segunda-feira, 23 de agosto de 2021

Traversa Tannat Roble 2018

 

O que te lembra quando se menciona o Uruguai? Claro! A Tannat! Não há como negligenciar essa perfeita combinação. O que te lembra do legítimo Tannat uruguaio quando falamos em harmonizar com comida. O famoso e único churrasco! Aquela carne suculenta, para alguns sagrando, com um belíssimo Tannat encorpado, transbordando em taninos (A propósito a palavra “Tannat” vem de taninos) de preferência com uma passagem por barricas de carvalho é a harmonização certeira e maravilhosa.

Acreditem caros leitores, que não é apenas com aquela cerveja gelada que o churrasco harmoniza, embora seja popular em nossas terras naquele dia ensolarado em um domingo reunido com a família e amigos, mas o vinho também harmoniza, sobretudo os rótulos com a casta Tannat.

E não se enganem de uma coisa: pode parecer conversa de um enófilo, uma afirmação um tanto quanto movida pela influência do amor pela nossa poesia líquida, mas o vinho é ainda melhor com o churrasco de domingo do que aquela cerveja trincando de gelada. Nada contra a cerveja, mas com ela ficamos excessivamente “cheios” e não conseguimos aproveitar plenamente, já o vinho, não.

Se permita a experiência de degustar, não apenas um Tannat, mas as castas encorpadas e taninosas, como a Cabernet Sauvignon, Malbec, Cabernet Franc, de preferência com passagem por barricas de carvalho que traz a estrutura, a complexidade necessária para “aguentar” as carnes do seu churrasco.

E hoje, confesso que não estava no roteiro, mas o domingo nasceu particularmente agradável, o sol reinando brilhante, mas sem aquele calor incômodo e, com a família reunida, foi decidido que seria dia de churrasco! Então olhei para a minha adega e vi que havia guardado um Tannat uruguaio para esse momento. Eu gostaria de experimentá-lo e ver se ele tinha “pegada” para aguentar as carnes e iguarias de um típico churrasco brasileiro.

Bem o produtor é muito bom, já havia degustado outros rótulos fantásticos e surpreendentes da Família Traversa, de Montevidéu, e verdadeiramente me rendido aos encantos de seus rótulos e da bebida represada nas suas garrafas. E de imediato recomendo o Traversa Chardonnay 2018, o Traversa Merlot 2019 e o grande Traversa Tannat e Merlot Roble 2016.

As carnes tiveram seu contato com o fogo, já estavam quase no ponto. Esperei! Gostaria de abrir o vinho quando ela estivesse pronta para o “abate”. Pronto! O vinho, na temperatura correta, aguardava inundar a taça o que imediatamente aconteceu. O degustei, estava ótimo! Mais uma vez a Família Traversa não me decepcionou! E o que dizer com a harmonização? Deu certo! Estava maravilhoso! Que momento sublime, as experiências sensoriais estavam no auge, era o ápice!

Não vou mais ficar no mistério, como dizia dona Milú, e direi o vinho que degustei e gostei que veio do Uruguai, da região de Montevidéu, e se chama Traversa Roble Tannat (100%) da safra 2018. Como que um país tão pequeno e tão vilipendiado no Cone Sul, infelizmente, é tão representativo na produção desta nobre cepa, a boa e velha Tannat?

Tannat e Churrasco? Tannat e churrasco!

Quando se fala em vinho sul-americano a imagem que vem à cabeça é um chileno ou um argentino, respectivamente o primeiro e segundo maiores exportadores da bebida para o Brasil, com 34,38% e 26,54% do mercado, em volume. Cabe ao Uruguai, a posição de primo pobre, com a sétima posição, com apenas 1,70% das prateleiras.

Mas apesar da pequena presença no imaginário do consumidor, o Brasil é um parceiro importante da indústria vinícola uruguaia. Mesmo assim, talvez você nunca tenha provado um tinto uruguaio, ou, no mínimo, não é esta sua primeira opção. Pois saiba que pode estar perdendo um ótimo parceiro para o churrasco, o tinto feito com Tannat.

Se a Malbec dança tango na Argentina e a Carmenère sobe as cordilheiras do Chile, a Tannat é a representante legítima deste pequeno país de apenas 176 quilômetros quadrados. 32,2% da produção das uvas viníferas são desta variedade francesa, que assim como suas primas latino-americanas encontrou em solo uruguaio sua melhor expressão.

A origem é da região de Madiran, no sudeste da França. Curioso isso, algumas variedades esquálidas no velho mundo acabam mostrando sua musculatura na América do Sul. O responsável pela introdução da variedade no Uruguai foi Don Pascual Harriague, em 1870, e com seu sobrenome a uva foi chamada até a década de 80, quando foi reconhecida como a Tannat francesa. Não se esquecendo também da fazendo do catalão Francisco Vidiella em Colón (Montevidéu), mas foi com Harriague que a casta ganhou projeção em terras uruguaias.

Don Pascual Harriague

Esse empresário, nascido em 1819, chegou ao Uruguai em 1840 e, após várias atividades pecuárias no país, se estabeleceu na cidade de Salto. Por volta de 1870, depois de alguns anos fazendo testes com diversas variedades de uva, ele encontrou as condições para produzir um ótimo vinho tinto com uvas Tannat. Ele apresentou esses vinhos em 1887, que receberam elogios e prêmios internacionais nas exposições mundiais de Barcelona e Paris em 1888 e 1889 Hoje já são quatro gerações de viticultores uruguaios que continuam o legado de Pascual.

Um tinto da uva Tannat tem como características a concentração: de cores, sabores, corpo e do tanino (daí nome), aquele elemento importantíssimo da uva que dá cor e uma sensação de adstringência na boca (pois tem a capacidade de coagular a saliva) que pode ser muito intensa ou bem trabalhada.

Esta é a virtude, e o pecado, da Tannat. Muita gente torce, literalmente, o nariz para a uva, pois tem na memória um vinho muito adstringente. Mas quando domado, amaciado e bem elaborado, esta característica marcante da uva ressalta suas qualidades e torna este estilo de vinho uma boa alternativa para as carnes, como as parrillas, o corte uruguaio por excelência.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta uma coloração vermelho rubi intenso e brilhante, com entornos violáceos, com uma razoável concentração de lágrimas finas e lentas.

No nariz as notas de frutas negras, como ameixa, amora e cereja negra, com agradáveis e bem integradas notas amadeiradas, graças aos 4 meses de passagem por barricas de carvalho, além da baunilha e especiarias.

Na boca é muito seco, com média estrutura, mas macio, redondo e fácil de degustar, com as frutas negras protagonizando, como no aspecto olfativo, além do discreto amadeirado, com toques de baunilha e chocolate. Tem taninos domados, acidez equilibrada e um final prolongado, persistente.

Depois dessa experiência maravilhosa não há como negar que a enogastronomia é o que há para os nossos sentidos. Há vinhos que são inseparáveis de uma boa comida. Um pede o outro, um clama pelo outro. Foi um elixir para os meus sentidos degustar esse Tannat que, apesar de não ser dos mais encorpados e com uma breve passagem por barricas de carvalho, se revelou um vinho que merece ostentar a Tannat e todas as suas mais essenciais características. Os aromas da madeira muito bem integrados ao vinho, proporcionando as notas frutadas, com toques de baunilha e chocolate promoveu um lindo casamento com as carnes de churrasco que desfilaram em meu prato, fazendo valer o clássico Tannat-Churrasco! Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a Família Traversa:

Esta empresa com as suas vastas vinhas e fábricas de processamento de vinho, conta com a presença constante da Família Traversa. Sessenta anos de muito trabalho e três gerações que sustentam a qualidade dos seus vinhos. Cada novo plantio e manutenção, processamento, embalagem e distribuição de vinho, marketing e atendimento ao cliente são sempre supervisionados por um membro da família. Assim somos e ambicionamos qualidade, e este é o resultado do nosso trabalho. A história desta família é o legado de bondade e esperança que, como no nosso caso, estamos unidos nas vinhas e há três gerações.

Em 1904, Carlos Domingo Traversa veio para o Uruguai com seus pais. Filho de imigrantes italianos, foi em sua juventude peão rural em fazendas de vinhedos, e em 1937 com sua esposa, Maria Josefa Salort, conseguiu comprar 5 hectares de terras em Montevidéu. Suas primeiras plantações de uvas de morango e moscatel foram em pequena escala. Em 1956 fundou a adega com os seus filhos, Dante, Luis e Armando, que hoje com os seus netos têm muito orgulho de continuar o seu sonho.

A atitude constante de crescimento contínuo, com dedicação e desenvolvimento levou e ainda leva a vinícola a ser um exemplo em todo o Uruguai. Em mais de 240 hectares próprios, além de vinhedos de produtores cujas safras são controladas diretamente pela empresa, obtendo assim uma grande harmonia com os vinhos e as próprias uvas. As variedades plantadas são: Tannat, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Merlot, Chardonnay e Sauvignon Blanc.

As uvas são processadas com maquinários e instalações da mais alta tecnologia. Inicia-se com um rígido controle de produção, colheita no momento ideal, plantio de leveduras selecionadas, controle de fermentação, aplicação a frio no processo de elaboração, clarificações e degustação dos vinhos para definir diferentes categorias de qualidade. Daí passa-se a armazenar em grandes recipientes de grande tecnologia, como inox, tanques térmicos, ou em barricas de carvalho americano e francês.

Mais informações acesse:

http://grupotraversa.com.uy/en/

Referências:

“Portal IG – Blog do Vinho Beto Gerosa”: https://vinho.ig.com.br/2009/03/24/tannat-o-tinto-uruguaio-que-combina-com-churrasco.html

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/historia-da-tannat-no-uruguai_12654.html

 

 

 




 


Ossa Vinhas Velhas 2019

Eu não queria incorrer na redundância, mas o Alentejo definitivamente é a grande e mais emblemática região de Portugal na produção de vinhos, ou melhor, na produção de grandes vinhos. Um país tão pequeno, geograficamente falando, mas que nos proporciona, de forma gigantesca e significativa, terroirs tão particulares e singulares uns dos outros que, apesar da minha adoração, predileção pelos alentejanos, fica difícil escolher um favorito. O que dizer do Tejo, de Setúbal, do Douro...?

Eu descobri os rótulos lusitanos por intermédio dos alentejanos, eles me desvirginaram para os portugueses. Sim! E foi maravilhoso, com o perdão da infame analogia, de imediato. Foi amor à primeira vista ou a primeira taça.

Degustar os rótulos do Alentejo é imergir fundo nos vinhos de marcante personalidade, independente de propostas que podem entregar, expressivo por natureza e a cada nova experiência eu chego a óbvia e fantástica conclusão de que há muito a se explorar neste pequeno universo, nesse pequeno pedaço de chão abençoado por deus Baco.

Em mais uma confraria com meu bom amigo de longa data Paulo Rodrigues, colocamos no nosso currículo enófilo mais um rótulo alentejano e que criamos uma grande expectativa em degustar. Esse rótulo repousava dignamente em seu merecido descanso na adega do confrade Paulo e ele, sempre muito gentil, prometeu que degustaria esse rótulo comigo, quando ele me compartilhou enviando-me o rótulo por foto.

Eu me animei e ele, taxativamente disse: “Eu vou degustar esse vinho com você!” Eu, sempre respeitando as decisões do meu grande amigo, disse que sim, que degustaríamos esse vinho juntos, sem sombra de dúvida. E esse momento finalmente chegou! Em um belo sábado a tarde, de um sol muito agradável foi o momento propício para desarrolhar esse especial garrafa de um legítimo alentejano.

E detalhe: é um vinhas velhas! Mais um atrativo para a degustação, para a celebração do Alentejo e da amizade. Então sem mais delongas tenho o prazer de dizer que o vinho que degustei e gostei veio claro, de terras alentejanas, em Portugal, e se chama Ossa Private Selection Vinhas Velhas com um interessante blend das castas: Aragonez, Alfrocheiro, Tinta Caiada e Alicante Bouschet da safra 2019. Mas antes de falar desse vinho que nos arrebatou, falemos do conceito de vinhas velhas e também, é claro, do Alentejo.

As vinhas velhas

Tem-se de destacar que não há uma regra que defina a idade para o parreiral se tornar "velho". Consensualmente trata-se que a parreira está “antiga” quando chega aos 25 anos. Para a produção de bons vinhos, muitos enólogos, no entanto, gostam da idade de 50 anos. Além de ser um número redondo, a parreira já está com todas as características necessárias para a produção de um bom vinho de vinhas velhas.

Vinhedos antigos têm grandes histórias atreladas a eles. O mais antigo da Califórnia sobreviveu a duas guerras mundiais, à Lei Seca, à Grande Depressão, ao boom do vinho branco, à mania do White Zinfandel, à Grande Recessão, principalmente porque havia famílias dedicadas a cultivar essas vinhas e porque elas produziam grandes vinhos.

Mas quais são essas características que tanto se busca em uma vinha velha? Algumas das principais:

1 - Uvas mais concentradas

Com a idade os parreirais tendem a produzir menos uvas, porém com maiores concentrações fenólicas. Substâncias responsáveis pelos aromas, sabores, cor e textura nos vinhos.

2 - As raízes estão mais profundas

Com as raízes buscando água e nutrientes de partes mais profundas do solo, a variação entre as safras é pequena e a vinha fica menos refém do clima.

3 - Maturação deixa de ser um grande problema

A maturação da uva, principalmente a fenólica, quando não acontece de uma boa maneira tende a deixar o vinho adstringente e demasiado vegetal. Produtores destacam que em vinhas velhas a maturação plena da uva é mais constantemente atingida.

A maturação da uva, principalmente a fenólica, quando não acontece de uma boa maneira tende a deixar o vinho adstringente e demasiado vegetal. Produtores destacam que em vinhas velhas a maturação plena da uva é mais constantemente atingida.

Equilíbrio e constância parecem ser as chaves para as vinhas velhas e não é à toa que os enólogos procuram vincular a elas a questão do terroir. Vinhas velhas desenvolvem uma harmonia certa e palpável com seu entorno (terroir), gerando qualidades especiais na fruta que normalmente produzem vinhos excepcionais, de grande qualidade e identidade.

Vinhos produzidos a partir de uvas colhidas de “Vinhas Velhas” têm como característica serem vinhos mais ricos e intensos. Quanto mais velha for a videira, mais profundas são as suas raízes. Raízes mais profundas alcançam camadas do solo mais preservadas e têm menor acesso à água. O rendimento da videira é menor e as uvas produzidas, com menos concorrência, têm maior concentração de aroma e sabor.

Em resumo, com o avançar da idade existe uma queda de produtividade, mas um aumento na qualidade das uvas produzidas. Estas uvas apresentam uma maior concentração de aromas e sabor, o que origina vinhos também com estas características. São também considerados vinhos que conseguem expressar de forma mais evidente o terroir da região. No entanto é preciso destacar que vinhos de “Vinhas Velhas” não é sinônimo de vinho de qualidade, ou de qualidade superior. Embora eles possuam potencial para tal, e muitos deles sejam verdadeiras preciosidades, outros fatores compõem esta equação.

Se a “Vinha Velha” não for bem cuidada, se as uvas plantadas não forem adequadas para aquela região, se o enólogo não fizer um bom trabalho de vinificação, o vinho, mesmo proveniente de uvas de “Vinhas Velhas”, não terá qualidade. Porém para a maioria dos enólogos a expectativa de vida das “Vinhas Velhas” gira em torno dos 80 anos, algumas podendo chegar até os 100 anos, mas chega a um limite em que a produção já não é economicamente viável.

Alentejo

A história do Alentejo anda de mãos dadas com a história de Portugal e da Península Ibérica, ex-hispânicos, assim como, pertencentes a época de civilizações romana, árabe e cristãs. Em muitos lugares no Alentejo encontrar provas da civilização fenícia existente à 3.000 anos atrás.

Fenícios, celtas, romanos, todos eles deixaram um importante legado da era antes de Cristo, na região que é hoje o Alentejo. Uma terra onde a cultura e tradição caminham lado a lado. Os romanos deixaram nesta região o legado mais importante, escritos, mosaicos, cidades em ruínas, monumentos, tudo deixado pelos romanos, mas não devemos esquecer as civilizações mais antigas que passaram pela zona deixando legados como os monumentos megalíticos, como Antas.

Alentejo

Após os romanos e os visigodos, os árabes, chegaram a esta terra com o cheiro a jasmim, antes da reconquista, que chegaram com a construção de inúmeros castelos, alguns deles construídos sobre mesquitas muçulmanas e a construção de muralhas para proteger a cidade e as cidades que foram crescendo. Desde essa altura até hoje, o Alentejo tem continuado o seu crescimento, um crescimento baseada na agricultura, pecuária, pesca, indústria, como a cortiça e desde o último século até aos nossos dias, com o turismo com uma ampla oferta de turismo rural.

Situado na zona sul de Portugal, o Alentejo é uma região essencialmente plana, com alguns acidentes de relevo, não muito elevados, mas que o influenciam de forma marcante. Embora seja caracterizada por condições climáticas mediterrânicas, apresenta nessas elevações, microclimas que proporcionam condições ideais ao plantio da vinha e que conferem qualidade às massas vínicas. As temperaturas médias do ano variam de 15º a 17,5º, observando-se igualmente a existência de grandes amplitudes térmicas e a ocorrência de verões extremamente quentes e secos.

Mas, graças aos raios do sol, a maturação das uvas, principalmente nos meses que antecedem a vindima, sofre um acúmulo perfeito dos açúcares e materiais corantes na película dos bagos, resultando em vinhos equilibrados e com boa estrutura. Os solos caracterizam-se pela sua diversidade, variando entre os graníticos de "Portalegre", os derivados de calcários cristalinos de "Borba", os mediterrânicos pardos e vermelhos de "Évora", "Granja/Amarelega", "Moura", "Redondo", "Reguengos" e "Vidigueira". Todas estas constituem as 8 sub-regiões da DOC "Alentejo".

E agora finalmente o vinho!

Na taça goza de um vermelho rubi intenso, mas com lindos e brilhantes reflexos violáceos, com uma boa concentração de lágrimas finas e lentas.

No nariz as notas proeminentes de frutas vermelhas maduras como cereja e groselha, por exemplo, com notas de madeira bem discretas, graças aos 9 meses de passagem por barricas de carvalho, além da baunilha e especiarias.

Na boca apresentou um vinho alcoólico no início, mas com um tempo em taça, respirou e se equilibrou, tendo média estrutura, mas muito macio e equilibrado, ao mesmo tempo, com taninos gulosos, porém domados, com uma acidez instigante. Com final curto e frutado.

Um verdadeiro e legítimo exemplar do Alentejo! O Ossa Vinhas Velhas personifica o patrimônio que as terras alentejanas representam para a vitivinicultura mundial. Um rótulo complexo, com boa estrutura, mas elegante e redondo garantido pelo tempo dessas vinhas especiais. A madeira bem integrada, para as frutas darem o seu ar da graça, o protagonismo das castas precisam sobressair. Esse é o conceito que os rótulos oriundos de vinhas velhas tem que entregar: vinhos que expressem o seu terroir, com tipicidade, com personalidade, mas a elegância e a sobriedade que só os velhos podem proporcionar. Vida longa ao Alentejo! Tem 14% de teor alcoólico muito bem integrado ao conjunto do vinho!

Sobre a Ségur Estates Vineyards:

Ségur Estates Vineyards na Wine Investments SA é uma holding, criada em 2015, que investe no setor do vinho, com sede em Portugal, É uma família francesa: os descendentes do Marquês de Ségur, proclamado pelo Rei Luís XV de França como o “Prince des Vignes” (Príncipe das Vinhas).

Com mais de 250 hectares de vinhas entre o Douro e o Alentejo, a Ségur Estates mantém um espírito de autêntico respeito pela identidade local e pelos valores da família, produzindo vinhos elaborados com dedicação.

Atualmente, o grupo produz mais de 5 milhões de litros e distribui vinho em 18 países. A abordagem adotada para o setor vitivinícola é uma presença transversal nos diversos canais, a aposta no desenvolvimento das nossas marcas e uma abordagem de mercado de acordo com as necessidades de cada mercado e cliente.

A Herdade do Monte Branco está situada no sopé da Serra d’Ossa em Redondo (Alentejo), com solos de origem granítica. A adega, na Herdade do Monte Branco, está dotada das estruturas imprescindíveis à sua atividade, ao nível da produção, controlo de qualidade, engarrafamento, armazenagem, estágio de vinhos e defesa do meio ambiente.

A Ségur Estates Vineyards na Wine Investments SA é ainda proprietária de mais duas adegas familiares de Portugal − Quinta do Sagrado e Encostas de Estremoz, respectivamente no Douro e Alentejo.

Mais informações acesse:

https://www.facebook.com/segur.estates.redondo.winery/

Referências:

“Vinho, Vida e Viagem: https://vinhovidaviagem.com.br/o-que-significa-vinhas-velhas-afinal/

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/vinhas-velhas-o-que-sao_12645.html

“Vinhos de Portugal”: https://vinhosdeportugal2021.com.br/produtor/segur/

 


 


 


 

Coq Licot Grenache, Syrah e Mourvèdre 2020

 

Atire a primeira pedra o enófilo que nunca degustou um vinho de mesa no Brasil, ou melhor, atire a primeira garrafa! Claro que os enófilos que nasceram abastados, os aristocratas do vinho nunca foram pobres, como eu, e sempre degustou os vinhos mais caros do mundo, as melhores “grifes”, mas aquele humilde e enófilo trabalhador assalariado dessas terras de meu Deus, aposto a minha simplória adega se já não degustou.

Os vinhos de mesa são aqueles que são produzidos pelas uvas americanas (oriundas dos EUA mesmo), os famosos “garrafões”, quem não lembra? Lembro-me, inclusive com certo ar de nostalgia, que degustava esses vinhos nos idos longínquos de 1994, 1995 e reunia, para este momento ímpar, os meus melhores amigos para celebrar, jogar conversa fora, entonar besteiras sem compromisso algum. Ah e como era bom degustar aqueles vinhos e estar com amigos, um complementava o outro.

Nunca tive nenhum tipo de visão pré-concebida com tais vinhos, afinal eram só mais do que propostas de rótulos que até hoje detém uma grande participação de mercado, apesar do crescimento, embora tímido, dos vinhos vitis viníferos.

Mas em 1999, 2000, aproximadamente, decidi enveredar para os já mencionados vitis viníferos, os vinhos produzidos com as castas finas, tais como Merlot, Malbec etc. Não porque os de mesa estavam inadequados para o meu paladar, porém eu gostaria de traçar novos caminhos na estrada do vinho, o universo do vinho é infindável e eu desejava, ansiava por novos caminhos, explorar novas possibilidades e estou até hoje e o caminho, a necessidade por percorrê-lo ainda é urgente e latente.

Mas por que raios estou relembrando isso agora? Explico! Fui convidado por um querido amigo para degustarmos alguns rótulos em sua casa e darmos continuidade a nossa pequena, mas significativa confraria e um rótulo que ele tem me chamou a atenção e praticamente sugeri que ele abrisse para nós degustarmos. Era um vinho francês, um “Vin de France”, um vinho mais simples e descontraído e que equivale a um vinho de mesa no Brasil, embora as castas não sejam as mesmas usadas em nossas terras para produção dos vinhos franceses com essa designação.

Por uma grata curiosidade, nunca degustamos um francês “Vin de France”, então era chegada a hora, mais do que pertinente, de degustar, com um grande amigo, como no passado eu fazia com outros grandes amigos, as degustações dos vinhos de mesa brasileiros.

E não é que o vinho surpreendeu? Inacreditável como o vinho entregou além do que esperávamos, tamanha a personalidade, a expressividade. O vinho que degustei e gostei, é um “Vin de France”, portanto, sem definição de uma região, e se chama Coq Licot com o clássico corte, típico do Vale de Rhône, “GSM”: Grenache (50%), Syrah (30%) e Mourvèdre (20%) ou Monastrell muito popular na Espanha e a safra é 2020. Mas antes de falarmos do vinho vou detalhar sobre o conceito de “Vin de France”.

“Vin de France” ou no passado o “Vin de Table”

É preciso lembrar que o “Vin de Table” não está relacionado com o nosso “Vinho de Mesa”, embora a tradução seja exatamente esta. Para os franceses, o Vin de Table é um nome geral dado aos vinhos para consumo imediato. Não existe uma definição precisa para o termo.

“Vin de Table” era a categoria associada a vinhos mais simples, em geral aqueles produzidos com uvas provenientes de áreas fora de denominações de origem ou indicações geográficas. Também podiam se referir a vinhos cujo produtor não aceitava as regras dos conselhos de denominação (por exemplo, elaborando vinhos com uma uva não aprovada na denominação).

Nos últimos anos, porém, a referência a vinho de mesa foi extinta. Na França, estes vinhos passaram a ser chamados, a partir de 2010, mas precisamente em 2009, com a sanção de uma lei, de Vin de France, ou seja, sem qualquer referência regional específica.

O “Vinho de Mesa” em outras partes do mundo

Vinho de mesa é um termo que parece muito simples, mas que ainda causa muita confusão. E isso ocorre porque, dependendo do local ou do contexto, ele assume um significado diferente. Na Europa ele tem um significado, assume outro nos Estados e representa um terceiro no Brasil. Mas quais são e como explicar estas diferenças?

Estas diferenças são significativas, já que se referem a conceitos distintos. Na Europa, o termo é geralmente associado a uma questão de qualidade e hierarquia, sobretudo dentro do contexto de denominações de origem. Já nos Estados Unidos, o termo é usado para diferenciar estilos de vinificação. No Brasil, por sua vez, é uma forma de diferenciar os vinhos de acordo com a uva com a qual foram elaborados.

Até as mudanças mais recentes no sistema de classificação de vinhos na maioria dos países europeus, falar de vinho de mesa era se referir a um vinho simples. No topo da pirâmide de qualidade dos vinhos europeus estão aqueles que pertencem às denominações de origem. Por outro lado, a parte mais larga da pirâmide é composta por aqueles que não estão dentro destas denominações ou mesmo que tenham uma indicação geográfica mais específica, como o caso já mencionado da França.

Já nos Estados Unidos, a definição de vinho de mesa (table wine) não tem nada a ver com hierarquia ou qualidade. Ele se refere ao que chamamos no Brasil de vinho tranquilo, ou seja, um vinho que não é espumante ou tenha sido fortificado. Deste modo, se refere ao estilo de elaboração do vinho. Por exemplo, qualquer tipo de espumante, seja qual método adotar, não pode ser chamado de table wine.

O mesmo vale para vinhos como Madeira, Porto ou outros onde ocorre a adição de aguardente vínica ou outras formas de álcool durante seu processo de elaboração. Existe, inclusive, uma regra nos Estados Unidos que define que, para poder ser chamado de “table wine”, o vinho não pode ter um teor alcóolico acima de 14%.

O Brasil mostra uma peculiaridade nos vinhos. Nosso mercado de vinhos é dominado por variedades americanas ou híbridas, e isso acaba se refletindo no uso do termo vinho de mesa. Assim, um vinho elaborado a partir destas uvas, mesmo que contenha uma proporção de vitis vinifera, é classificado como vinho de mesa.

Caso o vinho seja elaborado exclusivamente a partir de espécies da Vitis vinífera e com o uso de processo tecnológicos adequados, pode receber a designação de vinho fino. Deste modo, o termo vinho de mesa ganha uma conotação distinta no Brasil, com referência explícita às uvas utilizadas para sua elaboração.

E agora falemos do vinho!

Na taça um vermelho rubi intenso, mas com reflexos violáceos, diria que apresenta um lindo tom roxo que imprime um brilho a cor, com lágrimas finas e em média intensidade.

No nariz entrega um aroma intenso e agradável de frutas vermelhas onde se destacam morango, groselha e cereja. Há um toque floral que traz certo frescor muito agradável.

Na boca é saboroso, redondo e macio, com as notas frutadas bem intensas, com um toque adocicado, mas sem ser enjoativo, além de especiarias, como pimenta, com taninos macios e uma boa acidez, que colabora para a sua boa persistência. Tem um final longo e retrogosto frutado.

Um vinho suculento! Um vinho saboroso, descomplicado de degustar, mas que revelam marcante personalidade típico do corte de castas tão voluptuosas e altivas como a Grenache, Syrah e Mourvèdre. Um vinho que me trouxe grandes momentos do meu passado enófilo, de reuniões com amigos quando eu apenas engatinhava no universo vasto e instigante dos vinhos e hoje cá estou com um grande amigo e companheiro de taça em uma estabelecida e significativa confraria compartilhando esse rótulo, esse vinho que foge um pouco da austeridade dos franceses caros e de grife e que abrilhanta um momento de muita alegria e celebração, com a descontração que merecemos, sem contar que o rótulo personifica isso também, talvez tenha uma intenção de marketing, arrisco. Um vinho que embora não tenha uma região estabelecida traz à tona todas as características das castas que compõe esse blend tão importante para a história vitícola da França. Brindemos ao vinho, a vida, a celebração da amizade, da pura e genuína amizade. Tem 14% de teor alcoólico muito bem integrado ao conjunto do vinho.

Sobre a Vignobles & Compagnie:

Em 1963, graças ao espírito de federação dos viticultores, liderado por Paul Blisson, que deu origem a vinícola, originada a promover vinhos da região do Gard, do Vale de Rhône. A adega, um edifício original inspirado pelo brasileiro Oscar Niemeyer, estava e ainda está localizada em um ponto estratégico de Gard.

A família Merlout investe na organização, isso em 1969. À frente da empresa estava uma mulher, Miss Noble, um fato ousado para a época. Em 1972 a vinícola entra em uma nova era graças a modernização do local e ao grande crescimento econômico também. Em 1990 o Grupo Taillan assumiu todas as atividades da vinícola, dando início a uma parceria importante com vários produtores locais, trazendo o conceito de regionalismo aos seus rótulos.

Mais informações acesse:

https://vignoblescompagnie.com/en/

Referências:

“Vem da Uva”: https://www.vemdauva.com.br/o-que-e-vin-de-pays/

“Wine Fun”: https://winefun.com.br/vinho-de-mesa-um-conceito-com-diferentes-significados-ao-redor-do-mundo/



Ziobaffa Pinot Grigio 2018

 

Mais uma vez serei redundante, mas quer saber? Melhor ser redundante do que omisso! Amo e muito a casta Pinot Grigio! Sempre quando tenho alguma possibilidade ou oportunidade eu compro um rótulo para manter abastecida a minha adega com pelo menos um rótulo com esta especial cepa. E sempre quando resenho a respeito dela, faço questão de fazer esse parêntese, para ser taxativo, mesmo que redundante, repetitivo, é como que se fora uma afirmação, uma corroboração do meu sentimento afetivo pela casta.

Mas há quem não goste da casta! Claro que a opinião e as impressões são pessoais e precisam ser preservadas e respeitadas, mas percebo, ou melhor, leio alguns comentários dizendo que a casta é inexpressiva, rala, sem vida, sem personalidade. Defendo que, antes de fazer qualquer pré-julgamento é preciso conhecer a fundo as características mais essenciais da cepa e analisar se existe uma identificação, penso.

Mesmo que eu seja redundante, hoje eu tenho de dizer com muita animação e entusiasmo que degustarei, mais uma vez, um rótulo da casta Pinot Grigio e melhor: da Itália, da famosa região da Sicília, depois de muito tempo que eu não degustava um Pinot Grigio dessa região, desse país. Então, caros leitores, apesar do meu declarado amor pela uva, há novidades e a há outra que ainda considero melhor de todas e que será a primeira vez: Um Pinot Grigio orgânico, vegano!

Nem tudo é tão linear, a mesma coisa. Independente de minhas experiências com a casta seja razoavelmente grandes e satisfatórias, há sempre grandes e gratas novidades para viver e compartilhar. Mais experiências sensoriais, detalhes pequenos, grandiosos, significativas para deleite de nós, enófilos de plantão, sempre ávidos por uma celebração vínica.

E decidi compartilhar esse momento especial com um grande amigo, o Paulo Rodrigues, de longa data que carinhosamente me convidou à sua casa para mais um dia de confraria. Eu sempre comentei com ele sobre a Pinot Grigio e de suas maravilhas e dizendo que ele deveria comprar um rótulo, então como ele até o momento não comprou, não hesitei em levar esse rótulo, que já comprei há algum tempo e que já estava ansioso em degusta-lo.

E que maravilha! Que vinho estupendo! Quanto mais falamos, quanto mais atribuímos adjetivos, mas tenho a impressão de que sempre faltará para falar desta casta. O vinho que degustei e gostei veio da emblemática Sicília, na Itália, no Sul da Bota, e se chama simplesmente Ziobaffa da casta Pinot Grigio e a safra é 2018. E para variar eu tive uma experiência soberba com o Ziobaffa tinto da safra 2014 com um blend fantástico das castas Sangiovese (80%) e Syrah (20%). Uma belíssima linha arrojada e moderna da Castellani que vale e muito a pena degustar. Mas antes de falar do vinho e produtor, convém, mais do que nunca, da região da Sicília, e da artista: Pinot Grigio.

Sicília

A Sicília é a maior ilha do Mediterrâneo. É uma ilha vulcânica repleta de praias lindas, paisagens espetaculares e uma arquitetura interessante. Fruto da mistura de civilizações que habitaram a ilha e da cálida hospitalidade de seu povo. A Passagem de diversos povos através durante séculos, a Sicília tornou-se um entreposto importante no Mediterrâneo. É um destino desejado para todo viajante. Mas a Sicília não é apenas conhecida pela exuberante natureza, mas também se destaca quando o assunto é vinho. E isso teve influências na sua cultura e, claro, no seu vinho.

Sicília

Foram os fenícios que iniciaram o cultivo da videira e a elaboração do vinho na Sicilia, porém foram os gregos que introduziram as cepas de melhor qualidade. Alguns historiadores relatam que antigamente na região de Siracusa (província siciliana), havia um vinho chamado Pollios, em homenagem a Pollis de Agro (que foi um ditador nessa região), que se tornou famoso na Sicilia no século VIII-VII a.C.. Esse vinho era um varietal de Byblia, uva originária da área mais oriental do Mediterrâneo, dos montes de Biblini na Trácia (antiga região macedônica que hoje é dividida entre a Grécia, Turquia e Bulgária). O historiador Saverio Landolina Nava (1743-1814) relatou que o Moscato de Siracusa deriva desse vinho de Biblini, sendo classificado como o vinho mais antigo da Itália.

Já o vinho doce Malvasia delle Lipari (Denominação de Origem do norte da Sicilia) parece ter sua origem na época da colonização grega na Sicilia. Lipari é uma cidade que pertence ao arquipélago das ilhas Eólicas.

Durante o Império Romano, o também vinho doce Mamertino (outra Denominação de Origem) produzido no norte da Sicilia, era muito apreciado por muitos, inclusive por Júlio César e era exportado para Roma e África.

A viticultura na região sofreu uma grande redução com a queda do Império Romano, porém durante a dominação árabe foi introduzida a variedade de uva Moscatel de Alexandria na ilha Pantelleria, que mantém ainda hoje ali o nome árabe Zibibbo. Os árabes introduziram na Sicília suas técnicas de viticultura e também o processo de passificação das uvas.

No século XVIII a indústria enológica na Sicilia teve um grande avanço e começou a produzir o vinho de Marsala que conta atualmente com uma Denominação de Origem Protegida. Esse vinho se tornou conhecidíssimo no resto da Europa graças a um navegante e comerciante inglês chamado John Woodhouse, que ancorou sua embarcação no porto de Marsala para se proteger de uma tempestade. Foi quando provou o vinho local e se apaixonou, resolvendo levar alguns barris para a Inglaterra. O vinho de Marsala fez tanto sucesso por lá que Woodhouse começou a investir na Sicilia comprando vinhedos e construindo vinícolas para produzir vinho de Marsala, se tornando um empresário do setor vitivinícola de grande êxito.

Como na maioria dos vinhedos da Europa, a Phylloxera também atingiu a ilha Salinas, no norte da Sicilia, provocando uma devastação dos vinhedos que foram se recuperando gradativamente com a plantação de novos vinhedos e a criação em 1973 da Denominação de Origem Malvasia delle Lipari.

A região possui um clima e um solo que favorecem muito a viticultura e a elaboração de vinhos, sendo uma das principais atividades econômicas da ilha italiana. A topografia é variada, formada por colinas, montanhas, planícies e o majestoso vulcão Etna. Encontramos vinhedos por toda parte, que vão das colinas até a parte costeira.

Nas colinas os vinhedos são cultivados em terrazas que chegam inclusive a uma altitude de 1.300 metros, o que as videiras adoram, pois proporciona muita luminosidade e uma ótima drenagem. Encontramos vinhedos também na parte costeira da ilha.

O clima na Sicília é mediterrâneo, mais quente na área mais costeira e no interior da ilha é temperado e úmido, podendo ás vezes apresentar temperaturas bem elevadas por influência de ventos procedentes da África. Também possui uma quantidade grande de microclimas por causa da influência do mar. As chuvas são mais comuns durante o inverno com cerca de 600mm anuais. Os vinhedos sicilianos necessitam, portanto serem regados.

O solo na ilha é muito variado e rico em nutrientes em razão das erupções vulcânicas do Etna. Encontramos solos arenosos, argilosos e de composição calcária. Em uma parte da ilha o solo é constituído de gneiss, que é um tipo de rocha metamórfica composta de granito.

Em quase todas as localidades da Sicília se elaboram vinhos, e essas regiões vitivinícolas contam com várias DOC.

Sicília e as suas sub-regiões

As principais castas tintas produzidas na Sicília são: Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, Syrah, Nerello Mascalese, Nerello Capuccio, Frappato, Sangiovese e Pinot Nero. Já as brancas destacam-se: Grillo, Catarrato, Carricante, Inzolia, Moscato di Panteleria, Grecanico, Trebbiano Toscano, Malvasia, Chardonna e Sauvignon Blanc.

Pinot Grigio

Se você nunca ouviu falar na uva Pinot Grigio, talvez já tenha degustado um vinho produzido com a Pinot Gris. É possível encontrar a casta sendo chamada pelos dois nomes diferentes, a depender da origem do vinho, podendo ser italiano ou francês, respectivamente. A diferença na forma como chamamos a uva passa pelo próprio significado das duas palavras: o nome Grigio significa cinza em italiano e Gris, cinza em francês – sendo referência à cor da casca da fruta. A coloração da uva é um resultado natural do cruzamento entre a Pinot Noir e a Pinot Blanc.

A Pinot Grigio surgiu na região da Borgonha, contudo foi em outra região francesa que ela ganhou um lar e ganhou notoriedade também, a Alsácia. Onde era conhecida por outro nome famoso, Tokay, mas que causava muita confusão. Tokay é um termo utilizado para os vinhos mais famosos (e caros) da Hungria, os longevos Tokaji, que nada tem a ver com a Pinot Grigio.

A origem da Pinot Grigio foi descoberta a poucas décadas, onde constatou-se ser uma cruzamento genético natural entre a Pinot Noir e a Pinot Blanc. Embora seja de origem francesa, foram os italianos que tornaram esse varietal mundialmente conhecido e passaram a dominar a sua produção global. Isso faz com que muitos acreditem que a uva seja originária do fantástico "país da bota".

Os vinhos produzidos com a Pinot Grigio são muito influenciados pelos fatores ambientais e humanos envolvidos no processo, o que chamamos de terroir. Nas regiões frias são encontrados vinhos com maior intensidade aromática e acidez vibrante, além de serem tipicamente mais leves e delicados, normalmente denotando aromas frutados, florais e com a sutil presença de especiarias. Bons exemplos disso são os aromas de pêssego, limão, tangerina, pera, maçã verde, complementados por flores silvestres, mel, tomilho, orégano e erva-cidreira. Já as regiões mais quentes produzem exemplares mais viscosos, aumentando a percepção de corpo da bebida, que, dependendo do solo, pode apresentar um caráter mineral, lembrando pedras e a areia molhada.

Agora, se compararmos o perfil dos vinhos franceses e italianos, as características sensoriais serão gritantes. Na França, esses vinhos costumam ser mais encorpados, amarelados e com uma presença picante. Já na Itália, os exemplares são mais refrescantes, versáteis e fáceis de beber. Dependendo do estilo do produto, vinícola e vindima, são vinhos brancos com aptidão ao envelhecimento.

E agora o tão esperado vinho!

Na taça tem um lindo amarelo bem brilhante tendendo para o dourado mas com alguns reflexos esverdeados com poucas concentrações de lágrimas finas e que logo se dissipavam.

No nariz é leve, fresco, solar, agradável com notas frutadas, frutas brancas e cítricas como pera, maça-verde, limão siciliano, maracujá e abacaxi, com um floral fantástico que traz a sensação de delicadeza e jovialidade.

Na boca traz também a leveza e o frescor, além das notas frutadas observadas no aspecto olfativo, com uma ótima acidez que corrobora o frescura, mas que também entrega personalidade ao vinho, sendo inclusive, arriscaria untuoso, com ótimo volume de boca. Final frutado e prolongado.

Degustar, mais uma vez, a Pinot Grigio e depois de muito tempo oriundo de terras italianas foi uma grande experiência sensorial, um grande prazer! Um vinho de um produtor tradicional da Itália, mas que consegue, com maestria, aliar com o arrojo da modernidade trazendo um vinho versátil, frutado, com personalidade, leveza, frescor e untuosidade no paladar, um volume de boca intenso, mas que entrega delicadeza e elegância, típica da casta, o que é outro detalhe de suma importância, aliado ao veganismo e a simplicidade do saber fazer, sem descaracterizar a cepa em sua mais genuína essência. Essa é a proposta do vinho, esse é o conceito de terroir defendido e efetivado, com muita tipicidade pelo produtor. Tem 12% de teor alcoólico.

Então com vocês a palavra do produtor:

“Na Sicília, muitos produtores de vinho evitam o uso de pesticidas, fertilizantes químicos e herbicidas simplesmente porque não podem pagá-los. O clima seco e quente do sul da Itália permite boas uvas todos os anos, mesmo sem o uso de produtos químicos. A sustentabilidade ambiental generalizada da viticultura siciliana é dada pelo ambiente econômico e de mercado insustentável em uma região onde os melhores brancos eram fabricados. Por esses motivos, optamos por produzir nosso Pinot Grigio. Uma variedade de uva branca italiana mais solicitada no exterior. Encontramos vinicultores da Sicília para restaurar a dignidade ao seu trabalho árduo, direcionando seus vinhos extraordinários em nosso projeto ZIOBAFFA como um embaixador da melhor vinícola italiana. Foi aí que nasceu nosso Pinot Grigio”.

Sobre a ZioBaffa:

O cineasta Jason Baffa teve a sorte de viajar pelo mundo com seus amigos e uma câmera de filme criando imagens em movimento sobre seu amor pelo surf. Os filmes, "Singlefin: amarelo", "One California Day" e a recém-lançada e premiada "Bella Vita" (todos no iTunes) abraçam a vida inspirada da subcultura de surf sem preocupações. Durante uma viagem pela Itália com o surfista-ambientalista Chris Del Moro e o enólogo da quinta geração, Piergiorgio Castellani, a paixão de Baffa por boa comida, a libação que sacia a sede e algumas piadas práticas até tarde da noite, inspiraram a tripulação local de surfistas a apelidar ele, Zio Baffa (tio Baffa).

Sobre a Castellani:

O negócio de Castellani foi estabelecido em Montecalvoli no final do século 19 quando Alfred, um viticultor de longa data, decidiu começar a engarrafar e vender seu vinho. O filho de Alfredo, Duilio, junto com seu irmão Mario dá início ao período de expansão da empresa. Duilio, homem meticuloso e diligente, participa ativamente de todas as etapas do trabalho. A vinha mais importante é aquela situada em Santa Lúcia, no fértil vale do Arno, onde se produz um vinho tinto vivo e apto para envelhecer e engarrafado em típicos frascos com palha, conquistando o interesse dos mercados transalpinos.

Nos anos seguintes, o filho primogênito de Duilio, Giorgio, homem determinado e ambicioso, inicia a exportação em grande escala. A enchente de 1966 causa grandes danos à vinícola Montecalvoli. Decide-se então transferir temporariamente o negócio para a Fazenda Burchino, nas colinas da vila de Terricciola. O irmão de Giorgio, Roberto, brilhante jornalista do jornal “Il Giornale del Mattino”, de Florença, corre para ajudar a retirar lama da vinícola da família. Ele então decide ficar e contribui para a evolução da empresa. Roberto, homem culto e cosmopolita, inicia uma atividade pioneira em mercados longínquos, tornando-se um dos defensores do sucesso internacional do Chianti.

A aquisição da vinha Poggio al Casone coincide com a ampliação da adega da Quinta Travalda em Santa Lúcia. urante a noite do dia de Ano Novo em 1982, um incêndio queimou quase completamente as instalações da empresa. Parece ser o fim. Mas em poucos meses os irmãos Castellani adquirem a Fazenda Campomaggio e, graças à contribuição de Piergiorgio, filho de Roberto, o negócio ganha força. As pesquisas vitivinícolas e tecnológicas são promovidas por especialistas como o enólogo Sabino Russo e o agrônomo Carlo Burroni. Hoje esta empresa centenária persegue com grande entusiasmo o objetivo de produzir vinhos, que são a expressão de uma das maiores regiões enológicas do mundo: a Toscana.

Mais informações acesse:

https://www.ziobaffa.com/

https://www.castelwine.com/

Referências:

“Revista Sociedade de Mesa”: https://revista.sociedadedamesa.com.br/2016/04/sicilia/

“Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/290-sicilia-o-continente-do-vinho

“Vinhos e Castelos”: https://vinhosecastelos.com/vinhos-da-sicilia-italia/

“Wine”: https://www.wine.com.br/winepedia/sommelier-wine/serie-uvas-pinot-grigio/

“Blog Famiglia Valduga”: https://blog.famigliavalduga.com.br/pinot-grigio-conheca-suas-principais-caracteristicas/

 

  









sábado, 14 de agosto de 2021

Progreso Blend Selection 2018

 

Muito se discute sobre os famosos “clubes de vinhos”, essas assinaturas que aderimos para receber rótulos sem sair de casa, no conforto de seu lar. A polêmica mora nas desvantagens e vantagens que se duelam de forma intensa, sobretudo, é claro, na mente do simples e humilde enófilo de plantão e também na diversidade, na percepção do que pode ser considerado ou não como vantagem ou desvantagem, afinal, essas variantes mudam de acordo com cada pessoa.

Para alguns é uma desvantagem quando alguém, por mais qualificado e capaz que seja, escolhe o rótulo e você fica naquela expectativa para receber a nova seleção do mês e quando os rótulos chegam: Não era que eu esperava! Ou pior: quando fica apenas naquelas regiões e países de sempre ou ainda as castas de sempre e você não consegue diversificar a sua adega, tornando-se padronizada demasiadamente.

Para os iniciantes do universo do vinho pode ser uma grande alternativa para conhecer novos rótulos, novas regiões, novas castas etc. Varia muito do perfil do cliente, dos anseios e necessidades de cada enófilo e não podemos pontuar os benefícios e malefícios desse “produto”, o mais importante, porém, é ponderar o que é bom para você e também tendo como princípio o que você espera do conteúdo da sua adega, que vai das propostas dos vinhos, até as regiões e castas.

Confesso que aderi, um pouco tardiamente, aos “clubes de vinhos”, talvez por questões financeiras e por falta de opções, não sei dizer exatamente o motivo, mas o fato é que tive o contato com esses clubes recentemente e depois de algum tempo no universo do vinho. Claro que por mais que apreciemos a poesia líquida há algum tempo, temos muito a explorar, mas quando aderi a esses grupos de vinhos, eu fiquei pouco tempo cancelando-os e, depois desses “insucessos” decidi de forma taxativa: Não farei mais adesões a esses clubes.

Até que um dia vi a oferta de um clube de vinho que admito ter me chamado muita a atenção. Fiquei curioso em ter maiores informações sobre os dois rótulos que estavam sendo ofertados. Um rótulo era um francês do Côte de Rhone, emblemática na França que não degustava um rótulo há muito tempo e outro um argentino de Mendoza (até aí, neste caso, normal), mas um corte, um blend bem inusitado para mim e isso era uma novidade. Decidi retroceder da minha decisão anterior de não aderir à esses clubes e os comprei. Quem sabe um desses vinhos me surpreende afinal ser enófilo também é correr riscos.

A minha curiosidade suscitou, em tempo recorde, abrir um desses rótulos e o argentino foi a bola da vez. E, mesmo com outros exemplares de cortes dos Hermanos, esse, em especial, será a minha primeira experiência com blends argentinos! Incrível! Outro detalhe importante que eu havia percebido somente agora depois de algumas décadas degustando vinhos. Ah esse fará história e espero que faça história no que ele entregará. Desarrolhado, o vinho inundou a taça, as percepções iniciais foram as melhores possíveis e quando o derradeiro momento da degustação aconteceu, eis que aquele famoso arrebatamento me tomou de assalto quando vinho te surpreende e entregar muito além do que você esperava. O vinho que degustei e gostei veio de Mendoza, Argentina, e se chama Progreso Blend Selection, um corte das castas Malbec (60%) e Syrah (40%) da safra 2018.

Outro detalhe bem interessante para mim foi o rótulo que, para alguns pode parecer muito simples e até juvenil demais para os conservadores aristocráticos do mundo do vinho. Explico! Há uma coruja com um olhar intenso e enigmático que traz a impressão de algo relacionado a cartoons ou coisas do tipo e não a austeridade que se espera. Mas eu gostei! Achei interessante a simplicidade e o design e fui a busca da razão de ser da coruja e a história, curta, sim, porém significativa para o vinho e o terroir da qual é concebido.

A palavra do produtor:

“A coruja esteve sempre presente como guardiã dos vinhedos e é identificada como símbolo de sabedoria e segurança. Progreso fala dessa mesma natureza, buscando expressar nosso conhecimento, visão e os cuidados que tomamos para o desenvolvimento de nossos vinhos”.

Ah esse vinho, produzido pela gigante Fecovita, uma cooperativa que conta com 29 produtores na Argentina, foi concebido para ganhar o mercado externo, sobretudo ao promissor, diria, estabelecido mercado chinês que hoje é ávido por vinhos, mas que ainda não se estabeleceu como um tradicional mercado.

E já que foi dada uma palhinha do vinho, falemos finalmente do Progreso Blend Selection:

Na taça um lindo vermelho intenso, escuro, diria, com alguns entornos violáceos e que traz um brilho ao vinho, com uma profusão de lágrimas finas.

No nariz se faz a explosão aromática com o protagonismo das frutas vermelhas e pretas, onde se destacam cereja, framboesa e ameixa, com pitadas de especiarias, talvez pimenta, graças a Syrah, baunilha, couro, a madeira discreta.

Na boca é macio e equilibrado, de corpo leve a médio, revela um bom volume de boca, com a fruta dominando, mas sem soar enjoativo, com taninos domados e acidez equilibrada que traz a agradável sensação de frescor e jovialidade do vinho. O aporte da madeira, cerca de 30% do lote da Malbec passou 12 meses por barricas, confere notas de pimenta e chocolate. Tem um final frutado, com inusitado adocicado.

Um vinho oriundo de “clubes de vinhos” que, embora desacreditado por mim, ou melhor, que já não atende aos meus anseios, me surpreendeu. Um vinho que personifica o potencial, a expressão, a personalidade de um vinho argentino: Um vinho marcante, mas saboroso, a expressão frutada garantida pelas duas castas, porém com a estrutura e a versatilidade que elas conferem também. Um vinho equilibrado, intenso, elegante, robusto e que harmoniza com carnes gordas ou massas condimentas ou apenas degustando na companhia de grandes amigos com uma agradável conversa. Um vinho que consegue, com maestria, trafegar entre a complexidade e a simplicidade da degustação, atingindo a vários paladares, dos iniciantes aos mais exigentes e apurados. Grata surpresa! Ah e sobre o clube de vinhos, lamentavelmente não segui com a assinatura, mas, pelo curto espaço de tempo, fui agraciado com esse belo e especial rótulo. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Fecovita Cooperativa Ltda:

A Federação das Cooperativas Argentinas de Vinho (FeCoVitA Coop Ltda.), fundada em 1980, é o segundo maior grupo de vinhos da Argentina, composto por 5000 produtores de uvas e 29 cooperativas de vinificação e, como resultado, é engarrafado mais de 20.000.000 litros por mês e estão localizadas em Mendoza e San Juan (no norte de Mendoza).

Além disso, a Fecovita administra o mercado interno com 12 filiais localizadas em cidades estratégicas da Argentina, liderando esse mercado há mais de 15 anos. Atualmente, a empresa exporta diferentes marcas de vinhos para 30 países em todo o mundo, com excelente desempenho em todos os mercados.

Nas vinícolas, são produzidos então vinhos das seguintes variedades Malbec, Cabernet, Merlot, Syrah, Chardonnay, Sauvignon Blanc e Torrontés, tendo como principais marcas: Bodega Estancia Mendoza, Buenos Aires e Dilema.

Mais informações acesse:

http://www.fecovita.com/index.html





terça-feira, 10 de agosto de 2021

Marea Valle de Leyda Sauvignon Blanc 2012

 

O enófilo às vezes sofre por algumas “provações”, alguns dilemas. Agora vem a pergunta: Mas como sofrer por degustar a poesia líquida, por degustar grandes e especiais rótulos? A escolha, a tomada de decisão para nós que apreciamos um bom vinho pode parecer muito difícil. Pelo preço: o seu orçamento está curto e gostaria de comprar a loja inteira, mas você tem de sair dela com uma no máximo duas garrafas! E aí, como fazer para escolhê-las com tantos rótulos que julgou serem especiais? Essa é uma das mais sofridas, sem dúvida!

