo na garrafa antes de ser
comercializado, conferindo-lhe taninos domados e uma boa acidez revelando um
vinho fresco e vivo, além de uma marcante personalidade. Um final de média
persistência e retrogosto frutado.
Estudos, cultura, conhecimento, degustações de vinho, novas
experiências sensoriais, o vinho é uma múltipla celebração, celebração em todos
os seus aspectos, em tudo que essa poesia líquida pode proporcionar, em todos
os seus âmbitos. El Misionero Tempranillo, está no auge, vivo, pleno com seus 6
anos de safra, 6 anos de vida, característico desses grandes vinhos, especiais
e singulares. A busca incessante pelos vinhos espanhóis me brindou com esses
vinhos ricos em aromas, complexos no paladar e com marcante personalidade.
Grandioso! Tem 13% de teor alcoólico.
Sobre as Bodegas Fernando Castro:
As Bodegas Fernando Castro foi fundada em 1850, é a vinícola
mais antiga de Castilla La Mancha sob a direção da mesma família. A família
Castro começou a produzir vinhos brancos e tintos a partir de uvas das suas
próprias vinhas em Santa Cruz de Mudela, utilizando os métodos artesanais e
tradicionais inerentes à região. Desde 1895, a Bodegas Fernando Castro está
presente nos pontos mais importantes do território nacional, graças ao
conhecido “Comboio do Vinho”, e posteriormente através da sua rede de
transportes própria, conquistando a confiança dos grandes centros de compras. Com
uma situação geográfica imbatível, estando no centro de Espanha e centro
nevrálgico da Denominação de Origem Valdepeñas, os seus produtos chegam a
qualquer ponto da geografia. Esta localização facilitou a expansão de seu mercado
para mais de 70 países. Atualmente, duas gerações da família Castro trabalham
em conjunto, contando com o inestimável apoio de profissionais de referência
que têm contribuído na vinificação, envelhecimento e comercialização dos nossos
vinhos, dispondo para o efeito de instalações modernas, sólidas e funcionais. Bodegas
Fernando Castro está localizado no coração da Denominação de Origem Protegida
Valdepeñas . Situada no extremo sul do planalto ibérico e claramente delimitada
pelas planícies de La Mancha ao norte, os campos de Montiel a leste, os de
Calatrava a oeste e a Serra Morena a sul, Santa Cruz de Mudela preserva a
cultura patrimônio e as tradições culinárias de La Mancha. Nesta região,
existem solos calcários abundantes, franco-arenoso e argiloso
vermelho-amarelado. Essas terras de clima continental podem ultrapassar as
temperaturas máximas de 40 ° C e as mínimas de -10 ° C, e ainda mais baixas,
com uma média anual de 16 ° C. Viticultores de tradição familiar, Bodegas
Fernando Castro possui 380 hectares de vinhedos, localizados no entorno da
Finca Los Altos, supervisionados pessoalmente pela Família Castro. Os seus
vinhos expressam a personalidade de uma região única. Localizados a 705 metros
acima do nível do mar, os solos são pobres em matéria orgânica e baixa
fertilidade, circunstância ideal para o cultivo da uva. Com mais de 2.500 horas
de sol por ano, estas características climáticas potenciam o amadurecimento da
uva, resultando numa produção de vinho com maior intensidade de cor, ótima
estrutura e poder aromático.
Mais informações acesse:
https://bodegasfernandocastro.es/en/
Referências de pesquisa:
“Vinho Blog”: http://blog.vinhosite.com.br/la-mancha-maior-regiao-produtora-vinhos-espanha/
“Blog Vinho Tinto”: https://www.blogvinhotinto.com.br/curiosidades/desvendando-vinhos-crianzas/
“Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/245-a-regiao-de-castilla-la-mancha-a-terra-de-dom-quixote
“Blog
Lovino”: https://blog.lovino.com.br/o-que-e-um-vinho-crianza/
Revista Adega: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/vinhos-dos-moinhos_4580.html
Blog “VinhoSite”: http://blog.vinhosite.com.br/la-mancha-maior-regiao-produtora-vinhos-espanha/