domingo, 16 de julho de 2023

Cavas do Vale Riesling 2020

 

Sempre gostei dos eventos de degustação de vinhos! A minha percepção era de que com esses eventos, pudéssemos ter acesso ao maior número possível de produtores, logo de rótulos, de regiões, além do escambo de informações, consequentemente conhecimento.

E aproveitei tais eventos em demasia, intensamente. Infelizmente atualmente os valores de ingressos para esses eventos aumentaram de forma significativa. Os valores mais do que dobraram nos últimos anos.

Não quero entrar no mérito dos altos valores, acredito que os organizadores dos eventos tenham seus altos custos e que tem de repassar aos enófilos, mas certos valores não fazem simplesmente sentido. De uma edição para outra aumentar o dobro? Paisagens para “selfies”, é custo. Belezas, estéticas, gera custo! Ninguém está nos eventos, ou pelo menos deveria, para isso, mas sim para degustar os vinhos!

Creio ser um total desserviço para a democratização da cultura do vinho valores tão altos. Fora os valores ofertados dos vinhos expostos para degustação! O que deveria ser barateado para fomentar o enófilo comprar, afugenta-os de comprar. É um cenário alarmante.

Mas, como disse, não vou entrar no mérito da questão, apenas mencionei os “tempos áureos” dos eventos de degustação, porque lembro-me de um que participei chamado “Wine Out”, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro onde tive a alegria de conhecer vários produtores, principalmente nacionais.

Confesso que naquela época o meu leque de opções de rótulos nacionais era baixo, conhecia poucos produtores, mas aquele evento me trouxe, me mostrou alguns grandes produtores, com grandes vinhos.

E pequenos produtores com produções limitadas! E uma delas era a Cavas do Vale, localizada na emblemática região da Serra Gaúcha, no sul do Brasil. Alguns rótulos me chamaram a atenção pela safra que variavam entre 2005 e 2008. Vinhos de idade, evoluídos e de uma personalidade ímpar.



Tive a alegria de degustar Tannat, Cabernet Sauvignon das safras 2005 e 2008 e os vinhos estavam ótimos, cheios de vida e plenitude, que evoluíram maravilhosamente. Mas não ficou apenas nos tintos evoluídos a minha admiração, mas um branco também, cuja casta nunca havia degustado: Riesling.

De imediato chamou a atenção a cor do vinho. Era um amarelo dourado, brilhante! Era uma cor mesmerizante. Depois das degustações dos tintos o branco trouxe a sequência ilógica, haja vista que a sequência da degustação deveria ser ao contrário. Que seja! O que importa era a oportunidade da degustação.

O degustei e gostei! Gostei todos os rótulos expostos da Cavas do Vale, mas infelizmente os valores estavam caros para mim e não pude comprar, mas determinei como uma meta: comprar e degustar todos os rótulos desse produtor!

Anos depois, os encontrei em um e-commerce importante de vendas de vinhos e a valores compatíveis e não hesitei comprei o Cavas do Vale Merlot Reserva 2008! Estava, claro, ótimo! Mas o Riesling estava em minha mente, precisava tê-lo na adega!

Mas não conseguia encontra-lo! Até que um dia descobri um site que estava promovendo algumas promoções oferecendo cupons de descontos e eis que encontro o Riesling da Cavas do Vale! O vinho, com os devidos descontos e valor baixo, saiu na faixa dos R$ 50,00! Comprei!

Finalmente hoje o terei em taça! Minha primeira degustação “efetiva” de um Riesling nacional! O vinho que degustei e gostei veio da Serra Gaúcha, mais precisamente do Vale dos Vinhedos, e se chama, claro, Cavas do Vale da variedade Riesling da safra 2020, a “safra das safras”. Para não perder o costume falemos de Serra Gaúcha e Riesling que ainda é pouco cultiva em nossas terras. 

Serra Gaúcha

Até o final do século XIX, a região da Serra Gaúcha era apenas passagem de tropeiros e habitada por alguns índios nativos, até que, um belo dia, a Coroa Imperial Brasileira resolveu que a região seria colonizada por europeus.

Em 1875, imigrantes italianos, em sua maioria provenientes do Veneto, chegaram à região. A princípio, iniciaram uma agricultura de subsistência, mas rapidamente passaram à especialidade deles: o cultivo de uvas para a produção de vinhos. Até os anos 1980, as uvas cultivadas eram vendidas para vinícolas locais, que produziam bebida apenas para o consumo familiar.

Posteriormente, vieram os alemães, que ajudaram a compor a cultura, a culinária e a miscigenação da região. Todas as influências europeias perduram até hoje, inclusive na arquitetura das cidades que a compõem.

Situada a nordeste do Rio Grande do Sul, a região da Serra Gaúcha é a grande estrela da vitivinicultura brasileira, destacando-se pelo volume e pela qualidade dos vinhos que produz. Para qualquer enófilo indo ao Rio Grande do Sul, é obrigatório visitar a Serra Gaúcha, especialmente Bento Gonçalves.

Serra Gaúcha

A região da Serra Gaúcha está situada em latitude próxima das condições geoclimáticas ideais para o melhor desenvolvimento de vinhedos, mas as chuvas costumam ser excessivas exatamente na época que antecede a colheita, período crucial à maturação das uvas. Quando as chuvas são reduzidas, surgem ótimas safras, como nos anos 1999, 2002, 2004, 2005 e 2006.

A partir de 2007, com o aquecimento global, o clima da Serra Gaúcha se transformou, surgindo verões mais quentes e secos, com resultados ótimos para a vinicultura, mas terríveis para a agricultura. Desde 2005 o nível de qualidade dos vinhos tintos vem subindo continuamente, graças a esta mudança e também do salto de tecnologia de vinhedos implantado a partir do ano 2000.

As principais variedades uvas tintas são: Alicante Bouschet, Arinarnoa, Cabernet Sauvignon, Egiodola, Marselan, Merlot e Pinot Noir. Já as castas brancas as principais são: Chardonnay, Moscatel, Prosecco e Riesling Itálico.

Atualmente, a Serra Gaúcha é a maior produtora de vinhos e espumantes do Brasil, com mais de trinta vinícolas, e grande atrativo para os apreciadores das bebidas. Situado entre as cidades de grande destaque na produção de vinhos, como Caxias do Sul, Garibaldi, Monte Belo do Sul e Bento Gonçalves, com grande destaque para a última, o Vale dos Vinhedos é um roteiro turístico obrigatório para os enófilos.

Vale dos Vinhedos e a sua Indicação de Procedência

O Vale dos Vinhedos localiza-se no centro do triângulo formado pelas cidades de Bento Gonçalves (nordeste), Monte Belo do Sul (noroeste) e Garibaldi (sul). O Vale dos Vinhedos compreende a parte da bacia hidrográfica do Rio Pedrinho, situada a montante da foz de um córrego afluente deste e situado a sudeste da comunidade de Vale Aurora, no município de Bento Gonçalves.

A parte do vale a jusante é denominada de Vale Aurora. A maior parte da área do Vale dos Vinhedos fica localizada em território do município de Bento Gonçalves, com 55% do total, e a menor parte fica localizada em território de Monte Belo do Sul, com 8% na porção noroeste.

A parte sul do Vale pertence ao município de Garibaldi, com 37% da área total. Parte da zona urbana de Bento Gonçalves situa-se dentro do perímetro do Vale, haja vista que a linha divisória de águas entre as bacias do Rio Pedrinho e do Rio Buratti passa pela parte oeste da cidade.

Localizam-se ao longo desta linha, ou próximo desta, a pista do Aeroclube de Bento Gonçalves, a Estação Rodoviária de Bento Gonçalves, o Estádio da Montanha e a Estação Ferroviária de Bento Gonçalves.

Vale dos Vinhedos

O Vale dos Vinhedos é a primeira região vinícola do Brasil a obter Indicação de Procedência de seus produtos, exibindo o Selo de Controle em vinhos e espumantes elaborados pelas vinícolas associadas.

Criada em 1995, a partir da união de seis vinícolas, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale), já surgiu com o propósito de alcançar uma Denominação de Origem. No entanto, era necessário seguir os passos da experiência, passando primeiro por uma Indicação de Procedência.

O pedido de reconhecimento geográfico encaminhado ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) em 1998 foi alcançado somente em 2001. Neste período, foi necessário firmar convênios operacionais para auxiliar no desenvolvimento de atividades que serviram como pré-requisitos para a conquista da Indicação de Procedência Vale dos Vinhedos (I.P.V.V.). O trabalho resultou no levantamento histórico, mapa geográfico e estudo da potencialidade do setor vitivinícola da região. Já existe uma DOC (Denominação de Origem Controlada) na região.

Sua norma estabelece que toda a produção de uvas e o processamento da bebida seja realizada na região delimitada do Vale dos Vinhedos. A DO também apresenta regras de cultivo e de processamento mais restritas que as estabelecidas para a Indicação de Procedência (IP), em vigor até a obtenção do registro da DO, outorgado pelo INPI.

DO Vale dos Vinhedos

O Vale dos Vinhedos foi a primeira região entregue aos imigrantes italianos, a partir de 1875. Inicialmente desenvolveu-se ali uma agricultura de subsistência e produção de itens de consumo para o Rio Grande do Sul.

Devido à tradição da região de origem das famílias imigrantes, o Veneto, logo se iniciaram plantios de uvas para produção de vinho para consumo local. Até a década de 80 do século XX, os produtores de uvas do Vale dos Vinhedos vendiam sua produção para grandes vinícolas da região. A pouca quantidade de vinho que produziam destinava-se ao consumo familiar.

Esta realidade mudou quando a comercialização de vinho entrou em queda e, consequentemente, o preço da uva desvalorizou. Os viticultores passaram então a utilizar sua produção para fazer seu vinho e comercializá-lo diretamente, tendo assim possibilidade de aumento nos lucros.

Para alcançar este objetivo e atender às exigências legais da Indicação Geográfica, seis vinícolas se associaram, criando, em 1995, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale).

Atualmente, a Aprovale conta com 24 vinícolas associadas e 19 associados não produtores de vinho, entre hotéis, pousadas, restaurantes, fabricantes de produtos artesanais, queijarias, entre outros. As vinícolas do Vale dos Vinhedos produziram, em 2004 9,3 milhões de litros de vinhos finos e processaram 14,3 milhões de kg de uvas viníferas.

Detalhes da Denominação de Origem do Vale dos Vinhedos

1 - A produção de uvas e a elaboração dos vinhos ocorrem exclusivamente na região delimitada do Vale dos Vinhedos, uma área de 72,45 km2 localizada nos municípios de Bento Gonçalves, Garibaldi e Monte Belo do Sul.

2 - Existem requisitos específicos para de cultivo dos vinhedos, produtividade e qualidade das uvas para vinificação;

3 - Os espumantes finos são elaborados exclusivamente pelo “Método Tradicional” (segunda fermentação na garrafa), nas classificações Nature, Extra-brut ou Brut; para este produto as uvas Chardonnay e/ou Pinot Noir são de uso obrigatório;

4 - Nos vinhos finos brancos, a uva Chardonnay é de uso obrigatório, podendo ter corte com a Riesling Itálico;

5 - O uso da uva Merlot é obrigatória para os vinhos finos tintos da DO, os quais podem ter cortes com vinhos elaborados com as uvas Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Tannat;

6 - Os produtos que passam por madeira envelhecem exclusivamente em barris de carvalho;

7 - Para chegar ao mercado, os vinhos brancos passam por um período mínimo de envelhecimento de 6 meses; no caso dos vinhos tintos são 12 meses; os espumantes finos passam por um período mínimo de 9 meses em contato com as leveduras, na fase de tomada de espuma;

8 - Os vinhos apresentam características analíticas e sensoriais específicas da região e somente são autorizados para comercialização os produtos que obtenham do Conselho Regulador da DO o atestado de conformidade em relação aos requisitos estabelecidos no Regulamento de Uso.

Riesling

A casta Riesling é uma das grandes uvas brancas da Alemanha e uma das melhores variedades do mundo todo, capaz de conferir ao vinho incrível elegância e complexidade e uma habilidade inigualável de expressar o terroir.

Seus cachos apresentam coloração verde amarelada com tamanho médio e delicado. Os vinhos elaborados com a casta costumam ter acidez bastante destacada e são extremamente aromáticos. Os melhores brancos da casta costumam ser os varietais. A uva Riesling possui duas variações, sendo a Renana a de maior qualidade e a Itálica a que possui menor grau de expressividade.

Riesling

Com textura bastante envolvente, os vinhos elaborados a partir da casta Riesling podem ser secos, meio doces ou bem doces. O que é de conhecimento sobre o cultivo da uva, é que para originar os maravilhosos e extraordinários vinhos de sobremesa, ocorrem dois processos bastante distintos.

O primeiro processo é o ato de congelar a uva antes da colheita, sendo conhecido como “eiswen” – ou vinhos de gelo. Nele a casta Riesling permanece vários dias congeladas (enquanto madura), ainda no vinhedo, por conta das baixas temperaturas em que fica exposta.

Logo após serem colhidas, as uvas passam pelo processo de prensagem, tornando o vinho muito mais concentrado, já que haverá menor quantidade de água. Nesse caso os melhores exemplares são encontrados no Canadá, graças ao seu clima frio e com bastante presença de geadas.

O outro processo é quando ocorre a podridão nobre, momento em que o fungo “Botrytis Cinerea” fura a casca da uva e alimenta-se da água da casta, deixando-a desidratada e exaltando os açúcares presentes na sua composição. As uvas são colhidas e levadas para vinificação, tornando o vinho muito mais especial.

Alguns produtores estampam “dry” (seco) ou “sweet” (doce), mas isso não é suficiente perto dos tantos níveis de doçura da Riesling. Ela pode ser “medium dry” (vinho meio seco), “medium sweet” (meio doce) e por aí vai.

A forma de identificar essas propostas de vinhos Riesling é verificar a graduação alcoólica – quanto menor for mais doce será. Isso acontece porque durante a fermentação, o açúcar natural da uva vira álcool (se a conversão não acontece, permanece doce e menos alcoólico). Qualquer Riesling com mais de 11% é seco, pois quase todo seu açúcar foi transformado em álcool.

Por possuir presença de açúcar residual e tempos de guarda diferentes, os vinhos elaborados com a casta Riesling possuem maior atenção na hora da harmonização, sendo na maioria das vezes melhores quando degustados e apreciados sem a companhia de pratos.

Seus vinhos podem ser sublimes e costumam durar muito tempo. Além da Alemanha, também produz vinhos excelentes na Áustria, Alsácia e também em alguns países do Novo Mundo, como Nova Zelândia, África do Sul e Austrália.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um lindo e atraente amarelo dourado e brilhante, tendendo para uma tonalidade ouro, bem como discretos tons esverdeados, trazendo também algumas lágrimas finas e rápidas.

No nariz traz aromas frescos e delicados de frutas de polpa branca, de frutas cítricas, com destaque para lima, abacaxi, limão siciliano, pêssego, maçã-verde e um sútil toque de grama cortada, com um floral que traz a percepção de frescor e leveza.

Na boca a sensação de frescor e leveza se faz real e pleno, com as notas frutadas protagonizando divinamente, como no aspecto olfativo, uma nota mineral e herbácea, tudo isso envolto em uma acidez vibrante e saliente que corrobora a refrescância, com um final envolvente, de média persistência.

Há um longo caminho a percorrer para o Brasil se tornar um polo de referência na produção vitivinícola? Sim! Somos muitos jovens na produção de vinhos finos no Brasil. Mas vejo, por intermédio de rótulos como este, da Cavas do Vale que, cada vez mais expressam a tipicidade e os terroirs de regiões tradicionais como a Serra Gaúcha e o Vale dos Vinhedos. Vejo um futuro promissor na qualidade de seus vinhos, de nossos vinhos, apesar do cenário tarifário ser totalmente adverso. Que possamos ter saúde para testemunhar as necessárias redenções do Brasil vitivinícola e dos seus rótulos. Tem 12,2% de teor alcoólico.

Sobre a Cavas do Vale:

A Cavas do Vale é uma vinícola pequena, familiar, artesanal, que elabora vinhos a partir de uvas próprias cultivadas no coração do Vale dos Vinhedos, pelo método tradicional e pipas de madeiras, com a menor intervenção possível de maquinários e produtos enológicos.

A sua história começa em 1954 quando Lucindo Brandelli inicia uma pequena produção de vinhos no porão de casa para consumo próprio, logo a paixão pela vitivinicultura cresceu e o cultivo de uva e produção de vinho tornou-se o negócio da família.

Em 2005, dando continuidade ao projeto do patriarca, um de seus filhos, Irineu Brandelli, enólogo com mais de 30 anos de experiência, funda a Cavas do Vale, elaborando vinhos das uvas Merlot, Cabernet e Tannat e já na primeira safra é brindado pela natureza com a histórica safra de 2005, que originou o vinho Gran Reserva Lucindo Brandelli.

Hoje a vinícola Cavas do Vale se destaca pelos seus vinhos de guarda, o Cavas do Vale Reserva Safra 2008 e o Gran Reserva Lucindo Safra 2005, vinhos vivos, ricos, complexos e com muitos anos de vida pela frente e que refletem ao máximo o terroir do Vale dos Vinhedos.

Mais informações acesse:

https://loja.cavasdovale.com.br/

Referências:

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=SERRAGAUCHA

“Blog Sonoma”: https://blog.sonoma.com.br/o-sucesso-da-merlot-no-brasil/amp/

“Vinho IG”: https://vinho.ig.com.br/2010/08/17/merlot-brasileiro-e-melhor-do-mund.html

“Wikipedia”: https://pt.wikipedia.org/wiki/Vale_dos_Vinhedos#Denomina%C3%A7%C3%A3o_de_Origem_Vale_dos_Vinhedos

“Viajali”: https://www.viajali.com.br/vale-dos-vinhedos/

“Embrapa”: https://www.embrapa.br/indicacoes-geograficas-de-vinhos-do-brasil/ig-registrada/do-vale-dos-vinhedos

“Blog Imobiliário”: https://blog.imobiliariarohde.com.br/serra-gaucha-conheca-a-historia-e-as-caracteristicas-da-regiao/

“Blog Art des Caves”: https://blog.artdescaves.com.br/conheca-serra-gaucha-maior-produtora-de-vinhos-pais

“Blog Sonoma”: https://blog.sonoma.com.br/como-escolher-um-riesling/amp/

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/riesling

 


 























sábado, 15 de julho de 2023

Colinas de Ançã Reserva Baga 2015

 

Parece que foi ontem que eu conhecia, pela primeira vez, a região da Bairrada, em um programa, dos raros, na televisão chamado “Um brinde ao vinho” que era apresentado pela Cecília Aldaz, no Canal Globosat.

Isso foi em 2018, creio e quando descobri assistindo ao programa me perguntei imediatamente: como não conhecia a Barrada antes? Pois é sempre vem à tona aquela marca de que não conhecemos quase nada no vasto universo do vinho, ainda tem muito a explorar.

E essa pergunta ecoou em minha mente, quando, não satisfeito apenas com o conteúdo apresentado no programa de televisão, comecei a pesquisar na “grande rede” um pouco mais sobre a história da região e que com isso foi aguçando o meu interesse pela região.

Pensei, na realidade fui taxativo: Precisava garimpar rótulos da Bairrada, da tão falada Baga, casta tinta emblemática da região. E o fiz. Os que eu achei de início estava um tanto quanto inacessível, distante de mim sob o aspecto financeiro. Os valores estavam demasiados altos.

Mas não esmoreci. Precisava continuar tentando, quem sabe eu conseguiria um vinho de atrativo custo X benefício. E quando estava em um supermercado na minha cidade, fazendo as compras convencionais, decidi, sem maiores pretensões, passar na adega do mercado.

Já conhecia basicamente os vinhos de lá, pela assídua frequência, então esperava não encontrar nada de novo. Enganei-me redondamente!  Avistei um rótulo, um tanto quanto interessante, esteticamente falando e o valor estava atraente e quando olhei com mais atenção vi o nome “Bairrada” estampado!

Era o vinho que eu precisava para inaugurar as degustações de rótulos dessa região. O produtor era o Adega de Cantanhede. Não conhecia também à época e como o valor estava muito bom, decidi leva-lo e logo degusta-lo. O nome do vinho era Marquês de Marialva Colheita Selecionada tinto da safra 2015. Não era um varietal da Baga, mas trazia a sua predominância no blend igualmente típico da região. Adorei o vinho!

E no mesmo local, no mesmo supermercado, passei a encontrar outros rótulos desse produtor que passei a gostar, não somente pelos belos rótulos, mas também pelos valores justos e possíveis, acessível ao meu humilde orçamento. E foi expandindo, descobrindo seu vasto portfólio em outros supermercados, sites etc.

Até que cheguei ao Moinho de Sula Reserva da safra 2014, um 100% Baga! Finalmente em sua versão varietal! E a experiência foi magnífica e a constatação da tão famosa longevidade da variedade se constatou com 8 anos de garrafa quando o degustei. Depois foi o Conde de Cantanhede Reserva 2015 que foi degustado também com 8 anos de vida. Plenitude e personalidade resumem a sua condição.

É claro que o carinho pela Baga se edificava a cada experiência, a cada rótulo. Então continuei a buscar novos vinhos com a casta. E me surgiu o vinho que degustei e gostei de hoje. E que belíssima experiência! Mais uma! Falo do Colinas de Ançã Reserva, um 100% Baga, da safra 2015. Para ilustrar a minha relação afetuosa com a Bairrada, vamos de história.

Bairrada

Localizada na região central de Portugal e se estendendo até o Oceano Atlântico, especificamente entre as cidades de Coimbra e Águeda, a região vinícola da Bairrada – cujo nome é uma referência ao solo argiloso que a compõe – tem clima temperado bastante favorável às vinhas.

A Bairrada é uma daquelas regiões portuguesas com grande personalidade. Apesar de sua longa história vínica, a certificação da região é recente. A Denominação de Origem Controlada (DOC Bairrada) para vinhos tintos e brancos é de 1979 e para espumantes de 1991. A Região Demarcada da Bairrada possui também uma Indicação Geográfica: IG Beira Atlântico.



Bairrada

António Augusto de Aguiar estudou os sistemas de produção de vinhos e definiu as fronteiras da região. Em 1867, vinte anos mais tarde, fundou a Escola Prática de Viticultura da Bairrada. Destinada a promover os vinhos da região e melhorar as técnicas de cultivo e produção de vinho.

O primeiro resultado prático da escola foi a criação de vinho espumante em 1890. E foi com os espumantes que a região conquistou o mundo. Frutados, com um toque mineral e boa estrutura esses vinhos tornaram-se referencias e, até hoje, fazem da Bairrada uma das maiores regiões produtoras de espumantes de Portugal. Com o passar do tempo, as criações tintas ganharam espaço.

