Lembro-me que, quando degustei a casta símbolo da Bairrada,
região emblemática portuguesa, Baga, em uma “versão” varietal, na sua forma
predominante e plena, eu disse, ou melhor, textualizei; E eis que ela me surge
por inteiro!
Quando se desbrava a Bairrada, não se pode negligenciar a
Baga, até porque ela, por uma questão da sua Denominação de Origem (DOC), ela
predomina sempre, mesmo que em blends. Mas eu precisava de um momento só com
ela, aquele momento de introspecção, só nós dois.
E a minha experiência foi arrebatadora! E por ter sido
arrebatadora, como disse, me veio a intenção, aquela doce e salutar loucura de
desbravar a casta na sua versão varietal.
E diante disso, claro, vem a necessidade de buscar novos
rótulos. Depois da minha primeira experiência com um 100% Baga com o Moinho de Sula Reserva da safra 2014, outros vinhos precisavam ser por mim descobertos.
E já que mencionei o Moinho de Sula da valorosa Adega de Cantanhede não podemos deixar de falar desse produtor, de suma importância que tem de forma exemplar, disseminando a cultura da Bairrada com seus vinhos e castas e o principal, sim, temos de levar em consideração o excepcional custo X benefício, o que, com todo o respeito, a família Pato, do grande Luis Pato e sua filha, Filipa, não proporciona.
Sei que, com esse comentário, posso gerar alguns borburinhos,
a tal famigerada polêmica, mas convenhamos que o valor é alto, a “grife de
rótulos” é grande no Brasil, mas, por outro lado, não podemos negar a
importância e qualidade de seus vinhos e a história que tal família tem para
com a Bairrada, com o Luis Pato desbravando a Baga, domando-a.
Foi a Adega de Cantanhede que abriu os meus olhos para a
Baga, a Bairrada! Vale uma história aqui de como tive o meu primeiro contato
com a Cantanhede! A Cantanhede me foi revelada, de uma forma quase
despretensiosa, por um de seus rótulos mais falados e premiados, o Marquês de
Marialva Colheita Selecionada. Eu degustei a safra 2014 no ano de 2019! Achei
que estaria “avinagrado”, ruim! Enganei-me! Um senhor vinho! Vivo, pleno aos 5
anos! A Bairrada se revelara para mim com esse rótulo! A Baga se mostrava com a
sua incrível capacidade longeva!
E dessa vez a Baga me surgirá por inteiro novamente! E dessa
vez o rótulo, diferente do Moinho de Sula reserva, oriunda do Beira Atlântico,
virá da Bairrada! Um reserva da Bairrada! E como está o coração nesse momento?
Repleto de alegria e mesclado com uma salutar ansiedade.
A taça finalmente é inundada pela poesia líquida e finalmente
o vinho que degustei e gostei veio da Bairrada e se chama Conde de Cantanhede
Reserva da casta Baga (100%) da safra 2015. E como gostei! Todas as
características da Baga, que conheci, há pouco tempo, estão neste rótulo e
agora figurando solitariamente, mas ricamente.
Então sem mais delongas, antes de tecer maiores e melhores,
sem dúvida, comentários do vinho, contemos um pouco a história da Baga e da
região onde domina: a velha e tradicional Bairrada, no coração de Portugal que,
por curiosidade, é tida também como a terra dos espumantes na terrinha!
Baga
A uva Baga, uma das principais uvas nativas de Portugal, é
capaz de oferecer enorme complexidade aos rótulos que compõe. Demonstrando
muita classe e estrutura, a variedade da casta de tintos é única no seu valor e
possui um fantástico potencial de envelhecimento, que atua com o vinho na
garrafa durante anos após sua fabricação.
A uva Baga é uma variedade amplamente utilizada na costa
central de Portugal, na elaboração de ótimos vinhos tintos. Particularmente na
região da Bairrada, a Baga é, sem dúvida, uma das uvas tintas mais cultivadas,
além de ser plantada também no Dão e em Ribatejo. Há quem diga que a casta
nasceu nas terras do Dão, inclusive alguns produtores locais mais tradicionais
defendem essa tese, mas foi nas terras da Bairrada que ganhou reputação, onde ocupa
mais de 90% dos vinhedos.
A Baga é conhecida tradicionalmente pela espessura de sua
pele, em proporção com o tamanho das pequenas bagas que o cacho apresenta. Além
disso, essa variedade é extremamente tânica, podendo ser notado o caráter
adstringente em alguns vinhos.
A Baga é uma uva pequena, com casca grossa, capaz de oferecer
classe e estrutura aos rótulos que compõem que vão desde os tintos até os rosés
e espumantes. É exatamente o fato de o fruto ser pequeno que faz com que os
vinhos da uva Baga tenham taninos em alta concentração e acidez acentuada.
No passado, a Baga era conhecida por ser empregada na
produção de vinhos rústicos, excessivamente ácidos e tânicos e de pouca
concentração. Porém, após a chegada do genial Luís Pato, conhecido como o
“revolucionário da Bairrada” e maior expoente desta variedade, a casta da uva
Baga foi “domesticada”.
O cultivo da Baga é árduo e trabalhoso, demorando para que o
amadurecimento ocorra. A fruta desenvolve-se melhor quando plantada em solos
argilosos e necessita de uma excelente exposição ao sol durante o processo de
cultivo. Entretanto, após os devidos cuidados e maturação, a Baga produz
preciosos rótulos, podendo envelhecer na garrafa durante anos, garantindo
complexidade e elegância para seus exemplares, além de tornar os vinhos
concentrados, aromáticos e possuidores de uma coloração escura.
Conhecida também como Tinta da Bairrada, Tinta Poeirinha ou
Tinta Fina, a uva Baga atualmente é considerada uma das maiores uvas
portuguesas, com enorme complexidade, estrutura e classe, sendo muito apreciada
no mundo do vinho. A casta Baga dá origem a vinhos portugueses com muita
personalidade, altamente interessantes e únicos.
Bairrada
Localizada na região central de Portugal e se estendendo até
o Oceano Atlântico, especificamente entre as cidades de Coimbra e Águeda, a
região vinícola da Bairrada – cujo nome é uma referência ao solo argiloso que a
compõe – tem clima temperado bastante favorável às vinhas.
A Bairrada é uma daquelas regiões portuguesas com grande
personalidade. Apesar de sua longa história vínica, a certificação da região é
recente. A Denominação de Origem Controlada (DOC Bairrada) para vinhos tintos e
brancos é de 1979 e para espumantes de 1991. A Região Demarcada da Bairrada
possui também uma Indicação Geográfica: IG Beira Atlântico.
António Augusto de Aguiar estudou os sistemas de produção de
vinhos e definiu as fronteiras da região. Em 1867, vinte anos mais tarde,
fundou a Escola Prática de Viticultura da Bairrada. Destinada a promover os
vinhos da região e melhorar as técnicas de cultivo e produção de vinho.
O primeiro resultado prático da escola foi a criação de vinho
espumante em 1890. E foi com os espumantes que a região conquistou o mundo.
Frutados, com um toque mineral e boa estrutura esses vinhos tornaram-se
referencias e, até hoje, fazem da Bairrada uma das maiores regiões produtoras
de espumantes de Portugal. Com o passar do tempo, as criações tintas ganharam
espaço.
Muito por conta do que os produtores têm feito com a Baga,
casta autóctone da região. O grande responsável pelo fortalecimento
internacional da região é o engenheiro Luís Pato. Conhecido como o Mr. Baga,
Pato tem um trabalho minucioso sobre as uvas, tudo para conseguir um vinho
autêntico com o mínimo de interferência externa. A uva Baga, uma das principais
uvas nativas de Portugal, é capaz de oferecer enorme complexidade aos rótulos
que compõe.
Demonstrando muita classe e estrutura, a variedade da casta
de tintos é única no seu valor e possui um fantástico potencial de
envelhecimento, que atua com o vinho na garrafa durante anos após sua
fabricação. Além de refinados e inimitáveis, os vinhos produzidos com esta
variedade de uva apresentam muita personalidade e distinção. No passado, a Baga
era conhecida por ser empregada na produção de vinhos rústicos, excessivamente
ácidos e tânicos e de pouca concentração. Porém, após a chegada do genial Luís
Pato, conhecido como o “revolucionário da Bairrada” e maior expoente desta
variedade, a casta da uva Baga foi “domesticada”.
A localização da DOC Bairrada e suas características de clima
e solo fazem dela uma região única. Paralelamente, o plantio das vinhas é feito
em lotes descontínuos de pequenas proporções e faz divisa com outras culturas e
outros usos de solo. Com isso, seus vinhos são de terroir, ou seja, o local
onde a uva é plantada influencia diretamente em suas particularidades.
Delimitada a Sul, pelo rio Mondego, a Norte pelo rio Vouga, a Leste pelo oceano
Atlântico e a Oeste pelas serras do Buçaco e Caramulo, a região é composta por
planalto de baixa altitude.
O solo é predominantemente argilo-calcário, mas há algumas
poucas regiões com solos arenosos e de aluvião. O clima é mediterrânico
moderado pelo Atlântico. A região recebe forte influência marítima do oceano
Atlântico. Os invernos são frescos, longos e chuvosos e os verões são quentes,
suavizados pela presença de ventos frequentes nas regiões junto ao mar. A área
se beneficia de grande amplitude térmica na época do amadurecimento das uvas. A
variação que pode chegar aos 20ºC de diferença entre o dia e a noite.
O Decreto-Lei n.º 70/91 estabeleceu as castas autorizadas e
recomendadas para produção de vinhos na DOC Bairrada. A lei descreve as
diretrizes para elaboração dos vinhos tintos, rosés, brancos e espumantes. Para
a produção de tintos e rosés com o selo DOC Bairrada, as castas recomendadas
são Baga (ou Tinta Poeirinha), Castelão, Moreto e Tinta-Pinheira. No conjunto ou
separadamente, deverão representar 80% do vinhedo, não podendo a casta Baga
representar menos de 50%. As castas autorizadas são Água-Santa, Alfrocheiro,
Bastardo, Jaen, Preto-Mortágua e Trincadeira.
Para os vinhos brancos as castas recomendadas são Maria-Gomes
(também conhecida como Fernão Pires), Arinto, Bical, Cercial e Rabo-de-Ovelha,
no conjunto ou separadamente com um mínimo de 80% do encepamento: e as
autorizadas são Cercialinho e Chardonnay. O vinho base para espumantes naturais
devem ser elaborados através das castas recomendadas Arinto, Baga, Bical,
Cercial, Maria-Gomes e Rabo-de-Ovelha; ou das autorizadas Água-Santa,
Alfrocheiro-Preto, Bastardo, Castelão, Cercialinho, Chardonnay, Jean, Moreto,
Preto-Mortágua, Tinta-Pinheira e Trincadeira.
Em 2012 foi publicada a Portaria n.º 380/2012, que atualiza a
lista de castas permitidas para elaboração dos vinhos DOC Bairrada. Foi incluída recentemente uma autorização
para o cultivo das castas internacionais Cabernet Sauvignon, Syrah, Merlot,
Petit Verdot e Pinot Noir e das portuguesas Touriga Nacional, Castelão, Rufete,
Camarate, Tinta Barroca, Tinto Cão e Touriga Franca. Vinhos elaborados com
castas que não estejam relacionadas no Decreto-Lei, não podem receber o selo de
DOC Bairrada e são rotulados com o selo Vinho Regional Beira Atlântico.
E agora finalmente o vinho!
Na taça revela um rubi com alguma intensidade, mas mostram
halos bem definidos de cor granada, talvez denotando os seus oito anos de
garrafa. Tem lágrimas finas, lentas e em profusão que desenham as bordas do
copo.
No nariz embora traga aromas discretos, predominam as notas
de frutas vermelhas maduras, como ameixa, amoras, frutas em compota, diria uma
geleia de frutas, com nuances da madeira, graças aos nove meses em barricas de
carvalho, que entrega baunilha, leve tostado, toque herbáceo, de terra molhada,
couro, tabaco, traços rústicos, e um pouco alcoólico.
Na boca tem médio corpo, complexo, de notório volume de boca,
cheio, volumoso, mas macio e elegante e apresenta, como no nariz, alguma
rusticidade. As notas frutadas protagonizam, como no aspecto olfativo, bem como
as notas amadeiradas e o seu aporte, como as especiarias doces, que traz uma sensação
de dulçor, a baunilha, o chocolate, tem álcool presente, mas bem integrado, com
taninos presentes, porém domados, redondos, além de uma surpreendente acidez
apesar dos oito anos de vida. Tem um final cheio, frutado e persistente.
A experiência, mais uma vez, foi incrível! A Baga de fato
traz personalidade! Essa é a palavra! E o vinho está no auge, no ápice com os
seus sete anos de vida. A plenitude de uma casta retratada com as suas mais
fiéis características e mesmo com a sua domesticação, se mostrou rústica, corpo
médio, estrutura marcante, mas macio, elegante como bom vinho de oito anos de
vida. Que a Baga se revele para todos dignos dela! Que a Baga se revele para
mim sempre que eu merecer! O seu apelo regional merece o mundo! Tem 13,5% de
teor alcoólico.
Curiosidades sobre o nome do rótulo do vinho: Conde de
Cantanhede
A D. Pedro Meneses, 5º Senhor de Cantanhede, foi atribuído o
título de 1º Conde de Cantanhede, como recompensa pela sua participação na
Batalha do Toro em 1476, ao lado de D. Afonso V e o futuro D. João II.
A cidade de Cantanhede recebeu o foral de D. Manuel I, Rei de
Portugal, em 1514. Naquela altura o Rei deu à família Meneses o total controle
da região. Foi notório o contributo dos Meneses para o desenvolvimento da
região, promovendo a agricultura, incluindo a viticultura, para o que, desde
sempre foi reconhecido grande potencial nestas terras.
O porquê da Adega de Cantanhede usar esse nome no rótulo?
Empenhada em prestar homenagem à digna linhagem dos Condes de
Cantanhede e ao seu importante papel na região e na história de Portugal, a
Adega de Cantanhede obteve a necessária autorização dos seus descendentes para
lançar esta marca, que comporta um vasto portfólio com vinhos e espumantes de
qualidade.
Sobre a Adega de Cantanhede:
Fundada em 1954 por um conjunto de 100 viticultores, a Adega
de Cantanhede conta hoje com 500 viticultores associados ativos e uma produção
anual de 6 a 7 milhões de quilos de uva, constituindo-se como o principal
produtor da Região Demarcada da Bairrada, representando cerca de 40% da
produção global da região. Hoje certifica cerca de 80% da sua produção, sendo
líder destacado nas vendas de vinhos DOC Bairrada DOC e Beira Atlântico IGP.
Reconhecendo a enorme competitividade existente no mercado
nacional e internacional, a evolução qualitativa dos seus vinhos é o resultado
da mais moderna tecnologia, com foco na qualidade e segurança alimentar (Adega
Certificada pela norma ISO 9001:2015, e mais recentemente pela IFS Food 6.1.),
mas também da promoção das castas Portuguesas, que sempre guiou a sua
estratégia, particularmente das variedades tradicionais da Bairrada – Baga,
Bical e Maria Gomes – mas também de outras castas portuguesas que encontram na
Bairrada um Terroir de eleição, como sejam a Touriga Nacional, Aragonez e
Arinto, pois acredita que no inequívoco potencial de diferenciação e
singularidade que este património confere aos seus vinhos.
O seu portfólio inclui uma ampla gama de produtos. Em tinto,
branco e rose os seus vinhos vão desde os vinhos de mesa até vinhos Premium a
que acresce uma vasta gama de espumantes produzidos exclusivamente pelo Método
Clássico, bem como Aguardentes e Vinhos Fortificados. É um portfólio que,
graças à sua diversidade e versatilidade, é capaz de atender a diferentes
segmentos de mercado, com diferentes graus de exigência em qualidade, que
resulta na presença dos seus produtos em mais de 20 mercados.
A sua notoriedade enquanto produtor, bem como dos seus vinhos
e das suas marcas, vem sendo confirmada e sustentadamente reforçada pelos
prémios que vem acumulando no seu palmarés, o que resulta em mais de 750
distinções atribuídas nos mais prestigiados concursos nacionais e
internacionais, com destaque para Mundus Vini – Alemanha, Concours Mondial de
Bruxelles, Selections Mondiales du Vins - Canada, Effervescents du Monde –
França, Berliner Wein Trophy – Alemanha e Japan Wine Challenge, sendo por
diversas ocasiões o único produtor da Bairrada com vinhos premiados nesses
concursos e, por isso, hoje um dos mais galardoados produtores da região. Em
2015 integrou o TOP 100 dos Melhores Produtores Mundiais, pela WAWWJ –
Associação Mundial dos Jornalistas e Críticos de Vinho e Bebidas Espirituosas.
Nos últimos 8 anos foi eleita “Melhor Adega Cooperativa” em Portugal por 3
vezes pela imprensa especializada.
Mais informações acesse:
Referências:
“Divinho”: https://www.divinho.com.br/uva/baga/
“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/baga
“Vinci”: https://www.vinci.com.br/c/tipo-de-uva/baga
“Soulwines”: https://www.soulwines.com.br/uvas-de-vinhos/baga
“IVV”: https://www.ivv.gov.pt/np4/503/
“Mistral”: https://www.mistral.com.br/regiao/bairrada
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