Eu sei, sou um réu confesso! Adoro os vinhos de cortes
bordaleses! São imbatíveis! Para mim é o melhor blend que existe no universo do
vinho! Talvez seja mais relevante que a própria região de Bordeaux que, por si
só, já é emblemática, icônica.
Atualmente temos visto, sobretudo em terras brasileiras,
muitos cortes famosos de Bordeaux, aquele com a predominância da Merlot e
Cabernet Sauvignon, com alguns “resquícios” da Malbec, Cabernet Franc e Petit
Verdot, em doses menos representativas.
Brasil, Chile e vários outros países que compõe o bloco do
Novo Mundo têm produzido rótulos com esse corte e, diante dos seus terroirs,
das suas mais marcantes características, adquirem tipicidades singulares.
Tenho esboçado uma “minuciosa aventura” nos rótulos brasileiros
e digo que, diante desse meu ávido interesse, venho descobrindo, a cada dia,
novos rótulos. Praticamente todas as vinícolas, sejam elas pequenas ou grandes,
com pouca ou muita participação de mercado, estão investindo na dupla Merlot e
Cabernet Sauvignon e digo, desde já, que são apostas certeiras.
E o rótulo de hoje foi oriundo de uma grata descoberta em
esses famosos eventos de degustação de vinhos brasileiros que tem acontecido,
com mais ênfase, de 2017 para cá. E o produtor desse vinho eu descobri
exatamente em 2017 no festival “Vinho na Vila”.
Estava em um estande simples, com poucos rótulos em exposição
e digo com uma procura baixa. Claro que aquilo me chamou a atenção, uma espécie
de convite. Me dirigi a estande e o expositor, que me parecia ser um
representante da vinícola, educadamente me apresentava os seus rótulos. Decidi
levar o Dom Cândido Chardonnay 2017 e assim foi o meu primeiro contato com a
Dom Cândido.
E agora a versão tinta, do famoso corte bordalês em uma
quantidade limitada de 4.000 garrafas (a minha é número...)! Não preciso dizer
da minha ansiedade em desarrolhá-lo. E esse momento, enfim, chegou! O vinho que
degustei e gostei veio da fantástica Vale dos Vinhedos, da DO Vale dos
Vinhedos, e se chama Documento das castas Merlot (60%) e Cabernet Sauvignon
(40%) da safra 2017. E para não perder o costume vamos de história!
Serra Gaúcha
Situada a nordeste do Rio Grande do Sul, a região da Serra
Gaúcha é a grande estrela da vitivinicultura brasileira, destacando-se pelo
volume e pela qualidade dos vinhos que produz. Para qualquer enófilo indo ao
Rio Grande do Sul, é obrigatório visitar a Serra Gaúcha, especialmente Bento
Gonçalves.
A região da Serra Gaúcha está situada em latitude próxima das
condições geoclimáticas ideais para o melhor desenvolvimento de vinhedos, mas
as chuvas costumam ser excessivas exatamente na época que antecede a colheita,
período crucial à maturação das uvas. Quando as chuvas são reduzidas, surgem
ótimas safras, como nos anos 1999, 2002, 2004, 2005 e 2006.
A partir de 2007, com o aquecimento global, o clima da Serra
Gaúcha se transformou, surgindo verões mais quentes e secos, com resultados
ótimos para a vinicultura, mas terríveis para a agricultura. Desde 2005 o nível
de qualidade dos vinhos tintos vem subindo continuamente, graças a esta mudança
e também do salto de tecnologia de vinhedos implantado a partir do ano 2000.
Vale dos Vinhedos e a sua Indicação de Procedência
O Vale dos Vinhedos localiza-se no centro do triângulo
formado pelas cidades de Bento Gonçalves (nordeste), Monte Belo do Sul
(noroeste) e Garibaldi (sul). O Vale dos Vinhedos compreende a parte da bacia
hidrográfica do Rio Pedrinho, situada a montante da foz de um córrego afluente
deste e situado a sudeste da comunidade de Vale Aurora, no município de Bento
Gonçalves.
A parte do vale a jusante é denominada de Vale Aurora. A maior parte da área do Vale dos Vinhedos fica localizada em território do município de Bento Gonçalves, com 55% do total, e a menor parte fica localizada em território de Monte Belo do Sul, com 8% na porção noroeste. A parte sul do Vale pertence ao município de Garibaldi, com 37% da área total.
