sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

Via Latina Rosado 2021

 

Nos famosos dias quentes do verão brasileiro o que é recomendável para os enófilos? Espumantes, vinhos brancos “tranquilos”, rosés etc! É quase instintivo para aqueles que não conseguem degustar tintos ou aqueles que abominam cerveja!

Para os brasileiros os espumantes sempre estão na “pauta”, sempre será prioridade! E com razão, os nossos borbulhantes vem crescendo, embora vagarosamente, no consumo e principalmente na sua qualidade, na sua tipicidade.

Mas para mim, em especial, um vinho, que não é de nosso país, me ganhou por completo há quase dez anos e apesar de ser lusitano tem a cara, o DNA do nosso país: o vinho verde!

Os vinhos verdes leves, frescos, com aquela famosa “agulha”, boa acidez, e de ótimo custo são as características principais desse vinho que chegam, em profusão, em terras brasileiras. Atualmente instituições ligadas a região dos Vinhos Verdes, como a Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV) e alguns produtores estão investindo em rótulos mais complexos, inclusive por passagens em barricas de carvalho.

São novas propostas de rótulos e, nesse sentido, é válido, mas os verdes, os vinhos verdes são aqueles frescos, leves e despretensiosos, sobretudo para os nossos dias quentes de verão. Bem pelo menos foi assim, com esses vinhos, que aprendi a gostar dos famosos vinhos do Minho.

E o rótulo de hoje traz, na sua essência, todas essas características! Um rosé, leve, frutado, fresco e que facilmente pode “rivalizar” com as “tentações” da cerveja no churrasco, na praia, na piscina. Afinal por que não degustar vinhos com essa proposta quando não se gosta de cerveja?

O vinho que degustei e gostei vem, claro, da região lusitana dos Vinhos Verdes, e se chama Via Latina e é composto pelas castas Amaral, Borraçal, Espadeiro e Vinhão, da safra 2021. Então para não perder o costume, vamos de história, vamos de Vinhos Verdes.

Vinhos Verdes: Entre-Douro-e-Minho

Desde o tempo da ocupação romana, antes da era cristã, a vinha era cultivada na margem sul do Rio Minho da forma característica e invulgar que se mantém até hoje. Não se trata de suposição. As referências à viticultura na região encontram-se nos escritos do naturalista Plínio, o Velho, em sua História Natural, e do filósofo Sêneca, em seu compêndio Questões Naturais. Está também documentada na legislação do Imperador Domiciano, entre 96 e 51 a.C.

Na Idade Média multiplicam-se as referências escritas ao cultivo das uvas e a elaboração de vinhos no noroeste lusitano, a partir das atividades nos mosteiros e do decisivo suporte da coroa portuguesa. O vinho entra definitivamente, entre os séculos XIII e XIV, nos hábitos das populações entre o Minho e o Douro ao mesmo tempo em que se dá a expansão econômica da região e a crescente circulação da moeda. Ainda que a exportação fosse pequena, os vinhos verdes foram, entre os vinhos portugueses, os primeiros conhecidos fora das fronteiras, particularmente na Inglaterra.

No início do século XX, ultrapassados os problemas das quebras de produção devido às pragas, foram tomadas medidas especiais para a colocação dos vinhos locais e escoamento dos excedentes. Tornava-se obrigatório, para isso, conservar a genuinidade e a qualidade dos produtos, assegurando-se seu valor do ponto de vista cultural e econômico.

O ano de 1908 é crítico na história portuguesa: o rei Carlos I e seu filho são assassinados, abrindo caminho para a República. Nesse mesmo ano, a região dos vinhos verdes é demarcada oficialmente e dividida em seis sub-regiões: Monção, Lima, Basto, Braga, Amarante e Penafiel. O limite a oeste é o Atlântico e, ao norte, a Espanha.

Região dos Vinhos Verdes

A Região Demarcada dos Vinhos Verdes está dividia em nove sub-regiões, cada uma com sua característica específica e suas castas de uva recomendadas:

Sub-região de Monção e Melgaço: utilizam-se apenas as castas Pedral (tinta) e Alvarinho (branca). É de lá o mais icônico Alvarinho, com notas cítricas misturadas com nuances de aromas florais e de frutos tropicais e paladar mineral.

Sub-região de Amarante: as castas brancas são Azal e Avesso e originam vinhos com aromas frutados e com o maior teor alcoólico da Região. Mas é dos tintos que vem a fama da sub-região. Elaborados com Amaral, Vinhão e Espadeiro, são vinhos com cor carregada e muito viva.

Sub-região de Baião: também tem muita notoriedade na produção dos brancos, a partir da casta Avesso.

Sub-região de Basto: a casta Azal atinge o seu máximo potencial e resultam vinhos com aroma de limão e maçã verde muito frescos, de alta acidez.

Sub-região do Cávado: têm vinhos brancos das castas Arinto, Loureiro e Trajadura com acidez moderada e notas de frutos cítricos e de pomar. Os vinhos tintos são na maioria cortes de Vinhão e Borraçal, cor intensa vermelho granada e aromas de frutos frescos.

Sub-região do Lima: Os vinhos brancos mais famosos são produzidos a partir da casta Loureiro. Os aromas são finos e elegantes e vão desde limão até rosas.

Sub-região de Paiva: produz alguns dos tintos mais prestigiados de toda a região a partir de Amaral e Vinhão.

Sub-região do Sousa: utiliza a casta Espadeiro, principalmente para a produção de rosés, sendo alguns dos mais destacados da Região.

Sub-região do Ave: Arinto e Loureiro Trajadura juntas compõem um blend perfeito com frescura viva e notas florais e de frutas cítricas.

Em 1926 foi criada a Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV), responsável por controlar e certificar os produtos elaborados na região. Quando a amostra apresentada à CVRVV não cumpre com os requisitos legais para ser certificada como DOC, o exemplar recebe o selo IG Minho.

Isso não quer dizer que o vinho é de pior qualidade, apenas que não se enquadra legalmente aos parâmetros pré-definidos. A IG Minho permite a utilização de maior variedade de castas, incluindo uvas internacionais, e regras distintas de vinificação.

Na maioria dos casos, os produtores não estão buscando necessariamente a tipicidade do vinho, mas a produção de vinhos inovadores. É comum encontrar vinhos IG Minho mais caros que os DOC Vinhos Verdes. Alguns produtores optam de forma intencional por rotular seus vinhos como Regional do Minho, até mesmo por questões de marketing e posicionamento de mercado.

A região dos Vinhos Verdes tem influência atlântica, reforçada pela orientação dos vales dos principais rios, que correndo de nascente para poente facilitam a penetração dos ventos marítimos. É observada elevada pluviosidade, temperatura amena, pequena amplitude térmica e solo majoritariamente granítico e localmente xistoso. Mas algumas regiões, por conta do microclima, apresentam características de terroir distintas. O que influencia diretamente no vinho.

Por que vinho verde?

Evidentemente, a cor do Vinho Verde não é verde. Então, por que esse nome? Duas são as versões mais conhecidas. O Vinho Verde leva esse nome porque as uvas da região, mesmo quando maduras, têm elevado teor de acidez, produzindo líquido cujas características lhes dão a aparência de vir de uvas colhidas antes da correta maturação.

A outra explicação diz que "Vinho Verde" significa "vinho de uma região verde", ou seja, a denominação deriva da belíssima paisagem local, onde o verde das terras cultivadas se perde no horizonte.

As castas

Amaral

Amaral é conhecida por Azal Tinto ou Azar ou ainda como Cainho Bravo ou Cainho Miúdo em Monção, por Cainzinho nos Arcos de Valdevez e por Sousão Galego na zona de Basto.

Casta tinta de qualidade é mais intensamente cultivada; pouco produtiva e rústica; dá origem a vinhos de cor vermelha rubi, com aroma sem destaque a casta, ligeiramente acídulos e encorpados.

Borraçal

Borraçal é uma casta de uva tinta, cultivada na região dos vinhos verdes, exceto na zona de Monção. Tem um grande interesse regional, pois é antiga e tradicional. As gentes do campo apreciam muito o seu vinho, pois tem muita qualidade, mas também o viajante já pede vinhos com casta Borraçal. Além da sua rusticidade, os seus vinhos são de cor rubi, com uma elevada acidez fixa, com bagos pequenos a médios, e os cachos são pequenos de forma cónica.

É uma casta rústica, recomendada em toda a região vinícola dos vinhos verdes. Também lhe chamam, Esfarrapa e Morraça, em Viana do Castelo, Cainho Grande, Cainho Grosso ou Espadeiro Redondo, em Monção, e na zona de Basto é conhecida por Azevedo, Bogalhal ou Olho de Sapo.

Espadeiro

A Espadeiro é uma uva autóctone portuguesa, conhecida por dar origem à ótimos vinhos tintos e vinhos rosés, na região dos Vinhos Verdes. Existem, também, duas sub-variedades da uva Espadeiro, Espadeiro Tinto e Espadeiro Mole. No sul de Portugal, o nome Espadeiro é utilizado para referir-se a uva Trincadeira (Tinta Amarela). É importante não confundi-las, pois são variedades completamente diferentes! Com cachos compactos e de formato cilíndrico, bagos arredondados e de coloração preta-azulada, a Espadeiro é uma casta que apresenta boa resistência ao ataque de pragas e doenças.

A uva Espadeiro é originária do Minho, dentro da região vitivinícola dos Vinhos Verdes, em Portugal. Fora de sua terra natal, a uva tinta Espadeiro é cultivada na região de Rías Baixas, na Espanha. Entre os principais aromas da uva Espadeiro vale destacar notas de frutas cítricas, como toranja, e nuances de frutas vermelhas, como morango.

Vinhão

A Vinhão, também conhecida como Sousão ou ainda Sauson é uma uva de pele escura com origens que remontam a oeste da Península Ibérica. A variedade se estabeleceu na região do Douro, onde se estabeleceu e se chama apenas Sousão.

A Vinhão ou Sousão apresenta bagos com tamanho mediano e casca com coloração negro-azulada, com uma excelente capacidade de pigmentar os exemplares. Além disso, a polpa desta variedade tem coloração levemente rosa, onde acaba sendo confundida com outras cepas tintureiras, ou seja, uvas com polpa vermelha e pele escura.

Os vinhos elaborados a partir da uva Vinhão apresentam tons de violeta e conseguem ser muito opacos e escuros que, quando despejados em taças, podem quase ser impenetráveis à luz. Estes exemplares exibem um caráter único, excelentes níveis de acidez, taninos leves e alto teor alcoólico. Os vinhos Sauson, normalmente, possuem aromas mais frutados e amadeirados, podendo exibir também notas de passas.

Apesar de todas estas características, a Vinhão pode produzir também vinhos muito diferentes entre si, ou seja, o estilo dos exemplares dependerá quase que, exclusivamente, da região onde a uva é vinificada e cultivada. Na região portuguesa do Minho, é responsável pela elaboração da maior parte dos vinhos tintos Verdes – rústicos e com elevados níveis de acidez.

Ainda em Portugal, no Douro, a variedade é utilizada na produção dos tradicionais e fortificados vinhos do Porto, onde a mesma é responsável por adicionar excelente coloração e acidez aos exemplares – características essenciais para que os vinhos exibam uma boa capacidade para envelhecer. Também é utilizada na elaboração de vinhos de corte ao lado de outras castas portuguesas, dando origem a vinhos tintos de alta qualidade, que também podem envelhecer muito bem durante anos.

Atingem o ápice qualitativo em áreas vinícolas com temperaturas mais quentes, enquanto fora de Portugal, encontra-se o cultivo da Vinhão na Espanha, Austrália, África do Sul e Califórnia.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela uma cor rosada com alguma intensidade, beirando um vermelho, com reflexos alaranjados. Tem uma efervescência típica dos vinhos verdes que lembra um frisante.

No nariz mostra-se um pouco inibido, tímido, mas ainda assim são perceptíveis os aromas frutados, de frutas vermelhas frescas, tais como morango, framboesa e até algo de melancia também. Goza de um caráter leve e jovem

Na boca  é meio seco, um discreto residual de açúcar que não compromete, goza de um caráter leve, fresco e jovem, com as notas frutadas mostrando o seu protagonismo, como no aspecto olfativo, mas apresenta uma boa estrutura para um rosé. Traz uma boa acidez que te estimula a vorazes e intensas degustações seguidas, com um belo e persistente final de boca.

O melhor do que degustar um vinho verde com essa proposta, um vinho leve, fresco e de ótima acidez, é também ter um corte ou uma “mistura”, como dizem os portugueses, de castas típicas da região dos Vinhos Verdes, uvas autóctones dessa região, dando um caráter totalmente regionalista ao vinho, mesmo sendo um rótulo simples, mas significativo em trazer o terroir do Minho. Que venham muitos outros, que tragam vinhos solares, tão brilhantes quanto um dia de verão. Tem 10% de teor alcoólico.

Sobre a Vercoope:

A Vercoope é uma união de sete Cooperativas Vitivinícolas da Região dos Vinhos Verdes: Amarante, Braga, Guimarães, Famalicão, Felgueiras, Paredes e Vale de Cambra. Foi criada em 1964 com o objetivo de engarrafar, comercializar e distribuir o vinho produzido pelos viticultores destas cooperativas.

A união permitiu juntar a produção de 4 000 viticultores e lança-la no mercado, nacional e internacional, conseguindo mais qualidade, dimensão e competitividade. A qualidade dos vinhos é reconhecida e comprovada pelos consumidores, pelas vendas e pelas centenas de prémios conquistados em competições de vinhos e imprensa especializada.

A Vercoope produz anualmente 8 milhões de garrafas de Vinho Verde, sendo 30% para exportação. A Vercoope – União das Adegas Cooperativas da Região dos Vinhos Verdes, U.C.R.L, está inserida na Região Demarcada dos Vinhos Verdes, considerada a maior região demarcada de Portugal e uma das maiores do mundo, essencialmente devido à sua extensão e da área dos solos dedicados à cultura da vinha, a que acresce uma significativa percentagem de população diretamente dependente do setor vitivinícola e nomeadamente do Vinho Verde.

A Vercoope é uma entidade vocacionada para o engarrafamento, comercialização e distribuição de Vinho Verde e integra na sua estrutura as adegas cooperativas de Amarante, Braga, Guimarães, Famalicão, Felgueiras, Paredes e Vale de Cambra que representam no seu conjunto explorações vitícolas de cerca de 5000 viticultores.

Situada em Agrela, Santo-Tirso, numa estrutura moderna e tecnologicamente avançada, quer com meios técnicos quer com meios humanos, tem potenciado, desde a sua fundação, em 1964, o desenvolvimento da cultura do Vinho Verde, promovendo a sua divulgação, o seu consumo e a valorização do produtor.

Com mais de meio século de atividade a defender uma política de qualidade e prestígio para os seus vinhos, espumantes e aguardentes, ocupa por direito próprio, um lugar de destaque no sector, sendo muito naturalmente considerada uma instituição de referência no panorama regional e nacional.

Mais informações acesse:

https://vercoope.pt/

Referências:

“Jornal da Golpilheira”: https://jgolpilheira.wordpress.com/2010/10/28/casta-de-uva-borracal/

“DiVinho”: https://www.divinho.com.br/uva/espadeiro/

“Vinho Virtual”: https://www.vinhovirtual.com.br/uvas-483-Amaral

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/sauson

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/vinho-verde-bebida-portuguesa-do-verao_8317.html

https://revistaadega.uol.com.br/artigo/a-paisagem-que-deu-nome-ao-vinho_2744.html

“Reserva 85”: https://reserva85.com.br/vinho/indicacao-geografica-ig-denominacao-de-origem-do/regioes-demarcadas-de-portugal/regiao-dos-vinhos-verdes/

 




sábado, 11 de fevereiro de 2023

Matiz Alvarinho 2018

Quando falamos na clássica casta branca Alvarinho, o que nos faz lembrar? Da emblemática região do Minho, dos Vinhos Verdes, onde ela reina de forma soberana em termos de representatividade, qualidade e popularidade.

Há alguns lugares na Espanha que produzem a casta com o nome de Albariño, mas o Minho, em Portugal, traz a cepa como vitrine e exportação por todos os cantos do mundo e todas as mesas também.

Mas hoje temos algumas abnegadas vinícolas brasileiras que está produzindo o Alvarinho e trazendo alguns suspiros carregados de elogios. Recentemente, mais precisamente em 2022, participei de um evento de degustação de vinhos da região, que também está crescendo para o Brasil, Serra do Sudeste, da Vinícola Hermann, que apresentou o seu Alvarinho da safra 2018.

O início do evento começou de forma muito agradável com a degustação de alguns borbulhantes, como Prosecco, brancos tranquilos e rosés, quando serviram o Alvarinho da safra 2018 e que confesso fiquei maravilhado!

O vinho mesmo no auge dos seus quatro anos de garrafa à época, gozava de muita jovialidade, frescor e fruta, com destaque para o pêssego maduro. Claro que a Alvarinho tem potencial de guarda e esse goza dessa condição também, mas está no ápice da degustação.

Então não hesitei e comprei afinal, além da grande experiência sensorial agradável, tem o privilégio de degustar um Alvarinho brasileiro pela primeira vez, um orgulho, ufanismos à parte.

E hoje com cinco anos na garrafa chegou a hora de tê-lo por inteiro em minha humilde taça, por inteiro, porque terei toda a garrafa e não apenas uma taça como no evento a qual participei. O momento também é propício afinal estamos em dias quentes do verão, então nada mais apropriado degusta-lo.

Então sem mais delongas vamos às apresentações do vinho! O vinho que degustei e gostei veio da Serra do Sudeste, no sul do Brasil, e se chama Matiz Alvarinho da safra 2018. Para não perder o costume vamos de história da região que cresce em visibilidade de forma vertiginosa e da casta emblemática do Minho, a Alvarinho.

Serra do Sudeste

Nossa mais famosa região vinícola é, sem dúvida alguma, a Serra Gaúcha, da qual faz parte a primeira área de Indicação de Procedência brasileira, o Vale dos Vinhedos. De dentro para fora, sabemos que o Vale está chegando ao seu limite de plantio.

Como área de procedência certificada, as regras que controlam sua existência são rígidas e hoje sobram poucas terras de qualidade às vinícolas para que plantem suas uvas. Ele não deixa de ser, no entanto, o polo para onde convergem as atrações turísticas e as grandes instalações produtoras das vinícolas, incluindo suas adegas.

Os outros municípios que compõem a região da Serra Gaúcha vêm se desenvolvendo com constância como Garibaldi, Flores da Cunha e Farroupilha. Mas algumas novidades interessantes estão aparecendo em cidades a noroeste de Bento Gonçalves, como Guaporé, na linha Pinheiro Machado e Casca, na direção de Passo Fundo.

Mas tem uma região que, apesar de ter sido descoberta na década de 1970, pode-se considerar que se trata de uma região nova, pois somente a partir dos anos 2000, com investimentos feitos pelas vinícolas da Serra Gaúcha, que o potencial dela foi, de fato, explorado. Essa região é a Serra do Sudeste.

Ela forma uma espécie de ferradura virada para o mar, ligando os municípios de Encruzilhada do Sul e Pinheiro Machado, separados ao meio pelo rio Camaquã, que deságua na Lagoa dos Patos. Essa região faz divisa com outra importante área vinícola brasileira, a Campanha Gaúcha, dividida entre Campanha Meridional (que começa na cidade de Candiota) e Campanha Oriental, que segue a linha da fronteira com o Uruguai.



Serra do Sudeste

A Serra do Sudeste tem colinas suaves, que facilitam o plantio e a mecanização, tornando-a um terroir mais simples de trabalhar. Aliadas a isso, estão as condições climáticas mais favoráveis do que no Vale dos Vinhedos.

Essa região tem o menor índice de chuvas do Estado do Rio Grande do Sul, além de noites frias mesmo no verão, justamente a época da maturação das uvas. Essas condições naturais, além de um solo mais pobre e de origem granítica, ajudam a ter maior concentração de cor, estrutura e potencial de envelhecimento dos vinhos.

O Instituto de Pesquisa Agrícola do Rio Grande do Sul mapeou pela primeira vez esta área nos anos 1970, mas é no começo da década de 2000 que as primeiras vinícolas de certa importância começam a plantar vinhedos por aqui, entre os municípios de Encruzilhada do Sul, o principal, Pinheiro Machado e Candiota (mesmo próxima de Bagé Candiota é considerada pelo IBGE como pertencente à Serra do Sudeste e não à Campanha, embora haja controvérsias).

Em grande parte, se trata de uma região vitícola, geralmente as uvas aqui colhidas são conduzidas nas instalações das vinícolas na Serra Gaúcha e lá transformadas em vinho, esta região ainda não possui, e nem pleiteia em curto prazo, o reconhecimento a Denominação de Origem Controlada, quando, e se, isso ocorrer o vinho deverá ser produzido por aqui, já que este é um fator crucial na lei das denominações de origem.

As castas internacionais dominam a viticultura na Serra do Sudeste, tintas e brancas que na Serra Gaúcha podem representar um desafio pelo clima úmido, aqui prosperam com mais facilidade, o índice pluviométrico é alinhado com o estado do Rio Grande do Sul, chove um pouco menos que no Vale dos Vinhedos, mas o que mais importa é que as chuvas são mais bem distribuídas ao longo do ano, raramente coincidindo com o período da colheita das variedades tardias.

A característica dos vinhos daqui é o bom nível de aromas, a acidez pronunciada por conta da presença do calcário e o perfil gastronômico, boa acidez, taninos enxutos nos tintos e presença mineral nos brancos. Uvas mais cultivadas na região são: Malbec, Cabernet Franc, Merlot, Gewurztraminer, Sauvignon Blanc e Malvasia.

Se é verdade que a Serra do Sudeste não possui o panorama encantador da Serra Gaúcha, é também verdade que seus vinhos representam um patrimônio da vitivinicultura brasileira que merece ser descoberto, e sem demora.


Alvarinho

A Alvarinho ou Albariño, é a variedade branca que dá vida a alguns dos mais celebrados vinhos de dois lados da fronteira de Portugal com a Espanha. Minho, do lado português, e seus Alvarinhos; Galícia, na parte espanhola, e seus Albariños.

E apesar da primeira menção sobre a casta ser somente em 1843, especialistas acreditam que ela é uma variedade muito mais antiga. Isso se deve à sua enorme diversidade morfológica, indicando muitas que gerações da uva já passaram pelos terrois mundo afora.

Tanto que vinhedos com idade entre 200 e 300 anos na região da Galícia possuem indícios de que ela já era plantada na região bem antes de ser descrita. Outra sugestão dessa verdadeira arqueologia vínica é que possivelmente a casta originalmente seja a Albariño, nascida no lado espanhol da fronteira.

A história mais curiosa envolvendo a Alvarinho é uma grande confusão que ocorreu com ela e a casta francesa, muito cultivada na região de Jura, Sauvignon Blanc. Esta última foi confundida com a Albariño na Espanha por muitos anos e o pior, o erro foi exportado! Mudas da “Albariño” foram enviadas para a Austrália e por isso, muito do que hoje é tido como Albariño na Austrália, na verdade é Sauvignon Blanc.

A Alvarinho tem baixa produção, pois seus cachos são pequenos e com muita semente. Apesar dos bagos serem pequenos, a uva tem a pele grossa o que permite suportar o frio. Possui teor de açúcar elevado, o que resulta em vinhos mais alcoólicos, e acidez alta.

São vinhos delicados e perfumados, mas bem estruturados. Mesmo sendo um vinho branco, o Alvarinho apresenta uma quantidade relativamente alta de taninos. É uma casta muito aromática, com notas que mesclam flores e frutas, com nuances de banana, limão, maçã, maracujá, erva cidreira e flor de laranjeira. O paladar é fresco, com notas cítricas e minerais, e acidez equilibrada.

