Tem certos vinhos que te cativam pela sua história, antes
mesmo da grata experiência da degustação. Eu comecei a degustar os vinhos da
região de Lisboa pela sua história, pelas características de sua região, pelas
suas castas típicas. Eu, como ávido leitor sobre as coisas relacionadas ao
vinho, decidi enveredar nas pitorescas histórias dos vinhos lisboetas e, claro,
fui à busca de rótulos da referida região. Encontramos com relativa facilidade
nos supermercados e sites de compras especializados, mas ainda não há uma
diversidade de opções como o Alentejo, por exemplo. Mas com uma boa pesquisa,
um bom garimpo, conseguimos encontrar vinhos com ótimo custo X benefício,
outros nem tanto, afinal, em um país como o nosso, que tributa, de forma
abusiva, os vinhos, lamentavelmente se tornou normal. Passei a degustar os
rótulos que encontrava e, cada vez mais, passava a gostar desses belos
lisboetas. E este vinho, em especial, consegue aliar, com maestria, os dois
quesitos: qualidade e história. Um vinho tradicional e emblemático que
personifica a história da região.
O vinho que degustei e gostei é claro, vem de Lisboa,
Portugal, e se chama Mula Velha, tinto, com um blend tipicamente da região das
castas Touriga Nacional (35%), Aragonez (35%) e Castelão (30%) e a safra é
2015. E já que falei de história, este vinho carrega um pouco dos primórdios da
vitivinicultura lusitana que vale muito a pena conhecer.
Por que “Mula Velha”?
O nome do vinho é uma homenagem ao que foi considerado como o
braço direito do homem na agricultura no passado, a mula. Muito utilizada em
tarefas que requeriam força e resistência, tanto como meio de transporte, como
na agricultura para lavrar os campos. Descendente do cruzamento entre um burro
e uma égua, combinando as melhores características das suas origens: a
sobriedade, paciência e o passo seguro do burro, com o vigor e a força da égua.
A histórica propriedade Quinta do Gradil absorveu, nos anos de 1990 os vinhedos
da Parras Vinhos, e desde então passou a produzir seus tintos e brancos. O Mula
Velha, um tinto que já foi bem popular nos anos de 1900-1920, mas que desde a
Grande Guerra deixou de ser produzido. Quando a família Gomes Vieira adquiriu a
quinta e todos os seus vinhedos, resolveu reeditar o Mula Velha, uma tradição
lisboeta.
A região de Lisboa
A região vinícola de Lisboa, também era conhecida como
Estremadura e tem mais de 30 hectares de cultivo com mais de 9 mil aptas à
produção de Vinho Regional de Lisboa e Vinho com Denominação de Origem
Controlada. O nome passou em 2009 para Lisboa de forma a diferenciar da região
de mesmo nome na Espanha, também produtora de vinhos. Suas características
geográficas proporcionam certa complexidade à região, pois está situada
climaticamente em zona de transição dos ventos úmidos e estios, com solo de
idades variadas, secos, encostas e maciços montanhosos se contrapõem a várzeas
e terras de aluvião. Ainda sofre influencia direta da capital do país
localizada em um extremo da região. O conflito entre a vida urbana e a rural
foi intensificado a partir do século XIX com a industrialização e recentemente
pelo sistema viário que liga Lisboa a Leiria. Toda a região mantém de forma
relevante as unidades de espaço designadas ainda no período romano, as quintas
(subunidades de uma vila). As quintas em sua quase totalidade estão voltadas
para a produção do vinho. A história revela que Fenícios trouxeram mudas da
Síria e as introduziram na Foz do Tejo e as vinhas se adaptaram bem. A região
ficou sob o domínio dos mouros durante quatro séculos e depois de retomada foi
reorganizada para recuperar a produção vinícola.
Região de Lisboa
A região dispõe de grande pluralidade de condições de
cultivo. Desta variedade, zonas de maior vocação são encontradas e é onde as
diversas castas de uvas são utilizadas na produção de vinhos com denominação,
regionais, leves, de mesa e licorosos, além de aguardente bagaceira e vínica,
espumantes e de uso na mesa. A região é dividida em nove sub-regiões sendo a
maioria Denominações de Origem. Próximo a Lisboa, no sul estão Colares, Bucelas
e Carcavelos. Alenquer, Arruda, Torres Vedras, Lourinhã e Óbidos ocupam a parte
central e Encostas D’Aire ao norte.
E agora o vinho!
Na taça tem um vermelho rubi com reflexos violáceos e muito
brilhantes, com lágrimas finas e em média intensidade que logo se dissipam das
paredes do copo.
No nariz traz a evidência de frutas vermelhas maduras com um
toque de especiarias, que me remete a ervas.
Na boca também é frutado e com notas especiadas e de couro,
com taninos presentes, mas muito sedosos, tendo médio corpo, mas fácil de
degustar e uma boa acidez que faz do vinho fresco e jovial. Tem um final de
média persistência.
