Já que estamos adentrando os dias quentes de verão no Brasil
nada mais adequado do que um vinho mais leve, aqueles mais descontraídos para
“harmonizar” com o clima. Claro que, quando tomamos tal decisão de degustar
esses vinhos, quais são os que nos vem à mente? O nosso espumante, o espumante
brasileiro! Normal!
Mas hoje decidi “subverter” e mudar o meu radar para outro
país, outra proposta de vinho que, réu confesso que sou, admito que não venho
degustando com a frequência que merecem: o rosé.
E é um rosé de Portugal! Para quem acha que é da bucólica e
agradável região dos Vinhos Verdes, se enganou, embora seja uma grande pedida.
Mas não é! Hoje degustarei um belo rosé da Bairrada!
Confesso que quando opto por degustar um bairradino o coração
se enche de alegria! Tenho curtido deveras em degustar, em desbravar os vinhos
da região. E nada melhor também que degustar um Baga rosé, a casta mais
representativa da Bairrada.
O de hoje não será exatamente o meu primeiro Baga rosé. Eu
degustei o Conde de Cantanhede Baga, mas não era safrado e sem uma região
produtora em especial. Mas o vinho foi especial, afinal para o que se propõe em
entregar ele foi primoroso.
O rótulo de hoje é, como disse, da Bairrada e da safra 2020.
Então digamos que será o primeiro Baga com região e safra bem definida. Então
sem mais delongas vamos às apresentações! O vinho que degustei e gostei veio da
Bairrada e se chama Colinas de Ançã, um 100% Baga da safra 2020.
Por que “Colinas de Ançã”?
Ançã é uma Vila Histórica da Bairrada - Região Demarcada de
Viticultura no centro de Portugal, perto do Oceano Atlântico. A sua história
tem uma forte relação a alguns dos mais antigos e icónicos monumentos em
Portugal, uma vez que a maioria foi construída com um tipo especial de calcário
proveniente das terras de Ançã.
Este calcário faz parte do solo que, misturado com barros, é
um dos elementos mais distintivos do terroir da Bairrada, terra de vinhos de
vincado carácter.
Bairrada
Localizada na região central de Portugal e se estendendo até
o Oceano Atlântico, especificamente entre as cidades de Coimbra e Águeda, a
região vinícola da Bairrada, cujo nome é uma referência ao solo argiloso que a
compõe (barro) tem clima temperado bastante favorável às vinhas.
A Bairrada é uma daquelas regiões portuguesas com grande
personalidade. Apesar de sua longa história vínica, a certificação da região é
recente. A Denominação de Origem Controlada (DOC Bairrada) para vinhos tintos e
brancos é de 1979 e para espumantes de 1991. A Região Demarcada da Bairrada
possui também uma Indicação Geográfica: IG Beira Atlântico.
António Augusto de Aguiar estudou os sistemas de produção de
vinhos e definiu as fronteiras da região. Em 1867, vinte anos mais tarde,
fundou a Escola Prática de Viticultura da Bairrada. Destinada a promover os
vinhos da região e melhorar as técnicas de cultivo e produção de vinho.
O primeiro resultado prático da escola foi a criação de vinho
espumante em 1890. E foi com os espumantes que a região conquistou o mundo.
Frutados, com um toque mineral e boa estrutura esses vinhos tornaram-se
referencias e, até hoje, fazem da Bairrada uma das maiores regiões produtoras
de espumantes de Portugal. Com o passar do tempo, as criações tintas ganharam
espaço.
Muito por conta do que os produtores têm feito com a Baga,
casta autóctone da região. O grande responsável pelo fortalecimento
internacional da região é o engenheiro Luís Pato. Conhecido como o "Mr.
Baga", Pato tem um trabalho minucioso sobre as uvas, tudo para conseguir
um vinho autêntico com o mínimo de interferência externa. A uva Baga, uma das
principais uvas nativas de Portugal, é capaz de oferecer enorme complexidade
aos rótulos que compõe.
Demonstrando muita classe e estrutura, a variedade da casta
de tintos é única no seu valor e possui um fantástico potencial de
envelhecimento, que atua com o vinho na garrafa durante anos após sua
fabricação. Além de refinados e inimitáveis, os vinhos produzidos com esta
variedade de uva apresentam muita personalidade e distinção. No passado, a Baga
era conhecida por ser empregada na produção de vinhos rústicos, excessivamente
ácidos e tânicos e de pouca concentração. Porém, após a chegada do genial Luís
Pato, conhecido como o “revolucionário da Bairrada” e maior expoente desta
variedade, a casta da uva Baga foi “domesticada”.
A localização da DOC Bairrada e suas características de clima
e solo fazem dela uma região única. Paralelamente, o plantio das vinhas é feito
em lotes descontínuos de pequenas proporções e faz divisa com outras culturas e
outros usos de solo. Com isso, seus vinhos são de terroir, ou seja, o local
onde a uva é plantada influencia diretamente em suas particularidades.
Delimitada a Sul, pelo rio Mondego, a Norte pelo rio Vouga, a Leste pelo oceano
Atlântico e a Oeste pelas serras do Buçaco e Caramulo, a região é composta por
planalto de baixa altitude.
O solo é predominantemente argilo-calcário, mas há algumas
poucas regiões com solos arenosos e de aluvião. O clima é mediterrânico
moderado pelo Atlântico. A região recebe forte influência marítima do oceano
Atlântico. Os invernos são frescos, longos e chuvosos e os verões são quentes,
suavizados pela presença de ventos frequentes nas regiões junto ao mar. A área
se beneficia de grande amplitude térmica na época do amadurecimento das uvas. A
variação que pode chegar aos 20ºC de diferença entre o dia e a noite.
O Decreto-Lei n.º 70/91 estabeleceu as castas autorizadas e
recomendadas para produção de vinhos na DOC Bairrada. A lei descreve as
diretrizes para elaboração dos vinhos tintos, rosés, brancos e espumantes. Para
a produção de tintos e rosés com o selo DOC Bairrada, as castas recomendadas
são Baga (ou Tinta Poeirinha), Castelão, Moreto e Tinta-Pinheira. No conjunto ou
separadamente, deverão representar 80% do vinhedo, não podendo a casta Baga
representar menos de 50%. As castas autorizadas são Água-Santa, Alfrocheiro,
Bastardo, Jaen, Preto-Mortágua e Trincadeira.
Para os vinhos brancos as castas recomendadas são Maria-Gomes
(também conhecida como Fernão Pires), Arinto, Bical, Cercial e Rabo-de-Ovelha,
no conjunto ou separadamente com um mínimo de 80% do encepamento: e as
autorizadas são Cercialinho e Chardonnay. O vinho base para espumantes naturais
devem ser elaborados através das castas recomendadas Arinto, Baga, Bical,
Cercial, Maria-Gomes e Rabo-de-Ovelha; ou das autorizadas Água-Santa,
Alfrocheiro-Preto, Bastardo, Castelão, Cercialinho, Chardonnay, Jaen, Moreto,
Preto-Mortágua, Tinta-Pinheira e Trincadeira.
Em 2012 foi publicada a Portaria n.º 380/2012, que atualiza a
lista de castas permitidas para e das portuguesas Touriga Nacional, Castelão,
Rufete, Camarate, Tinta Barroca, Tinto Cão e Touriga Franca. Vinhos elaborados
com castas que não estejam relacionadas na elaboração dos vinhos DOC
Bairrada. Foi incluída recentemente uma
autorização para o cultivo das castas internacionais Cabernet Sauvignon, Syrah,
Merlot, Petit Verdot e Pinot Noir. Por Decreto-Lei, não podem receber o selo de
DOC Bairrada e são rotulados com o selo Vinho Regional Beira Atlântico.
E agora finalmente o vinho:
Na taça um rosado límpido transparente, com algum acobreado,
bem brilhante, com a manifestação de finas lágrimas com razoável profusão.
No nariz trouxe inicialmente aromas fechados, mas que logo se
abriu, mas não eloquentemente, com notas frutadas, frutas vermelhas frescas,
tais como morango, cerejas e groselhas, com incrível frescor e leveza, além de
delicado floral que remete a pêssegos.
Na boca a leveza e o frescor reaparecem em um protagonismo
excepcional, como no aspecto olfativo, bem como a fruta, muita fruta com um
destaque fantástico para o pêssego que traz uma sensação de um dulçor que não
se torna enjoativo. Tem um bom volume de boca que lhe confere sabor, acidez
média e agradável. Tem um final longo, persistente, fazendo do vinho elegante e
harmonioso.
Definitivamente a Adega de Cantanhede me possibilitou
degustar, conhecer a região da Bairrada e não se enganem, não são vinhos ruins
por entregar preços competitivos. Não! São vinhos excelentes em todas as suas
camadas de propostas e o Colinas de Ançã Baga Rosé entrega perfeitamente o que
todo rosé tem de entregar: muita fruta, sabor, frescor, leveza. Que venham
outras experiências da Bairrada e da Adega de Cantanhede. Tem 12,5% de teor
alcoólico.
Sobre a Adega de Cantanhede:
Fundada em 1954 por um conjunto de 100 viticultores, a Adega
de Cantanhede conta hoje com 500 viticultores associados ativos e uma produção
anual de 6 a 7 milhões de quilos de uva, constituindo-se como o principal
produtor da Região Demarcada da Bairrada, representando cerca de 40% da
produção global da região. Hoje certifica cerca de 80% da sua produção, sendo
líder destacado nas vendas de vinhos DOC Bairrada DOC e Beira Atlântico IGP.
Reconhecendo a enorme competitividade existente no mercado
nacional e internacional, a evolução qualitativa dos seus vinhos é o resultado
da mais moderna tecnologia, com foco na qualidade e segurança alimentar (Adega
Certificada pela norma ISO 9001:2015, e mais recentemente pela IFS Food 6.1.),
mas também da promoção das castas Portuguesas, que sempre guiou a sua
estratégia, particularmente das variedades tradicionais da Bairrada – Baga,
Bical e Maria Gomes – mas também de outras castas
Portuguesas que encontram na Bairrada um Terroir de eleição,
como sejam a Touriga Nacional, Aragonez e Arinto, pois acredita que no
inequívoco potencial de diferenciação e singularidade que este património
confere aos seus vinhos.
O seu portfólio inclui uma ampla gama de produtos. Em tinto,
branco e rose os seus vinhos vão desde os vinhos de mesa até vinhos Premium a
que acresce uma vasta gama de espumantes produzidos exclusivamente pelo Método
Clássico, bem como Aguardentes e Vinhos Fortificados. É um portfólio que,
graças à sua diversidade e versatilidade, é capaz de atender a diferentes
segmentos de mercado, com diferentes graus de exigência em qualidade, que
resulta na presença dos seus produtos em mais de 20 mercados.
A sua notoriedade enquanto produtor, bem como dos seus vinhos
e das suas marcas, vem sendo confirmada e sustentadamente reforçada pelos
prémios que vem acumulando no seu palmarés, o que resulta em mais de 750
distinções atribuídas nos mais prestigiados concursos nacionais e
internacionais, com destaque para Mundus Vini – Alemanha, Concours Mondial de
Bruxelles, Selections Mondiales du Vins - Canada, Effervescents Monde – França,
Berliner Wein Trophy – Alemanha e Japan Wine Challenge, sendo por diversas
ocasiões o único produtor da Bairrada com vinhos premiados nesses concursos e,
por isso, hoje um dos mais galardoados produtores da região. Em 2015 integrou o
TOP 100 dos Melhores Produtores Mundiais, pela WAWWJ – Associação Mundial dos
Jornalistas e Críticos de Vinho e Bebidas Espirituosas. Nos últimos 8 anos foi
eleita “Melhor Adega Cooperativa” em Portugal por 3 vezes pela imprensa
especializada.
Mais informações acesse:
Referências:
“Mistral”: https://www.mistral.com.br/regiao/bairrada
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