Parte da zona
urbana de Bento Gonçalves situa-se dentro do perímetro do Vale, haja vista que
a linha divisória de águas entre as bacias do Rio Pedrinho e do Rio Buratti
passa pela parte oeste da cidade. Localizam-se ao longo desta linha, ou próximo
desta, a pista do Aeroclube de Bento Gonçalves, a Estação Rodoviária de Bento
Gonçalves, o Estádio da Montanha e a Estação Ferroviária de Bento Gonçalves.
O Vale dos Vinhedos é a primeira região vinícola do Brasil a
obter Indicação de Procedência de seus produtos, exibindo o Selo de Controle em
vinhos e espumantes elaborados pelas vinícolas associadas. Criada em 1995, a
partir da união de seis vinícolas, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos
do Vale dos Vinhedos (Aprovale), já surgiu com o propósito de alcançar uma
Denominação de Origem. No entanto, era necessário seguir os passos da experiência,
passando primeiro por uma Indicação de Procedência.
O pedido de reconhecimento geográfico encaminhado ao
Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) em 1998 foi alcançado
somente em 2001. Neste período, foi necessário firmar convênios operacionais
para auxiliar no desenvolvimento de atividades que serviram como pré-requisitos
para a conquista da Indicação de Procedência Vale dos Vinhedos (I.P.V.V.). O
trabalho resultou no levantamento histórico, mapa geográfico e estudo da
potencialidade do setor vitivinícola da região. Já existe uma DOC (Denominação
de Origem Controlada) na região.
Sua norma estabelece que toda a produção de uvas e o
processamento da bebida seja realizada na região delimitada do Vale dos
Vinhedos. A DO também apresenta regras de cultivo e de processamento mais
restritas que as estabelecidas para a Indicação de Procedência (IP), em vigor
até a obtenção do registro da DO, outorgado pelo INPI.
O Vale dos Vinhedos foi a primeira região entregue aos
imigrantes italianos, a partir de 1875. Inicialmente desenvolveu-se ali uma
agricultura de subsistência e produção de itens de consumo para o Rio Grande do
Sul. Devido à tradição da região de origem das famílias imigrantes, o Veneto,
logo se iniciaram plantios de uvas para produção de vinho para consumo local.
Até a década de 80 do século XX, os produtores de uvas do Vale dos Vinhedos
vendiam sua produção para grandes vinícolas da região. A pouca quantidade de
vinho que produziam destinava-se ao consumo familiar.
Esta realidade mudou quando a comercialização de vinho entrou
em queda e, consequentemente, o preço da uva desvalorizou. Os viticultores
passaram então a utilizar sua produção para fazer seu vinho e comercializá-lo
diretamente, tendo assim possibilidade de aumento nos lucros.
Para alcançar este objetivo e atender às exigências legais da
Indicação Geográfica, seis vinícolas se associaram, criando, em 1995, a
Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale).
Atualmente, a Aprovale conta com 24 vinícolas associadas e 19 associados não
produtores de vinho, entre hotéis, pousadas, restaurantes, fabricantes de
produtos artesanais, queijarias, entre outros. As vinícolas do Vale dos
Vinhedos produziram, em 2004 9,3 milhões de litros de vinhos finos e
processaram 14,3 milhões de kg de uvas viníferas.
Detalhes da Denominação de Origem do Vale dos Vinhedos
1 - A produção de uvas e a elaboração dos vinhos ocorrem
exclusivamente na região delimitada do Vale dos Vinhedos, uma área de 72,45 km2
localizada nos municípios de Bento Gonçalves, Garibaldi e Monte Belo do Sul.
2 - Existem requisitos específicos para de cultivo dos
vinhedos, produtividade e qualidade das uvas para vinificação;
3 - Os espumantes finos são elaborados exclusivamente pelo
“Método Tradicional” (segunda fermentação na garrafa), nas classificações
Nature, Extra-brut ou Brut; para este produto as uvas Chardonnay e/ou Pinot
Noir são de uso obrigatório;
4 - Nos vinhos finos brancos, a uva Chardonnay é de uso
obrigatório, podendo ter corte com a Riesling Itálico;
5 - O uso da uva Merlot é obrigatória para os vinhos finos
tintos da DO, os quais podem ter cortes com vinhos elaborados com as uvas
Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Tannat;
6 - Os produtos que passam por madeira envelhecem exclusivamente
em barris de carvalho;
7 - Para chegar ao mercado, os vinhos brancos passam por um
período mínimo de envelhecimento de 6 meses; no caso dos vinhos tintos são 12
meses; os espumantes finos passam por um período mínimo de 9 meses em contato
com as leveduras, na fase de tomada de espuma;
8 - Os vinhos apresentam características analíticas e
sensoriais específicas da região e somente são autorizados para comercialização
os produtos que obtenham do Conselho Regulador da DO o atestado de conformidade
em relação aos requisitos estabelecidos no Regulamento de Uso.
E agora finalmente o vinho!
Na taça revela um lindo e brilhante vermelho rubi intenso,
com entornos violáceos e lágrimas finas, lentas e em profusão.
No nariz entrega aromas de frutas vermelhas maduras, com
destaque para amora, cereja e ameixa, me remetendo a um frescor, completados
por notas amadeiradas, graças aos 12 meses de passagem por barricas de
carvalho, baunilha, couro e diria um agradável floral.
Na boca é saboroso, intenso, de média estrutura, mas macio e
muito elegante, com as notas frutadas protagonizando, como no aspecto olfativo
e em plena sinergia com a madeira que também se revelam, com toque abaunilhado,
terroso e de um apimentado que lembra pimenta preta, as especiarias se mostram.
Tem taninos domados, redondos, uma bela acidez e um final prolongado e frutado.
Bordeaux na taça! Não! Brasil na taça! O corte, tradicional
da icônica região francesa de Bordeaux, traz a tipicidade, mesmo em blends, do
Brasil, traz o DNA de uma das mais importantes regiões brasileiras, a DO Vale
dos Vinhedos. Entrega estrutura, complexidade, mas a elegância, a maciez, a
sofisticação que esse corte pode proporcionar. Um vinho equilibrado, pronto
para ser degustado, mas que poderia evoluir e bem na garrafa por mais alguns
anos. Que venham mais e mais rótulos como esse e diferente desse também. Tem
13% de teor alcoólico.
Sobre a Vinícola Dom Cândido:
A Vinícola Dom Cândido tem sua origem em 1875, quando Luigi e
Leonor, avós de Cândido Valduga chegam em território brasileiro, vindos da
região do Tirol Italiano, e se instalam em uma colônia na região hoje conhecida
como o Vale dos Vinhedos. O Ano de fundação da Vinícola Dom Cândido foi em
1986.
Logo se inicia o plantio das primeiras videiras para
elaboração dos vinhos para consumo da família. Porém, com o passar do tempo, a
produção excedente passa a ser comercializada. E, desde a sua infância, Cândido
Valduga convive com a rotina da vitivinicultura, acompanhando e auxiliando seus
pais, Marco e Maria, nas tarefas no campo, o que acabou aflorando a sua paixão
pela uva e vinho, nascendo, assim, uma história de amor que continua passando
de geração para geração.
Ainda na juventude, Cândido conhece Lourdes e juntos
constituem uma família que sempre se manteve unida em torno dos valores do
trabalho, da união e do amor pelo vinho. Atualmente, os filhos estão à frente
do negócio.
Localizada no coração do Vale dos Vinhedos, o complexo da Dom
Cândido é um verdadeiro convite à vivência de experiências únicas, reunindo
belezas naturais exuberantes, vinhos e espumantes de excelente qualidade, farta
gastronomia e receptividade familiar.
A família Dom Cândido se orgulha de sua história de trabalho,
dedicação e amor por esta terra, cultivando uvas nobres, em vinhedos próprios,
que resultam na elaboração de quantidades limitadas de garrafas de vinhos e
espumantes de sabores e aromas incomparáveis.
Pessoas envolvidas no trabalho, dedicação e amor por esta
terra. Tradição e valores passados de geração em geração, fazendo com que o
cultivo de uvas nobres, em vinhedos próprios, resulte na elaboração de
quantidades limitadas de garrafas.
Mais informações acesse:
https://www.domcandido.com.br/
Referências:
“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=SERRAGAUCHA
“Blog Sonoma”: https://blog.sonoma.com.br/o-sucesso-da-merlot-no-brasil/amp/
“Vinho IG”: https://vinho.ig.com.br/2010/08/17/merlot-brasileiro-e-melhor-do-mund.html
“Wikipedia”: https://pt.wikipedia.org/wiki/Vale_dos_Vinhedos#Denomina%C3%A7%C3%A3o_de_Origem_Vale_dos_Vinhedos
“Viajali”: https://www.viajali.com.br/vale-dos-vinhedos/
“Embrapa”: https://www.embrapa.br/indicacoes-geograficas-de-vinhos-do-brasil/ig-registrada/do-vale-dos-vinhedos
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