domingo, 30 de abril de 2023

Rocca Nero di Troia 2019

 

E continuo pela minha agradável saga pela busca de novas experiências de degustações, de rótulos pouco badalados, de castas pouco populares em terras brasileiras, afinal novas percepções de aromas e sabores só enriquece o ato da degustação, fazendo desta algo prazeroso e agradável e não algo mecânico e banal.

Há algum tempo venho investindo em regiões e castas novas para mim, sobretudo aquelas castas que, embora muito popular em suas regiões autóctones, no Brasil ainda é pouco conhecida.

E assim você varia a sua adega, amplia seu conhecimento, exercita suas análises organolépticas. Enfim, muitos fatores no processo de degustação são positivamente impactados e, aliando isso tudo, a preços extremamente convidativos a seu bolso, em tempos bicudos e de incertezas, torna-se também essencial.

E a casta de hoje é da Itália e quando levantei referências sobre ela, descobri que até naquele país ela é pouco badalada, raramente vem em monovarietal, ou seja, somente ela protagonizando. E cá estou a degustar esse rótulo especial de um produtor igualmente importante e significativo, falo da Rocca Vini.

A propósito há algum tempo atrás, tive uma excelente, surpreendente experiência com a degustação do Rocca Trebbiano d’Abruzzo muito fresco, leve, saboroso, frutado, com uma agradável mineralidade.

E hoje será um “nero”, um tinto, um “rosso”! Então sem mais delongas vamos às apresentações! O vinho que degustei e gostei veio da região famosa de Puglia e se chama Rocca da casta Nero di Troia (100%) da safra 2019. O que dizer de degustar um Nero di Troia em sua versão varietal? Não preciso dizer do quão especial esse vinho foi, a cada taça servida.

Mas antes de tecer quaisquer comentários acerca do vinho, precisamos ser inundados de história, então vamos falar um pouco de Puglia e da casta Nero di Troia.

Puglia: “A terra dos vinhos”

Essa região italiana está localizada no sul da Itália, região que comumente chamamos de salto da bota, banhada pelo Mar Adriático e o Mar Jônico. É uma região italiana com tradição vitivinícola onde parte da produção do vinho era destinado ao norte para ser mesclado aos vinhos e vermute dessas regiões, inclusive da França.

Puglia

A introdução de videiras com técnicas eficientes de cultivo foi feita na região de Puglia desde a videira, porém a época de ouro foi durante a conquista dos romanos, onde os vinhos de Puglia época dos fenícios. Os gregos, no século VIII a.C., deram continuidade ao cultivo da alcançaram ainda mais fama por sua qualidade. Com a queda do Império Romano houve um declínio da atividade vitivinícola, mas não com grande comprometimento.

No século XVII houve um resgate de variedades autóctones, porém houve no final do século XIX, um outro baque na história da viticultura de Puglia, quando a Filoxera atingiu os vinhedos europeus. Na sequência, a recuperação dos vinhedos em Puglia foi marcada pelas replantações, dando preferência à quantidade de produção, mas do que a qualidade.

Filoxera

Atualmente os produtores de Puglia vem desenvolvendo outras estratégias apostando por exemplo, na diminuição da produção e buscando uma maior qualidade para seus vinhos. Como fruto desse trabalho há atualmente disponíveis no mercado, vinhos com qualidade.

A topografia da região é praticamente plana com paisagens belíssimas dos vinhedos. O clima é tipicamente mediterrâneo, quente, com sol boa parte do ano, pouca chuva, com presença de uma brisa marítima dando condições muito boas para a viticultura. O solo é argiloso e calcário com presença de depósitos de ferro.

As principais regiões da Puglia são:

Foggia: ao norte, encontramos tanto vinhos brancos como tintos bem simples produzidos a partir de Sangiovese, Trebbiano, Montepulciano, Aglianico, Bombino Bianco e Nero, etc.

Bari e Taranto: localizada na zona mais central. Destacamos os vinhos brancos mais encorpados de Verdeca.

Península de Salento: região onde são elaborados os vinhos mais interesantes de Puglia. Nessa zona as videiras se beneficiam dos ventos frescos provenientes do Mar Adriático e Jônico. As principais uvas dessa região são a Negroamaro, Primitivo e Malvasia Nera.

As uvas são cultivadas em toda a região. Faz parte da tradição local e o clima quente da região ainda ajuda, principalmente, as uvas roxas, já que as uvas verdes precisam de uma temperatura mais baixa.

No entanto, a Puglia produz vinhos tintos, rosés e brancos, especialmente de uvas nativas, como Bombino Bianco, Malvasia Bianca, Verdeca, Fiano, Bianco d’Alessano, Moscato Bianco e Pampanuto. Embora, a Chardonnay não seja nativa é a uva branca mais cultivada na região. O Negroamaro é a principal uva do Salento. No entanto, o Salento é uma das zonas vinícolas italianas mais importantes para a produção dos vinhos rosés. A Primitivo é a uva dominante na Terra di Bari. Enquanto a Uva di Troia, também chamada Nero di Troia, é a uva mais comum no norte da Puglia.

Quanto às Denominações de Origem a Puglia tem:

• 28 DOC (Denominação de Origem);

• 4 DOCG (Denominação de Origem Controlada e Garantida);

• 6 IGP (Indicação Geográfica Protegida).


Nero di Troia

Engana-se quem pensa que essa casta vem da mesma cidade da história do cavalo, o de Troia. A antiga cidade grega que levava esse nome, onde ocorreu a Guerra de Troia descrita na Ilíada, fica na Turquia. E o assunto aqui é uma uva considerada nativa da Itália, a Nero di Troia. O nome da uva vem da cidade de Troia, que fica na província de Foggia, em Puglia e que tem cerca de 7.000 habitantes.

Província de Foggia

Segundo a lenda, a cidade foi fundada pelo herói grego Diomedes, que lutou na Guerra de Tróia (e, que segundo a Eneida, de Virgílio, estava dentro do cavalo) e saiu e sagrou-se vencedor.

Claro que também existe sempre uma vasta confusão taxonômica com nomes que a todo instante mudam conforme os tempos e localidades, como:

·         Sumarello;

·         Uva di Canosa;

·         Uva di Barletta;

·         Tranese;

·         Uva della Marina.

A primeira vez que o termo Uva di Troia aparece em documentos oficiais está nos estudos ampelográficos do Professor Giuseppe Frojo em 1875. Ele era Diretor da Cantina Sperimentale di Barletta e era admirador da cultura neoclássica. Então Frojo rebatizou o então chamado Vitigno di Canosa como Uva di Troia. Depois o “Nero” foi incorporado ao nome.

Embora hoje existem muitos clones disponíveis da Nero di Troia, dois biótipos muito diferentes entre si são geralmente identificados hoje, a versão Barletta ou Ruvo e a versão Canosa. A Barletta tem cachos e bagos de grande porte, enquanto a Canosa traz bagos cilíndricos e menores.

A segunda possui cultivo mais complexo, principalmente graças ao longo período e maturação, que a deixa com o risco de ficar exposta a situações climáticas adversas. Por causa disso, a dificuldade do plantio tem propiciado uma, cada vez maior, escassez desta uva. É necessária muita paciência, paixão e recursos para conseguir produzir uma bebida de qualidade.

