segunda-feira, 20 de março de 2023

Conde de Cantanhede Reserva Baga 2015

 

Lembro-me que, quando degustei a casta símbolo da Bairrada, região emblemática portuguesa, Baga, em uma “versão” varietal, na sua forma predominante e plena, eu disse, ou melhor, textualizei; E eis que ela me surge por inteiro!

Quando se desbrava a Bairrada, não se pode negligenciar a Baga, até porque ela, por uma questão da sua Denominação de Origem (DOC), ela predomina sempre, mesmo que em blends. Mas eu precisava de um momento só com ela, aquele momento de introspecção, só nós dois.

E a minha experiência foi arrebatadora! E por ter sido arrebatadora, como disse, me veio a intenção, aquela doce e salutar loucura de desbravar a casta na sua versão varietal.

E diante disso, claro, vem a necessidade de buscar novos rótulos. Depois da minha primeira experiência com um 100% Baga com o Moinho de Sula Reserva da safra 2014, outros vinhos precisavam ser por mim descobertos.

E já que mencionei o Moinho de Sula da valorosa Adega de Cantanhede não podemos deixar de falar desse produtor, de suma importância que tem de forma exemplar, disseminando a cultura da Bairrada com seus vinhos e castas e o principal, sim, temos de levar em consideração o excepcional custo X benefício, o que, com todo o respeito, a família Pato, do grande Luis Pato e sua filha, Filipa, não proporciona.

Sei que, com esse comentário, posso gerar alguns borburinhos, a tal famigerada polêmica, mas convenhamos que o valor é alto, a “grife de rótulos” é grande no Brasil, mas, por outro lado, não podemos negar a importância e qualidade de seus vinhos e a história que tal família tem para com a Bairrada, com o Luis Pato desbravando a Baga, domando-a.

Foi a Adega de Cantanhede que abriu os meus olhos para a Baga, a Bairrada! Vale uma história aqui de como tive o meu primeiro contato com a Cantanhede! A Cantanhede me foi revelada, de uma forma quase despretensiosa, por um de seus rótulos mais falados e premiados, o Marquês de Marialva Colheita Selecionada. Eu degustei a safra 2014 no ano de 2019! Achei que estaria “avinagrado”, ruim! Enganei-me! Um senhor vinho! Vivo, pleno aos 5 anos! A Bairrada se revelara para mim com esse rótulo! A Baga se mostrava com a sua incrível capacidade longeva!

E dessa vez a Baga me surgirá por inteiro novamente! E dessa vez o rótulo, diferente do Moinho de Sula reserva, oriunda do Beira Atlântico, virá da Bairrada! Um reserva da Bairrada! E como está o coração nesse momento? Repleto de alegria e mesclado com uma salutar ansiedade.

A taça finalmente é inundada pela poesia líquida e finalmente o vinho que degustei e gostei veio da Bairrada e se chama Conde de Cantanhede Reserva da casta Baga (100%) da safra 2015. E como gostei! Todas as características da Baga, que conheci, há pouco tempo, estão neste rótulo e agora figurando solitariamente, mas ricamente.

Então sem mais delongas, antes de tecer maiores e melhores, sem dúvida, comentários do vinho, contemos um pouco a história da Baga e da região onde domina: a velha e tradicional Bairrada, no coração de Portugal que, por curiosidade, é tida também como a terra dos espumantes na terrinha!

Baga

A uva Baga, uma das principais uvas nativas de Portugal, é capaz de oferecer enorme complexidade aos rótulos que compõe. Demonstrando muita classe e estrutura, a variedade da casta de tintos é única no seu valor e possui um fantástico potencial de envelhecimento, que atua com o vinho na garrafa durante anos após sua fabricação.

A uva Baga é uma variedade amplamente utilizada na costa central de Portugal, na elaboração de ótimos vinhos tintos. Particularmente na região da Bairrada, a Baga é, sem dúvida, uma das uvas tintas mais cultivadas, além de ser plantada também no Dão e em Ribatejo. Há quem diga que a casta nasceu nas terras do Dão, inclusive alguns produtores locais mais tradicionais defendem essa tese, mas foi nas terras da Bairrada que ganhou reputação, onde ocupa mais de 90% dos vinhedos.

A Baga é conhecida tradicionalmente pela espessura de sua pele, em proporção com o tamanho das pequenas bagas que o cacho apresenta. Além disso, essa variedade é extremamente tânica, podendo ser notado o caráter adstringente em alguns vinhos.

Baga

A Baga é uma uva pequena, com casca grossa, capaz de oferecer classe e estrutura aos rótulos que compõem que vão desde os tintos até os rosés e espumantes. É exatamente o fato de o fruto ser pequeno que faz com que os vinhos da uva Baga tenham taninos em alta concentração e acidez acentuada.

No passado, a Baga era conhecida por ser empregada na produção de vinhos rústicos, excessivamente ácidos e tânicos e de pouca concentração. Porém, após a chegada do genial Luís Pato, conhecido como o “revolucionário da Bairrada” e maior expoente desta variedade, a casta da uva Baga foi “domesticada”.

Luis Pato

O cultivo da Baga é árduo e trabalhoso, demorando para que o amadurecimento ocorra. A fruta desenvolve-se melhor quando plantada em solos argilosos e necessita de uma excelente exposição ao sol durante o processo de cultivo. Entretanto, após os devidos cuidados e maturação, a Baga produz preciosos rótulos, podendo envelhecer na garrafa durante anos, garantindo complexidade e elegância para seus exemplares, além de tornar os vinhos concentrados, aromáticos e possuidores de uma coloração escura.

Conhecida também como Tinta da Bairrada, Tinta Poeirinha ou Tinta Fina, a uva Baga atualmente é considerada uma das maiores uvas portuguesas, com enorme complexidade, estrutura e classe, sendo muito apreciada no mundo do vinho. A casta Baga dá origem a vinhos portugueses com muita personalidade, altamente interessantes e únicos.

Bairrada

Localizada na região central de Portugal e se estendendo até o Oceano Atlântico, especificamente entre as cidades de Coimbra e Águeda, a região vinícola da Bairrada – cujo nome é uma referência ao solo argiloso que a compõe – tem clima temperado bastante favorável às vinhas.

A Bairrada é uma daquelas regiões portuguesas com grande personalidade. Apesar de sua longa história vínica, a certificação da região é recente. A Denominação de Origem Controlada (DOC Bairrada) para vinhos tintos e brancos é de 1979 e para espumantes de 1991. A Região Demarcada da Bairrada possui também uma Indicação Geográfica: IG Beira Atlântico.

Bairrada

António Augusto de Aguiar estudou os sistemas de produção de vinhos e definiu as fronteiras da região. Em 1867, vinte anos mais tarde, fundou a Escola Prática de Viticultura da Bairrada. Destinada a promover os vinhos da região e melhorar as técnicas de cultivo e produção de vinho.

O primeiro resultado prático da escola foi a criação de vinho espumante em 1890. E foi com os espumantes que a região conquistou o mundo. Frutados, com um toque mineral e boa estrutura esses vinhos tornaram-se referencias e, até hoje, fazem da Bairrada uma das maiores regiões produtoras de espumantes de Portugal. Com o passar do tempo, as criações tintas ganharam espaço.

