sábado, 8 de outubro de 2022

L'Esquirre Sémillon (50%) e Sauvignon Blanc (50%) 2020

 

Para muitos, eu diria que seja unânime, que a região francesa de Bordeaux é uma das mais prestigiadas do planeta do vinho, se não for a mais importante. Não quero entrar em discussões frívolas, mas o fato é que, sem sombra de dúvidas, Bordeaux é uma das mais famosas, mas melhor, em um universo de milhares terroirs, seria até fazer pouco caso das demais regiões.

Evidente que cada terra, cada região tem as suas particularidades, tornando-se impossível fazer quaisquer juízos de valores nesse quesito. Mas em um quesito, eu acho que Bordeaux ganha de lavada: o seu famoso blend: Cabernet Sauvignon e Merlot ou Merlot e Cabernet Sauvignon, dependendo do “lado” da região.

Sou um entusiasta desse blend. Para mim é o melhor blend que existe! Independente se é “Lado Direito” ou “Lado Esquerdo”, o corte dessas duas castas, na sua predominância, pois pode levar também, em um pequeno percentual, Cabernet Franc, Malbec e Petit Verdot, traz uma versatilidade incrível.

Tem a força, a potência, a estrutura da Cabernet Sauvignon, a maciez da Merlot e nessa ambiguidade o vinho ganha em personalidade e elegância, sem contar que, dependendo da proposta, o vinho ganha em longevidade. Não há como negligenciar a complexidade que esse “assemblage”, como dizem os franceses, pode nos entregar.

Mas não se enganem, mesmo que diante desse glamour e fama dos tintos de Bordeaux há sim lugar e espaço para os brancos “tranquilos” da região bordalesa. E eu custei, até por causa desse prestígio que os tintos ostentam, a perceber que os brancos têm vez na emblemática Bordeaux.

E descobri, por acaso, quando fazia aquelas indispensáveis incursões aos supermercados em busca de alguns “achados”, algo que nos faça crer que vale a pena continuar a degustar a poesia líquida. E não é que achei o tal “achado”?

E de Bordeaux! Um branco bordalês! Desculpem-me se eu fiquei animado quando, nessa altura da vida, encontrei um branco de Bordeaux, mas para mim é uma novidade diante de tantos tintos dessa região.

E é tão novo, não apenas pelo fato de ser um branco de Bordeaux, mas de uma sub-região que, à época, quando o comprei, eu, diante da minha estupenda ignorância, desconhecia: Entre-Deux-Mers.

Claro que tudo isso gerou um clima de excitação, eu precisava ter esse vinho em minha adega, haja vista que não é tarefa fácil encontrar uma boa variedade desses rótulos por aqui em terras brasileiras. E o preço também excitou: cerca de R$34,90, aproximadamente. Dizem que é uma temeridade comprar Bordeaux a esses valores! Que se dane! Comprar vinho é um risco, então vamos encará-los!

Sem mais delongas vamos às apresentações! O vinho que degustei e gostei, veio de Bordeaux, de Entre-Deux-Mers, e se chama L’Esquirre, composto pelo blend das castas Semillon (50%) e Sauvignon Blanc (50%) da safra 2020. Falemos um pouco de Entre-Deux-Mers.

Entre-Deux-Mers: Entre dois mares

O extenso território situado entre Graves e Sain-Émilion, dentro do “Y” formado pelos afluentes Garrone e Dordogne, ganhou sua denominação que significa “Entre-dois-Mares”. O nome da região é derivado, não da palavra francesa “mer” ("mar"), mas de "marée" ("maré"). Assim, significa "entre duas marés", uma referência à sua localização entre dois rios de maré.

Com 3.000 hectares (7.400 acres), é a maior sub-região de Bordeaux, embora, como existem grandes áreas de floresta, apenas metade da terra é usada para o cultivo de uvas. A área total de vinha é de cerca de 1.500 hectares (3.700 acres), com cerca de 250 produtores fazendo vinho nesta região.

Essa sub-região sempre foi conhecida por seus vinhos brancos, na AOC de mesmo nome, mas nas últimas décadas progrediu muito a produção de vinhos tintos nas AOC regionais Bordeaux e Bordeaux Supérieur, baseados na uva mais plantada em Bordeaux - a Merlot. É uma região de interesse onde surgem boas descobertas.

Entre-Deux-Mers

A região vinícola de Entre-Deux-Mers possui 8 apelações: Bordeaux-Haut-Benauge (AOC), Côtes de Bordeaux Saint-Macaire (AOC), Entre-Deux-Mers (AOC), Entre-Deux-Mers-Haut-Benauge (AOC), Graves de Vayres (AOC), Loupiac (AOC), Premières Côtes de Bordeaux (AOC) e Sainte-Croix du Mont (AOC).

A apelação Bordeaux e suas derivadas (Bordeaux Supérieur, Bordeaux Blanc Sec, Bordeaux Clairet, Bordeaux Rosé, Crémant de Bordeaux) é uma apelação regional: Todos os vinhos produzidos no departamento da Gironde podem se classificar para usar esta AOC. Os produtores mais qualificados preferem usar as apelações comunais como Pauillac ou Moulis, mas todos podem produzir vinhos na AOC Bordeaux. Curiosamente vários produtores de Blaye preferem usar AOC Bordeaux.

A AOC Bordeaux Supérieur não produz vinhos brancos secos. Na AOC Bordeaux os tintos são produzidos principalmente em Entre-Deux-Mers, ao sul de Graves, na margem direita (fora das zonas de AOC) e também uma pequena área no Médoc, perto da cidade de Bordeaux.

Esses pequenos Bordeaux hoje são comercializados com preços muito competitivos e sua qualidade os faz ótima compra. Na maioria são produzidos com uma presença maior de Merlot (70-90%), podendo jovens ser sem madeira, 30% de barrica.

Os pequenos Bordeaux podem ter 70%, 80% ou mais de Merlot, beneficiando-se assim da maior produtividade dessa uva e produzindo vinhos macios e fáceis de agradar, com bons preços.

Esses vinhos podem ser elaborados sem madeira, com 30% ou com 100% de madeira, nesse caso os preços variam bastante, mas são vinhos que surpreendem.

Os brancos são tradicionalmente produzidos com Sauvignon Blanc, seja em varietais, na atualidade, ou em cortes tradicionais com Sémillon e Muscadelle.

A AOC Bordeaux Supérieur possui normas de produção mais rígidas, como menores rendimentos por hectare e maturação mais longa. O nível médio de qualidade é bom, mas cada vez mais produtores se destacam pela alta qualidade de seus vinhos.

A denominação Entre-Deux-Mers tem as seguintes características:

1 - Vinho branco seco: menos de 4 gramas/litro de açúcar residual;

2 - Lote de três castas: Sauvignon Blanc (principalmente), Sémillon e Muscadelle;

3 - Teor alcoólico mínimo de 11,5%;

4 - O vinho é tipicamente apreciado jovem – dentro de um ano de safra – mas tem algum potencial de envelhecimento, devido ao Sémillon.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um amarelo palha com reflexos esverdeados bem brilhantes, límpido e com lágrimas finas, dispersas e ligeiras.

No nariz intensidade aromática alta com as notas frutadas predominando, com destaques para frutas amarelas, de polpa branca e cítricas, tais como pêssego, em destaque, abacaxi, pera, maçã-verde, combinados com uma boa mineralidade e algo floral, de flores brancas.

Na boca é seco, com incrível frescor e leveza, mas que traz certo volume de boca, é um vinho cheio, diria entregar uma discreta untuosidade, com a fruta aparecendo, como no aspecto olfativo, com uma acidez média e agradável e um final de persistência média.

Bordeaux é sempre Bordeaux! E algumas “máximas” quanto a qualidade dos vinhos tendo como parâmetro o preço, não funcionou, pelo menos na minha reles e humilde percepção! Não quero entrar em discussões polarizadas e tão pouco questionar a qualidade dos Bordeaux mais caros e de “grife”, mas há sim vida nos bordaleses mais baratos. Esse L’Esquirre (Camarão, em francês), trouxe aquelas notas agradáveis de frutas como maracujá, abacaxi, pera, um delicado floral, boa acidez e uma leveza sem igual. Belo Bordeaux! Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Seignouret Frères:

Fundada em 1830, A Seignouret Frères é uma das casas comerciais mais antigas de Bordeaux. No entanto, a história de seu fundador, François Seignouret, parece muito com uma história de sucesso americana. Nascido em Bordeaux em 1783, chegou a Nova Orleans em 1808. A cidade, que acaba de passar sob a bandeira americana, está crescendo. François Seignouret lança-se com sucesso no design de tapeçaria e mobiliário.

Em 1820, sua reputação se estendeu além da Louisiana. Ele é então considerado o fabricante dos móveis mais elegantes do sul dos Estados Unidos. Ainda hoje, possuir um “Seignouret” é um privilégio.

Para atender à crescente demanda por vinhos franceses nos Estados Unidos, Seignouret fundou uma casa de exportação em 1830, a rue de la Verrerie. Em Nova Orleans, ele converteu suas oficinas em adegas onde engarrafava vinhos excepcionais como Château Margaux, Château Lafite, Château Latour, Château Mouton Rothschild e Château Haut-Brion.

François Seignouret morre em Bordeaux em 1852. Seu negócio permanecerá nas mãos dos descendentes da família Seignouret até 1927, quando a casa é comprada pela família Brou de Laurière antes de ser adquirida em 2011 por Laurent Barrier e Erwan Flageul.

Entre os últimos comerciantes de vinho independentes em Bordeaux, Seignouret Frères segue uma abordagem muito particular: combina sua busca permanente por safras excepcionais e exclusivas com a paixão pelas profissões da vinha e da vinificação.

Igualmente essencial é a proximidade que cultivamos com os nossos clientes e parceiros, elemento essencial para nos mantermos proativos e respondermos de forma adequada às suas necessidades.

Graças ao seu conhecimento histórico dos terroirs, apurado ao longo de dois séculos, Seignouret Frères sabe como selecionar grands crus excepcionais e descobrir os tesouros escondidos de Bordeaux. Um know-how enológico interno também permite produzir cuvées e marcas muito apreciadas pelos conhecedores. Cada garrafa é cuidadosamente armazenada em adegas internas mantidas em temperatura e umidade ideais.

A Seignouret Frères gera mais de 80% do seu volume de negócios com exportações. A casa sempre esteve muito presente em nichos de mercado: departamentos e territórios ultramarinos, Pacífico, Sudeste Asiático, Caribe, África, Europa Oriental, América Central e América do Sul. A Seignouret Frères também trabalha com lojas duty free e companhias aéreas.

Mais informações acesse:

http://www.seignouret.com/

Referências:

“Além do Vinho”: https://alemdovinho.wordpress.com/2016/03/23/os-segredos-de-bordeaux/

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/direita-ou-esquerda_9559.html

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=ENTREDX_R

“Wikipedia: https://en.m.wikipedia.org/wiki/Entre-Deux-Mers

 

 

 

 

 

 




segunda-feira, 3 de outubro de 2022

Zanotto Gewürztraminer 2020

 

Sabe daquela frase famosa, aquele ditado popular amplamente conhecido e falado? “Um raio não cai duas vezes no mesmo lugar!” Sinceramente é difícil contextualizar a essência e o significado da frase, haja vista que vai depender da situação, do que está sendo tratado.

Agora vem a pergunta: será que essa frase deve ser aplicada para a realidade do vinho, do nosso querido e amado universo vinífero? Eu digo que sim! Claro que um raio pode cair duas ou mais vezes no mesmo lugar! E o que significa tudo isso?

Quando falamos em um raio cair, ou não, duas vezes no mesmo lugar é adequar em uma realidade de degustar o mesmo rótulo em duas ou mais vezes! Claro que isso é possível e muito salutar! Demonstra uma predileção do enófilo por um rótulo, por um produtor, por uma região etc.

Principalmente quando se degusta o mesmo rótulo em safras distintas! Isso é melhor ainda, porque, por mais que o rótulo seja igual, a casta e a região idem, são safras diferentes, com climas, temperaturas diferentes, podendo oferecer nuances distintas uma das outras.

Mas como tudo na vida tem o lugar ruim, diria temeroso. A temível e silenciosa “zona de conforto” e isso para o mundo do vinho é péssimo, penso. Se você degusta, com alguma frequência, um determinado rótulo, de um determinado produtor e casta, demonstra que você tem uma predileção, o que é normal, mas essa predileção pode gerar uma espécie de dependência.

Em um cenário tão vasto, de uma infinidade de vinhos, regiões, países, castas, ficar no mesmo rótulo, tem impossibilita diversificar o tem leque de degustação e, convenhamos, a vida é deveras curta para ficar apenas em um rótulo, em um país, em uma região, em uma casta...

Mas esse rótulo deixou saudades! Não direi saudades, haja vista que o degustei no início deste ano, 2022, mas deixou um impacto positivo na minha degustação e a casta não é muito popular pelo menos em nossas terras brasileiras.

E resolvi compra-lo novamente! E o valor também estava arrebatador: R$37,90! Como encontrar um vinhaço da casta Gewürztraminer, brasileiro, a esse valor? Fiz uma breve, mas reveladora pesquisa, e os valores de rótulos tupiniquins desta variedade estão uma fábula! Caríssimos!

Mas decidi degusta-lo com dois anos de safra! Esse “novo velho” rótulo para mim é da “safra das safras”: 2020! É considerada, aqui no Brasil, como uma das melhores safras, a melhor em mais de trinta anos! Já traz esse atrativo! O primeiro que degustei, da safra 2019, o fiz com três anos de safra! Será que esse tempo afetará na degustação? Será que teremos novas nuances? Ah para uma comparação a resenha do Zanotto Gewürztraminer 2019 pode ser lida aqui. 

Então sem mais delongas vamos às apresentações: O vinho que degustei e gostei veio da região gaúcha de Campos de Cima da Serra, região essa que vem ganhando visibilidade e que está me ganhando também, e se chama Zanotto da casta Gewürztraminer e a safra, como disse, é a de 2020. Então para não fugir daquela máxima, vamos às histórias de Campos de Cima da Serra e desta casta que ainda não é tão popular no Brasil, a Gewürztraminer.

Campos de Cima da Serra

Por muito tempo, a região dos Campos de Cima da Serra ficou à sombra da Serra Gaúcha. A predominância do cultivo de variedades híbridas e o clima frio e ventoso eram encarados como entraves para o desenvolvimento de grandes vinhedos. Atualmente, no entanto, o cenário é o oposto. A baixa temperatura e a incidência constante do vento foram transformadas em diferenciais, pois propiciam uma maturação mais longa e condições para que as uvas viníferas apresentem excelente sanidade. As iniciativas de empresários que se aventuraram em elaborar vinhos na região foram recompensadas com grandes rótulos, hoje nacionalmente conhecidos por sua qualidade.

A Vitivinicultura na região dos Campos de Cima da Serra é recente, iniciou com pesquisas realizadas pela Embrapa Uva e Vinho, que desde 2004 conduz experimentos nas áreas de viticultura e enologia na região, tem indicado condições favoráveis devido ao solo e o clima. Ainda em fase de crescimento, destacam-se municípios como Campestre da Serra, Monte Alegre dos Campos, Ipê e Vacaria. Até então, o que víamos eram esplêndidas maçãs, sobretudo plantadas em Vacaria: "maçãs da Serra Gaúcha para a sua mesa!", um slogan bem conhecido localmente.

Campos de Cima da Serra mais ao norte

Naturalmente tem naquelas terras, devido ao fato de ser um pouco mais frio, um terreno propício para ciclos vegetativos mais longos e aos vinhos com menor teor alcoólico, acidez mais alta e boa estabilidade de cor e bom perfil aromático (os dois últimos graças à boa amplitude térmica).

Recordando a teoria: a cada 100 metros de altitude a temperatura média decresce em torno de 0,5 graus e corresponde a um retardo de 2-3 dias no período de crescimento da planta. Isso, comparativamente, coloca a região de Campos de Cima mais próxima de um clima de Bordeaux, ao contrário da Serra Gaúcha. Mas, há uma boa insolação sem dúvidas! Aliás, turisticamente, dali pode-se iniciar, rumo ao litoral, a conhecida "Rota do Sol"!

Como os ciclos da planta são longos, há colheitas de uvas tardias como a Cabernet Sauvignon no mês de abril, fato que traduz uma maturação lenta e que associada à já citada amplitude térmica (com variações de 15 graus em média, entre dia-noite) propicia vinhos mais harmônicos, com bom equilíbrio geral entre corpo-álcool-acidez.

Dentre as uvas principais temos as tintas Ancelotta, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Merlot, Tannat e Pinot Noir. Esta última, tem tido bom destaque, sobretudo no munícipio de Muitos Capões. As brancas mais cultivadas são Chardonnay, Moscato Branco, Glera (Prosecco), Trebbiano e a de melhor potencial de qualidade, a Viognier.

As videiras estão situadas principalmente em três municípios: Vacaria, Muitos Capões e Monte Alegre dos Campos. As uvas Pinot Noir e Chardonnay (uvas utilizadas na elaboração de espumantes) são muito cultivadas na região que apresenta clima temperado, com boa amplitude térmica. Por conta das baixas temperaturas, as videiras têm um ciclo vegetativo mais longo, brotam mais tarde. Consequentemente, a colheita é mais tardia, quase no início do outono.

Campos de Cima da Serra

Pode-se resumir que a região de Campos de Cima da Serra aporta e acrescenta um toque a mais de sutilezas climáticas, permitindo a diversificação de estilos de vinhos do Rio Grande do Sul como um todo e, por sua bela paisagem natural, pode se tornar um novo polo turístico, a contrapartida lúdica no trabalho de informação e educação sobre vinhos aos consumidores.

A inconfundível casta Gewürztraminer é uma uva de aroma peculiar, que lembra lichia, rosas, manga e pode ser bastante apimentada. A origem do nome da casta é ainda muito discutida. Para alguns estudiosos do mundo do vinho, o prefixo “gewürz” (especiaria em alemão), faz referência a grande variedade de aromas encontrados nos vinhos elaborados a partir da casta.

Outra teoria é de que a cepa tenha se originado na Itália, no vilarejo de Traminer, há ainda suposições de que a casta tenha parentesco com a cepa Amineada Thessalia e tenha se originado ao norte da Grécia. Apesar de ser cultivada em países do Novo Mundo, Chile, Austrália, Estados Unidos e Nova Zelândia, a cepa obtém bastante sucesso nos vinhedos da Europa, sendo as da região da Alsácia (França) e de Pfalz (Alemanha) as melhores uvas da casta.

Com características físicas e sabores bastante marcantes, a uva Gewürztraminer é utilizada na elaboração de vinhos bastante diferentes entre si, a cepa pode originar vinhos que vão de brancos secos e bem encorpados até maravilhosos e doces vinhos de sobremesa. A uva Gewürztraminer possui difícil cultivo e por isso baixos rendimentos. Os vinhos elaborados com a casta possuem coloração intensa que varia entre um amarelo bem escuro e dourado com presença de acidez bastante delicada, característica que contribui para que a maioria dos exemplarem seja apreciada enquanto jovens. Muito dos rótulos elaborados na Alsácia Francesa possui maior taxa de acidez, podendo assim, os vinhos serem degustados com maior tempo de envelhecimento.

Possuindo aspecto aromático bastante elevado, os vinhos brancos secos elaborados com a cepa Gewürztraminer acompanham e harmonizam excelentemente bem com pratos que possuam bastante presença de condimentos, destacando-se a gastronomia tailandesa, chinesa e indiana. Já as versões mais adocicadas de vinhos brancos originários da casta, contrastam e criam um inesquecível sabor no paladar quando degustados juntamente com sobremesas que possuam frutas como base.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um amarelo palha, límpido, brilhante, com lindos e discretos reflexos esverdeados.

No nariz apresenta aromas intensos e calcados na fruta, frutas brancas e cítricas com destaque para pêssego, melão, maçã-verde, lichia, além de notas delicadas e agradáveis de flores, com um mineral que traz muito frescor.

Na boca muito frescor, leve para mediano, com algum açúcar residual, mas sem ser enjoativo, com as notas frutadas predominando como no aspecto olfativo, com um delicioso toque picante, típico da casta, com uma acidez equilibrada e instigante com final de média persistência.

Sim! Um raio pode cair no mesmo lugar duas vezes e diante desse rótulo, mais do que especial, essa frase ganha força e digo de antemão que continuarei a degustar mais e mais rótulos desse produtor. E o que dizer desse produtor? Falei muito, ao longo desse texto, de visibilidade e credibilidade, e não podemos negligenciar o trabalho que a Vinícola Campestre vem realizando com a sua linha Zanotto! Vinhos frutados, leves, saborosos e o principal: de personalidade! Expressivo! A Zanotto está levando o nome da região de Campos de Cima da Serra ao alto! Vamos seguindo a valorizar a região, os vinhos nacionais, os seus produtores! Definitivamente o Zanotto Gewürztraminer sintetiza o melhor momento do vinho brasileiro. Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Campestre: 

Fundada há meio século, a Vinícola Campestre é uma empresa familiar empenhada em elaborar vinhos, sucos, coolers e espumantes de qualidade diferenciada. Esta constante meta é a pauta do aprendizado e do respeito a arte milenar de transformar o fruto em vida, pois o vinho, para a vinícola, é cultura, ciência e, é uma bebida que tem a magia de reunir pessoas, provocar conversas inteligentes e acima de tudo, cultivar amigos.

Métodos enológicos e tecnologia são nossos aliados na vinificação. Buscando cada vez mais satisfazer o consumidor com produtos naturais e com sabor e características da serra gaúcha. Os vinhos da Campestre conduzem a diferentes emoções; olfato e paladar, delicados toques de frutas vermelhas, cassis, mel e flores. Toda esta arte de transformação é uma declaração muito firme, de amor e respeito ao produto e aos apreciadores.

Mais informações acesse:

https://www.vinicolacampestre.com.br/

Referências:

“Cafeviagem”: https://cafeviagem.com/vinhos-de-campos-de-cima-da-serra/

“ABS-SP”: https://www.abs-sp.com.br/noticias/n144/c/vinhos-do-brasil-parte-iv-campos-de-cima-da-serra

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/gewurztraminer

 



sábado, 1 de outubro de 2022

Quimay Malbec 2020

 

Muito se fala em terroir! Claro que nomenclaturas como essas, dentro do universo do vinho, precisa ser discutida, pois é a partir do seu entendimento que construímos, entre outros fatores, as nossas identificações com os vinhos que costumamos degustar.

Porém infelizmente o uso da palavra parece ter como intuito apenas para a manipulação de um marketing perverso, como a engrenagem de uma máquina apenas para venda de produtos e não a disseminação de uma filosofia, de um conceito.

Mas essa (des) construção parece ruir quando degustamos um vinho e percebemos, apesar da particularidade de quem o aprecia, e não conseguimos identificar a tipicidade da bebida. Sabe quando degustamos, e isso de caracteriza pela “litragem”, e percebemos que o vinho não tem caráter? Ninguém pode com as manifestações sensoriais, quando, claro, bem exercitadas.

Mas ainda temos, por sorte, produtores que, abnegados, contra tudo e contra todos, seguem, bravamente, a engarrafarem o terroir, explorando tudo que a terra pode oferecer, aliado a cultura do povo e do saber fazer que decisivamente influencia o processo que vai da vindima à mesa do enófilo.

E quando falamos em terroir nos vem à mente, mesmo que de uma forma menos instintiva, a tradição, mas nem sempre a tradição nos obriga a ser tão linear. Muitos produtores promovem, com base na tradição, alguns “movimentos” mais arrojados sem abdicar do... terroir.

E alguns países produtores de vinho pode se dar ao luxo de enveredar nessas gratas aventuras e países como a Argentina e o Chile, por exemplo, por sua extensão, ampla latitude e diversidade geológica, convertem-se em um infinito conjunto de microclimas esperando ser descobertos por audaciosos enólogos e produtores que buscam não apenas um sistêmico padrão.

E alguns argentinos estão se mexendo e promovendo alguns rompimentos de paradigma para entregarem vinhos contemporâneos, arrojados, mas com caráter, com terroir. O vinho de hoje traz um produtor novo, com novas ideias e novo para mim: Manos Negras! O nome é muito sugestivo e seus produtores preconizam que o enólogo tem de meter a mão na massa, promover o contato com a terra e entender que os autênticos enólogos têm que sujar as suas mãos para explorar os limites da sua profissão que vai desde a vindima até o engarrafamento da poesia líquida.

E eles estão fazendo algo bem interessante que os uruguaios já costumam fazer há algum tempo, por exemplo: a combinação de terroirs com uma mesma variedade. Isso já, logo de cara, te estimula, te excita a degustar o vinho! Vinhos com terroirs conhecidos de Mendoza, mas com a aposta do diferente e assim, com muito arrojo, trazer a originalidade enaltecendo a tradição das microrregiões.

E o melhor ou, diria, surpreendente: recebi esse rótulo de um clube de vinhos, de um importante clube de vinhos de um gigante de vendas no Brasil! O vinho que degustei e gostei veio da tradicional Mendoza e se chama Quimay da casta icônica Malbec, da igualmente icônica Mendoza, safra 2020.

O vinho vem de um único vinhedo em Valle de Uco, em Mendoza que produz dois vinhos Malbec totalmente diferentes. Essa diferença vem da base. O Malbec com solo arenoso, é mais quente, o que dá origem a um Malbec mais doce, aveludado, mais fácil de beber. Por outro lado, o Malbec com solo calcário é um solo frio, o que dá origem a um Malbec com mais acidez, aromas mais frescos e intensos.

Um complementa o outro e assim a mistura de ambos resulta em um vinho mais interessante e complexo. Cada solo é colhido e vinificado separadamente e, em seguida, são misturados para equilíbrio e complexidade adicionais.

E os “autores” dessa façanha são: o ex-diretor de Catena Zapata por mais de 15 anos Alejandro Sejanovich e de dois imigrantes neozelandeses Duncan Killiner e Jason Mabbett, e o educador de vinhos americano Jeff Mausbach.

E vale aqui uma curiosidade sobre a origem do nome do vinho: “Quimay”! Quimay, em dialeto indígena argentino, significa oásis, locais sagrados em meio aos desertos dos pampas argentinos. Hoje muitos dos vinhedos estão nessas regiões desérticas antigas, como nos arredores de Mendoza.

Falemos também de Valle de Uco, uma região, encrustada na velha Mendoza que a cada dia vem se aperfeiçoando, investindo fortemente em tecnologia e ganhando visibilidade e respeitabilidade.

Valle de Uco, a grande produtora de vinhos da Argentina

Foi possível confirmar a presença de aborígenes que povoaram o vale de Uco muitos anos antes de Cristo. Nos petróglifos encontraram seu modo de vida: eram pessoas que se dedicavam à agricultura e à caça de animais, graças aos benefícios que o lugar lhes oferecia. No século XVI, a chegada dos conquistadores espanhóis das terras chilenas e peruanas marca as primeiras explorações em terras habitadas por dóceis e laboriosas famílias indígenas: os huarpes. Daquela época vem a palavra "Uco", que se refere ao nome do cacique Cuco. Além disso, é traduzido como uma nascente de água, elemento fundamental da região.

Um século depois, os padres jesuítas se estabeleceram no vale. Eles constituíram a primeira cidade organizada e fundaram o Curato de Uco, dando início à evangelização. O general José de San Martín governou Cuyo com sede em Mendoza entre 1814 e 1816, enquanto organizava os preparativos para empreender a travessia dos Andes e libertar o Chile e o Peru. Em várias ocasiões, ele se encontrou com nativos na área antes da expedição de libertação. Também com o militar argentino Manuel de Olazábal quando retornou à sua terra natal pelo desfiladeiro El Portillo, no que hoje é conhecido como Manzano Histórico.

José de San Martín

Por sua vez, a história da viticultura na região tem suas referências. Na década de 1880, Juan Giol, Bautista Gargantini e Pascual Toso chegaram de suas terras europeias e se associaram e se dedicaram à produção de vinhos. Três apelidos famosos que deram origem à San Polo Winery and Vineyards no início dos anos 1930, que tem a honra de ter, até hoje, cinco gerações de enólogos.

Juan Giol

Batista Gargantini

Pascual Toso

O Vale do Uco foi “descoberto” pela indústria vitivinícola nos anos 1990. Localizado no sudoeste da cidade de Mendoza, bem aos pés dos Andes, seus vinhedos estão plantados em uma zona de clima temperado, com invernos rigorosos e verões quentes com noites frescas. Pode-se dizer que Uco é uma área realmente fria da região de Mendoza – e também de grande amplitude térmica (pode chegar a até 16o C), em parcelas que variam entre 850 e 1.700 metros de altitude.

Os solos são predominantemente pedregosos, com seixos rolados misturados à areia grossa, de boa permeabilidade, boa drenagem e pouco férteis. Em algumas zonas, observa-se argila ou calcário e até áreas com depósitos de cálcio, estas últimas mais raras e valorizadas, e também de onde vêm saindo alguns dos melhores vinhos lá produzidos atualmente. O índice pluviométrico é baixo e a irrigação dos vinhedos é normalmente feita por gotejamento com água de degelo das montanhas.

O Vale estende-se por três departamentos (segundo nível de divisão administrativa nas províncias argentinas): Tupungato, Tunuyán e San Carlos. A altitude e a grande amplitude térmica constante que os três departamentos compartilham exercem influência na qualidade das uvas produzidas, uma vez que torna a fase de amadurecimento da fruta mais longa, permitindo que o caráter varietal de cada cepa cultivada desenvolva-se por completo, ao mesmo tempo em que um teor agradável de acidez seja preservado.

Vale de Uco

O sucesso do vale é tamanho que, no início da década de 2010, a área de vinhedos plantados chegava a quase 26.000 hectares, praticamente o dobro do que havia no local no início dos anos 2000. O desenvolvimento da região é inconteste, assim como a sua crescente reputação dentro da vitivinicultura argentina, haja vista que um grande número de vinícolas estabelecidas em outras áreas de Mendoza busca adquirir vinhedos no vale e também construir novas plantas na região.

Aproximadamente 75% dos vinhedos são de uvas tintas, especialmente Malbec, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Merlot e Pinot Noir, com destaque para a vedete nacional nos últimos anos, a Cabernet Franc. Dentre as brancas, brilham a Chardonnay, a Sémillon e a Sauvignon Blanc, mas também há vinhos com Viognier e Torrontés.

E agora finalmente o vinho!

Na taça entrega um lindo vermelho rubi intenso e brilhante, mas com entornos violáceos, com lágrimas, lentas e em média intensidade que desenham as paredes do copo.

No nariz traz a predominância de frutas maduras, pretas e vermelhas, com as notas amadeiradas bem integrada, entregando baunilha, um leve tostado e um defumado. O toque floral traz frescor ao vinho.

Na boca é seco, mas traz a sensação de um discreto residual de açúcar, com alguma estrutura e vivacidade, sobretudo pela sua jovialidade, sendo corroborada pela fruta intensa, como no aspecto olfativo. As notas amadeiradas também ganham evidência, graças aos 8 meses de passagem por barricas de carvalho, com toques de chocolate, baunilha. Tem taninos gulosos, presentes, mas domados, com ótima acidez e final persistente e frutado.

Vinhos contemporâneos, com novas propostas, arrojadas, técnicas de cultivo novas, conceitos sustentáveis, todos esses quesitos vislumbra um único e precioso resultado: vinhos autênticos, castas que reflitam o seu terroir. O conceito de terroir não deve ser levado em conta de uma forma apenas, tão somente voltada para marketing, mas que seja de fato efetivada e que entregue o máximo de tipicidade na bebida e que ela chegue de fato à mesa do enófilo e que este entenda, não importa a forma, que esse vinho é de Mendoza, que é um Malbec distintamente argentino, pois sintetiza o chão, a terra a qual fora concebido. Tem 13,8% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Manos Negras:

Os verdadeiros produtores de vinho sujam as mãos, ou seja, ficam com as mãos pretas de vinho, e é disso que se trata o Manos Negras. Arregaçando as mangas e sujando as mãos, é assim que fazemos esses vinhos artesanais.

Manos Negras concentra-se na vinificação em latitude, e sendo assim as regiões vinícolas da Argentina e do Chile se estendem por 1.500 milhas de norte a sul ao longo dos Andes. Cada latitude possui um terroir único com combinações singulares de solo e temperatura que são decerto ideais para diferentes variedades.

Manos Negras, fundada em 2009, usa as habilidades únicas de dois imigrantes neozelandeses Duncan Killiner e Jason Mabbett, e o educador de vinhos americano Jeff Mausbach, bem como o renomado viticultor argentino Alejandro Sejanovich para criar vinhos com base em emocionantes combinações terroir-varietais.

Mais informações acesse:

www.manosnegras.com.ar

Referências:

“Welcome Argentina”: https://www.welcomeargentina.com/valle-de-uco/historia.html

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/conheca-o-vale-do-uco-local-que-reune-grandes-vinhos-argentinos_11401.html

“Revista Sociedade de Mesa”: https://revista.sociedadedamesa.com.br/2015/07/vinicola-manos-negras/

 

 

 










 


quarta-feira, 28 de setembro de 2022

Prahova Valley Feteasca Neagra 2018

 

É sabido que os vinhos que tem maior sucesso, logo maior fatia do nosso mercado, entre os consumidores tupiniquins são os chilenos e argentinos. Claro que é até, de certa forma, normal, haja vista que a questão logística favorece, são países vizinhos que estimula a tráfego de tais vinhos em nossas terras.

Claro que também a força do marketing mesclado, em alguns casos, com a relação custo X benefício de alguns! Os vinhos amadeirados, potentes têm um peso preponderante para a escolha dos brasileiros por esses vinhos que, evidente, são ótimos! Como não se render aos belíssimos Malbecs amadeirados, encorpados de Mendoza, na Argentina? O que dizer dos envolventes Cabernet Sauvignon do Chile?

Não podemos deixar que essa percepção nos contamine, essa percepção de que os amadeirados e encorpados são sinônimos de qualidade de vinho! São propostas de vinhos, apenas e todas essas propostas precisam ser levadas em consideração e todas essas propostas podem, sim, trazer qualidade e prazer ao enófilo. Claro que há a predileção e que precisa ser respeitada, mas nunca pode ser o amadeirado e encorpado ser sempre melhor que os que não passam por madeira e leves. Não há sentido!

Mas como estou naquela levada tão profunda de desbravar o vasto e desconhecido universo do vinho com as suas regiões, com as suas castas e, evidentemente, propostas de vinhos, experimentar o diferente e pouco usual torna-se algo quase que necessário e urgente. Afinal, sair da famigerada e perigosa “zona de conforto” no universo do vinho, é algo quase que obrigatório.

E quando buscamos sair da tal “rotina” no mundo, ou melhor, universo dos vinhos, aparecem os vinhos europeus! É inegável essa visão ou buscar esses terrenos que, querendo ou não, são os melhores, mais tradicionais e importantes do cenário vitivinícola. Mas também não podemos ficar “restritos”, a França, Portugal e Espanha, se é que podemos falar de restrição em terroirs como esses que trazem micro-terroirs tão ricos!

Porém o vinho de hoje traz um turbilhão de novidades, pelo menos para este reles enófilo que redige essas linhas. Uma região que, até pouco tempo atrás, não sabia sequer de que existia um cenário vitivinícola, pois o conhecia apenas por trazer a fantástica história da Transilvânia e do Conde Vlad Tepes, conhecido como Drácula, eternizado em livros e no cinema. Falo da Romênia.

Eu fazendo aquelas costumeiras garimpagens pela internet em busca da descoberta de novos vinhos e grandes novidades que o envolve, descobri, quase que por acaso um rótulo romeno que estava em destaque, na promoção, em um famoso site de vendas de vinhos. Resolvi conferir!

Quando o acessei de imediato não identifiquei que era da Romênia, apenas quando cliquei em suas descrições e me tomou de assalto, me injetando uma curiosidade que há muito tempo não tinha por um rótulo. Tentei procurar alguma referência na grande rede sobre o vinho e a casta, bem como a sua região, que são todas desconhecidas para mim e pouco encontrei, mas a excitação pelo rótulo era tamanha e o valor, bem atrativo, impulsionou a minha decisão de compra.

