quarta-feira, 31 de março de 2021

120 Pinot Noir 2018

 

Já ouviu aquela série de discursos ou verdades absolutas fincadas, obviamente, em preconceitos “condimentados” com posturas intolerantes que vinho barato não presta, não entrega além de simplicidade e inexpressividade? Não podemos negligenciar as opiniões diversificadas, mas quando ela vem sem quaisquer fundamentos calcados na mais simples definição do que consideramos como plausível, fica difícil aceitar certos comentários, por mais diplomático e democrático que você seja. Eu sempre defenderei que todos os vinhos têm a sua proposta, tem bem definido o que entrega: há vinhos complexos, amadeirados, longevos, jovens, simples, caros, baratos etc. Há vinhos para todos os bolsos, interesses, momentos. O vinho é democrático, senhores leitores! Muito mais daqueles que o degusta, lamentavelmente.

Você pode seguir para uma proposta apenas, mas nunca em detrimento da outra, penso. E quando há aquela promoção irresistível em destaque avassalador com milhares de garrafas em destaque em um ponto do supermercado? O “aristocrático do vinho” sente seus ossos tremerem de repulsa e dizem que plena rejeição: “Esses vinhos não prestam, são horríveis, vejam o preço baixo dele, tão baixo quanta a sua qualidade”! Pois é, eles podem parecer irresistíveis, afinal, o preço baixo em um país como o nosso que o seu povo passa fome, degustar um vinho barato é um momento singular primeiramente pelo preço.

Mas vos digo de coração e mente aberta que já tive o prazer, a alegria e a surpresa de degustar muitos vinhos na faixa dos R$ 20 à R$ 30 que, diante da sua proposta, entregou maravilhosamente. Cabe a nós, enófilos, ouvir e sentir o nosso coração, mesclando com a capacidade de discernimento que, em tese, é inerente a raça humana e escolher bons vinhos com a famosa relação custo X qualidade ou custo X benefício.

Estava, para variar, em minhas incursões nos supermercados da vida e avistei, ao longe, uma linha de rótulos muito conhecidas e vendidas em várias redes de mercado e lojas, tida como uma linha mais básica de rótulos, porém de um produtor renomado no Chile. Bem, meio desinteressado, confesso, fui até o vinho que estava em destaque no meio da loja. Aproximei-me, toquei o vinho em minhas mãos e vi o valor: R$ 17,90! Uau! Não acreditei que o valor estava tão baixo, mesmo se tratando de um vinho que, rotineiramente, está em promoção, mas não naquele valor tão baixo. Era um Pinot Noir chileno! Farei um adendo: Adoro os Pinots chilenos e argentinos, dentre os vinhos dessa casta no Novo Mundo. São vinhos vibrantes, um pouco mais potentes, embora expresse as características mais marcante da delicada e frutada Pinot Noir. A comprei! Mas queria logo abri-lo! E eis que surge a deliciosa satisfação em degusta-lo. A taça e os meus sentidos regozijavam de alegria! O vinho que degustei e gostei veio da famosa região do Vale do Aconcágua, no Chile, e é o 120 da casta Pinot Noir, safra 2018.

Não é a primeira vez que eu me surpreendo com essa linha de rótulos mais básicos da Vinícola Santa Rita, tanto que já degustei o 120 Sauvignon Blanc e foi sensacional e isso pesou na minha escolha também. Então antes de dissecar o vinho degustado falemos um pouco da importante região vinícola do Chile: Vale Aconcágua. 

Vale Aconcágua: acalentada pelo frio dos Andes

Aconcágua é uma das 5 principais regiões produtores de vinhos no Chile. Sendo o Vale de Aconcágua, que fica a 65 km ao Norte de Santiago, uma denominação de origem, DO, definida pelo sistema de apelação Chileno. Cercado por montanhas, as capas de gelo dos Andes fornecem a água derretida, essencial para os vinhedos do vale. O nome não tem nada a ver com a maior montanha das Américas, o Aconcágua. Está relacionado com um pequeno rio que corre pelo vale e serve de referência para o local. Fica a 60 minutos a noroeste de Santiago, na direção da rodovia internacional que vai para Mendoza na Argentina. É uma região de pequenas cidades, vilarejos, com estradas vicinais, com pouco tráfego de veículos. Em todo o vale há vinícolas grandes, pequenas e familiares. A produção de vinho nesta região representa cerca de 3% do total produzido no Chile.

O Chile e o Vale Aconcágua

Pelo vale, além do rio, correm alguns riachos provenientes de águas do desgelo. No verão, o rio Aconcágua é mais caudaloso, mesmo assim, a região é muito seca. Chove muito pouco e a irrigação dos vinhedos é feita por gotejamento. São mangueiras de plásticos, com pequenos furos, que vão gotejando água diretamente no pé das cepas. O solo de todo o vale é de argila e pedras. A amplitude térmica é grande, pode chegar a 28 graus de dia e cair para 5 graus à noite. Como não há nuvens no céu para segurar o calor, à noite esfria bastante. A colheita começa no fim do mês de Fevereiro e vai até o fim de Abril. Produzem vinhos tintos monocasta e blends com várias uvas, mas as mais determinantes são a Syrah, Pinot Noir, Cabernet Franc, Merlot e Cabernet Sauvignon. Os vinhos brancos são produzidos principalmente com Chardonnay e Sauvignon Blanc. Aqui também, como o terroir não é tão determinante, estão sempre plantando e fazendo experiências de vinhos com várias castas.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um vermelho com tons violetas, típico da casta, com um reluzente brilho e boa formação de lágrimas.

No Nariz se abrem aromas de frutas vermelhas como morango e framboesa de uma forma delicada com notas de especiarias, diria ervas finas, um toque herbáceo, além de um toque floral. Aromas frescos de frutas frescas, muito atraentes e elegantes.

Na boca é suave, picante, elegante e sedoso, mas com alguma estrutura reforçada pela sua suculência, ou seja, pelo volume de boca, com taninos finos e acidez instigante, revelando seu frescor e jovialidade, com a discreta, porém evidente presença da baunilha, graças a passagem do vinho, parte dele, por barricas de carvalho por 2 meses, com um final frutado e persistente.

A linha 120, como diz no site da vinícola, entrega, com maestria, a simplicidade, a nobreza de entregar o vinho na sua expressão mais genuína, sobretudo no tocante as características da cepa, um vinho leve, fresco, para ser degustado jovem, de forma despretensiosa, desfrutando com amigos e harmonizando com comidas leves como frituras, carnes brancas e massas leves, sem condimentos fortes. Um vinho surpreendente! Um Pinot Noir, apesar de ser básico e jovem, traz uma marcante personalidade, um vinho expressivo, mas que não rejeição as mais essenciais fiéis características da Pinot Noir, tais como a elegância e as agradáveis notas frutadas. Mas não há como não se render a versatilidade dos “Pinots” chilenos: estrutura com delicadeza. Que a democracia que emana dos rótulos dos vinhos, na sua diversidade de propostas, inspirem a todos nós, humildes enófilos para que entendamos de uma vez por todas que vinho é especial em todas as suas nuances e momentos. E esse 120 Pinot Noir sintetizou tudo isso de uma forma veemente. Tem 13,5% de teor alcoólico muito bem integrado ao conjunto do vinho.

A história do rótulo “120”:

Em 1814, um grupo de soldados do movimento de independência, após a Batalha de Rancágua, procurou abrigo e refúgio na Hacienda de Paine que era uma propriedade agrícola que remonta antes mesmo da efetiva fundação da Viña Santa Rita, em 1880. Paula Jaraquemada, proprietária e defensora do movimento e ciente da proximidade dos espanhóis, protegeu os 120 soldados no porão da sede da fazenda, salvando suas vidas. Não à toa, uma das principais linhas da Santa Rita é o rótulo 120, em alusão aos soldados. Na ilustração abaixo, do início do século XIX, mostra Paula Jaraquemada sendo interrogada por soldados da Coroa Espanhola, em busca dos 120 soldados pró-independência.