Mas a Nero di Troia é bastante resistente a uma ampla variedade de pragas comuns nos vinhedos. Ela é muito adaptada ao clima quente e seco da Puglia, mas está sendo cada vez menos cultivada. Muitos produtores, nos últimos anos, têm substituído seus vinhedos, plantando Negroamaro e Primitivo, consideradas mais rentáveis comercialmente.

Além disso, entre as três, a Nero di Troia é a que demora mais para amadurecer. Para dar um exemplo, por volta do ano 2000, a área cultivada era um quinto do que era dos anos 70, com cerca de 1700 hectares plantados.

Os aromas mais encontrados nos vinhos produzidos com esse tipo de uva são os de cereja preta madura, amora, tabaco, cacau, cassis, anis e notas florais de violetas.

Vinhos que utilizam a Uva di Troia em sua elaboração são vinhos profundos, complexos, de cor viva e rico em polifenóis, especialmente, os taninos.

Já os vinhos de corte produzidos com ela apresentam certa adstringência, típica, atenuada, que se evidencia, por exemplo, nos rótulos com a participação da uva Montepulciano. Outros tipos de uva utilizados com bastante frequência junto à Uva di Troia são as variedades Bombino Nero e Sangiovese.

Atualmente existe uma tendência de vinificar a Nero di Troia em vinhos varietais, em geral notáveis. E como que os enólogos lidam com tantos taninos, em vinhos varietais? Com temperaturas moderadas, com macerações mais curtas.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um intenso e profundo rubi com halos granada, com alguma viscosidade e lágrimas grossas, lentas e em profusão que mancham as bordas do copo.

No nariz um ataque de frutas vermelhas e pretas bem maduras, em compota. Trouxe também no início algo doce, meio caramelizado, com alguma intensidade, depois se equilibrando no transcorrer da degustação, tendo ainda toques de terra molhada, tabaco doce, especiarias, muita rusticidade.

Na boca é cheio, volumoso, estruturado, alcoólico, mas macio e elegante, fácil de degustar dado o seu equilíbrio, com um residual de açúcar que não compromete. As notas frutadas, como no aspecto olfativo, também protagoniza, com discretos toques amadeirados, graças aos 15% do lote que passou cerca de 4 meses em barricas de carvalho, trazendo ainda algo de chocolate e especiarias. Tem taninos marcados, presentes, mas domados, com acidez pouco elevada, baixa e um final longo.

Notas do produtor: “Cerca de 15% do nosso Nero di Troia estagiou em barricas de carvalho por alguns meses, o restante em tanques de aço inox. O objetivo enológico da empresa é dar uma leve nota de baunilha picante, delicada e não muito invasiva”.

Um vinho volumoso, carnudo, intenso e complexo, mas que privilegiou cada característica da Nero di Troia e que valeu cada centavo! E que singular degustar uma casta, no formato varietal, que sequer na Itália, em Puglia, é popular, muito mal em blends. Apelo regional, cultural de uma casta nativa que entrega o que há de melhor em Puglia. Nada melhor que se aventurar em novas castas, novas percepções, novas experiências sensoriais. Tem 14% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Rocca:

Antes de tudo na história da vinícola, ela começa no final do século XIX, iniciada por Francesco Rocca. Em seguida seu filho, Angelo, aprimora a produção em 1936 e finalmente a transforma em adega em Nardò, Apúlia.

Posteriormente, na década de 1960, Ernesto Rocca, filho de Angelo, comprou a primeira linha de engarrafamento e iniciou a distribuição de produtos sob a marca Rocca.

Depois que houve a compra de uma fazenda em Leverano em 1999, uma década mais tarde a Rocca Family se torna o principal acionista da vinícola histórica Dezzani, no Piemonte, realizando novas sinergias comerciais e produtivas.

Por conseguinte, Paolo, Marco, Luca e Matteo (filhos de Ernesto), compartilhando deveres e responsabilidades, administram os negócios da família, que inclui também uma empresa de construção e uma importante fazenda de cavalos de trote.

Por fim Emanuele e Ernesto Jr., filhos de Luca e Marco, respectivamente, representam hoje orgulhosamente a quinta geração do mundo do vinho.

Em outras palavras, em cinco gerações a família transmite a paixão pelo envelhecimento de vinhos em barris de carvalho, que hoje toca uma vinícola que exporta a produção para mais de 40 países.

Mais informações acesse:

https://roccavini.com/en/

Referências:

“Vinhos e Castelos”: https://vinhosecastelos.com/vinhos-de-puglia-italia/

“Brasil na Puglia”: https://www.brasilnapuglia.com/os-vinhos-da-puglia/

“Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/277-puglia-terra-de-muitos-vinhos

“Tintos & Tantos”: http://www.tintosetantos.com/index.php/escolhendo/cepas/761-nero-di-troia

“Enologuia”: https://enologuia.com.br/uvas/259-uva-nero-di-troia-a-sulista-da-terra-da-bota

“Blog dos Vinhos”: https://blogdosvinhos.com.br/conheca-a-uva-nero-di-troia/

“Center Gourmet”: https://centergourmet.com.br/rocca-nero-di-troia-puglia-2019/

 

 














sábado, 29 de abril de 2023

Quinta da Garrida Colheita Selecionada 2015

 

Quando costumo dizer, confesso, de forma demasiada, que degustar um vinho de caráter, de grande apelo regionalista é maravilhoso, eu não falo em vão, embora demasiadamente, admito, mas melhor ser redundante do que omisso.

Degustar um vinho da casta que é considerada a rainha tinta de Portugal, a Touriga Nacional, já é especial, mas quando fazemos a degustação oriunda da região do Dão, torna-se, ainda mais, especial, embora co-protagonize com outra casta emblemática, a Tinta Roriz, conhecida como a famosa Tempranillo.

Mas por que falei da alegria de degustar um Touriga Nacional do Dão? Explico! Porque a Touriga Nacional é oriunda de uma pequena região do Dão chamada Nelas. Então degustar um Touriga Nacional, mesmo que em blend, do Dão é como se guiássemos um carro ícone, de uma marca emblemática nas terras de onde ele fora concebido. É algo muito expressivo, especial.

Nelas

E mais especial ainda também quando você percebe, a olhos e rótulos vistos, que uma região, tão importante e emblemática, como o Dão, está de remodelando, crescendo, ganhando grandes contornos de modernidade, mas mantendo, com dignidade, suas tradições.

Tanta coisa boa que antecipa uma degustação que se torna um espetáculo à parte, fazendo de uma degustação uma verdadeira celebração, uma ode às tradições, ao terroir de regiões tão importante para os vinhos neste planeta como o Dão, por exemplo.

E nada melhor que degustar um Dão, depois de tanto tempo, o último foi o estupendo Covas do Frade Touriga Nacional Reserva 2015, que mesmo impulsiona a Portugal vitivinícola para o mundo e que traz, ao mesmo tempo, a personificação de características tão marcantes das regiões que figura neste país.

Então sem mais delongas vamos às apresentações do vinho! O vinho que degustei e gostei vem da emblemática região lusitana do Dão e se chama Quinta da Garrida Colheita Selecionada composta pelas castas Touriga Nacional e Tinta Roriz da safra 2015. Mas antes de falar desse vinho da tradicional Bacalhôa, falemos um pouco da história do Dão e a sua importância para Portugal.

Dão

A região vinícola do Dão, em Portugal, sempre foi um área nobre dos vinhos portugueses. Durante certo tempo, perdeu seu lugar para o Douro e Alentejo, amargando um segundo plano no mundo dos vinhos, mas está retornando com todo o orgulho que seus vinhos merecem pelas suas peculiaridades.

A região é formada por planície, com encostas suavemente onduladas, cercada de montanhas que a protegem da influência climática do Oceano Atlântico. Além das montanhas, há também muitos pinheiros na região do Dão, pinheiros que escondem os vinhedos e os protegem de intempéries.

Dão é nome da região e também do rio que se espalha por vertentes de suave ondulação, de cor verde e dourado por vontade do sol e onde o vinho, como nos amores antigos, nasce há muito tempo. Por exemplo, o Infante Dom Henrique levou-o nas caravelas para Ceuta, em 1415 onde com ele celebravam a vitória.

Atualmente, a Rota dos Vinhos do Dão está levando visitantes e turistas aos espaços oferecidos para apreciação da produção vinícola da região com cinco roteiros diferentes: Terras de Viseu, Silgueiros e Senhorim; Terras de Azurara e Castendo; Terras de Besteiros; Terras de Alva e Terras de Serra da Estrela.

Não é possível determinar com exatidão quando começou a prática da vitivinicultura no Dão. Sabe-se que é anterior à nacionalidade portuguesa, sendo claramente um reflexo das diferentes culturas que foram ocupando diversas zonas da Península Ibérica.

Em 18 de Setembro de 1908, uma Carta de Lei estabelece formalmente a Região Demarcada do Dão. O regulamento para a produção e comercialização dos vinhos aí produzidos surge dois anos volvidos, em 25 de Maio de 1910, com o Decreto regulamentador. Com esta decisão, o Dão tornou-se a primeira região de vinhos não licorosos a ser demarcada e regulamentada no nosso país.

Carta de Lei da Região Demarcada do Dão

Os fatores de distinção da região demarcada do Dão, são:

1-      Prestígio: os vinhos do Dão eram comercializados a preços mais elevados que a média nacional, beneficiando dos elogios dos técnicos agrícolas da época, como António Augusto Aguiar ou Cincinato da Costa. Além disso, os vinhos do Dão, em finais do século XIX, conseguiram obter distinções nas grandes exposições nacionais e internacionais da altura, em Lisboa, Londres, Berlim e Paris.

2-      Grandes Produtores: a região do Dão beneficiava da presença de grandes produtores de vinho, sendo que algumas propriedades eram vistas como pioneiras e mesmo modelo a nível nacional. Destacavam-se os nomes Casa da Ínsua, Conde de Villar Seco, Conde de Santar ou José Caetano dos Reis.

3-      Influência Política: entre 18 de Setembro de 1908 (data da primeira delimitação da região) e 25 de Maio de 1910 (data da regulamentação) foi exercida uma intensa pressão social e política pelas forças sociais e políticas da região, nos jornais locais e nacionais, no Parlamento, em reuniões setoriais.

O Dão ficou desde sempre afamado pela produção de vinhos de mesa com um perfil muito particular: vinhos nobres, elegantes, boas escolhas para acompanhar variadas criações gastronômicas, com elevado potencial de guarda e até com algumas semelhanças com a prestigiada região francesa da Borgonha.

Já no século XIX era significativa a exportação de vinhos do Dão para França e Brasil. Todas estas características foram sendo reconhecidas e apreciadas pelos consumidores, com o Dão a assumir-se como região privilegiada no país para a produção de vinho.

Todavia, a partir das décadas de 1960 e 1970 do século XX, a produção dos vinhos do Dão foi-se deteriorando, uma vez que se começou a apostar mais no volume de produção e menos na qualidade. As adegas cooperativas dominavam o mercado e o Dão ressentiu-se de toda a orientação seguida nessa época.

Depois de certa “travessia do deserto”, o Dão foi retomando o caminho mais correto, sobretudo a partir de meados da década de 1990, momento em que se começou a verificar uma melhoria muito significativa da generalidade dos vinhos da região, o que tem permitido um renascimento fantástico, muito devido ao investimento de pequenos vitivinicultores na região donde surgiram os vinhos de Quinta.

Às novas práticas vitícolas e às novas tecnologias de vinificação aliou-se um espírito empreendedor de querer fazer melhor, com resultados que têm provado que as novas opções têm sido as mais corretas. Alguns produtores privados que têm conseguido vinhos de quinta de qualidade já reconhecida entre as mais importantes empresas de vinho portuguesas estão representadas no Dão.

A Região Demarcada do Dão possui 376 mil hectares, dos quais 20 mil hectares são destinados exclusivamente às vinhas, abrigando vários distritos, como Coimbra, onde se localizam Arganil, Oliveira do Hospital e Tábua; Guarda, onde estão Aguiar da Beira, Fornos de Algodres, Gouveia e Seia; e Viseu, onde se concentram Carregal do Sal, Mangualde, Mortágua, Nelas, Penavaldo, Castela, Santa Comba Dão e Sátão.



Dão

A Região Demarcada do Dão é caracterizada por um relevo acidentado, com solo predominantemente granítico e possuindo terroir e clima propícios para a produção de boas uvas, principalmente devido à sua larga amplitude térmica.

Entre suas castas, as uvas colhidas na Região Demarcada do Dão apresentam alguns destaques, como por exemplo, a Touriga Nacional, a casta mais nobre da região, produzindo vinhos com bom teor alcoólico, trazendo aromas intensos, encorpados, com taninos nobres e propícios ao envelhecimento mais longo, tornando o paladar ainda melhor depois de maturados.

A Alfrocheiro Preto é outra das castas nobres, conferindo aos vinhos aromas finos, ganhando complexidade ao longo dos anos em que amadurece, e a Jaen, com teor alcoólico regular, mas com aromas intensos de fruta madura, taninos de grande maciez e de altíssima qualidade. Entre as castas brancas, a mais nobre e a Encruzado, com bom teor alcoólico, trazendo aromas complexos, frescos e relativamente secos.


O Dão é o berço da Touriga Nacional, famosa uva de Portugal e uma das principais componentes do vinho do Porto. De tão marcante que é, os vinhos da região demarcada devem ter, segundo a regulamentação vigente, no mínimo, 20% de Touriga Nacional em sua composição. Mas além da Touriga Nacional, que é a mais nobre, outras variedades são cultivadas, tanto tintas quanto brancas.

As tintas

Alfrocheiro: segundo especialistas, essa variedade contribui para o equilíbrio entre a acidez e a doçura do vinho dão.

Aragonês: também conhecida como Tinta Roriz, essa cepa confere potencial de guarda ao vinho (uma das principais características do vinho do Dão), além de dar equilíbrio entre corpo e a acidez.

Jaen: essa variedade é geralmente usada para trazer aromas para o vinho, pois tem um perfume intenso e, ao mesmo tempo, delicado.

As brancas

Encruzado: é a casta branca mais valorizada da região, que produz vinhos frescos e que, apesar disso, tem potencial para envelhecimento.

Malvasia fina: outra casta branca cultiva na região, de aromas simples.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um rubi com tons atijolados, bem granada, quase alaranjados, denotando seus 8 anos de garrafa, com lágrimas finas, lentas e em profusão.

No nariz notou-se um vinho já em decadência, mas apresentando notas de frutas secas, algo de uvas passas, além de discretos aromas de frutas pretas maduras, com nuances florais, madeira igualmente discretas, que aportam baunilha, cacau e caramelo. Traz também especiarias, couro, tabaco e carpete.

Na boca se mostra leve, macio e elegante, o tempo encarregou de deixa-lo dessa forma. As notas de frutas secas e pretas maduras, já em geleia também se faz perceber, bem como a madeira, graças aos 12 meses em barricas de carvalho além de leve tosta e chocolate. É alcoólico, mas não incomoda, entregando ainda algum volume em boca, com taninos já domados, uma acidez ainda presente, com toques herbáceos e terra molhada. Tem final de média a longa persistência.

Tudo conspirou a favor desse belíssimo Quinta da Garrida Colheita Selecionada 2015! Tudo! A história, as tradições, tudo temperou com prazer e celebração a degustação a parte que culmina, o cume da alegria. É a prova cabal de que não é apenas a degustação, o que já é mágico, mas tudo que circunda esse momento, como costumo dizer: degustamos história, degustamos o abnegado trabalho que antecede o engarrafamento desta poesia líquida. É isso mesmo! Uma poesia líquida que nos inspira, que acalenta o corpo e a alma. Não se é feliz o tempo todo, mas quando se tem ao lado uma garrafa de vinho estamos e ficamos sim, felizes. Um vinho expressivo, mas macio pelo tempo, um paladar distinto e marcante e, por falar em tempo, 2015 foi um ano excepcional para todo o Portugal e é mais um ponto que faz a singularidade da degustação. Que venha mais Dão! Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Quinta da Bacalhôa:

Bacalhôa Vinhos de Portugal foi fundada em 1922, sob a denominação João Pires & Filhos. Em 1998 o controle da empresa foi para José Berardo, que adquiriu novas propriedades e celebrou um acordo de parceria com o grupo Lafitte Rothschild.

No ano de 2008 o grupo Lafitte Rothschild adquiriu uma participação na empresa, que adquiriu mais propriedades e uma participação maioritária na vinícola Aliança. O Comendador José Berardo, sendo o principal acionista, prosseguiu com a missão de revolucionar na gestão da empresa, investindo no plantio de novas vinhas, na modernização das adegas e na aquisição de novas propriedades, junto com a imprescindível parceria com o Grupo Lafitte Rothschild na Quinta do Carmo.

Em 2007 a Bacalhôa tornou-se a maior acionista na Aliança, um dos produtores mais prestigiados nas categorias de espumantes de alta qualidade, aguardentes e vinhos de mesa. No ano seguinte, a empresa comprou a Quinta do Carmo, aumentando assim para 1200 ha de vinhas a sua exploração agrícola.

A Bacalhôa dispõe de adegas nas regiões mais importantes de Portugal: Alentejo, Península de Setúbal (Azeitão), Lisboa, Bairrada, Dão e Douro. O projeto implementado nas diversas quintas sob o tema “Arte, Vinho, Paixão” visa surpreender as expectativas mais exigentes.

Das vinhas ao vinho, todo o processo vitivinícola é envolvido em vários cenários que incluem a tradição e modernidade, com exposições artísticas diversas, da pintura à escultura, nunca esquecendo as magníficas obras naturais.

Com uma capacidade total de 20 milhões de litros, 15.000 barricas de carvalho e uma área de vinhas em produção de cerca de 1.200 hectares, a Bacalhôa Vinhos de Portugal prossegue a sua aposta na inovação no setor, tendo em vista a criação de vinhos que proporcionem experiências únicas e surpreendentes, com uma elevada qualidade e consistência.

A Bacalhôa Vinhos de Portugal, S.A., uma das maiores e mais inovadoras empresas vinícolas em Portugal, desenvolveu ao longo dos anos uma vasta gama de vinhos que lhe granjeou uma sólida reputação e a preferência de consumidores nacionais e internacionais. Presente em 7 regiões vitícolas portuguesas, com um total de 1200ha de vinhas, 40 quintas, 40 castas diferentes e 4 centros vínicos (adegas), a empresa distingue-se no mercado pela sua dimensão e pela autonomia em 70% na produção própria.

A cada uma das entidades que constituem a Bacalhôa Vinhos de Portugal, S.A. - Aliança Vinhos de Portugal, Quinta do Carmo e Quinta dos Loridos - corresponde um centro de produção com características próprias e um património com intrínseco valor cultural. É à dinâmica gerada pelo cruzamento destas várias identidades, explorada com recurso à tecnologia mais atual e aos conhecimentos de uma equipa de renome, que a Bacalhôa Vinhos de Portugal, S.A. deve a sua capacidade única no competitivo mercado português de oferecer o vinho perfeito para qualquer ocasião.

Mais informações acesse:

https://www.bacalhoa.pt/

Referências:

Wikipedia, em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Quinta_da_Bacalhoa

“Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/regiao-do-dao-portugal/

“Clube Vinhos Portugueses”: https://www.clubevinhosportugueses.pt/turismo/caraterizacao-da-regiao-do-dao-2/

“Winer”: http://www.winer.com.br/vinho-dao/

“Comissão Vitivinícola do Dão”: https://www.cvrdao.pt/pt/regiao-demarcada/

 

 











terça-feira, 25 de abril de 2023

Pêra Doce Arinto (50%) e Antão Vaz (50%) 2021

 

Não é uma grande novidade dizer que os vinhos da gigante e emblemática Alentejo é a minha preferida em Portugal. Não é novidade dizer também que, quando tive os primeiros contatos com os rótulos portugueses, foi com o Alentejo que a cortina da vitivinicultura lusitana se deu.

O carinho e a predileção não são apenas com a região, com os seus vinhos e tipicidade, com o seu terroir, mas criou-se um vínculo afetivo, até por ter sido os primeiros a inundar as minhas humildes taças.

Evidente que a participação de mercado dos alentejanos no Brasil é grande e a possibilidade de um primeiro contato com esses vinhos é grande, porém, a continuidade das degustações configura-se em predileção, em carinho para com a ensolarada região alentejana.

E o que dizer do caráter de regionalidade? O apelo regional dos seus vinhos é imenso e os produtores parecem fazer questão de evidenciar isso, principalmente pelo fato de ter seus rótulos exportados para todo o mundo. São vinhos locais que ganharam o mundo e não tenha dúvida de que uma condição acarreta na outra.

E o vinho de hoje retrata, além da força da tradição de seu nome, mas também do apelo regional, uma definição clara de um vinho que tem bem definido a essência de sua região, falo do Pêra Doce.

E falando em história, vem uma curiosidade sobre o nome “Pêra Doce”: Na casa alentejana da Parras, a Herdade da Candeeira, houve em tempos grande número de árvores de fruto, e entre elas pereiras, que aliás justificavam o antigo nome da propriedade, Herdade das Pereiras. Eram peras sumarentas e doces, amadurecidas pelo sol do Alentejo. O mesmo sol amadurece hoje as uvas que originam os brancos e tintos de Pêra Doce, suaves e saborosos como o fruto que lhes deu o nome.

O vinho que degustei e gostei veio das terras solares e quentes do Alentejo e se chama Pêra Doce, um branco composto pelas castas Arinto (50%) e Antão Vaz (50%) da safra 2021. Então para não perder o costume vamos de história do Alentejo.

Alentejo

Situado na zona sul de Portugal, o Alentejo é uma região essencialmente plana, com alguns acidentes de relevo, não muito elevados, mas que o influenciam de forma marcante. Embora seja caracterizada por condições climáticas mediterrânicas, apresenta nessas elevações, microclimas que proporcionam condições ideais ao plantio da vinha e que conferem qualidade às massas vínicas.

As temperaturas médias do ano variam de 15º a 17,5º, observando-se igualmente a existência de grandes amplitudes térmicas e a ocorrência de verões extremamente quentes e secos.

Alentejo

Mas, graças aos raios do sol, a maturação das uvas, principalmente nos meses que antecedem a vindima, sofre um acúmulo perfeito dos açúcares e materiais corantes na película dos bagos, resultando em vinhos equilibrados e com boa estrutura. Os solos caracterizam-se pela sua diversidade, variando entre os graníticos de "Portalegre", os derivados de calcários cristalinos de "Borba", os mediterrânicos pardos e vermelhos de "Évora", "Granja/Amareleja", "Moura", "Redondo", "Reguengos" e "Vidigueira". Todas estas constituem as 8 sub-regiões da DOC "Alentejo".

História (Passado, presente e futuro)

A história do vinho e da vinha no território que é hoje o Alentejo exige uma narrativa longa, com uma presença continuada no tempo e no espaço, uma gesta ininterrupta e profícua que poucos associam ao Alentejo. Uma história que decorreu imersa em enredos tumultuosos, dividida entre períodos de bonança e prosperidade, entrecortados por épocas de cataclismos e atribulações, numa flutuação permanente de vontades, com longos períodos de trevas seguidos por breves ciclos iluministas e vanguardistas.

É uma história faustosa e duradoura, como o comprovam os indícios arqueológicos presentes por todo o Alentejo, testemunhas silenciosas de um passado já distante, evidências materiais da presença ininterrupta da cultura do vinho e da vinha na paisagem tranquila alentejana. Infelizmente, por ora ainda não foi possível determinar com acuidade histórica quando e quem introduziu a cultura da videira no Alentejo.

Mas ainda assim pode-se afirmar que a história do Alentejo anda de mãos dadas com a história de Portugal e da Península Ibérica, ex-hispânicos, assim como, pertencentes a época de civilizações romana, árabe e cristãs. Em muitos lugares no Alentejo encontrar provas da civilização fenícia existente há 3.000 anos.

Fenícios, celtas, romanos, todos eles deixaram um importante legado da era antes de Cristo, na região que é hoje o Alentejo. Uma terra onde a cultura e tradição caminham lado a lado. Os romanos deixaram nesta região o legado mais importante, escritos, mosaicos, cidades em ruínas, monumentos, tudo deixado pelos romanos, mas não devemos esquecer as civilizações mais antigas que passaram pela zona deixando legados como os monumentos megalíticos, como Antas.

Após os romanos e os visigodos, os árabes, chegaram a esta terra com o cheiro a jasmim, antes da reconquista, que chegaram com a construção de inúmeros castelos, alguns deles construídos sobre mesquitas muçulmanas e a construção de muralhas para proteger a cidade e as cidades que foram crescendo. Desde essa altura até hoje, o Alentejo tem continuado o seu crescimento, um crescimento baseado na agricultura, pecuária, pesca, indústria, como a cortiça e desde o último século até aos nossos dias, com o turismo com uma ampla oferta de turismo rural.

Os gregos, cuja presença é denunciada pelas centenas de ânforas catalogadas nos achados arqueológicos do sul de Portugal, sucederam aos fenícios no comércio e exploração dos vinhos do Alentejo. Por esta época, a cultura da vinha no Alentejo, apesar de incipiente, contava já com quase dois séculos de história. A persistência de uma cultura da vinha e do vinho, desde os tempos da antiguidade clássica, permite presumir, com elevado grau de convicção, que as primeiras variedades introduzidas no território nacional terão arribado a Portugal pelo Alentejo, a partir das variedades mediterrânicas.

É mesmo provável, se atendermos os registros históricos existentes, que a produção alentejana tenha proporcionado a primeira exportação de vinhos portugueses para Roma, a primeira aventura de internacionalização de vinhos portugueses!

A influência romana foi tão peremptória para o desenvolvimento da viticultura alentejana que ainda hoje, dois mil anos após a anexação do território, as marcas da civilização romana continuam a estar patentes nas tarefas do dia-a-dia, visíveis através da utilização de ferramentas do quotidiano, como o Podão, instrumento utilizado intensivamente até a poucos anos. Mas foi no aproveitamento das talhas de barro, prática que os romanos divulgaram e vulgarizaram no Alentejo, que a influência romana deixou as suas marcas mais profundas e até hoje é difundida, dada a devida proporção, por alguns abnegados produtores, e claro, a sua população.

Com a emergência do cristianismo, credo disseminado quase instantaneamente por todo o império romano, e face à obrigatoriedade da presença do vinho na celebração eucarística da nova religião, abriram-se novos mercados e novas apetências para o vinho. A fé católica, ainda que indiretamente, afirmou-se como um fator de desenvolvimento e afirmação da vinha no Alentejo, estimulando o cultivo da videira na região.

Com tantas influências culturais o Alentejo sofreu com algumas crises e a primeira se deu exatamente entre os cristãos e muçulmanos. Embora os mulçumanos tenham se mostrando tolerante com os costumes dos povos conquistados, consentindo na manutenção da cultura da vinha e do vinho, sujeitando-a a duros impostos, mas autorizando a sua subsistência, logo nasceu uma intolerância crescente para com os cristãos e os seus hábitos, manifesta no cumprimento rigoroso e vigoroso das leis do Corão.

Inevitavelmente, a cultura do vinho foi sendo progressivamente negada e a vinha gradualmente abandonada, reprimida pelas autoridades zelosas das regiões ocupadas. Com a invasão muçulmana a vinha sofreu o primeiro revés sério no Alentejo. A longa reconquista cristã da península ibérica, riscada de Norte para Sul, geradora de incertezas e inseguranças, com escaramuças permanentes entre cristãos e muçulmanos, sem definição de fronteiras estáveis, maltratou ainda mais a cultura da vinha, uma espécie agrícola perene que, por forçar à fixação das populações, foi sendo progressivamente abandonada.

Foi só após a fundação do reino lusitano, concorrendo através do poder real e das novas ordens religiosas, que a cultura do vinho regressou com determinação ao Alentejo. Poucos séculos mais tarde, já em pleno século XVI, a vinha florescia como nunca no Alentejo, dando corpo aos ilustres e aclamados vinhos de Évora, aos vinhos de Peramanca, bem como aos brancos de Beja e aos palhetes do Alvito, Viana e Vila de Frades.

Em meados do século XVII, eram os vinhos do Alentejo, a par da Beira e da Estremadura, que gozavam de maior fama e prestígio em Portugal. Desventuradamente foi sol de pouca dura! A crise provocada pela guerra da independência, logo secundada por nova crise despertada pela criação da Real Companhia Geral de Agricultura dos Vinhos do Douro, instituída pelo Marquês de Pombal como justificação para a defesa dos vinhos do Douro em detrimento das restantes regiões, com arranques coercivos de vinhas em muitas regiões, deu matéria para a segunda grande crise do vinho alentejano, mergulhando as vinhas alentejanas no obscurantismo.

