quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

Pinta Negra Aragonez e Castelão 2016

 

Sou um grande fã dos vinhos da região de Lisboa, da capital de Portugal, isso é fato! Todavia um vinho, em especial, me fez trazer à tona algumas lembranças perdidas. Eu explicarei! Quando no período da transição dos vinhos de mesa para os vinhos de uvas vitivinícolas, aquela transição que todos os simples enófilos nascidos no Brasil fazem, eu não tinha aquela preocupação em ter noção ou conhecimento dos rótulos que degustava, aqueles requintes de detalhes tais como: castas, regiões, passagem ou não por barricas de carvalho etc. Degustava os vinhos sem ter a preocupação com esses detalhes. Então alguns rótulos, talvez por conta dessa falta de preocupação ou ainda por inexperiência, passavam despercebidos, não adquiria a famosa memória fotográfica ou coisa similar. Porém, quando eu assistia a um dos poucos programas de TV direcionados ao mundo vinho, que tem transmissão no Canal Globosat, da TV Globo, chamado “Um Brinde ao Vinho” que dedicou uma temporada as regiões mais emblemáticas de Portugal e, claro que Lisboa estava na rota do programa. E quando a apresentadora Cecília Aldaz esteve na jovem AdegaMãe mostrou alguns dos seus rótulos e, por um relance, mostrou um rótulo que havia degustado há muito tempo atrás e que tinha caído no esquecimento, mas ainda assim tinha um lampejo de lembrança. Animado por conhecer um pouco mais do rótulo que havia degustar a tempos atrás, fui, o mais rápido possível, aos supermercados em busca do vinho. Coloquei como prioridade achá-lo e degustá-lo.

E achei! Parecia que os tempos de outrora ganhara novos contornos contemporâneos e que ficaria para todo sempre com uma degustação mais rebuscada e atraente ao paladar e ao conhecimento adquirido. Quando o desarrolhei foi como se um novo tempo havia iniciado entre eu e esse rótulo e essa vinícola. Me apaixonei pelo produtor. O vinho que degustei e gostei se chama Pinta Negra, um tinto composto pelas castas Castelão e Aragonez, da safra 2016. A região de Lisboa descortinara, mais uma vez, um rótulo, apesar de jovem e direto, expressivo e de belíssima personalidade. Mas já que a minha relação com Lisboa é de um amor profundo, falemos, mais uma vez, sobre ela.

Lisboa

Na região de Lisboa, região com longa história na viticultura nacional, a área de vinha é constituída pelas tradicionais castas portuguesas e pelas mais famosas castas internacionais. Aqui é produzida uma enorme variedade de vinhos, possível pela diversidade de relevos e microclimas concentrados em pequenas zonas da região. A região de Lisboa, anteriormente conhecida por Estremadura, situa-se a noroeste de Lisboa numa área de cerca de 40 km. O clima é temperado em virtude da influência atlântica. Os Verões são frescos e os Invernos suaves, apesar das zonas mais afastadas do mar serem um pouco mais frias. Esta região possui boas condições para produzir vinhos de qualidade, todavia há cerca de quinze anos atrás a região de Lisboa era essencialmente conhecida por produzir vinho em elevada quantidade e de pouca qualidade. Assim, iniciou-se um processo de reestruturação nas vinhas e adegas. Provavelmente a reestruturação mais importante realizou-se nas vinhas, uma vez que as novas castas plantadas foram escolhidas em função da sua produção em qualidade e não em quantidade. Hoje, os vinhos da Região de Lisboa são conhecidos pela sua boa relação qualidade/preço. A região concentrou-se na plantação das mais nobres castas portuguesas e estrangeiras e em 1993 foi criada a categoria “Vinho Regional da Estremadura”, hoje "Vinho Regional Lisboa". A nova categoria incentivou os produtores a estudar as potencialidades de diferentes castas e, neste momento, a maior parte dos vinhos produzidos na região de Lisboa são regionais (a lei de vinhos DOC é muito restritiva na utilização de castas). A Região de Lisboa é constituída por nove Denominações de Origem: Colares, Carcavelos e Bucelas (na zona sul, próximo de Lisboa), Alenquer, Arruda, Torres Vedras, Lourinhã e Óbidos (no centro da região) e Encostas d’Aire (a norte, junto à região das Beiras).

Lisboa e suas sub regiões

1| Encostas de Aire

2| Lourinhã

3| Óbidos

4| Torres Vedras

5| Alenquer

6| Arruda

7| Colares

8| Carcavelos

9| Bucelas

As regiões de Colares, Carcavelos e Bucelas outrora muito importantes, hoje têm praticamente um interesse histórico. A proximidade da capital e a necessidade de urbanizar terrenos quase levou à extinção das vinhas nestas Denominações de Origem. A Denominação de Origem de Bucelas apenas produz vinhos brancos e foi demarcada em 1911. Os seus vinhos, essencialmente elaborados a partir da casta Arinto, foram muito apreciados no estrangeiro, especialmente pela corte inglesa. Os vinhos brancos de Bucelas apresentam acidez equilibrada, aromas florais e são capazes de conservar as suas qualidades durante anos. Colares é uma Denominação de Origem que se situa na zona sul da região de Lisboa. É muito próxima do mar e as suas vinhas são instaladas em solos calcários ou assentes em areia. Os vinhos são essencialmente elaborados a partir da casta Ramisco, todavia a produção desta região raramente atinge as 10 mil garrafas. A zona central da região de Lisboa (Óbidos, Arruda, Torres Vedras e Alenquer) recebeu a maioria dos investimentos na região: procedeu-se à modernização das vinhas e apostou-se na plantação de novas castas. Hoje em dia, os melhores vinhos DOC desta zona provêm de castas tintas como por exemplo, a casta Castelão, a Aragonez (Tinta Roriz), a Touriga Nacional, a Tinta Miúda e a Trincadeira que por vezes são lotadas com a Alicante Bouschet, a Touriga Franca, a Cabernet Sauvignon e a Syrah, entre outras. Os vinhos brancos são normalmente elaborados com as castas Arinto, Fernão Pires, Seara-Nova e Vital, apesar da Chardonnay também ser cultivada em algumas zonas. A região de Alenquer produz alguns dos mais prestigiados vinhos DOC da região de Lisboa (tintos e brancos). Nesta zona as vinhas são protegidas dos ventos atlânticos, favorecendo a maturação das uvas e a produção de vinhos mais concentrados. Noutras zonas da região de Lisboa, os vinhos tintos são aromáticos, elegantes, ricos em taninos e capazes de envelhecer alguns anos em garrafa. Os vinhos brancos caracterizam-se pela sua frescura e carácter citrino. A maior Denominação de Origem da região, Encostas d’Aire, foi a última a sofrer as consequências da modernização. Apostou-se na plantação de novas castas como a Baga ou Castelão e castas brancas como Arinto, Malvasia, Fernão Pires, que partilham as terras com outras castas portuguesas e internacionais, como por exemplo, a Chardonnay, Cabernet Sauvignon, Aragonez, Touriga Nacional ou Trincadeira. O perfil dos vinhos começou a alterar-se: ganharam mais cor, corpo e intensidade.

E agora o vinho!

Na taça apresenta um vermelho rubi intenso, escuro e brilhante com uma boa proliferação de lágrimas, finas e que teimavam em se dissipar das bordas do copo.

No nariz é intenso, muito aromático, notas de frutas vermelhas frescas e um toque floral muito agradável.

Na boca é um vinho meio seco, macio, fácil de degustar, um vinho despretensioso e saboroso, mas que revela certa expressividade, personalidade. Tem taninos macios, mas gulosos, com uma acidez equilibrada. Tem um final persistente, de retrogosto frutado. É um vinho com muita fruta, mas sem soar enjoativo.

O passado revisitou o presente e ajudou a construir um futuro na minha vida de enófilo e me fez observar e entender que, além do maravilhoso exercício da análise sensorial, a história do vinho, como seu terroir, sua história, sua região, pode ser sim, sem sombra de dúvida, um aditivo para a construção de sua percepção perante o rótulo. Pinta Negra é um vinho básico, para o dia a dia, mas que entrega muito além da sua proposta, definitivamente uma grata surpresa. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a AdegaMãe:

A AdegaMãe pertence ao grupo Riberalves, empresa familiar portuguesa, que é a maior produtora de bacalhau do mundo – 30 mil toneladas por ano, o equivalente a 10% de todo o bacalhau pescado no mundo! É uma homenagem da família à sua matriarca, Manuela Alves. Em 2009, investindo na paixão pelo vinho, a família inaugurou a vinícola, que fica próxima da sede da empresa.  A vinícola fica em Torres Vedras, que faz parte da CVR Lisboa (Comissão Vitivinícola da Região de Lisboa), antiga Estremadura, zona com grande influência atlântica, devido à proximidade com o oceano, com solos calcários, terroir propício para a produção de vinhos bastante minerais e com acidez marcante. A AdegaMãe tem um projeto lindíssimo e Diogo, juntamente com Anselmo Mendes, enólogo consultor, entrou desde o começo da concepção da adega, no projeto das vinhas, de forma a definir as melhores variedades para a região, tanto que as vinhas velhas que ali estavam foram arrancadas, pois não eram boas o suficiente para os vinhos que pretendiam fazer. Mas é possível ver a vinha mãe da adega exposta como obra de arte, em uma das paredes da vinícola.

A Norte de Lisboa e a um passo da costa oceânica, a AdegaMãe potencia um terroir  fortemente influenciado pelas brisas marítimas predominantes, destacando-se pelos seus vinhos de inspiração atlântica, plenos de carácter, frescos e minerais, premiados a nível nacional e internacional. Referida pela arquitetura exclusiva, e pela forma como se harmoniza com a fantástica paisagem envolvente, a AdegaMãe foi desenhada de raiz para integrar a melhor experiência de visita, assumindo-se como uma referência no enoturismo da Região de Vinhos de Lisboa.

Mais informações acesse:

https://adegamae.pt/


Referências de pesquisa:

Portal Infovini, em: http://www.infovini.com/pagina.php?codNode=3901

Degustado em: 2018









sábado, 28 de novembro de 2020

Montecchio Sangiovese 2018

 

O que vem a mente quando falamos na emblemática casta Sangiovese: a Toscana, os vinhos que mais eleva que exporta o nome da Itália vitícola para o mundo, os Chiantis, os Brunelos de Montalcino etc. Definitivamente a Sangiovese é uma jóia da Itália, a uva mais produzida, mais cultivada daquele país, uma casta icônica que personifica a história, a cultura vitivinícola da Itália. Mas não se enganem prezados leitores, não é só da Toscana que vive a fama da velha e necessária Sangiovese. Por uma questão geográfica a região, pouco conhecida, menos comentada em terras brasileiras, de Emilia Romagna, mais ao sul da Itália, faz divisa com a Toscana e é tida como uma das grandes produtoras da cepa, mas com algumas características mais peculiares. Confesso que desconhecia a importância dessa região para com a Sangiovese, embora a casta esteja em toda a Itália, transformando-a em uma das mais cultivadas e adoradas entre os italianos, sendo responsável, inclusive por 10% da região vitícola do país. Então, como sempre, e isso me faz ter orgulho de mim mesmo, pretensões à parte, decidi comprar um vinho italiano 100% Sangiovese da região de Rubicone, localizado em Emilia Romagna. Claro que não são os Chiantis, os Brunelos da vida, mas quem se importa? Vamos de novidades, vamos investir em coisas pouco ortodoxas e deixar de trafegar, por um instante, da zona de conforto dos emblemáticos. 

E o ímpeto e avidez em ler sobre a Sangiovese fez com que, em uma curiosa conexão, encontrar, em mais uma de minhas inúmeras incursões aos supermercados, um rótulo de Sangiovese da região de Rubicone, na região de Emilia Romagna. E resolvi degusta-lo, sem mais delongas. E não é que o vinho surpreendeu! Então apresentemos o vinho que degustei e gostei que desembarcou de Emilia Romagna, de Rubicone, para meu deleite, em minha taça, e se chama Montecchio, um IGT (indicação Geográfica Típica) da casta Sangiovese, da safra 2018. Então, como toda grande e inspiradora novidade, sempre vem com doses cavalares de informação e história, falemos de um pouco da região, Emilia Romagna e Rubicone, da Sangiovese na região de Romagna e um pouco da magnífica casta que é sinônimo da Itália, a Sangiovese.

Emilia Romagna

A Emília-Romanha (em italiano Emilia-Romagna; em emiliano-romanholo Emégglia-Rumâgna) é uma região situada no Norte da Itália com quatro milhões de habitantes e 22 124 km², cuja capital é Bolonha.[1][2][3] Limita-se ao norte com o Vêneto e Lombardia, a oeste com o Piemonte e a Ligúria, ao sul com a Toscana e com a República de São Marinho. Esta região é composta da união de duas regiões históricas: a Emilia, que compreende as províncias de Placência, Parma, Reggio, Módena, Ferrara e parte da província de Bolonha, com a capital, e a Romanha, com as restantes províncias de Ravena, Rimini, Forlì-Cesena e a parte oriental da província de Bolonha. A Romanha histórica compreende também territórios das Marcas, da Toscana e da República de San Marino. O centro da Itália nos reserva algumas fantásticas surpresas. Como são regiões relativamente novas, a variedade é bastante grande e a qualidade depende do pioneirismo de alguns ótimos produtores. A região Emilia-Romagna sempre foi mais conhecida pelos populares vinhos Lambrusco, mas, atualmente alguns talentosos produtores têm feito surgir aqui também alguns dos melhores vinhos tintos e brancos da Itália.


Emilia Romagna e Rubicone

Emilia-Romagna conta com a presença de ventos frios e delicados em suas colinas. A região italiana dá origem a um vinho tinto com a uva Sangiovese muito apreciado pelos italianos, embora seja pouco conhecido pelos estrangeiros. A região sofreu um sério problema de identidade com relação aos seus vinhos na época do fascismo italiano, graças ao líder do regime no país, Benito Mussolini, que alterou o mapa da Itália, separando a região de Romagna da Toscana em meados de 1920. Emilia-Romagna é, na verdade, a combinação entre duas regiões muito distintas quando o assunto se refere à produção de vinhos. Emilia, localizada mais ao norte em direção aos Apeninos e à Lombardia, é conhecida principalmente pelas denominações de origem para produtos alimentícios. Romagna, situada mais ao sul, na fronteira do mar Adriático, e cujas terras já em parte à Toscana, produz vinhos elegantes e elaborados. Atualmente, com a consolidação de uma única região produtora, Emilia-Romagna uniu os dois tipos de produção, tornando-se referência em vinhos e também na elaboração de produtos alimentícios relacionados. Em 1962, foi criado o Consórcio de Vinhos da Romagna. Sobre suas regras encontram-se 7 empresas, 87 produtores e 9 cooperativas. Através desse trabalho eles conseguiram, em 1967, que os vinhos elaborados na região italiana recebessem uma Denominação de Origem Controlada (DOC). Estão inseridos na DOC os vinhos produzidos a partir da uva Sangiovese cultivadas nas colinas de Imola até as plantadas na cidade de Rimini.