A independência do Chile foi obtida em 1818, e a “Hacienda” viveu dias tranquilos a partir de então. Os anos se passaram e, em paralelo, no ano de 1880, o empresário chileno Domingos Fernández Concha fundara a Viña Santa Rita.

Sobre a Viña Santa Rita:

A Vinícola Santa Rita foi fundada em 1880 por Domingo Fernández Concha, destacado empresário e homem público da época. Dom Domingo introduziu finas cepas francesas nos privilegiados solos do Vale do Maipo e incorporou maquinaria especializada, o que somado à contratação de enólogos da mesma nacionalidade lhe permitiu produzir vinhos com técnicas e resultados muito superiores aos tradicionalmente obtidos no Chile, mudando a forma de elaborar vinhos em nosso país. Desde o final do século XIX e até meados do decênio de 1970, a vinícola funcionou sob o controle da família García Huidobro, iniciando com Dom Vicente García Huidobro, genro de Dom Domingo Fernández Concha, quem continuou com o legado e ideais do fundador.  No ano de 1980 o Grupo Claro e a empresa Owens Illinois, principal produtora de embalagens de vidro do mundo, adquirem parte do patrimônio da Vinícola Santa Rita. A chegada do Grupo Claro significou um forte impulso para a empresa. Na área produtiva foram introduzidos significativos avanços tecnológicos e técnicas de elaboração de vinhos desconhecidos até então no Chile. Da mesma forma, foi fortemente impulsionada a criação de novas linhas de vinhos; no ano de 1982 inicia-se a linha 120 e em 1985 começa a exportação de vinhos chilenos para distintos mercados do mundo. O crescimento da Santa Rita ocorreu também a partir da aquisição de marcas de prestígio no mercado como Carmen, em 1987. Em 1988, o Grupo Claro assume a propriedade total da Vinícola Santa Rita. Inicia-se um período de grande expansão da vinícola, transformando-se em sociedade anônima aberta em 1990. Seu crescimento se baseou no forte impulso às exportações e na excelente reputação de seus vinhos, os quais obtiveram importantes prêmios. Na década de 90 se iniciou investimentos significativos em todos os processos. Em todos os processos, destacando-se a área enológica, na qual foram incorporados novos equipamentos, tanques de aço inoxidável e barris de carvalho francês e americano. Na área agrícola consolidou-se a aquisição e plantação de mais de 1000 hectares nos mais importantes vales da vitivinicultura chilena: Maipo, Colchagua e Casablanca. Os mais de 135 anos nos quais a Vinícola Santa Rita tem trabalhado na elaboração de vinhos lhe propiciaram acumular uma vasta experiência, que sem dúvida repercute na qualidade de seus produtos, qualidade esta mantida inalterável com o passar do tempo e que seguirá surpreendendo consumidores em cada canto do mundo.

Mais informações acesse:

https://www.santarita.com/pt/

Referências:

“Blog do Milton”: http://www.blogdomilton.com.br/posts/2018/04/vale-de-aconcagua-vale-de-casablanca-pablo-neruda-chile/

“Loco por Vino”: https://www.locoporvino.com/blog/aconcagua-valley-aos-pes-da-cordillera-dos-andes-uma-das-regioes-produtoras-de-vinhos-mais-bonitas-do-chile

 

 






sábado, 27 de março de 2021

San Valentín Tempranillo 2019

 

Os bons enófilos entenderão o que direi, o melhor, textualizarei, agora: é possível sim nos apaixonarmos por um vinho, digo mais, paixão é efêmero, é fugaz, mais criar um vínculo amoroso com um rótulo, com um produtor, com uma linha de rótulos a ponto de criarmos um vínculo safra por safra! Alguns poderão dizer que seria uma espécie de zona de conforto, se deixar escravizar pela conveniência da qualidade, não se permitindo degustar outros vinhos e se aventurar em outras experiências sensoriais. Ah talvez possamos, como bons versáteis que devemos ser, unir a conveniência do amor a um rótulo, a um produtor, a uma região, a uma casta e a aventura apaixonante das novas experiências, diversificando o nosso leque de opções.

Agora vem aquela pergunta que não quer calar: Por que falar tanto de amor, paixão e efemeridades? Bem tem tudo a ver com a nossa percepção para com essa poesia líquida que nos traz tanta inspiração quando falamos, conhecemos e, claro degustamos. Mas não é só isso, mas também um paralelo, muito do óbvio, do rótulo que degustarei e que terei um grande prazer em tecer algumas linhas, sobretudo pela sua casta, famosa na Espanha, como a mais emblemática: Tempranillo.

A Tempranillo, popularmente conhecida em Portugal como Aragonez e Tinta Roriz, sem sombra de dúvida é, com o perdão da analogia, uma casta apaixonante, que se ama facilmente e diria muito democrática: estruturada, complexo, sobretudo quando estagia por barricas de carvalho, básico, um vinho mais direto e de grande vocação gastronômica. Agrada a todos os níveis de paladar, do mais exigente e experiente aos iniciantes do mundo do vinho.

E nada mais autêntico como a Tempranillo. Retrata fielmente a tipicidade de cada região na Espanha, sendo de fácil cultivo, por isso é tão popular e se adequa a todos os terroirs, ganhando em singularidade. E quando falo de autenticidade, o rótulo que escolhi para degustar personifica, de forma exemplar, tal condição: Um Tempranillo como ele deve ser na sua essência, retratando as suas mais apaixonantes características. O vinho que degustei e gostei vem da região de Castilla La Mancha, um emblemático e fiel Tempranillo da emblemática e tradicional Vinícola Torres e se chama San Valentín da safra 2019. Ah já que falamos com tanto amor e aí está o motivo dessa palavra ser tão mencionada nesta resenha, por causa do santo que inspirou o dia dos namorados pelo mundo afora, mas também pelo apreço emocional que tenho, que todos têm pela Tempranillo, falemos então da casta.

Tempranillo

O nome Tempranillo é o diminutivo de “temprano”, que em espanhol significa cedo e, no contexto do mundo do vinho, quer dizer que essa variedade de uva amadurece antes que as demais. Na Espanha, que é um dos países onde essa uva é mais cultivada, ela amadurece algumas semanas antes que as outras uvas. É oriunda da Península Ibérica, mas devido sua fácil adaptação a diferentes climas e solos, no último século, tem sido muito cultivada em partes diversas do do mundo do vinho, do México à Austrália. Ela possui várias outras designações, dependendo do país de cultivo a Tempranillo pode ser conhecida como Aragonez ou Tinto Roriz (Portugal), Negretto (Itália), Valdepeñas (Estados Unidos) e, mesmo dentro do seu país originário, sua identificação muda substancialmente. Em geral, produz um vinho tinto com acidez e teor alcoólico de nível médio, textura macia e deliciosamente elegante.

Os povos fenícios foram provavelmente os introdutores dessa variedade de uva na Península Ibérica, através da cultura da vitis vinifera, trepadeira que deu origem a quase todas as castas de uvas existentes hoje. Segundo pesquisas científicas, a Tempranillo foi cultivada pela primeira vez há pelo menos 1.000 a.C, onde hoje é a província espanhola de Cádiz. Sua utilização na produção vinícola da Espanha, porém, permaneceu subdesenvolvida até o século XV, período pelo qual esteve o território espanhol sob o domínio mouro, cuja cultura religiosa não dá valor algum às bebidas alcoólicas. Portanto, durante muito tempo no país, a produção de vinho não ficou em primeiro plano, estagnando seu desenvolvimento. Após esse período, a Espanha teve seu florescimento no que diz respeito ao cultivo da uva e produção de diferentes tipos de vinhos, chegando hoje a corresponder ao terceiro maior mercado produtor. À frente dessa produção está a Tempranillo, que, devido sua influência e predominância, tornou-se símbolo dos melhores vinhos do país.

