Algo é inquestionável, diria unânime: Os melhores rótulos da
expressiva e tânica casta Tannat são do Uruguai. Não há o que contestar quanto
a essa afirmação. Mas ufanismos à parte, o Brasil está despontando como um dos
grandes produtores da casta no Cone Sul. Evidente que o Brasil ainda tem muito
a caminhar e evoluir, em todos os âmbitos, para se tornar uma potência
vitivinífera, mas é inegável que o Brasil está em um caminho muito, mas muito
favorável.
Estamos produzindo vinhos de excelência, de caráter,
expressando os nossos terroirs, com tipicidade e os rótulos da casta Tannat
produzido em nossas terras estão fazendo bonito, muito bonito.
Não sei se estou sugestionável ou tomado por uma demasiada
excitação que nos impede de pensar racionalmente, mas o fato que tenho tido
algumas gratas surpresas ao degustar alguns Tannats brasileiros e os rótulos do
Rio Grande do Sul, sobretudo da Serra Gaúcha, estão abocanhando prêmios e
destaque não só no Brasil como no mundo inteiro.
Há quem diga que o fator geográfico (proximidade com o
Uruguai) seja um fator preponderante, mas o panorama é evidentemente favorável:
Vinhos básicos, de complexidade, longevos, são propostas para todos os gostos e
bolsos.
Um dos meus primeiros rótulos nacionais da casta foi o
emblemático Miolo Reserva 2015 e esse me veio, como referência, além do
renomado e conceituado produtor, com um significativo prêmio que recebeu,
pasmem, no Uruguai, em um concurso dos melhores Tannats da América do Sul.
Pronto! Isso foi o suficiente para sair da zona de conforto do Uruguai e se
aventurar nos Tannats tupiniquins.
Ao longo do tempo fui degustando alguns rótulos brasileiros,
não na profusão que queria e gostaria, e fui consolidando, aos poucos, a minha
fundamentação na qualidade do Tannat brasileiro e atualmente tenho alguns
rótulos em minha adega que supera o único Tannat que tenho do Uruguai.
E hoje, não mais que hoje, decidi desarrolhar um deles: Um
Tannat legitimamente brasileiro! E por que falei, de forma tão enfatizada,
legitimamente brasileiro? Vou lhes dizer, caros leitores, esse Tannat
brasileiro é de um produtor a quem tenho um profundo respeito e adoração, pois
se trata de uma vinícola que personifica a tipicidade e respeita os DNAs dessas
terras como poucos: Falo da Cooperativa Vinícola Aurora! Vinhos de qualidade e
com preços justos que visam uma proposta democrática da disseminação da cultura
do vinho.
A hora tão chegada se materializa com o espocar da rolha,
desprendendo-se da garrafa, dando a oportunidade para o líquido inundar a taça
e estimular os meus sentidos. A degustação começa poderosa, o ritual seguido à
risca, o vinho tem personalidade, é expressivo, entrega todas as
características que faz a fama da Tannat: estruturado, robusto e volumoso, com
o aporte da madeira. Uau! Que vinho! Sem mais delongas o vinho que degustei e
gostei veio da Serra Gaúcha, no Brasil, falo do Aurora Tannat Reserva da safra
2017. Digo que sou um incondicional fã dessa linha, tão popular, de rótulos da
Aurora e destaco aqui o Aurora Merlot 2017 que dispensa qualquer tipo de comentários
e que ganhou prêmios expressivos. Antes de falar do vinho, é digno de merecimento
contar, com requintes de detalhes, a história da gloriosa região da Serra
Gaúcha.
Serra Gaúcha
Situada a nordeste do
Rio Grande do Sul, a região da Serra Gaúcha é a grande estrela da
vitivinicultura brasileira, destacando-se pelo volume e pela qualidade dos
vinhos que produz. Para qualquer enófilo indo ao Rio Grande do Sul, é
obrigatório visitar a Serra Gaúcha, especialmente Bento Gonçalves.
A região da Serra Gaúcha está situada em latitude próxima das
condições geo-climáticas ideais para o melhor desenvolvimento de vinhedos, mas
as chuvas costumam ser excessivas exatamente na época que antecede a colheita,
período crucial à maturação das uvas. Quando as chuvas são reduzidas, surgem
ótimas safras, como nos anos 1999, 2002, 2004, 2005 e 2006.