E quando o vinho não tem nenhuma informação no rótulo, mas algo te cativou nele, sabe-se, como a região, a casta que você nunca degustou? Eu que preciso dos requintes de detalhe do vinho, fico tenso em saber um pouco mais do rótulo e se de fato ele contempla os meus anseios de momento. São várias as situações que eu poderia elencar aqui, mas uma enredou o vinho que será o protagonista dessa resenha de hoje e ele veio do Chile, que já é uma porta de entrada no que tange a qualidade.

Eu estava como sempre, em uma de minhas incursões ao supermercado e logo me dirigi à adega para ver se tinha algumas gratas novidades. Logo vi que tinha muitas promoções, os cartazes com os preços baixos gritavam em números garrafais, hipnotizava o humilde enófilo que tentava, com seus parcos salários, comprar algum vinho e este clamava: “Me leve!”.

Contudo, diante de irresistíveis dicas, um me chamou demasiadamente a minha atenção. Já que falei em hipnotismo esse sim fez com que merecesse a minha atenção. Tomei o rótulo em minhas mãos e era um Sauvignon Blanc de uma região que estampava no rótulo e que não conhecia: Leyda, Valle de Leyda. Continuei a examiná-lo e vi que era da Viña Luis Felipe Edwards, adoro esse produtor! Já estava ficando animado. Quando vi o preço: R$ 22,90! Uau! Não é possível! Mas uma informação me deixou receoso... A safra!

2012 era a safra e estávamos em 2018! E agora? Para um branco, um Sauvignon Blanc me parecia ser bem “velhinho” e era a única garrafa! Nossa que sofrimento, que dilema! Uma garrafa de um branco da casta Sauvignon Blanc, mas a um atraente preço. Levo ou não? Decidi leva-lo, afinal, se estivesse avinagrado ou coisa do tipo, eu perderia apenas 20 e poucos reais.

Optei por abri-lo de uma vez, naquela semana! Quando a rolha, naquele característico barulhinho que se desprende da garrafa, apresentou o vinho que foi derramado na taça, em seu “primeiro round” um arrebatamento tomou de assalto em minha vida naquele momento: Que vinho! Que grande vinho! Ele estava vivo, pleno e descortinava todas as características de um grande Sauvignon Blanc! A compra fora muito bem sucedida! Então o vinho que degustei e gostei veio do Valle de Leyda, no Chile e se chama Marea, da casta Sauvignon Blanc (100%) da safra 2012. Então falemos de Valle de Leyda, antes deste vinho surpreendente.

Valle de Leyda, Valle de San Antonio

Valle de Leyda é uma região vinícola do Chile, situada a menos de 100 quilômetros da capital Santiago e é uma sub-região que fica no Valle de San Antonio. Esta região é privilegiada pela corrente fria de Humboldt proveniente do Oceano Pacífico e, por consequência, dá origem a vinhos excelentes a partir das uvas Chardonnay e Pinot Noir.

Valle de San Antonio e Valle de Leyda

Associada à produção de cevada e trigo, a região chilena rapidamente está conquistando seu espaço perante o mundo dos vinhos de alta qualidade. Os primeiros produtores apareceram na região em 1990, atraídos por um terroir ideal para a elaboração de uvas premiadas. Com o investimento de uma família produtora de vinhos, obteve-se a construção de um gasoduto de 8 quilômetros para canalizar a água do rio Maipo – potencializando o cultivo das vinhas.

A região de Valle de Leyda está localizada em um conjunto de colinas ao lado da faixa costeira que protege a faixa central do país de influências oceânicas. Trata-se de uma região vinícola localizada ao sul da fria região de Valle de Casablanca.

As brisas frias do oceano e a névoa da manhã moderam as temperaturas da área, mais baixas do que sua altitude indica. Estas temperaturas frescas são complementadas pela elevada incidência solar durante o período de crescimento das vinhas, proporcionando que as uvas amadureçam completamente e desenvolvam excelente complexidade, mantendo seus níveis de acidez equilibrados.

Leyda Valley é uma das zonas vinícolas em maior ascensão do Chile, atraindo a atenção de muitos críticos e especialistas do mundo do vinho com o decorrer dos últimos anos. Além de produzir alguns dos melhores vinhos chilenos Pinot Noir e Chardonnay, a região é responsável também pela elaboração de excelentes vinhos Syrah e Sauvignon Blanc.

E agora finalmente o vinho!

Na taça o vinho apresenta uma viva, intensa e brilhante cor amarela, com alguns traços esverdeados com poucas e finas lágrimas que logo se dissipavam.

No nariz uma exuberância explosão de aromas de frutas brancas e tropicais frescas, como groselha verde, maracujá, abacaxi, pera, maçã-verde, além de notas cítricas vívidas.

Na boca se revelou com alguma estrutura, com um incrível volume de boca, mas equilibrado, redondo e extremamente elegante. A acidez muito alta, mas que não agride, pelo contrário, entregava um frescor maravilhoso apesar dos 6 anos de safra, com toques minerais e de especiarias, talvez pimenta. Tem um final frutado e prolongado.

Um grande vinho! Um vinhaço! Exuberância é um bom adjetivo para este rótulo que estava lá esquecido, a um preço que certamente estava bem abaixo por ter uma safra “antiga” para a sua proposta. Desconheciam os gerentes do supermercado de onde comprei este vinho que ele estava vivo, intenso, pleno, com todas as suas características presentes na taça, no olfato e no paladar. Um vinho saboroso e que ousaria em dizer que teria mais alguns anos pela frente. Um achado, um valioso e especial rótulo que, diante da situação que se apresentava naquela gôndola, certamente, em um momento “racional” ninguém levaria por receoso. Mas diante desta experiência aprendi que a emoção do sentimento, o “feeling”, o coração precisa ser ouvido. Tem teor alcoólico de 13,5%.

Sobre a Viña Luis Felipe Edwards:

A Viña Luis Felipe Edwards foi fundada em 1976 pelo empresário Luis Felipe Edwards e sua esposa. Após alguns anos morando na Europa, o casal decidiu retornar ao Chile e, ao conhecer terras do Colchágua, um dos vales chilenos mais conhecidos, se encantou. Ali, aos pés das montanhas andinas, existia uma propriedade com 60 hectares de vinhedos plantados, uma pequena adega e uma fazenda histórica que, pouco tempo depois, foi o marco do início da LFE.

De nome Fundo San Jose de Puquillay até então, o produtor, que viria a se tornar uma das maiores vinícolas do Chile anos mais tarde, começou a expandir sua atuação. Após comprar mais 215 hectares de terras no Vale do Colchágua nos anos de 1980, começou a vender vinho a granel, estudar a fundo seus vinhedos e os resultados dos vinhos, e cultivar diferentes frutas para exportação.

O ponto de virada na história da Viña Luis Felipe Edwards veio na década de 1990, quando Luis Felipe Edwards viu a expectativa do mercado sobre os vinhos chilenos. Sabendo da alta qualidade dos rótulos que criava, o fundador resolveu renomear a vinícola e passou a usar o seu próprio nome como atestado de qualidade. Após um período de crescimento e modernização, especialmente com o início das vendas do primeiro vinho em 1995, a LFE se tornou um importante exportador de vinho chileno no começo do século XX. A partir de então, o já famoso produtor começou a adquirir terras em outras regiões do país.

Na busca incessante por novos terroirs de qualidade, ele encontrou no Vale do Leyda um dos seus maiores tesouros: 134 hectares de videiras plantadas em altitude extrema, a mais de 900 metros acima do nível do mar.

Mais informações acesse:

https://www.lfewines.com/

Referências:

“Vinci”: https://www.vinci.com.br/c/regiao/valle-de-leyda

Degustado em: 2018