Curiosamente, apesar de o sabor do vinho elaborado com a Tempranillo ser comparado, algumas vezes, com o da Cabernet Sauvignon, elas diferem em relação à adaptabilidade, assim como em relação à resistência as pragas e as intempéries climáticas. Nesses três quesitos a Cabernet Sauvignon apresenta maior resistência. Em relação ao clima, por exemplo, apesar da Tempranillo atualmente ser cultivada em diversas regiões do mundo (não tantas quanto a Cabernet Sauvignon) e de tolerar climas quentes, especialistas afirmam que os melhores vinhos são aqueles produzidos com uvas cultivadas em regiões mais frias e com maior altitude. Por outro lado, os estudiosos também reconhecem que, para aumentar o teor de açúcar e “engrossar” a casca (o que faz com que o vinho tenha uma cor mais intensa), é preciso que o local de cultivo tenha temperaturas mais altas. A conclusão, portanto, é que o clima ideal para o cultivo dessa variedade é o continental.

De forma geral, pode-se dizer que o vinho Tempranillo tem taninos médios, acidez média para alta e cor vermelho escura. É considerado como um vinho de corpo leve a médio. Se jovem, seus aromas remetem a frutas vermelhas; se envelhecido, apresenta aromas de couro e de folhas frescas de tabaco. Quando o vinho é envelhecido, ele fica mais encorpado e com aromas de carvalho, mesmo que a aparência não mostre isso. Isso porque o bago dessa uva é grande e tem casca fina, razão pela qual, quando o vinho está no copo, pode parecer mais translucido do que outros vinhos de corpo médio.

São Valentim

Apesar do Brasil celebrar o Dia dos Namorados em junho, casais apaixonados da Europa e dos Estados Unidos comemoram o amor em 14 de fevereiro. Por quê? A data está diretamente ligada a São Valentim, o santo do amor. O bispo São Valentim viveu durante Império Romano, no século 3 – tempo em que muitas guerras estavam acontecendo. 

São Valentim

Apesar do Brasil celebrar o Dia dos Namorados em junho, casais apaixonados da Europa e dos Estados Unidos comemoram o amor em 14 de fevereiro. Por quê? A data está diretamente ligada a São Valentim, o santo do amor. O bispo São Valentim viveu durante Império Romano, no século 3 – tempo em que muitas guerras estavam acontecendo. Naquela época, o Imperador Cláudio II proibiu o casamento porque achava que soldados solteiros eram combatentes melhores. Mas Valentim realizou muitas uniões clandestinamente. Até que um dia ele foi descoberto, preso e condenado à morte. Mesmo atrás das grades, o bispo recebeu cartas e flores de pessoas que acreditavam no amor e queriam agradecê-lo por realizar seus casamentos. Também foi na prisão que Valentim se apaixonou por uma mulher, mesmo sabendo que jamais ficariam juntos. A moça era cega e filha de um dos carcereiros. Reza a lenda que foi Valentim que, milagrosamente, a fez enxergar novamente. Antes de sua execução, no dia 14 de fevereiro de 269 d.C., o bispo escreveu uma carta de despedida à sua amada, terminando o texto com a frase: “De seu Valentim”. Mais de 200 anos depois, no ano de 496, o Papa Gelásio declarou Valentim santo, fazendo com que milhões de religiosos recordassem seus feitos. A data de sua morte foi escolhida pela Igreja como Dia dos Namorados para incentivar casais que pretendiam se unir em matrimônio.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um vermelho rubi intenso, quase escuro, com alguns reflexos violáceos muito brilhantes com lágrimas finas e em abundância, que teimam em se dissipar das paredes do copo.

No nariz apresenta uma intensidade de aromas, muito frutado, que vai de frutas vermelhas como groselha, cereja e framboesa a frutas negras como amora, ameixa além de um toque floral muito agradável.

Na boca é estruturado, intenso, carnudo, logo com um ótimo volume de boca, mas por outro lado, macio e aveludado, apesar de o início se revelar alcoólico, pela sua impetuosidade, um jovem vinho, mas logo se equilibrou, com uma acidez equilibrada, de média intensidade corroborando a sua jovialidade, com taninos pronunciados e presentes, com final persistente.

Um autêntico e verdadeiro exemplar de Tempranillo está personificado neste belíssimo rótulo da Miguel Torres. Os aromas e o palato trazem a essência da Tempranillo expressando o terroir de La Mancha, mas com o caráter, a gênese da casta mais popular e emblemática da Espanha. Um exemplo de amor literal a terra, as verdadeiras características dessa cepa e que foi produzido por Miguel Torres Carbó como um presente de dia dos namorados para sua esposa, Margarita Riera, em fevereiro de 1956. A flecha do amor atingiu em cheio o meu humilde coração enófilo. Um vinho altivo, revigorante, jovem, intenso, as frutas no seu ápice, no seu auge, na plenitude de seu momento, mostrando taninos vivos e presentes, acidez equilibrada, revelando frescor. Um vinho de marcante personalidade, mas muito fácil de degustar. Que o amor pelo vinho transmita prazer e momentos de celebração que somente o vinho pode proporcionar! Tem 14,5% de teor alcoólico muito bem integrado ao conjunto do vinho.

Família Torres

Sobre a Vinícola Miguel Torres:

A Vinícola Miguel Torres, é uma empresa moderna que está em constante renovação e expansão e que possui vinícolas nas principais regiões produtoras da Espanha: Penedès, Priorato, Rioja, Ribera Del Duero, Rueda, Rías Baixas e Toro. Também possui vinícolas no Chile e nos Estados Unidos (Califórnia). No Chile, foi a primeira vinícola européia a se instalar no Vale de Curicó no fim da década de 1970 e por isso liderou a modernização vinícola daquele país. Miguel Torres possui hoje 1.700 hectares de vinhedos na Cataluña e é a maior vinícola do país, entregando ao mercado 35 milhões de litros de vinhos por ano, tendo rótulos como Coronas, Gran Coronas, Sangre de Toro, Viña Sol, um dos mais vendidos e conhecidos. Miguel Agustin Torres, pai de Miguel Torres Maczasseck, formado em enologia na França, começou a trabalhar na empresa em 1961 e assumiu definitivamente o lugar do pai, Miguel Torres Carbó, em 1991. Representando a quarta geração da família, foi ele quem comandou a ampliação dos negócios na Espanha, há alguns anos, com novas vinhas em Rioja, Ribera del Duero, Rueda e no Priorato, Toro e Jumilla. Além disso, em 1994 comprou a vinícola de Jean Leon, mais em homenagem ao amigo espanhol que fez sucesso com um restaurante em Los Angeles, nos Estados Unidos, com quem mantinha amistosa rivalidade. Jean Leon foi o primeiro a plantar Cabernet Sauvignon no Penedés, logo seguido por Miguel Torres. Atualmente, a Miguel Torres emprega milhares de trabalhadores, possui vinotecas em Shanghai, Barcelona e Santiago, tem firme atuação nas redes sociais e tem por lema “Cuanto más cuidamos la tierra, mejor vino conseguimos”. Exporta seus vinhos para mais de 150 países e tem um objetivo a ser atingido até 2020: reduzir as emissões de CO2 de cada garrafa produzida a partir de 2008, uma vez que o respeito ao meio ambiente, a ecologia faz parte da estratégia da vinícola Torres no mundo todo.

Mais informações acesse:

https://www.torres.es/es/inicio

Referências:

Blog “Vinhosite”: http://blog.vinhosite.com.br/tempranillo-a-uva-que-os-espanhois-mais-cultivam/

“Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/tempranillo-a-nobre-uva-da-espanha/

“Revista Galileu”: https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/Historia/noticia/2020/02/quem-foi-sao-valentim-o-bispo-inspirou-o-dia-dos-namorados-no-exterior.html

“Blog do Jeriel”: https://blogdojeriel.com.br/2020/07/01/vinhos-de-julho-miguel-torres-san-valentin-parellada-tempranillo-e-garnacha-todos-2018/

 

 




quinta-feira, 25 de março de 2021

Delicato Zinfandel 2013

 

Sabe quando você olha vinhos de determinadas regiões ou castas e percebe ou chega a triste conclusão de que nunca irá degustar? Pois é, foi assim que eu sempre encarei os vinhos da emblemática região da Califórnia nos Estados Unidos. Quando tive os primeiros contatos, lendo sobre os vinhos californianos, primeiramente me surpreendeu. Sempre tive a percepção de que os grandes vinhos repousassem em terras europeias, tais como França, Espanha, Portugal, Itália etc. Uma visão pré-concebida caiu, afinal Estados Unidos tem sim grandes e tradicionais regiões produtoras de vinhos.

Mas com a descoberta surgiu uma desilusão: percebi quer nunca iria degustar um grande rótulo californiano! Os preços disponíveis no mercado eram astronômicos! Há pouco mais de 10 anos não eram muitos rótulos disponíveis, é bem verdade, logo deduzi que os valores altos eram, também, por conta desse panorama, além dos altos tributos impostos nos vinhos em terras brasileiras, mas atualmente, os valores continuam demasiadamente altos e arrisco dizer que mais alto do que há pouco mais de 10 anos atrás! Então a desilusão bateu de forma implacável! Conheço a região, um pouco das suas histórias, mas não terei acesso aos seus rótulos.

Porém sempre procurei um vinho que pudesse ter um ótimo custo X benefício, nunca desisti de procurar, apesar de não alimentar maiores expectativas acerca desse momento. Em mais uma de minhas incursões aos supermercados, como sempre, acabei encontrando um rótulo que me interessou pelo seu curioso nome, mas que, a priori, não sabia de que região era, país ou coisa parecida. Mas quando vi estampado no rótulo a sua casta, logo percebi que se tratava de um vinho norte americano: a Zinfandel. A casta mais emblemática e importante daquele país. Vi também que era californiano. Então me pus a procurar, com certa ansiedade, pois estava difícil de encontrar, mal sinalizado, e quando avistei o preço estava bastante convidativo, pelo menos à época, em torno dos R$ 45,00!

Mas diante da alta média dos valores que via R$ 45,00 era demasiadamente baixo e, confesso que fiquei um tanto quanto receoso quanto a qualidade, mais um preconceito de minha parte, afinal, valor não determina qualidade, mas decidi compra-lo mesmo assim. E decidi degusta-lo o quanto antes, tamanha era a animação de degustar um californiano. A rolha finalmente se desprendeu da sua garrafa, o momento ritualístico foi seguido, a taça foi finalmente inundada pelo Zinfandel e o vinho era maravilhoso! Incrivelmente bom, com excelente drincabilidade! O vinho que degustei e gostei veio da Califórnia, nos Estados Unidos, e se chama Delicato, da casta popular Zinfandel, safra 2013. Não posso, diante desse momento deixar de falar da Califórnia e dos seus grandes rebentos viníferos.

Califórnia, a tradicional região do Novo Mundo

A produção vinícola na Califórnia teve inicio há mais de 240 anos, com as missões da corte espanhola que tinha como objetivo a ocupação territorial. As missões eram formadas por uma capela, um anexo e os vinhedos para produção do vinho da missa. Vinte e uma missões foram fundadas entre San Diego, no sul, e Sonoma, no norte, durante os 60 anos seguintes, originando os nomes de diversas cidades da Califórnia: Santa Bárbara, Santa Lucia, San José, Santa Cruz. Com o tempo muitas missões tornaram-se ruínas, mas a costa californiana tinha sido transformada em um jardim de videiras. Com a chamada Corrida do Ouro, na segunda metade do século XIX, a costa oeste dos Estados Unidos teve um grande crescimento populacional e a demanda por vinho acompanhou esse crescimento. Consequentemente, a área para o plantio e cultivo das uvas aumentou exponencialmente, assim como os investimentos nos vinhedos, fazendo com que a produção de vinhos se estabelecesse definitivamente na região. Em 1870, as principais vinícolas da Califórnia hoje conhecidas mundialmente, já existiam, produzindo vinhos de qualidade.

Depois dos três países mais tradicionais na vitivinicultura internacional, França, Itália e Espanha, a Califórnia é o maior produtor de vinho no mundo, isto é, a quarta potência no que se refere ao cultivo, produção e comercialização da bebida em todo o planeta. Os números são impressionantes: o ensolarado estado da costa oeste norte-americana é responsável por mais de 90% da produção vinícola dos Estados Unidos, e, todo o ano, recebe a visita de cerca de 20 milhões de pessoas em suas principais regiões produtoras, que além de tudo oferecem ótimas alternativas de turismo para os apreciadores do vinho.

Mas nem sempre foi assim. Por volta de 1890, a praga conhecida como Phylloxera Vastatrix, que devastou grande parte dos vinhedos ao redor do mundo, chegou à Califórnia, e freou a indústria vinícola na região. Em 1920 veio a Lei Seca que proibiu as bebidas alcoólicas e interrompeu mais uma vez o processo de crescimento da produção de vinhos e o valor patrimonial das vinícolas pioneiras desabaram. A produção só foi retomada lentamente após a sua abolição, em 1933, com novos empreendedores surgindo e iniciando a uma nova fase da vitivinicultura californiana. Entretanto, só na década de 60 é que os exigentes consumidores de Los Angeles, San Francisco e outras cidades californianas começaram a buscar uma fonte local de vinhos finos, dando um verdadeiro impulso à essa indústria.

Napa Valley e Sonoma Valley são as duas principais regiões de produção vinícola na Califórnia, somente nelas existem mais de 800 vinícolas. A região da Napa concentra o maior numero de vinícola no mundo, e produz vinhos de categoria elevada; a região de Sonoma, por sua vez, é conhecida por fornecer uvas de grande qualidade para a produção de vinhos em outras regiões. Mendocino, Monterey, Paso Robles, Russian River Valley, Dry Creek Valley, Alexander Valley também são regiões vitivinicultoras bastante conhecidas na Califórnia.

Califórnia

O clima na Califórnia pode ser classificado como tipicamente mediterrâneo com dias ensolarados e noites frescas, mas grande parte dessas regiões tem seu micro clima específico, o que facilita o cultivo de uvas ou produção de tipo de vinhos também de forma muito específica e particular; cada região acaba se especializando em uma determinada variedade de uva ou vinho por causa disso. A região de Santa Barabara, por exemplo, é conhecida por suas tintas Pinot Noit e Syrah, apesar de cultivar a branca Chardonnay de forma bem sucedida. Uma das características que fazem da Califórnia um respeitado polo da vitivinicultura no mundo, é a sua grande variedade de uvas e vinhos. Há cerca de cem variedades de uvas plantadas no estado, cada uma com aroma e sabor próprios, que, associados ao tipo de clima e solo onde são cultivadas, produzem vinhos de ótima qualidade. As principais variedades cultivadas nas suas regiões vinícolas são: Cabernet Sauvignon, Chardonnay, Merlot, Pinot noir, Sauvignon blanc, Syrah e Zinfandel (típica da Califórnia). Os vinhos californianos, por sua vez, variam de características e preço, podendo de ir de sabor simples e frutado a intenso e concentrado, mas sempre com qualidade elevada.

E agora falemos do vinho!

Na taça apresenta um vermelho rubi intenso com reflexos violáceos muito brilhantes, límpidos, com uma razoável abundância de formação de lágrimas finas.

No nariz as frutas negras é a tônica, uma verdadeira explosão aromática, as frutas vermelhas também se fazem evidentes, com notas florais agradáveis, de especiarias picantes e destacados toques de chocolate, de baunilha, graças a sua passagem por barricas de carvalho, cujo tempo não foi informado pelo produtor.

Na boca é seco, aveludado e elegante, apesar de mostrar uma boa estrutura, com um ótimo volume de boca, corroborando a sua personalidade. Tem taninos macios, mas presentes, um toque amadeirado, com a presença de um discreto toque de torrefação, uma acidez equilibrada e correta, com um final persistente e retrogosto frutado.

Foi um momento de felicidade! Há quem diga que não somos felizes e que temos “surtos” ou momentos de alegria. Não quero agora entrar em pormenores quanto a essa frase, mas naquelas horas em que degustei o Delicato foi especial! Me senti feliz, alegre naquelas horas. Um vinho de ótimo custo X benefício que me mostrou que degustar um bom californiano, um bom Zinfandel, não precisa sacrificar o seu curto orçamento com valores tão altos. Um vinho versátil, saboroso, redondo, muito equilibrado, mas de marcante personalidade e ótima vocação gastronômica. Esse foi o californiano Delicato! Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Delicato Family Wines:

Delicato Family Wines é uma das empresas de vinho de crescimento mais rápido nos Estados Unidos e uma vinícola familiar com quase um século de história de cultivo de uvas na Califórnia e de elaboração de vinhos de qualidade superior. Ancorada por um foco de longo prazo, a família Indelicato infundiu sua cultura de integridade, trabalho árduo e altos padrões na estrutura da empresa de vinhos dinâmica que construíram.  Três gerações da família Indelicato conduziram a vinícola à posição que ocupa hoje, começando com Gaspare Indelicato. Emigrante da Sicília, Itália, Gaspare Indelicato plantou o primeiro vinhedo Delicato em Manteca, Califórnia, em 1924 - uma área que o lembrava de sua terra natal. Com os três filhos fundou uma adega, construindo uma sólida reputação na produção de vinhos de qualidade.

Hoje, a 3ª geração da família está envolvida na produção de vinho. Hoje, os vinhedos cobrem 100 hectares de videiras em Napa, Lodi, Monterey e Sonoma, Califórnia. Muitos vinhos brancos e tintos são produzidos sob o rótulo Delicato - Chardonnay, Cabernet Sauvignon, Pinot Grigio, Shiraz, White Zinfandel e Merlot, que atendem à demanda dos consumidores por vinhos agradáveis ​​e modernos adequados para qualquer ocasião.

Mais informações acesse:

https://www.delicato.com/

Referências:

“Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/california-o-paraiso-dos-vinhos-no-novo-mundo/#:~:text=Hist%C3%B3ria,serem%20utilizados%20em%20seus%20ritos.

“Buono Vino”: https://buonovino.com/historia-do-vinho/vinhos-californianos-o-coracao-da-viticultura-norteamericana/

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=CALIFORNIA

Degustado em: 2017

 

 





sábado, 20 de março de 2021

Carte Noire Malbec e Merlot 2013

 

A Malbec é da Argentina! É inegável! Podem parar! Engana-se quem pensa isso! Claro que os grandes rótulos dessa importante cepa são argentinos, atualmente são os melhores e maiores produtores de vinhos da casta Malbec do mundo. E já vem de algum tempo, diga-se de passagem. Mas a França tem a paternidade da Malbec e guarda, em suas terras, histórias emblemáticas que envolvem os extremos de momentos de glória e tragédia, tendo a própria Argentina exercendo um protagonismo no caminho da Malbec que culminou com o sucesso dos dias contemporâneos. Porém, admito que, em um passado razoavelmente distante, eu também desconhecia essa história e atribuía, diante ápice da minha insegurança, que a Malbec era dos hermanos.

A Malbec tem as suas origens em uma região chamada Cahors, no sudoeste francês e que fica muito próximo a mais conhecida das regiões vitivinícolas daquele país, Bourdeaux. Não me recordo quando descobri que a casta pertencia a região francesa de Cahors, sequer conhecia a existência desse local na França. Provavelmente foi uma descoberta de forma mais despretensiosa do mundo, garimpando outras informações. Quando descobri foi muito relevante, levando em consideração a importância que a história do vinho tem para mim e me pus a ler, a descobrir rótulos disponíveis para venda aqui no Brasil.

Depois da intensa leitura sobre Cahors, decidi buscar vinhos da casta Malbec dessa região, como um bom enófilo ávido por novidades e experiências sensoriais agradáveis comecei a procurar e percebi que a oferta não é muito grande e os poucos rótulos disponíveis são muito caros para a minha realidade econômica. Pensei, um tanto quanto frustrado: Jamais terei a alegria, o prazer de degustar um Malbec de Cahors! Parecia muito distante das minhas possibilidades. Após essa triste constatação decidi esquecer e não procurar mais rótulos e tão pouco ler sobre a região francesa de Cahors. Queria abstrair de minha mente.

Porém a vida parece lhe conceder oportunidades e navegando o site de uma conhecida loja virtual de venda de vinhos, mais uma vez despretensiosamente, procurando vinhos aleatoriamente, eis que, diante de meus olhos que, incrédulos, testemunhou um vinho da região de Cahors, um corte de Malbec e Merlot, a um preço extremamente competitivo, atraente, em comparação aos valores que tinha pesquisado quando havia conhecido a região francesa. Na realidade foi um misto de animação e receio: como um vinho dessa região custar tão pouco em comparação com os outros vinhos da região disponíveis para venda no Brasil? Muita coisa passou pela minha cabeça, as perguntas ecoavam de forma insistente, mas necessária: seria bom esse vinho? Por que é tão barato? Fiz como sempre algumas pesquisas sobre o rótulo, não tinham muitas referências sobre o mesmo, além do próprio site da loja virtual e, diante da situação que se descortinava diante dos meus olhos, resolvi arriscar e comprar o vinho que estava na faixa dos R$ 49,90!

Decidi, quando da chegada do vinho, não levar muito tempo para degusta-lo até porque a safra do mesmo é ano de 2013, com 8 anos de vida! Outro fator admito, que me chamou atenção, o tempo de safra do vinho. Adoro esses vinhos evoluídos! Eis então que o momento tão esperado chegou! Estou radiante, inspirado, a começar pelas linhas que constroem essa resenha. Finalmente degustarei um vinho do berço da Malbec, Cahors. O ritual foi fielmente seguido para dar um ar de celebração ao momento tão especial. A rolha se desprende da garrafa e a bebida inunda a taça e...voilá! Inacreditável! Soberbo! Que vinho especial, quanta diferença, a Malbec em sua diferente percepção em relação a fama que adquiriu do outro lado do oceano, nas terras argentinas. O vinho que degustei e gostei veio da região de Cahors, na França e se chama Carte Noire, um AOC (Appellation d'origine contrôlée) que é o equivalente ao DOC (Denominação de Origem Controlada), com o corte das castas Malbec (80%) e Merlot (20%) da safra 2013. E como a história não pode faltar e foi com ela que cheguei a este rótula, vamos falar um pouco de Cahors.

Cahors, o berço da Malbec

De Cahors na França vem a famosa uva Malbec muito plantada na Argentina e hoje uva símbolo de lá.  Mas ela não é argentina. A uva Malbec é alóctone da Argentina e autóctone de Cahors. Sim Cahors é o seu verdadeiro berço, onde ela nasceu e recebeu o nome de Côt. Pelo que contam os registros de época, as primeiras plantações de Malbec, uva conhecida na região como “Côt” datam de 92 d.C. O vinho é frequentemente citado como o mais antigo da Europa e foi conhecido devido a sua cor intensa como o vinho “negro” de Cahors. Os vinhos de Cahors desde a idade média são longevos e escuros com forte personalidade. As plantações ocupam atualmente cerca de 4.300 hectares, sendo a produção máxima permitida de 50 hectolitros por hectare.

Na região, a uvas permitidas para vinhos tintos são a Côt (Malbec), a Tannat, a Cabernet Franc e a Gamay em Coteaux du Quercy. Cahors permanece com a marca da antiga Côt que se revela em personalidade forte insistente, arrojada e com expressão mais rústica, compensando em longevidade. Oferece assim, robustez, estrutura e boa guarda. A uva é liberada para os cortes de Bordeaux, mas pouco utilizada por lá, hoje em dia.A região de Cahors fica a cerca de 230 KM de Bordeaux no departamento de Lot, na região Sud-Est da França fazendo fronteira com o departamento da Dordogne.

