sábado, 29 de abril de 2023

Quinta da Garrida Colheita Selecionada 2015

 

Quando costumo dizer, confesso, de forma demasiada, que degustar um vinho de caráter, de grande apelo regionalista é maravilhoso, eu não falo em vão, embora demasiadamente, admito, mas melhor ser redundante do que omisso.

Degustar um vinho da casta que é considerada a rainha tinta de Portugal, a Touriga Nacional, já é especial, mas quando fazemos a degustação oriunda da região do Dão, torna-se, ainda mais, especial, embora co-protagonize com outra casta emblemática, a Tinta Roriz, conhecida como a famosa Tempranillo.

Mas por que falei da alegria de degustar um Touriga Nacional do Dão? Explico! Porque a Touriga Nacional é oriunda de uma pequena região do Dão chamada Nelas. Então degustar um Touriga Nacional, mesmo que em blend, do Dão é como se guiássemos um carro ícone, de uma marca emblemática nas terras de onde ele fora concebido. É algo muito expressivo, especial.

Nelas

E mais especial ainda também quando você percebe, a olhos e rótulos vistos, que uma região, tão importante e emblemática, como o Dão, está de remodelando, crescendo, ganhando grandes contornos de modernidade, mas mantendo, com dignidade, suas tradições.

Tanta coisa boa que antecipa uma degustação que se torna um espetáculo à parte, fazendo de uma degustação uma verdadeira celebração, uma ode às tradições, ao terroir de regiões tão importante para os vinhos neste planeta como o Dão, por exemplo.

E nada melhor que degustar um Dão, depois de tanto tempo, o último foi o estupendo Covas do Frade Touriga Nacional Reserva 2015, que mesmo impulsiona a Portugal vitivinícola para o mundo e que traz, ao mesmo tempo, a personificação de características tão marcantes das regiões que figura neste país.

Então sem mais delongas vamos às apresentações do vinho! O vinho que degustei e gostei vem da emblemática região lusitana do Dão e se chama Quinta da Garrida Colheita Selecionada composta pelas castas Touriga Nacional e Tinta Roriz da safra 2015. Mas antes de falar desse vinho da tradicional Bacalhôa, falemos um pouco da história do Dão e a sua importância para Portugal.

Dão

A região vinícola do Dão, em Portugal, sempre foi um área nobre dos vinhos portugueses. Durante certo tempo, perdeu seu lugar para o Douro e Alentejo, amargando um segundo plano no mundo dos vinhos, mas está retornando com todo o orgulho que seus vinhos merecem pelas suas peculiaridades.

A região é formada por planície, com encostas suavemente onduladas, cercada de montanhas que a protegem da influência climática do Oceano Atlântico. Além das montanhas, há também muitos pinheiros na região do Dão, pinheiros que escondem os vinhedos e os protegem de intempéries.

Dão é nome da região e também do rio que se espalha por vertentes de suave ondulação, de cor verde e dourado por vontade do sol e onde o vinho, como nos amores antigos, nasce há muito tempo. Por exemplo, o Infante Dom Henrique levou-o nas caravelas para Ceuta, em 1415 onde com ele celebravam a vitória.

Atualmente, a Rota dos Vinhos do Dão está levando visitantes e turistas aos espaços oferecidos para apreciação da produção vinícola da região com cinco roteiros diferentes: Terras de Viseu, Silgueiros e Senhorim; Terras de Azurara e Castendo; Terras de Besteiros; Terras de Alva e Terras de Serra da Estrela.

Não é possível determinar com exatidão quando começou a prática da vitivinicultura no Dão. Sabe-se que é anterior à nacionalidade portuguesa, sendo claramente um reflexo das diferentes culturas que foram ocupando diversas zonas da Península Ibérica.

Em 18 de Setembro de 1908, uma Carta de Lei estabelece formalmente a Região Demarcada do Dão. O regulamento para a produção e comercialização dos vinhos aí produzidos surge dois anos volvidos, em 25 de Maio de 1910, com o Decreto regulamentador. Com esta decisão, o Dão tornou-se a primeira região de vinhos não licorosos a ser demarcada e regulamentada no nosso país.

Carta de Lei da Região Demarcada do Dão

Os fatores de distinção da região demarcada do Dão, são:

1-      Prestígio: os vinhos do Dão eram comercializados a preços mais elevados que a média nacional, beneficiando dos elogios dos técnicos agrícolas da época, como António Augusto Aguiar ou Cincinato da Costa. Além disso, os vinhos do Dão, em finais do século XIX, conseguiram obter distinções nas grandes exposições nacionais e internacionais da altura, em Lisboa, Londres, Berlim e Paris.

2-      Grandes Produtores: a região do Dão beneficiava da presença de grandes produtores de vinho, sendo que algumas propriedades eram vistas como pioneiras e mesmo modelo a nível nacional. Destacavam-se os nomes Casa da Ínsua, Conde de Villar Seco, Conde de Santar ou José Caetano dos Reis.