A Sangiovese na Romagna

A proximidade física com a Toscana faz com que os vinhos Sangiovese da Romagna sejam frequentemente comparados com seus vizinhos. Mas eles têm estilo e vigor próprios. Sopra um vento frio e delicado nas suaves colinas da Romagna. Essas terras, em algumas zonas bastante férteis e, em outras, um pouco mais pobres, permitindo o cultivo das vinhas, produzem um tinto da Sangiovese muito apreciado pelos italianos, embora pouco conhecido dos estrangeiros, que faz dele o acompanhamento perfeito para a gastronomia da região, a mais rica de toda a Itália. A Emilia-Romagna é, na verdade, a combinação de duas regiões que se distinguem muito pelo que produzem. A Emilia, mais ao norte e em direção dos Apeninos e da Lombardia, é conhecida pelas denominações de origem para produtos alimentícios, e a Romagna, mais ao sul com um território que termina no mar Adriático, é a região dos vinhos mais elaborados e elegantes, cujas terras já pertenceram em parte à Toscana, sua vizinha ao sul. Foi Benito Mussolini quem alterou o mapa da Itália e separou as terras da Romagna das da Toscana, na década de 1920, criando um problema de identidade para os vinhos da região. As uvas Sangiovese plantadas em ambas as zonas têm uma raiz comum na região entre Florença e Bologna, mas, com o passar dos anos, os toscanos foram fazendo seleções de clones até descobrirem os que melhor se adaptavam ao seu território, menos fértil e mais pedregoso, e chegarem aos especialíssimos Brunellos de Montalcino (preparados à partir da variedade Sangiovese Grosso). Durante muito tempo os toscanos acreditavam que a variedade usada na Romagna era inferior, mas as pesquisas dos ampelógrafos descobriram que a variedade de grãos mais delicados (Sangiovese Piccolo) da zona mais ao norte era ainda mais característica da cepa do que alguns clones toscanos. A grande diferenciação de qualidade devia-se ao tratamento dado às uvas e ao terroir onde elas estavam inseridas. Os vinhos produzidos nessas regiões seguem regulamentos que não permitem a utilização de outras uvas além da Sangiovese em razão superior a 15%, a produtividade máxima de 11 toneladas por hectare (que pode ser muito menor de acordo com o estilo do vinho) e a classificação em três tipos, o Novello (vinho jovem com, ao menos, 50% de maceração carbônica), o Superiore e o Riserva. Em meados da década de 1960 que a Romagna começou a levar seus vinhos mais a sério (como já faziam os vizinhos do sul) e criou, em 1962, o Consórcio dos Vinhos da Romagna. Sob suas regras estão nove cooperativas, 87 produtores e mais sete empresas. Com esse trabalho eles conseguiram que, em 1967, seus vinhos obtivessem uma Denominação de Origem Controlada. Estão inseridos nela os vinhos feitos com as uvas Sangiovese cultivadas desde as colinas de Imola, no extremo oeste, até o extremo leste, na cidade de Rimini, que inclui as províncias de Bologna, Ravenna, Forli-Cesena e a própria Rimini. Ao longo das décadas, mesmo com todo o controle e fiscalização implementados pelo Consórcio, os bons vinhos da Romagna ainda não conseguiam atingir o potencial que seus produtores sabiam que eles tinham. Assim, nasceu em 2001 o "Convito di Romagna", uma espécie de consórcio voluntário e auto-patrocinado que une oito produtores comprometidos com a alta qualidade dos produtos. Os participantes são as vinícolas Calonga, Drei Donéa (Tenuta La Palzza), Fattoria Zerbina, Stefano Ferrucci, Poderi Morini, San Patrignano, San Valentino e Tre Monti, que entenderam que, para uma área de produção ser valorizada, é preciso que os produtores estejam unidos com propósito comum. Da mesma forma que o Convito di Romagna vem trabalhando para reforçar a imagem e controlar a qualidade dos vinhos produzidos com a Sangiovese, o Consorzio Vini di Romagna resolveu estreitar ainda mais as suas regras, e também reposicionar a DOC, mudando-a de nome. A partir da colheita de 2011, a DOC passará a se chamar Romagna Sangiovese.

Sangiovese

Pense num bom vinho tinto que lembre a Toscana. Pensou? Que rótulo veio à mente? Chianti? Carmignano? Brunello di Montalcino? Rosso di Montalcino? Pois bem, todos eles têm algo em comum, um “quê” a mais que os torna tão únicos e especiais. Este “quê” chama-se Sangiovese, uma uva nascida, criada e crescida na Itália. Fruto possivelmente do cruzamento das castas Calabrese Montenuovo e Ciliegiolo, a Sangiovese também é conhecida na Toscana, onde é ícone da vitivinicultura, com os nomes de Sangioveto, Brunello, Prugnolo Gentile ou Morellino. Algumas teorias em torno da origem da casta datam seu cultivo desde a vinicultura romana, e parte disso se dá por conta do nome dela. Sangiovese vem do latim “Sanguis Jovis”, ou seja, sangue de Júpiter. Outros garantem que ela já existia desde a civilização Etrusca, que viveu onde hoje é a Toscana entre 1.200 e 700 a.C. De qualquer maneira, o primeiro documento encontrado a respeito da uva é de 1590, na própria Toscana. Seu reconhecimento, no entanto, só aconteceu depois do século XVIII, quando passou a ser uma das castas mais plantadas da região, onde encontra condições perfeitas de crescimento. Foi na Toscana que, em meados do século XIX, o agricultor Clemente Santi isolou suas vinhas para uma prática pouco comum na época: fabricar vinhos varietais de Sangiovese, que envelheceriam por um período considerável. Em 1888, seu neto Ferruccio Biondi-Santi, um veterano soldado que lutou ao lado de Giuseppe Garibaldi, lançou a primeira versão moderna do Brunello di Montalcino, um vinho que descansou por mais de uma década em barris de madeira. O vinho agradou tanto os toscanos que, nas primeiras décadas do século XX, já era aguardado ansiosamente por críticos e consumidores locais. Ao redor de 1950, a fama do Brunello extrapolou os limites italianos e fez dele um fenômeno mundial. A uva sangiovese tem um tempo de cultivo longo, mas o fato é que pode ser produzida em diversos lugares, tendendo a se desenvolver melhor em ambientes quentes, de clima seco e de solos calcários. Além da região da Toscana, há grandes plantações de sangiovese em outras áreas da Itália como na Umbria, zona central italiana, e em Campania, no sudeste do país. Estados Unidos e Austrália também são grandes produtores de Sangiovese. Uma das características típicas da legítima Sangiovese é elevada acidez e concentração de taninos. Por isso, é muito comum que os produtores de vinho a misturem com outras uvas, como a canaiolo, mais macia e suave. Um parêntese importante: a combinação de sangiovese, canaiolo e malvasia é a composição do tradicional vinho Chianti, resultado de experimentos de um barão chamado Benito Ricasoli no final do século XIX. O fato é que outros produtores da região começaram a questionar as convenções tradicionais e passaram a experimentar outras propostas com a uva sangiovese, misturando-a especialmente com uvas de origem francesa como as da região de Bourdeaux, entre elas, a Cabernet Sauvignon. Surgia, assim, um tipo de vinho conhecido como Super Tuscan (ou Supertoscano) que, em um primeiro momento, não agradou muito os consumidores italianos, mas conquistou o mercado internacional, com grandes apreciadores mundo afora, principalmente nos Estados Unidos.

E agora finalmente o vinho:

Na taça conta com um vermelho rubi com traços violáceos e diria um tom meio atijolado, meio marrom, com lágrimas finas e rápidas.

No nariz apresenta um discreto toque frutado, de frutas vermelhas maduras como cereja e groselha, além de notas de especiarias, algo meio apimentado.

Na boca é seco, leve, macio, um vinho fácil de degustar, com as percepções, também discretas, frutadas, com taninos leves e sedosos, mas com uma proeminente acidez que faz do vinho pouco ortodoxo e fresco, ainda jovem. Tem um final de média persistência com o álcool evidente, mas equilibrado, bem integrado ao conjunto do vinho.

Um Sangiovese com características peculiares, inerentes à sua região, mostrando o quanto é importante, essencial a tipicidade, a importância do terroir e ecoa na tradição, na cultura de um povo e esse forte apelo regionalista faz da Sangiovese emblemática no molde do DNA da história da vitivinicultura da Itália e que atualmente vem se globalizando e a casta vem ganhando rótulos produzidos em várias partes do mundo, inclusive do Brasil a Sangiovese vem tendo espaço considerável. O Montecchio me trouxe uma nova possibilidade de uma Sangiovese pouco difundida, é um vinho descomplicado, frutado, fresco, leve, tendo a jovialidade como a razão primordial de sua condição, mas que mostra a personalidade, com a sua expressividade, sendo versátil e com uma ótima vocação gastronômica. O Montecchio Sangiovese mostra e corrobora que a simplicidade pode nos entregar a nobreza do vinho, abrindo um leque diverso de percepções e experiência sensorial, além de uma gama infindável de informação, cultura e história. Que o aspecto regional ganhe o mundo e mostre a todos os rincões desse planeta a importância da tipicidade no vinho. Tem 12% de teor alcoólico.