Cahors

Cahors sofreu forte influência de seu poderoso vizinho, Bordeaux, em sua dramática história. O vinhedo foi criado pelos romanos e, durante a Idade Média, seu prestígio teve expressivo crescimento. O casamento de Eleanor de Aquitânia com Henrique II, rei da Inglaterra, abriu as portas do grande mercado consumidor inglês, antes dominado pelos vinhos de Bordeaux. No entanto, os poderosos produtores e comerciantes bordaleses, sentindo-se ameaçados, mobilizaram-se para pressionar Londres e conseguiram arrancar do rei da Inglaterra alguns privilégios exorbitantes, o que resultou num duro golpe para os produtores gascões. Além de sofrerem pesada taxação, os vinhos do sudoeste só podiam chegar à capital inglesa depois que toda a produção bordalesa estivesse vendida. Tal regra durou cinco séculos (foi interrompida apenas em três curtos períodos) e o vinho da região sentiu o golpe. Esta conduta só foi abolida em 1776, pelo liberal ministro de finanças de Luís XVI, Jacques Turgot, quando se iniciou um novo ciclo dourado dos fermentados de Cahors. Apesar da Revolução Francesa e das guerras do Império já no século XIX, 75% do vinho da região era exportado e um terço das terras agriculturáveis eram dedicadas à vinha, que cobria a impressionante área de 40 mil hectares. A região enfrentou bem a praga do oídio (de 1852 a 1860) e a superfície plantada subiu ainda mais, chegando a 58 mil ha. Para se ter uma ideia da queda que viria mais tarde, a área do vinhedo de Cahors hoje é de apenas 4.200 ha. Mas o território teve pior sorte ao enfrentar a filoxera no final do século XIX. Como se sabe, todos os vinhedos atacados no mundo tiveram de ser replantados, desta vez, de forma enxertada. Então, as vinhas de Malbec reagiram muito mal a esta nova situação, dando origem a fermentados medíocres, com qualidade muito abaixo da que tinha anteriormente. Apenas no final dos anos 1940, depois de muita pesquisa, chegou-se ao clone 587 da Malbec, que teve muito boa adaptação. Assim se retomou, então, sua marcha ascendente até chegarmos a 1971, quando Cahors é declarada região AOC (Appellation d'Origine Contrôlée, denominação de origem controlada).

As normas dessa denominação determina que o vinho deve ser composto de, pelo menos, 70% de Malbec, sendo o restante feito com a tânica Tannat e a macia Merlot. A Cabernet Sauvignon e a Cabernet Franc não são permitidas. O vinho é bastante escuro e encorpado, com boa fruta e mais austero e seco do que o Malbec argentino. Dependendo da sub-região, pode ser mais leve e para consumo mais precoce, ou mais estruturado e passível de longa guarda.

Malbec de Cahors X Malbec de Mendoza

E agora finalmente o vinho!

Na taça um lindo e envolvente vermelho rubi intenso, quase escuro, com alguns reflexos violáceos, além de lágrimas grossas e abundantes, desenhando as paredes do copo.

No nariz traz notas de frutas negras, tais como cereja e groselha negra, com algum toque terroso e de tabaco, couro revelando alguma rusticidade.

Na boca é seco, as frutas se fazem presentes, mas não em evidência, com alguma estrutura graças a Malbec, mas macio e fácil de degustar certamente pelo tempo de safra bem como o percentual da Merlot que o torna versátil. Apresenta taninos presentes e pronunciados, mas domados, com acidez média, percebendo também o couro com um final de média persistência.

Mais uma página da minha história de um simples enófilo foi escrita de forma singular. Degustar um vinho a base da casta Malbec de Cahors, o berço da Malbec, foi uma experiência sensorial relevante e especial. Uma página foi escrita, mas tenho a avidez, a necessidade de que novos capítulos sejam escritos e que venham novos rótulos da emblemática e tradicional Cahors para que possamos desbravá-la por intermédio de sua bebida, do líquido nobre e poético, que inspira, que nos traz o prazer sensorial que proporciona o mais puro e genuíno deleite. Carte Noire trouxe para mim uma nova percepção, uma nova personificação da Malbec que não conhecia, com a estrutura, as notas de frutas maduras, a rusticidade e a plenitude de um vinho que, mesmo com seus 8 anos de vida, se revelou pleno e vivo, como a história de sua região, que, embora não tenha a fama da Malbec argentina, onde ganhou um novo lar e uma nova concepção, mostra ainda que tradição e modernidade está, a cada dia, fazendo Cahors renascer e mostrar toda a sua força e importância, com vinhos de muita tipicidade. Tem 12% de teor alcoólico.


Sobre a Vinovalie:

A Vinovalie Les Vignerons foi criada em 2006 e é formada por quatro cooperativas de vinhos dentro da França: Vignerons Rabastens, Cave de Técou (Tarn), Cave de Fronton (Haute-Garonne) e Côtes D’Olt (Lot) e alguns Châteaux como o Les Bouysses. Cada etapa do processo de criação dos vinhos é baseada na paixão e no know-how complementares dos homens: viticultores, adegas e enólogos.

O consumidor está no centro das áreas de inovação. Cientes do papel a desempenhar, a vinícola está empenhada numa abordagem típica de I&D, desde o trabalho na vinha à distribuição dos vinhos.

Mais informações acesse:

https://www.vinovalie.com/

Referências de pesquisa:

Portal “Enoestilo”: https://www.enoestilo.com.br/cahors-o-berco-malbec-2000-anos-de-historia/ e https://www.enoestilo.com.br/mapas-vinho-dicas-regiao-de-cahors/

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/cahors-outra-terra-da-malbec_439.html

 

 






quarta-feira, 17 de março de 2021

Estancia Mendoza Chardonnay 2017

 

Uma coisa é óbvia no universo dos vinhos: você precisa, deve seguir a sua intuição quando vai escolher um rótulo, seguir seu coração! É um leve, admitamos, para a vida em todos os seus aspectos. Claro que você deve se abastecer de todas as informações necessárias para “construir” as suas predileções, tais como: região produtora, proposta do vinho, casta etc. Tudo isso ajuda na sua construção sensorial. Mas há aqueles casos, digamos raro, em que você absorve, recebe dicas de outras pessoas ou aqueles famosos “reviews”, as resenhas de vinhos que explodem na grande rede, inclusive esta que você lê agora.

Pode se considerar um risco? Sim, e dos grandes! Mas como escolher um vinho é um risco constante e como somos enófilos e como tal, buscamos avidamente novas experiências, precisamos as vezes, assumir certos riscos para espantar de vez a temível zona de conforto que nos limita e muito. E o vinho que escrevo eu busquei a informação, as referências de onde menos se deveria esperar: desses famigerados aplicativos de vinhos, com aquelas médias, aquelas notas que faz de um vinho ser ou não cotado. Mas o que é isso? Um vinho ser ou não cotado por frias notas? Sim! E eu fiz parte disso por algum tempo, até me “libertar” disso para sempre!

Mas esse rótulo argentino admito, me chamou a atenção! Os comentários, sejam eles bem elaborados ou pobres de informação, enaltecia de forma surpreendente a sua qualidade X custo. Surpreendente pelo fato de ter visto esse vinho em um supermercado perto de minha casa por um valor arrebatador e atraente: R$ 22,90!

E claro o fator preço também exerce uma forte influência de compra! Diante dos elogiosos comentários, embora oriundos de aplicativos não muito confiáveis, precisava conferir e logo me pus pronto para ir ao supermercado para compra-lo. Não demorou muito para tê-lo em minhas mãos e na minha adega. E não demorou muito também para degusta-lo, a ansiedade salutar da degustação tomava conta dos meus pensamentos.