3-      Influência Política: entre 18 de Setembro de 1908 (data da primeira delimitação da região) e 25 de Maio de 1910 (data da regulamentação) foi exercida uma intensa pressão social e política pelas forças sociais e políticas da região, nos jornais locais e nacionais, no Parlamento, em reuniões setoriais.

O Dão ficou desde sempre afamado pela produção de vinhos de mesa com um perfil muito particular: vinhos nobres, elegantes, boas escolhas para acompanhar variadas criações gastronômicas, com elevado potencial de guarda e até com algumas semelhanças com a prestigiada região francesa da Borgonha.

Já no século XIX era significativa a exportação de vinhos do Dão para França e Brasil. Todas estas características foram sendo reconhecidas e apreciadas pelos consumidores, com o Dão a assumir-se como região privilegiada no país para a produção de vinho.

Todavia, a partir das décadas de 1960 e 1970 do século XX, a produção dos vinhos do Dão foi-se deteriorando, uma vez que se começou a apostar mais no volume de produção e menos na qualidade. As adegas cooperativas dominavam o mercado e o Dão ressentiu-se de toda a orientação seguida nessa época.

Depois de certa “travessia do deserto”, o Dão foi retomando o caminho mais correto, sobretudo a partir de meados da década de 1990, momento em que se começou a verificar uma melhoria muito significativa da generalidade dos vinhos da região, o que tem permitido um renascimento fantástico, muito devido ao investimento de pequenos vitivinicultores na região donde surgiram os vinhos de Quinta.

Às novas práticas vitícolas e às novas tecnologias de vinificação aliou-se um espírito empreendedor de querer fazer melhor, com resultados que têm provado que as novas opções têm sido as mais corretas. Alguns produtores privados que têm conseguido vinhos de quinta de qualidade já reconhecida entre as mais importantes empresas de vinho portuguesas estão representadas no Dão.

A Região Demarcada do Dão possui 376 mil hectares, dos quais 20 mil hectares são destinados exclusivamente às vinhas, abrigando vários distritos, como Coimbra, onde se localizam Arganil, Oliveira do Hospital e Tábua; Guarda, onde estão Aguiar da Beira, Fornos de Algodres, Gouveia e Seia; e Viseu, onde se concentram Carregal do Sal, Mangualde, Mortágua, Nelas, Penavaldo, Castela, Santa Comba Dão e Sátão.



Dão

A Região Demarcada do Dão é caracterizada por um relevo acidentado, com solo predominantemente granítico e possuindo terroir e clima propícios para a produção de boas uvas, principalmente devido à sua larga amplitude térmica.

Entre suas castas, as uvas colhidas na Região Demarcada do Dão apresentam alguns destaques, como por exemplo, a Touriga Nacional, a casta mais nobre da região, produzindo vinhos com bom teor alcoólico, trazendo aromas intensos, encorpados, com taninos nobres e propícios ao envelhecimento mais longo, tornando o paladar ainda melhor depois de maturados.

A Alfrocheiro Preto é outra das castas nobres, conferindo aos vinhos aromas finos, ganhando complexidade ao longo dos anos em que amadurece, e a Jaen, com teor alcoólico regular, mas com aromas intensos de fruta madura, taninos de grande maciez e de altíssima qualidade. Entre as castas brancas, a mais nobre e a Encruzado, com bom teor alcoólico, trazendo aromas complexos, frescos e relativamente secos.


O Dão é o berço da Touriga Nacional, famosa uva de Portugal e uma das principais componentes do vinho do Porto. De tão marcante que é, os vinhos da região demarcada devem ter, segundo a regulamentação vigente, no mínimo, 20% de Touriga Nacional em sua composição. Mas além da Touriga Nacional, que é a mais nobre, outras variedades são cultivadas, tanto tintas quanto brancas.

As tintas

Alfrocheiro: segundo especialistas, essa variedade contribui para o equilíbrio entre a acidez e a doçura do vinho dão.

Aragonês: também conhecida como Tinta Roriz, essa cepa confere potencial de guarda ao vinho (uma das principais características do vinho do Dão), além de dar equilíbrio entre corpo e a acidez.

Jaen: essa variedade é geralmente usada para trazer aromas para o vinho, pois tem um perfume intenso e, ao mesmo tempo, delicado.

As brancas

Encruzado: é a casta branca mais valorizada da região, que produz vinhos frescos e que, apesar disso, tem potencial para envelhecimento.

Malvasia fina: outra casta branca cultiva na região, de aromas simples.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um rubi com tons atijolados, bem granada, quase alaranjados, denotando seus 8 anos de garrafa, com lágrimas finas, lentas e em profusão.

No nariz notou-se um vinho já em decadência, mas apresentando notas de frutas secas, algo de uvas passas, além de discretos aromas de frutas pretas maduras, com nuances florais, madeira igualmente discretas, que aportam baunilha, cacau e caramelo. Traz também especiarias, couro, tabaco e carpete.

Na boca se mostra leve, macio e elegante, o tempo encarregou de deixa-lo dessa forma. As notas de frutas secas e pretas maduras, já em geleia também se faz perceber, bem como a madeira, graças aos 12 meses em barricas de carvalho além de leve tosta e chocolate. É alcoólico, mas não incomoda, entregando ainda algum volume em boca, com taninos já domados, uma acidez ainda presente, com toques herbáceos e terra molhada. Tem final de média a longa persistência.

Tudo conspirou a favor desse belíssimo Quinta da Garrida Colheita Selecionada 2015! Tudo! A história, as tradições, tudo temperou com prazer e celebração a degustação a parte que culmina, o cume da alegria. É a prova cabal de que não é apenas a degustação, o que já é mágico, mas tudo que circunda esse momento, como costumo dizer: degustamos história, degustamos o abnegado trabalho que antecede o engarrafamento desta poesia líquida. É isso mesmo! Uma poesia líquida que nos inspira, que acalenta o corpo e a alma. Não se é feliz o tempo todo, mas quando se tem ao lado uma garrafa de vinho estamos e ficamos sim, felizes. Um vinho expressivo, mas macio pelo tempo, um paladar distinto e marcante e, por falar em tempo, 2015 foi um ano excepcional para todo o Portugal e é mais um ponto que faz a singularidade da degustação. Que venha mais Dão! Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Quinta da Bacalhôa:

Bacalhôa Vinhos de Portugal foi fundada em 1922, sob a denominação João Pires & Filhos. Em 1998 o controle da empresa foi para José Berardo, que adquiriu novas propriedades e celebrou um acordo de parceria com o grupo Lafitte Rothschild.

No ano de 2008 o grupo Lafitte Rothschild adquiriu uma participação na empresa, que adquiriu mais propriedades e uma participação maioritária na vinícola Aliança. O Comendador José Berardo, sendo o principal acionista, prosseguiu com a missão de revolucionar na gestão da empresa, investindo no plantio de novas vinhas, na modernização das adegas e na aquisição de novas propriedades, junto com a imprescindível parceria com o Grupo Lafitte Rothschild na Quinta do Carmo.

Em 2007 a Bacalhôa tornou-se a maior acionista na Aliança, um dos produtores mais prestigiados nas categorias de espumantes de alta qualidade, aguardentes e vinhos de mesa. No ano seguinte, a empresa comprou a Quinta do Carmo, aumentando assim para 1200 ha de vinhas a sua exploração agrícola.

A Bacalhôa dispõe de adegas nas regiões mais importantes de Portugal: Alentejo, Península de Setúbal (Azeitão), Lisboa, Bairrada, Dão e Douro. O projeto implementado nas diversas quintas sob o tema “Arte, Vinho, Paixão” visa surpreender as expectativas mais exigentes.

Das vinhas ao vinho, todo o processo vitivinícola é envolvido em vários cenários que incluem a tradição e modernidade, com exposições artísticas diversas, da pintura à escultura, nunca esquecendo as magníficas obras naturais.

Com uma capacidade total de 20 milhões de litros, 15.000 barricas de carvalho e uma área de vinhas em produção de cerca de 1.200 hectares, a Bacalhôa Vinhos de Portugal prossegue a sua aposta na inovação no setor, tendo em vista a criação de vinhos que proporcionem experiências únicas e surpreendentes, com uma elevada qualidade e consistência.

A Bacalhôa Vinhos de Portugal, S.A., uma das maiores e mais inovadoras empresas vinícolas em Portugal, desenvolveu ao longo dos anos uma vasta gama de vinhos que lhe granjeou uma sólida reputação e a preferência de consumidores nacionais e internacionais. Presente em 7 regiões vitícolas portuguesas, com um total de 1200ha de vinhas, 40 quintas, 40 castas diferentes e 4 centros vínicos (adegas), a empresa distingue-se no mercado pela sua dimensão e pela autonomia em 70% na produção própria.

A cada uma das entidades que constituem a Bacalhôa Vinhos de Portugal, S.A. - Aliança Vinhos de Portugal, Quinta do Carmo e Quinta dos Loridos - corresponde um centro de produção com características próprias e um património com intrínseco valor cultural. É à dinâmica gerada pelo cruzamento destas várias identidades, explorada com recurso à tecnologia mais atual e aos conhecimentos de uma equipa de renome, que a Bacalhôa Vinhos de Portugal, S.A. deve a sua capacidade única no competitivo mercado português de oferecer o vinho perfeito para qualquer ocasião.

Mais informações acesse:

https://www.bacalhoa.pt/

Referências:

Wikipedia, em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Quinta_da_Bacalhoa

“Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/regiao-do-dao-portugal/

“Clube Vinhos Portugueses”: https://www.clubevinhosportugueses.pt/turismo/caraterizacao-da-regiao-do-dao-2/

“Winer”: http://www.winer.com.br/vinho-dao/

“Comissão Vitivinícola do Dão”: https://www.cvrdao.pt/pt/regiao-demarcada/

 

 











Nenhum comentário:

Postar um comentário