Sobre a Bosco Viticultori:

Bosco Viticultori possui sede em Salgareda, no coração da Marca Trevigiana, terra sempre voltada para a produção de vinhos. A empresa é parte integrante do Grupo Vi.V.O. (Viticoltori Veneto Orientale) desde 2009, o mais importante grupo cooperativo para a produção de vinhos do território nordeste italiano, com outros 2.300 sócios viticultores e uma produção anual superior a 52.000.000 de quilos de uvas, dando-lhes assim uma forte ligação ao território.  Nestas terras, onde as condições ambientais e de trabalho das pessoas deram vida a uma tradição vitivinícola famosa em todo o mundo, a empresa Bosco Viticultori produz desde 1948 bons vinhos graças a presença de um moderno e amplo centro de produção. A Bosco Malera é uma das maiores produtoras de Lambruscos. A marca Montecchio é mundialmente conhecida pela ligação com a história de Romeu e Julieta. Além disso, a vinícola também produz outros vinhos no norte da Itália. A Bosco Viticultori dá vida a uma produção de vinhos que são a expressão das características e das peculiaridades próprias da terra de origem: perfume nítido, intenso, delicado e limpo. As delicadas operações de seleção e colheita, seguidas da prensagem e fermentação em temperatura controlada, permite o pleno respeito da natureza e da própria complexidade das diversas uvas cultivadas e vinificadas.

Mais informações acesse:

http://www.boscoviticultori.com/it/

Referências de pesquisa:

Sobre Emilia Romagna:

Wikipedia, em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Em%C3%ADlia-Romanha

Portal Mistral, em: https://www.mistral.com.br/regiao/emilia-romagna

Sobre a Sangiovese em Romagna:

Portal Revista Adega, em: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/a-romagna-do-sangiovese_3217.html

Sangiovese:

Portal Art de Caves, em: https://blog.artdescaves.com.br/uva-sangiovese-tudo-sobre-essa-joia-toscana

Portal Revista Adega, em: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/sangiovese-uva-icone-da-toscana_11856.html

 

 

 


 





quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Obikwa Chenin Blanc 2011

 

Sabe aquela sensação de que determinados vinhos, de determinados países, castas e regiões estão distantes de suas pretensões de degustação? Aqueles vinhos que, quando você vê em supermercados e lojas especializadas, pensa: Será que ainda o degustarei? Será que o terei em minha adega? Há alguns anos atrás, talvez uns dez anos atrás, lembro-me que os vinhos sul africanos, além de escassos no mercado brasileiro, eram caros, difícil para os enófilos assalariados. Pois é, caros leitores, apesar da distância dos vinhos da terra de Mandela e da pouca oferta, mantinha a chama da expectativa de tê-los em minha taça para meu deleite, para o ritual da degustação. Mas, pelo menos eu tinha o ávido interesse pela história vitícola desse país, a África do Sul. Lia sobre as suas principais castas e regiões, parecia ser uma espécie de ensaio para adentrar o universo dos vinhos do sul da África. Até que em uma das minhas incursões aos supermercados, olhando, com muito cuidado cada canto das gôndolas, avistei, como que por instinto, um vinho com um rótulo colorido, chamativo, mas muito descontraído e moderno vinho branco que decidi olhar com mais esmero, com mais cuidado. O Examinei como se fora o meu primeiro vinho e observei que se tratava da África do Sul! Seria a minha oportunidade de degustar um vinho desse país e logo um branco? Sim! O valor estava atraente, em torno de R$ 39,90! Não hesitei e comprei!

Mas a ansiedade não parou por aí. De posse do meu novo rótulo decidi degusta-lo o quanto antes, sem delongas e foi o escolhido para uma noite agradável e fresca. Acho que a noite harmonizaria plenamente com o vinho sul africano que escolhi. E a escolha não poderia ter sido melhor! Maravilhoso vinho! O vinho que degustei e gostei veio de uma região chamada Stellenbosch e se chama Obikwa e a casta era a inédita Chenin Blanc da safra 2011. E, como eu não me atenho a degustação, o que é fantástico, preciso falar um pouco sobre essa emblemática região da África do Sul e uma casta que se deu bem nas terras deste país. Então falemos um pouco de cada um deles.

Stellenbosch

Stellenbosch é a segunda colónia europeia mais antiga na África do Sul, após a Cidade do Cabo, e fica na Província do Cabo Ocidental. Está situada a cerca de 50 km da Cidade do Cabo, e no ano 2000 contava com cerca de 90 mil residentes com habitação formal, portanto sem contar estudantes e outras pessoas com habitação informal. Seu nome e existência se devem ao antigo governador do Cabo, Simon van der Stel, que estabeleceu um povoado à beira do rio Eerste em 1679, fazendo dela a segunda cidade mais antiga da África do Sul. Hoje, é uma linda cidade caracterizada por ruas ladeadas de carvalhos e casas brancas, muitas das quais de origem Cape Dutch (cabo-holandesa), e fica entre a suntuosa montanha Simonsberg e a mais modesta Papegaaiberg (“Montanha do Papagaio”). Logo que chegaram os primeiros colonos, particularmente os Huguenotes franceses, teve início a cultura da vinha nos vales férteis em torno de Stellenbosch, que rapidamente se tornou o centro da indústria vinícola sul-africana. Até há pouco tempo, a concentração de riqueza trazida por esta indústria fez com que a área tivesse um elevado coeficiente de Gini, embora esta situação esteja a mudar.

Stellenbosch

Stellenbosch possui uma rica história vinícola e é lar de alguns dos vinhos mais famosos do país. Além disso, a uva Cabernet Sauvignon é a variedade mais cultivada na região, utilizada muitas vezes ao lado da casta Merlot. Situada a apenas 40 quilômetros ao leste da Cidade do Cabo, Stellenbosch é separada pelas montanhas de Simonsberg e Paarl. Seus vinhedos cobrem as colinas da região sul-africana que vão desde Helderber, no sul, até as inclinações mais baixas de Simonsberg, no norte. Este terreno proporciona uma grande variação nos estilos de vinho produzidos, bem como microclimas ideais para o cultivo de inúmeras variedades encontradas entre as colinas e os vales de Stellenbosch. Os solos da região são compostos predominantemente de arenito e granito, onde é possível encontrar também um alto teor de argila, responsável por garantir uma melhor retenção da água. O clima de Stellenbosch é quente e seco, embora receba uma influência marítima do sul, proveniente de False Bay. A refrescante brisa que as vinhas recebem à tarde e a incidência solar pela manhã possibilita que as uvas concentrem melhor seus aromas e sabores, dando origem a vinhos com características únicas e peculiares. Em decorrência dessa variação de terroir, Stellenbosch é dividida em inúmeras áreas produtoras de vinho diferentes, entre elas, Bonghoek, Papegaaiberg, Devon Valley e Polkadraai Hills. Além disso, a região sul-africana é o segundo assentamento mais antigo do país, ficando atrás apenas de Cape Town. As principais variedades cultivadas em Stellenbosch são as uvas Cabernet Sauvignon, Chenin Blanc, Sauvignon Blanc e Shiraz. Além disso, a fama da região se deve também por ser o berço da casta Pinotage, resultado de um cruzamento das uvas Cinsaut e Pinot Noir em 1924.

Chenin Blanc

A Chenin Blanc é uma das muitas variedades de origem francesa, e como tal, honra o título de prata da casa: na parte central do Vale do Loire, essa uva dá origem a diversos tipos de vinho, dos secos e ácidos até os doces, alguns entre os melhores do mundo. A África do Sul, por sua semelhança com o Velho Mundo, também produz rótulos de características suaves, mas ao mesmo tempo bem elaborados. Lá, a variedade é chamada de Steen, e a técnica nacional de fermentação fria dá ao vinho toques de pêra, que aumentam à medida que o açúcar do vinho diminui e a bebida se torna mais seca. A acidez dessa uva favorece o processo de envelhecimento, principalmente nos rótulos mais secos, mas seus vinhos de sobremesa, feitos de frutos com a “podridão nobre”, também têm grande potencial para serem guardados. Os principais aromas da Chenin Blanc são maçã, pêra (principalmente oriundos da fermentação fria), marmelo, nozes, mel e cevada. Os vinhos brancos elaborados com a casta Chenin Blanc possuem corpo leve. Com crescente popularidade na África do Sul, a casta possui variedade de sabores, sendo parte da razão disso o estilo de vinificação por qual passa e o terroir presente na região de cultivo. Os aromas encontrados nos vinhos elaborados com a casta Chenin Blanc possuem bastante presença de frutas, como damasco, limão, tangerina e até mesmo maracujá. Em caso de vinhos amadurecidos em carvalho, os sabores de noz moscada e amêndoa são bastante evidenciados.

E agora o vinho!

Na taça tem um amarelo palha com lindos reflexos esverdeados, muito brilhantes, reluzentes.

