segunda-feira, 6 de setembro de 2021

Nzinga Cape Red 2018

História, degustações, celebrações, experiências sensoriais... Sempre enalteço essas palavras quando penso ou falo sobre vinhos. Não há como dissociar, como falar, de forma isolada, sobre essas questões quando falamos sobre vinho. Claro que há pessoas que não ligam muito para a história do vinho, do rótulo que está degustando, tais como as castas, as regiões etc.

Respeitamos essas decisões, mas penso como enófilo, que ter acesso a história, por exemplo, de um vinho, pode ser preponderante para a decisão de compra e melhor: criar uma identidade com o tipo de vinho que gosta, ajuda a você a chegar ao vinho que gostaria de degustar no momento ou a construção de suas predileções para com determinadas propostas da poesia líquida.

Alguns vinhos confesso, me chamam a atenção pelo aspecto visual, pelo que apresenta nos seus rótulos. Algumas manifestações do marketing certamente explicam tal fenômeno, mas é deveras cuidadoso levar isso a ferro e fogo no quesito vinho. Nem todos os vinhos entregam ao degustador qualidade pelo fato de ostentar um bonito rótulo, pelo que ele necessariamente diz, mas, por outro lado, pode ser relevante para entendê-lo, daí a importância de se estudar o que o rótulo quer transmitir.

Quando vi o rótulo de um vinho sul-africano logo me chamou a atenção, me atraiu pela beleza e pelo nome que me parecia muito peculiar. Mas não fiquei restrito ao que ele dizia e logo comecei a garimpar o que ele queria traduzir no rótulo e o que poderia me proporcionar de especial. As informações, aos poucos, mesmo que limitadas, foram surgindo e isso foi atraindo a minha atenção.

E de posse de algumas informações, bem como alguns detalhes do vinho propriamente dito, tais como castas, safra etc, decidi compra-lo, afinal, nada mais importante e especial celebrar o amor ao vinho por vinhos da África do Sul tão constantes hoje em nossa realidade, o que era inviável há 20 anos, quando ainda era apenas uma distante possibilidade de tê-los em nossa adega.

E quando o vinho finalmente foi aberto, mais uma vez, não fui decepcionado. Então vos apresento o vinho que degustei e gostei e que veio da toda poderosa região de Western Cape, e se chama Nzinga Cape Red, um excelente blend composto pelas castas Cabernet Sauvignon (68%), Merlot (18%) e Syrah (14%) da safra 2018.

Ah e já que falei das “atrações” que podem gerar interesse e que estão contidas nos rótulos dos vinhos, de cara, quando o vi pela primeira vez, o nome “Nzinga” me atraiu, me interessou e o que, após, a compra, no seu contra rótulo o produtor diz que o significado da palavra é:

 “Nzinga é um nome da África Central que significa ‘beleza e coragem’”.

Mas em uma pesquisa mais aprofundada vi que “Nzinga” era um nome de uma princesa africana, a Princesa Nzinga, que foi uma forte figura que fez oposição ao lucrativo comércio de escravos no século XVII. Leia mais em: “Nzinga, a rainha negra que combateu os traficantes portugueses”.

Mas antes de falar desse vinhaço, falemos da região de onde é oriundo, da toda poderosa Western Cape, uma dos maiores produtores de vinho da África do Sul.

Western Cape: a toda poderosa região vinícola sul africana

Localizada a sudoeste da África do Sul, tendo a Cidade do Cabo como ponto central, Western Cape é a principal região vitivinícola do país, responsável por cerca de 90% da produção vinícola do país.

Boa parte da indústria do vinho sul-africana se concentra nessa área e microrregiões como Stellenbosch e Paarl são alguns de seus principais destaques. Com terroir bastante diversificado, a combinação do clima mediterrâneo, da geografia montanhosa, das correntes de ar fresco vindas do Oceano Atlântico e da variedade de uvas permite que Western Cape seja considerada uma verdadeira potência da produção de vinhos no país.

Suas regiões vinícolas estendem-se por impressionantes 300 quilômetros a partir da Cidade do Cabo até a foz do rio Olifants ao norte, e cerca de 360 quilômetros até a Baía Mossel, a leste – para entender essa grandiosidade, vale saber que regiões vinícolas raramente se estendem por mais de 150 quilômetros.

 

Western Cape

O clima fresco e chuvoso também favorece o plantio e a colheita por toda a região. Entre os grandes destaques de Western Cape estão as uvas Pinotage, Cabernet Sauvignon e Shiraz, que dão origem a excelentes varietais e blends. Entre os brancos – que, por si só, têm grande reconhecimento mundial –, brilham a Chenin Blanc, uva mais cultivada do país, a Chardonnay e a Sauvignon Blanc.

As primeiras vinhas plantadas na região remetem ao século XVII, trazidas por exploradores europeus que se fixaram por lá. Durante vários séculos, fatores como o estilo rudimentar de produção, o Apartheid e a falta de investimentos mantiveram a cultura vitivinícola sul-africana limitada ao próprio país.

Somente no início do século XX, com a formação da cooperativa KWV, que a África do Sul começou a responder por todo o controle de qualidade do vinho que se produzia por lá, e seus rótulos passaram a chamar a atenção do mercado internacional, dando início a um processo de exportação que conta, inclusive, com selos de qualidade específicos para a atividade.

A proximidade da Cidade do Cabo facilita o acesso dos visitantes às inúmeras rotas vinícolas e turísticas de Western Cape, que incluem experiências como caminhadas, degustações por suas muitas bodegas, além de ótimos restaurantes e hospedagens em suas pequenas e aconchegantes cidades, a maioria em estilo europeu.

E agora finalmente o vinho!

Na taça entrega um vermelho rubi intenso, quase escuro, com brilhantes reflexos violáceos, com uma razoável quantidade de lágrimas finas e que logo se dissipavam das paredes do copo.

No nariz uma explosão de frutas negras como ameixa e amora e frutas vermelhas como groselha e cereja, uma compota de frutas que traz jovialidade, frescor e até personalidade ao vinho, isso graças aos 10 meses em tanques inox, privilegiando as características de cada cepa sendo evidenciado também no paladar. Notas de especiarias também são percebidas.

Na boca é saboroso, marcante, por ser muito frutado, com as nuances bem definidas das castas que compõe o blend, onde a personalidade da Cabernet Sauvignon é perceptível, bem como a maciez da Merlot e os agradáveis e discretos toques apimentados e herbáceos garantidos pela Syrah. Têm taninos sedosos, boa acidez e um final cheio e prolongado.