A crise foi prolongada. Foi preciso esperar até meados do século XIX para assistir à recuperação da vinha no Alentejo, com a campanha de desbravamento da charneca e a fixação à terra de novas gerações de agricultores. Nasceu então mais uma época dourada para os vinhos do Alentejo, período que infelizmente viria a revelar ser de curta duração. O entusiasmo despertou quando se soube que um vinho branco da Vidigueira, da Quinta das Relíquias, apresentado pelo Conde da Ribeira Brava, ganhou a grande medalha de honra na Exposição de Berlim de 1888, a maior distinção do certame, tendo sido igualmente apreciados e valorizados vinhos de Évora, Borba, Redondo e Reguengos.

Pouco anos mais tarde, decorria o ano de 1895, edificou-se a primeira Adega Social de Portugal, em Viana do Alentejo, pelas mãos avisadas de António Isidoro de Sousa, pioneiro do movimento associativo em Portugal. Desafortunadamente, este período de glória viria a terminar abruptamente. Duas décadas passadas, já na primeira metade do século XX, sobreveio um conjunto de acontecimentos políticos, sociais e econômicos que contribuíram decidida e decisivamente para a degradação da viticultura alentejana.

António Isidoro de Sousa

Ao embate da filoxera, somou-se a primeira das duas grandes guerras mundiais, as crises econômicas sucessivas, e, sobretudo, a campanha cerealífera do estado novo que suspendeu e reprimiu a vinha no Alentejo, apadrinhando a cultura de trigo na região que viria a apelidar como "celeiro de Portugal". A vinha foi sendo sucessivamente desterrada para as bordaduras dos campos, para os terrenos marginais em redor de montes, aldeias e vilas, para as pequenas courelas em redor das povoações, reduzindo o vinho à condição de produção doméstica para autoconsumo. Em poucos anos o vinho no Alentejo, salvo raras exceções, desapareceu enquanto empreendimento empresarial.

Foi sob o patrocínio solene da Junta Nacional do Vinho, já no final da década de 1940, que a viticultura alentejana ganhou a primeira oportunidade de recobro, ainda que de forma titubeante.

O movimento associativo foi preponderante para o ressurgimento da atividade vitícola no Alentejo. Em 1970, sob os auspícios da Comissão de Planeamento da Região Sul, foi anunciado o estudo "Potencialidades das sub-regiões alentejanas", coadjuvado dois anos mais tarde pelo estudo "Caracterização dos vinhos das cooperativas do Alentejo. Contribuição para o seu estudo", do professor Francisco Colaço do Rosário, ensaios acadêmicos determinantes para o reconhecimento regional e nacional do potencial do Alentejo. Associando várias instituições ligadas ao setor e tirando proveito das sinergias criadas, o Alentejo conseguiu estabelecer um espírito de cooperação e entreajuda entre os diversos agentes.

Com a criação do PROVA (Projeto de Viticultura do Alentejo), em 1977, foram criadas as condições técnicas para a implementação de um estatuto de qualidade no Alentejo, enquanto a ATEVA (Associação Técnica dos Viticultores do Alentejo), fundada em 1983, foi arquitetada para promover a cultura da vinha nos diferentes terroirs do Alentejo.

Em 1988 regulamentaram-se as primeiras denominações de origem alentejanas, fundamento para o estabelecimento, em 1989, da CVRA (Comissão Vitivinícola Regional Alentejana), garante da certificação e regulamentação dos vinhos do Alentejo.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um amarelo palha límpido, brilhante e reluzente com discretos reflexos esverdeados com poucas concentrações de lágrimas finas e ligeiramente rápidas.

No nariz trazem aromas delicados e típicos de frutas de polpa branca, tropicais e cítricas, com destaque para pêssego, melão, pera, maçã-verde, abacaxi, lima. Tem notas florais e uma leve mineralidade.

Na boca é leve, fresco e despretensioso, um pouco alcoólico, mas que não compromete o conjunto do vinho e que entrega alguma personalidade. As notas frutadas protagonizam, como no aspecto olfativo, com uma acidez equilibrada, que torna o vinho vibrante e saboroso. Tem um final de média persistência.

A história sendo revelada a cada dia, a cada safra, a cada rótulo, a cada casta. O terroir traz a tipicidade, o “DNA” da região, a cultura corrobora a vitivinicultura. O Pera Doce é uma reserva de história, é a certeza de que o Alentejo, mesmo diante de modernismos tecnológicos, não faz questão de dissociar-se de suas tradições, de seu passado, de suas influências culturais. O vinho é a poesia engarrafada, mas também a explosão de história. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Quinta do Gradil (Parras Wines):

A Parras Vinhos de Luís Vieira nasce no ano de 2010, atualmente com sede em Alcobaça, onde também está instalada a unidade de engarrafamento do grupo. Cinco anos depois, com a empresa consolidada e voltada para o mercado internacional, surge a necessidade de se fazer um reposicionamento de marca e “vesti-la” de outra forma, mais atual. É assim que no início de 2016 aparece a Parras Wines, mais jovem, mais flexível, e numa linguagem universal para que possa ser facilmente compreendida por todos, mesmo os que estão além-fronteiras.

Descendente de um pai e de um avô que sempre trabalharam com vinho, Luís Vieira é o único dono deste projeto. Aos cinco anos caiu num depósito de vinho e quase morreu afogado, não fosse um colaborador do avô na altura, que atualmente é seu, tê-lo salvo. Hoje, recorda com graça esse episódio e diz mesmo que simboliza o seu “batismo nestas andanças do vinho”. A empresa começa então a formar-se com terra própria na Região Vitivinícola de Lisboa, mais exatamente na freguesia do Vilar, Cadaval, com duzentos hectares de propriedade em extensão, sendo que 120 são hoje de vinha plantada.

Na mesma região do país, um bocadinho mais acima, na zona de Óbidos, a Parras Wines é também responsável pela exploração de 20 hectares de vinha que dão origem aos vinhos Casa das Gaeiras. Com sede em Alcobaça, nas antigas instalações de uma fábrica de faianças, deu-se início a uma nova área de negócio – uma Unidade de Engarrafamento de Bebidas, que hoje serve também de sede à Parras Wines e que se chama Goanvi. Cinco anos mais tarde, em 2010, constitui-se então a Parras Vinhos, hoje Parras Wines. Para além de terra na Região de Lisboa, o grupo começou paralelamente a produzir vinhos de outras regiões do país. Através de parcerias com produtores locais, a empresa consegue assim dar resposta às necessidades globais que iam surgindo do mercado, produzindo vinhos do Douro, Vinhos Verdes, Dão, Lisboa, Tejo, Península de Setúbal e Alentejo.

Mais informações acesse:

https://www.parras.wine/pt/

Referências:

“Clube dos Vinhos Portugueses”: https://www.clubevinhosportugueses.pt/turismo/roteiros/vinhos-da-sub-regiao-da-vidigueira-denominacao-de-origem-alentejo/

“Rota dos Vinhos de Portugal”: http://rotadosvinhosdeportugal.pt/enoturismo/alentejo-2/borba/

“Clube dos Vinhos Portugueses”: https://www.clubevinhosportugueses.pt/turismo/roteiros/vinhos-da-sub-regiao-da-vidigueira-denominacao-de-origem-alentejo/

“Rota dos Vinhos de Portugal”: http://rotadosvinhosdeportugal.pt/enoturismo/alentejo-2/borba/

“Vinhos do Alentejo”: https://www.vinhosdoalentejo.pt/pt/vinhos/historia-dos-vinhos/

 

 













sábado, 22 de abril de 2023

Petit Plaisir Red Blend 2015

 

Lembro-me como se fosse ontem da inacessibilidade dos vinhos sul africanos aqui no Brasil. Isso deve ter pouco mais de 20 anos atrás quando não tinha sequer a quantidade de e-commerces que temos a nossa disposição atualmente.

