quinta-feira, 17 de junho de 2021

Chaminé tinto 2013

 

Talvez seja uma pergunta manjada e, para alguns, irrelevante ou boba, mas me parece muito complexa dependendo do tema a ser abordado: É possível aliar tradição e contemporaneidade? Para muitos são como água e vinho, não há sinergia, não há convergência, outros é possível aliar os dois pontos em uma espécie de atemporalidade ou uma linha do tempo e que ainda há os mais carismáticos que dizem que um não vive sem o outro.

Digo que, no universo do vinho, isso seja sinônimo de novas experiências sensoriais! Ah e isso definitivamente entrou nas minhas perspectivas de degustação! E ouso dizer que isso impulsione não apenas as nossas experiências, mas o nosso campo de conhecimento, de cultura e, sobretudo um excelente exercício sensorial, a gente pode adquirir a capacidade de analisar os vinhos, os novos vinhos e ter grandes momentos. A tradição e o contemporâneo podem nos proporcionar sim grandes momentos, grandes experiências, grandes e surpreendentes rótulos que poderá evitar, entre outros males, a tal e temível zona de conforto, que nos ameaça com aqueles vinhos de sempre, embora especiais.

Eu sou notoriamente um fã incondicional dos vinhos do Alentejo, em Portugal, não há como não se render a personalidade marcante e poderosa de seus vinhos que ganhou o mundo com os seus vinhos de tipicidade e de apelo regionalista. E isso se conquista com tradição, com respeito a cultura de seu povo, da vinificação e sobretudo do respeito ao seu inigualável terroir.

Quando eu descobri os vinhos de um produtor chamado “Cortes de Cima” eu me rendi por completo, uma espécie de arrebatamento. E tudo começou com um rótulo em especial que fez abrir o olho para o novo Alentejo, sem deixar de olhar para a estrada que foi pavimentada no passado daquelas terras. E o vinho que degustei e gostei veio, claro, da minha querida Alentejo, e se chama Chaminé, com um blend composto pelas castas Aragonez, a Tempranillo no Alentejo (35%), Syrah (35%), Touriga Nacional (15%) e Trincadeira (15%) da safra 2013.

Eu não quero ainda descrever essa verdadeira poesia líquida, claro que o farei em breve, mas não há como negligenciar esse corte interessante com a Syrah, casta francesa, como “intrusa” nesse blend, o que me parece ser uma casta bem apreciada pela Cortes de Cima que tem no seu mais complexo rótulo, o “Incógnito”, essa casta como protagonista. Só nesse quesito podemos identificar um arrojo contemporâneo! Mas não podemos esquecer as tradições e dizer, como curiosidade, o motivo pelo qual o vinho, o rótulo se chama “Chaminé”. “Chaminé” ao nome de uma das parcelas da vinha, onde eram originalmente produzidas as uvas usadas neste vinho: “Chaminé de Gião”. E agora, em respeito ao Alentejo, falemos de sua grande história.

Alentejo

A história do Alentejo anda de mãos dadas com a história de Portugal e da Península Ibérica, ex-hispânicos, assim como, pertencentes a época de civilizações romana, árabe e cristãs. Em muitos lugares no Alentejo encontrar provas da civilização fenícia existente à 3.000 anos atrás. Fenícios, celtas, romanos, todos eles deixaram um importante legado da era antes de Cristo, na região que é hoje o Alentejo. Uma terra onde a cultura e tradição caminham lado a lado. Os romanos deixaram nesta região o legado mais importante, escritos, mosaicos, cidades em ruínas, monumentos, tudo deixado pelos romanos, mas não devemos esquecer as civilizações mais antigas que passaram pela zona deixando legados como os monumentos megalíticos, como Antas.

Alentejo

Após os romanos e os visigodos, os árabes, chegaram a esta terra com o cheiro a jasmim, antes da reconquista, que chegaram com a construção de inúmeros castelos, alguns deles construídos sobre mesquitas muçulmanas e a construção de muralhas para proteger a cidade e as cidades que foram crescendo. Desde essa altura até hoje, o Alentejo tem continuado o seu crescimento, um crescimento baseada na agricultura, pecuária, pesca, indústria, como a cortiça e desde o último século até aos nossos dias, com o turismo com uma ampla oferta de turismo rural. Situado na zona sul de Portugal, o Alentejo é uma região essencialmente plana, com alguns acidentes de relevo, não muito elevados, mas que o influenciam de forma marcante. Embora seja caracterizada por condições climáticas mediterrânicas, apresenta nessas elevações, microclimas que proporcionam condições ideais ao plantio da vinha e que conferem qualidade às massas vínicas.

As temperaturas médias do ano variam de 15º a 17,5º, observando-se igualmente a existência de grandes amplitudes térmicas e a ocorrência de verões extremamente quentes e secos. Mas, graças aos raios do sol, a maturação das uvas, principalmente nos meses que antecedem a vindima, sofre um acúmulo perfeito dos açúcares e materiais corantes na película dos bagos, resultando em vinhos equilibrados e com boa estrutura. Os solos caracterizam-se pela sua diversidade, variando entre os graníticos de "Portalegre", os derivados de calcários cristalinos de "Borba", os mediterrânicos pardos e vermelhos de "Évora", "Granja/Amarelega", "Moura", "Redondo", "Reguengos" e "Vidigueira". Todas estas constituem as 8 sub-regiões da DOC "Alentejo".

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta aquele típico vermelho rubi intenso, poderoso, com brilhantes reflexos violáceos dos tintos alentejanos com uma boa concentração de lágrimas finas que desenham as paredes do copo.

No nariz explode em aromas frutados, de frutas vermelhas tais como framboesa, cereja, ameixa. Aromas frescos de frutas e muito perfumado, talvez um agradável toque floral que entrega um vinho fresco.

Na boca é redondo, macio, mas marcante e expressivo, entregando versatilidade, a fruta se reproduz de forma vibrante no paladar também. Os taninos presentes, mas delicados e em pleno equilíbrio com uma correta acidez. Ótimo final e persistência.

Ah o Alentejo, suas terras tão conhecidas, seu terroir expostos nos mais diversos rótulos que, em um apelo regionalista, se tornou globalizado, nas mesas de todos os enófilos espalhados por todo o canto deste mundo. E mesmo que tenham austeridade, tradição exacerbada temos o Chaminé que nos traz a perspectiva de um Alentejo moderno, arrojado, que ainda tem uma estrada de grandes perspectivas pela frente. Um vinho saboroso, mas intenso, fresco, mas de personalidade, tradicional, mas moderno. Um viva ao Alentejo! Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Cortes de Cima:

Em 1988, um casal americano-dinamarquês partiu num veleiro para encontrar um lugar onde constituir uma família e plantar uma vinha. Chegaram ao Alentejo, e numa terra de castas brancas plantaram variedades tintas. E assim começa a história dos vinhos Cortes de Cima.

“Gazelle la Goelette” era o nome do veleiro que trouxera Hans e Carrie Jorgensen numa longa viagem desde o outro lado do mundo, pela Baía da Biscaia e em redor da Finisterra.

Em 1988 Hans e Carrie atracaram em Portugal e, no coração do Alentejo, descobriram “Cortes de Cima”. Era apenas terra improdutiva e algumas construções abandonadas, mas lembravam Carrie da sua terra natal: a Califórnia. Hans, que nascera na Dinamarca, ficou simplesmente encantado pelo sol mediterrânico.

Era o lugar perfeito para assentar, formar uma família e plantar uma vinha. Vidigueira era a terra das castas brancas, mas eles acharam que era o clima ideal para a Syrah, uma variedade do Ródano. Mas a Syrah não era aprovada pelas regras da Denominação de Origem. Hans e Carrie não quiseram saber - eles tinham um sonho.