Por um tempo hibernou em minha adega até o momento de degusta-lo! Talvez para tê-lo em minha taça em um dito momento especial ou a oportunidade não tinha chegado, não sei ao certo e também e não vale tanto a pena tentar descrever isso, o mais importante, cedo ou tarde, é degustar o vinho!

Então sem mais delongas vamos às apresentações desse ilustre vinho que definitivamente me surpreendeu por demais da conta! O vinho que degustei e gostei veio de uma região da Romênia chamada Dealurile Munteniei e se chama Prahova Valley composto pela casta tinta chamada Feteasca Neagra da safra 2018!

Como eu havia dito, foi um tanto quanto difícil e trabalhoso encontrar referências sobre a região e a casta, até pelo simples fato de tal região e variedade não ser tão conhecida e popular no Brasil e até mesmo no mundo. Mas tentemos discorrer algumas informações sobre elas para traçar um mínimo entendimento, para se familiarizar com elas.

IG Dealurile Munteniei

Dealurile Munteniei é uma região romena famosa e conhecida por ser a “terra do vinho tinto”, que, aliás, é marcada por outonos longos.

Dealurile Munteniei (em inglês: “Muntenia's Hill s”) GI é uma região vinícola localizada na parte sul da Romênia nos condados de Buzău, Prahova, Argeş, Dâmboviţa e Olt . A região pertence à área de Subcarpaţii de Curbură e as plantações de videiras estão localizadas nas encostas e depressões das colinas. Além disso, a região é famosa pelos notáveis ​​vinhos tintos, e também tem muito bom potencial para o plantio de variedades brancas aromáticas, como Muscat Ottonel ou Tămâioasă Românească.

A origem da viticultura na área de Dealurile Munteniei é muito antiga, prova disso são os achados arqueológicos, peças cerâmicas e toponímia. Uma das primeiras menções data do século IV, quando o rei visigodo Athanaric enterrou o seu famoso tesouro conhecido como “Cloşca cu puii de aur ” (“A Galinha com Pintos Dourados”) ou “Tezaurul de la Pietroasa” (“ The Piertroasele Thesaurus”). Mais tarde nos arquivos, há várias menções do século XV sobre os locais onde se praticava a viticultura e a vinificação como Bucov, Valea Călugărească, Ceptura, Urlaţi e Tohani.

Um momento que ajudou no desenvolvimento de Dealurile Munteniei foi a proximidade com cidades como Bucareste, Ploieşti e Buzău, que atraiu muitas personalidades e famílias nobres do século XVII para investir em adegas e adegas. Um exemplo bem conhecido é o de Constantin Brâncoveanu (1688-1714 ), que construiu em Tohani uma adega, uma mansão e uma igreja como ponto de paragem a caminho da Moldávia.

A viticultura é há muito tempo a principal atividade dos moradores de Dealurile Munteniei IG, razão pela qual em 1893 foi criada a Fazenda Vitícola Pietroasa, para recuperar o vinhedo após a invasão da filoxera. Mais tarde, em 1924, junto à Quinta, foi fundada a Estância Vitícola e Enológica Pietroasa, uma estreia na Romênia.

Dealurile Munteniei

A região de Dealurile Munteniei é famosa por suas excelentes condições naturais (terroir) no cultivo de videiras:

1 - Um clima temperado-continental com verões quentes, outonos longos e secos e invernos curtos;

2 - Solos castanho-avermelhados juntamente com porções ricas em argila vermelha, marga e calcário em algumas áreas, abundantes em óxido de ferro e carbonato de cálcio;

3 - Altitude variando entre 137 e 550 metros;

4 - A exposição da vinha é predominantemente sul, sudeste e sudoeste;

5 - Ótima exposição solar e precipitação.

Em Dealurile Munteniei os vinhos brancos apresentam aromas intensos, corpo cheio, bom equilíbrio e boa acidez. E os vinhos tintos podem ser descritos como extrativos, aromáticos e de cor rubi intensa.

Nos últimos anos, muitas vinícolas de alto padrão como Serve, Davino, Aurelia Vişinescu ou Viile Metamorfosis foram estabelecidas. Isso realmente criou um verdadeiro renascimento dos vinhos de assinatura. Entre as castas que contribuíram para a reputação da região, podemos citar Fetească Albă, Tămâioasă Românească, Chardonnay, Muscat Ottonel, Merlot, Cabernet Sauvignon ou Fetească Neagră.

Fetească Neagră

A uva Feteasca Neagra possui uma cor escura, pois se trata de um vinho tinto. O grande diferencial do Feteasca está na sua origem, história, sabor e tradição.

De origem Romena esse vinho quase foi extinto, por meio de uma ordem do antigo imperador Júlio César (44 a.C.) que, após um ataque às regiões romenas, ordenou que todas as vinhas fossem arrancadas.

Porém, para felicidade dos apreciadores, a cultura do vinho romeno sobreviveu ao decorrer dos milênios.

Feteasca Neagra, por Lucas Cordeiro, sommelier

A Feteasca Neagra está alcançando níveis interessantes de muita qualidade, atualmente. Na Romênia ela acostuma ser vinificada como vinho seco, meio seco e até doce.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um vermelho rubi intenso, quase escuro, com entornos granada, bem brilhantes e lágrimas finas e lentas, em média intensidade.

No nariz trazem aromas intensos e predominantes de frutas vermelhas maduras, como framboesa, groselha, cereja, além de especiarias, com destaque a pimentas, canela, com toques de terra molhada, terroso, entregando certa rusticidade e complexidade. A madeira também é envolvente e aporta ao vinho um defumado, abaunilhado, caramelo.

Na boca é elegante, equilibrado, com um discreto residual de açúcar, mas sem ser enjoativo, com um bom volume de boca, conferindo-lhe um sabor adorável. O protagonismo das notas frutadas se repete e em grande sinergia com a madeira, com a baunilha reaparecendo, além do couro e tabaco (o tempo de barricas não é informado no rótulo e tão pouco no site do produtor). Tem taninos aveludados e acidez média, com um final persistente, de retrogosto frutado.

Mágica a experiência! Não pelo simples fato de ser diferente ou pouco usual, mas também pelo que o rótulo e a sua região e variedade apresentaram, proporcionaram a este humilde e reles enófilo. A esse humilde e reles enófilo que, modéstia à parte, está promovendo uma verdadeira cruzada, uma verdadeira capacidade de desbravar um universo tão rico e vasto e tão inexplorado com a sua diversidade, pluralidade. Como nos render a zona de conforto quando se tem uma infinidade de terroirs disponíveis para inundar as nossas taças literalmente? Estou feliz, me sinto um privilegiado por ser agraciado por degustar rótulos desse naipe. E que venha a Romênia a te proporcionar grandes e arrebatadoras surpresas com seus rótulos! Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a The Iconic State:

The Iconic Estate, membro do Alexandrion Group, é um fabricante, exportador e importador seletivo de vinhos tranquilos bem como espumantes. A empresa possui então instalações de produção e armazenagem, linhas de engarrafamento, armazém com temperatura controlada e caves subterrâneas.