O dia tão esperado chegou enfim. A rolha escapou da garrafa e logo inundei de expectativa a minha taça e, diante de sua simplicidade, o vinho explodiu em qualidade. Era surpreendente o que o vinho entregou! Porém antes de entrar nos pormenores do vinho, nada mais apropriado, evidente, é apresenta-lo. O vinho que degustei e gostei veio da região emblemática de Mendoza, na Argentina, um Chardonnay, a rainha das uvas brancas, e se chama Estancia Mendoza Chardonnay da safra 2017.

Esse não foi o meu primeiro Chardonnay argentino, porém mais um que me chamou e muito a atenção. E quando tive o meu primeiro contato com um Chardonnay dos hermanos eu não sabia, jamais esperaria que a Argentina produzisse Chardonnays de tamanha qualidade e excelência, é a “síndrome de Malbec”, afinal a Argentina tem muito a oferecer na viticultura. E a Chardonnay é a segunda entre as tradicionais variedades brancas da Argentina. É muito apreciado pela sua capacidade de amadurecer bem e produzir uma vasta gama de vinhos, desde as bases para os espumantes aos corpulentos varietais fermentados em barricas de carvalho, passando por vinhos frescos e elegantes sem envelhecimento em carvalho. Seus descritores primários mais frequentes são frutas tropicais e maçãs. E Mendoza se destaca entre as regiões argentinas na produção de Chardonnay com cerca de incríveis 82% de produção desta cepa no país. Diante disso cheguei a óbvia conclusão de que temos muito a explorar na Argentina no que tange a rainha das uvas brancas.

E agora o vinho!

Na taça apresenta um amarelo palha com discretos reflexos violáceos, de um brilho intenso e vívido.

No nariz explode um aroma frutado com destaque para frutas brancas e tropicais, tais como melão, abacaxi, maça verde bem como frutas cítricas que lhe conferiu um frescor e jovialidade incríveis, além de notais florais que contribuiu para essa percepção de frescura.

Na boca é seco, vivaz, descontraído, a fruta é percebida como no aspecto olfativo, com um surpreendente volume de boca, com uma baixa acidez, como é de costume da Chardonnay, mas que não afasta o frescor do vinho, com um final alegre, persistente e um retrogosto frutado.

Um vinho que está longe daquele Chardonnay chileno, por exemplo, que é mais encorpado, pesadão em alguns casos, sendo muito despretensioso, mas saboroso e diria com alguma personalidade. Aquele vinho que harmoniza com frituras e quitutes mais simples, uma refeição, carnes brancas leves ou simplesmente com um dia de calor, na beira da piscina ou simplesmente com uma informal conversa com bons amigos ou simplesmente sozinho em um simples dia que, com esse belo vinho, se torna em um especial dia de celebração e ode a nossa poesia líquida. A personalidade tem que ser parte integrante do enófilo na escolha do vinho, mas se permitir ouvir ou ler o que o outro tem a dizer sobre determinados vinhos também pode trazer boas e agradáveis surpresas e o Estancia Mendoza Chardonnay, no auge da sua simplicidade, entrega o que há de melhor do terroir de um dos países mais emblemáticos na produção de vinhos: a Argentina, sendo contundente prova de que não é apenas o país da Malbec. Teor alcoólico de 12,5%.

Sobre a Bodega Estancia Mendoza:

A Bodega Estância Mendoza é a divisão premium de um dos principais grupos de vinhos na Argentina, o grupo Fecovita. Estancia Mendoza S.A. é um estabelecimento vitivinícola localizado no Município de Tupungato, nas terras altas de Mendoza. Nesta região, conhecida como o Vale do Uco e reconhecida como uma das melhores vinhas do mundo é um local privilegiado para o cultivo de vinhas e a elaboração de vinhos de alta qualidade. Localizado a 1.100 metros acima do nível do mar, possui solos pedregosos de boa drenagem, onde as lavouras são rústicas devido ao verão rigoroso e invernos com muita neve, e recebem a irrigação do degelo mineralizado da grande cordilheira dos Andes.

Os dias quentes e as noites frias criam condições para que a amplitude térmica atinja os 20ºC num dia, o que combinado com a constante irradiação solar na primavera e verão austral, proporcionam as condições ideais para a obtenção de excelentes uvas, matriz indiscutível para um ótimo vinho. Com uma adega muito moderna a vinícola consegue produzir ótimos vinhos com um custo muito competitivo. A gama de vinhos possui cinco níveis: Bivarietais, Varietais, Roble, Reserva, Single Vineyard e a linha Los Helechos. A vinícola também possui experiências de enoturismo com um hotel de alto luxo localizado no meio dos vinhedos.

Mais informações acesse:

https://estanciamendoza.com.ar/pt/



Referências para pesquisa:

“Wines of Argentina”: https://www.winesofargentina.org/en/varieties/chardonnay


Degustado em: 2019




sábado, 13 de março de 2021

Cantine Castelvecchio Barbera D'Asti 2016

 

Ainda sigo o meu caminho, o meu garimpo pelas castas e regiões pouco conhecidas, pouco populares em terras brasileiras, afinal precisamos nos proporcionar novas experiências sensoriais e sair um pouco do óbvio, da temida e anestesiante zona de conforto daquelas castas muito famosas e conhecidas. E a minha degustação de hoje, apesar de nunca ter degustado essa casta na sua versão varietal, ela é extremamente popular e conhecida em seu país. Talvez seja uma confirmação de que ainda estou engatinhando em minha caminhada no universo do vinho ou porque esse universo é tão vasto e inexplorado ou talvez um seja consequência do outro.

O fato é que criar uma expectativa acerca de uma nova degustação, de uma cepa pouco corriqueira para mim é motivo de muita alegria e de uma uva extremamente popular e aceita em seu país de origem: Falo da emblemática Itália. Degusto vinhos da “Velha Bota” desde que me conheço por enófilo e sempre ouvi falar da casta Barbera, mas nunca a degustei em uma versão varietal. Infelizmente o mercado brasileiro ainda é incipiente em algumas ofertas de rótulos por aqui e é inconcebível, pelo menos para mim, não ter opções da Barbera em nossos pontos de venda e os poucos que tem, são oferecidos a altíssimos valores pelo fato, além do custo Brasil e impostos altos, da escassez de opções.

Mas o estímulo ao garimpo dessas castas pouco usuais em terras “brasilis” confesso ser grande e as nossas sensações, mais do que evidentes, sensoriais, claro, é que agradecem”. Lembro-me ter feito a aquisição de meu rótulo em uma despretensiosa ida ao supermercado. A avistei, com um olhar clínico e interessado, jogado em uma gôndola praticamente no chão sem nenhum destaque, mas achei, por se tratar de um rótulo cuja casta não é popular por aqui, o valor bem atrativo, em torno de R$ 40,00!

Então sem mais delongas apresento o vinho que degustei e gostei da tradicional e excepcional região italiana no Piemonte, da comuna de Asti, o Cantine Castelvecchio da casta Barbera da safra 2016, um DOCG (Denominação de Origem Controlada e Garantida). E, diante desse dia especial de degustação, celebremos também com um pouco de história da região do Piemonte, sua comuna conhecida, Asti, que carrega seu nome nos rótulos dos vinhos produzidos com a casta Barbera e um pouco da história da história desta casta tão importante para a cultura vinícola da Itália. 

Piemonte, a filha pródiga dos vinhos italianos

Piemonte disputa com Toscana a primazia de produzir os melhores vinhos de seu país. Situado na porção mais ocidental da Itália, fazendo fronteira com a França, também foram os gregos que deram início à produção de vinhos. Absorvido mais tarde pelo Império Romano, a zona teve um grande desenvolvimento nas atividades vitivinícolas, que só foram prejudicadas mais tarde, já na Era Cristã, durante a invasão de povos bárbaros oriundos do norte da Europa. A nobreza medieval se encarregou de retomar o plantio das uvas e a elaboração do vinho, já nessa época surgem menções a uva emblemática da região, a Nebbiolo. Devido a forte influência francesa (a região foi, por séculos, dominada pela Casa de Savóia), por muito tempo seu vinho se assemelhou ao clarete, que era a moda na Europa de então. Foi somente a partir do século XVIII, quando ocorreu um grande processo de renovação vinícola, que surgiu o Barolo, vinho de grande caráter e símbolo da região, para fazer sua fama. O Piemonte produz atualmente cerca de 300 milhões de litros de vinho por ano em sua área de 58 000 ha. plantada de vinhedos.


Piemonte

Como o próprio nome indica, a região está situada ao pé da montanha - no caso, os Alpes - sendo, portanto, uma região muito acidentada. A maior parte de Piemonte está constituída por colinas e montanhas, mas sobram cerca de 26% de terras planas. Além dos Alpes, outra cordilheira, o Apenino Ligúrio, invade também seu território. Os rios Pó e Tanaro cruzam suas terras, onde se encontram as cidades de Torino (capital), Alba, Alessandria, Asti e Novara, dentre outras. Seu solo é muito variado, com faixas de calcário e areia, outras de giz e manchas de granito e argila. Ao longo dos rios há presença de solos aluviais. O clima é Continental, com estações bem marcadas, invernos rigorosos e verões quentes. O índice de chuvas é de cerca de 1.000 mm/ano. As uvas tintas representam dois terços da produção da zona. Além da Nebbiolo, vamos também encontrar as Barbera (a variedade mais plantada em toda a Itália), Brachetto, Dolcetto, Grignolino, Freisa e, em menor escala, algumas cepas francesas, como a Cabernet Sauvignon. As principais castas brancas são a Arneis, Cortese, Moscato Bianco, Malvasia, Erbaluce a Chardonnay. O Piemonte produz cinco vinhos DOCG (Vinhos de Denominazione di Origine Controllata e Garantita), a elite dos vinhos italianos, são eles: Barolo, Barbaresco, Gattinara, Asti, Brachetto D' Acqui. Além desses, também saem da região 42 vinhos DOC (Denominazione di Origine Controllata) e vários Vini da Tavola de boa qualidade.

Barbera, o “vinho do povo”.

Uma das maiores uvas italianas, ficando atrás apenas da Sangiovese, a uva Barbera, conhecida anteriormente por produzir vinhos de menor qualidade, hoje é responsável por vinhos nobres e notáveis. Esta casta passou, pelos últimos anos, uma verdadeira história de superação. Trata-se da uva que é responsável pelo vinho que os piemonteses consomem no dia a dia, daí o nome que foi concedido pelas pessoas da região: “o vinho do povo”.

Acredita-se que a uva Barbera tem origem nas montanhas de Monferrato, na região central de Piemonte, na Itália. Alguns documentos, datados entre 1246 e 1277, encontrados na Catedral da Casale Monferrato, detalham acordos relacionados a vinhedos plantados com “de bonis vitibus barbexinis”, a uva Barbera. Contudo, um ampelógrafo chamado Pierre Viala especula que ela se originou em Oltrepò Pavese, na região da Lombardia. Nos séculos 19 e 20, ondas de imigrantes italianos trouxeram esta cepa para a Califórnia, Argentina e outros lugares nas Américas. Em 1985, um evento trágico relacionado à uva Barbera envolveu produtores adicionando ilegalmente metanol aos vinhos. Esta ação causou declínio no plantio e vendas da uva. Isto levou a Montepulciano tomar o posto da uva Barbera no meio da década de 90. Anteriormente considerada uva de vinhos inferiores, até o escândalo de Relações Públicas nas décadas de 80 e 90, a uva Barbera tomou um rumo de superação muito interessante.

Frutado, ele tem gosto de cerejas, morangos e framboesas. Quando jovem, o vinho Barbera pode ter aroma de mirtilos também. Com pouco tanino e alta acidez natural, a uva Barbera é uma boa pedida para harmonizar vinhos com alimentos ricos e reconfortantes, como queijos, carnes e cogumelos. Além de Piemonte, a uva Barbera é cultivada em outras regiões da Itália, como Campania, Emilia-Romagna, Puglia, Sardenha e Sicília, somando 52.600 acres de plantação. O vinho Pomorosso 2008, do produtor Coppo, é famoso por transformar a Barbera em uma casta nobre - elegante, também é reconhecido como um dos melhores tintos italianos. Fora do país, a Argentina, a Austrália, os Estados Unidos e até mesmo o Brasil são outros produtores conhecidos de vinhos de qualidade com a Barbera. Em regiões quentes, como a Califórnia, nos EUA, destacam-se toques de ameixa, além do sabor frutado de cereja.

Barbera e o Cantine Castelvecchio 

E agora finalmente falemos do vinho!

Na taça entrega um vermelho rubi intenso, porém com brilhosos e reluzentes entornos violáceos, diria em tons granadas. Lágrimas finas, abundantes e que desenham lindamente as paredes do copo.

No nariz explode em complexidade aromática, as frutas em evidência, frutas vermelhas maduras, trazendo cereja e groselha na lembrança, com sutis notas de baunilha.

Na boca é seco, estruturado, forte, mas harmônico e equilibrado, certamente pelo tempo de safra, com taninos pronunciados, mas domados com uma vibrante acidez que remete algum frescor, com discreto amadeirado, graças aos 6 meses de passagem por barricas de carvalho. Final persistente e de retrogosto frutado.

Um vinho que expressa definitivamente e com dignidade as essências do Piemonte, enaltecendo o que há de melhor naquelas terras, da cultura do seu povo e do saber fazer no que tange aos seus rótulos, dos mais simples aos mais complexos. O Cantine Caltelvecchio traz à tona todas essas características, com muita tipicidade revelando, em todas as suas nuances, o que há de melhor do Piemonte, da Itália. Um vinho encorpado, de personalidade marcante e complexidade aromática é mesclado às características do aporte pela passagem pela barrica de carvalho, deixando-o também mais macio, mais equilibrado, portanto também um vinho versátil e fácil de degustar, tendo uma vocação gastronômica muito grande, como todo vinho italiano. Um prazer grande degustar, pela primeira vez, um varietal da casta mais popular da Itália, a Barbera. Teor alcoólico de 13%.

Sobre a Cantine Manfredi:

O vinho é uma paixão para a família Manfredi há mais de cem anos. Tudo começou Nicolao Manfredi no início do século XX. Porém, foi como filho Giuseppe, conhecido como Pin, que, no final da década de 30 do século passado, a tradição familiar dos enólogos se transforma em atividade, quando o amor pela terra do Langhe o convence de que esta no caminho certo. Nos anos 60, ainda muito jovem, o filho de Giuseppe, Aldo, começou a trabalhar com o pai, lado a lado, ajudando-o no trabalho da adega e a cuidar dos partos, criando relações de trabalho e de amizade que perduram até hoje. Na década de oitenta novas colaborações se estabeleceram e os vinhos também conquistaram o mercado externo, dos Estados Unidos ao Japão, do Canadá à China e muitos países da Europa. Hoje Aldo, a esposa Gianfranca e as suas filhas Luisa e Paola, apoiadas por uma equipe muito unida, continuam nesta atividade com paixão, com vista a uma atenção comum à qualidade do produto e à proteção do território para continuar a história de uma família que começou há muitos anos.

Mais informações acesse:

https://www.manfredicantine.it/it/homepage

Referências de pesquisa:

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/piemonte-grandiosa-regiao-italiana_8360.html

“Vem da Uva”: https://www.vemdauva.com.br/vinho-barbera-conheca-suas-caracteristicas/

“Enologuia”: https://enologuia.com.br/uvas/256-uva-barbera-conheca-o-vinho-do-povo

“Blog Art des Caves”: https://blog.artdescaves.com.br/uva-barbera-mais-plantadas-na-italia