Possui graduação alcoólica, acima dos 11%, quando comparadas as demais castas dos Vinhos Verdes que rondam os 9%. Tem grande potencial de envelhecimento, durando até os dez anos de idade com toda a plenitude.

Alvarinho

Mesmo tendo capacidade para fermentação em madeira, dificilmente o ganho será superior à perda da fruta. Mas alguns produtores têm apostado nisso, justamente para dar uma nova cara para a região.

Os vinhos brancos originários da casta podem ser degustados sem acompanhamento de refeições, entretanto, é perfeito para ser degustado e apreciado na companhia de pratos que levem peixes e frutos do mar, exaltando e evidenciando as características marcantes e únicas que a uva Alvarinho propicia aos brancos elaborados a partir da sua casta.

Alvarinho nos Vinhos Verdes

O Alvarinho diferencia-se dos demais vinhos verdes pelo seu corpo robusto, grau alcoólico alto e boa capacidade de envelhecimento. Tem cor cítrica brilhante e aromas de florais e de frutas. O paladar é cheio com equilíbrio entre açúcar, álcool e acidez. É fresco, leve e com certa mineralidade com final longo e persistente. São vinhos de alta qualidade e rústicos. Leia mais sobre o Vinho Verde.

Albariño na Espanha

Assim como em Portugal, os vinhos de Albariño são famosos por serem frescos e aromáticos. Combinam aromas florais e frutados e preenchem a boca com bom corpo e ótima acidez. É uma das castas brancas de maior reputação da Península Ibérica. Muito encontrada nas Rias Baixa, em Galiza, região com clima bastante úmido e frio, a casta é muito utilizada em cortes, mas principalmente em varietais. Esses considerados alguns dos melhores vinhos brancos da Espanha.

Para conhecer a casta em sua tipicidade máxima o ideal é buscar exemplares das duas denominações de maior prestígio, Rías Baixas, na Espanha, e Vinhos Verdes, onde ela pode dar origens a varietais nas sub-regiões de Monção e Melgaço, em Portugal.

E agora finalmente o vinho!

Na taça manifesta um lindo amarelo palha brilhante, reluzente, tendendo para o dourado com algumas finas e rápidas lágrimas.

No nariz o destaque é para as frutas brancas, amarelas e cítricas, sobressaindo o pêssego maduro, além do abacaxi, maracujá, lima e limão siciliano, com uma textura plena, marcante, untuoso, cremoso, graças aos 4 meses sobre as lias nas barricas de carvalho, conferindo-lhe complexidade, tudo isso envolto em um delicado floral.

Na boca é fresco, atraente, mas com personalidade, mostrando uma incrível sinergia entre as frutas, que ganham protagonismo, como no aspecto olfativo, dando-lhe refrescância e a cremosidade, a untuosidade que lhe confere intensidade e volume. A acidez média e instigante corrobora as impressões anteriores com um final envolvente, longo e persistente, com retrogosto frutado e cremoso.

Melhor do que degustar um excelente e especial Alvarinho brasileiro é degustar um Alvarinho de uma região que, a cada dia, está ganhando uma grande e bela exposição entre os terroirs nacionais, a Serra do Sudeste. E melhor: o Matiz Alvarinho, bem como todos os rótulos da Vinícola Hermann, contou com a consultoria do grande lusitano Anselmo Mendes, conhecido exatamente por ser o “Rei da Alvarinho”. É muito legar ter a expertise de um homem como Anselmo Mendes que valoriza o terroir da região e não promove uma espécie de sucursal do Minho em nossas terras. Que possamos desbravar e valorizar os nossos terroirs com vinhos estupendos como Matiz Alvarinho. Tem 13,4% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Hermann:

A família Hermann trouxe todo o seu know-how de profundos conhecedores de diversas regiões vinícolas do mundo para a esfera da produção de vinhos, apostando no potencial dos melhores terroirs da região sul do Brasil.

Proprietários de uma das maiores importadoras de vinhos de alta qualidade do país, a Decanter, compraram em 2009 um vinhedo de grande vocação em Pinheiro Machado, na Serra do Sudeste no Rio Grande do Sul, plantado com mudas de alta qualidade por um dos viveiros líderes de Portugal.

A assessoria enológica de um dos mais brilhantes enólogos de Portugal, o renomado “rei do Alvarinho” Anselmo Mendes - “Enólogo do Ano” pela Revista de Vinhos de Portugal em 1997 - ao lado do talentoso enólogo Átila Zavarizze, garante a excelência na transformação das uvas promissoras em grandes vinhos brasileiros, com caráter e tipicidade.

Mais informações acesse:

http://www.vinicolahermann.com.br/

Referências:

“Marco Ferrari Sommelier”: https://www.marcoferrarisommelier.com.br/blog.php?BlogId=33

“Cave BR”: https://www.cavebr.com.br/serra-do-sudeste-1

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/a-nova-fronteira-sul_8619.html

“Intelivino”: https://intelivino.com.br/serra-do-sudeste

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/alvarinho-ou-albarino-o-que-voce-precisa-saber-sobre-uva-branca-mais-famosa-da-peninsula-iberica_13185.html

“Reserva 85”: https://reserva85.com.br/vinho/castas-uva-vitis-vinifera/alvarinho/

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/alvarinho

 


 




terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

Passo Dei Sani Rosso Premium 2019

 

Quando falamos em vinhos da famosa região italiana de Abruzzo, logo associamos para quem conhece a região, com a casta mais famosa: Montepulciano! Tão famosa que carrega em seu nome o nome da cidade.

Mas a região ainda é capaz de nos reservar algumas gratas novidades, mesmo que muito famosa e que, em tese, já ofereceu tudo que tinha de oferecer. Mas o rótulo de hoje é da icônica região italiana de Abruzzo, mas a sua sub-região é totalmente nova para mim: Falo da Comuna de Chieti.

Terre di Chieti, uma IGT, é pouco conhecida por aqui, pelo menos para mim que, no auge da ignorância, foi conhecer apenas por intermédio desse rótulo que adquiri por um valor excepcional! Será que o vinho seguirá na mesma toada?

Então sem mais delongas vamos às apresentações! O vinho que degustei e gostei veio da região italiana de Abruzzo, na Itália, na comuna de Chieti, e se chama Passo dei Sani composto pelas castas Montepulciano (85%), Merlot (5%), Cabernet Sauvignon (5%) e Sangiovese (5%) da safra 2019. E para não perder o costume vamos de história: Abruzzo e Chieti.

Abruzzo

Abruzzo é uma região emergente na Itália, conhecida principalmente pelos saborosos vinhos Montepulciano d’Abruzzo, que podem ser exemplares muito agradáveis e cheios de fruta, com ótima acidez e, por vezes, excelente relação qualidade e preço.

Localizada na parte centro-oriental da Itália peninsular, a região de Abruzzo possui fundamental importância para a vinicultura italiana. Abruzzo é a quinta maior área produtora de vinhos italianos. A produção de vinhos anual da região é quase duas vezes maior do que a produção de Toscana, ainda que Abruzzo apresente cerca de metade da área de vinhedos plantados.


Abruzzo

A área de vinha em Abruzzo ultrapassa os 32.000 hectares, dos quais quase 96% está localizado na serra, enquanto 4% é representado pela viticultura de montanha. Como forma de criação, a Pergola, localmente denominada “Capanna”, ainda é muito difundida, enquanto sistemas obsoletos como a maritate de Alberate deram lugar a sistemas de formação mais modernos, como a Controspalliera, Cordone speronato e Guyot. A produção total de vinho excede 2,6 milhões de hectolitros, dos quais mais de 30% são denominações DOC e DOCG.

A uva de maior predominância nos vinhedos de Abruzzo é a uva Montepulciano que pode originar excelentes vinhos tintos. Outra casta que também pode ser encontrada nos vinhedos da região italiana é a uva branca Trebbiano, que dá origem a outro vinho famoso da área, o Trebbiano d’Abruzzo.

O vinho tinto Montepulciano d’Abruzzo não é somente o símbolo da região de Abruzzo, como também é um dos vinhos italianos mais comercializados em todo o mundo. Em 1968, o exemplar recebeu a DOC Montepulciano d’Abruzzo. Tal denominação abrange a maior parte da região italiana.

Desde os anos 1960, depois de ter sido reconhecido pelo “DOC”, os vinhos da Abruzzo tornaram-se progressivamente conhecidos no mundo.

As denominações de origem mais conhecidas são: Montepulciano d’Abruzzo Colline Teramane DOCG, Abruzzo DOC, Cerasuolo d’Abruzzo DOC, Controguerra DOC, Montepulciano d’Abruzzo DOC, Ortona DOC, Terre Tollesi DOCG, Trebbiano d’Abruzzo DOC, Villamagna DOC, Colli Aprutini IGT, Colli del Sangro IGT, Colline Frentane IGT, Colline Pescaresi IGT, Colline Teatine IGT, Del Vastese (o Histonium) IGT, Terre Aquilane IGT e Terre di Chieti IGT. Em suma existe em Abruzzo apenas uma denominação DOCG, Montepulciano d’Abruzzo delle Colline Teramane DOCG, 8 denominações DOC e 8 denominações IGT.

O relevo da região é formado por colinas e montanhas, incluindo a imponente cordilheira dos Appennini, cuja altitude ultrapassa os 2.000 m. Abruzzo possui 150 km de costa, com características bastante peculiares: ao norte, o cenário é baixo e retilíneo, composto por terrenos amplos e arenosos; já na parte sul, encontram-se terrenos marcados por uma densa vegetação mediterrânea.

A região de Abruzzo apresenta, portanto, clima marítimo e continental, com temperatura média anual variando entre 8 e 12ºC na zona das montanhas, e 12 e 16ºC na parte marítima.

Os melhores vinhos Montepulcianos são da parte norte da região de Abruzzo, onde a cordilheira dos Apeninos (Appennini) aproxima-se do mar. Dentre os 500 mil hectolitros do vinho Montepulciano d’Abruzzo produzidos anualmente, cerca de dois terços provêm do distrito de Chieti.

A uva Montepulciano apresenta coloração profunda, baixa acidez e taninos doces, conferindo aos vinhos caráter frutal delicado que o torna bom enquanto jovem. No entanto, os exemplares elaborados a partir da uva Montepulciano podem ser degustados também com 10 anos de vida.

Vale aqui também uma pertinente informação: Apesar do nome, a uva Montepulciano não tem nada a ver com a cidade de mesmo nome localizada em outra região da Itália, a Toscana. Lá são produzidos os vinhos Rosso di Montepulciano e Nobile de Montepulciano, mas que não são feitos com a uva Montepulciano, apenas levam esse nome em referência à cidade.

Terre di Chieti (IGT)

Terre di Chieti IGT é um título de Indicazione Geografica Tipica / Protetta para a província de Chieti de Abruzzo, Itália central. Foi criado em 1995, quando a categoria IGT foi lançada pela primeira vez na Itália. É complementado pelo título mais específico do local, Colline Teatine IGT, que se concentra apenas nas colinas ao redor da cidade de Chieti, a capital da província.

Chieti

Os regulamentos de produção para todos os títulos IGT/IGP são flexíveis em comparação com DOCs e DOCGs. Os vinhos “Terre di Chieti” podem (em teoria) ser qualquer coisa, desde brancos secos e rosés doces até tintos e espumantes. No entanto, a maioria são vinhos de mesa secos feitos a partir de apenas um punhado de castas clássicas. Algumas delas já estabelecidas na região, outras são importações comerciais de outras regiões vitivinícolas.

Os vinhos tintos são predominantemente baseados em Sangiovese, Montepulciano e Merlot. Essa ênfase não é surpreendente, afinal a Montepulciano é de longe a variedade de uva mais plantada em Abruzzo. A Sangiovese é uma uva para vinho tinto italiana clássica e confiável que prospera no terroir local. Merlot é um prazer para todos e um componente de mistura útil.

Em um cenário semelhante, Chardonnay, Pecorino e Pinot Grigio compõem a maioria dos vinhos brancos. A primeira é indiscutivelmente a uva para vinho mais comercializável do mundo e cresce bem em Chieti, tornando-a uma opção óbvia.

Pecorino é uma variedade de uva branca central em todo Abruzzo e Marche apenas ao norte. Tornou-se um grampo dos IGTs locais, principalmente do Colline Teatine e do Colline Pescaresi que cercam Pescara. As plantações de Pinot Grigio cresceram em muitas partes da Itália desde 2000, não apenas no coração do Nordeste.

Além disso, os regulamentos da IGT permitem a produção de vinhos monovarietais a partir de uma variedade relativamente ampla de outras uvas. Estes incluem clássicos locais como Passerina, Cococciola, Bombino Bianco e Falanghina, bem como o mundialmente popular Cabernet Sauvignon e Sauvignon Blanc.

1.786 hectares (4.411 acres) de vinhedos foram registrados para a classificação em 2015. A produção para o ano seguinte foi de cerca de 1.670.000 casos.

E agora finalmente o vinho!

Na taça entrega um vermelho rubi intenso, profundo, mas que apresenta algum brilho, com lágrimas grossas, lentas e em profusão.

No nariz revela aromas frutados, garantido pela Cabernet Sauvignon e Merlot, de frutas pretas maduras, com destaque para ameixas e cerejas. Um discreto amadeirado, devido ao pequeno lote que estagiou em barricas de carvalho é percebido, trazendo baunilha. Percebem-se também especiarias, como pimenta, couro, tabaco, graças a Montepulciano e a Sangiovese.

Na boca tem corpo médio, boa estrutura, alcoólico, mas sem agredir, trazendo bom volume, algo de untuoso, traz também um agradável e discreto residual de açúcar que marca também a sua presença. Tem as notas frutadas, como no aspecto olfativo, bem como a madeira, taninos pujantes, mas domados, acidez média e um final persistente e saboroso.

Mais uma descoberta, mais conhecimento adquirido, mais uma grata e satisfatória degustação, que surpreendente experiência com esse vinho que é um verdadeiro rótulo com excelente custo X benefício. Um vinho de Abruzzo que carrega, em sua predominância, a mais emblemática das castas de Abruzzo: a Montepulciano. E por ter a predominância da cepa, traz as notas frutadas, mesclada a uma marcante personalidade. Castas autóctones e as mais famosas cepas francesas e do mundo! Belo vinho! Tem 14% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Conti Sani:                                                                                                

A Conti Sani representa a paixão e o profissionalismo com que os seus viticultores cuidam das vinhas e vinhos todos os dias. As uvas produzidas e criteriosamente selecionadas são transportadas para as adegas de última geração para uma produção total de mais de 100 milhões de garrafas por ano. Na Itália, a Conti Sani está entre os líderes em varejo moderno.

A Conti Sani foi fundada em Verona em 1991 a partir da união estratégica de algumas das realidades mais importantes do setor vitivinícola das regiões vinícolas mais conhecidas da Itália.

Até à data, a Conti Sani pode ostentar uma vasta área de produção, uma das maiores do setor vitivinícola, podendo contar com uma área de vinha de: 2.600 hectares na Toscana, 840 hectares no Veneto, 420 hectares na Puglia, 340 hectares na Sicília, 240 hectares no Piemonte, 800 hectares na Emilia Romagna e 200 hectares em Abruzzo.

Mais informações acesse:

https://contisani.it/

Referências:

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/regiao/abruzzo

“Vinho Italiano.com”: https://vinhoitaliano.com/os-vinhos-da-regiao-abruzzo/

“RBG Vinhos”: https://www.rbgvinhos.com.br/blog/abruzzo-a-terra-da-uva-montepulciano-uma-das-mais-famosas-da-italia

“Parada 21”: https://parada21.com.br/vinhos-italianos-abruzzo-a-regiao-de-excelentes-vinhos-frutados/

“Wine Searcher: https://www.wine-searcher.com/regions-terre+di+chieti+igt

 

 

 









sábado, 4 de fevereiro de 2023

Rilievo Montepulciano D'Abruzzo 2019

 

Como que uma casta autóctone, de caráter puramente regional consegue ganhar o mundo em respeitabilidade e credibilidade? Centros de produção vinícolas tradicionais e milenares como a Itália, Portugal e Espanha conseguem esses feitos, de exportar para o mundo as suas castas.