Muito por conta do que os produtores têm feito com a Baga, casta autóctone da região. O grande responsável pelo fortalecimento internacional da região é o engenheiro Luís Pato. Conhecido como o "Mr. Baga", Pato tem um trabalho minucioso sobre as uvas, tudo para conseguir um vinho autêntico com o mínimo de interferência externa. A uva Baga, uma das principais uvas nativas de Portugal, é capaz de oferecer enorme complexidade aos rótulos que compõe.

Demonstrando muita classe e estrutura, a variedade da casta de tintos é única no seu valor e possui um fantástico potencial de envelhecimento, que atua com o vinho na garrafa durante anos após sua fabricação. Além de refinados e inimitáveis, os vinhos produzidos com esta variedade de uva apresentam muita personalidade e distinção.

No passado, a Baga era conhecida por ser empregada na produção de vinhos rústicos, excessivamente ácidos e tânicos e de pouca concentração. Porém, após a chegada do genial Luís Pato, conhecido como o “revolucionário da Bairrada” e maior expoente desta variedade, a casta da uva Baga foi “domesticada”.

Decreto-Lei n.º 70/91 estabeleceu as castas autorizadas e recomendadas para produção de vinhos na DOC Bairrada. A lei descreve as diretrizes para elaboração dos vinhos tintos, rosés, brancos e espumantes. Para a produção de tintos e rosés com o selo DOC Bairrada, as castas recomendadas são Baga (ou Tinta Poeirinha), Castelão, Moreto e Tinta-Pinheira. No conjunto ou separadamente, deverão representar 80% do vinhedo, não podendo a casta Baga representar menos de 50%. As castas autorizadas são Água-Santa, Alfrocheiro, Bastardo, Jaen, Preto-Mortágua e Trincadeira.

Para os vinhos brancos as castas recomendadas são Maria-Gomes (também conhecida como Fernão Pires), Arinto, Bical, Cercial e Rabo-de-Ovelha, no conjunto ou separadamente com um mínimo de 80% do encepamento: e as autorizadas são Cercialinho e Chardonnay.

O vinho base para espumantes naturais devem ser elaborados através das castas recomendadas Arinto, Baga, Bical, Cercial, Maria-Gomes e Rabo-de-Ovelha; ou das autorizadas Água-Santa, Alfrocheiro-Preto, Bastardo, Castelão, Cercialinho, Chardonnay, Jean, Moreto, Preto-Mortágua, Tinta-Pinheira e Trincadeira.

Em 2012 foi publicada a Portaria n.º 380/2012, que atualiza a lista de castas permitidas para elaboração dos vinhos DOC Bairrada.  Foi incluída recentemente uma autorização para o cultivo das castas internacionais Cabernet Sauvignon, Syrah, Merlot, Petit Verdot e Pinot Noir e das portuguesas Touriga Nacional, Castelão, Rufete, Camarate, Tinta Barroca, Tinto Cão e Touriga Franca. Vinhos elaborados com castas que não estejam relacionadas no Decreto-Lei, não podem receber o selo de DOC Bairrada e são rotulados com o selo Vinho Regional Beira Atlântico.

A localização da DOC Bairrada e suas características de clima e solo fazem dela uma região única. Paralelamente, o plantio das vinhas é feito em lotes descontínuos de pequenas proporções e faz divisa com outras culturas e outros usos de solo. Com isso, seus vinhos são de terroir, ou seja, o local onde a uva é plantada influencia diretamente em suas particularidades. Delimitada a Sul, pelo rio Mondego, a Norte pelo rio Vouga, a Leste pelo oceano Atlântico e a Oeste pelas serras do Buçaco e Caramulo, a região é composta por planalto de baixa altitude.

O solo é predominantemente argilo-calcário, mas há algumas poucas regiões com solos arenosos e de aluvião. O clima é mediterrânico moderado pelo Atlântico. A região recebe forte influência marítima do oceano Atlântico. Os invernos são frescos, longos e chuvosos e os verões são quentes, suavizados pela presença de ventos frequentes nas regiões junto ao mar. A área se beneficia de grande amplitude térmica na época do amadurecimento das uvas. A variação que pode chegar aos 20ºC de diferença entre o dia e à noite.

Baga

A uva Baga, uma das principais uvas nativas de Portugal, é capaz de oferecer enorme complexidade aos rótulos que compõe. Demonstrando muita classe e estrutura, a variedade da casta de tintos é única no seu valor e possui um fantástico potencial de envelhecimento, que atua com o vinho na garrafa durante anos após sua fabricação.

A uva Baga é uma variedade amplamente utilizada na costa central de Portugal, na elaboração de ótimos vinhos tintos. Particularmente na região da Bairrada, a Baga é, sem dúvida, uma das uvas tintas mais cultivadas, além de ser plantada também no Dão e em Ribatejo. Há quem diga que a casta nasceu nas terras do Dão, inclusive alguns produtores locais mais tradicionais defendem essa tese, mas foi nas terras da Bairrada que ganhou reputação, onde ocupa mais de 90% dos vinhedos.

A Baga é conhecida tradicionalmente pela espessura de sua pele, em proporção com o tamanho das pequenas bagas que o cacho apresenta. Além disso, essa variedade é extremamente tânica, podendo ser notado o caráter adstringente em alguns vinhos.

Baga

A Baga é uma uva pequena, com casca grossa, capaz de oferecer classe e estrutura aos rótulos que compõem que vão desde os tintos até os rosés e espumantes. É exatamente o fato de o fruto ser pequeno que faz com que os vinhos da uva Baga tenham taninos em alta concentração e acidez acentuada.

No passado, a Baga era conhecida por ser empregada na produção de vinhos rústicos, excessivamente ácidos e tânicos e de pouca concentração. Porém, após a chegada do genial Luís Pato, conhecido como o “revolucionário da Bairrada” e maior expoente desta variedade, a casta da uva Baga foi “domesticada”.

Luís Pato

O cultivo da Baga é árduo e trabalhoso, demorando para que o amadurecimento ocorra. A fruta desenvolve-se melhor quando plantada em solos argilosos e necessita de uma excelente exposição ao sol durante o processo de cultivo.

Entretanto, após os devidos cuidados e maturação, a Baga produz preciosos rótulos, podendo envelhecer na garrafa durante anos, garantindo complexidade e elegância para seus exemplares, além de tornar os vinhos concentrados, aromáticos e possuidores de uma coloração escura.

Conhecida também como Tinta da Bairrada, Tinta Poeirinha ou Tinta Fina, a uva Baga atualmente é considerada uma das maiores uvas portuguesas, com enorme complexidade, estrutura e classe, sendo muito apreciada no mundo do vinho. A casta Baga dá origem a vinhos portugueses com muita personalidade, altamente interessantes e únicos.

E agora finalmente o vinho!

Na taça goza de um intenso rubi, fechado, escuro, com halos granada, denotando os seus oito anos de vida, com lágrimas finas, lentas e em profusão.

No nariz predominante em frutas negras maduras, com destaque para amoras, ameixas pretas, quase em compota, em geleia, se revelando extremamente aromático e complexo, pois traz a madeira marcante, graças aos nove meses em barricas de carvalho, com toques de especiarias, algo de tabaco, couro, defumado, terra, tosta, caramelo e leve baunilha.

Na boca tem médio corpo, tem complexidade, bom volume de boca, mas o tempo encarregou de entregar também um vinho de textura sedosa, redondo e macio, mostrando-se equilibrado. As notas frutadas e amadeiradas ganham protagonismo no paladar, como no aspecto olfativo, bem como as notas amadeiradas. Tem taninos presentes, porém amáveis e domados e uma incrível acidez que corrobora os seus oito anos de garrafa, com bela persistência.

A experiência, mais uma vez, foi incrível! A Baga de fato traz personalidade! Essa é a palavra! E o vinho está no auge, no ápice com os seus sete anos de vida. A plenitude de uma casta retratada com as suas mais fiéis características e mesmo com a sua domesticação, se mostrou rústica, corpo médio, estrutura marcante, mas macio, elegante como bom vinho de oito anos de vida. Que a Baga se revele para todos dignos dela! Que a Baga se revele para mim sempre que eu merecer! O seu apelo regional merece o mundo! Tem 13,5% de teor alcoólico.

Curiosidades sobre o nome do rótulo: “Colinas de Ançã

Ançã é uma Vila Histórica da Bairrada, região Demarcada de Viticultura no centro de Portugal, perto do Oceano Atlântico. A sua história tem uma forte relação a alguns dos mais antigos e icónicos monumentos em Portugal, uma vez que a maioria foi construída com um tipo especial de calcário proveniente das terras de Ançã. Este calcário faz parte do solo que, misturado com barros, é um dos elementos mais distintivos do terroir da Bairrada, terra de vinhos de vincado caráter.

Sobre a Adega de Cantanhede:

Fundada em 1954 por um conjunto de 100 viticultores, a Adega de Cantanhede conta hoje com 500 viticultores associados ativos e uma produção anual de 6 a 7 milhões de quilos de uva, constituindo-se como o principal produtor da Região Demarcada da Bairrada, representando cerca de 40% da produção global da região. Hoje certifica cerca de 80% da sua produção, sendo líder destacado nas vendas de vinhos DOC Bairrada DOC e Beira Atlântico IGP.

Reconhecendo a enorme competitividade existente no mercado nacional e internacional, a evolução qualitativa dos seus vinhos é o resultado da mais moderna tecnologia, com foco na qualidade e segurança alimentar (Adega Certificada pela norma ISO 9001:2015, e mais recentemente pela IFS Food 6.1.), mas também da promoção das castas Portuguesas, que sempre guiou a sua estratégia, particularmente das variedades tradicionais da Bairrada – Baga, Bical e Maria Gomes – mas também de outras castas

Portuguesas que encontram na Bairrada um Terroir de eleição, como sejam a Touriga Nacional, Aragonez e Arinto, pois acredita que no inequívoco potencial de diferenciação e singularidade que este património confere aos seus vinhos.

O seu portfólio inclui uma ampla gama de produtos. Em tinto, branco e rose os seus vinhos vão desde os vinhos de mesa até vinhos Premium a que acresce uma vasta gama de espumantes produzidos exclusivamente pelo Método Clássico, bem como Aguardentes e Vinhos Fortificados.

É um portfólio que, graças à sua diversidade e versatilidade, é capaz de atender a diferentes segmentos de mercado, com diferentes graus de exigência em qualidade, que resulta na presença dos seus produtos em mais de 20 mercados.

A sua notoriedade enquanto produtor, bem como dos seus vinhos e das suas marcas, vem sendo confirmada e sustentadamente reforçada pelos prémios que vem acumulando no seu palmarés, o que resulta em mais de 750 distinções atribuídas nos mais prestigiados concursos nacionais e internacionais, com destaque para Mundus Vini – Alemanha, Concours Mondial de Bruxelles, Selections Mondiales du Vins - Canada, Effervescents Monde – França, Berliner Wein Trophy – Alemanha e Japan Wine Challenge, sendo por diversas ocasiões o único produtor da Bairrada com vinhos premiados nesses concursos e, por isso, hoje um dos mais galardoados produtores da região. Em 2015 integrou o TOP 100 dos Melhores Produtores Mundiais, pela WAWWJ – Associação Mundial dos Jornalistas e Críticos de Vinho e Bebidas Espirituosas. Nos últimos 8 anos foi eleita “Melhor Adega Cooperativa” em Portugal por 3 vezes pela imprensa especializada.

Mais informações acesse:

https://www.cantanhede.com/

Referências:

“Divinho”: https://www.divinho.com.br/uva/baga/

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/baga

“Vinci”: https://www.vinci.com.br/c/tipo-de-uva/baga

“Soulwines”: https://www.soulwines.com.br/uvas-de-vinhos/baga

“IVV”: https://www.ivv.gov.pt/np4/503/

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/regiao/bairrada

“Reserva85”: https://reserva85.com.br/vinho/indicacao-geografica-ig-denominacao-de-origem-do/regioes-demarcadas-de-portugal/bairrada/

“Adega de Cantanhede”: https://www.cantanhede.com/pt/produtos/colinas-de-anca/

  









sábado, 8 de julho de 2023

Casa Fontanari Cabernet Sauvignon 2019

 

Sempre observei que alguns caminhos no universo do vinho seriam um tanto quanto tortuosos para mim. Aqueles vinhos, de determinadas regiões e propostas inalcançáveis, inviáveis, impossíveis, sobretudo pelos altos valores.

E além das regiões emblemáticas, com seus rótulos tradicionais, há também aqueles pequenos produtores, alguns até “produtores de garagem”, artesanais, com suas baixíssimas e limitadas produções, que tem seus rótulos caros, até pelo processo de vinificação que impacta no valor final, além, claro, das altas e abusivas taxas impostas pelos governos.

Mas com o meu ávido interesse pelos vinhos brasileiros, em especial, ao longo desses últimos anos, venho descobrindo alguns rótulos, de pequenos e desconhecidos produtores, que ofertam seus vinhos a preços excepcionais, que cabem perfeitamente no bolso dos assalariados, como esse que vos fala.

Algo que desmistifica que vinhos de pequenos produtores e de produção limitada, numerada, tem de ser necessariamente caro. Não! Não precisa ser caro, algo inalcançável. Essa minha viagem mais profunda nos vinhos brasileiros não tem me propiciado apenas um quantitativo satisfatório de rótulos na adega, mas achados simplesmente sensacionais.

E além dessas gratas novidades, pelo menos para mim, há também no rótulo brasileiro escolhido hoje, a novidade da região, de microrregiões que pelo menos eu desconhecia até então, incrustada na gigante Serra Gaúcha! Acredite se quiser, ainda há muito a desbravar no Brasil no que tange aos seus terroirs.

E a de hoje se chama “Caminhos de Pedra” que fica no distrito de São Pedro, na já famosa Bento Gonçalves. Eu não conhecia “Caminhos de Pedra”, e tomei conhecimento dessa região por intermédio de alguns vídeos disponíveis na “web” falando sobre a Casa Fontanari que existe há quase 30 anos.

Fiquei extremamente curioso com os rótulos, a filosofia da vinícola nos processos de vinificação e decidi ir à busca de seus rótulos e até que foi fácil localizar alguns rótulos e a preços bem convidativos. Optei por um Cabernet Sauvignon que estava na faixa dos R$ 65,00.

Decidi compra-lo e logo degusta-lo! Então sem mais delongas e seguindo a sequência, vamos às apresentações do rótulo. O vinho que degustei e gostei veio da Serra Gaúcha, da região de Caminhos de Pedra, distrito de São Pedro, Bento Gonçalves e se chama Casa Fontanari, um 100% Cabernet Sauvignon, da safra 2019. Para não perder o costume vamos de história, vamos de Serra Gaúcha e de Caminhos de Pedra.

Serra Gaúcha

A região vinícola da Serra Gaúcha do Brasil está localizada no nordeste do Rio Grande do Sul. É amplamente reconhecida como a estrela da indústria vitivinícola brasileira pelo volume e qualidade do vinho produzido.

É considerada a região da uva e do vinho, cheia de belezas naturais, com direito a vales, cavernas, túneis, cachoeiras, rios, lagos e florestas nativas. Sem contar com as áreas cobertas de parreiras, como o Vale dos Vinhedos, onde estão as melhores vinícolas do país.

Mas até o final do século XIX, a Serra Gaúcha era apenas passagem de tropeiros e habitada por alguns índios nativos, até que, um belo dia, a Coroa Imperial Brasileira resolveu que a região seria colonizada por europeus.


Mas até o final do século XIX, a Serra Gaúcha era apenas passagem de tropeiros e habitada por alguns índios nativos, até que, um belo dia, a Coroa Imperial Brasileira resolveu que a região seria colonizada por europeus.

Essas diferenças ficam evidenciadas através das chamadas Indicações Geográficas (IGs), certificações que denotam a origem de fabricação de um determinado produto. No âmbito vitivinícola, o Rio Grande do Sul possui cinco das seis indicações brasileiras. E são todas serranas.

As IGs são reconhecidas pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) e se dividem em dois tipos: Denominação de Origem (DO) E Indicação de Procedência (IP). A busca por essas certificações é recente no país.

Começou a ganhar corpo no final dos anos 1990 e agora está em crescimento. Entre as vinícolas gaúchas, o instrumento vem sendo utilizado para consolidar a marca das bebidas, tornando-as conhecidas dentro e fora do Brasil. Assim, os selos de procedência acabam alavancando os negócios do setor.

O Vale dos Vinhedos foi o pioneiro na busca de reconhecimento junto ao INPI. No início dos anos 2000, conseguiu a primeira Indicação de Procedência do país. O passo maior, porém, foi dado em 2012, quando a região que compreende os municípios de Bento Gonçalves, Garibaldi e Monte Belo do Sul ganhou uma Denominação de Origem. Até hoje, é a única DO outorgada para vinhos no país.

As Indicações Geográficas da Serra Gaúcha

DO Vale dos Vinhedos

O ano da obtenção foi 2012, tendo uma área total de 72,45 km², com uma área de 1.500 hectares que compreendem os municípios de Bento Gonçalves, Garibaldi e Monte Belo do Sul, com um total de 23 vinícolas. As principais variedades cultivadas são: Merlot, Chardonnay e Pinot Noir.

IP Pinto Bandeira

O ano da obtenção foi 2010, tendo uma área total de 81,38 km², com uma área de 1.200 hectares que compreendem os municípios de Pinto Bandeira (91% da área), Bento Gonçalves e Farroupilha, com um total de 4 vinícolas, com a produção de espumante no método tradicional, espumante moscatel e vinhos finos tintos e brancos. As principais variedades são: Chardonnay, Pinot Noir e Riesling.

IP Altos Montes

O ano da obtenção foi em 2013, com uma área total de 173,84 km², tendo uma área de vinhedos de 4.600 hectares e municípios que compreendem as regiões de Flores da Cunha e Nova Pádua. Produz vinhos finos tintos e brancos, espumante branco e rosado e espumante moscatel. As principais variedades são: Chardonnay, Merlot e Carber Sauvignon.

IP Monte Belo do Sul

O ano de obtenção foi em 2013, com uma área total de 56,09 km², com uma área de vinhedos com 2.000 hectares, que compreendem municípios como Monte Belo do Sul (80% da área), Bento Gonçalves e Santa Tereza, com 11 vinícolas atuantes no local. Produzem espumantes brancos ou rosados, vinho fino branco e tinto e espumante moscatel branco ou rosado. As principais variedades são: Riesling Itálico, Chardonnay e Pinot Noir.

IP Farroupilha

O ano da obtenção foi em 2015, tendo uma área total de 379,20 km² e 3.7000 hectares de vinhedos. Compreende os municípios de Farroupilha (99% da área), Bento Gonçalves, Caxias do Sul e Pinto Bandeira, tendo, no total, de 9 vinícolas atuantes. A sua produção traz espumante moscatel vinho fino branco moscatel, vinho frisante moscatel, vinho licoroso moscatel, mistela simples moscatel e brandy de vinho moscatel. As principais variedades são: Moscato Branco, Moscato Giallo e Moscato R2.

Regiões que almejam IP

Os Campos de Cima da Serra se configuram em uma das mais novas fronteiras vinícolas gaúchas. Aos poucos, o plantio de uva e o número de vinícolas tem se multiplicado em cidades como Vacaria, Muitos Capões e Campestre da Serra. Por conta disso, em julho, seis produtores locais formalizaram a criação da Associação de Vitivinicultores dos Campos de Cima da Serra (Aviccs). É o primeiro passo da região na busca por sua própria Indicação de Procedência (IP).

A maioria das vinícolas dos Campos de Cima da Serra é de pequeno porte, com áreas que vão, em média, de 10 a 12 hectares. Algumas empresas, inclusive, apenas mantêm os vinhedos na região e terceirizam a vinificação. Com predomínio de uvas como Sauvignon Blanc e Chardonnay, os Campos de Cima têm como peculiaridades o solo, a altitude superior a 900 metros do nível do mar e a oscilação frequente de temperatura.

Geografia e Clima

A região da Serra Gaúcha está situada em latitude próxima das condições geoclimáticas ideais para o melhor desenvolvimento de vinhedos, mas as chuvas costumam ser excessivas exatamente na época que antecede a colheita, período crucial à maturação das uvas. Quando as chuvas são reduzidas, surgem ótimas safras, como nos anos 1999, 2002, 2004, 2005 e 2006.

A partir de 2007, com o aquecimento global, o clima da Serra Gaúcha se transformou, surgindo verões mais quentes e secos, com resultados ótimos para a vinicultura, mas terríveis para a agricultura.

Desde 2005 o nível de qualidade dos vinhos tintos vem subindo continuamente, graças a esta mudança e também do salto de tecnologia de vinhedos implantado a partir do ano 2000.

Região da Serra Gaúcha

Latitude: 29º Sul

Altitude:400 a 700 m acima do nível do mar

Topografia: Serrana

Clima: Temperado úmido

Chuvas: Média anual de 1.800 mm / ano

Solos: Areno-argilosos ácidos

 

Caminhos de Pedra e o seu histórico roteiro

Idealizado pelo Engenheiro Tarcísio Vasco Michelon e pelo Arquiteto Júlio Posenato o roteiro Caminhos de Pedra visa resgatar, preservar e dinamizar a cultura que os imigrantes italianos trouxeram à Serra Gaúcha a partir de 1875.

O Roteiro passou a ser concebido por meio da realização de um levantamento do acervo arquitetônico de todo o interior do município de Bento Gonçalves, ocorrido no ano de 1987. O roteiro Caminhos de Pedra também possui restaurantes, museus, pequenas vinícolas e várias casas estilizadas abertas à visitação que vendem produtos da cultura e culinária italiana. O roteiro tem cerca de 12 km de extensão, em um lado da cidade de Bento Gonçalves, na estrada Barracão e vai até a junção com a RS-448, no sentido Farroupilha.

Roteiro Caminhos de Pedra

Constatou-se então que a Linha Palmeiro e parte da Linha Pedro Salgado, área abrangida basicamente pelo Distrito de São Pedro, composto por 7 comunidades, (São Pedro, São Miguel, Barracão, São José da Busa, Cruzeiro, Santo Antônio e Santo Antoninho) possuía o maior acervo de casas antigas que conservava sua cultura e história, tinha acesso fácil e, consequentemente, um grande potencial turístico, apesar da decadência e abandono pela qual vinha passando desde a década de 1970 com a mudança de traçado da rodovia que ligava Porto Alegre ao norte do estado.

A virada da região

Esse precioso acervo material, parcialmente abandonado e esquecido, exigia uma ação rápida para não ter a mesma sorte de tantas e tantas casas de pedra, madeira e alvenaria que acabaram ruindo ou sendo demolidas.

Com recursos do Hotel Dall’Onder as primeiras 4 casas foram restauradas e passaram a receber visitação e outras tiveram obras emergenciais. O primeiro grupo de turistas proveniente de São Paulo foi recebido em 30 de maio de 1992.

O sucesso do novo roteiro animou tanto os idealizadores quanto a comunidade. Em 10 de julho de 1997, com assessoria do SEBRAE foi fundada a Associação Caminhos de Pedra, congregando empreendedores e simpatizantes. Montou-se então um projeto abrangente que contemplava o resgate de todo o patrimônio cultural, não só o arquitetônico, envolvendo língua, folclore, arte, habilidades manuais, etc.

Este ambicioso projeto foi aprovado pelo Conselho Estadual de Cultura em 10 de agosto de 1998 passando a partir de então a captar recursos das empresas locais através da recém-criada LIC (Lei de Incentivo à Cultura do Estado do Rio Grande do Sul).

Hoje

Atualmente a Associação Caminhos de Pedra conta com cerca de 70 associados e o projeto, considerado pioneiro no Brasil em termos de turismo rural e cultural, está recebendo uma visitação média anual de 100.000 turistas. O roteiro está em expansão e possui mais de 28 pontos de Visitação.

De acordo com a Lei Estadual 13.177/09 que declarou o Caminhos de Pedra patrimônio histórico do Rio Grande do Sul, considera-se como área de abrangência dos Caminhos de Pedra a Linha Palmeiro e Pedro Salgado, localizadas nos municípios de Bento Gonçalves e Farroupilha, até o limite do município de Caxias do Sul, passando por Caravaggio. 

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um vermelho rubi intenso, brilhante e com halos violáceos, com uma profusão de lágrimas finas e lentas que desenham as bordas do copo.

No nariz traz aromas proeminentes de frutas negras, com destaque para amoras e ameixas, que corrobora um inusitado frescor e até leveza, com sutis notas de especiarias, algo herbáceo e o típico pimentão é sentido. A madeira é discreta, mostrando-se bem integrada ao conjunto do vinho, e entrega baunilha, couro, terra molhada.

Na boca é seco, elegante, macio, equilibrado, fácil de degustar, mas que mostra personalidade e complexidade, pois mostra o protagonismo das frutas negras, como no aspecto olfativo, as notas amadeiradas mais evidentes, devido aos doze meses em barricas de carvalho, colaborando para a sua maciez. Tem taninos sedosos, embora um pouco presente e acidez baixa, com um final curto.

Novas regiões, novos terroirs, novas percepções, novos rótulos, novas experiências sensoriais. Tudo somado em um único propósito: o prazer da degustação! Que a história ande sempre de mãos dadas com o prazer da degustação, que as novas experiências nos estimule a buscar sempre algo novo e que possamos degustar grandes vinhos de extrema tipicidade como este Casa Fontanari Cabernet Sauvignon. O vinho típico da Serra Gaúcha, sem plagiar os Cabernets chilenos ou argentinos. Um novo eldorado dos vinhos brasileiros, mesmo que a duras penas, surge! Tem 12,8% de teor alcoólico.

Sobre a Casa Fontanari:

Com diversos rótulos premiados internacionalmente, a Casa Fontanari teve início em 1989, quando o Doutor Juliano Fontanari começou a elaborar pequenos volumes de vinhos para o seu próprio consumo em uma microrregião entre Bento Gonçalves e Pinto Bandeira. Isso fez com que o laço entre ele e seu pai fosse fortalecido, e os dois juntos passaram a manifestar esta cultura que há muito tempo já estava na família.

Apaixonado, em 2012, ele contagiou seu filho Victor com o seu sonho; aproximar pessoas, unir famílias, criar e gerar momentos de contemplação e prazer por intermédio do vinho. A produção cresceu, o velho porão de pedra se adequou as legislações, surgiu uma marca e tecnologia.

Mas apesar do nítido crescimento a Vinícola Casa Fontanari elabora os chamados “Vinhos de Autoria”, ou seja, a uva a ser vinificada é produzida no local em pequenos volumes. O processo com pequenos volumes permite e exige processo meticuloso, da produção ao envelhecimento. Esse esforço tem sido coroado por inúmeras premiações.

As variedades de videiras e os métodos de condução para a produção das uvas tem sido a tarefa dos últimos trinta anos da Casa Fontanari. São cultivadas dezoito variedades de viníferas, algumas ainda em experimentação, sempre limitando a produção a poucos cachos por pé, conduzidos por latada e espaldeira de montanha, em terreno íngreme, bem drenado, de solo basáltico, com clima que permite ampla variação de temperatura, fornecendo taninos de montanha.

Mais informações acesse:

https://www.casafontanari.com.br/

Referências:

“Rodhe Imobiliária Blog”: https://blog.imobiliariarohde.com.br/serra-gaucha-conheca-a-historia-e-as-caracteristicas-da-regiao/

“Tudo sobre Vinho”: https://tudosobrevinho.com.br/regiao-vinicola-da-serra-gaucha/

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=SERRAGAUCHA

“Blog Vineria”: https://blog.vineria9.com.br/vinhos-da-serra-gaucha/

“Pioneiro Serra”: http://especiais-pio.clicrbs.com.br/maisserra/10/central.html

“Caminhos de Pedra”: https://www.caminhosdepedra.org.br/historico/

“Mundo Wine”: https://www.mundowine.com.br/blog/caminhos-de-pedra-em-bento-goncalves/

“Viagens e Caminhos”: https://www.viagensecaminhos.com/2018/03/caminhos-de-pedra.html

“Melhores Destinos”: https://www.melhoresdestinos.com.br/caminhos-de-pedra-bento-goncalves.html

 




 


sexta-feira, 7 de julho de 2023

Panamera Tempranillo e Merlot 2020

 

Quando se descobre uma região produtora de vinhos e por ela se enamora, passa a gostar, em uma espécie de doce obsessão buscamos informações e novos rótulos avidamente.

Depois que passei a valorizar tais quesitos, como a região, o terroir, as castas, os produtores e tudo o mais, as degustações se tornaram melhores e mais agradáveis, reforçando também a identificação por alguns vinhos e propostas.

E assim tem sido com algumas regiões da Espanha, por exemplo. Saindo um pouco das emblemáticas regiões como Rioja e Ribera del Duero, constata-se que este país é um dos grandes produtores de vinho do planeta. São infindáveis as regiões produtoras.

E uma vem ganhando o meu coração a cada experiência enosensorial: falo de Navarra. As poucas degustações foram preponderantes e decisivas para nascer uma predileção.

Não consigo esquecer rótulos como Gran Villa Gran Reserva 2011 ou ainda San Antolin Reserva 2012 e só tem fomentado o interesse por buscar novos rótulos de Navarra.

E falando nessas novas buscas eu encontrei uma que parecia improvável quando se fala de custo X benefício. Bem pelo menos que a proposta que o vinho entrega e o valor que me parecia desproporcional e isso me chamou muito a atenção.

E quando constatei que era de Navarra, me tomou de assalto, me deixando, ainda mais, curioso. Sim, pasme, o vinho custou R$ 34,90 e isso não deixa de ser um atrativo, embora não seja o único quesito. E pelo baixo preço não hesitei muito e o comprei, mas com o intuito de degustar o quanto antes, até porque estava curioso, confesso.

E tomado por uma empolgação iniciei os trabalhos fazendo uma viagem enológica por Navarra, na Espanha. E não é que o vinho surpreendeu?? Incrível o quanto um vinho de custo tão baixo possa oferecer tamanha tipicidade!

Então sem mais delongas vamos às apresentações do vinho! O vinho que degustei e gostei veio, como disse, da região espanhola de Navarra e se chama Panamera, com um inusitado corte de Tempranillo e Merlot da safra 2020. Embora seja um corte pouco “usual”, parece ser normal na região, fundir em blends, castas autóctones e francesas mais famosas, como Cabernet Sauvignon e Merlot, por exemplo.

Então antes de tecer comentários sobre o vinho, falemos um pouco da história da região espanhola de Navarra.

DO (Denominação de Origem) Navarra

A região de Navarra (DO Navarra) fica ao norte da região de Rioja, entre a parte baixa dos Pirenéus, até o rio Ebro, apresentando cerca de 11.500 hectares ocupados por vinhedos, graças ao seu solo extremamente fértil e propício para o cultivo de inúmeras castas.

A viticultura começou já no século II a. C quando os romanos criaram as primeiras adegas. Por muitos anos, o vinho foi produzido pelos monges dos inúmeros monastérios desta antiga área vitivinícola.

Na idade Média, Navarra era um reino poderoso, aliado à França, o que ajudou o desenvolvimento da viticultura. O fato que fica no Caminho de Santiago aumentou a demanda, os vinhos de Navarra sendo recomendados aos romeiros.

Navarra

As videiras foram devastadas pela praga filoxera em 1892, eliminando quase 98% das vinhas na época. No início do século XX, foram replantadas vinhas com raízes do Novo Mundo. Produtores formaram cooperativas e produziram vinho em grande quantidade, exportado a granel.

Somente nos anos 1980, vinícolas privadas começaram a fazer vinhos de qualidade. A Denominación de Origen, originalmente aprovada em 1933, foi modificada para refletir a transição de vinhos de massa para vinhos de qualidade.

A região produz cerca de 89 milhões de litros de vinho por ano, dos quais 30% são exportados. Apesar dos vinhos brancos da região fazerem bastante sucesso e agradarem aos exigentes paladares da crítica especializada, é a produção de vinhos tintos que se destaca em Navarra. Em decorrência disso, 70% da produção da área espanhola é constituída de vinhos tintos, sendo os outros 25%, destinados a produção de vinhos brancos e rosés.

Diversas variedades de uva são cultivadas na região, como as da casta Moscatel, Chardonnay, Mazuelo, Graciano, Merlot, Cabernet Sauvignon e Viura. Entretanto, as uvas de maior sucesso da região de Navarra são a Garnacha e a Tempranillo.

Por muitos anos, a Garnacha foi de longe a variedade de uva mais plantada nas vinhas, intercaladas com as fazendas de frutas e vegetais pelas quais Navarra é tão famosa. Até pouco tempo atrás, as vinhas velhas de Garnacha, dominavam o território.

A Tempranillo ultrapassou Garnacha como a variedade mais plantada, com Cabernet Sauvignon chegando em terceiro lugar. Os resultados são muito respeitáveis, se muito raramente são excepcionais. As bodegas de Navarra foram capazes de investir em carvalho francês para suas uvas francesas.

Consideravelmente auxiliados por um programa de pesquisa do governo local, eles fizeram uma avaliação cuidadosa de variedades de uvas: Cabernet Sauvignon, Merlot, Chardonnay e, especialmente, Tempranillo - que agora produz alguns vinhos finos e concentrados, tipicamente envelhecidos em carvalho americano.

Navarra tem clima continental, com verão seco e quente, e invernos bem frios. Tem uma influência marítima vendo do mar Atlântico, moderando as temperaturas durante a maduração das uvas, e a noite, as temperaturas caiem no fim de agosto.

A grande diversidade dos vinhos de Navarra reflita a influência da confluência dos climas das 2 principais zonas de produção da região, situação excepcional na península ibérica: atlântico na Tierra Estella e na Baja Montaña; mediterrâneo na Ribera Alta e na Ribeja Baja.

Na década de 1980 a região começou a passar por grandes mudanças, com a renovação de mentalidade trazida por produtores jovens e inquietos, que culminou com a redescoberta e valorização das castas mais tradicionais e de seus vinhedos de vinhas velhas. Como os preços médios ainda permanecem mais baixos que os da Rioja, os vinhos de Navarra tornaram-se opções muito interessantes.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um vermelho intenso, quase escuro, com entornos granada, além de lágrimas finas, de alguma profusão e lentas que desenham as bordas do copo.

No nariz mostrou-se tímido nos aromas no início, mas em taça se abriu e entregou notas de frutas vermelhas, com destaque para groselha, cereja e até framboesa, com um toque delicado de baunilha e madeira, graças aos quatro meses de passagem por barricas de carvalho.

Na boca apresenta corpo leve para médio, é seco, com muita elegância, uma textura aveludada garantida pelas notas frutadas e também pela Merlot, com a Tempranillo trazendo um pouco da personalidade do vinho. As especiarias, a madeira, ganham a sua presença, como no aspecto olfativo, com destaque para o chocolate, para a baunilha, para um defumado. Os taninos, apesar de presentes, estão domados e a acidez é saliente. Tem um final persistente.

Uma miscelânea de bons sentimentos me tomou de assalto quando degustei o Panamera: o corte inusitado e que se “harmonizou” maravilhosamente, ter degustado novamente um rótulo da região da Navarra que, a cada dia, me ganha por completo. O Panamera vem de vinhas velhas e revela o quão complexo e elegante o vinho se apresenta, se revela. Um vinho de incrível custo X benefício como pouco tem se visto ultimamente. Que Navarra venha em profusão transbordando em minha humilde e reles taça. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Bodegas Manzanos:

A história da Bodegas Manzanos é a história de uma família, do seu esforço, da sua perseverança e do seu know-how. A família Fernández de Manzanos cultiva vinhas e produz vinhos há mais de um século.

Foi exatamente em 1890 que a primeira geração desta família fundou em Azagra uma pequena adega com uma capacidade de produção de 50.000 litros de vinho.

Na década de 1940, inauguraram uma nova instalação que ampliou a sua capacidade para 350.000 litros, evidenciando a tradição vitivinícola desta zona. Entre os anos 50 e 60 consolidaram seu projeto vinícola, com a criação da vinícola Viña Marichalar, a primeira anexa à Denominação de Origem Qualificada Rioja com capacidade para mais de 1,5 milhão de litros.

Na década de 1990, Víctor Fernández de Manzanos Pastor, a quarta geração, ingressou na empresa familiar, depois de estudar Engenharia Química e obter o Mestrado em Viticultura e Enologia pela Escola Superior Técnica de Engenheiros Agrônomos da Universidade Politécnica de Madri. É o primeiro membro da família com formação em viticultura e enologia.

Víctor então construiu a vinícola Marqués de Butrago e decidiu realizar seu projeto de vida, a construção da Bodegas Manzanos.

Hoje, os rostos visíveis da Bodegas Manzanos são os dos irmãos Víctor e David Fernández de Manzanos, junto com Laura Mateo, esposa do primeiro. Em 2010, esses jovens empreendedores assumiram as rédeas da vinícola e transformaram Bodegas Manzanos em um negócio próspero e moderno, equipado com as últimas tecnologias do setor, que conseguiu preservar o antigo sabor da tradição; do legado recebido.

Mais informações acesse:

https://bodegasmanzanos.com/

Referências:

“Premium Wines”: https://www.premiumwines.com.br/_regiao_olha.php?reg=72

“Vindame”: https://www.vindame.com.br/navarra

“Bella Cave”: https://www.bellecave.com.br/vinhos-de-navarra-na-espanha

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/regiao/navarra