Muito por conta do que os produtores têm feito com a Baga, casta autóctone da região. O grande responsável pelo fortalecimento internacional da região é o engenheiro Luís Pato. Conhecido como o Mr. Baga, Pato tem um trabalho minucioso sobre as uvas, tudo para conseguir um vinho autêntico com o mínimo de interferência externa. A uva Baga, uma das principais uvas nativas de Portugal, é capaz de oferecer enorme complexidade aos rótulos que compõe.

Demonstrando muita classe e estrutura, a variedade da casta de tintos é única no seu valor e possui um fantástico potencial de envelhecimento, que atua com o vinho na garrafa durante anos após sua fabricação. Além de refinados e inimitáveis, os vinhos produzidos com esta variedade de uva apresentam muita personalidade e distinção. No passado, a Baga era conhecida por ser empregada na produção de vinhos rústicos, excessivamente ácidos e tânicos e de pouca concentração. Porém, após a chegada do genial Luís Pato, conhecido como o “revolucionário da Bairrada” e maior expoente desta variedade, a casta da uva Baga foi “domesticada”.

A localização da DOC Bairrada e suas características de clima e solo fazem dela uma região única. Paralelamente, o plantio das vinhas é feito em lotes descontínuos de pequenas proporções e faz divisa com outras culturas e outros usos de solo. Com isso, seus vinhos são de terroir, ou seja, o local onde a uva é plantada influencia diretamente em suas particularidades. Delimitada a Sul, pelo rio Mondego, a Norte pelo rio Vouga, a Leste pelo oceano Atlântico e a Oeste pelas serras do Buçaco e Caramulo, a região é composta por planalto de baixa altitude.

O solo é predominantemente argilo-calcário, mas há algumas poucas regiões com solos arenosos e de aluvião. O clima é mediterrânico moderado pelo Atlântico. A região recebe forte influência marítima do oceano Atlântico. Os invernos são frescos, longos e chuvosos e os verões são quentes, suavizados pela presença de ventos frequentes nas regiões junto ao mar. A área se beneficia de grande amplitude térmica na época do amadurecimento das uvas. A variação que pode chegar aos 20ºC de diferença entre o dia e a noite.

Mapa geológico da Bairrada

Decreto-Lei n.º 70/91 estabeleceu as castas autorizadas e recomendadas para produção de vinhos na DOC Bairrada. A lei descreve as diretrizes para elaboração dos vinhos tintos, rosés, brancos e espumantes. Para a produção de tintos e rosés com o selo DOC Bairrada, as castas recomendadas são Baga (ou Tinta Poeirinha), Castelão, Moreto e Tinta-Pinheira. No conjunto ou separadamente, deverão representar 80% do vinhedo, não podendo a casta Baga representar menos de 50%. As castas autorizadas são Água-Santa, Alfrocheiro, Bastardo, Jaen, Preto-Mortágua e Trincadeira.

Para os vinhos brancos as castas recomendadas são Maria-Gomes (também conhecida como Fernão Pires), Arinto, Bical, Cercial e Rabo-de-Ovelha, no conjunto ou separadamente com um mínimo de 80% do encepamento: e as autorizadas são Cercialinho e Chardonnay. O vinho base para espumantes naturais devem ser elaborados através das castas recomendadas Arinto, Baga, Bical, Cercial, Maria-Gomes e Rabo-de-Ovelha; ou das autorizadas Água-Santa, Alfrocheiro-Preto, Bastardo, Castelão, Cercialinho, Chardonnay, Jean, Moreto, Preto-Mortágua, Tinta-Pinheira e Trincadeira.

Em 2012 foi publicada a Portaria n.º 380/2012, que atualiza a lista de castas permitidas para elaboração dos vinhos DOC Bairrada.  Foi incluída recentemente uma autorização para o cultivo das castas internacionais Cabernet Sauvignon, Syrah, Merlot, Petit Verdot e Pinot Noir e das portuguesas Touriga Nacional, Castelão, Rufete, Camarate, Tinta Barroca, Tinto Cão e Touriga Franca. Vinhos elaborados com castas que não estejam relacionadas no Decreto-Lei, não podem receber o selo de DOC Bairrada e são rotulados com o selo Vinho Regional Beira Atlântico.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um rubi com alguma intensidade, mas mostram halos bem definidos de cor granada, talvez denotando os seus oito anos de garrafa. Tem lágrimas finas, lentas e em profusão que desenham as bordas do copo.

No nariz embora traga aromas discretos, predominam as notas de frutas vermelhas maduras, como ameixa, amoras, frutas em compota, diria uma geleia de frutas, com nuances da madeira, graças aos nove meses em barricas de carvalho, que entrega baunilha, leve tostado, toque herbáceo, de terra molhada, couro, tabaco, traços rústicos, e um pouco alcoólico.

Na boca tem médio corpo, complexo, de notório volume de boca, cheio, volumoso, mas macio e elegante e apresenta, como no nariz, alguma rusticidade. As notas frutadas protagonizam, como no aspecto olfativo, bem como as notas amadeiradas e o seu aporte, como as especiarias doces, que traz uma sensação de dulçor, a baunilha, o chocolate, tem álcool presente, mas bem integrado, com taninos presentes, porém domados, redondos, além de uma surpreendente acidez apesar dos oito anos de vida. Tem um final cheio, frutado e persistente.

A experiência, mais uma vez, foi incrível! A Baga de fato traz personalidade! Essa é a palavra! E o vinho está no auge, no ápice com os seus sete anos de vida. A plenitude de uma casta retratada com as suas mais fiéis características e mesmo com a sua domesticação, se mostrou rústica, corpo médio, estrutura marcante, mas macio, elegante como bom vinho de oito anos de vida. Que a Baga se revele para todos dignos dela! Que a Baga se revele para mim sempre que eu merecer! O seu apelo regional merece o mundo! Tem 13,5% de teor alcoólico.

Curiosidades sobre o nome do rótulo do vinho: Conde de Cantanhede

A D. Pedro Meneses, 5º Senhor de Cantanhede, foi atribuído o título de 1º Conde de Cantanhede, como recompensa pela sua participação na Batalha do Toro em 1476, ao lado de D. Afonso V e o futuro D. João II.

A cidade de Cantanhede recebeu o foral de D. Manuel I, Rei de Portugal, em 1514. Naquela altura o Rei deu à família Meneses o total controle da região. Foi notório o contributo dos Meneses para o desenvolvimento da região, promovendo a agricultura, incluindo a viticultura, para o que, desde sempre foi reconhecido grande potencial nestas terras.

O porquê da Adega de Cantanhede usar esse nome no rótulo?

Empenhada em prestar homenagem à digna linhagem dos Condes de Cantanhede e ao seu importante papel na região e na história de Portugal, a Adega de Cantanhede obteve a necessária autorização dos seus descendentes para lançar esta marca, que comporta um vasto portfólio com vinhos e espumantes de qualidade.

Sobre a Adega de Cantanhede:                   

Fundada em 1954 por um conjunto de 100 viticultores, a Adega de Cantanhede conta hoje com 500 viticultores associados ativos e uma produção anual de 6 a 7 milhões de quilos de uva, constituindo-se como o principal produtor da Região Demarcada da Bairrada, representando cerca de 40% da produção global da região. Hoje certifica cerca de 80% da sua produção, sendo líder destacado nas vendas de vinhos DOC Bairrada DOC e Beira Atlântico IGP.

Reconhecendo a enorme competitividade existente no mercado nacional e internacional, a evolução qualitativa dos seus vinhos é o resultado da mais moderna tecnologia, com foco na qualidade e segurança alimentar (Adega Certificada pela norma ISO 9001:2015, e mais recentemente pela IFS Food 6.1.), mas também da promoção das castas Portuguesas, que sempre guiou a sua estratégia, particularmente das variedades tradicionais da Bairrada – Baga, Bical e Maria Gomes – mas também de outras castas portuguesas que encontram na Bairrada um Terroir de eleição, como sejam a Touriga Nacional, Aragonez e Arinto, pois acredita que no inequívoco potencial de diferenciação e singularidade que este património confere aos seus vinhos.

O seu portfólio inclui uma ampla gama de produtos. Em tinto, branco e rose os seus vinhos vão desde os vinhos de mesa até vinhos Premium a que acresce uma vasta gama de espumantes produzidos exclusivamente pelo Método Clássico, bem como Aguardentes e Vinhos Fortificados. É um portfólio que, graças à sua diversidade e versatilidade, é capaz de atender a diferentes segmentos de mercado, com diferentes graus de exigência em qualidade, que resulta na presença dos seus produtos em mais de 20 mercados.

A sua notoriedade enquanto produtor, bem como dos seus vinhos e das suas marcas, vem sendo confirmada e sustentadamente reforçada pelos prémios que vem acumulando no seu palmarés, o que resulta em mais de 750 distinções atribuídas nos mais prestigiados concursos nacionais e internacionais, com destaque para Mundus Vini – Alemanha, Concours Mondial de Bruxelles, Selections Mondiales du Vins - Canada, Effervescents du Monde – França, Berliner Wein Trophy – Alemanha e Japan Wine Challenge, sendo por diversas ocasiões o único produtor da Bairrada com vinhos premiados nesses concursos e, por isso, hoje um dos mais galardoados produtores da região. Em 2015 integrou o TOP 100 dos Melhores Produtores Mundiais, pela WAWWJ – Associação Mundial dos Jornalistas e Críticos de Vinho e Bebidas Espirituosas. Nos últimos 8 anos foi eleita “Melhor Adega Cooperativa” em Portugal por 3 vezes pela imprensa especializada.

Mais informações acesse:

https://www.cantanhede.com/

Referências:

“Divinho”: https://www.divinho.com.br/uva/baga/

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/baga

“Vinci”: https://www.vinci.com.br/c/tipo-de-uva/baga

“Soulwines”: https://www.soulwines.com.br/uvas-de-vinhos/baga

“IVV”: https://www.ivv.gov.pt/np4/503/

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/regiao/bairrada

“Reserva85”: https://reserva85.com.br/vinho/indicacao-geografica-ig-denominacao-de-origem-do/regioes-demarcadas-de-portugal/bairrada/









 


sábado, 18 de março de 2023

Esteban Martín 12M Garnacha e Cabernet Sauvignon 2017

 

Sempre tem algo novo a ser apresentado no universo dos vinhos! E não é a toa que costumo chamar de “universo”, porque é vasto e ainda há muito a ser explorado. Os vinhos espanhóis estão na minha vida enófila há anos, claro que, em alguns momentos, menos e outros mais.

Digo isso porque por mais que eu degustasse, em um passado razoavelmente distante, poucos rótulos espanhóis, eu já tive contato com um espanhol em algum momento de nossa trajetória, de nossa caminhada. Também não é para menos, um país como o Brasil, que exporta muitos vinhos portugueses, italianos, argentinos, chilenos e espanhóis, torna-se inevitável ter contatos com rótulos desses países. Sem contar que a Espanha conta com um vasto número de hectares de terras que produzem vinho no planeta!

Atualmente a Espanha, com os seus vinhos, está mais presente em minhas taças e pretensões de compra. Descobri novos rótulos, novas propostas de vinhos que estou avidamente a desbravar e, consequentemente, novas regiões, castas e terroirs descortinam diante de nossos olhos.

Claro que “forçamos” esse fenômeno porque, pelo menos para mim, tenho buscado novas propostas e regiões que não centralize apenas nas já famosas e consagradas Rioja e Ribera del Duero, por exemplo. A Espanha tem muito a oferecer.

E hoje mais uma região figurará em minha taça, mais uma novidade colore o meu dia, de mais uma especial e singular degustação: Cariñena. E não só uma nova região aparece para mim, mas novas perspectivas de degustação se apresenta, com castas, blends ousados, arrojados que prometem impor complexidade às experiências sensoriais.

E as novidades não param por aí! Temos também uma nova experiência com um produtor que, quando escolhi o vinho, fiz questão, como de costume, fazer algumas pesquisas acerca da vinícola que descobri ser jovem, mas que já goza de alguma notoriedade, de alguma credibilidade e isso é um fator preponderante para a degustação de grandes rótulos.

E quando chegou a hora de degusta-lo o prazer, a grata surpresa também se revelou de forma avassaladora. Então para não perder tempo vamos às apresentações! O vinho que degustei e gostei veio da região de Cariñena, na Espanha e se chama Esteban Martin, composto pelas castas Garnacha e Cabernet Sauvignon da safra 2017. E para não perder o costume, vamos apresentar também Cariñena.

Cariñena

Cariñena está situada no centro do Vale do Ebro, em uma das regiões vitivinícolas históricas da Espanha. Tem uma superfície de produção de aproximadamente 15.000 hectares, divididas entre os povoados de Aguarón, Aladrén, Alfamén, Almonacid de la Sierra, Alpartir, Cariñena, Cosuenda, Encinacorba, Longares, Mezalocha, Muel, Paniza, Tosos e Villanueva de Huerva.

Quando sai de Zaragoza a paisagem muda, torna-se ocre e cinza. Tudo parece seco, deserto. Barras de pedra, seixos, o mineral reina supremo, nada mais cresce, exceto alguns arbustos ao longo dos rios secos. Então, a poucas léguas da aldeia de Cariñena, a vinha emerge deste inesperado local. A entrada é feita na denominação homônima, o DO Cariñena.

Como o próprio nome sugere o DO produz Carignan, mas em pequenas quantidades; essa longa variedade hegemônica já representa apenas 4% da produção. Mas a denominação está tentando atualizá-la, refazer sua casta de identidade. E a parceira histórica da Garnacha, que tem resistido à chegada das castas internacionais.

Pode-se pensar que neste clima extremo, apenas suavizado pelo Ebro e algumas influências mediterrânicas, com os seus invernos frios, por vezes gélidos, e os seus verões tórridos, nada cresce. Perguntar-se como a vinha resiste e dá vinhos longe de serem pesados, nem carregados de álcool, nem de taninos rústicos. Muito pelo contrário, a Garnacha, como o Carignan, oferecem aqui uvas maduras, certamente, mas que mantiveram o frutado e a acidez.

Os vinhos resultantes apresentam o mesmo desenho, alguns quase arejados, oferecendo uma multiplicidade de notas de fruta e flores onde se reconhecem cereja, pêssego de vinha, abrunho perfumado com pétalas de rosa mosqueta realçadas ainda por pimenta, com um frescor surpreendente.

Outros, mais terrosos, aumentam a carga tânica sem perder a elegância, mas com esse caráter um pouco mais rígido que se aprecia durante as refeições. Como os primeiros, eles geralmente anunciam a fruta do nariz, preferindo morangos, cerejas bigarreau, groselhas que trituram sob o dente, inundando as papilas gustativas de suco, encantadas com tanta generosidade.

Mais encorpados, por vezes mais fechados, precisam então de uma passagem em garrafa para apreciar a subtileza dos seus impulsos florais, amendoeiras em flor, rosas velhas, camomila, sublinhadas com alcaçuz e pimenta.

Terroir

O terroir conta com as extensões pedregosas onipresentes, tanto que se fala de “El Vino de las Piedras”, o “Vinho das Pedras”. A paisagem denuncia. O DO também o torna um objeto de comunicação.

Mas o que há sob esta extensão de cascalho que permite que a videira cresça? Composta quase essencialmente por calcário, exceto o sul onde existe um pouco de ardósia e argilas duras, o solo parece mais pobre e seco. Mas, sob essas pedras planas e angulares, sob esses escombros de rochas provenientes das colinas circundantes, escondem-se argilas nutritivas.

As raízes afundam facilmente neste solo solto e exploram todos os cantos em busca de nutrientes e água, a argila oferece excelente retenção de água e é um notável reservatório de alimentos. Este é certamente um dos segredos do Vin des Pierres.

História

Não se sabe ao certo quando a Carignan e a Garnacha foram introduzidos em Aragão. Talvez os celtiberos tenham tido algum contato com os fenícios que fundaram povoações e feitorias e plantaram vinhas desde o século VII a.C . No entanto, sabe-se que os romanos desenvolveram a viticultura em sua província de Tarraconensis, que incluía a atual Aragão, uma de cujas cidades eram Caesaraugusta, atual Zaragoza.

A pequena cidade de Cariñena chamava-se então Carae e o vinho regou a região desde o século 3 d.C. O clero assumiu, como em todos os outros lugares. Mas o vinho da região também era apreciado pela realeza: Fernando I de Aragão bebeu-o no século XV. Tudo isso para afirmar que a mágica dupla Carignan/Garnacha há muito se adaptou ao terroir particular da denominação Cariñena e continua se adaptando às variações climáticas.

A produção

São as caves cooperativas que assumem a maior parte da produção, ou seja, 90% do volume. Os 10% fornecidos pelas caves privadas, muitas vezes familiares, oferecem vinhos talvez mais originais, de forma a diferenciarem-se dos grandes volumes.

No entanto, encontram-se sim adegas cooperativas de muita qualidade. Alguns de seus cuvées não precisam empalidecer diante das pequenas produções “costuradas à mão”. As cooperativas entenderam o que tirar do terroir e de sua dupla preferida.

DO

A DO Cariñena é a mais antiga denominação aragonesa. Existe desde 1932. Situa-se no Vale do Ebro, estende-se por 14.000 ha distribuídos por 14 municípios e emprega nada menos que 1.500 viticultores, a maioria dos quais abastecem as cooperativas. 32 bodegas produzem vinho lá, mas apenas 21 o engarrafam. E se a Garnacha e a Carignan oferecem uma boa gama de vinhos desde os brancos secos aos tintos profundos, passando pelos rosés, licorosos e espumantes muitas vezes elaborados a partir da Garnacha vinificada em branco (que pode adoptar o nome de Cava), a DO Cariñena também permite outras castas variedades.

Para os tintos, Cabernet Sauvignon, Juan Ibáñez, Merlot, Monastrell, Syrah, Tempranillo e Vidadillo. Para os brancos: Macabeu, Chardonnay, Grenache blanc, Muscat d'Alexandrie e Parellada.

Mas essa terra de Garnachas e Carignans soube adaptar-se criteriosamente as novas tendências. Assim como aproveitar suas excelentes condições para o cultivo de variedades tão internacionais quanto a Syrah, a Cabernet Sauvignon ou Chardonnay entre outras. Constituída em 1932, Cariñena é a Denominação de Origem mais antiga de Aragón. E uma das mais antigas da Espanha, junto com as de La Rioja e Jerez. Junto com a criação da Denominação de Origem, em 1932, inaugurou-se a Estação Enológica da Cariñena, de onde se impulsionaram novas técnicas de cultivo e elaboração.

Porém, a Guerra Civil espanhola e suas consequências atrasaram a guinada da qualidade até os anos 1970, pouco depois dos vinhos começarem a ser engarrafados. Mas foi realmente nos anos 1980 quando aconteceu o grande salto qualitativo na elaboração dos vinhos da região com a introdução de novos sistemas de cultivo, investimento em tecnologia e a adoção de novas práticas enológicas.

Novos tempos

A Denominação de Origem Cariñena comemorou seu 90º aniversário em 2022, apresentando uma nova imagem que unifica o nome da entidade e seu famoso lema El Vino de las Piedras, com a letra eñe e a cor verde como principais elementos de identificação.

O novo logótipo foi apresentado em um evento especial realizado em Madrid, que também reconheceu a grande relação com a República Federal da Alemanha, com a atribuição do Prémio especial 90º Aniversário a este país, o principal importador durante os últimos 25 anos, com uma média anual de 8,2 milhões de garrafas.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta uma cor rubi intenso, mas não é escura, trazendo bordas violáceas, com lágrimas grossas, lentas e em profusão entregando, denunciando o seu alto teor alcoólico.

No nariz muita complexidade com aromas plenos e vívidos de frutas pretas maduras, como cereja preta, ameixa, amora, além de frutas do bosque, como mirtilo, por exemplo, bem como as notas amadeiradas bem evidentes, mas muito bem integradas e que entrega tabaco, couro, especiarias, estrebaria, baunilha e discreto chocolate.

Na boca é seco, macio, elegante, mas, por outro lado, se revela robusto, graças a sua untuosidade, um bom volume, cheio e alcoólico, mas que não agride, tornando-se um vinho equilibrado. As frutas e a madeira ganham protagonismo, como no aspecto olfativo, em plena convergência, e entregam sabor, frescor, os toques de tabaco, couro, baunilha, mentolado, chocolate e uma discreta torrefação. Têm taninos domados, acidez baixa para média e um final de média persistência.

Sobre a Bodega Esteban Martin:

A empreendedora família Esteban Martín sempre teve uma estreita relação com o campo, com a agricultura e com a pecuária. De fato, as andanças começaram em 1964 com a fundação da Granja Virgen del Rosario, que hoje em dia é uma das principais empresas avícolas de Espanha. Atualmente, o Grupo Esteban Martín, cuja totalidade das participações pertence à família Esteban Martín, possui para além da quinta, a adega e uma empresa de transporte.

Em 1985, Miguel Antonio Esteban, decidiu comprar 150 hectares de vinhas nas melhores terras da DOP Cariñena. Ano após ano foi adquirindo novos terrenos e, em 2003, decidiu construir a própria adega. Hoje conta com cerca de 400 hectares de vinha, assim como instalações e tecnologia de ponta, tudo isto sem esquecer as tradições, o saber-fazer e a responsabilidade.

As três gerações da família estão envolvidas no trabalho quotidiano, onde os principais valores são a qualidade, a excelência e a inovação, a sustentabilidade ambiental e a paixão pelo produto e pela terra.

Mais informações acesse:

https://www.estebanmartin.com/?lang=pt-pt

Referências:

“I Gastro Aragón”: https://www.igastroaragon.com/2022/12/la-dop-carinena-premia-a-alemania-y-estrena-nueva-imagen.html

“Les 5 du vin”: https://les5duvin.wordpress.com/2018/06/29/carinena-en-aragon-terre-promise-du-carignan/

“Revista Sociedade da Mesa”: https://revista.sociedadedamesa.com.br/2014/08/carinena-terra-de-garnachas/

 

 

 

 

 





 








quarta-feira, 15 de março de 2023

Canceddi Vermentino 2019

 

Mais um vinho da série: castas novas para mim! Como é bom ter centenas e centenas de castas que ainda não degustamos catalogadas e à disposição para todos os enófilos que decide, claro, garimpar, buscar novas experiências, novas sensações.

E essa casta de hoje, tipicamente italiana, eu já conhecia, porém nunca tinha tido a oportunidade de comprar, de degustar e um dos motivos, é claro, era o valor. Alguns “exemplares” são muito caros, talvez pela baixa oferta de alguns rótulos em nosso mercado de vinhos, um tanto quanto “escravizado” pelas castas de sempre.

Mas ela é muito popular na Itália, sobretudo no noroeste deste país, bem amplamente cultivada em algumas regiões vinícolas ao redor do Mediterrâneo, sul da França e nas ilhas vizinhas de Sardenha e Córsega.

Não precisamos dizer que ela deve trazer algo de “solar”, um frescor, leveza, mas que certamente goza de alguma personalidade. Falo da Vermentino. Não precisa dizer do quão animado e ansioso para degusta-la!

E o rótulo de hoje teve um estímulo extra para a compra. Não foi apenas pelo fato de ser de uma casta que nunca degustei, o que já é bem relevante, mas também por ter degustado um vinho de outra casta que, até então, era nova para mim: a Grilo, igualmente típica da Itália, de regiões igualmente quentes.

Quando eu degustei o Canceddi Grillo da safra 2019 e vi o vinho, do mesmo produtor e da mesma linha de rótulos, da casta Vermentino, não hesitei muito e decidi compra-lo, sem contar também que o valor estava deveras atraente.

Então sem mais delongas vamos às apresentações que já foram feitas, basicamente. O vinho que degustei e gostei veio da ótima e querida região da Sicília, no sul da Itália, e se chama Canceddi Vermentino da safra 2019. E para variar vamos de história, vamos de Sicília e da cepa Vermentino. 

Sicília

A Sicília é a maior ilha do Mediterrâneo. É uma ilha vulcânica repleta de praias lindas, paisagens espetaculares e uma arquitetura interessante. Fruto da mistura de civilizações que habitaram a ilha e da cálida hospitalidade de seu povo. A Passagem de diversos povos através durante séculos, a Sicília tornou-se um entreposto importante no Mediterrâneo. É um destino desejado para todo viajante. Mas a Sicília não é apenas conhecida pela exuberante natureza, mas também se destaca quando o assunto é vinho. E isso teve influências na sua cultura e, claro, no seu vinho.


Foram os fenícios que iniciaram o cultivo da videira e a elaboração do vinho na Sicilia, porém foram os gregos que introduziram as cepas de melhor qualidade. Alguns historiadores relatam que antigamente na região de Siracusa (província siciliana), havia um vinho chamado Pollios, em homenagem a Pollis de Agro (que foi um ditador nessa região), que se tornou famoso na Sicilia no século VIII-VII a.C.. 

Esse vinho era um varietal de Byblia, uva originária da área mais oriental do Mediterrâneo, dos montes de Biblini na Trácia (antiga região macedônica que hoje é dividida entre a Grécia, Turquia e Bulgária). O historiador Saverio Landolina Nava (1743-1814) relatou que o Moscato de Siracusa deriva desse vinho de Biblini, sendo classificado como o vinho mais antigo da Itália.

Já o vinho doce Malvasia delle Lipari (Denominação de Origem do norte da Sicilia) parece ter sua origem na época da colonização grega na Sicilia. Lipari é uma cidade que pertence ao arquipélago das ilhas Eólicas.

Durante o Império Romano, o também vinho doce Mamertino (outra Denominação de Origem) produzido no norte da Sicilia, era muito apreciado por muitos, inclusive por Júlio César e era exportado para Roma e África.

A viticultura na região sofreu uma grande redução com a queda do Império Romano, porém durante a dominação árabe foi introduzida a variedade de uva Moscatel de Alexandria na ilha Pantelleria, que mantém ainda hoje ali o nome árabe Zibibbo. Os árabes introduziram na Sicília suas técnicas de viticultura e também o processo de passificação das uvas.

No século XVIII a indústria enológica na Sicilia teve um grande avanço e começou a produzir o vinho de Marsala que conta atualmente com uma Denominação de Origem Protegida. Esse vinho se tornou conhecidíssimo no resto da Europa graças a um navegante e comerciante inglês chamado John Woodhouse, que ancorou sua embarcação no porto de Marsala para se proteger de uma tempestade. Foi quando provou o vinho local e se apaixonou, resolvendo levar alguns barris para a Inglaterra. O vinho de Marsala fez tanto sucesso por lá que Woodhouse começou a investir na Sicilia comprando vinhedos e construindo vinícolas para produzir vinho de Marsala, se tornando um empresário do setor vitivinícola de grande êxito.

Como na maioria dos vinhedos da Europa, a Phylloxera também atingiu a ilha Salinas, no norte da Sicilia, provocando uma devastação dos vinhedos que foram se recuperando gradativamente com a plantação de novos vinhedos e a criação em 1973 da Denominação de Origem Malvasia delle Lipari.

A região possui um clima e um solo que favorecem muito a viticultura e a elaboração de vinhos, sendo uma das principais atividades econômicas da ilha italiana. A topografia é variada, formada por colinas, montanhas, planícies e o majestoso vulcão Etna. Encontramos vinhedos por toda parte, que vão das colinas até a parte costeira.

Nas colinas os vinhedos são cultivados em terrazas que chegam inclusive a uma altitude de 1.300 metros, o que as videiras adoram, pois proporciona muita luminosidade e uma ótima drenagem. Encontramos vinhedos também na parte costeira da ilha.

O clima na Sicília é mediterrâneo, mais quente na área mais costeira e no interior da ilha é temperado e úmido, podendo ás vezes apresentar temperaturas bem elevadas por influência de ventos procedentes da África. Também possui uma quantidade grande de microclimas por causa da influência do mar. As chuvas são mais comuns durante o inverno com cerca de 600mm anuais. Os vinhedos sicilianos necessitam, portanto, serem regados.

O solo na ilha é muito variado e rico em nutrientes em razão das erupções vulcânicas do Etna. Encontramos solos arenosos, argilosos e de composição calcária. Em uma parte da ilha o solo é constituído de gneiss, que é um tipo de rocha metamórfica composta de granito. Em quase todas as localidades da Sicília se elaboram vinhos, e essas regiões vitivinícolas contam com várias DOC.

As principais castas tintas produzidas na Sicília são: Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, Syrah, Nerello Mascalese, Nerello Capuccio, Frappato, Sangiovese, Nero d’Avola e Pinot Nero. Já as brancas destacam-se: Grillo, Catarrato, Carricante, Inzolia, Moscato di Panteleria, Grecanico, Trebbiano Toscano, Malvasia, Chardonnay e Sauvignon Blanc.

Vermentino

A Vermentino é uma uva branca amplamente cultivada em diversas regiões vinícolas ao redor do Mediterrâneo, como no noroeste da Itália, sul da França e nas ilhas vizinhas de Sardenha e Córsega. A Vermentino é conhecida por diversos nomes, tais como Pigato, Favorita, Malvoisie de Corse e Rolle.

Não há consenso sobre a origem da Vermentino. De um lado, há quem acredite que ela seja originária do noroeste da Itália, possivelmente da Liguria, muito usada na elaboração dos vinhos brancos conhecidos como “Colli di Luni”, ou mesmo do Piemonte, onde é conhecida como Favorita. Por outro lado, há quem aposte que ela seja originária da Espanha, tendo chegado à Córsega na época em que a região era controlada pela Coroa espanhola.

Já em Bolgheri, região próxima a Toscana, a Vermentino produz alguns dos melhores e mais ricos vinhos italianos. Graças ao clima da Toscana, quente e com alta incidência solar, e às modernas técnicas de vinificação, essa variedade de uva dá origem a vinhos cuja complexidade aromática pode ser comparada aos elaborados com a casta Viognier.

Em outra região da Itália, na Sardenha, a uva Vermentino tornou-se ícone na produção de bons vinhos brancos. Na área, a variedade possui sua própria denominação regional, o Vermentino di Sardegna, e é utilizada na elaboração de um dos melhores vinhos italianos, o Vermentino di Gallura.

No sul da França, conhecida tradicionalmente como Rolle, a uva Vermentino foi autorizada na produção de vinhos AOC apenas nos últimos 20 anos. Anteriormente, a variedade era restrita na elaboração do Vin de Pays – IGP, em especial, os vinhos brancos Bellet, produzidos com, no mínimo, 60% da Vermentino.

Pequenos produtores nos Estados Unidos começaram a produzir vinhos Vermentino, em especial, na Califórnia. Entretanto, a variedade ainda não atingiu a popularidade desfrutada pela uva Chardonnay, Sauvignon Blanc e Pinot Grigio. O enorme prestígio das três variedades de uvas tem desempenhado um papel fundamental na crescente popularidade da casta Vermentino na Austrália, onde inúmeras adegas têm oferecido seus vinhos como uma alternativa refrescante para o dia a dia.

De forma geral, os vinhos produzidos com a Vermentino são bastante variados. Há os delicados e frescos, mas também os estruturados e potentes. Os aromas mais comuns são de pera, maçã, flores brancas, amêndoas, hortelã, erva-doce e tomilho. Aromas e sabores minerais aparecem frequentemente. Em boca, um leve amargor no final é característica marcante da casta.

Segundo dados da OIV, a área plantada de Vermentino ao redor do mundo, em 2015, era de 11.155 hectares. A grande maioria destes vinhedos (cerca de 98% da área plantada) situava-se na Itália e França. Na Itália eram 5.625 hectares (50,4%), enquanto a França contava então com 5.378 hectares (48,2%). Porém, por conta do acelerado crescimento dos vinhedos na França nos últimos cinco anos, sobretudo no Languedoc-Roussillon, a Itália deve perder a liderança quando da divulgação de estatísticas mais recentes. Na França existam cerca de 2.800 hectares de vinhedos de Vermentino em 1998, área que passou para mais de 6.300 hectares em 2018.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um lindo e reluzente amarelo ouro, um pouco mais para o claro, com discretas e rápidas lágrimas finas.

No nariz traz a sutileza e delicadeza do frescor e leveza, com aromas de frutas de polpa branca e cítricas com destaque para a maçã verde, abacaxi, pera, maracujá, com um toque floral agradável, como se estivéssemos a caminhar em um campo com flores brancas, além do herbáceo evidente, bem como a salinidade, a mineralidade.

Na boca é leve, fresco, refrescante, mas que goza de alguma personalidade, graças a uma intrigante untuosidade que o torna saboroso e volumoso no palato. Protagoniza, como no aspecto olfativo, as notas frutadas, cítricas e de polpa branca e também a salinidade, a mineralidade, com uma acidez instigante, média, que saliva, com um azedo gostoso, típico da casta e um final persistente.

É um prazer que não se cessa quando se degusta, pela primeira vez, vinhos cujas castas ou regiões não conhecia. E degustar uma casta pouquíssima conhecida em nossas terras, embora goze de popularidade em terras italianas, considero esse momento especial. Um vinho simples, com uma proposta direta, mas singular no seu momento em que envolve tantas gratas novidades. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Mandrarossa:

Criada em 1999 graças a um estudo que durou mais de 20 anos, que levou à seleção das melhores combinações variedade/terroir: os habitats ideais que permitem a cada casta expressar plenamente o seu potencial.

Depois de fundar a Marca, fruto de anos de estudos de mapeamento de solos, a pesquisa continuou a ser o fio condutor dos vinhos sicilianos inovadores. No território de Menfi, onde é criada a Mandrarossa, o comportamento de outras variedades foi monitorado em 5 campos experimentais. Intensas atividades de microvinificação foram realizadas levando à introdução de novos vinhos na linha de produtos ao longo do tempo, alguns dos quais únicos para o panorama siciliano.

A ambição de Mandrarossa é grande e, a partir de 2014, uma equipa internacional de enólogos, agrônomos e especialistas em terroir, lançou um importante estudo científico sobre os solos calcários, levando à produção de dois vinhos Contrada.

Sobre a Vinícola Settesoli:                                         

Cantine Settesoli é uma grande cooperativa vinícola siciliana que exporta um grande volume de vinhos de valor sob as classificações Sicilia DOC bem como Terre Siciliane IGT.

A empresa foi fundada em Menfi em 1958 por um grupo de agricultores no momento em que eclodia uma crise econômica na região. Settesoli agora tem mais de 2.000 viticultores membros, com vinhedos totalizando então cerca de 6.500 hectares.

A empresa inicialmente vendia apenas a granel, mas começou a engarrafar seus próprios vinhos em 1974. Settisoli começou a se concentrar em variedades locais como Grecanico, Inzolia e Nero d’Avola, e em seguida, em meados da década de 1980, começaram a plantar variedades importadas como Cabernet Sauvignon, Syrah, Sauvignon Blanc e Chardonnay.

Settesoli é a linha principal de vinhos varietais, enquanto o rótulo Mandrarossa é a camada superior. Inycon é, de fato, a marca exclusiva para exportação da empresa, lançada em 1999.

Mais informações acesse:

https://www.mandrarossa.it/en

https://www.cantinesettesoli.it/

Referências:

“Revista Sociedade de Mesa”: https://revista.sociedadedamesa.com.br/2016/04/sicilia/

“Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/290-sicilia-o-continente-do-vinho

“Vinhos e Castelos”: https://vinhosecastelos.com/vinhos-da-sicilia-italia/

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/vermentino

“Revista Sociedade de Mesa”: https://revista.sociedadedamesa.com.br/2022/02/uva-vermentino/

“Wine”: https://www.wine.com.br/winepedia/sommelier-wine/serie-uvas-vermentino/

“Wine Fun”: https://winefun.com.br/vermentino-conheca-uma-das-uvas-que-mais-vem-ganhando-espaco-na-europa/

 

 








sábado, 11 de março de 2023

Parole di Famiglia Tannat 2015

 

Me pego refletindo se ter essa preocupação de regiões, terroirs, de safras, de potencial de guarda, de países é válido, haja vista que teríamos que apenas nos permitir degustar. Mas até para a simples manifestação da degustação, para se ter o prazer ou a qualidade nesse simplório momento, vejo como necessário ter o mínimo entendimento desses, digamos, quesitos.

Quesitos esses que também podem formatar a nossa identificação com os vinhos que degustamos, isso, creio, seja o mais relevante. Até porque o aprendizado, o caminho a ser percorrido na estrada do vinho, passa por isso também.

Claro que tais entendimentos não precisam ser tão aprofundados, não há a necessidade de sermos catedráticos nesses assuntos, claro que se for de desejo o estudo pode ser vislumbrado, mas o mínimo pode ser entendido ou absorvido para melhorar, ainda mais, na qualidade do que inunda as nossas taças.

De algum tempo para cá tenho me enamorado, cada vez mais, pelos Tannats brasileiros! Claro que a referência da casta que temos é a uruguaia, com os seus parrudos rótulos, dada a devida proposta de vinho, claro, mas assim são conhecidos: vinhos austeros, intensos, marcantes e complexos.

O que percebo, observo a cada experiência sensorial dos nossos Tannats é a fruta protagonizando, em sinergia com a madeira, com vinhos mais saborosos, intensos também, mas não tão parrudos, encorpados como os tradicionais uruguaios.

diferença, as especificidades de cada um, de cada terroir. Uma não supera a outra, a diferença, repito, é a grande maravilha do vasto e ainda inexplorado universo do vinho e é por isso que ele é encantador. E isso é fomentado pela busca do conhecimento.

E uma região brasileira vem despontando, além da tipicidade, como também na expertise no cultivo e produção da Tannat, é a Campanha Gaúcha. A campanha sempre foi o “patinho feio” da gigante vizinha Serra Gaúcha, ficando sempre no esquecimento.

Porém hoje a Campanha se tornou ou vem se tornando uma grata realidade, entregando tipicidade e se igualando, em qualidade atestada, na produção de grandes vinhos e a Tannat vem se destacando. E graças a Campanha os Tannats brasileiros invadiram a minha taça e adega e de lá teimam em sair.

E o vinho de hoje traz uma novidade: o produtor. Não o conhecia e achei a sua linha de rótulos com valores extremamente atrativas, nos provando, ainda que de forma escassa, de que podemos encontrar vinhos, com propostas mais “audaciosas”, ou seja, complexas, com preços verdadeiramente atraentes, embora isso tudo seja um tanto quanto subjetivo.

E ele já está a pelo menos 3 anos na adega, evoluindo e hoje, aos 8 anos de garrafa, me parece no auge, no ápice para uma boa e satisfatória degustação. E é chegada a hora da degustação! Sem mais delongas o vinho que degustei e gostei teve as uvas oriundas da Campanha Gaúcha e vinificado na Serra Gaúcha e se chama Parole di Famiglia, um 100% Tannat da safra 2015. E para não perder o costume, claro, vamos às histórias, vamos de Campanha Gaúcha.

Campanha Gaúcha

Entre o encontro de rios como Rio Ibicuí e o Rio Quaraí, forma-se o do Rio Uruguai, divisa entre o Brasil, Argentina e Uruguai. Parte da Campanha Gaúcha também recebe corpo hídrico subterrâneo, o Aquífero Guarani representa a segunda maior fonte de água doce subterrânea do planeta, dele estando 157.600 km2 no Rio grande do Sul.

A Campanha Gaúcha se espalha também pelo Uruguai e pela Argentina garante uma cumplicidade com os “hermanos” do outro lado do Rio Uruguai. Os costumes se assemelham e os elementos locais emprestam rusticidade original: o cabo de osso das facas, o couro nos tapetes, a tesoura de tosquia que ganha novas utilidades.

No verão, entre os meses de dezembro a fevereiro, os dias ficam com iluminação solar extensa, contendo praticamente 15 horas diárias de insolação, o que colabora para a rápida maturação das uvas e também ajuda a garantir uma elevada concentração de açúcar, fundamental para a produção de vinhos finos de alta qualidade, complexos e intensos.

As condições climáticas são melhores que as da Serra Gaúcha e tem-se avançado na produção de uvas europeias e vinhos de qualidade. Com o bom clima local, o investimento em tecnologia e a vontade das empresas, a região hoje já produz vinhos de grande qualidade que vêm surpreendendo a vinicultura brasileira.

A mais de 150 anos, antes mesmo da abolição da escravatura, a fronteira Oeste do Rio Grande do Sul já produzia vinhos de mesa que eram exportados para os países do Prata (Uruguai, Argentina e Paraguai) e vendidos no Brasil.

A primeira vinícola registrada do Brasil ficava na Campanha Gaúcha. Com paredes de barro e telhado de palha, fundada por José Marimon, a vinícola J. Marimon & Filhos iniciou o plantio de seus vinhedos em 1882, na Quinta do Seival, onde hoje fica o município de Candiota.

E o mais interessante é que, desde o início da elaboração de vinhos na região, os vinhos da Campanha Gaúcha comprovam sua qualidade recebendo medalha de ouro, conforme um artigo de fevereiro de 1923, do extinto jornal Correio do Sul de Bagé.

IP (Indicação de Procedência) da Campanha Gaúcha

Em 2020 a Campanha Gaúcha ganhou reconhecimento de Indicação de Procedência (IP) para seus vinhos. Aprovada pelo Inpi na modalidade de I.P., a designação vem sendo utilizado pelas vinícolas da região a partir do ano de 2020 para os vinhos finos, tranquilos e espumantes, em garrafa.

A Indicação Geográfica (IG) foi o resultado de mais de 5 anos de pesquisa, discussões e estudos de um grupo interdisciplinar coordenados pela Embrapa Uva e Vinhos do Rio Grande do Sul.

Além disso, os vinhos devem ser elaborados a partir das 36 variedades de vitis viníferas permitidas pelo regulamento, plantadas em sistema de condução em espaldeira e respeitando os limites máximos de produtividade por hectare e os padrões de qualidade das frutas que seguirão para a vinificação. Finalmente, os vinhos precisam ser avaliados e aprovados sensorialmente às cegas por uma comissão de especialistas.

Esta é uma delimitação localizada no bioma Pampa do estado do Rio Grande do Sul, região vitivinícola que começou a se fortalecer na década de 1980, ganhando novo impulso nos anos 2000, com o crescimento do número de produtores de uva e de vinho, expandindo a atividade para diversos municípios da região.

A área geográfica delimitada totaliza 44.365 km2. A IP abrange, em todo ou em parte, 14 municípios da região: Aceguá, Alegrete, Bagé, Barra do Quaraí, Candiota, Dom Pedrito, Hulha Negra, Itaqui, Lavras do Sul, Maçambará, Quaraí, Rosário do Sul, Santana do Livramento e Uruguaiana.

A Campanha Gaúcha está situada entre os paralelos 29º e 31º Sul e trata-se de uma zona ensolarada, com as temperaturas mais elevadas e o menor volume de chuvas entre as regiões produtoras do Sul do Brasil.

Ao mesmo tempo, as parreiras – predominantemente plantadas em sistema de espaldeira – foram estabelecidas em grandes extensões de planície (altitude entre 100 e 360 m.) com encostas de baixa declividade, o que favorece a mecanização das colheitas, reduz os custos e potencializa a escala produtiva. Uma característica importante é o solo basáltico e arenoso, com boa drenagem, que somada aos outros fatores propicia a ótima qualidade das uvas.

Esta foi uma conquista para a região, que pode refletir em uma garantia da qualidade de seus produtos. Fica a torcida para que, após muito tempo de consistência de qualidade e de uma real identificação da tipicidade, a Campanha Gaúcha possa ter o reconhecimento de uma Denominação de Origem (DO). Leia aqui na íntegra o regulamento de uso da IP da Campanha Gaúcha. 

A Campanha e o Tannat

A Campanha Gaúcha faz fronteira com o Uruguai e parte da Argentina. Tão grande é a região que foi dividida em duas. A Campanha oriental, na fronteira com a Argentina e a Campanha propriamente dita. Região das grandes fazendas, do gaúcho estilizado, aquele que é conhecido por “Centauro dos Pampas”.

Por falar em pampa esta é uma região pastoril de planícies com leves ondulações e possui, talvez o melhor pasto do mundo. Espalha-se por parte da Argentina e todo o Uruguai e certamente dali sai a melhor carne do mundo.

Mas além das pastagens únicas no mundo a Campanha tem um clima muito demarcado, pode-se até considerá-lo um clima continental. Muito frio no inverno e no verão muito sol e calor de dia, a noite refrescando nos locais mais altos. O solo, muitas vezes rochoso, são ideais para o plantio da uva.

E da uva para o vinho a Campanha vem produzindo e cultivando grandes cepas para a produção de vinhos e isso não é novidade para ninguém, sobretudo aos apreciadores da bebida que são informados e se interessam pelos detalhes que o circunda. Mas a que se destaca é a Tannat!

Convém destacar que a Campanha está no mesmo paralelo de grandes produtores mundiais de vinho como Mendoza, Santiago, Cidade do Cabo e Austrália. O que, dá indícios de boas condições de produção de vinhos de qualidade, por certo aliado a outros quesitos.

De gata borralheira na França, mais precisamente em Madiran, onde nasceu a Tannat, para atingir o status de rainha no Uruguai onde adaptou-se muito bem. O clima mais ensolarado e quente no verão em comparação com o de Canelones nos arrabaldes de Montevidéu colabora para um Tannat mais frutado e aromático. Menos rústico e rascante como é o tradicional desta casta bastante tânica em sua origem.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um rubi intenso, quase escuro, com halos acastanhados, discretamente atijolados, denotando os seus oito anos de garrafa ou pelo fato de ter passado por barricas de carvalho ou pelos dois motivos, com lágrimas finas, lentas e em abundância.

No nariz traz complexidade, porém é elegante e equilibrado, com as notas frutadas ainda perceptíveis, apesar de uma idade razoavelmente avançada, frutas negras e vermelhas maduras, com destaque para jabuticaba, cereja, ameixa preta, morango e framboesa, uma verdadeira geleia de frutas. É amadeirado e sente-se a baunilha, o couro, tabaco, especiarias, como canela, um fundo de torrefação, de chocolate.

Na boca entrega também a complexidade, juntamente com o médio corpo, mas é redondo, macio, afinal o tempo em garrafa lhe foi gentil, com as notas frutadas em plena sinergia com a madeira, também evidente, os 16 meses em barricas de carvalho denuncia isso, a madeira é bem calibrada e perceptível, mas bem integrada. É um vinho volumoso, cheio, alcoólico, tem toques de mentolado, caramelo, taninos presentes, porém dóceis, domados, com uma acidez correta e final persistente e retrogosto que lembra café, torrefação. 

Aqui vale uma curiosidade sobre o nome do vinho, “Parole di Famiglia”:

A linha “Parole di Famiglia” foi idealizada em homenagem ao fundador da Vinícola Don Affonso e tinha como princípio que a palavra dita valia muito e costumava sempre dizer que “Le parole vale píu que la escrita”, ou seja: “As palavras valem muito mais que o escrito”. Em sua homenagem a linha “Parole di Famiglia” enaltece a tradição italiana desde 1870 onde a palavra “Parole” traz consigo os traços da imigração e os valores de perseverança, força e honra da família De Gasperín.

André Gasperín, enólogo.


A Campanha Gaúcha se revela gigante, importante para a vitivinicultura brasileira. O Tannat encontrou o solo ideal para apresentar a sua tipicidade, a realidade do seu clima, da sua cultura, da sua tipicidade. Um Tannat frutado, vivaz, de marcante personalidade, equilibrado, taninos evidentes, mas domados, acidez que aguça a degustação. Um vinho com a cara do Brasil, com os aspectos mais exemplares e fiéis da Campanha Gaúcha. Grande e espetacular vinho com uma audaciosa relação qualidade X preço. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Don Affonso:

A família Gasperin traz consigo uma história de muito trabalho e dedicação pelo cultivo da uva, traz no sangue a trajetória de luta e perseverança, bem como a religiosidade e a valorização dos princípios de vida ligados a família e ao trabalho na terra. Dessa forma, Affonso Gasperin produzia seus vinhos para consumo próprio a partir do cultivo das suas uvas e, o excedente, vendia aos seus amigos.

O vinho era apreciado por todos e assim, a pedido dos seus amigos e consumidores, Affonso constituiu oficialmente a Vinícola Gasperin, em 13 de julho de 1982. Desde sua fundação teve como princípios fundamentais a busca pela qualidade dos seus produtos e o cuidado e carinho com a produção de uvas e elaboração de vinhos, sucos e espumantes.

Hoje dirigida pelo destacado enólogo André Gasperin e equipe vem ganhando destaque internacional na conquista de premiações em tradicionais e renomados concursos de vinhos pelo mundo.

Mais informações acesse:

https://www.donaffonso.com.br/