E com esse leque de opções o nosso mercado de vinhos absorveu, tem absorvido bem os vinhos sul africanos que hoje tem um market share de respeito. O leque de opções não é apenas quantitativo, mas também qualitativo. A gama de propostas está excelente e atualmente você pode, consegue degustar vinhos mais simples aos mais complexos, encontrando-os, às vezes, em apenas um site de venda de vinhos.

E não se engane que as opções se limitam apenas na casta emblemática do país, a Pinotage. Hoje temos uma infinidade de cepas, das brancas até as tintas, mostrando que os terroirs da terra de Mandela podem cultivar cepas das mais variadas concepções.

Ainda carecem, entretanto, de vinícolas menores, com produção baixa e limitada, entrando em nosso mercado apenas as grandes indústrias vinícolas, mas vejo com bons olhos a possibilidade do mercado se expandir nesse sentido.

E hoje a degustação é, mais uma vez, especial, diria singular. Mais um sul africano de grande respeito, de imponência, austeridade, complexidade, personalidade, que inundará a minha humilde taça e já me antecipo nos predicados ao vinho, porque estou nutrindo uma grande expectativa, pois esse vinho está “adormecendo” a pelo menos três anos. Então não preciso dizer que a ansiedade domina os meus pensamentos para com este rótulo.

E o dia tão esperado chegou! O outono deu às caras, a temperatura está agradável e amena, um rótulo de pretensa complexidade pode vir à tona e ser contemplado no mais profundo detalhe e prazer, então, nada mais apropriado tirar esse vinho do seu longo sono, de sua evolução.

O vinho que degustei e gostei veio da emblemática e famosa região sul africana Western Cape e se chama Petit Plaisir composto pelas castas Syrah (64%), Cabernet Sauvignon (21%), Petit Verdot (8%) e Cabernet Franc (7%) da safra 2015.

E como somos enamorados pela história atrelada ao vinho, convém falar um pouco da “Petit Plaisir”. Estabelecido pelos huguenotes franceses em 1693 nas encostas das montanhas Simonsberg entre Paarl e Franschhoek, Plaisir de Merle é uma joia rara. Uma “peça” de destaque da Distell, esta propriedade de 974 hectares em Simondium, Paarl, ganhou aclamação internacional por seus vinhos brancos e tintos.

Cerca de 400 hectares são plantados com variedades de castas nobres como Chardonnay, Sauvignon Blanc, Cabernet Sauvignon, Merlot, Petit Verdot, Cabernet Franc, Shiraz e Malbec. Uma área de apenas cerca de 80 hectares de vinhas nobres foi reservada para a adega Plaisir de Merle.

O enólogo Niel Bester, que ganhou fama na produção de vinhos de estilo clássico mais acessíveis, atribui o sucesso de seus vinhos à capacidade de trabalhar com ótimas frutas provenientes de um terreno único, bem como à valiosa contribuição de sua equipe de viticultores.

A diversidade dos solos, encostas e elevações contribuem para a qualidade das uvas Plaisir de Merle. Solos de granito bem drenados (predominantemente Tukulu e Hutton) com boa retenção de água permitem interferência mínima na irrigação com a maioria dos vinhedos sendo terra seca. As uvas foram selecionadas e colhidas a dedo em vários vinhedos. Eles estão situados entre 250m e 370m acima do nível do mar nas encostas sudeste do Simonsberg. Então depois dessa é só se permitir viajar nas mais nobres experiências sensoriais.

Western Cape: a toda poderosa região vinícola sul africana

Localizada a sudoeste da África do Sul, tendo a Cidade do Cabo como ponto central, Western Cape é a principal região vitivinícola do país, responsável por cerca de 90% da produção vinícola do país.

Boa parte da indústria do vinho sul-africana se concentra nessa área e microrregiões como Stellenbosch e Paarl são alguns de seus principais destaques. Com terroir bastante diversificado, a combinação do clima mediterrâneo, da geografia montanhosa, das correntes de ar fresco vindas do Oceano Atlântico e da variedade de uvas permite que Western Cape seja considerada uma verdadeira potência da produção de vinhos no país.

Suas regiões vinícolas estendem-se por impressionantes 300 quilômetros a partir da Cidade do Cabo até a foz do rio Olifants ao norte, e cerca de 360 quilômetros até a Baía Mossel, a leste – para entender essa grandiosidade, vale saber que regiões vinícolas raramente se estendem por mais de 150 quilômetros.

Western Cape

O clima fresco e chuvoso também favorece o plantio e a colheita por toda a região. Entre os grandes destaques de Western Cape estão as uvas Pinotage, Cabernet Sauvignon e Shiraz, que dão origem a excelentes varietais e blends. Entre os brancos – que, por si só, têm grande reconhecimento mundial –, brilham a Chenin Blanc, uva mais cultivada do país, a Chardonnay e a Sauvignon Blanc.

As primeiras vinhas plantadas na região remetem ao século XVII, trazidas por exploradores europeus que se fixaram por lá. Durante vários séculos, fatores como o estilo rudimentar de produção, o Apartheid e a falta de investimentos mantiveram a cultura vitivinícola sul-africana limitada ao próprio país.

Somente no início do século XX, com a formação da cooperativa KWV, que a África do Sul começou a responder por todo o controle de qualidade do vinho que se produzia por lá, e seus rótulos passaram a chamar a atenção do mercado internacional, dando início a um processo de exportação que conta, inclusive, com selos de qualidade específicos para a atividade.

A proximidade da Cidade do Cabo facilita o acesso dos visitantes às inúmeras rotas vinícolas e turísticas de Western Cape, que incluem experiências como caminhadas, degustações por suas muitas bodegas, além de ótimos restaurantes e hospedagens em suas pequenas e aconchegantes cidades, a maioria em estilo europeu.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um rubi intenso e escuro, com halos evidentemente atijolados, granada, denotando os 8 anos de garrafa ou a longa passagem por barricas. Tem lágrimas finas e lentas e em profusão que desenham o bojo.

No nariz traz a complexidade e a riqueza incrível de frutas pretas e vermelhas bem maduras, com destaque para cereja, ameixa, framboesa, amora e cereja preta. É amadeirado, mas muito bem integrado ao vinho, com toques de baunilha, torrefação e um distante chocolate. Há notas defumadas, de especiarias, como pimenta, terra molhada e discreto herbáceo.

Na boca, como no aspecto olfativo, traz complexidade, tem personalidade, é gordo, cheio, austero, alcoólico, mas o tempo o tornou macio e elegante e frutado, as notas de frutas vermelhas e pretas maduras em total convergência com as notas amadeiradas, graças aos 16 meses em barricas de carvalho, que traz o chocolate, mais evidente no paladar, café torrado, torrefação e baunilha. Tem taninos generosos, domados, acidez correta e um final persistente.