No nariz traz uma explosão de notas frutadas, frutas brancas e cítricas que me remete a maçã, pera, abacaxi, limão, com muito frescor e jovialidade, apesar do tempo de safra, com quatro anos. Não podemos negligenciar outro destaque do vinho no aspecto olfativo, o toque floral intenso, lembrando flores brancas.

Na boca é fresco, jovial, informal e descompromissado, mas, ao mesmo tempo se revela um vinho expressivo, com bom volume de boca, sobretudo por conta da fruta, percebido no quesito olfativo e na intensa acidez. Tem um final longo, persistente e refrescante.

Essa foi a minha primeira e satisfatória experiência com meu primeiro vinho branco sul africano com a casta Chenin Blanc. Um vinho equilibrando, redondo e, mesmo que seja leve e fresco, tem personalidade marcante, mostrando toda a sua versatilidade e vocação gastronômica, onde harmoniza com pratos de entrada como frios, a refeições mais simples e carnes brancas, frituras, é o famoso vinho para se degustar à beira da piscina e por que não leva-lo à praia? Gostei tanto da Chenin Blanc sul africana que, quando surgiu a oportunidade, degustei outro vinho da casta da tradicional vinícola daquele país, a Nederburg, o 56 Hundred Chenin Blanc 2017. Tem 13% de teor alcoólico muito bem integrados ao conjunto do vinho.

Sobre a Obikwa Winery:

A história dos vinhos Obikwa começou em 2002, em Stellenbosch, mas todos os vinhos produzidos eram exportados. Com o aumento da popularidade, os produtos passaram a ser vendidos também na África do Sul a partir de 2009. Obikwa é o nome de uma das mais antigas tribos do país, para a qual o avestruz simboliza força vital e fidelidade. Como forma de homenagear essa tribo e toda sua história, a vinícola leva a sério seu compromisso com a sustentabilidade ambiental e a qualidade do seu trabalho. Com a proposta de fazer ‘vinhos de real valor a ótimo preço’, esse produtor honra suas origens com rótulos surpreendentes. Obikwa é o primeiro vinho sul-africano a mudar para novas garrafas verdes ultraleves de 350g, ecologicamente corretas, que são 25% mais leves . Toda a gama OBiKWA apresenta um Selo de Sustentabilidade , emitido pelo South African Wine & Spirit Board.

Mais informações acesse:

https://www.distell.co.za/home/

Referências de pesquisa:

Sobre Stellenbosch:

Portal Vinci, em: https://www.vinci.com.br/c/regiao/stellenbosch#:~:text=Situada%20na%20%C3%A1rea%20costeira%20do,ao%20lado%20da%20casta%20Merlot.

Portal South Africa, em: https://www.southafrica.net/br/pt/travel/article/stellenbosch-uma-das-joias-da-regi%C3%A3o-vin%C3%ADcola

Wikipedia, em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Stellenbosch

Sobre a Chenin Blanc:

Blog Sonoma, em: https://blog.sonoma.com.br/uvas/chenin-blanc-a-prata-da-casa-francesa-de-vinhos/

Portal Mistral, em: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/chenin-blanc

Degustado em: 2015




sábado, 21 de novembro de 2020

Alto las Nieves Cabernet Sauvignon 2019

 

Há quem diga que degustar um Cabernet Sauvignon de entrada, da linha básicas dos produtores é um demasiado risco, um vinho sem personalidade que não retrata a potência da cepa, para os mais radicais são vinhos sem expressividade, sem vida. Digo que degustar vinhos mais simples, os mais básicos das vinícolas pode sim ser um risco, da mesma forma que o dito icônico dos produtores pode ser um risco também! Pois é, caros enófilos leitores, é um risco também! Escolher vinhos é sempre um risco que corremos afinal a grife pode te entregar o status, mas não o prazer que o vinho pode te proporcionar na degustação. Não podemos negligenciar a possibilidade de vinhos simples, básicos serem bons, bons pelo que se propõe a entregar ao enófilo. Simplicidade não significa que seja ruim. Então não se enganem, um Cabernet Sauvignon básico de um produtor pode sim ser bom, entregar o que há de melhor da cepa. Eu costumo repetir, como um mantra, que quando um vinho simples, básico de um produtor é bom, é porque o produtor e seus rótulos são idôneos, com vinhos de tipicidade.

Então decidi arriscar, o risco faz parte para aqueles que decidem sair da famosa zona de conforto, e abrir um jovem vinho que repousava na minha adega da casta Cabernet Sauvignon de um dos maiores produtores da cepa no mundo, o Chile. Na realidade a Cabernet Sauvignon é a uva mais emblemática do mundo, a mais cultivada do planeta também. Talvez tudo que eu redigir, do que eu contextualizar sobre a rainha das uvas tintas soe como redundante, haja vista que a literatura do vinho tenha dito em verso e prosa sobre essa inspiradora casta, mas, especificando e falando, brevemente, sobre a Cabernet Sauvignon no Chile é de que a mesma, apesar de ser a mais cultivada naquele país, ela não tem, sobretudo nessas últimas décadas, a reverência, o respeito e o interesse que merece. Mas é inegável que o casamento, a “harmonização” entre quantidade e qualidade acontece, embora não tenha o devido crédito, como a Carmènére, por exemplo. Então, sem delongas faço questão de proferir, de gritar, de redigir aos quatro cantos do mundo que tive o prazer de degustar e gostar de um vinho surpreendentemente bom, da emblemática região do Vale Centra, no Chile, da jovem safra de 2019, da vinícola, de fundadores espanhóis, Miguel Torres, chamado Alto Las Nieves da emblemática e necessária Cabernet Sauvignon. E já que falei da região do Vale Central, de onde veio o vinho que degusto, é conhecida por cultivar um dos melhores Cabernets do Chile, então falemos um pouco sobre ela.

Vale Central

Valle Central, ou Central Valley como é conhecida, é uma região vinícola do Chile, estando entre uma das mais importantes áreas produtoras de vinho de toda a América do Sul, em termos de volume. Além disso, o Central Valley é uma das regiões que mais se destaca com relação a extensão, indo desde o Vale do Maipo até o final do Vale do Maule. Uma ampla variedade de vinhos é produzida na região, elaborados a partir de uvas cultivadas em diferentes terrenos. Tal exemplar vão desde vinhos finos e elegantes, como os produzidos em Bordeaux, até os vinhedos mais velhos e estabelecidos em Maule. A região do Valle Central é também lar de diversas variedades de uvas, porém, as plantações são ocupadas pelas castas Cabernet Sauvignon, Sauvignon Blanc, Merlot, Chardonnay e Syrah. A uva ícone do Chile, a Carmenère, também é importante na região, assim como a Malbec é referência em Mendoza, do outro lado dos Andes. As áreas mais frias do Central Valley estão ganhando cada vez mais destaque perante o mundo dos vinhos, onde são cultivadas as uvas Riesling, Viognier e até mesmo a casta Gewürztraminer. O Central Valley é dividido em quatro sub-regiões vinícolas, de norte a sul, cada qual com características e diferenças marcantes. O Maipo é a sub-região mais histórica do país, onde as vinhas são cultivadas desde o século XVI, abrigando as videiras mais antigas existentes na região. O Rapel Valley é lar das tradicionais sub-regiões Cachapoal e Colchagua, enquanto Maule Valley é uma das sub-regiões vinícolas mais prolíferas de toda a América do Sul. Por fim, a última sub-região Curico Valley foi a pioneira no cultivo vinícola na década de 1970, onde Miguel Torres deu início a vinicultura moderna.