A partir de 2007, com o aquecimento global, o clima da Serra
Gaúcha se transformou, surgindo verões mais quentes e secos, com resultados
ótimos para a vinicultura, mas terríveis para a agricultura. Desde 2005 o nível
de qualidade dos vinhos tintos vem subindo continuamente, graças a esta mudança
e também do salto de tecnologia de vinhedos implantado a partir do ano 2000.
O Vale dos Vinhedos, importante região que fica situada na
Serra Gaúcha, junto à cidade de Bento Gonçalves, caracteriza-se pela presença
de descendentes de imigrantes italianos, pioneiros da vinicultura brasileira.
Nessa região as temperaturas médias criam condições para uma vinicultura fina
voltada para a qualidade. A evolução tecnológica das últimas décadas aplicada
ao processo vitivinícola possibilitou a conquista de mercados mais exigentes e
o reconhecimento dos vinhos do Vale dos Vinhedos. Assim, a evolução da
vitivinicultura da região passou a ser a mais importante meta dos produtores do
Vale.
O Vale dos Vinhedos é a primeira região vinícola do Brasil a
obter Indicação de Procedência de seus produtos, exibindo o Selo de Controle em
vinhos e espumantes elaborados pelas vinícolas associadas. Criada em 1995, a
partir da união de seis vinícolas, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos
do Vale dos Vinhedos (Aprovale), já surgiu com o propósito de alcançar uma
Denominação de Origem. No entanto, era necessário seguir os passos da
experiência, passando primeiro por uma Indicação de Procedência.
O pedido de reconhecimento geográfico encaminhado ao
Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) em 1998 foi alcançado
somente em 2001. Neste período, foi necessário firmar convênios operacionais
para auxiliar no desenvolvimento de atividades que serviram como pré-requisitos
para a conquista da Indicação de Procedência Vale dos Vinhedos (I.P.V.V.). O
trabalho resultou no levantamento histórico, mapa geográfico e estudo da
potencialidade do setor vitivinícola da região. Já existe uma DOC (Denominação
de Origem Controlada) na região.
O Vale dos Vinhedos foi a primeira região entregue aos
imigrantes italianos, a partir de 1875. Inicialmente desenvolveu-se ali uma
agricultura de subsistência e produção de itens de consumo para o Rio Grande do
Sul. Devido à tradição da região de origem das famílias imigrantes, o Veneto,
logo se iniciaram plantios de uvas para produção de vinho para consumo local.
Até a década de 80 do século XX, os produtores de uvas do Vale dos Vinhedos
vendiam sua produção para grandes vinícolas da região. A pouca quantidade de
vinho que produziam destinava-se ao consumo familiar.
Esta realidade mudou quando a comercialização de vinho entrou
em queda e, consequentemente, o preço da uva desvalorizou. Os viticultores
passaram então a utilizar sua produção para fazer seu vinho e comercializá-lo
diretamente, tendo assim possibilidade de aumento nos lucros.
Para alcançar este objetivo e atender às exigências legais da
Indicação Geográfica, seis vinícolas se associaram, criando, em 1995, a
Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale).
Atualmente, a Aprovale conta com 24 vinícolas associadas e 19 associados não
produtores de vinho, entre hotéis, pousadas, restaurantes, fabricantes de
produtos artesanais, queijarias, entre outros. As vinícolas do Vale dos
Vinhedos produziram, em 2004 9,3 milhões de litros de vinhos finos e
processaram 14,3 milhões de kg de uvas viníferas.
E com vocês finalmente o vinho!
Na taça um vermelho rubi intenso, escuro, profundo, mas
brilhante e vibrante com lágrimas finas, lentas e em média intensidade.
No nariz as frutas pretas aparecem em destaque tais como a
cereja negra, a groselha, a ameixa, especiarias, o famoso pimentão, com as
notas amadeiradas em plena sinergia com a fruta, além de um toque defumado, de
baunilha.
Na boca revela um médio corpo, bom volume de boca, alguma complexidade, graças aos 10 meses de passagem por barricas de carvalho, que, como no aspecto olfativo, se percebe o amadeirado em sintonia com a fruta, o café torrado, o toque da torrefação, com taninos presentes, vívidos, boa acidez e um final persistente e prolongado.