Um belíssimo blend de Shiraz, Cabernet Sauvignon, Petit Verdot e Cabernet Franc amadurecido por 12 a 16 meses em carvalho francês e americano, extremamente aromático e que revestem a boca com notas doces e picantes de uma baunilha e pimenta sutil, com um final sedoso e suave. Um verdadeiro néctar que deveria vir de almofadas para se degustar ajoelhado. Mais uma vez a região de Western Cape não deixa dúvidas de sua grande representatividade mercadológica, de seu terroir, tendo em Paarl, o seu farol. Definitivamente um belíssimo vinho que sem sombra de dúvidas teria ainda alguns anos de evolução pela frente, mesmo com seus oito anos de garrafa. Tem 14% de teor alcoólico.

Sobre a Plaisir Wine Estate:

Jacob Marais, neto de Charles Marais, construiu a mansão em 1764, onde permanece até hoje como um dos primeiros e melhores exemplos da arquitetura holandesa do Cabo. Com suas empenas ornamentadas e telhado de colmo, a Manor House é um belo exemplo de esplendor e história.

O interior apresenta uma versão elegante e eclética do antigo e do novo, com uma seleção de móveis em Cape, Art Nouveau, Art Deco e estilo retrô. O resultado final é um afastamento consciente da grandeza em direção à sinceridade não afetada com refinamento clássico.

Charles Marais era um dos poucos franceses que tinha experiência em vinificação quando chegou ao Cabo e seu legado vínico vive na tradição vinícola de Plaisir de Merle. A quinta prosperou e em 1705, Claude Marais (que assumiu a gestão da quinta após o falecimento do pai) declarou 8000 vinhas e 6 léguas de vinho.

Charles Marais, um camponês huguenote de Le Plessis Marly, na região de Ile de France, queria uma vida melhor para sua família. Eles foram atormentados pela seca, fome, impostos exorbitantes e consequente pobreza. Esses fatores, juntamente com a perseguição religiosa, levaram-nos a navegar para o Cabo em 1687, onde se estabeleceram no Vale Groot Drakenstein.

Em 1693, o governador do Cabo Simon van der Stel concedeu terras à família Marais. Eles deram o nome de sua cidade natal, Le Plessis Marly. Mais tarde, nas mãos de seu neto, Jacob, a propriedade cresceu e se tornou uma das melhores da região. Foi Jacob quem construiu a mansão em 1764, que continua sendo um dos primeiros e melhores exemplos da arquitetura holandesa do Cabo hoje.

A concessão foi oficialmente assinada em 1º de dezembro de 1693. Infelizmente, Charles Marais faleceu após apenas seis meses na fazenda com uma disputa trivial, supostamente por causa de uma melancia verde, levando à sua morte prematura. A história conta que um Khoikhoi chamado Dikkop (ou Edissa) atirou uma pedra em Charles, causando uma hemorragia fatal.

Charles Marais estava bem equipado para uma vida de pioneiro na agricultura, pois a região de onde ele veio na França costumava abastecer os mercados parisienses com vinho e cereais. Charles era um dos poucos franceses que realmente tinha experiência em vinificação quando chegou ao Cabo. É um equívoco comum pensar que todos os huguenotes eram viticultores (embora tenham trazido uma cultura vinícola antiga e bem estabelecida).

Em 1729, ano em que a mãe de Claude, Catherine Taboureux, e sua esposa Susanne Gardiol faleceram, um inventário da propriedade declarou 20 léguas de vinho no valor de 25 rix-dólares cada, 10 léguas vazias de vinho, um funil e duas prensas antigas - tudo prova de que a família Marais transcendeu suas raízes camponesas para se tornar dignas proprietárias de terras.

A fazenda realmente começou a prosperar em meados do século XVIII sob a administração de Jacob Marais (e sua esposa, Maria Boeiens), neto de Charles Marais. Em 1764, ano em que foi erguido o Solar, as vinhas tinham 35.000 videiras e a adega continha 28 léguas de vinho.

Baldes de pressão, funis, prensas de vinho e “stukvate” enchiam a adega. Havia também uma sala de destilação separada com dois alambiques de aguardente e duas ligas de aguardente. Pieter Marais assumiu as rédeas de seu pai Jacob e, sob sua orientação, a fazenda também floresceu, com os vinhedos se expandindo para 55.000 videiras.

Daniel Hugo foi o próximo proprietário da fazenda depois de se casar com a terceira filha de Pieter, Rachel. Entre 1805 e 1831, a fazenda prosperou sob seus cuidados. Lá temos agora 60.000 videiras, que produziram cerca de 43 léguas de vinho. Durante este período, Daniel possuía duas adegas. O segundo estava em um pedaço de terra no adjacente Rust-en-Vrede.

Os marcos históricos de Plaisir de Merle atuam como marcos ao longo do tempo e como uma homenagem às gerações anteriores. Uma caminhada pela propriedade revela essa longa história em formas de empenas, símbolos e muito mais.

Jacob Marais (neto de Charles Marais) construiu a mansão em 1764, onde permanece até hoje como um dos primeiros e melhores exemplos da arquitetura holandesa do Cabo. No mesmo ano em que foi erguido o solar, a adega de Jacob continha 28 léguas de vinho (eram necessárias cerca de 1.000 videiras para fazer 1 légua de vinho).

Várias consolidações transformaram a propriedade no moderno Plaisir de Merle, que passou por casamento à família Hugo no século XIX. Foi quando foi construída a adega de 1831, e a quinta passou a produzir 43 léguas de vinho.

Depois de vários mandatos curtos, tornou-se propriedade da Stellenbosch Farmers' Winery (agora Distell) em 1964. Três décadas depois, uma nova adega foi encomendada com o briefing aos arquitetos para se inspirarem no patrimônio e no ambiente natural da fazenda. Incorporando madeira, água e aço inoxidável como elementos-chave, o edifício moderno foi concluído em 1993, rodeado por um fosso que resfria e isola o interior do edifício.

A casa senhorial também foi restaurada e serve como pousada e local de eventos para pequenos eventos. O interior apresenta uma versão elegante e eclética do antigo e do novo - uma estética de design que homenageia o longo legado da propriedade e seu espírito progressista e inovador.

O lynhuise ou longhouses foram erguidos por Frans de Wet (proprietário de Rust en Vrede) em 1821, embora a empena tenha a data de 1831. Outro marco histórico da propriedade é o moinho de água, uma réplica do que Jacob Marais construiu para sua esposa Maria em 1730.

A propriedade está repleta de elementos simbólicos que contam a história do artesanato, dificuldades, família e resistência. Na entrada do porão, o friso (ou brasão) criado pelo artista Jan Corewijn em 1993 presta homenagem aos primeiros pioneiros retratando visualmente sua vida e paixão.

O grifo forma uma parte importante do logotipo da Plaisir de Merle e também aparece na forma de bicas estilizadas semelhantes a gárgulas nos cantos dos porões. Meio leão e meio águia, o majestoso Gryphon é o rei dos animais e dos pássaros com a visão da águia e a força e coragem do leão. Reconhecido por seu poder e inteligência, o Grifo é considerado o guardião dos tesouros.

Mais informações acesse:

https://www.plaisir.co.za/

Referências:

“Vinho Capital”: https://vinhocapital.com/tag/wine/page/3/

“Wine”: https://www.wine.com.br/winepedia/enoturismo/western-cape-a-gigante-sul-africana/?doing_wp_cron=1611015613.7245669364929199218750#:~:text=Localizada%20a%20sudoeste%20da%20%C3%81frica,alguns%20de%20seus%20principais%20destaques.

“Wine ZO”: https://wine.co.za/wine/wine.aspx?WINEID=41878