Começaram a trabalhar o campo, e Hans, um engenheiro, construiu uma barragem. Enquanto a vinha crescia, plantaram girassóis, tomates e melões para pagar as contas. As crianças nasceram – Thomas em 1991 e Anna em 1993.

A história continua com Anna que assume o projeto, a sua visão de futuro compreende valores como a sustentabilidade, inovação, qualidade e respeito pela natureza envolvente, em que a vinha deverá ser a protagonista dos vinhos. Toda a propriedade está em conversão para o modo de produção biológico.

Mais informações acesse:

https://cortesdecima.com/


Degustado em: 2017





sábado, 12 de junho de 2021

Miolo Family Vineyards Touriga Nacional 2019

 

Já pensou em um degustar um vinho cuja casta é ícone em Portugal e no mundo inteiro, produzido em terras brasileiras? Confesso que jamais esperaria passar por esse sublime momento, ainda mais levando a assinatura de uma das minhas vinícolas brasileiras preferidas e logo uma das melhores do Brasil e do mundo: A vinícola Miolo! Ela é preferida ou uma das minhas preferidas não apenas pela qualidade de seus rótulos, mas também pelo fato de ter um forte apelo sentimental com esse produtor. Lembro-me, com afeto e carinho, que quando comecei a flertar com os vinhos de uvas vitis viníferas, aquela famosa transição com os vinhos de mesa, lá estavam os vinhos da Miolo para me ajudar e consolidar esse momento muito importante na vida de um jovem enófilo.

E além desse momento especial da vinícola Miolo em minha vida tive também à relevância de se degustar um Touriga Nacional legitimamente brasileiro! A Touriga Nacional sempre esteve presente em minhas degustações, representados pelos rótulos portugueses e majoritariamente em blends, em cortes. Mas dessa vez veio em varietal! Que momento especial para mim que jamais esperaria encontrar um Touriga Nacional 100% e brasileiro! Mas que fique claro que antes desse vinho especial eu havia degustado um, mas de Portugal, da emblemática região do Dão, um Touriga Nacional bem interessante chamado Cova do Frade da safra 2015 e agora um tupiniquim!

Então o especial vinho que degustei e gostei veio da Campanha Gaúcha, do Brasil, é da Vinícola Miolo e é uma edição especial e limitada de uma parceria da vinícola com o e-commerce Wine, uma das mais representativas do Brasil, e se chama Miolo Family Vineyard 30 anos da casta Touriga Nacional da safra 2019. E, diante da improvável degustação de um vinho brasileiro da casta Touriga Nacional, há um trabalho de quase 10 anos da Miolo que foi a primeira vinícola a implantar o cultivo dessa cepa em nossas terras.

A Touriga Nacional foi plantada em 2002, em espaldeira, no vinhedo Seival, na Campanha Gaúcha, região que se destaca pelo grande potencial no setor vitivinícola, em especial aos vinhos tintos, tendo recebido a Indicação geográfica ainda em 2020. A Vinícola Seival está localizada em Candiota/RS, na região da Campanha Meridional reconhecida como uma das regiões mais promissoras para o cultivo de uvas por estar no paralelo 31° - faixa do planeta onde se encontram algumas das melhores regiões vitivinícolas do mundo. A peculiaridade do terroir encontrado no Seival se tornou marcante para os vinhos produzidos na região com o plantio de variedades portuguesas emblemáticas e, claro, inclui-se a Touriga Nacional, que agregam diferentes características para os vinhos brasileiros e para o portfólio de rótulos do Grupo Miolo. E já que estou falando da Touriga Nacional e das promissoras regiões que compõe a Campanha Gaúcha, nada mais prudente do que falar sobre elas.

Campanha Gaúcha

Entre o encontro de rios como Rio Ibicuí e o Rio Quaraí, forma-se o do Rio Uruguai, divisa entre o Brasil, Argentina e Uruguai. Parte da Campanha Gaúcha também recebe corpo hídrico subterrâneo, o Aquífero Guarani representa a segunda maior fonte de água doce subterrânea do planeta, dele estando 157.600 km2 no Rio grande do Sul. A Campanha Gaúcha se espalha também pelo Uruguai e pela Argentina garante uma cumplicidade com os hermanos do outro lado do Rio Uruguai. Os costumes se assemelham e os elementos locais emprestam rusticidade original: o cabo de osso das facas, o couro nos tapetes, a tesoura de tosquia que ganha novas utilidades.

Campanha Gaúcha

No verão, entre os meses de dezembro a fevereiro, os dias ficam com iluminação solar extensa, contendo praticamente 15 horas diárias de insolação, o que colabora para a rápida maturação das uvas e também ajuda a garantir uma elevada concentração de açúcar, fundamental para a produção de vinhos finos de alta qualidade, complexos e intensos.

As condições climáticas são melhores que as da Serra Gaúcha e tem-se avançado na produção de uvas europeias e vinhos de qualidade. Com o bom clima local, o investimento em tecnologia e a vontade das empresas, a região hoje já produz vinhos de grande qualidade que vêm surpreendendo a vinicultura brasileira.

Há mais de 150 anos, antes mesmo da abolição da escravatura, a fronteira Oeste do Rio Grande do Sul já produzia vinhos de mesa que eram exportados para os países do Prata (Uruguai, Argentina e Paraguai) e vendidos no Brasil.

A primeira vinícola registrada do Brasil ficava na Campanha Gaúcha. Com paredes de barro e telhado de palha, fundada por José Marimon, a vinícola J. Marimon & Filhos iniciou o plantio de seus vinhedos em 1882, na Quinta do Seival, onde hoje fica o município de Candiota.

E o mais interessante é que, desde o início da elaboração de vinhos na região, os vinhos da Campanha Gaúcha comprovam sua qualidade recebendo medalha de ouro, conforme um artigo de fevereiro de 1923, do extinto jornal Correio do Sul de Bagé.

Touriga Nacional: A rainha portuguesa

Sua baixa produtividade natural quase lhe custou a sobrevivência no território quando uma praga chamada filoxera arrasou com as plantações europeias em meados do século XIX. Nesse momento, muitos produtores portugueses decidiram replantar seus vinhedos com variedades que produzissem mais. Felizmente para a vitivinicultura mundial, a Touriga Nacional sobreviveu em regiões como o Douro e o Dão e, em tempos de moderna vitivinicultura, já na segunda metade do século XX, ganhou novo vigor, com os enólogos e agrônomos tendo maior entendimento de suas características e trabalhando para, pouco a pouco, melhorar sua produtividade sem descaracterizá-la.

Uma das referências mais antigas à Touriga Nacional está no livro “O Portugal Vinícola”, lançado no século XIX pelo renomado agrônomo português Cincinnato da Costa, onde ele diz que nos anos de 1800, quase todos os vinhedos do Dão eram plantado com esta variedade, a porcentagem chegava a 90% do total das terras plantadas.

Suas qualidades, no entanto, só foram ser reconhecidas nacional e internacionalmente há pouco tempo. Por ser uma uva nobre, e, portanto, de produção reduzida, até 1980 ela era preterida por outras castas portuguesas de maior produção. Só quando os consumidores e produtores de vinho em Portugal começaram a exigir uma produção de qualidade superior em vez da primazia da quantidade em larga escala é que a Touriga ganhou novo status. A Touriga Nacional também é conhecida como Tourigo, Mortágua, Preto Mortágua ou Elvatoiriga. Preto de Mortágua é o nome de uma pequena e antiga vila na zona do Dão. Isso combinado com o fato de outro vilarejo da região ser chamado de Tourigo reforça a ideia de que essa casta existe por lá há muitos séculos.

O que os cientistas são capazes de comprovar com maior facilidade é que dela são derivadas as variedades conhecidas como Touriga Fina e Touriga Macho. No entanto, seu parentesco com a Touriga Franca (conhecida como Touriga Francesa até a virada deste século) é impreciso. Não se sabe se a Franca é uma subvariedade (ou mutação) da Nacional ou uma combinação da Nacional com outra uva.

Os cachos da Touriga Nacional são delicados e compactos. Seus bagos são pequenos, com formato arredondado, bem definido e coloração negro azulada. Sua pele tem boa espessura, o que ajuda na obtenção de cores intensas. Sua polpa é rígida e suculenta. Seu aroma é profundo, variando entre o floral e o frutado, mas característico, e inconfundivelmente nobre. Assim, em poucas palavras, pode-se definir os aspectos físicos da nobre uva portuguesa.

Roda de aromas da Touriga Nacional

Apesar de fértil, ou seja, se adapta bem a diversos terrenos, a Touriga tem baixa produtividade devido ao seu caráter de elevado vigor fisiológico. Seu cultivo exige cuidados especiais, já que sua maturação é intermediaria; virtudes como rusticidade e forte resistência a pragas, entretanto, fazem dela uma casta especial.

A Touriga Nacional é versátil e produz vinhos diversos, mas sempre elegantes. Bom teor alcoólico, ótima concentração de cor, elevada complexidade, taninos finos, sabores intensos, volume, equilíbrio e aromas florais distintos são características comuns a vinhos elaborados com esta cepa. Espumantes, tintos secos finos, vinhos licorosos – são variados os gêneros da bebida dos deuses que essa uva é capaz de resultar. O potencial de guarda das bebidas produzidas com a uva símbolo de Portugal é excelente, elas evoluem em garrafa com bastante desenvoltura. O estágio em madeira de carvalho, por outro lado, lhe dá mais qualidades aromáticas e melhora sua estrutura, além de arredondar seus taninos com maior velocidade, o que torna a bebida pronta para consumo em pouco tempo.

E agora o vinho!

Na taça apresenta um intenso rubi escuro, mas brilhante, com tons arroxeados, com uma grande formação de lágrimas que mancham e desenham lindamente as paredes do copo.

No nariz traz aromas de frutas negras tais como ameixa, amora e cereja preta, com toques amadeirados, graças a passagem por 6 meses em barricas de carvalho, com discretas notas de pimentão e de flores, típico da Touriga.

Na boca é seco, de corpo médio a estruturado, mas muito equilibrado e redondo apesar de ser um vinho jovem, com taninos presentes e domados, acidez vivaz trazendo um caráter de frescor ao vinho, além das notas amadeiradas e um toque de baunilha. Final de média persistência.

O passado e presente não precisam se dissipar, vivem de mãos dadas e em plena convergência, não precisamos viver de nostalgias e virar o rosto para o presente e temer o futuro. Não precisamos negligenciar o passado, esquecê-lo somente pelo fato de ter, como discurso, o futuro. A Miolo sempre foi uma referência para mim enquanto enófilo e foi e tem sido e sempre será muito importante para a minha formação, para o que entendo como um apreciador de vinhos. O Miolo Family Vineyard é resultado de novos tempos em que o vinho nacional cresce vertiginosamente, apesar de todos os entraves que vigoram nesse país, proporcionando um momento ímpar para a minha vida, para os meus sentidos, para a minha experiência sensorial: degustar um Touriga Nacional pela primeira vez! Um vinho untuoso, imponente, mas fácil de degustar mostrando versatilidade nas harmonizações e muito equilíbrio entre taninos, acidez e graduação alcoólica. Um vinho jovem, de dois anos de safra, a personalidade se faz presente, mas que, muito bem feito, se revela harmonioso. Mais um ponto para o vinho brasileiro. Tem 14% de teor alcoólico. Ah não me sentindo satisfeito resolvi explorar um pouco mais a Touriga Nacional brasileira e decidi adquirir, em um estágio diferenciado, mais um Miolo Touriga, agora o Single Vineyard.

Miolo Single Vineyard Touriga Nacional 2019

Mas essa é outra história que certamente irei contar em outro capítulo das minhas degustações...

Sobre a Vinícola Miolo:

A história da família Miolo no Brasil começa em 1897. Entre os milhares de imigrantes italianos que vieram ao país em busca de oportunidades, estava Giuseppe Miolo, um jovem que já tinha nas veias a paixão pela uva e pelo vinho, vindo da localidade de Piombino Dese, no Vêneto. Ao chegar ao Brasil, Giuseppe foi para Bento Gonçalves, município recém-formado por imigrantes italianos. Entregou suas economias em troca de um pedaço de terra no vale dos vinhedos, chamado Lote 43. Já em 1897, o imigrante começou a plantar uvas, dando início a tradição vitícola da família no Brasil.

Na década de 70, a família foi pioneira no plantio de uvas finas, fazendo com que os netos de Giuseppe Miolo, Darcy, Antônio e Paulo, ficassem muito conhecidos na região pela qualidade de suas uvas. No final da década de 80, uma crise atingiu as cantinas dificultando a comercialização de uvas finas e forçando a família Miolo, a partir de 1989, a produzir o seu próprio vinho para a venda a granel para outras vinícolas. Surge a Vinícola Miolo, com apenas 30 hectares de vinhedos. Em 1992 a primeira garrafa assinada pela família foi um Merlot safra 1990, que na partida inicial teve 8 mil garrafas produzidas. Em 1994 é lançado o Miolo Seleção, que logo se torna o vinho mais distribuído da Miolo.

A paixão pela vitivinicultura e o desejo de levar mundo afora o vinho fino brasileiro foi o que inspirou a família Miolo a tomar a decisão de expandir o negócio. Inicia-se em 1998 o Projeto Qualidade. Desde então o crescimento da empresa foi significativo: com investimentos constantes na terra, tecnologia, recursos humanos e no próprio consumidor, iniciou-se também o Projeto de Expressão do terroir brasileiro.

Instalado na Estância Fortaleza do Seival, localizada no Sul do Brasil, no município de Candiota, próximo à divisa com o Uruguai, o “Projeto Seival”, nos anos 2000. Em 2001 a Família Miolo juntamente com a família Benedetti (Lovara) iniciam o projeto Terranova no Vale do São Francisco, adquirindo a antiga propriedade do Sr. Mamoro Yamamoto chamada Fazenda Ouro Verde. Em 2009 a Família Miolo, juntamente com a família Benedetti e a família Randon, adquirem a Vinícola Almadén pertencente a Pernod Ricard. Sendo também uma das mais importantes do segmento de vinhos no mercado nacional, introduzindo a colheita mecânica, pioneira no Brasil.

Mais informações acesse:

https://www.miolo.com.br/

Referências:

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=CAMPANHA

“Vinhos da Campanha”: https://www.vinhosdacampanha.com.br/campanha-gaucha/

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/touriga-nacional-o-tesouro-nacional-portugues_11850.html

“Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/touriga-nacional-a-nobre-uva-portuguesa/











quinta-feira, 10 de junho de 2021

Cova do Frade Touriga Nacional 2015

 

Para quem é grande apreciador de vinhos portugueses e acredito que isso seja uma unanimidade, certamente já teve o prazer de ter degustado a rainha das uvas tintas lusitanas, a grande e inigualável Touriga Nacional. Mas como bons apreciadores da poesia líquida, da bebida de Baco e Dionísio, aqui no Brasil não é uma tarefa fácil encontrar rótulos com o protagonismo dessa bela cepa, um 100% Touriga Nacional, ao contrário dos blends que temos aos montes.

Até conseguimos, com alguma galhardia e procura encontrar alguns exemplares da Touriga Nacional em sua versão única, varietal, contudo, para variar, os valores sã demasiadamente altos, provocando um afastamento de muitos brasileiros simples e de salário curto em tempos bicudos. Infelizmente é aquela triste discussão dos altos impostos que incidem sobre a nossa preferida bebida, o altíssimo custo Brasil que afugenta o consumidor e completa um total desserviço contra a disseminação da cultura do vinho.

Mas nem tudo está perdido. Há sempre uma combinação de fatores que fazem com que as oportunidades se apresentem diante de nossos olhos. Estava eu em uma de minhas intermináveis e prazerosas incursões nos supermercados e, parecia ser um anunciar de que a sorte estava ao meu lado, pois vi, em letras garrafais, uma informação estampada no setor que correspondia ao vinho que dizia: “Vinhos portugueses, italianos e espanhóis com ótimos descontos!”. Isso me animou! Talvez eu conseguisse adquirir alguns rótulos naquele dia e segui até o setor com a euforia de encontrar algo que fosse me animar.

Comecei a procurar, a garimpar, a olhar, com requintes de detalhes, cada espaço, cada canto das gôndolas e avistei, ainda ao longe, um rótulo, no rodapé da gôndola, bonito e um tanto quanto austero e me aproximei, o tomei em minhas mãos e comecei a analisa-lo. No contra rótulo ele revelou um detalhe que eu buscava: a casta! Sim, a casta! E que estava escrito? Touriga Nacional, um 100% Touriga Nacional! Nesse momento estava radiante! Um momento único ter encontrado um vinho como esse a um espetacular preço: R$ 24,95!

Não acreditei que o valor era esse! Estava incrédulo, como também receoso quando de fato confirmei que era esse o preço do vinho e assim surgem aquelas perguntas óbvias: Será que é um bom vinho? Será que vale a pena? As perguntas se transformaram em determinação! Decidi literalmente pagar para ver!

O dia tão importante chegou! O dia da degustação. Estava animado em degusta-lo, em tê-lo em minha taça. A rolha cantou quando saiu, aquele típico barulhinho  quando é desarrolhado. O vinho que degustei e gostei veio das terras do Dão, do grande e emblemático Dão, um português chamado Cova do Frade Touriga Nacional da safra 2015. O Dão, o berço da Touriga Nacional, das terras de Nelas. Veja a importância do momento! Então para ilustrá-lo falemos do Dão e da rainha Touriga Nacional.

Dão

A região vinícola do Dão, em Portugal, sempre foi um área nobre dos vinhos portugueses. Durante certo tempo, perdeu seu lugar para o Douro e Alentejo, amargando um segundo plano no mundo dos vinhos, mas está retornando com todo o orgulho que seus vinhos merecem pelas suas peculiaridades. A região é formada por planície, com encostas suavemente onduladas, cercada de montanhas que a protegem da influência climática do Oceano Atlântico. Além das montanhas, há também muitos pinheiros na região do Dão, pinheiros que escondem os vinhedos e os protegem de intempéries.

Os campos verdes do Dão

Dão é nome da região e também do rio que se espalha por vertentes de suave ondulação, de cor verde e dourado por vontade do sol e onde o vinho, como nos amores antigos, nasce há muito tempo. Por exemplo, o Infante Dom Henrique levou-o nas caravelas para Ceuta, em 1415 onde com ele celebravam a vitória.

Atualmente, a Rota dos Vinhos do Dão está levando visitantes e turistas aos espaços oferecidos para apreciação da produção vinícola da região com cinco roteiros diferentes: Terras de Viseu, Silgueiros e Senhorim; Terras de Azurara e Castendo; Terras de Besteiros; Terras de Alva e Terras de Serra da Estrela.

A Região Demarcada do Dão foi a uma das primeiras regiões oficiais produtoras de vinhos de Portugal. O retorno da fama da região do Dão vem lembrar que esta foi uma das primeiras regiões demarcadas de vinhos de mesa em Portugal, sendo ela a fornecedora de vinhos para o país todo, exportando para inúmeros outros.

Sua decadência ocorreu na década de 1960, quando houve um grande aumento na produção, com o surgimento de uma rede de adegas cooperativas. A quantidade de vinho produzida com intenção apenas de venda, fez a qualidade cair. Ao mesmo tempo, e aproveitando a baixa qualidade na época, as áreas do Alentejo e do Douro passaram a melhorar sua própria produção, mantendo a qualidade e atraindo a atenção dos enólogos e dos consumidores de bons vinhos portugueses.

Situada no centro de Portugal, na província de Beira Alta, a Região Demarcada do Dão foi instituída em 1908, tornando-se a uma das primeiras regiões demarcadas de vinhos não licorosos da Península Ibérica.

Pela qualidade dos seus vinhos, a região do Dão é conhecida como a Borgonha Portuguesa. Os vinhos produzidos no Dão são gastronômicos, com excepcional acidez, trazendo aromas complexos e delicados. Esse caráter de complexidade, elegância, maturidade e equilíbrio, com excelente potencial de amadurecimento, de forma nobre e harmoniosa, criaram a combinação perfeita com a gastronomia local, atraindo a atenção dos apreciadores de vinho do mundo todo. A Região Demarcada do Dão possui 376 mil hectares, dos quais 20 mil hectares são destinados exclusivamente às vinhas, abrigando vários distritos, como Coimbra, onde se localizam Arganil, Oliveira do Hospital e Tábua; Guarda, onde estão Aguiar da Beira, Fornos de Algodres, Gouveia e Seia; e Viseu, onde se concentram Carregal do Sal, Mangualde, Mortágua, Nelas, Penavaldo, Castela, Santa Comba Dão e Sátão.

Dão

A Região Demarcada do Dão é caracterizada por um relevo acidentado, com solo predominantemente granítico e possuindo terroir e clima propícios para a produção de boas uvas, principalmente devido à sua larga amplitude térmica.

O Dão é o berço da Touriga Nacional, famosa uva de Portugal e uma das principais componentes do vinho do Porto. De tão marcante que é, os vinhos da região demarcada devem ter, segundo a regulamentação vigente, no mínimo, 20% de Touriga Nacional em sua composição. Mas além da Touriga Nacional, que é a mais nobre, outras variedades são cultivadas, tanto tintas quanto brancas.

As tintas

Alfrocheiro: segundo especialistas, essa variedade contribui para o equilíbrio entre a acidez e a doçura do vinho dão.

Aragones: também conhecida como Tinta Roriz, essa cepa confere potencial de guarda ao vinho (uma das principais características do vinho do Dão), além de dar equilíbrio entre corpo e a acidez.

Jaen: essa variedade é geralmente usada para trazer aromas para o vinho, pois tem um perfume intenso e, ao mesmo tempo, delicado.

As brancas

Encruzado: é a casta branca mais valorizada da região, que produz vinhos frescos e que, apesar disso, tem potencial para envelhecimento.

Malvasia fina: outra casta branca cultiva na região, de aromas simples.

Touriga Nacional: a rainha tinta portuguesa

Sua baixa produtividade natural quase lhe custou a sobrevivência no território quando uma praga chamada filoxera arrasou com as plantações europeias em meados do século XIX. Nesse momento, muitos produtores portugueses decidiram replantar seus vinhedos com variedades que produzissem mais. Felizmente para a vitivinicultura mundial, a Touriga Nacional sobreviveu em regiões como o Douro e o Dão e, em tempos de moderna vitivinicultura, já na segunda metade do século XX, ganhou novo vigor, com os enólogos e agrônomos tendo maior entendimento de suas características e trabalhando para, pouco a pouco, melhorar sua produtividade sem descaracterizá-la.

Uma das referências mais antigas à Touriga Nacional está no livro “O Portugal Vinícola”, lançado no século XIX pelo renomado agrônomo português Cincinnato da Costa, onde ele diz que nos anos de 1800, quase todos os vinhedos do Dão eram plantado com esta variedade, a porcentagem chegava a 90% do total das terras plantadas.

Suas qualidades, no entanto, só foram ser reconhecidas nacional e internacionalmente há pouco tempo. Por ser uma uva nobre, e, portanto, de produção reduzida, até 1980 ela era preterida por outras castas portuguesas de maior produção. Só quando os consumidores e produtores de vinho em Portugal começaram a exigir uma produção de qualidade superior em vez da primazia da quantidade em larga escala é que a Touriga ganhou novo status. A Touriga Nacional também é conhecida como Tourigo, Mortágua, Preto Mortágua ou Elvatoiriga. Preto de Mortágua é o nome de uma pequena e antiga vila na zona do Dão. Isso combinado com o fato de outro vilarejo da região ser chamado de Tourigo reforça a ideia de que essa casta existe por lá há muitos séculos.

O que os cientistas são capazes de comprovar com maior facilidade é que dela são derivadas as variedades conhecidas como Touriga Fina e Touriga Macho. No entanto, seu parentesco com a Touriga Franca (conhecida como Touriga Francesa até a virada deste século) é impreciso. Não se sabe se a Franca é uma subvariedade (ou mutação) da Nacional ou uma combinação da Nacional com outra uva.

Os cachos da Touriga Nacional são delicados e compactos. Seus bagos são pequenos, com formato arredondado, bem definido e coloração negro azulada. Sua pele tem boa espessura, o que ajuda na obtenção de cores intensas. Sua polpa é rígida e suculenta. Seu aroma é profundo, variando entre o floral e o frutado, mas característico, e inconfundivelmente nobre. Assim, em poucas palavras, pode-se definir os aspectos físicos da nobre uva portuguesa.

Roda de aromas da Touriga Nacional

Apesar de fértil, ou seja, se adapta bem a diversos terrenos, a Touriga tem baixa produtividade devido ao seu caráter de elevado vigor fisiológico. Seu cultivo exige cuidados especiais, já que sua maturação é intermediaria; virtudes como rusticidade e forte resistência a pragas, entretanto, fazem dela uma casta especial.

A Touriga Nacional é versátil e produz vinhos diversos, mas sempre elegantes. Bom teor alcoólico, ótima concentração de cor, elevada complexidade, taninos finos, sabores intensos, volume, equilíbrio e aromas florais distintos são características comuns a vinhos elaborados com esta cepa. Espumantes, tintos secos finos, vinhos licorosos – são variados os gêneros da bebida dos deuses que essa uva é capaz de resultar. O potencial de guarda das bebidas produzidas com a uva símbolo de Portugal é excelente, elas evoluem em garrafa com bastante desenvoltura. O estágio em madeira de carvalho, por outro lado, lhe dá mais qualidades aromáticas e melhora sua estrutura, além de arredondar seus taninos com maior velocidade, o que torna a bebida pronta para consumo em pouco tempo.

E agora o vinho!

Na taça apresenta um rubi intenso, brilhante e com bordas violáceas, mostrando uma boa formação e concentração de lágrimas finas que desenham as paredes do copo.

No nariz tem a predominância de frutas vermelhas frescas groselha, cereja e framboesa, com toques de especiarias, pimenta talvez, e notas florais típicas da casta, de flores vermelhas que entrega um aspecto de frescor ao vinho.

Na boca se reproduz as notas frutadas, como no aspecto olfativo, sendo macio, redondo e muito equilibrado com taninos presentes e elegantes, com uma acidez equilibrada e notas tostadas, a madeira muito bem integrada ao conjunto do vinho. Passou 6 meses por barricas de carvalho.

O Cova do Frade Touriga Nacional não tem o peso de um Touriga amadeirado, com a robustez costumeira, mas isso não descaracteriza, em momento algum, o vinho e as essências da casta não ficam em segundo plano, muito pelo contrário. As notas frutadas, o toque floral, a marcante personalidade está lá para deleite de nossas mais fiéis expressões sensoriais. Um belo vinho que entregou muito além do que valeu e ainda teve a Touriga Nacional oriunda das terras do Dão, das valorosas terras do Dão que, a cada dia, nos brinda com grandes e satisfatórias revoluções em seu terroir! Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Ferreira Malaquias:

A Ferreira Malaquias, foi fundada em 1896, é uma empresa familiar, e está presente no negócio do vinho a quatro gerações, e sempre soube ao longo da sua história renovar o seu compromisso e dedicação, através de uma visão de longo prazo.

Fundada por José Ferreira Malaquias em 1896, já no final do século XIX  se afirmava como  um comerciante e exportador de vinhos de sucesso, com a sua atividade de comercialização de vinhos de lote da região do Dão.

Num passado recente a Ferreira Malaquias, cumpriu um vasto plano de investimento, com a visão de apresentar ao mercado, nacional e exportação, vinhos de qualidade e  caráter, com diferentes estilos e absoluto respeito pelo “terroir” de origem.

Hoje têm no seu portfólio, as mais reconhecidas regiões vitivinícolas de Portugal - Vinhos Verdes (Minho), Douro, Alentejo e Tejo, e continuando a sua histórica ligação, que vem desde a sua fundação, aos vinhos da região do Dão.

O ano de 2013, fica marcado pelo reforço de investimento na enologia, com a entrada de um prestigiado grupo de enólogos, que veio revolucionar com conhecimento, detalhe e tecnologia, todos os  vinhos da Ferreira Malaquias, expressão maior de toda a arte de construir os melhores blends e revelar a personalidade de cada região.

Acrescentar diferencial na qualidade em todas as suas marcas, tem sido confirmado, de forma sistemática, pelo reconhecimento do mercado interno e exportação, e atribuição de múltiplos prémios a nível internacional.

Mais informações acesse:

https://ferreiramalaquias.pt/

Referências:

“Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/regiao-do-dao-portugal/

“Clube Vinhos Portugueses”: https://www.clubevinhosportugueses.pt/turismo/caraterizacao-da-regiao-do-dao-2/

“Winer”: http://www.winer.com.br/vinho-dao/

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=CAMPANHA

“Vinhos da Campanha”: https://www.vinhosdacampanha.com.br/campanha-gaucha/

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/touriga-nacional-o-tesouro-nacional-portugues_11850.html

“Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/touriga-nacional-a-nobre-uva-portuguesa/

Degustado em: 2020

 

 








domingo, 6 de junho de 2021

Grifone Sangiovese 2018

 

O que vem a cabeça quando falamos dos vinhos italianos, da cultura vitivinícola italiana? Na realidade muita coisa, muitas castas, muitos tradicionais rótulos e regiões vêm à mente, mas não há como não se lembrar da Sangiovese! Um enófilo que se preze não pode passar pela vida e degustar um rótulo que leve a Sangiovese, seja no clássico Brunello de Montalcino, nos grandes Chiantis ou aqueles vinhos mais jovens e diretos que traz um aroma frutado, perfumado.

Não há dúvida de que temos várias outras cepas importantes que faz da Itália um polo importante da história mundial do vinho, mas a Sangiovese é um “produto” de exportação do país para todo o planeta, não há como dissocia-los. Em todos os cantos da Itália a Sangiovese figura, mas é na Toscana que ela reina absoluta. Mas foi em outra emblemática região italiana, terra das castas Negroamaro e Primitivo, que eu decidi degustar o meu primeiro rótulo da Sangiovese: Puglia ou Apúlia.

E nada foi pensado, nada foi milimetricamente refletido para chegar a esse rótulo da tradicional e centenária família Castellani. Estava eu, mais uma vez, fazendo as minhas incursões pelos supermercados e, olhando despretensiosamente as gôndolas dos vinhos, sem muita expectativa de encontrar um rótulo atraente, sobretudo no quesito custo X benefício, quando avistei um rótulo vermelho, mas discreto e austero remetendo as tradições italianas e, quando tive a garrafa em minhas mãos, observei que era um Sangiovese italiano da região de Puglia.

Logo pensei: Deve ser caro, afinal um famoso Sangiovese da Velha Bota, deve doer ao bolso, mas, talvez com um pouco de esperança decidi averiguar o preço, que no primeiro olhar, tive dificuldades de encontrar. Localizei e quando olhei com mais detalhe percebi o excelente valor de R$ 29,90! Certamente estava na promoção e me senti na obrigação de fazer a aquisição. Sem contar que, ainda no local, descobri que se tratava de um rótulo da Castellani o que facilitou, ainda mais, pois já havia degustado um vinho do referido produtor da famosa linha Ziobaffa, o Ziobaffa Sangiovese e Syrah da safra 2015, entre outros rótulos que abrilhantam a minha humilde adega que, espero em breve, ter o prazer de degusta-los.

O vinho que degustei e gostei, como disse, veio da excelente região de Puglia e se chama Grifone, da casta Sangiovese (100%) da safra 2018. E para não perder o ritmo, já que mencionei Puglia e Sangiovese, região e casta que compõe esse surpreendente e belo vinho, falemos um pouco da história de ambos.

Sangiovese: a rainha italiana

Algumas teorias em torno da origem da casta datam seu cultivo desde a vinicultura romana, e parte disso se dá por conta do nome dela. Sangiovese vem do latim “Sanguis Jovis”, ou seja, sangue de Júpiter. Outros garantem que ela já existia desde a civilização Etrusca, que viveu onde hoje é a Toscana entre 1.200 e 700 a.C. De qualquer maneira, o primeiro documento encontrado a respeito da uva é de 1590, na própria Toscana. Seu reconhecimento, no entanto, só aconteceu depois do século XVIII, quando passou a ser uma das castas mais plantadas da região, onde encontra condições perfeitas de crescimento.

Foi na Toscana que, em meados do século XIX, o agricultor Clemente Santi isolou suas vinhas para uma prática pouco comum na época: fabricar vinhos varietais de Sangiovese, que envelheceriam por um período considerável. Em 1888, seu neto Ferruccio Biondi-Santi, um veterano soldado que lutou ao lado de Giuseppe Garibaldi, lançou a primeira versão moderna do Brunello di Montalcino, um vinho que descansou por mais de uma década em barris de madeira. O vinho agradou tanto os toscanos que, nas primeiras décadas do século XX, já era aguardado ansiosamente por críticos e consumidores locais. Ao redor de 1950, a fama do Brunello extrapolou os limites italianos e fez dele um fenômeno mundial. A guinada final da Sangiovese foi dada nos anos 1960 e 70, quando aconteceu uma revolução enológica que deu origem aos chamados Supertoscanos.

Nessa época, os vinhos mais importantes da região eram largamente conhecidos, mas não reconhecidos. Alguns vinicultores acreditavam que as regras de produção estabelecidas os impediam de fazer um vinho de maior qualidade, utilizando, além da Sangiovese, uma pequena porcentagem de castas internacionais e técnicas mais modernas. Eles então se “rebelaram” e passaram a produzir vinhos da maneira que achavam certo, sem se importar com as regras que lhes garantiam o selo DOC. O resultado foram vinhos de alta qualidade e preço, que mais tarde ficaram conhecidos como Supertoscanos.

A Sangiovese é cultivada em cerca de 100 mil hectares (o que corresponde a quase 10% de toda a área plantada dos páis) e contribui com 15% dos vinhedos que resultam em vinhos DOC. Ela é cultivada em 18 regiões, 70 províncias e dá origem a mais de 190 tipos de vinho diferentes. Os italianos gostam de pensar que a casta é o equivalente italiano à Cabernet Sauvignon, tanto por seu potencial de envelhecimento quanto pela versatilidade, uma vez que se dá bem tanto em vinhos varietais quanto em grandes blends. Em sua casa, na Toscana, em seu estilo mais tradicional, a uva – de cor rubi intensa e cachos bem carregados – dá origem a vinhos herbáceos e com sabores de cereja, além de ter acidez alta e taninos marcantes. Por isso, pode envelhecer por anos, como é o caso dos Brunello di Montalcino.

os vinhos produzidos com a Sangiovese são tintos, com estrutura tânica de média a forte e corpo médio.

A uva Sangiovese também é conhecida por proporcionar uma boa expressão de frutas (como morangos, mirtilo, ameixas e cerejas, por exemplo), especiarias e notas herbáceas e nos grandes vinhos envelhecidos a baunilha e o tabaco. Possuem acidez elevada, equilíbrio e os taninos firmes garantem um final elegante ao sabor.

Puglia: Uma das gigantes da Itália

O nome Puglia vem do povo Iapigi, que os romanos em latim chamaram de Apuli, e a região, consequentemente, Apulia.  Em português o nome se manteve como em latim, e em italiano passou a ser Puglia. Puglia fica no “calcanhar da bota” do mapa italiano. A região é cercada por praias consideradas as mais lindas da Itália, como Torre dell’Orso, um balneário italiano de pequenas falésias que moldam e encantam as areias de seu litoral. Outro destaque da região é a cidade de Otranto, a maior dessa parte do litoral, que possui sítios históricos, que nos remetem a era da Itália medieval e ainda mantém algumas ruínas greco-romanas.

Puglia, Itália

O sul da Itália é considerado o berço do vinho italiano. Embora a região setentrional também possua seu prestígio, as regiões que compreendem a parte sul, Molise, Campânia, Basilicata, Calábria e Puglia, são destaque na produção e qualidade dos famosos vinhos italianos, sendo Puglia a região considerada principal, não somente pela grande produção de seus vinhedos, como também pela qualidade dos vinhos. Puglia possui uma extensão de aproximadamente 400 km através da costa do mar Adriático, com clima e solo considerado ideal para a produção de vinhos, além da topografia da região ser praticamente plana. Puglia possui uma área de vinhedos de 190.000 ha, a região é responsável por 17% da produção de vinho italiano. Em Puglia, 60% da produção se dão através do sistema de cooperativas.

A região tem ampla diversidade de uvas nativas, que conferem status quando o assunto é exportação. Ao norte da região as uvas mais abundantes são a Trebbiano e a Sangiovese e os vinhos gerados a partir dessas espécies respondem por até 30% dos vinhos DOC produzidos na região. Há ainda as uvas Bombino Bianco e Montepulciano, oriundas da província de Foggia, e a “Uva di Troia” ou Sumarello. As que possuem maior destaque na região são a Primitivo e a Negroamaro.

Puglia DO

A uva Primitivo é proveniente de Manduria, localizada ao sul da região, a 10km do mar Jônio. Normalmente, os vinhos dessa uva possuem corpo denso e médio, cor escura e acidez entre média e alta, de boa longevidade e excelentes companheiros na gastronomia da região. A uva Negroamaro é utilizada para a produção de vinhos bastante rústicos. Atualmente é trabalhado em conjunto com a Malvasia Negra, o que resulta na produção de vinhos muito fortes e bem encorpados, considerados ideais para o consumo com carne.

E agora o vinho!

Na taça tem um rubi intenso, quase escuro, com entornos violáceos. Uma cor muito brilhante, reluzente e vívido, com média concentração de lágrimas, mas que demora a se dissipar, desenhando as paredes do copo.

No nariz um “mix” de frutas vermelhas maduras e frutas pretas tais como framboesa, cereja, ameixa, além das especiarias, o toque da pimenta, algo picante, diria.

Na boca é seco, de leve para médio, a personalidade da Sangiovese, mesmo com uma proposta jovem se faz presente, graças aos toques de couro, ouso dizer até de tabaco, aquela participação rústica típica da cepa, com a reprodução das notas frutadas percebidas no aspecto olfativo, com taninos discretos, macios, com uma alta acidez. Um final de média persistência.

Na terra da Primitivo e Negroamaro a Sangiovese também se revelou neste belíssimo e surpreendente rótulo. Puglia ainda é capaz de me entregar grandes surpresas, grandes rótulos e eternas e doces novidades. Um terroir digno de reverências e que entrega a Sangiovese um mix muito interessante de frutas vermelhas, pretas e silvestres, com notáveis toques de especiarias, de pimenta, um discreto toque terroso, que faz deste exemplar de Sangiovese da região de Puglia, das minhas preferidas da Itália, um vinho de personalidade marcante, mas muito macio e fácil de degustar. Um clássico Sangiovese italiano, que traz toda a tipicidade de suas terras, mas que traz também um conceito bem contemporâneo de um vinho jovem, informal e despretensioso. Belo vinho com a cara e o DNA da Itália. Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a vinícola Castellani:

O negócio de Castellani foi estabelecido em Montecalvoli no final do século 19 quando Alfred, um viticultor de longa data, decidiu começar a engarrafar e vender seu vinho. O filho de Alfredo, Duilio, junto com seu irmão Mario dá início ao período de expansão da empresa. Duilio, homem meticuloso e diligente, participa ativamente de todas as etapas do trabalho. A vinha mais importante é aquela situada em Santa Lúcia, no fértil vale do Arno, onde se produz um vinho tinto vivo e apto para envelhecer e engarrafado em típicos frascos com palha, conquistando o interesse dos mercados transalpinos. Nos anos seguintes, o filho primogênito de Duilio, Giorgio, homem determinado e ambicioso, inicia a exportação em grande escala. A enchente de 1966 causa grandes danos à vinícola Montecalvoli. Decide-se então transferir temporariamente o negócio para a Fazenda Burchino, nas colinas da vila de Terricciola. O irmão de Giorgio, Roberto, brilhante jornalista do jornal “Il Giornale del Mattino”, de Florença, corre para ajudar a retirar lama da vinícola da família. Ele então decide ficar e contribui para a evolução da empresa. Roberto, homem culto e cosmopolita, inicia uma atividade pioneira em mercados longínquos, tornando-se um dos defensores do sucesso internacional do Chianti. A aquisição da vinha Poggio al Casone coincide com a ampliação da adega da Quinta Travalda em Santa Lúcia. urante a noite do dia de Ano Novo em 1982, um incêndio queimou quase completamente as instalações da empresa. Parece ser o fim. Mas em poucos meses os irmãos Castellani adquirem a Fazenda Campomaggio e, graças à contribuição de Piergiorgio, filho de Roberto, o negócio ganha força. As pesquisas vitivinícolas e tecnológicas são promovidas por especialistas como o enólogo Sabino Russo e o agrônomo Carlo Burroni. Hoje esta empresa centenária persegue com grande entusiasmo o objetivo de produzir vinhos, que são a expressão de uma das maiores regiões enológicas do mundo: a Toscana. 

Mais informações acesse:

https://www.castelwine.com/

Referências:

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/sangiovese-uva-icone-da-toscana_11856.html

Blog “Sonoma”: https://blog.sonoma.com.br/regioes/puglia-uma-das-maiores-da-italia/

Blog “Diário de Bari”: http://diariodebari.blogspot.com/2011/12/puglia-um-pouco-de-historia.html

Portal “Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/vinhos-de-puglia-o-berco-dos-vinhos-italianos/

“ViaVini”: https://www.viavini.com.br/blog-de-vinhos/uva-sangiovese-conheca-os-segredos-da-rainha-dos-vinhos-italianos/





 


sábado, 5 de junho de 2021

La Moneda Reserva Malbec 2018

 

Com a degustação de hoje alguns tabus que insistem em circular no universo do vinho cairão! Falo com eloquência e convicção porque é preciso e urgente. Visões pré-concebidas, equívocos históricos e até comportamentos intolerantes e depreciativos precisam cair por terra, afinal, vinho é sinônimo de prazer, alegria e celebração e não pode e nem deve estar atrelado a questões e sentimentos tão mesquinhos e pequenos. Temos um, “menos brando” e que está no campo dos equívocos é que Malbec bom tem de ser argentino e pesadão, encorpado e amadeirado. É, de fato, indiscutível que o melhor Malbec do planeta está localizado na emblemática região de Mendoza, na Argentina, é sabido também que um Malbec encorpado, com passagem por barrica de carvalho também é maravilhoso.

Mas por que não degustarmos um Malbec de outro país e que não seja tão barricado e que plenamente valorize as características mais genuínas da cepa, um vinho franco, frutado, sem muita complexidade. Já experimentou? Já tentou? Pode parecer difícil encontrar vinhos Malbec com essa proposta e é mesmo, afinal é mais prático e “seguro” encontrar aquele Malbecão potente e amadeirado, mas quando se tem dedicação em garimpar e conhecer as características de um Malbec mais direto e frutado, jovem e se essas se identificam com você, com o que você está procurando no momento, eu vos digo: Por que não?

Infelizmente o vinho no Brasil está ligado a status e poder e um Malbec, sempre famoso, amadeirado é mais caro e aquele mais em conta sempre são taxados de simplórios e inexpressivos, mas é uma pena que ainda o dito apreciador de vinho não tenha a capacidade de discernir que são propostas, simplesmente propostas. Mas o Malbec que degustei vem do Chile, sim, do Chile! Confesso que, quando o comprei, eu não sabia que havia produção de rótulos dessa casta em profusão no Chile e logo me interessou e é um vinho que, apesar de ostentar em seu rótulo o “reserva”, este não passou por barrica de carvalho. Arrisquei, sem medo algum, até porque também o valor estava muito convidativo, em torno de R$ 32,00! Porém confesso também que o que mais me chamou a atenção também foi um prêmio que esse vinho conquistou em Londres, na sua safra de 2015, como um dos melhores vinhos mais baratos do mundo! Não ligo para medalhas e prêmios, afinal degusto o vinho e não pontuações, mas não há como negligenciar esse reconhecimento.

Então é chegada a hora de apresenta-lo! O vinho que degustei e gostei veio da essencial região chilena do Valle Central e se chama La Moneda Reserva da casta Malbec e a safra é 2018. E para coroar os seus predicados (e que qualidades, trata-se de um excelente vinho barato) pertence a um dos meus produtores preferidos a Viña Luis Felipe Edwards que, a cada ano, cresce vertiginosamente se tornando uma das mais importantes vinícolas do Chile e do mundo e o La Moneda Malbec sintetiza isso com extrema fidelidade.

E antes de falar propriamente do vinho falemos do importante prêmio que este ganhou, a safra de 2015 que, quando descobri e fui a busca para tentar adquirir a referida safra, infelizmente cheguei um pouco tarde tendo a safra 2018 disponível para venda, mas que não me arrependi nem um pouco de compra-lo. O La Moneda Reserva Malbec conquistou o título de título de Platinum Best in Show no ano de 2015 no Decanter World Wine Awards, promovida pela respeitada revista britânica Decanter, onde mais de 200 especialistas experimentaram milhares de vinhos (sempre às cegas), despindo os preconceitos de que valores de vinho nem sempre está ligado à qualidade.

Um vinho com a assinatura da Luis Felipe Edwards, com a tipicidade de uma das regiões chilenas mais emblemáticas, uma das minhas favoritas e que não me canso de falar; Valle Central! E já que não me canso de falar, que as linhas da história do Valle Central apareçam!