E há uma casta italiana que sintetiza a sua importância para o país e que tem uma forte relevância no mundo graças a sua qualidade e melhor: a sua versatilidade! Ela pode agradar aos paladares mais simples, pois traz muita fruta, porém tem personalidade, mostrando taninos mais gulosos, cheios e vivazes, além de uma boa acidez.

E como de costume na Itália, ela carrega o nome da cidade onde reina absoluta e com isso catapulta para o mundo a cidade, os seus costumes, cultura e aptidão para a concepção de grandes vinhos: Falo da Montepulciano e da cidade de Abruzzo.

E para se ter uma noção da importância de Abruzzo, a cidade é considerada a quinta maior área produtora de vinhos italianos. A produção de vinhos na região é quase duas vezes maior do que a produção da emblemática Toscana, ainda que Abruzzo apresente cerca de metade da área de vinhedos plantados.

É isso! Esses números iniciais mostra a importância, a relevância dessa cidade para a Itália, no que tange à produção de vinhos e antes de embarcar profundamente na história da região, preciso fazer um “mea culpa” e admitir que pouco degustei rótulos com a Montepulciano D’Abruzzo. Sequer me recordo a última vez que tive o prazer de degustar um rótulo desta cepa.

Ah sim lembrei! Lembro-me de um rótulo que degustei há longos três anos atrás, aproximadamente, e gostei e se chamava Coppiere Montepulciano D’Abruzzo 2016 e tive, apesar de ser um vinho mais básico, uma ótima experiência.

Então já passou mais do que na hora de repetir a experiência de degustar a nobreza da Montepulciano D’Abruzzo e toda a sua versatilidade e personalidade marcante. Então sem mais delongas vamos às apresentações!

O vinho que degustei e gostei veio, claro, da região italiana de Abruzzo e se chama Rilievo, da casta nobre, muito mais do que nobre, essencial, Montepulciano da safra 2019. Para não perder o costume, vamos também às histórias da região e de sua casta ícone: Abruzzo e Montepulciano.

Abruzzo

Abruzzo é uma região emergente na Itália, conhecida principalmente pelos saborosos vinhos Montepulciano d’Abruzzo, que podem ser exemplares muito agradáveis e cheios de fruta, com ótima acidez e, por vezes, excelente relação qualidade e preço.

Localizada na parte centro-oriental da Itália peninsular, a região de Abruzzo possui fundamental importância para a vinicultura italiana. Abruzzo é a quinta maior área produtora de vinhos italianos. A produção de vinhos anual da região é quase duas vezes maior do que a produção de Toscana, ainda que Abruzzo apresente cerca de metade da área de vinhedos plantados.


Abruzzo

A área de vinha em Abruzzo ultrapassa os 32.000 hectares, dos quais quase 96% está localizado na serra, enquanto 4% é representado pela viticultura de montanha. Como forma de criação, a Pergola, localmente denominada “Capanna”, ainda é muito difundida, enquanto sistemas obsoletos como a maritate de Alberate deram lugar a sistemas de formação mais modernos, como a Controspalliera, Cordone speronato e Guyot. A produção total de vinho excede 2,6 milhões de hectolitros, dos quais mais de 30% são denominações DOC e DOCG.

A uva de maior predominância nos vinhedos de Abruzzo é a uva Montepulciano que pode originar excelentes vinhos tintos. Outra casta que também pode ser encontrada nos vinhedos da região italiana é a uva branca Trebbiano, que dá origem a outro vinho famoso da área, o Trebbiano d’Abruzzo.

O vinho tinto Montepulciano d’Abruzzo não é somente o símbolo da região de Abruzzo, como também é um dos vinhos italianos mais comercializados em todo o mundo. Em 1968, o exemplar recebeu a DOC Montepulciano d’Abruzzo. Tal denominação abrange a maior parte da região italiana.

Desde os anos 1960, depois de ter sido reconhecido pelo “DOC”, os vinhos da Abruzzo tornaram-se progressivamente conhecidos no mundo.

As denominações de origem mais conhecidas são: Montepulciano d’Abruzzo Colline Teramane DOCG, Abruzzo DOC, Cerasuolo d’Abruzzo DOC, Controguerra DOC, Montepulciano d’Abruzzo DOC, Ortona DOC, Terre Tollesi DOCG, Trebbiano d’Abruzzo DOC, Villamagna DOC, Colli Aprutini IGT, Colli del Sangro IGT, Colline Frentane IGT, Colline Pescaresi IGT, Colline Teatine IGT, Del Vastese (o Histonium) IGT, Terre Aquilane IGT e Terre di Chieti IGT. Em suma existe em Abruzzo apenas uma denominação DOCG, Montepulciano d’Abruzzo delle Colline Teramane DOCG, 8 denominações DOC e 8 denominações IGT.

O relevo da região é formado por colinas e montanhas, incluindo a imponente cordilheira dos Appennini, cuja altitude ultrapassa os 2.000 m. Abruzzo possui 150 km de costa, com características bastante peculiares: ao norte, o cenário é baixo e retilíneo, composto por terrenos amplos e arenosos; já na parte sul, encontram-se terrenos marcados por uma densa vegetação mediterrânea.

A região de Abruzzo apresenta, portanto, clima marítimo e continental, com temperatura média anual variando entre 8 e 12ºC na zona das montanhas, e 12 e 16ºC na parte marítima.

Os melhores vinhos Montepulcianos são da parte norte da região de Abruzzo, onde a cordilheira dos Apeninos (Appennini) aproxima-se do mar. Dentre os 500 mil hectolitros do vinho Montepulciano d’Abruzzo produzidos anualmente, cerca de dois terços provêm do distrito de Chieti.

A uva Montepulciano apresenta coloração profunda, baixa acidez e taninos doces, conferindo aos vinhos caráter frutal delicado que o torna bom enquanto jovem. No entanto, os exemplares elaborados a partir da uva Montepulciano podem ser degustados também com 10 anos de vida.

Vale aqui também uma pertinente informação: Apesar do nome, a uva Montepulciano não tem nada a ver com a cidade de mesmo nome localizada em outra região da Itália, a Toscana. Lá são produzidos os vinhos Rosso di Montepulciano e Nobile de Montepulciano, mas que não são feitos com a uva Montepulciano, apenas levam esse nome em referência à cidade.

Montepulciano

A uva-tinta Montepulciano é a segunda tinta mais plantada na Itália, depois da Sangiovese. É uma das variedades utilizadas na elaboração de vinhos incríveis. Pois sua pele é altamente pigmentada, conferindo-lhe uma cor profunda e ricamente colorida.

É uma cepa que geralmente produz bebidas encorpadas, com sabores delicados de frutas negras, como amora, cereja e berris. Também tem um teor alcoólico notável, baixa acidez e taninos suaves. Além de notas de cacau, orégano e, até mesmo, de tabaco.

A uva produz tintos profundos e é adaptável aos estilos de vinificação moderno ou tradicional. A Montepulciano é comumente destinada a vinhos jovens. Entretanto, também pode ser utilizada para a elaboração de bebidas da velha guarda, sendo envelhecidos em barris de carvalho.

Os vinhos tintos de Montepulciano geralmente combinam com uma grande variedade de alimentos devido à acidez elevada natural. No entanto, os sabores robustos de ervas e tabaco costumam exigir alimentos mais ricos e salgados.

A Montepulciano harmoniza bem com os pratos mais populares da Itália, como pizza, bolonhesa e molhos à base de tomate. Harmoniza também com pratos de macarrão com queijo. Além de pratos com cabra ou costela de cordeiro para destacar seu lado saboroso.