História, celebração, degustações, nomes que pode parecer um tanto quanto deslocado para muitos, mas que pode revelar rótulos especiais para quem tem apreço pelas taças sempre cheias. Nzinga Cape Red traz uma versão sul africana de um vinho fresco, frutado, mas especial por sua simplicidade, por ser direto, jovem, harmonioso e com uma incrível capacidade de harmonização, sendo muito versátil. A incrível capacidade dos vinhos sul africanos onde mesmo sendo jovial, frutado e direto, revela uma marcante personalidade. Personalidade esta, acredito, que já começa no seu interessante blend: A personalidade entregue pela Cabernet Sauvignon, a maciez da Merlot e as especiarias da Syrah. Um vinho que expressa toda a tipicidade da África do Sul, do terroir de Western Cape. Um vinho belo, saboroso, delicado e intenso. Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Marianne Wine Estate & Guesthouse:

Originário de Bordeaux, a família possui 3 propriedades vinícolas, se aproximando da África do Sul graças as suas várias viagens pelo mundo, aportando no sul da África.

O sonho era combinar o Velho e o Novo Mundo para fazer vinhos próximos da da visão de perfeição dos produtores. Portanto, decidiram comprar a Marianne Wine Estate & Guesthouse, uma vinícola boutique de 32 hectares (incluindo 24 em vinhas) localizada no vale Simonsberg em 2004.

A colheita manual, a seleção das melhores uvas, o envelhecimento em carvalho francês e acácia, combinados com um "savoir-faire" francês do enólogo sul-africano Jos Van Wyk, irão levá-lo a explorar alguns dos melhores vinhos produzidos na região.

Mais informações acesse:

http://www.mariannewines.com/

Referências:

“Vinho Capital”: https://vinhocapital.com/tag/wine/page/3/

“Wine”: https://www.wine.com.br/winepedia/enoturismo/western-cape-a-gigante-sul-africana/?doing_wp_cron=1611015613.7245669364929199218750#:~:text=Localizada%20a%20sudoeste%20da%20%C3%81frica,alguns%20de%20seus%20principais%20destaques.

“Portal Geledés”: https://www.geledes.org.br/nzinga-a-rainha-negra-que-combateu-os-traficantes-portugueses/ 


 

domingo, 5 de setembro de 2021

Miolo Family Vineyards Cabernet Franc 2019

 

Eu já falei, até de forma deliciosamente demasiada, da importância da vinícola Miolo para a minha história, a minha trajetória no universo dos vinhos. A construção contínua do enófilo Bruno tem, sem sombra de dúvida, como sustentáculo, como pilar, a Miolo.

Aquela transição dos famosos vinhos de mesa, de uvas americanas, dos garrafões para os vinhos finos. Os receios, os medos... Será que vou gostar desses vinhos secos? Será que valerá a pena investir um pouco mais caro, com o dinheiro que não tem, nesses vinhos e a decepção bater como um tsunami nas minhas estruturas sensoriais? Muita coisa passou na minha cabeça naquela época, a pouco mais de 20 anos e cá estou materializando esse momento importante em minha vida vínica.

Mas não vou entrar nesse detalhe que, em algumas resenhas deste humilde blog, teci com todo o carinho e nostalgia, mas falar de uma casta que também foi de extrema importância para esse momento em minha vida enófila: A Cabernet Franc.

A Cabernet Franc, apesar de ser oriunda de terras francesas, ganhou muita popularidade no Brasil nos anos 1970 e parte dos anos 1980, gozando de um triste declínio nos anos seguintes, mas que na virada da década de 1990 e 2000 figurou com importância na minha vida.

Quando dessa minha transição, juntamente com a Merlot, a Cabernet Franc foi muito importante para moldar as minhas estruturas sensoriais, mas ainda assim, não foi tão permanente quanto a casta, igualmente excepcional, Merlot. Degustava um rótulo da Cabernet Franc, me arrebatava, adorava, depois ficava algum tempo sem degustar e quando desarrolhava uma, era maravilhoso. Lembro, com muita alegria e nostalgia quando degustei o meu primeiro: quem está na faixa dos 40 anos deve lembrar-se do Chateau Duvalier e do seu Cabernet Franc! Ah foi o meu primeiro!

Chateau Duvalier Cabernet Franc

Depois fui degustando um ou outro até que ele se afastou de minha vida enófila. Até que em 2017 estava em um evento de degustação destinado aos rótulos brasileiros e avistei, em um stand, uma vinícola mineira, com alguns rótulos e entre eles tinha um da casta Cabernet Franc que me levou de volta para o passado. Era o Dom de Minas Cabernet Franc 2014 e que vinho legal! E depois dessa degustação mais um hiato!

Mas quando recebi, de um clube de vinhos de uma loja de e-commerce famoso, alguns rótulos, adivinhe, da Miolo, uma edição especial, da casta Cabernet Franc e isso muito me animou. A safra denuncia ser de um jovial vinho e que aguentaria um pouco mais, porém, dada a minha expectativa, precisava rememorar tempos bons do meu início enófilo e degustar, novamente, um Cabernet Franc brasileiro!

Dos 2 rótulos que recebi, o Miolo Family Vineyard Touriga Nacional da safra 2019, já fora degustado e o retorno foi espetacular, o que me estimulou a degustar o Miolo Family Vineyard Cabernet Franc também da safra 2019. Opa, já apresentei o “artista do espetáculo”, do vinho que degustei e gostei. Que vinho especial! Delicioso, fácil de degustar, de marcante personalidade.

A Cabernet Franc foi plantada em 1978, em espaldeira, no vinhedo Almadén, na Campanha Gaúcha, região que se destaca pelo grande potencial no setor vitivinícola, em especial aos vinhos tintos, tendo recebido a Indicação geográfica ainda em 2020.

Mas não falarei, pelo menos ainda do vinho, mas da história de sua região, Campanha Gaúcha, região esta, responsável pela recuperação da Cabernet Franc no Brasil e da história da casta em nossas terras.

Cabernet Franc

É praticamente unânime dizer que esta variedade de uva seja nativa da icônica região de Bordeaux, considerando que lá ela participa da composição de vinhos raros, únicos e de considerável valor agregado. Frequentemente está mais presente em blends com outras uvas, principalmente com a Cabernet Sauvignon e a Merlot. Junto com as duas, forma o famoso “corte bordalês”, celebrizado na região que lhe cedeu o nome.

Possui parentesco com a Cabernet Sauvignon e com a Merlot. É um pai/mãe da Cabernet Sauvignon. Uma das principais características dos vinhos com a Cabernet Franc são os aroma herbáceos e vegetais. Em climas mais frios produz vinhos com aromas de frutas frescas, como cereja e morango, já em climas mais quentes, os aromas tendem a morangos maduros e framboesa negra.

Em comparação à Cabernet Sauvignon, pode-se observar que a Cabernet Franc tem a casca mais fina, além de menor acidez, mais intensidade de aromas e menos taninos. Ainda é uma uva resistente, amadurece antes da Cabernet Sauvignon (aproximadamente uma semana mais cedo) – o que a torna muito bem adaptável a regiões mais frias, a exemplo do Vale do Loire, os vinhos desta variedade são mais interessantes quando o solo é composto por areia, calcário e argila, não apresentam coloração muito profunda, podendo ter corpo leve ou médio, ótimo frescor e textura macia e seus aromas são bastante característicos, remetendo a frutas como framboesa e groselha, bem como a pimenta e leves toques vegetais e algumas variedades ainda contam com notas de violeta.

A sua coloração é mais inclinada para o vermelho rubi, de média intensidade, sendo também de corpo leve ou médio. Outro ponto interessante é sua habilidade em preservar a acidez da fruta, trazendo frescor ao produto final.

Cabernet Franc no Brasil

A história da Cabernet Franc no Brasil vem de longa data. De fato, foi introduzida no Rio Grande do Sul pela Estação Agronômica de Porto Alegre, por volta de 1900. Nos anos 1920, os Irmãos Maristas já a cultivavam comercialmente em Garibaldi. A grande difusão da cepa, contudo, ocorreu nas décadas de 1970 e 1980, tornando-se a base dos vinhos finos tintos brasileiros nesse período. Mais tarde, acabou sendo relegada a segundo plano e gradualmente substituída pela Cabernet Sauvignon e pela Merlot. Até poucos anos atrás, chegou a ser vendida pelo preço de uva comum.

Não obstante, é uma planta vigorosa, de média maturação, que se adapta bem a solos calcários. E mais, a vinha de Cabernet Franc floresce e amadurece seus frutos mais cedo do que outras variedades. Assim, ela se adapta bem às condições da Serra Gaúcha onde, sabidamente, há anos em que o amadurecimento é mais complicado devido às condições climáticas, principalmente quando se tem incidência de chuva próxima à época de colheita. Fato é que, em vinhedos trabalhados com atenção e cuidado, conseguem-se uvas de boa qualidade, com potencial para produzir vinhos com tipicidade e de padrão excepcional.

Gráficos da Embrapa mostram que, em 1985, produziu-se pouco mais de 10 mil toneladas de Cabernet Franc e que, em 2001, esse número havia caído para aproximadamente 2,5 mil toneladas. Os números refletem o que aconteceu com a cepa no Brasil: as vinhas foram praticamente erradicadas no Rio Grande do Sul – tanto na Serra Gaúcha, quanto na Campanha – e depois reintroduzidas gradativamente, através de outros clones mais saudáveis.

A boa notícia é que essas novas vinhas já vêm produzindo, e produzindo bem. Atualmente, temos poucos, mas muito bons, rótulos dessa variedade sendo feitos no sul, tanto no Vale dos Vinhedos, quanto na Campanha Gaúcha, em Flores da Cunha e, principalmente, em Pinto Bandeira. O melhor de tudo é que a Cabernet Franc tem sido aproveitada para vinhos em um estilo mais concentrado e de fruta mais madura.

Campanha Gaúcha

Entre o encontro de rios como Rio Ibicuí e o Rio Quaraí, forma-se o do Rio Uruguai, divisa entre o Brasil, Argentina e Uruguai. Parte da Campanha Gaúcha também recebe corpo hídrico subterrâneo, o Aquífero Guarani representa a segunda maior fonte de água doce subterrânea do planeta, dele estando 157.600 km2 no Rio grande do Sul. A Campanha Gaúcha se espalha também pelo Uruguai e pela Argentina garante uma cumplicidade com os hermanos do outro lado do Rio Uruguai. Os costumes se assemelham e os elementos locais emprestam rusticidade original: o cabo de osso das facas, o couro nos tapetes, a tesoura de tosquia que ganha novas utilidades.

Campanha Gaúcha

No verão, entre os meses de dezembro a fevereiro, os dias ficam com iluminação solar extensa, contendo praticamente 15 horas diárias de insolação, o que colabora para a rápida maturação das uvas e também ajuda a garantir uma elevada concentração de açúcar, fundamental para a produção de vinhos finos de alta qualidade, complexos e intensos.

As condições climáticas são melhores que as da Serra Gaúcha e tem-se avançado na produção de uvas europeias e vinhos de qualidade. Com o bom clima local, o investimento em tecnologia e a vontade das empresas, a região hoje já produz vinhos de grande qualidade que vêm surpreendendo a vinicultura brasileira.

Há mais de 150 anos, antes mesmo da abolição da escravatura, a fronteira Oeste do Rio Grande do Sul já produzia vinhos de mesa que eram exportados para os países do Prata (Uruguai, Argentina e Paraguai) e vendidos no Brasil.

A primeira vinícola registrada do Brasil ficava na Campanha Gaúcha. Com paredes de barro e telhado de palha, fundada por José Marimon, a vinícola J. Marimon & Filhos iniciou o plantio de seus vinhedos em 1882, na Quinta do Seival, onde hoje fica o município de Candiota.

E o mais interessante é que, desde o início da elaboração de vinhos na região, os vinhos da Campanha Gaúcha comprovam sua qualidade recebendo medalha de ouro, conforme um artigo de fevereiro de 1923, do extinto jornal Correio do Sul de Bagé.

E agora o vinho!

Na taça revela um intenso vermelho rubi, brilhante, com reflexos violáceos, com uma boa concentração de lágrimas finas.

No nariz o destaque fica para explosão de aromas frutados, de frutas vermelhas, tais como morango, framboesa, morango e ameixa, com discretas notas amadeiradas, graças aos 6 meses de passagem por barricas de carvalho, em um pleno equilíbrio, além de toques herbáceos, de especiarias, meio apimentados, diria.

Na boca é delicado, com uma textura macia, cheio, um bom volume de boca, mostrando certa estrutura, mas muito fácil de degustar, as notas frutadas são evidentes o que corrobora o seu frescor, graças também a sua equilibrada acidez, com taninos domados. A madeira também é percebida, como no aspecto olfativo, bem como as especiarias, destaque para um fundo herbáceo. Tem um final persistente e frutado.

Um vinho que trouxe momentos nostálgicos maravilhosos, mas que, no atual momento, me proporcionou o que há de melhor para as minhas experiências sensoriais: Um vinho intenso, de personalidade, mas fácil de degustar, por ser extremamente elegante, frutado e com alguma complexidade, que a breve passagem por barricas de carvalho proporcionou. Depois de algum hiato, a Cabernet Franc trouxe à tona para os meus sentidos o quão importante foi para a minha história vínica, entregando o que eu já esperava, mas com aquele “tempero” de novidade que me embriagou de prazer. História, degustações, celebrações, tudo mesclado pela poesia líquida enchendo a taça e a minha satisfação. Que venham mais e mais degustações da delicada Cabernet Franc! Tem 13,5% de teor alcoólico muito evidente, mas muito bem integrado ao conjunto do vinho.

Sobre a Vinícola Miolo:

A história da família Miolo no Brasil começa em 1897. Entre os milhares de imigrantes italianos que vieram ao país em busca de oportunidades, estava Giuseppe Miolo, um jovem que já tinha nas veias a paixão pela uva e pelo vinho, vindo da localidade de Piombino Dese, no Vêneto. Ao chegar ao Brasil, Giuseppe foi para Bento Gonçalves, município recém-formado por imigrantes italianos. Entregou suas economias em troca de um pedaço de terra no vale dos vinhedos, chamado Lote 43. Já em 1897, o imigrante começou a plantar uvas, dando início a tradição vitícola da família no Brasil.

Na década de 70, a família foi pioneira no plantio de uvas finas, fazendo com que os netos de Giuseppe Miolo, Darcy, Antônio e Paulo, ficassem muito conhecidos na região pela qualidade de suas uvas. No final da década de 80, uma crise atingiu as cantinas dificultando a comercialização de uvas finas e forçando a família Miolo, a partir de 1989, a produzir o seu próprio vinho para a venda a granel para outras vinícolas. Surge a Vinícola Miolo, com apenas 30 hectares de vinhedos. Em 1992 a primeira garrafa assinada pela família foi um Merlot safra 1990, que na partida inicial teve 8 mil garrafas produzidas. Em 1994 é lançado o Miolo Seleção, que logo se torna o vinho mais distribuído da Miolo.

A paixão pela vitivinicultura e o desejo de levar mundo afora o vinho fino brasileiro foi o que inspirou a família Miolo a tomar a decisão de expandir o negócio. Inicia-se em 1998 o Projeto Qualidade. Desde então o crescimento da empresa foi significativo: com investimentos constantes na terra, tecnologia, recursos humanos e no próprio consumidor, iniciou-se também o Projeto de Expressão do terroir brasileiro.

Instalado na Estância Fortaleza do Seival, localizada no Sul do Brasil, no município de Candiota, próximo à divisa com o Uruguai, o “Projeto Seival”, nos anos 2000. Em 2001 a Família Miolo juntamente com a família Benedetti (Lovara) iniciam o projeto Terranova no Vale do São Francisco, adquirindo a antiga propriedade do Sr. Mamoro Yamamoto chamada Fazenda Ouro Verde. Em 2009 a Família Miolo, juntamente com a família Benedetti e a família Randon, adquirem a Vinícola Almadén pertencente a Pernod Ricard. Sendo também uma das mais importantes do segmento de vinhos no mercado nacional, introduzindo a colheita mecânica, pioneira no Brasil.

Mais informações acesse:

https://www.miolo.com.br/

Referências:

“Wine”: https://www.wine.com.br/winepedia/sommelier-wine/serie-uvas-cabernet-franc/

“Blog Famiglia Valduga”: https://blog.famigliavalduga.com.br/cabernet-franc-day-o-que-voce-precisa-saber-sobre-o-assunto/

“Werle Comercial”: https://www.werlecomercial.com.br/falando-de-uva-tudo-sobre-a-cabernet-franc

“Vinho Básico”: https://www.vinhobasico.com/2017/01/30/cabernet-franc/

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/cabernet-franc_10078.html

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=CAMPANHA

“Vinhos da Campanha”: https://www.vinhosdacampanha.com.br/campanha-gaucha/












sexta-feira, 3 de setembro de 2021

Fazenda Santa Rita Pinot Noir 2017

 

O natal é um ótimo período do ano para harmonizar vinhos! São tantas opções, são tantos pratos, dos mais diversos que você pode escolher vinhos de todas as propostas: dos mais doces aos mais encorpados, dos secos aos frutados. A lista é grande! Porém, contudo, entretanto, todavia, a diversidade é tamanha que às vezes geram dúvidas e questionamentos quanto às famosas harmonizações enogastronômicas.

Digo isso porque, confesso não ser muito bom nas harmonizações, o mínimo que sei são as harmonizações com os queijos e olha lá, fazendo, muita das vezes, com o apoio de informações coletadas na grande rede.

Quando chega o período natalino e de ano novo é sempre aquele dilema, aquela dúvida recorrente de qual vinho escolher para harmonizar com essa infinidade de comidas que a nossa mãe ou a nossa avó, exageradas como são, faz e entope as mesas faltando espaço na maior parte das vezes, na mesa e na barriga também.

Depois de alguns erros, equívocos da minha parte, ao escolher determinados rótulos, e digo isso não porque há algo estabelecido por formadores de opinião que determina que o prato “A” é perfeito para o vinho “B”, pois sempre escolhi os vinhos que achavam ser interessante para alguns pratos natalinos, eu encontrei um denominador comum, um vinho versátil, um coringa para essas ocasiões festivas. E bingo! Foram os rótulos da casta Pinot Noir.

Pinot Noir, uma casta frutada, delicada, leve tem tudo a ver, pelo menos para mim, com o período natalino, a começar pelo tempo: No natal estamos no verão e nada mais adequado degustar um Pinot Noir mais refrescado, até geladinho. É interessante também com os tradicionais pratos, como: Peru, Chester, as aves, carne branca. Essa conclusão eu cheguei, modéstia à parte, sozinho, com todo respeito aos profissionais da área, como os somelliers, tão importantes nessa hora.

Então naquele natal de 2019, olhei para a adega sem a dúvida dos natais passados, com aquele pergunta cheia de drama e dilema: Que vinho degustar nesse natal? Resolvi olhar com mais carinho para os Pinots!

E escolhi um nacional, de uma região que naquela época, pelo menos para mim, era nova do Rio Grande do Sul, mais precisamente da cidade de Campos de Cima da Serra. O vinho que degustei e gostei se chama Fazenda Santa Rita e a casta é a Pinot Noir da safra 2017. Tudo era novo: a região, o rótulo que eu havia conhecido em um evento de degustação famoso, então o momento foi singular.

Então já que falei de novidades, vamos contar um pouco a história de Campos de Cima da Serra e do crescimento exponencial dessa região para o cenário vitivinícola do Brasil e depois o vinho e as minhas impressões que foram das melhores possíveis.

Campos de Cima da Serra

Por muito tempo, a região dos Campos de Cima da Serra ficou à sombra da Serra Gaúcha. A predominância do cultivo de variedades híbridas e o clima frio e ventoso eram encarados como entraves para o desenvolvimento de grandes vinhedos. Atualmente, no entanto, o cenário é o oposto. A baixa temperatura e a incidência constante do vento foram transformadas em diferenciais, pois propiciam uma maturação mais longa e condições para que as uvas viníferas apresentem excelente sanidade. As iniciativas de empresários que se aventuraram em elaborar vinhos na região foram recompensadas com grandes rótulos, hoje nacionalmente conhecidos por sua qualidade.

A Vitivinicultura na região dos Campos de Cima da Serra é recente, iniciou com pesquisas realizadas pela Embrapa Uva e Vinho, que desde 2004 conduz experimentos nas áreas de viticultura e enologia na região, tem indicado condições favoráveis devido ao solo e o clima. Ainda em fase de crescimento, destacam-se municípios como Campestre da Serra, Monte Alegre dos Campos, Ipê e Vacaria. Até então, o que víamos eram esplêndidas maçãs, sobretudo plantadas em Vacaria: "maçãs da Serra Gaúcha para a sua mesa!", um slogan bem conhecido localmente.

Campos de Cima da Serra ao norte

Naturalmente tem naquelas terras, devido ao fato de ser um pouco mais frio, um terreno propício para ciclos vegetativos mais longos e aos vinhos com menor teor alcoólico, acidez mais alta e boa estabilidade de cor e bom perfil aromático (os dois últimos graças à boa amplitude térmica).

Recordando a teoria: a cada 100 metros de altitude a temperatura média decresce em torno de 0,5 graus e corresponde a um retardo de 2-3 dias no período de crescimento da planta. Isso, comparativamente, coloca a região de Campos de Cima mais próxima de um clima de Bordeaux, ao contrário da Serra Gaúcha. Mas, há uma boa insolação sem dúvidas! Aliás, turisticamente, dali pode-se iniciar, rumo ao litoral, a conhecida "Rota do Sol"!

Como os ciclos da planta são longos, há colheitas de uvas tardias como a Cabernet Sauvignon no mês de abril, fato que traduz uma maturação lenta e que associada à já citada amplitude térmica (com variações de 15 graus em média, entre dia-noite) propicia vinhos mais harmônicos, com bom equilíbrio geral entre corpo-álcool-acidez.

Dentre as uvas principais temos as tintas Ancelotta, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Merlot, Tannat e Pinot Noir. Esta última, tem tido bom destaque, sobretudo no munícipio de Muitos Capões. As brancas mais cultivadas são Chardonnay, Moscato Branco, Glera (Prosecco), Trebbiano e a de melhor potencial de qualidade, a Viognier.

As videiras estão situadas principalmente em três municípios: Vacaria, Muitos Capões e Monte Alegre dos Campos. As uvas Pinot Noir e Chardonnay (uvas utilizadas na elaboração de espumantes)são muito cultivadas na região que apresenta clima temperado, com boa amplitude térmica. Por conta das baixas temperaturas, as videiras têm um ciclo vegetativo mais longo, brotam mais tarde. Consequentemente, a colheita é mais tardia, quase no início do outono.

Pode-se resumir que a região de Campos de Cima da Serra aporta e acrescenta um toque a mais de sutilezas climáticas, permitindo a diversificação de estilos de vinhos do Rio Grande do Sul como um todo e, por sua bela paisagem natural, pode se tornar um novo polo turístico, a contrapartida lúdica no trabalho de informação e educação sobre vinhos aos consumidores.

E agora o vinho!

Na taça revela um vermelho rubi de pouca intensidade, típico dos vinhos da casta Pinot Noir, mas com um excepcional brilho, que exaltam os tons violáceos com algumas poucas finas e lágrimas que logo se dissipavam das paredes do copo.

No nariz a predominância das frutas faz do vinho leve, fresco, mas intenso, marcante, graças a essa qualidade aromática, predominando as notas de morango, framboesa e aquele toque floral, de flores vermelhas.

Na boca é um vinho leve, fresco, equilibrado, delicado, elegante, as notas frutadas se repetem, com uma excelente e instigante acidez que corrobora a sua condição de frescor, com taninos redondos e domados, quase imperceptíveis, com um final frutado e prolongado.

Um vinho harmônico, saboroso, que enche a boca, mas que se revela delicado e muito elegante como todo e qualquer rótulo que ostente a casta Pinot Noir. Um vinho de excelente custo x benefício, especial, que caiu como uma luva nas harmonizações natalinas. Consegui degustar tudo com um único vinho e ficou maravilhoso, fantástico. Um vinho versátil e delicioso. Que venham vários natais e vários Pinots celebrando esse momento familiar e celebrando também a degustação de grandes rótulos. Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a vinícola Família Lemos de Almeida

“Somos Raízes, somos Família. Enaltecendo nossas origens lusitanas, agora somos a Vinícola Família Lemos de Almeida. Na cidade de Muitos Capões, estruturados em uma encantadora Vila Açoriana, atuamos com excelência na produção de vinhos finos de castas francesas e portuguesas”.

Foi em 2005, vislumbrando o terroir da região, favorável devido ao solo e clima, que iniciaram a implantação da infraestrutura para produção de uvas. No ano de 2009, plantaram as primeiras mudas de origem Francesa, que deram início à primeira vinificação em 2012.

Conduzida pelo seu fundador e proprietário, Agamenon Lemos de Almeida, juntamente com a filha Bibiana Lemos de Almeida, a Vinícola mantém sua característica de propriedade familiar. Única vinícola com características açorianas no Brasil, a Família Lemos de Almeida aposta na inovação. Focada no enoturismo, e instalada em uma encantadora Vila Açoriana celebra a arte, a arquitetura, a história e a cultura açorianas e recebe seus visitantes em uma área de 12 hectares onde são cultivadas variedades de uvas francesas e portuguesas.

Hoje, a Vinícola Família Lemos de Almeida, produz 100% dos seus vinhos a partir de vinhedos próprios e atinge 100 mil garrafas por ano, tornando-se notória pela premiada qualidade.

Mais informações acesse:

http://www.familialemosdealmeida.com.br/









domingo, 29 de agosto de 2021

Promised Land Cabernet Sauvignon 2017

 

Não sou muito afeito a essas comemorações de aniversário, de desejar parabéns no dia em que nasceu ou coisa que o valha. Depois que angariei alguns anos mais de vida, isso passou a ser desinteressante. Há quem diga que esse discurso é sustentado por quem já está ficando velho e, com receios das marcas do tempo, não faz questão de falar e tão pouco comemorar o aniversário.

Eu confesso com segurança de que as marcas do tempo e a idade avançada não é um empecilho para a minha vida, o que mais importa é viver com dignidade e a mínima qualidade de vida, embora relativa, compartilhando o que há de melhor em você para com os seus à sua volta.

Mas hoje, o rótulo de hoje, tenho de confessar, foi escolhido motivado pela data de comemoração da rainha das castas tintas: A Cabernet Sauvignon. Confesso também que sequer sabia dessa data, como disse, não me prendo a isso, mas hoje, aproveitei o ensejo para degustar um rótulo da Cabernet Sauvignon.

Não vou ousar dizer que a Cabernet Sauvignon é uma unanimidade, até porque, como dizia o saudoso e grande dramaturgo Nelson Rodrigues: “A unanimidade é burra”, mas sem dúvida é uma das mais consumidas e apreciadas do planeta, sem contar também que é um mar sem fim de hectares espalhados pelos mais diversos e ricos terroirs, tudo para nosso deleite e escolha, para qualquer paladar: de entrada, complexo, amadeirado etc.

Então já que é dia da Cabernet Sauvignon, vamos celebrar! Vamos celebrar, todo dia, a existência de rótulos, de castas como essa, que são a personificação da celebração! Então fui até a adega com a “árdua” missão de escolher um rótulo dessa nobre casta. Não foi uma árdua escolha, afinal é a casta que mais tenho à disposição, não é à toa que ela é a rainha das castas tintas, ela reina em qualquer adega, de qualquer enófilo, independentemente de cor, raça, credo ou questões sociais.

O olhar girou, correu e fixou em um vinho em especial que está na adega há algum tempo. Um australiano, sim, tenho um vinho da terra do simpático canguru em minha adega. Uau! A quanto tempo não degustava um rótulo australiano. Tudo veio a calhar, no momento certo! Era hora de degusta-lo! A rosca foi rompida, os aromas começaram a saltar para fora da garrafa, ganhando o mundo e invadindo as minhas narinas. Isso já me seduziu de imediato.

O rótulo também, muito bonito e original, trouxe o belo apelo estético, tudo parecia conspirar a favor. A taça foi inundada da poesia líquida pela primeira vez, o ritual sendo respeitado, o giro dela, a volatização, os aromas vieram a que disse: frutas negras, baunilha, trazia a impressão de ser sedoso, mas marcante. O degustei e que vinho! Mais uma vez os australianos da casta Cabernet Sauvignon se revelando potentes, delicados e frutados e isso me agrada!

O vinho que degustei e gostei veio da emblemática South Australia (Sul da Austrália), e se chama Wakefield Promised Land da casta, claro, Cabernet Sauvignon, da safra 2017. E sem mais delongas falemos um pouco da casta, aniversariante do dia, a sua história e um pouquinho da região do Sul da Austrália, tão importante para aquele país.

A rainha das uvas tintas: Cabernet Sauvignon

Chamada de rainha das uvas, a Cabernet Sauvignon (CS) está em toda parte. Uva internacional, corruptora, amada e odiada, tornou- se um padrão mundial presente em praticamente todos os países produtores do planeta: da Inglaterra à Alemanha e Áustria; do Canadá à China e Japão; do Peru e Venezuela ao Zimbábue; do Brasil à Turquia, Marrocos, Grécia, Israel e Líbano; da Moldávia e Hungria à Romênia e Bulgária. Sem falar de França, EUA, Chile, Austrália, Itália, Portugal, Argentina, Espanha, Uruguai, África do Sul, Nova Zelândia.

Todos estes países produzem seus CS. Por onde passa, esta tinta deixa seu indelével toque. Mas como e por que a CS se tornou a mais importante casta do nosso tempo? Qual sua origem? Qual seu gosto? O que a torna tão marcante? Quais as melhores regiões produtoras?

Só começou a aparecer com este nome no final do século XVIII. Alguns historiadores sugerem que ela seria a Biturica, cepa mencionada pelo romano Plínio o Velho (23-79), em seus trabalhos científicos. O nome foi inspirado na tribo Bituriges, fundadora de Bordeaux. Existem produtores italianos que engarrafam hoje seus CS chamando-os de Biturica e reivindicando a origem desta casta afrancesada. Há especulações também de que esta tinta seria a Petit Vidure ou Bidure, uma antiga uva de Bordeaux, originada do nome Vin Dure pela dureza de seu caule.

Independente do nome que possa ter tido no passado, uma coisa está provada: a origem genética da CS. Em 1997, na Universidade da Califórnia, em Davis, testes de DNA foram conclusivos ao afirmar que a CS é um cruzamento da Cabernet Franc com a Sauvignon Blanc. O microscópio demonstrou o que parece bem lógico, além do nome sugerir sua origem, os aromas de frutas vermelhas da CS lembram a Cabernet Franc e os de ervas frescas nos remetem facilmente à Sauvignon Blanc.

A CS é simplesmente a principal casta da principal região produtora de vinhos do mundo: Bordeaux. Apesar de não ser a casta mais plantada da região (a Merlot ocupa área maior) e também não ser a maior produtora do mundo em termos de volume (perde para o Languedoc-Roussillon), os tintos de Bordeaux são o modelo mais imitado em todo globo. Assim, a CS expandiu-se a partir dos anos 70 junto com o "padrão Bordeaux".

Em uma lista dos maiores tintos do mundo, possivelmente a Cabernet será a uva mais presente, seja em misturas ou em monovarietais. Ao contrário de cepas como Pinot Noir e Nebbiolo - que raramente vingam fora de suas regiões principais, respectivamente Borgonha e Piemonte -, a CS é de grande adaptabilidade a diversos climas e terrenos. Todo lugar não frio demais a recebe bem, gerando ótimos vinhos nos mais diversos terroirs.

No que diz respeito ao solo, a CS cresce em uma grande diversidade de terrenos ao redor do mundo, com um ponto em comum: precisa de calor e da drenagem adequada para amadurecer - quanto mais drenagem, mais úmido e frio o clima. Em Bordeaux, por exemplo, a CS prefere os solos de cascalho, pois as pedras retêm o calor e proporcionam boa drenagem para escoar a umidade típica da região. Em sub-regiões de Bordeaux com solos mais argilosos como, por exemplo, Pomerol, a CS raramente aparece, quem domina ali é a Merlot.

Outras qualidades da Cabernet Sauvignon:

1- Boa capacidade de envelhecer e ganhar complexidade;

2- É amiga do viticultor, já que, além de resistir a muitas pragas, tem bom rendimento. Em geral, pode render uma boa quantidade de uvas por hectare sem grande perda de qualidade;

3- É uma casta que se adapta bem com outras em cortes;

4- Proporciona vinhos de força e longevidade;

5- Adapta-se bem ao amadurecimento em barricas de carvalho;

6- Serve para modernizar o estilo de muitos vinhos de castas autoctonas, as vezes rústicos, e de sabor exótico, que se beneficiam quando misturados a CS, ganhando um toque internacional à mistura, além de proporcionar potência ao produto final.

7- Caráter marcante. É fácil de ser reconhecida em cortes, seus aromas e sabores se destacam, mesmo quando está em proporção pequena;

8- Muitas afinidades, onde quer que vá, em vários países e regiões;

9- Ao mesmo tempo em que é marcante, é também versátil - gera desde tintos de grande cor e corpo, passando tintos leves, rosados, espumantes a até brancos. Sim, é possível. Existe, inclusive, blanc de noirs feito com Cabernet Sauvignon de origem israelense.

Em geral, pode-se dizer que a CS reflete menos o seu solo de origem do que castas mais sensíveis, como a Pinot Noir. Contudo, os grandes exemplares CS são inegavelmente verdadeiros vinhos de terroir, refletindo perfeitamente sua origem.

“Cabernet Day”

No dia 29 de agosto é comemorado o dia da Cabernet Sauvignon, um dia dedicado especialmente às uvas dessa casta. A data foi estabelecida em 2010 pelo profissional de marketing Rick Bakas, após reunir um grupo de vinícolas da região de Napa Valley. O objetivo era promover a comemoração nas mídias sociais.

Desde então, o “feriado oficial” da Cabernet Sauvignon é comemorado ao redor do mundo, com pessoas bebendo vinho e conversando sobre o assunto on-line. A hashtag #CabernetDay é muito usada, especialmente no Twitter, para a divulgar a data e atrair cada vez mais adoradores de um vinho de qualidade.

Por ter características tão únicas e se adaptar tão bem a diversos climas e solos, a Cabernet Sauvignon ganhou o título de “rainha das uvas tintas”. Sua notoriedade e popularidade inspiraram a criação de um dia especial e dedicado a reconhecer a sua importância no mundo dos vinhos.

South Australia

É dessa região que provêm as uvas para a produção do mítico Grange. A cidade mais destacada é Adelaide. As macrorregiões vitivinícolas estão localizadas ao redor dela. As mais importantes são: ao sul, a Ilha Kangaroo, e, ao sudeste, Limestone Coast. Nos arredores de Adelaide estão Southern Fleurieu, Currancy Creek, Langhorne Creek, Adelaide Hills, McLaren Vale, Adelaide Plains, Eden Valley, Barossa Valley, Clare Valley, Coonawarra e Riverland etc. Todas elas produzem muito bons vinhos, mas deve-se destacar Barrossa Valley, Eden Valley, Clare Valley e McLaren Vale, como berço de verdadeiras obras-primas da Austrália.

Sul da Austrália

São dessas quatro regiões os mais disputados vinhos do país. Além do Grange, ali se encontram Shiraz maravilhosos de Barossa, Clare e Eden Valleys e McLaren Vale. Neste último, temos - além dos mais prestigiados Shiraz do país - excepcionais tintos à base da casta Grenache.

E, por último, vale mencionar que a região de Coonawarra produz muitos Cabernet Sauvignon de respeito. A diversidade de castas é vasta. Pelas dimensões, os climas variam muito, desde um mais quente e continental em Riverland, para um pouco menos quente, em Barossa Valley, para o mais frio em Coonawarra. As regiões costeiras ao redor de Adelaide recebem brisas marítimas, reduzindo a umidade.

E agora finalmente o vinho!

Na taça nos revela um lindo vermelho rubi intenso, com entornos violáceos, realçando um brilho envolvente, com uma razoável proliferação de lágrimas finas e lentas.

No nariz se faz o destaque com uma profusão de aromas de frutas pretas tais como groselha negra, ameixa e amora, com discretas notas de madeira, graças aos 8 meses de passagem por barricas de carvalho, baunilha e tabaco.

Na boca é suculento, intenso, média estrutura, mas macio, sedoso e equilibrado. As notas de frutas pretas se revelam intensamente como no aspecto olfativo, juntamente com sutis e agradáveis notas amadeiradas, de torrefação, chocolate e baunilha. Os taninos estão presentes, mas domados, com baixa acidez e um final persistente e longo com retrogosto frutado.

Um misto de emoções e celebrações que fragmentadas revelam um todo singular. O primeiro vinho australiano depois de algum tempo, uma região especial no Sul da Austrália, o “Cabernet Day”...Um dia especial e não tão somente por fatos como esses elencados, mas pelo fato de ser mais um dia, especial, como todos os outros, de degustação. O ato em si de degustar um vinho é especial, então todo o dia que desarrolhar um sempre será especial e único. E o Promised Land Cabernet Sauvignon traz a versatilidade tão evidente nos CS australianos: um vinho delicado, equilibrado, mas de marcante personalidade como um Cabernet Sauvignon tem de ser no seu âmago, apesar das particularidades dos terroirs as quais estão inseridos. Um vinho sedoso, persistente no final, a fruta protagonizando. Enfim um belo vinho em uma jovem tarde de domingo. Tem 13,5% de teor alcoólico.

Por que “Promised Land”? Com a palavra, o produtor:

“Nomeado após um lote especial de terreno prometido para venda em um aperto de mão com um vizinho. Com frutas provenientes das principais regiões vinícolas do sul da Austrália, os estilos que nossos produtores de vinho as embarcações são vivas e acessíveis com brancos refrescantes e tintos suaves”.

Sobre a Taylors Wines:

Vinhos Taylors é propriedade de uma família vinícola fundada em 1969 e que está localizada no Clare Valley do Sul da Austrália. Taylors é um dos membros fundadores da As primeiras famílias de vinho da Austrália.

O primeiro vinho da Taylors foi o Taylors Cabernet Sauvignon 1973, que foi premiado com uma medalha de ouro em todos os australianos vinho mostre que foi inserido, desde então, a Taylors Wines cresceu e se tornou a maior holding de Clare Valley. Devido a restrições de marca registrada, a Taylors Wines é comercializada como Wakefield Wines na maioria dos Hemisfério Norte.

Os 178 hectares originais do vinhedo foram fundados em 1969 por Bill Taylor e seus filhos Bill e John e ainda hoje é administrada pela família. O vinhedo original está localizado às margens do rio Wakefield em Clare Valley, no sul da Austrália.

Os três logotipos dos cavalos marinhos dos vinhos Taylors e Wakefield foram descobertos no vinhedo. Ao escavar a barragem da vinha, a família encontrou restos fossilizados de pouco cavalos marinhos, significando que a área já fez parte de um mar interior. Hoje, os três cavalos-marinhos representam as três gerações de produtores de vinho Taylors.

Mais informações acesse:

https://www.taylorswines.com.au/

Referências:

“Wikiqube”: https://ao.wikiqube.net/wiki/Taylors_Wines

“Blog Famiglia Valduga”: https://blog.famigliavalduga.com.br/cabernet-sauvignon-day-conheca-a-celebracao-da-famosa-uva/

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/forca-do-vinho-australiano_4581.html

sábado, 28 de agosto de 2021

Lago Sur Gran Reserva Chardonnay 2016

 

Um Gran Reserva custando R$ 29,90? O que é isso! É possível? Se é possível de fato eu não sei dizer no ápice de minha singeleza enófila, mas quando estava em mais uma das minhas urgentes e necessárias incursões aos supermercados avistei um que, discretamente, estava na gôndola de baixo e sem nenhum destaque que merecesse por conta do valor e da proposta que esse tipo de rótulo pode ou poderia, pelo menos, proporcionar.

E o que mais me chamou atenção foi o produtor! De um vinho que em um passado razoavelmente distante, eu havia degustado e adorado chamado “Las Casas de Vaqueria”. Um produtor pouco conhecido, é verdade, sobretudo em terras brasileiras e com pouca representatividade de pontos de venda, mas que me arrebatou de forma plena e avassaladora: o Lago Sur Carménère Gran Reserva da safra 2015.

Tudo bem que essa casta, emblemática no Chile, tem de ser tratada ao pão de ló, mas um vinho tão saboroso, frutado, intenso e complexo, que entregou muito além do que eu esperava por ser tratar exatamente desse quesito tão arriscado, mas que está no “sangue” de quem é enófilo que é comprar no escuro, pois não há referências sequer na grande rede!

Bom voltando ao meu “doce dilema” do supermercado, eu me familiarizei com o rótulo por conta do produtor e o tomei em minhas mãos, afinal, a análise ainda é válida. Infelizmente não havia maiores informações do vinho no rótulo e conta-rótulo, apenas o de praxe, como a região, Maule DO e a safra, o que também preocupava, talvez: 2016. Eu o comprei em 2020, então, com 4 anos de vida, para um branco, mesmo que Gran Reserva, poderia ser um risco. Poderia? Esses questionamentos e dilemas são suscitados por conta das pouquíssimas informações sobre o vinho.