A vinícola em Tohani, Gura Vadului, é uma das maiores adegas da região de Dealu Mare, pois possui capacidade de processamento de 5.000 toneladas por ano, sendo produzida cerca de 3,6 milhões de litros por ano e cerca de 5 milhões de garrafas por ano.

A Iconic Estate possui mais de 255 hectares de vinhedos, a maioria deles em uma das regiões vinícolas mais férteis da Romênia, Dealu Mare – uma região que fornece uma parte significativa das uvas usadas para obter vinhos excepcionais, semelhantes de fato a duas famosas regiões vinícolas europeias: Piemonte na Itália e Bordeaux na França.

A qualidade dos vinhos, o valor, o requinte e a sua distinção fazem de The Iconic Estate sem dúvida um dos melhores produtores de vinho romenos, que têm explorado o potencial e a diversidade vinícola do país através dos seus próprios vinhos: Rhein Extra, Hyperion, Neptunus, Kronos, Rhea, Theia, Colina Piatra Albă, Bizâncio, Vale Prahova, Floare de Lună, Floarea Soarelui, La Umbra, La Crama e outros.

Ao longo dos anos, as marcas do portfólio de The Iconic Estate foram premiadas em importantes competições nacionais assim como internacionais, tais como: International Wine Contest Bucareste, Concours Mondial de Bruxelles, International Wine Challenge ou Decanter World Wine Awards.

As Caves Rhein & CIE Azuga, integrantes de The Iconic Estate, são o local mais antigo onde se produz, sem interrupção desde que quando foi criada a vinícola, em 1892. Os vinhos espumantes são elaborados de acordo com o método tradicional da França.

A Royal House of Romania aprecia os vinhos das adegas da vinícola pela sua qualidade superior, nomeando, portanto The Iconic Estate o fornecedor oficial dos vinhos tranquilos e espumantes.

Mais informações acesse:

https://dar1892.com/

Referências:

“Premium Wines of Romania”: https://premiumwinesofromania.com/ig-dealurile-munteniei/

“Center Gourmet”: https://centergourmet.com.br/la-crama-merlot/

“Wine Chef”: http://winechef.com.br/vinho-feteasca-neagra-um-tesouro-desconhecido-da-romenia/

“Telefnews”: https://tefenews.com.br/destaque/feteasca-neagra-ja-ouviu-falar-deste-vinho-sommelier-traz-algumas-curiosidades.html






segunda-feira, 26 de setembro de 2022

Casal Mor Bical (60%) e Arinto (40%) 2020

 

A busca por novos rótulos, com novas regiões e castas te propõe novas experiências sensoriais, te estimula a desbravar as novas histórias, caso você tenha simpatia por elas. A mim, em especial, a história não traz apenas o prazer por ela só, mas tem tido um peso preponderante para a escolha dos vinhos.

Embora quase tudo isso seja fato, algo que venho defendendo e textualizando em muitos dos meus textos, faço questão sim de afirmar e reafirmar, pois o meu momento de degustação tem sido muito especial, pois a adega tem refletido, dentro do possível, essa diversidade que fomenta tais degustações.

E já que falamos nisso, tem uma região portuguesa que eu estou, a cada dia que passa a cada rótulo degustado, se revelando maravilhosamente. Uma região tradicional, importante para o cenário vitivinícola português, mas que no Brasil, ainda não atingiu, penso a representatividade que ostenta em seu país: falo da Bairrada.

E eu não posso deixar de contar uma história e a forma como conheci a região. Eu estava assistindo a um programa de televisão, no antigo Canal Globosat, chamado “Um Brinde ao Vinho”. Eles fizeram um especial, uma temporada nas principais regiões portuguesas e a Bairrada estava na rota da equipe deste programa televisivo.

Eu fiquei maravilhado com a sua história, os seus rótulos e decidi sair à busca de um vinho, de um rótulo dessa região. Depois de alguns meses do programa de televisão eu descobri alguns rótulos, descobri um grande produtor da Bairrada que descortinou os vinhos da Bairrada aqui no Brasil e com um ótimo custo, com valores muito atrativos, que é a Adega de Cantanhede.

Mas o rótulo de hoje é de outro produtor, também tradicional na região, a Caves Primavera, e será um branco, um bom branco que tem um apelo regionalista muito forte, não caracterizado pela obviedade da região, mas pelas castas, pelas variedades que o compõe: Bical e Arinto. Quer algo mais regional que ter um branco lusitano, da Bairrada, com as castas mais famosas deste país?

Então sem mais delongas vamos às apresentações! O vinho que degustei e gostei veio da Bairrada, Portugal, e se chama Casal Mor, um branco composto pelas castas Bical (60%) e Arinto (40%) da safra 2020. Lembrando que eu já degustei a “versão tinta” deste rótulo e tive uma bela impressão, o Casal Mor Reserva da safra 2017. Antes de falar do vinho, vamos, para variar, às histórias da gloriosa Bairrada! 

Bairrada

Localizada na região central de Portugal e se estendendo até o Oceano Atlântico, especificamente entre as cidades de Coimbra e Águeda, a região vinícola da Bairrada, cujo nome é uma referência ao solo argiloso que a compõe (barro) tem clima temperado bastante favorável às vinhas.

A Bairrada é uma daquelas regiões portuguesas com grande personalidade. Apesar de sua longa história vínica, a certificação da região é recente. A Denominação de Origem Controlada (DOC Bairrada) para vinhos tintos e brancos é de 1979 e para espumantes de 1991. A Região Demarcada da Bairrada possui também uma Indicação Geográfica: IG Beira Atlântico.

Bairrada

António Augusto de Aguiar estudou os sistemas de produção de vinhos e definiu as fronteiras da região. Em 1867, vinte anos mais tarde, fundou a Escola Prática de Viticultura da Bairrada. Destinada a promover os vinhos da região e melhorar as técnicas de cultivo e produção de vinho.

O primeiro resultado prático da escola foi a criação de vinho espumante em 1890. E foi com os espumantes que a região conquistou o mundo. Frutados, com um toque mineral e boa estrutura esses vinhos tornaram-se referencias e, até hoje, fazem da Bairrada uma das maiores regiões produtoras de espumantes de Portugal. Com o passar do tempo, as criações tintas ganharam espaço.

Muito por conta do que os produtores têm feito com a Baga, casta autóctone da região. O grande responsável pelo fortalecimento internacional da região é o engenheiro Luís Pato. Conhecido como o "Mr. Baga", Pato tem um trabalho minucioso sobre as uvas, tudo para conseguir um vinho autêntico com o mínimo de interferência externa. A uva Baga, uma das principais uvas nativas de Portugal, é capaz de oferecer enorme complexidade aos rótulos que compõe.

Demonstrando muita classe e estrutura, a variedade da casta de tintos é única no seu valor e possui um fantástico potencial de envelhecimento, que atua com o vinho na garrafa durante anos após sua fabricação. Além de refinados e inimitáveis, os vinhos produzidos com esta variedade de uva apresentam muita personalidade e distinção. No passado, a Baga era conhecida por ser empregada na produção de vinhos rústicos, excessivamente ácidos e tânicos e de pouca concentração. Porém, após a chegada do genial Luís Pato, conhecido como o “revolucionário da Bairrada” e maior expoente desta variedade, a casta da uva Baga foi “domesticada”.

A localização da DOC Bairrada e suas características de clima e solo fazem dela uma região única. Paralelamente, o plantio das vinhas é feito em lotes descontínuos de pequenas proporções e faz divisa com outras culturas e outros usos de solo. Com isso, seus vinhos são de terroir, ou seja, o local onde a uva é plantada influencia diretamente em suas particularidades. Delimitada a Sul, pelo rio Mondego, a Norte pelo rio Vouga, a Leste pelo oceano Atlântico e a Oeste pelas serras do Buçaco e Caramulo, a região é composta por planalto de baixa altitude.

O solo é predominantemente argilo-calcário, mas há algumas poucas regiões com solos arenosos e de aluvião. O clima é mediterrânico moderado pelo Atlântico. A região recebe forte influência marítima do oceano Atlântico. Os invernos são frescos, longos e chuvosos e os verões são quentes, suavizados pela presença de ventos frequentes nas regiões junto ao mar. A área se beneficia de grande amplitude térmica na época do amadurecimento das uvas. A variação que pode chegar aos 20ºC de diferença entre o dia e a noite.

Decreto-Lei n.º 70/91 estabeleceu as castas autorizadas e recomendadas para produção de vinhos na DOC Bairrada. A lei descreve as diretrizes para elaboração dos vinhos tintos, rosés, brancos e espumantes. Para a produção de tintos e rosés com o selo DOC Bairrada, as castas recomendadas são Baga (ou Tinta Poeirinha), Castelão, Moreto e Tinta-Pinheira. No conjunto ou separadamente, deverão representar 80% do vinhedo, não podendo a casta Baga representar menos de 50%. As castas autorizadas são Água-Santa, Alfrocheiro, Bastardo, Jaen, Preto-Mortágua e Trincadeira.

Para os vinhos brancos as castas recomendadas são Maria-Gomes (também conhecida como Fernão Pires), Arinto, Bical, Cercial e Rabo-de-Ovelha, no conjunto ou separadamente com um mínimo de 80% do encepamento: e as autorizadas são Cercialinho e Chardonnay. O vinho base para espumantes naturais devem ser elaborados através das castas recomendadas Arinto, Baga, Bical, Cercial, Maria-Gomes e Rabo-de-Ovelha; ou das autorizadas Água-Santa, Alfrocheiro-Preto, Bastardo, Castelão, Cercialinho, Chardonnay, Jaen, Moreto, Preto-Mortágua, Tinta-Pinheira e Trincadeira.

Em 2012 foi publicada a Portaria n.º 380/2012, que atualiza a lista de castas permitidas para e das portuguesas Touriga Nacional, Castelão, Rufete, Camarate, Tinta Barroca, Tinto Cão e Touriga Franca. Vinhos elaborados com castas que não estejam relacionadas na elaboração dos vinhos DOC Bairrada.  Foi incluída recentemente uma autorização para o cultivo das castas internacionais Cabernet Sauvignon, Syrah, Merlot, Petit Verdot e Pinot Noir Decreto-Lei, não podem receber o selo de DOC Bairrada e são rotulados com o selo Vinho Regional Beira Atlântico.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um amarelo palha, claro, com discretos reflexos esverdeados, com algumas lágrimas, finas e razoavelmente lentas.

No nariz é extremamente aromático, com o protagonismo da fruta, das frutas brancas, de polpa branca e cítricas, tais como pera, maçã-verde, melão, lima e abacaxi, com um delicado e agradável floral que me traz a sensação de frescor.

Na boca é meio seco, leve, porém untuoso, com certa cremosidade em boca, enchendo-a, talvez pelo tempo curto e parcial em barricas de carvalho, cerca de 4 meses, com o processo de bâtonnage, que consiste na movimentação do mosto (suco da uva) com o auxílio de um bastão — em francês, chama-se bâton. A fruta revela, como no aspecto olfativo, o seu destaque, com acidez equilibrada, trazendo frescura e um final de média persistência e com um dulçor inusitado, mas saboroso, como o vinho se mostra.

Tem sido sempre um momento especial degustar vinhos da Bairrada, tem sido especial desbravar, a cada rótulo, a sua magistral história, as suas castas mais proeminentes, importantes e tão peculiares, graças as suas marcantes personalidades, a sua longevidade etc. O Casal Mor branco trouxe o melhor, dentro de sua proposta, das castas produzidas na Bairrada. A Bical, extremamente popular nesta região, e a Arinto, talvez a variedade branca mais cultivada em Portugal, dispensa maiores comentários. Um belo vinho. Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a Caves Primavera:

As Caves Primavera foram fundadas em 1944 por dois irmãos, Lucénio e Vital de Almeida. A empresa começou como Vinícola Primavera chamava-se Vinícola precisamente porque não possuía uma cave, e as suas primeiras instalações foram no centro da aldeia de Aguada de Baixo, a sensivelmente 800 metros das instalações atuais.

A história das Caves Primavera só foi possível devido ao esforço, dedicação e trabalho de dois grandes homens, os irmãos Lucénio e Vital de Almeida. Os fundadores iniciaram a sua atividade desde muitos jovens. Lucénio e Vital de Almeida eram homens sérios, confiantes, com enorme dedicação e que faziam uma dupla fortíssima. Sempre motivados pelos seus sonhos, conseguiram fazer com que o nome Primavera estivesse associado a algo mais do que apenas a estação do ano. Foram homens de bem, únicos, humildes, benfeitores da região, que nunca serão esquecidos.

Dois homens, Lucénio e Vital Rodrigues de Almeida foram e serão sempre os principais responsáveis pelo sucesso das Caves Primavera. Foram eles que levantaram voo e iniciaram um novo ciclo no mundo dos vinhos e deram uma nova dimensão à expressão “aí vem a Primavera”.

Primeiramente a atividade centrou-se na produção de vinhos tranquilos (inicialmente até era dedicada à produção de “pirolitos” que era uma bebida não alcoólica, com uma esfera de vidro a servir de tampão). À medida que foi crescendo, passou a diversificar a sua atividade e a necessitar de um espaço maior. Em 1954 foram inauguradas as instalações atuais, e a empresa incorporou a produção e comercialização de espumantes e licores.

A empresa passou então por uma fase de grande crescimento: alargamento da cave e a automatização de processos nos anos 1970, onde a empresa cresceu muito graças ao desenvolvimento das ex-colónias, tendo já uma vertente exportadora que se acentuou a partir de 1975, com a independência dos atuais Palops; modernização da empresa, com anos de grande fulgor comercial e aposta nos produtos engarrafados nos anos 1980; inauguração do centro de vinificação nos anos 1990, onde hoje é produzida a totalidade dos produtos Bairrada e Beiras que é comercializado e onde decorre anualmente a vindima entre Setembro e Outubro de cada ano.

Nos últimos anos foram realizadas pequenas alterações ao layout da empresa, acrescentando inovações em áreas essenciais – laboratório, zona de enchimento, equipamentos para degorgment, obtendo a certificação de qualidade da norma ISO 9001 (primeira certificação em 1999, hoje em dia certificados na norma ISSO 9001:2015), consolidando, com isso, o crescimento nos mercados externos, com destaque para os mercados escandinavos. A exportação representa atualmente cerca de 40% da nossa faturação total.

Mais informações acesse:

https://www.cavesprimavera.pt/

Referências:

Mistral: https://www.mistral.com.br/regiao/bairrada

Reserva85: https://reserva85.com.br/vinho/indicacao-geografica-ig-denominacao-de-origem-do/regioes-demarcadas-de-portugal/bairrada/