O desfile no meu olfato e palato entrega um vinho complexo, estruturado, mas redondo, harmonioso, elegante e fácil de degustar. Um vinho gastronômico, cheio, como todo Tannat deve ser. Falei inicialmente que os rótulos da Aurora são extremamente justos no que tange aos valores e, diante das características desse rótulo, pode competir, em iguais condições, com vinhos nacionais dessas castas que costumam custar o dobro do preço. Pois é, talvez esteja realmente estimulado por uma “crise de demasiada animação” que pode nos impedir de pensar, mas vou me ancorar pelo aspecto pessoal da análise do vinho e no real panorama crescente da qualidade dos rótulos da casta Tannat sendo produzidos no Brasil. Mas não estou sozinho! Vejam o que a Soraya Pozzo diz a respeito do Aurora Reserva Tannat.
Que possamos fazer parte da história viva e latente da Tannat
no Brasil, que vários capítulos dessa história sejam escritas com degustações
especiais e arrebatadoras aos nossos sentidos. Que venham mais e mais
experiências tão marcantes como o da Aurora Reserva Tannat. Tem 12,5% de teor
alcoólico.
Sobre a Vinícola Cooperativa Aurora:
A Vinícola Aurora é um sonho compartilhado por imigrantes que
enfrentaram os mais diversos problemas quando chegaram ao Rio Grande do Sul.
Com a veia colaborativa, a empresa cresceu e se tornou um dos expoentes do
vinho gaúcho. A história da cooperativa começou em 1931, quando famílias de
produtores de uvas do município de Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha, com pouco
dinheiro, mas com muita vontade de prosperar, reuniram-se para lançar a pedra
fundamental da empresa.
Na primeira colheita, foram contabilizados 317 mil quilos de
uva. Hoje, quase 85 anos depois, a empresa processa mais 60 toneladas da fruta
e tem 1.100 famílias associadas. A biografia da Aurora, desde as suas raízes, é
permeada por números de sucesso. No cerne da vinícola há solidariedade entre os
pares, se no início do século os imigrantes italianos se uniram para produzir
com maior força e formar uma rede de ajuda mútua, hoje, não é diferente. É
nesse universo, da produção em sociedade, que a Revista Sabores adentra para
desmitificar as oito décadas da empresa.
No Centro de Bento Gonçalves, local que abriga a histórica
Cantina da empresa. De longe é possível ver a grande movimentação, não só de
trabalhadores de vinícola, mas, principalmente, de turistas. Pioneira em abrir
as portas aos visitantes, a cada ano, a Aurora recebe 150 mil pessoas em suas
instalações. É uma multidão de curiosos querendo saber como são produzidos os
232 rótulos da empresa.
Ao percorrer os corredores da vinícola, o visitante conhece em detalhes todas as etapas para a elaboração de um vinho. Desde as esteiras que recebem as uvas na época de colheita, até as pipas gigantes com mais de 50 anos de uso. Não só os produtos alcoólicos que movimentam a cooperativa. A linha de produção ainda tem coolers e suco de uvas. O suco da marca Casa de Bento, produzido pela vinícola, é um dos mais vendidos da empresa. Do total de uvas processadas, 60% viram suco.
Hoje, bem no coração de Bento Gonçalves, a Vinícola Aurora é
a maior do Brasil. Mais de 1.100 famílias se associaram à cooperativa, sendo a
produção orientada por técnicos que, diariamente, estão em contato com o
produtor – fornecendo toda a assistência necessária. A equipe técnica se
responsabiliza pelo acompanhamento permanente do processo industrial e pela
qualidade final dos produtos, sempre com a atenção voltada para o
desenvolvimento de uma tecnologia de ponta.
A conquista da posição que ocupa há mais de duas décadas foi possível graças à constante modernização de seu parque industrial, à alta tecnologia de suas unidades e aos rigorosos padrões exigidos nos processos de produção. O cuidado extremo com a rotina produtiva, observado a partir da plantação das mudas ao engarrafamento do produto, faz parte da receita de crescimento constante do empreendimento durante todos esses anos.
Mais informações acesse:
http://www.vinicolaaurora.com.br/br
Vídeo institucional da Aurora
Referências:
“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/os-segredos-da-merlot-cepa-mais-consistente-da-serra-gaucha_10653.html
“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=SERRAGAUCHA