Talvez o preço baixo pode ser motivado por conta disso e do desconhecimento dos revendedores ou o custo de fato é baixo, em se tratar de um vinho cujo produtor é desconhecido, o que pode ser bom, muito bom! Enfim, diante dessas questões existenciais, o tomei pelos braços, com determinação e segui para o local de pagamento.

Decidi também, já que estamos falando de risco, degusta-lo quando completasse 5 anos de safra. Esperei pacientemente por mais um ano e eis que o momento chegou e como estava ansioso para degusta-lo. Temperatura estava adequada, o momento também, os rituais fielmente seguidos, a rolha gritou quando se desprendeu da garrafa e...Voilá!

E para a minha alegria e os meus sentidos o vinho estava fantástico! Um Chardonnay poderoso, untuoso, mas fresco ainda, no ápice de sua condição. O vinho que degustei e gostei veio da região do Maule, no Chile e se chama Lago Sur Gran Reserva Chardonnay da safra 2016. Bem para não perder o costume, falemos de história, falemos da tradicional região do Maule, antes de tecermos, com imensa alegria, os detalhes do vinho.

Maule DO

A maior e uma das mais antigas regiões vinícolas do Chile, o Maule é um lugar cheio de charme e com clima propício à vitivinicultura. A região se inicia a menos de 300 quilômetros de Santiago, capital do país. Seus microclimas e solos diversos possibilitam a cultura e produção de uma variedade muito grande de vinhos, já que praticamente todas as castas de uvas cultivadas no Chile são encontradas no Vale do Maule. A região tradicionalmente sempre esteve associada à quantidade da produção muito mais do que à sua qualidade. Nos últimos anos, porém, isso tem mudado substancialmente. Castas internacionais e reconhecidas na vitivinicultura mundial vêm suplantando as de baixa qualidade plantadas na região, e, aliada às práticas cada vez mais desenvolvidas no cultivo das frutas e produção dos vinhos por parte dos seus vinicultores, o Maule tem dado vinhos de alta classe ao mercado, especialmente da variedade Carignan.

Maule DO

Banhado pelo famoso rio que lhe dá nome, o Maule tem clima temperado mediterrâneo, com intensidade alta de sol no verão, com temperaturas máximas entre 19º C e 30º C, e chuva anual concentrada no inverno, quando as temperaturas chegam à mínima de 7º C. Os dias quentes seguidos de noite frias facilitam e prolongam a temporada de cultivo e colheita das uvas, dando-lhes um tempo de amadurecimento total, o que equilibra seus níveis de acidez e doçura. O Rio Maule, que flui do leste para o oeste do Chile, através de um caminho que se inicia nos Andes e termina no Pacífico, ainda propícia à região solos aluviais diversificados, indo desde o granítico até o arenoso. Férteis, esses solos favorecem o cultivo produtivo nos vinhedos da região.

Região com longa e bem-sucedida história na cultura e produção de vinhos, Maule tem na vitivinicultura sua atividade econômica principal; alguns dos mais extensos vinhedos do país estão localizados lá, e alguns deles datam de 1830. Cerca de 50% de todo o vinho exportado do Chile é oriundo do Vale de Maule, que sempre foi conhecida por sua produção em larga escala. A uva mais cultivada no Vale do Maule é a Cabernet Sauvignon com 8.888 de hectares plantados. Nos anos 90, essa produção recebeu grandes investimentos que ocasionaram o desenvolvimento técnico em equipamentos e infraestrutura, que em conjunto com mudanças significativas nas formas de manejo dos vinhedos, favoreceu o surgimento de uma produção mais especializada, resultando vinhos de alto padrão de qualidade e elevado valor comercial. O vale ainda oferece muitos atrativos turísticos relacionados ao mundo dos vinhos. Uma rota composta por um conjunto de 15 vinhas em diferentes cidades da região possibilita ao visitante entrar em contato com o processo de produção, além de degustação de vinhos e pratos.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um amarelo ouro brilhante, um pouco translúcido com uma boa concentração de lágrimas finas.

No nariz é frutado, frutas brancas como pera, maçã-verde, talvez abacaxi, com um toque floral, de flores brancas, além de uma curiosa nota de mel e também de especiarias.

Na boca é seco e como no aspecto olfativo, se percebe as notas frutadas, não tão evidentes assim, talvez pelo tempo de safra, com uma boa estrutura, um bom volume de boca, um pouco untuoso, amanteigado, a madeira também é notada (não há informação do tempo de passagem por barricas no site do produtor e tão pouco no rótulo), mas em perfeito equilíbrio, dando o protagonismo às características da cepa, com discreta acidez e final alcoólico e prolongado.

Pois é, o risco pode ser iminente, em casos de vinhos Gran Reserva demasiadamente barato, vamos confessar que esses questionamentos vêm carregados de preconceitos, mas quando o vinho nos surpreende positivamente, o prazer, o regozijo pode ser maior, melhor, único! Um amarelo ouro envolvente, intenso, mais límpido, até, dependendo do ângulo, translúcido, um Chardonnay de personalidade, como todo Chardonnay chileno deve ser, mas ainda fresco, agradável, delicado, desempenhando bem o seu papel de vinho para os dias solares e descontraídos, mas com uma boa dose de austeridade. Untuoso e mineral, delicioso e frutado, como é versátil esse belo vinho! Que os ventos tragam mais e mais surpresas como essa! Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Casa Donoso:

A Viña Casa Donoso surgiu no mercado num momento em que a indústria do vinho chileno começou a tornar-se mais sofisticada. Foi em 1989 quando um grupo de empresários estrangeiros, cativados pela beleza e as potencialidades do meio ambiente, adquiriu a fazenda “La Oriental”, um histórico “Domaine” no coração mesmo do Vale do Maule, 250 km ao sul de Santiago do Chile, que pertencia à senhora Lucia Donoso Gatica. Uma mulher de especial encanto e empuxe empresarial, ela inspirou o próprio conceito da Vinha Casa Donoso, orientado para a produção tradicional de vinhos tintos e brancos, no melhor estilo francês.

Durante muitos anos a Casa Donoso desenvolve um conjunto de linhas de produção de normas de qualidade muito elevadas, sendo a base para conceber a produção de vinhos da linha Reserva, Gran Reserva, Premium, todos aqueles que já qualificados nos cinco continentes em termos de presença, participação e reconhecimento.

Sobre “Las Casas de Vaqueria”:

Na Fazenda Las Casas de Vaqueria, no Vale do Maule, está a casa mais antiga entre as fazendas da Casa Donoso. Foi construído no século 19, conhecido como a "era colonial" no Chile. Graças à combinação ideal do terroir do Maule, vinhas velhas e o clima perfeito, os enólogos podem oferecer vinhos premium chilenos inspirados na tradição e história do campo chileno.

Mais informações acesse:

http://donosogroup.com/index.html



Referências:

“Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/vale-do-maule-fertilidade-e-diversidade-de-uvas-e-vinhos/

“Vinci”: https://www.vinci.com.br/c/regiao/valle-de-maule