Vale Central

A Cabernet Sauvignon pode ser cultivada com sucesso tanto no Vale do Maipo quanto no Vale de Rapel, cada um por um motivo diferente. No Vale de Rapel, a presença de um solo rochoso e com baixa atividade freática (pouca disponibilidade hídrica) aliado à alta taxa de amplitude térmica (diferença entre a maior e a menor temperatura nessa área em um dia) vai favorecer o grau de maturação da Cabernet Sauvignon, aprofundando seu sabor. Essa parte do vale, portanto, produz uvas com um sabor mais profundo e maduro. Já a Cabernet Sauvignon que é cultivada no vale do Maipo (de onde provém mais da metade da produção dessa cepa) conta com a influência direta do Rio Maipo. Onde as águas do rio servem para regular a temperatura e fornecer a irrigação dos vinhedos. E para não deixar de destacar a área a sotavento da Cordilheira da Costa, o Vale do Curicó possui um clima quente e úmido, já que todo o ar frio é impedido de passar pela barreira natural da montanha. Quem se beneficia com isso é a produção de Carménère, que por tamanha perfeição em seu desabrochamento são conhecidos por todo o mundo, não sendo surpresa o fato de que somente desse Vale derivem vinhos para mais de 70 países ao redor do mundo. Em outras palavras, o Vale Central se constitui como uma mina de ouro de cepas premiadas e irrigadas com tradição centenária. O Valle Central é uma área plana, localizada na Cordilheira Litoral e Los Andes, caracterizada por seus interessantes solos de argila, marga, silte e areia, que oferece ao produtor uma extraordinária variedade de terroirs. Excepcionalmente adequada para a viticultura, o clima da região é mediterrâneo e se traduz em dias de sol, sem nuvens, em um ambiente seco. A coluna de 1400 km de vinhas é resfriada devido à influência gelada da corrente de Humboldt, que se origina na Antártida e penetra no interior de muito mais frio do que em águas da Califórnia. Outra importante influência refrescante é a descida noturna do ar frio dos Andes.

Então vamos falar do vinho!

Na taça apresenta um lindo vermelho rubi brilhante com reflexos violáceos com lágrimas grossas e esparsas que demora um pouco a se dissipar das paredes do copo.

No nariz se destaca uma explosão de aromas frutados, sem ser enjoativo, de frutas vermelhas maduras como framboesa, cereja e morango, talvez notas discretas de baunilha.

Na boca é seco, jovem e fresco, reproduz as impressões olfativas frutadas, com um leve toque amadeirado, afinal o 50% do vinho passou por barricas de carvalho (não há informações, por parte do produtor do tempo em que esse percentual do vinho passou por madeira), além de ter taninos sedosos e domados, uma acidez média e um final intenso, persistente com retrogosto frutado. Um vinho expressivo, mas fácil de degustar.

Um Cabernet Sauvignon frutado, leve, mas, ao mesmo tempo expressivo, mostrando o quão importante e rica é a região de onde esse rótulo veio. Um vinho versátil, equilibrado e gastronômico que, diante da sua proposta, entregou muito além do esperado. É possível sim degustar um Cabernet Sauvignon básico, mas honesto, bem feito, mostrando que o Chile produz, cultiva ótimos vinhos dessa cepa em todas as suas esferas de propostas. A construção da casta com as suas características foram percebidas em cada taça enchida, em cada celebração a boa degustação. Um viva a Cabernet Sauvignon como eu já não degustava havia tempo, sobretudo com essa proposta. Tem 13,5% de teor alcoólico muito bem integrados ao conjunto do vinho.

Sobre a vinícola Miguel Torres:

Miguel Torres foi a primeira empresa vinícola estrangeira estabelecida no Chile, em 1979. A família Torres escolheu este país como o destino apropriado para a prática da vinicultura, devido às suas excelentes condições para o desenvolvimento desta indústria. A decisão de escolher Chile pelas suas excelentes condições climáticas, não foi suficiente. Miguel Torres Chile foi o primeiro a introduzir novas tecnologias na produção de vinho, como a fermentação em tanques de aço inoxidável e o envelhecimento em barricas de roble francês. Além de contribuir para o crescimento dos vinhos chilenos nos últimos 30 anos. A Primeira marca de vinho Miguel Torres, após a compra dos primeiros 100 hectares adquiridos pela família Torres no setor Maquehua em Curicó, em 1981. Santa Digna é a linha de vinhos mais conhecida pelos consumidores em todo o mundo. Hoje certificada como Comércio Justo (Trade Fair) permitiu a vinha estabelecer-se como uma empresa sustentável. Foi em 1985 que as videiras de Cabernet Sauvignon de mais de 115 anos do Fundo Manso de Velasco deu fruto ao vinho ícone de Miguel Torres Chile. Reconhecido mundialmente pela sua qualidade e por representar fielmente ao Cabernet Sauvignon do Chile. Manso de Velasco, homenagem ao ilustre fundador da cidade de Curicó, é uma fazenda chilena de 15 hectares, plantados em 1902, situado ao pé da Cordilheira dos Andes e dedicados exclusivamente ao Cabernet Sauvignon. Com o passar dos anos, a empresa adquiriu novas terras e expandiu suas instalações e gama de produtos. Atualmente a vinha têm aproximadamente 350 hectares de vinhedos plantados em oito propriedades com características climáticas muito diferenciadas entre sim e 1030 no total. Isso permite o cultivo de diferentes variedades e a elaboração de vinhos com caráter varietal intensa. Em 1996 a Cordillera Carignan nasceu de um projeto onde Miguel Torres em conjunto com outros vinhedos da região de Maule e pequenos produtores se unem para formar VIGNO - Clube de Vignadores de Carignan, para trabalhar pelo resgate de variedades antigas. É assim como Miguel Torres assume fortemente a esta nova iniciativa com “Cordillera Carignan”, o que representa uma das últimas inovações mais importantes na indústria do vinho. No ano 2000 o Fundo Empedrado se juntou as propriedades da empresa. Localizado perto de Constitución, 180 km. Em direção ao sul de Curicó e com 364 hectares, é o resultado de anos de pesquisa de solos de ardósia. A particularidade deste tipo de pedra é que ela permite um alto nível de drenagem e coleta a radiação solar, mantendo um mesoclima quente, (pela cor preta da “pedra laja”). Em 2000 tem a primeira colheita do “Superunda”. Para a produção deste vinho temos experimentado por muitos anos, com velhas cepas chilenas e espanholas de diferentes origens e de diferentes variedades. Cabernet Sauvignon, Carmenere, Tempranillo, Monastrell são a base deste vinho tem recebido cumprida criança em barricas de roble novo de Nevers, ao longo de 24 meses. Em 2007, sob o nome de “Santa Digna Estelado”, Miguel Torres Chile lançou no mercado nacional a safra 2010 do primeiro espumante elaborado com variedade Pais, produto desenvolvido no âmbito de um projeto co-financiado pelo Ministério da Agricultura, através da Fundação para a inovação agrícola. A iniciativa, que começou no final de 2007, visa melhorar as condições para os agricultores das regiões secas na interior das regiões de Maule e Biobio. Em 2010, Miguel Torres Chile apresenta sua nova linha de vinho orgânico “Las Mulas”. Uma proposta inovadora e com um conceito atraente que responde a um dos valores mais importantes da adega familiar: sustentabilidade e preocupação meio ambiental. No final de 2010, Miguel Torres Chile obteve a certificação Fair Trade para sua linha de vinhos Santa Digna, a mais reconhecida no nível nacional e internacional. O objetivo da certificação é dar ao consumidor um produto de alta qualidade produzido sob a transparência e o equilíbrio entre a empresa, seus trabalhadores e o meio ambiente. Em 2012 100% das fazendas são certificadas orgânicas para as normativas de Chile, Europa, EUA e Japão, sendo a nossa linha LAS MULAS a representante desta categoria. Os produtos associados a esta linha são: Las Mulas Cabernet Sauvignon, Las Mulas Sauvignon Blanc, Las Mulas Cabernet Sauvignon Rosé, Las Mulas Carmenere e Las Mulas Viognier.

Mais informações acesse:

https://www.migueltorres.cl/pt/

Referências de pesquisa:

Portal Vinci, em: https://www.vinci.com.br/c/regiao/valle-central

Portal Winepedia, em: https://www.wine.com.br/winepedia/enoturismo/valle-central-chile/

Portal Enologuia, em: https://enologuia.com.br/regioes/186-o-vale-central-no-chile-ponto-de-encontro-de-vinhos-reconhecidos-mundialmente

 



sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Marqués del Camino Pardina 2017

 

Realmente o universo do vinho é interminável, é vasto, logo inexplorável. Com o perdão da analogia são universos em expansão que, diante de nossos simples olhos de enófilo, surgem alguns “big bangs” que se desenvolvem em novas castas, novas regiões, novas perspectivas e percepções de degustações e, além dessas experiências sensoriais, a cultura, o aprendizado se faz permanente e consistente. São garrafas que explodem em história, cultura, comportamento e principalmente o prazer da degustação. E mais um rótulo me proporcionou tamanha experiência, tamanha, diria, alegria ao perceber o quão maravilhoso é o universo do vinho. Estava eu em minhas incansáveis e agradáveis incursões nos supermercados a procura de um vinho branco para compor a minha adega neste tipo de vinho. Mas, apesar de manter a minha tradição em comprar vinhos em supermercados, ainda há uma dificuldade no que tange a diversidade de rótulos sobretudos os brancos, mas decidi, naquele dia, que não iria desistir na minha escolha e aquisição. Olhei para cima, para baixo, para os lados da gôndola e nada me interessava, tudo era trivial demais. Quando já estava pensando em ir embora eis que, como por encanto, surgiu, diante dos meus olhos, um vinho, de custo muito baixo, que me chamara a atenção, mas não havia, até o momento, nada que de fato me chamasse a atenção. Já em minhas mãos, o analisei com requintes de detalhes e percebi uma palavra de nome “Pardina” que, de imediato, não identifiquei, logo depois “Ribera del Guadiana” que logo entendi se tratar de uma região que desconhecia. Já me interessei! Acessei a internet, digitando no site de buscas, a tal palavra que não conhecia e descobri que se tratava de uma casta branca espanhola. Pronto! Foi o necessário para me interessar e não hesitei em leva-lo para a minha adega. 

Não demorei tanto tempo para degusta-lo e o que eram apenas novidades e até dúvidas se transformou em êxtase, admiração por um vinho de excelente custo X benefício! Então o vinho que degustei e gostei vem da região de Ribera del Guadiana, na Extremadura espanhola, e se chama Marqués del Camino, da casta Pardina, da safra 2017. E, diante de tantas novidades, de universos em expansão, nada mais conveniente de explorá-lo nas suas minucias. Então falemos um pouco da jovem DO Ribera del Guadiana e da sua popular casta Pardina.

Ribera del Guadiana DO

Ribera del Guadiana é uma Denominación de Origen Protegida (DOP) espanhola para vinhos localizada na região de Extremadura, na Espanha. Estende-se por duas províncias, Cáceres no norte e Badajoz no sul. Leva o nome do rio Guadiana, que atravessa a região de leste a oeste. A sua área vitícola nesta jovem Denominação de Origem está dividida em seis subzonas vitivinícolas, cada uma das quais com um caráter especial e detentora de uma tradição particular e milenar na produção de vinho. Essas subzonas são: Cañamero e Montánchez, na província de Cáceres e Ribera Alta, Ribera Baja, Tierra de Barros e Matanegra, em Badajoz.

Ribera del Guadiana

A subzona Tierra de Barros abrange 36 municípios. O solo é argiloso com excelentes propriedades de retenção de umidade e alto teor de calcário. A disposição do terreno é plana o que permitiu a mecanização das atividades da vinha. A subzona de Cañamero abrange 5 municípios da cordilheira da Sierra de Guadalupe , a leste da província de Cáceres, a uma altitude de mais de 800 m acima do nível do mar. As vinhas são plantadas em encostas em solo pobre sobre um estrato de ardósia. A subzona de Montánchez cobre 27 municípios ao sul de Cáceres. O terreno compreende colinas e vales, com solo rico, castanho e ligeiramente ácido a uma altitude de cerca de 625 m acima do nível do mar. A subzona da Ribera Baja a oeste abrange 11 municípios e alcança a fronteira portuguesa. Os solos são argilosos e aluviais a baixa altitude, cerca de 250 m acima do nível do mar. A subzona Ribera Alta a leste cobre 38 municípios a uma altitude de cerca de 400 m. Os solos são arenosos e não muito profundos. A subzona de Matanegra fica mais ao sul, cobrindo 8 municípios. Os solos são semelhantes aos da Terra de Barros, enquanto o clima é mais fresco devido à maior altitude de mais de 600 m acima do nível do mar. A Extremadura tem um clima continental: verões quentes e secos quando as temperaturas podem atingir os 40°C e invernos frios quando podem descer aos 0°C. A precipitação varia de acordo com a subzona em questão e pode ser considerável nas áreas montanhosas, como Cañamero. A precipitação média é de 450 mm / ano. Os principais desafios enfrentados pelos produtores de uvas são as secas no verão e as geadas na primavera. O Conselho Regulador do DOP autoriza o uso de 39 variedades de uvas diferentes, algumas das quais são nativas da região e não são cultivadas no resto da Espanha. Cayetana blanca é a variedade branca mais amplamente plantada. Tempranillo é a variedade tinta mais amplamente plantada.

Pardina

É uma casta espanhola de uva branca relativamente neutra, de maturação precoce e baixa produção, com um interessante índice de glicerol que confere maciez aos vinhos em que participa. É uma das principais variedades cultivadas em Badajoz, sendo as suas características muito semelhantes às da Airen , cultivada em La Mancha. Tem sido cultivada no DO Almansa, nas Ilhas Canárias em quase todas as suas denominações, Manchuela, Ribera de Duero , La Rioja , Toro, Txacolí de Vizcaya e Vinos de Madrid . Fora da Espanha, é difícil encontrá-lo. É uma casta vigorosa, muito fértil desde os primeiros botões dos rebentos, pelo que se adapta à poda curta. A planta é de maturação precoce o que a torna especialmente sensível às geadas primaveris, vigorosa, bastante resistente a doenças e com baixa produção. Os vinhos são de qualidade, alcoólicos, saborosos, encorpados, de cor amarelo ouro e aroma poderoso, com um sabor ligeiramente adocicado. No nariz é penetrante. Como casta, oferece bons vinhos da Ribera del Duero , embora sejam excelentes para misturar com outras castas devido ao seu elevado teor alcoólico e poder aromático. Apesar de ter sido utilizado para a produção a granel, está a ser descoberto o seu potencial para a produção de vinhos com aromas a ervas silvestres e frutos maduros. É a casta mais abundante da Extremadura, embora também esteja presente na Andaluzia.

E agora finalmente o vinho!

Na taça tem um lindo amarelo dourado com tons reluzentes, brilhantes.

No nariz traz um toque frutado bem generoso, de frutas brancas, cítricas, como pera, abacaxi, limão, o frescor e a leveza estão presentes também.

Na boca é seco, as notas frutadas se reproduzem no paladar e o destaque fica para a acidez: intensa, presente, proeminente, que faz do vinho fresco, refrescante, com alguma complexidade, diria, apesar de ser um vinho muito fácil de degustar. E talvez esteja falando uma bobagem, mas, dada a sua acidez diria que esse vinho apresente alguma rusticidade, algo indomado, selvagem, pouco trivial, mas muito interessante. Tem um final curto, mas com a fruta perceptível.

Marqués del Camino me proporcionou novas perspectivas, novas experiências, mostrando, corroborando a minha tese de que o universo de vinho é vasto, infinito, um verdadeiro estímulo ao prazer da degustação, da aprendizado, do acesso à novas culturas. Assim é o vinho, esse também é um dos conceitos de terroir, da cultura e do comportamento de um povo. Um vinho fresco, leve, com personalidade, com um apelo visual interessante, com o seu amarelo dourado e toque frutado e de boa acidez que denuncia o seu frescor e leveza. Um belo vinho que, no auge dos seus apenas R$ 29,90 surpreendeu pela sua qualidade, correção e honestidade, entregando além do que valeu. Tem 12% de teor alcoólico.

Sobre a Viña Oliva Sociedad Cooperativa:

Viñaoliva é uma cooperativa de segundo nível fundada em Almendralejo em 1998. É composta por 25 cooperativas de primeiro nível. A Viñaoliva fabrica e comercializa produtos resultantes do trabalho consciente e profissional de 8.300 famílias de agricultores que cultivam azeitonas e uvas em mais de 78.000 hectares de terras. As 15 adegas das cooperativas, 9 lagares de azeite e 12 fábricas de processamento de azeitonas de mesa proporcionam a Viñaoliva toda uma gama de instalações de produção, que também complementa com a sua própria adega experimental e linha de engarrafamento, um lagar de azeite e linha de engarrafamento, uma planta de concentrado de mosto de uva, uma destilaria e dois laboratórios que possuem tecnologia de ponta. Tudo isso na sede da Viñaoliva, em Almendralejo, em pleno bairro da Terra de Barros. Estas instalações permitem à Viñaoliva oferecer produtos engarrafados por medida e também a granel. A Viñaoliva Sociedad Cooperativa controla um total de 38.000 hectares de vinhedos. Isso representa 50% da produção da Estremadura e, portanto, 5% de toda a produção nacional da Espanha. O foco está na exportação. Os vinhos das cooperativas membros são vendidos a granel e como produtos de marca própria engarrafados para múltiplos e supermercados. Já os vinhos próprios da Viñaoliva são produzidos na sua adega experimental, inaugurada em 2008, com linha de engarrafamento própria e homologação BRC. É onde os vinhos Zaleo são feitos em pequenos tanques e com temperatura controlada. Os vinhos Zaleo exprimem o terroir da Estremadura, extraindo todo o potencial das castas da Estremadura e da Espanha. O foco da fruta e os taninos suaves combinam-se para criar produtos encorpados, mas fáceis de beber.