Valle Central: o centro vitivinícola do Chile

Valle Central, ou Central Valley como é conhecida, é uma região vinícola do Chile, estando entre uma das mais importantes áreas produtoras de vinho de toda a América do Sul, em termos de volume. Além disso, o Central Valley é uma das regiões que mais se destaca com relação a extensão, indo desde o Vale do Maipo até o final do Vale do Maule. Uma ampla variedade de vinhos é produzida na região, elaborados a partir de uvas cultivadas em diferentes terrenos. Tal exemplar vão desde vinhos finos e elegantes, como os produzidos em Bordeaux, até os vinhedos mais velhos e estabelecidos em Maule. A região do Valle Central é também lar de diversas variedades de uvas, porém, as plantações são ocupadas pelas castas Cabernet Sauvignon, Sauvignon Blanc, Merlot, Chardonnay e Syrah. A uva ícone do Chile, a Carmenère, também é importante na região, assim como a Malbec é referência em Mendoza, do outro lado dos Andes. As áreas mais frias do Central Valley estão ganhando cada vez mais destaque perante o mundo dos vinhos, onde são cultivadas as uvas Riesling, Viognier e até mesmo a casta Gewürztraminer. O Central Valley é dividido em quatro sub-regiões vinícolas, de norte a sul, cada qual com características e diferenças marcantes. O Maipo é a sub-região mais histórica do país, onde as vinhas são cultivadas desde o século XVI, abrigando as videiras mais antigas existentes na região. O Rapel Valley é lar das tradicionais sub-regiões Cachapoal e Colchagua, enquanto Maule Valley é uma das sub-regiões vinícolas mais prolíferas de toda a América do Sul. Por fim, a última sub-região Curico Valley foi a pioneira no cultivo vinícola na década de 1970, onde Miguel Torres deu início a vinicultura moderna.

Valle Central

A Cabernet Sauvignon pode ser cultivada com sucesso tanto no Vale do Maipo quanto no Vale de Rapel, cada um por um motivo diferente. No Vale de Rapel, a presença de um solo rochoso e com baixa atividade freática (pouca disponibilidade hídrica) aliado à alta taxa de amplitude térmica (diferença entre a maior e a menor temperatura nessa área em um dia) vai favorecer o grau de maturação da Cabernet Sauvignon, aprofundando seu sabor. Essa parte do vale, portanto, produz uvas com um sabor mais profundo e maduro. Já a Cabernet Sauvignon que é cultivada no vale do Maipo (de onde provém mais da metade da produção dessa cepa) conta com a influência direta do Rio Maipo. Onde as águas do rio servem para regular a temperatura e fornecer a irrigação dos vinhedos. E para não deixar de destacar a área a sotavento da Cordilheira da Costa, o Vale do Curicó possui um clima quente e úmido, já que todo o ar frio é impedido de passar pela barreira natural da montanha. Quem se beneficia com isso é a produção de Carménère, que por tamanha perfeição em seu desabrochamento são conhecidos por todo o mundo, não sendo surpresa o fato de que somente desse Vale derivem vinhos para mais de 70 países ao redor do mundo. Em outras palavras, o Vale Central se constitui como uma mina de ouro de cepas premiadas e irrigadas com tradição centenária. O Valle Central é uma área plana, localizada na Cordilheira Litoral e Los Andes, caracterizada por seus interessantes solos de argila, marga, silte e areia, que oferece ao produtor uma extraordinária variedade de terroirs. Excepcionalmente adequada para a viticultura, o clima da região é mediterrâneo e se traduz em dias de sol, sem nuvens, em um ambiente seco. A coluna de 1400 km de vinhas é resfriada devido à influência gelada da corrente de Humboldt, que se origina na Antártida e penetra no interior de muito mais frio do que em águas da Califórnia. Outra importante influência refrescante é a descida noturna do ar frio dos Andes.

E agora o artista do espetáculo: o vinho!

Na taça entrega um rubi intenso, profundo, mas tem entornos violáceos que brilha reluzente, com lágrimas grossas e abundantes que logo se dissipam das paredes do copo.

No nariz traz a exuberância de frutas negras como ameixa, amora e cereja negra e especiarias, diria com um toque herbáceo, talvez pimentão, que é o destaque nesse aspecto do vinho.

Na boca é seco, saboroso, um bom volume em boca, que traz a sensação de alguma estrutura, mas muito fácil de degustar, sendo equilibrado, harmonioso, com taninos polidos, macios e uma acidez equilibrada que garante ao vinho um frescor e vivacidade. Tem um final curto.

Vamos nos despir de preconceitos, de visões pré-concebidas que nos impede de descobrir novos rótulos, novas experiências sensoriais. Não mensure a qualidade de vinho por preço, não o utilize como status econômico e social, se permita degustar novas propostas, novas regiões, novas castas, leia, se informe, busque as informações que, além do ganho cognitivo, trará novas opções de rótulos, de vinhos, de prazer! É isso: prazer! Vinho é saúde, prazer e celebração! O La Moneda Reserva proporciona tudo isso: prazer, estímulo a celebração e derruba alguns dos grandes tabus que ainda insistem em assombrar o universo do vinho: um vinho barato, frutado no aroma, saboroso no paladar, com alguma estrutura, créditos da Malbec, mas fácil de degustar, fazendo do mesmo um vinho versátil e ideal para degustar de forma despretensiosa, rodeada de amigos, mas imponente como todo o Malbec é e tem de ser. Imponente por ser expressivo, pelo fato de fidelizar as características essenciais da cepa. Teor alcoólico de 12,5%.

Sobre a Viña Luis Felipe Edwards:

A Viña Luis Felipe Edwards foi fundada em 1976 pelo empresário Luis Felipe Edwards e sua esposa. Após alguns anos morando na Europa, o casal decidiu retornar ao Chile e, ao conhecer terras do Colchágua, um dos vales chilenos mais conhecidos, se encantou. Ali, aos pés das montanhas andinas, existia uma propriedade com 60 hectares de vinhedos plantados, uma pequena adega e uma fazenda histórica que, pouco tempo depois, foi o marco do início da LFE. De nome Fundo San Jose de Puquillay até então, o produtor, que viria a se tornar uma das maiores vinícolas do Chile anos mais tarde, começou a expandir sua atuação. Após comprar mais 215 hectares de terras no Vale do Colchágua nos anos de 1980, começou a vender vinho a granel, estudar a fundo seus vinhedos e os resultados dos vinhos, e cultivar diferentes frutas para exportação. O ponto de virada na história da Viña Luis Felipe Edwards veio na década de 1990, quando Luis Felipe Edwards viu a expectativa do mercado sobre os vinhos chilenos. Sabendo da alta qualidade dos rótulos que criava, o fundador resolveu renomear a vinícola e passou a usar o seu próprio nome como atestado de qualidade. Após um período de crescimento e modernização, especialmente com o início das vendas do primeiro vinho em 1995, a LFE se tornou um importante exportador de vinho chileno no começo do século XX. A partir de então, o já famoso produtor começou a adquirir terras em outras regiões do país. Na busca incessante por novos terroirs de qualidade, ele encontrou no Vale do Leyda um dos seus maiores tesouros: 134 hectares de videiras plantadas em altitude extrema, a mais de 900 metros acima do nível do mar.

Mais informações acesse:

https://www.lfewines.com/

Referências:

“Portal Vinci”: https://www.vinci.com.br/c/regiao/valle-central

“Portal Winepedia”: https://www.wine.com.br/winepedia/enoturismo/valle-central-chile/

“Portal Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/186-o-vale-central-no-chile-ponto-de-encontro-de-vinhos-reconhecidos-mundialmente