Um belo vinho que alia muito frescor, caracterizado pela
fruta, sem soar enjoativo e pela agradável acidez, aliado ao médio corpo com
alguma personalidade, revelando harmonia e equilíbrio, envolto em um atrativo
valor. Pena não ser muito fácil encontrá-lo nos supermercados e lojas
especializadas apesar de ser um vinho tradicional e popular em Portugal. Um
vinho também muito versátil nas harmonizações, mas que também pode ser
degustado sozinho, sem acompanhamentos. Tem 13% de teor alcoólico muito bem
integrados ao conjunto do vinho.
Sobre a Quinta do Gradil:
Não muito distante do sopé da vertente poente da Serra de
Montejunto, entre Vilar e Martim Joanes, está instalada a Quinta do Gradil.
Considerada uma das mais antigas, senão a mais antiga, herdade do concelho do
Cadaval, a Quinta do Gradil tem uma forte tradição vitivinícola que se prolonga
desde há séculos. A propriedade é composta por uma capela nobre ornamentada por
um torreão artisticamente decorado, um núcleo habitacional, uma adega e uma
área agrícola de 200 hectares ocupados com produções vinícolas e frutícolas. A
Quinta do Gradil foi adquirida, nos finais dos anos 90, pelos netos de António
Gomes Vieira, precursor da tradição de vinhos na família desde 1945. Os novos
proprietários iniciaram, em 2000, o processo de reconversão de toda a área de
vinha primando por castas de maior qualidade. A adega sofreu melhoramentos,
estando projetada uma reformulação profunda nos próximos 2 anos, e as cocheiras
recuperadas deram lugar a uma sala de tertúlias. O palacete e capela, em fase
muito avançada de degradação aquando da aquisição da Quinta pelos novos
proprietários, foram limpos e contam agora com um projecto ambicioso de
recuperação, sendo que a herdade tem marcas históricas seculares e constitui um
marco arquitetônico significativo. As mais antigas referências documentais
encontradas sobre a Quinta do Gradil remontam ao final do século XV, num
documento Régio. Em de 14 de Fevereiro de 1492, data do documento, D. Martinho
de Noronha recebeu de D. João II a carta de doação da jurisdição e rendas do
Concelho do Cadaval e da Quinta do Gradil. Por ocasião da ascensão de D. Manuel
I ao trono português e a sua atuação a favor dos membros da Casa de Bragança, a
Quinta do Gradil torna a ser referenciada na confirmação de doação concedida
por D. Manuel I a D. Álvaro de Bragança, irmão mais novo do 3º Duque de
Bragança, D. Fernando II, que acusado de traição foi mandado degolar por D.
João II, em 1483. A Quinta terá sido adquirida pelo Marquês de Pombal por
ocasião do movimento que a partir de 1760 levou à ocupação de terras
municipais, admitindo-se que já na altura contasse com o cultivo de vinha,
fator que terá sido decisivo para o estadista que criou a Companhia das Vinhas
do Alto Douro. Manteve-se na pretensa da família até meados do século XX,
quando foi comparada por Sampaio de Oliveira. Já nos finais dos anos 90 que os
atuais proprietários, a família Vieira, adquirem a herdade.
Sobre a Parras Wines:
A Parras Vinhos de Luís Vieira nasce no ano de 2010,
atualmente com sede em Alcobaça, onde também está instalada a unidade de
engarrafamento do grupo. Cinco anos depois, com a empresa consolidada e voltada
para o mercado internacional, surge a necessidade de se fazer um
reposicionamento de marca e “vesti-la” de outra forma, mais atual. É assim que
no início de 2016 aparece a Parras Wines, mais jovem, mais flexível, e numa
linguagem universal para que possa ser facilmente compreendida por todos, mesmo
os que estão além-fronteiras. Descendente de um pai e de um avô que sempre
trabalharam com vinho, Luís Vieira é o único dono deste projeto. Aos cinco anos
caiu num depósito de vinho e quase morreu afogado, não fosse um colaborador do
avô na altura, que atualmente é seu, tê-lo salvo. Hoje, recorda com graça esse
episódio e diz mesmo que simboliza o seu “batismo nestas andanças do vinho”. A
empresa começa então a formar-se com terra própria na Região Vitivinícola de
Lisboa, mais exatamente na freguesia do Vilar, Cadaval, com duzentos hectares
de propriedade em extensão, sendo que 120 são hoje de vinha plantada. Na mesma
região do país, um bocadinho mais acima, na zona de Óbidos, a Parras Wines é
também responsável pela exploração de 20 hectares de vinha que dão origem aos
vinhos Casa das Gaeiras. Com sede em Alcobaça, nas antigas instalações de uma
fábrica de faianças, deu-se início a uma nova área de negócio – uma Unidade de
Engarrafamento de Bebidas, que hoje serve também de sede à Parras Wines e que
se chama Goanvi. Cinco anos mais tarde, em 2010, constitui-se então a Parras
Vinhos, hoje Parras Wines. Para além de terra na Região de Lisboa, o grupo
começou paralelamente a produzir vinhos de outras regiões do país. Através de
parcerias com produtores locais, a empresa consegue assim dar resposta às
necessidades globais que iam surgindo do mercado, produzindo vinhos do Douro,
Vinhos Verdes, Dão, Lisboa, Tejo, Península de Setúbal e Alentejo.
Mais informações acesse:
Fonte de pesquisa sobre a região de Lisboa: