Atualmente tenho investido fortemente em degustações de
rótulos de castas pouco populares e difíceis de encontrar em terras
brasileiras. Regiões também estão no meu rol de prioridades, bem como castas
sendo produzidas e vinificadas em regiões que jamais você esperaria encontrar.
Pois bem esse vinho se enquadra em todos os quesitos que mencionei e digo mais:
se puxarmos pela memória elencaria esse vinho em vários outros quesitos pouco
usuais em minha história de enófilo, de um simples apreciador da nobre bebida.
Talvez esteja com um portfólio aquém do que espera para achar que o rótulo que
degusto hoje, mas o fato é que estou radiante com o rótulo de hoje e mais feliz
ainda pelo valor atrativo que paguei por ele. Pasmem: R$ 22,00! Já adianto que
é um Chardonnay! Agora vem a pergunta: a rainha das castas brancas, pouco
popular? Claro que não! Uma das mais cultivadas do planeta e uma das mais
famosas, como popular! Mas esse veio do Uruguai, da região de Montevidéu, de
sua capital. Já digo de antemão: Um Chardonnay uruguaio é um achado, pelo menos
para mim! Um chileno, um argentino, um brasileiro, a gente encontra com
facilidade, mas um uruguaio? Ah esse, com orgulho, irei falar e, claro,
degustar!
Então o vinho que degustei e gostei veio, como disse do
Uruguai, da região de Montevidéu, e se chama Traversa, da casta Chardonnay
(100%), da safra 2018. E sem parecer sugestionável ou envolvido por um êxtase
que cega aos olhos, digo sem medo de ser feliz que o vinho é maravilhoso!
Surpreendentemente positivo aos meus sentidos! O meu primeiro vinho branco
uruguaio veio arrasando quarteirão! E como não me contento com a degustação,
que já é fantástico, busquei mais informações sobre o cenário dos vinhos
brancos no Uruguai e encontrei algumas gratas novidades.
Os brancos uruguaios
Boa variedade de estilos, tipos de vinificação, e boa
diversidade de cepas permitem levar à mesa rótulos que antes não existiam
acompanhados de pratos ligeiramente a medianamente encorpados.Desde o fresco,
herbáceo e cítrico Sauvignon Blanc – um vinho que no Uruguai promete e que já
conta com muitos seguidores – até os mais clássicos Chardonnays – às vezes
fermentados em barricas, a elegância e finesse são de nominadores comuns nesses
brancos saborosos e muitas vezes versáteis nas harmonizações. Porém não apenas
tipos clássicos dão o que falar atualmente. Também exclusividades como o
Torrontés e o Albariño agradam consumidores locais e do mundo todo, que ávidos
por provarem novos sabores, uma vez os aprovem, acabam maravilhados com esses
brancos diferentes e intrigantes, incorporando esses vinhos a seus rótulos do
dia-a-dia. Condições geoclimáticas, especialmente no sul do Uruguai, fazem com
que a região reúna fatores imprescindíveis para se obtiver bons brancos. Outro
capítulo merecem os espumantes, ainda escassos se considerarmos apenas os que
conseguiram alcançar um nível de qualidade que os coloque entre os melhores do
mundo. Mesmo assim, o país conta com alguns poucos excelentemente bem
elaborados e que demonstram que no Uruguai também se pode alcançar um
verdadeiro champenoise quando assim se propõe. Agora, se há algo que realmente
chama a atenção, é que nem sempre um vinho expressa o seu melhor quando jovem.
Depende, claro, do estilo, da forma como é elaborado, e da forma como é
conservado. Aspectos que todo bom enófilo leva em conta. Já sobre a gastronomia
que acompanha esses líquidos, ainda que aquela regra que diz que “vinho branco
acompanha carne branca, peixes e frutos do mar” deva ser respeitada, nem sempre
são essas as melhores opções para esses vinhos modernos, que acompanham uma
variedade maior de pratos, permitindo um prazeroso desfrute durante a refeição.