Para atingir todo o seu potencial, a Montepulciano precisa de uma longa estação de crescimento para amadurecer completamente, por isso o clima ensolarado das partes central e sul do país são os mais adequados. Quando cultivado no Norte, região mais fresca da Itália, a Montepulciano pode ter um sabor desagradável.

As regiões que cultivam Montepulciano tradicionalmente o misturam com uma porcentagem menor de outras uvas italianas nativas, como Sangiovese e ainda a francesa Syrah. Assim, a denominação de origem do vinho muda de acordo com o percentual mínimo da uva Montepulciano na bebida. São eles:

·         Montepulciano d’Abruzzo DOC (mínimo de 85%);

·         Montepulciano d’Abruzzo Colline Teramane DOCG (mínimo de 90%);

·         Controguerra Rosso DOC (mínimo de 60%).

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um vermelho rubi com halos granada e bem lacrimoso, com lágrimas lentas e grossas.

No nariz entregam frutas vermelhas frescas, com destaque para ameixas, cerejas e framboesas, com toques rústicos que lembra especiarias e couro e algo floral.

Na boca é macio, aveludado e equilibrado, mas com alguma personalidade, um vinho com bom volume de boca. A fruta também protagoniza no paladar, com taninos amáveis, redondos, porém presentes, além de média acidez e final persistente de retrogosto frutado.

A personificação da Itália, além da Sangiovese, se mostra na Montepulciano. Então degustar rótulos com essa casta sempre será um grande prazer e o Rilievo, mesmo simples na sua concepção e proposta, entrega o que de fato a cepa deveria entregar em suas mais fiéis características: frutado, especiado, marcante, mas elegante e harmonioso. Assim o é! A Itália com seus apelos regionais que ganham o mundo definitivamente faz com que nos rendamos sempre aos seus rótulos. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Botter:

A vinícola Botter foi fundada por Carlo Botter e sua esposa Maria em 1928 em Fossalta di Piave, uma pequena cidade perto de Veneza. Começou como um pequeno negócio de venda de vinhos locais em barricas e garrafões.

Na década de 60 os dois filhos, Arnaldo e Enzo, ingressaram na Companhia e passaram a comercializar vinhos em garrafas. Aumentaram a presença da Empresa no mercado italiano e - o mais importante - deram vida a um processo gradual de expansão para outros países, que se tornaria a principal fonte de receitas da Empresa.

Na década de 70, a Botter conseguiu acompanhar o crescimento do mercado internacional e expandir sua variedade. Alguns de seus vinhos do Veneto vieram dos vinhedos da família, localizados perto de Treviso.

Nos anos 80, graças a várias colaborações estreitas com produtores locais, Botter começou a fornecer novos vinhos de Abruzzo, Campânia, Puglia e Sicília, oferecendo uma ampla gama de produtos feitos com uvas de vinhas nativas; este foi apenas o ponto de partida da abordagem multiterritorial de Botter que mais tarde se desenvolveria e se espalharia por todo o país, do norte ao sul da Itália.

No final dos anos 90, a terceira geração - Annalisa, Alessandro e Luca - entrou na Companhia e Botter passou a testemunhar uma nova evolução. Foi adotado um modelo de negócio totalmente novo, mais adequado às necessidades de um mercado dinâmico e global.

Hoje, Botter é um dos maiores produtores e exportadores de vinhos italianos:1 em cada 35 garrafas de vinho italiano exportadas para o mundo é produzida por Botter.

Mais informações acesse:

https://www.botter.it/

Referências:

“Blog Famiglia Valduga”: https://blog.famigliavalduga.com.br/conheca-a-uva-montepulciano-e-saiba-tudo-sobre-a-tradicional-variedade-italiana/

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/regiao/abruzzo

“Vinho Italiano.com”: https://vinhoitaliano.com/os-vinhos-da-regiao-abruzzo/

“RBG Vinhos”: https://www.rbgvinhos.com.br/blog/abruzzo-a-terra-da-uva-montepulciano-uma-das-mais-famosas-da-italia

“Parada 21”: https://parada21.com.br/vinhos-italianos-abruzzo-a-regiao-de-excelentes-vinhos-frutados/

 

 

 

 


sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

Traversa Sauvignon Blanc 2020

 

Atualmente o cenário para os enófilos brasileiros é desanimador. Desanimador no que tange aos preços que sobem de uma forma abusiva e, em alguns momentos, de maneira injustificável. Ou melhor tem uma triste e desoladora justificativa: o custo Brasil é deveras alto e a carga tributária que incide sobre o mercado da bebida de Baco é devastador.

Políticas para alavancar o setor são mencionadas por políticos em épocas de campanha eleitoral, porém, quando se elegem não são efetivadas e nós, pobres mortais trabalhadores apreciadores no néctar, ainda sofre e muito com os valores. Como democratizar a cultura do vinho neste país com um cenário desses?

Mas não quero, a priori, entrar no mérito da discussão, embora urgente e necessária, foi apenas para ilustrar que o enófilo da “classe operariada” neste Brasil sofre e muito para querer degustar um vinho, para adentrar ao universo da poesia líquida, porém ainda há uma luz, um farol no fim do sombrio e temeroso túnel.

Com um pouco mais de dedicação e garimpo, ainda conseguimos encontrar alguns rótulos, de alguns produtores sinceros, de excelente custo X benefício e que, curiosamente, não tem a devida divulgação por parte de alguns formadores de opinião e especialistas em vinho! Vai entender!

E um desses exemplos clássicos e interessantes vem do Uruguai, mais precisamente da região de Montevidéu, da capital uruguaia. Falo da Família Traversa. Essa região não é necessariamente a mais famosa do Uruguai para a produção de vinhos, como Canelones, por exemplo, e a Família Traversa, desde a década de 1950 no mercado, também não goza de popularidade, mas seus vinhos são surpreendentes!

Lembro-me como se fora hoje do meu primeiro vinho da Família Traversa, um Traversa Reserva Tannat com Merlot, corte típico da região, da safra 2016. Que vinho espetacular, que vinho surpreendente e que, à época, custou menos de R$40! Quando vemos um valor desses logo desconfia, se tratando de alguns “aristocráticos” que encaram o vinho como status e etiqueta social.

Mas o vinho foi estupendo! E mais uma vez me ponho a degustar mais um rótulo da Traversa e dessa vez, para mim pelo menos, virá carregado de novidade! Sim! O meu primeiro Sauvignon Blanc uruguaio! Não preciso dizer da ansiedade, da animação para tê-lo em minha humilde taça!

E hoje foi dada a largada para esse momento! O momento pede, afinal, dias de sol, de calor, de verão, nada mais consensual do que um belo, fresco e marcante Sauvignon Blanc para “harmonizar” com esse clima.

Embora a Sauvignon Blanc seja uma casta recorrente em minha trajetória enófila, dentre as cepas brancas, bem como a Chardonnay, por exemplo, essa vem carregada de novidades, mas espero encontrar as já famosas características da casta que fizeram dela e fazem até hoje a sua fama.

Então sem mais delongas vamos às apresentações! O vinho que degustei e gostei veio de Montevidéu e se chama Traversa da casta Sauvignon Blanc da safra 2020! E para não perder o costume falemos um pouco dessa região vinícola que embora não tenha tanta fama, é uma das mais importantes do Uruguai: Montevidéu!

Montevidéu

Montevidéu começou seu processo de fundação em 1723. O Governador do Río de la Plata, Bruno Mauricio de Zabala, foi enviado pela coroa espanhola para fundar esta cidade portuária e expulsar aos portugueses, que tinham construído o Fuerte de Montevideu sobre a baia. Assim, as primeiras famílias que povoaram “San Felipe y Santiago de Montevideo” foram de origem espanhol, provenientes do grande centro colonial do Río de la Plata: Buenos Aires. Pela sua condição de principal porto do Rio da Prata e Montevidéu teve não teve bom relacionamento com a cidade vizinha.

Pedro Millán traçou o primeiro plano da cidade em 1726, ano em que começaram a chegar os colonos das Ilhas Canarias. A antiga Ciudadela de Montevidéu (edificada ao longo de uns quarenta anos) apresentava as características típicas das cidades colônias da época: Uma Praça de Armas no centro (Atual Praça Constitución, mais conhecida como Matriz) rodeada pela Igreja (atual Catedral) e o edifício do governo (Cabildo).

A pequena cidade estava rodeada de muralhas das que hoje só ficam o portal de entrada, a simbólica Puerta de la Ciudadela. Em 1807 se produziram as Invasões Inglesas, enfrentadas e vencidas pelos orientais. Este fato deu a Montevidéu o status de “Muy Fiel y Reconquistadora” e a converteu no bastião espanhol do Río de la Plata. Montevidéu se manteve fiel a Espanha durante as Revoluções de Maio de 1810 em Buenos Aires. Durante esse período, a coroa espanhola se instalou em Montevidéu, o que significou o um grande crescimento para a cidade.

O departamento de Montevidéu se estabeleceu em 1816, como a primeira divisão administrativa da Banda Oriental. Ao se declarar o novo Estado Independente em 1828, Montevidéu foi estabelecido como capital, e a partir da “Jura de la Constitución de 1830” começou a se projetar a “Nova Cidade” por fora dos limites da Ciudadela. Contudo, a atual Ciudad Vieja foi durante muitas décadas o centro econômico e cultural de Montevidéu. As grandes bandas migratórias da Europa (principalmente espanhóis, mas também italianos, alemães, franceses, húngaros, judeus e ingleses) deram ao Montevidéu de 1900 um ar cosmopolita.

A herança dos escravos africanos trazidos durante a época colonial aportou o caráter multicultural da cidade, que se percebe até hoje. Ao longo do século XX Montevidéu se expandiu sobre a baia para o leste, e também para o norte, com numerosos centros de população afastadas do centro. A emblemática Rambla de Montevidéu, principal cartão postal da cidade, foi construída em 1910. Outros monumentos significativos datam dos anos 20 e 30, como o Palácio Legislativo e o Estádio Centenário.

O Uruguai era originalmente povoado pelos índios Charruas, mas em 1680 os portugueses começaram a se assentar na região; os espanhóis chegaram logo em seguida. As primeiras uvas viníferas foram cultivadas em território uruguaio há mais de 250 anos. A produção de vinhos, entretanto, só começou a ser realizada comercialmente na segunda metade do século XIX. Em 1870, Dom Pascal Harriague introduziu ao Uruguai várias castas de uva em busca de uma que se adaptasse bem ao solo e clima da região.

A Tannat foi a que se saiu melhor na experiência e desde então, por causa do seu sucesso imediato e duradouro no país, ela dá vida ao autêntico vinho uruguaio. Na década de 1970, houve uma renovação na vitivinicultura do Uruguai; novas técnicas de plantio e cultivo, bem como a introdução de novas variedades de uvas, possibilitaram um desenvolvimento substancial à sua indústria de vinhos.

Aliado a tudo isso, a evolução dos vinhos uruguaios aconteceu por causa da paixão dos produtores e apreciadores de lá pela bebida. A maneira artesanal e a relação respeitosa que eles têm com as uvas que cultivam tornaram seus vinhos premiados e bastante reconhecidos no mercado internacional.

Fortemente influenciado pelo Rio da Prata e Oceânico Atlântico, o Uruguai tem as suas principais regiões produtoras de vinhos na costa sul – Maldonado, Canelones e Colônia. Situado entre os paralelos 30 e 35, a exemplo de Chile, Argentina, Austrália e África do Sul, o país tem a possibilidade de elaborar vinhos que possuem a energia do Novo Mundo e o refinamento do Velho Mundo.

É a terra do Tannat, sim, mas há muito mais por descobrir. O Uruguai é comparado com a região de Bordeaux, na França. Seu Rio da Prata é comumente equiparado ao estuário do Gironde. A maior região vitivinícola – Canelones – é dona de 60% da produção total. Fica bem no centro do país, ao sul, muito próxima da capital Montevidéu, que abriga 40% da população local com 3,4 milhões de moradores.

As demais regiões produtoras do sul do país ficam a menos de duas horas da capital – à oeste, Colônia (pela Rota 1) e, à leste, Maldonado (pela Rota 9). O Uruguai possui uma rota de vinho especial e aconchegante, coordenada pela Associação de Turismo Enológico do Uruguai, que reúne muitas bodegas familiares, com estrutura e história que fascinam seus visitantes. A rota, batizada de “Os caminhos do vinho” passa por regiões de Montevidéu, Canelones, Maldonado, Colônia e Rivera, cujas paisagens belas e exuberantes são atrativos que complementam sua ótima gastronomia e seus vinhos finos.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um amarelo claro, palha, translúcido com halos discretamente esverdeados, com muito brilho, além de algumas lágrimas finas e rápidas.

No nariz impera os aromas de frutas brancas, tropicais e cítricas com destaque para a maçã-verde, vindo em seguida o abacaxi, a lima, o maracujá. Uma agradável sensação de frescor entrega mineralidade e notas herbáceas, com um fundo floral.

Na boca é leve, fresco, mas untuoso, algo de cremoso, graças à parte do vinho que passou brevemente por barricas de carvalho. As notas frutadas protagonizam também no paladar como no aspecto olfativo e repete-se também o mineral trazendo sabor e personalidade ao vinho. Tem acidez evidente vibrante que instiga a mais uma taça, com um final persistente e frutado.

A Família Traversa e todos os seus rótulos que vão desde os básicos até o que se chamam de alta gama definitivamente são os melhores que apresentam a relação qualidade X preço do mercado de vinhos! E esta nova versão da linha Traversa que degusto hoje traz tudo o que esperamos da Sauvignon Blanc: frescor, personalidade, alguma untuosidade, leveza, um toque mineral agradabilíssimo. A Família Traversa entrega o lado “alternativo” da triste realidade dos valores impraticáveis dos vinhos no Brasil e nos possibilita trafegar, com dignidade, neste vasto e impecável universo dos vinhos. Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Família Traversa:

Esta empresa com as suas vastas vinhas e fábricas de processamento de vinho, conta com a presença constante da Família Traversa. Sessenta anos de muito trabalho e três gerações que sustentam a qualidade dos seus vinhos. Cada novo plantio e manutenção, processamento, embalagem e distribuição de vinho, marketing e atendimento ao cliente são sempre supervisionados por um membro da família. Assim eles são e ambicionam o conceito de qualidade e este é o resultado do trabalho da vinícola. A história desta família é o legado de bondade e esperança que está nas vinhas e há três gerações.

Em 1904, Carlos Domingo Traversa veio para o Uruguai com seus pais. Filho de imigrantes italianos, foi em sua juventude peão rural em fazendas de vinhedos, e em 1937 com sua esposa, Maria Josefa Salort, conseguiu comprar 5 hectares de terras em Montevidéu. Suas primeiras plantações de uvas de morango e moscatel foram em pequena escala. Em 1956 fundou a adega com os seus filhos, Dante, Luis e Armando, que hoje com os seus netos têm muito orgulho de continuar o seu sonho.

A atitude constante de crescimento contínuo, com dedicação e desenvolvimento levou e ainda leva a vinícola a ser um exemplo em todo o Uruguai. Em mais de 240 hectares próprios, além de vinhedos de produtores cujas safras são controladas diretamente pela empresa, obtendo assim uma grande harmonia com os vinhos e as próprias uvas. As variedades plantadas são: Tannat, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Merlot, Chardonnay e Sauvignon Blanc.

As uvas são processadas com maquinários e instalações da mais alta tecnologia. Inicia-se com um rígido controle de produção, colheita no momento ideal, plantio de leveduras selecionadas, controle de fermentação, aplicação a frio no processo de elaboração, clarificações e degustação dos vinhos para definir diferentes categorias de qualidade. Daí passa-se a armazenar em grandes recipientes de grande tecnologia, como inox, tanques térmicos, ou em barricas de carvalho americano e francês.

Mais informações acesse:

http://grupotraversa.com.uy/en/

Referências:

“Uruguai.org”: http://www.uruguai.org/a-historia-de-montevideu/

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/uruguai-natural_9771.html