Mais informações acesse:

http://www.vinaoliva.com/inicio_eng.html

Referências de pesquisa:









segunda-feira, 16 de novembro de 2020

Nieto Senetiner Pinot Noir 2014

 

É sabido que a Pinot Noir é uma casta difícil. Arredia, é exigente no seu cultivo, mas que revela, ao mesmo tempo, elegância, delicadeza e um pitoresco sabor que privilegia as frutas vermelhas. Os melhores vinhos da casta Pinot Noir produzido no mundo são os franceses, mais precisamente na região da Borgonha. É uma referência quando enaltecemos suas mais fiéis e genuínas características. E foram com os pinots franceses que tive o meu ritual de iniciação com a cepa: de vinhos mais frescos, jovens a rótulos mais complexos e que tem uma grande vocação para guarda. E neste link segue a resenha do Pinot Noir francês que degustei e gostei: Gustave Lorentz Pinot Noir 2016. A título de curiosidade, a Pinot Noir faz parte do corte dos emblemáticos, famosos e tradicionais champanhes, da região de mesmo nome. Mas não é apenas na França, na Borgonha, que os Pinots vêm ganhando notoriedade e respeito. Alguns dos Pinots Noir mais admirados do mundo, por exemplo, vem da Califórnia, do Chile (Tripantu Grand Reserve Pinot Noir 2011 e Casa Silva Reserva Pinot Noir 2013) e também da Nova Zelândia (Brancott Estate Pinot Noir 2012 e 2014).

Como podem perceber caros leitores, os grandes produtores da Pinot Noir que estão despontando vêm do Novo Mundo e o rótulo de hoje me surpreendeu pela complexidade, pelo corpo volumoso para um Pinot Noir, mas ao mesmo tempo mostrando uma estrutura aveludada e frutada como já é de destaque da cepa. E esse vinho veio da famosa região Luján de Cuyo, famosa por produzir grandes Malbecs, na tradicional Mendoza. Um vinho surpreendente que, tomado por um entusiasmo único, antecipei grande parte de sua análise. O vinho que degustei e gostei é o Nieto Senetiner Pinot Noir da safra 2014. Antes de falar dessa espetacular vinho com requintes de detalhes, falemos um pouco da região de onde veio: Luján de Cuyo.

Luján de Cuyo

O departamento de Luján de Cuyo foi instituído em 11 de maio de 1855 sob o nome de “Villa de Luján” durante o governo do General Pedro Pascual Segura. Seu município foi criado em 1872. O povoado de Luján realizou uma grande contribuição à história da Independência Argentina, desempenhou um papel fundamental na formação do Exército dos Andes. Foi declarada “Cidade” a Villa de Luján, em Outubro de 1949. Em 1964, tanto a cidade quanto o departamento passaram a ser chamados “Luján de Cuyo”. No início, quando os espanhóis por ordem do Governador Garcia Hurtado de Mendoza, sob o comando do capitão Don Pedro del Castillo chegaram ao Vale de Huentota durante uma expedição constituída por sessenta espanhóis, mil e quinhentos índios auxiliares e um capelão, Frei Humberto de la Cueva, encontraram um precário sistema de irrigação artificial. Esse era o qual a população local irrigava suas plantações de batata e milho originários da América e desconhecidos até o momento na Europa. O Capitão del Castillo nomeou o lugar Mendoza – Novo Vale de Rioja. Era 2 de março de 1561. O nome foi uma homenagem ao Governador do Chile Hurtado de Mendoza e à pátria natal de Castillo.

Luján de Cuyo

Com vinhedos plantados em solos arenosos e altitudes que variam entre 800 e 1.100 metros, Luján de Cuyo é conhecido como a terra do Malbec. O departamento faz parte da região alta do Rio Mendoza. A maior parte das videiras aqui plantadas é de uvas tintas, mas o Malbec não é a única a se destacar: Cabernet Sauvignon, Chardonnay e Torrontes também têm se mostrado bastante expressivas. Há aproximadamente 40 minutos ao sul da cidade de Mendoza, a região é considerada o berço do movimento vinícola argentino – tirando o país do lugar comum e alavancando sua produção à nível internacional. Luján de Cuyo foi a primeira área a instituir a DOC (Denominação de Origem Controlada) para o Malbec em 1993. Isso causou uma considerável e contínua melhora na qualidade e quantidade dos vinhos, repercutindo num notável reconhecimento global.

E agora o vinho!

Na taça apresenta um impressionante vermelho rubi escuro, mas com tonalidade violácea muito brilhante com lágrimas finas e esparsas que logo se dissipam das paredes do copo.

No nariz possui uma explosão aromática de frutas vermelhas maduras, como cereja, ameixa com notas de especiarias.

Na boca é seco e complexo, tem média estrutura, mas aveludado, suave, delicado, equilibrado, com taninos macios e finos com uma boa acidez que lhe garante frescor e jovialidade com um final persistente e frutado.

Como eu disse é um vinho simplesmente surpreendente! Um Pinot Noir atípico, um vinho poderoso e complexo para um Pinot Noir chileno, brasileiro, mais leves e delicados, por exemplo. Um vinho extremamente versátil que, embora tenha complexidade e estrutura, traz as genuínas características da cepa: delicadeza, a presença da fruta vermelha, no aroma e paladar e, por não ter passagem por barricas de carvalho, corrobora e enaltece tais peculiaridades. Que venham mais Pinots argentinos! Tem incríveis 14% de teor alcoólico, mas muito bem integrados ao conjunto do vinho, sendo quase que imperceptível.

Sobre a Nieto Senetiner:

Os ponteiros do relógio começaram a girar um dia de 1888 em Vistalba, Luján de Cuyo, província de Mendoza, Argentina, quando um grupo de imigrantes italianos meteu as mãos na terra para plantar as primeiras vinhas e fundar uma nova empresa vinícola. A partir daquele primeiro dia, diferentes famílias transmitiram umas às outras os segredos da elaboração de grandes vinhos: o profundo amor pela natureza, o respeito pela essência de cada terroir e o valor da espera. Em 1969, as famílias Nieto e Senetiner adquiriram a fazenda e começaram a escrever um novo capítulo de crescimento e desenvolvimento. Ampliaram as instalações e consolidaram uma presença que já havia deixado o seu cunho na história dos grandes vinhos  argentinos. Em 1998, Nieto Senetiner tornou-se parte do grupo de empresas vinícolas da família Pérez Companc. Comprometida com os mais altos padrões de produção e qualidade do vinho e apoiada por um plano de investimento contínuo, tanto em fazendas como em tecnologia de processos, a Nieto Senetiner consolidou sua liderança, sem renunciar aos nobres atributos que forjaram a sua origem e marcaram o seu tempo.

Mais informações acesse:

https://www.nietosenetiner.com.ar/pt-br/

Fontes de pesquisa:

Portal da cidade de Luján de Cuyo, em: https://lujandecuyo.gob.ar/lujandecuyo/

Portal Mendoza Travel, em: https://www.mendoza.travel/pt/resena-historica-8/#:~:text=O%20departamento%20de%20Luj%C3%A1n%20de,do%20General%20Pedro%20Pascual%20Segura.&text=O%20povoado%20de%20Luj%C3%A1n%20realizou,forma%C3%A7%C3%A3o%20do%20Ex%C3%A9rcito%20dos%20Andes.

Portal Experience Mendoza, em: http://www.experiencemendoza.com/pt/vinho-degusta%C3%A7%C3%A3o/visitando-as-vin%C3%ADcolas-de-mendoza/#:~:text=Luj%C3%A1n%20de%20Cuyo,-Com%20vinhedos%20plantados&text=O%20departamento%20faz%20parte%20da,t%C3%AAm%20se%20mostrado%20bastante%20expressivas.

Degustado em: 2016