Qual é o motivo pelo qual o Uruguai apresenta tanta aptidão para a produção de
vinhos brancos? Uma simples resposta explica esta questão: as condições
geoclimáticas contribuem para que o terroir – especialmente no sul do Uruguai –
reúna os fatores imprescindíveis para se obter vinhos brancos elegantes. Temperaturas
moderadas que são influenciadas diretamente por grandes massas de água – como é
o caso do Rio da Prata – com influência marítima e grande amplitude térmica,
somadas ao fato de que na temporada de colheita é comum que nesta região do
país chova mais do que o necessário. Todas essas características fazem com que
variedades com ciclo de maturação curto (como é o caso da Sauvignon Blanc, por
exemplo) se beneficiem e acabem oferecendo o frescor, a acidez e as notas
cítricas tão buscadas nesse estilo de vinho. Vinhos brancos que, diferentemente
dos produzidos pela Argentina e Chile – dois países onde a vitivinicultura é
praticada em clima semi-desértico –, se expressam com grande potencial de fruta
fresca, sem dar lugar a notas de fruta cozida e sobrematuração que, às vezes,
conspiram contra a tipicidade varietal.
E finalmente falemos do vinho!
Na taça apresenta um amarelo palha com reflexos esverdeados.
No nariz uma explosão aromática de frutas brancas, tropicais
como abacaxi, pera, maçã verde, com notas de flores brancas, um vinho que,
apesar de muito aromático, é delicado ao nariz.
Na boca é fresco, mas de personalidade marcante, com certo
corpo, um bom volume de boca que nos faz salivar de tão saboroso, um toque
muito agradável de cremosidade, apesar de discreta, com boa acidez e um curioso e discreto toque amadeirado. No site
oficial do produtor, em sua descrição, não menciona passagem por madeira, mas
traz essa impressão.
A experiência com o Traversa Chardonnay foi catártica! Um
vinho com excelente custo X benefício, um belo exemplar de Chardonnay sul
americano, moderno, com belíssima drincabilidade, com tipicidade, com
identidade própria e que não segue preceitos do Velho Mundo ou coisa que valha.
Um vinho fresco, leve, jovem, mas com personalidade, ousado, com uma cremosidade
corroborando suas características encorpadas. Um vinho versátil, eclético, que
harmoniza sim com queijos leves, carnes brancas, mas arrisco que “aguente” uma
carne mais encorpada, uma massa como um macarrão, uma pizza ou algo do tipo.
Traversa Chardonnay com um queijo minas
Um vinho que, apesar de barato, nos faz dedicar um bom tempo
para analisa-lo, falando, escrevendo sobre ele, ostentando como um troféu esse
belo vinho. Teor alcoólico de incríveis 14%, mas muito bem integrados ao
conjunto do vinho.
Sobre a Família Traversa:
Esta empresa, com as suas vastas vinhas e fábricas de
processamento de vinho, conta com a presença constante da Família Traversa.
Sessenta anos de muito trabalho e três gerações que sustentam a qualidade dos
seus vinhos. Cada novo plantio e manutenção, processamento, embalagem e
distribuição de vinho, marketing e atendimento ao cliente são sempre
supervisionados por um membro da família. Assim são e ambicionam qualidade, e
este é o resultado do trabalho da Família Traversa. A história desta família é
o legado de bondade e esperança que estão unidos nas vinhas e há três gerações.
Em 1904, Carlos Domingo Traversa veio para o Uruguai com seus pais. Filho de
imigrantes italianos, foi em sua juventude peão rural em fazendas de vinhedos,
e em 1937 com sua esposa, Maria Josefa Salort, conseguiu comprar cinco hectares
de terras em Montevidéu. Suas primeiras plantações de uvas de morango e moscatel
foram em pequena escala. Em 1956 fundou a adega com os seus filhos, Dante, Luis
e Armando, que hoje com os seus netos têm muito orgulho de continuar o seu
sonho. A atitude constante de crescimento contínuo, com dedicação e
desenvolvimento levou a vinícola a ser um exemplo de moagem em todo o país e os
seus vinhedos um exemplo do vinho uruguaio. Em mais de 240 hectares próprios, as
variedades plantadas são: Tannat, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Merlot,
Chardonnay e Sauvignon Blanc.
Mais informações acesse:
Fonte de pesquisa para o cenário dos vinhos brancos no
Uruguai: