terça-feira, 8 de dezembro de 2020

Terraza de los Andes Syrah 2011


Sabe aquela frase famosa no universo do vinho: “Vinho quanto mais velho melhor”? Por algum tempo esse termo era entoado como um mantra por muitos enófilos espalhados por aí, tido como absoluta verdade. Mas é claro que, com o esclarecimento e alguns tabus esse termo, por muitos, caiu por terra. É evidente que nem todo vinho velho é bom, afinal muitos vinhos que estão disponíveis nos supermercados, nas lojas especializadas, entre outros pontos de compra, são feitos para serem consumidos jovens. Vinhos diretos para um mercado ávido por degustar logo suas aquisições viníferas. O percentual de vinhos de potencial de guarda é muito pequeno, mas que dá conta com um nicho muito interessados em degustar vinhos com essa proposta: vinhos evoluídos, com complexidade em aromas, vinhos com estrutura e maciez graças ao tempo. Quando comecei a degustar vinhos eu não tinha muito interesse em vinhos de guarda, com vocação para guarda, mas, ao longo do tempo, fui, aos poucos, me interessando, mas não foi nada programado, sequer comecei a pesquisar sobre esses vinhos, mas, na realidade, um vinho com essa proposta chegou às minhas mãos, quase que ocasionalmente.

O vinho, um Syrah que veio da emblemática região de Mendoza, chegou em minhas mãos após uma escolha pela casta, a qual sou grande apreciador e porque era o meu primeiro rótulo da casta Syrah oriundo da terra dos nossos hermanos. A safra era o menos importante para mim. O comprei e deixei na adega por mais dois anos! Até que no ano de 2017, perto do natal, decidi tirar a sua rolha e servir a minha taça. Depois que eu me dei conta de que se tratava de um vinho com seus 6 anos de vida, pouco tempo, é bem verdade, mas que para um mercado que é abastecido por vinhos que tem potencial de guarda de 3 ou 4 anos, 6 anos é um tempo demasiado longo. Mas o tempo foi o menos importante, mas o quanto ele poderia ter ainda de vida se eu optasse por mantê-lo guardado, isso que me fascinou nesse vinho. Mas disso falarei logo, pois preciso apresentá-lo: O vinho, ou melhor, o vinhaço que degustei e gostei veio, como disse de Mendoza, da casta Syrah, e se chama Terraza de los Andes, da safra 2011. E já que falei da minha predileção pela Syrah, falemos um pouco da história da casta e a sua fama pelo mundo, inclusive na Argentina, que é muito bem cultivada.

A Syrah pelo mundo

No século XIII, o cavaleiro Gaspard de Stérimberg, retornou das Cruzadas e estabeleceu-se ao sul da cidade de Lyon, perto do entroncamento dos rios Rhône e Isère. Lá, ergueu uma capela para São Cristóvão e viveu como ermitão, isolado do mundo. Acredita-se que ele ou talvez outros cruzados, ao retornarem para a França depois das batalhas no Oriente Médio, teriam trazido consigo mudas de vinhas da cidade de Shiraz (ou Chiraz), na Pérsia, então um importante centro comercial da antiguidade. Outra lenda dá conta de que os imigrantes gregos da cidade de Foceia (atualmente Foça, na Turquia) teriam criado relações comerciais no Mediterrâneo e também fundado portos e cidades, entre elas Massalia (Marselha). Assim, eles teriam trazido as mudas adquiridas em Shiraz, na Pérsia, e as implantado na região ainda no século VI a.C. Há chances ainda de a variedade ter sido originada no mar Egeu, numa das ilhas gregas das Cíclades chamada Siro (ou Syra). No entanto, alguns acreditam que a origem da uva Syrah no Rhône é ainda anterior, remontando a 310 a.C. Na época, Agathocles, tirano que reinava na ilha siciliana de Siracusa (Syracusa) teria trazido consigo mudas de vinhas quando esteve no Egito. Da ilha, as vinhas teriam se espalhado pelo sul da França. Outros ainda cogitam a ideia de que, nos primeiros anos depois de Cristo, Plínio, o Velho, filósofo e naturalista romano, teria descrito a variedade Syriaca, uma versão escura da uva Aminea, que crescia na Síria, como uma ancestral da Syrah. Há quem sugira que São Patrício, patrono da Irlanda, foi quem plantou as primeiras mudas de Syrah no Rhône quando fazia seu trajeto para a abadia de Lérins, na ilha de Saint-Honorat, perto de Cannes. Já os viticultores albaneses creem que a Syrah tenha se originado em suas terras. Lá, cresce uma variedade tinta chamada Serina e Zezë e outra dita Shesh i zi, que teriam parentesco com a Syrah. Sérine, por sinal, é um dos nomes pela qual a variedade é conhecida. E então? Qual hipótese você acha mais plausível para o surgimento da Syrah e sua instalação no Rhône? A mais aceita, entretanto, estão mesmo diretamente ligadas ao norte do vale do rio Rhône, mais especificamente na área ao norte do rio Isère e à leste do Rhône, até o lago de Genebra, entre a França e a Suíça, no departamento de Isère. Essa hipótese foi levantada devido a uma análise de DNA feita em 1998 pela UC Davis e pelo INRA (instituto de pesquisas agronômicas) em Montpellier, no sul da França. O levantamento surpreendeu os cientistas e mostrou que a Syrah é um cruzamento natural entre a Mondeuse Blanche, branca, e a Dureza, tinta. A Mondeuse, natural da região de Savóia, próxima ao Rhône, costumava ser cultivada também em Ain e Isère. A Dureza, natural de Ardèche, logo a oeste do rio Rhône, costumava ser cultivada em Drôme e também em Isère. Portanto, os ampelógrafos concluíram que o nascimento da Syrah deve ter se dado em um local em que essas duas variedades eram plantadas, portanto, mais provavelmente em Isère por volta do século XII. A data, porém, pode ser anterior, já que alguns estudiosos acham que a Syrah pode ter sido citada pelos primeiros naturalistas romanos como Columella e Plínio, o Velho, no século I da era cristã. A Syrah, por sinal, possui diversos nomes e não apenas a sua variação mais comum Shiraz, que ficou famosa devido ao boom dos vinhos australianos. Aliás, até mesmo na Austrália ela possui ainda outro nome e pode ser chamada de Hermitage. Mas, suas variações mais comuns são: Sira, Sirac, Sirah, Syra, Syrac, além de, como já foi visto, Sérine, que também apresenta diversas possibilidades como: Sérène, Serine e Serinne. Ela também pode ser chamada de Petite Sirrah (não confundir com Petite Sirah, que é outra casta), Candive e Marsanne Noire.

A França é o maior e mais tradicional produtor de Syrah, com grande concentração no vale do rio Rhône. Com clima mediterrâneo e solo rico, este é o território com a mais antiga produção de vinhos do país. Em segundo lugar entre os grandes produtores está a Austrália. Nesse país, seu cultivo é datado desde o século XIX e lá a uva se adaptou tão bem que os australianos se sentiram à vontade para mudar seu nome para Shiraz, podendo chamá-la também de Hermitage. Foi da Austrália que, a partir da década de 1980, essa uva começou a chamar atenção do resto do mundo e seus vinhos experimentaram uma popularidade crescente, nunca vista anteriormente. Lá, são elaborados alguns dos vinhos mais apreciados, conhecidos e contemplados do mundo, principalmente nas regiões de Hunter Valley, Barossa Valley, Margaret River e McLaren Vale. Outros países que se destacam no cultivo dessa casta são Espanha, Argentina, África do Sul, Estados Unidos, Itália, Portugal e Chile. E o Brasil também não fica de fora desse mercado. Aqui já existem alguns bons exemplares de cultivo da uva Syrah no Rio Grande do Sul, no Vale do São Francisco, em Minas Gerais e no estado de São Paulo.

E agora finalmente o vinho!

Na taça tem um impenetrável vermelho rubi, escuro e intenso e ainda reluzente, brilhante, mostrando vivacidade, com abundantes lágrimas finas e que teimavam em se dissipar das paredes do copo.

No nariz uma explosão aromática complexa de frutas negras e especiarias e bem amadeirado, devido a passagem de 12 a 14 meses de passagem por barricas de carvalho.

Na boca é estruturado, potente, mas, ao mesmo tempo se mostrou equilibrado, elegante e macio, diria até fácil de degustar. É frutado, tem taninos presentes, gulosos, mas domados, certamente pelos 6 anos de safra, com aquele picante característico da Syrah, com acidez média para alta, mantendo ainda um frescor e diria jovialidade do vinho, com o toque de torrefação, de tosta e a madeira bem anunciada, mas que não sobressai, em momento algum, as características da cepa. Um final persistente, com retrogosto frutado.

O Terraza de los Andes é um vinho de altitude. O Terraza de los Andes Syrah foi cultivado a 800m acima do nível do mar, o que colabora para a sua complexidade. E esse termo define bem o rótulo: complexo. Um vinho potente e que, com seus 6 anos de safra, mostrava-se pleno, vivo e intenso, no seu mais perfeito auge para degustação. Sem sombra de dúvida o Terraza de los Andes Syrah ainda tinha muito mais a oferecer com muito mais tempo de guarda. O vinho tinha vocação de guarda. Foi com esse vinho que eu passei a enveredar para esse assunto dos vinhos evoluídos, de guarda e que fez me interessar mais e mais por eles. Então vida longa e próspera as nossas degustações. Tem 14% de teor alcoólico muito bem integrado ao conjunto do vinho.

Sobre a Terraza de los Andes:

Ao fim da década de 1950, Möet-Chandon, empresa do grupo LVMH buscou na América Latina um local para produção de vinhos de alta qualidade internacional. Fascinados com Mendoza e seu potencial compraram e reformaram uma antiga vinícola em estilo espanhol, construída em 1.898. Sabe-se que a temperatura média baixa quase um grau a cada 100 m de altura, mas Terrazas de los Andes foi a primeira vinícola argentina a conhecer e aplicar a altitude ideal para o cultivo de cada casta, isso no ano de 1999, quando foi fundada na região de Perdriel, na província de Mendoza. Isto marca seus vinhos de destacada tipicidade varietal: Syrah 800 m, Cabernet Sauvignon 980 m, Merlot 1.000 m, Malbec 1.067 m, Petit Manseng 1.150 m e Chardonnay 1.200 m. Além de sua linha top Single Vineyard, que apresenta grande complexidade, concentração e persistência, o grupo foi um passo adiante inaugurando uma joint-venture com o Premier Grand Cru francês Cheval Blanc para a produção de um dos vinhos ícones da Argentina, o Cheval des Andes – até 2006 um corte de Cabernet Sauvignon, Malbec e Petit Verdot, com grande potencial de guarda.

Mais informações acesse:

https://www.terrazasdelosandes.com/pt

Referências de pesquisa:

Blog da Famiglia Valduga, em: https://blog.famigliavalduga.com.br/uva-syrah-saiba-mais-sobre-uma-das-uvas-mais-antigas-do-mundo/#:~:text=A%20origem%20da%20casta%20Syrah,situada%20no%20sul%20da%20It%C3%A1lia.

Portal Revista Adega, em: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/sinonimos_10240.html

Degustado em: 2017

 


sábado, 5 de dezembro de 2020

Gato Negro Carménère 2019

 

É estranho um vinho fazer parte da nossa história enófila, mas que nunca tinha degustado. Não, não estou embriagado, entorpecido pelas taças que estou degustando, essas linhas iniciais do meu texto são coerentes e consistentes em minha história que conta com mais de vinte anos sem ao menos ter derramado uma gota do rótulo de hoje em minhas taças. Explico! Em minhas inúmeras e necessárias incursões nos supermercados eu sempre passei por esse vinho, mas nunca o comprei. Sempre tive as minhas preferências, principalmente em meu momento de transição dos vinhos de mesa para os vinhos de castas vitiviníferas, onde criei, por alguns rótulos, uma espécie de vínculo emocional, porém, pelo vinho de hoje eu nunca comprei, eu nunca degustei, apesar de saber da sua existência. Não sou capaz de responder a esse questionamento. Sempre tiveram um valor competitivo, era, e ainda é, um dos vinhos chilenos mais vendidos no Brasil, com uma boa aceitação e uma popularidade edificada que vem desde aqueles tempos em que eu estava descobrindo os vinhos pelas quais sou um apaixonado nos dias de hoje.

E o dia em que se deu a minha compra eu buscava um vinho com um precinho camarada, com um valor que cabia no meu bolso naquele momento, um vinho cuja casta expressasse toda a importância para o terroir de um país, sintetizasse a cultura de um povo e que tivesse, consequentemente o DNA de um pais em todas as suas nuances. A primeira etapa eu atingi: queria degustar um legítimo Carménère chileno, mas um vinho básico para tentar corroborar a história deste país com a casta onde a maioria dos vinhos são especiais, em todas as suas propostas. Então fui garimpar. Apesar da Carménère ser um vinho extramente popular no Chile e no Brasil não é das tarefas mais fáceis, pelo menos para mim, encontrar um legítimo 100% Carménère, apesar de constar estampado o nome da cepa na maioria dos rótulos, geralmente são cortes, blends e essa era minha outra intenção: Um 100% Carménère! As minhas incursões nos supermercados surtiu efeito e me deparei com aquele vinho que, por mais de 20 anos, eu não comprei. O levei para casa sem hesitar, afinal, sentia que tudo conspirava a meu favor e todas as minhas pretensões de compra estavam convergindo para esse rótulo. O vinho que degustei e gostei vem da emblemática, famosa e tradicional região chilena do Vale Central e é o Gato Negro da casta Carménère e a safra é de 2019. E aqui vale uma curiosidade: o nome “Gato Negro” partiu de uma história de uma degustação em uma vinícola alemã entre enólogos que decidiam entre três tipos de barricas, e inesperadamente foram surpreendidos por um “schwartze katze” (gato negro) que saltou em uma delas e então a barrica foi escolhida. E inspirada nessa história a Viña San Pedro, produtor do vinho, batizou sua linha de vinhos mais leves, macios, frutados e fáceis de degustar. E já que falei de histórias, falemos um pouco sobre a história da casta Carménère no Chile.

O Chile e a Carménère

Por muito tempo, lá na França, principalmente pelas propriedades de Bordeaux, a Carménère, amplamente cultivada nas regiões do Medoc e de Graves, e a Merlot eram cultivadas juntas, até por terem um tempo de amadurecimento bastante parecido. Tornou-se extremamente tradicional em Bordeaux e em outros cortes franceses até que no fim do século 19, chegou a praga Filoxera e devastou os vinhedos da França. Foi aí que muitos enólogos e agrônomos trouxeram castas europeias para a América na tentativa de recuperá-las. Foi então que a Carménère chegou ao Chile confundida com a Merlot – além de serem fisicamente parecidas, a Carménère, como era colhida junto com a Merlot, também ganhava notas herbáceas. E durante anos a fio as duas foram plantadas, vinificadas e consumidas como se fossem a mesma. Até que alguns enólogos no Chile começaram a perceber que algumas vinhas de “Merlot” demoravam mais para amadurecer e decidiram fazer análises comparativas. Só então se descobriu que eram uvas diferentes e as notas verdes e os taninos duros da Carménère só se destacavam tanto porque ela estava sendo colhida no tempo errado, é uma uva de maturação mais tardia do que a Merlot. Isso aconteceu na década de 1980, mas em 1994 o ampelógrafo francês Jean-Michel Boursiquot disse que o “Merlot” chileno não era nada mais nada menos que “Carménère”. Finalmente, com uma sofisticada análise de DNA, Boursiquot confirmou sua importante revelação. Esta notícia, de grande impacto no mundo do vinho, foi o ponto de partida para levar a Carménère para o que ela é hoje: um símbolo do vinho chileno. Descoberto o potencial da cepa no Chile, alguns enólogos começaram a trabalhá-la de maneira tão cuidadosa e eficiente que hoje o país detém alguns dos melhores exemplares de Carménère, enquanto lá na França raramente se vê um rótulo com ela.

E agora o vinho!

Na taça apresenta um vermelho rubi intenso com reflexos violáceos, com uma grande concentração de lágrimas, mas que rapidamente se dissipam das paredes do copo.

No nariz uma explosão de aromas adocicados muito agradável, com toques vegetais, de pimentão verde, talvez, além de especiarias. Não podemos negligenciar as notas frutadas, de frutas negras maduras, como amora, ameixa.

Na boca é macio, fácil de degustar, mas que, ao mesmo tempo, revela alguma personalidade, com taninos finos e moderados, com acidez média, que entrega algum frescor e jovialidade, com um discreto tostado, o que se deduz uma curta passagem por barricas de carvalho, que não foi informado pelo produtor em sua página na internet, talvez três ou quatro meses de passagem por madeira. Final de média persistência com retrogosto frutado.

Vinte anos em um dia de degustação! E foi tão prazeroso! A revelação mais expressiva da Carménère chilena, na sua mais nobre e simples versão. Nunca é tarde para um enófilo, com o espírito da descoberta e do garimpo, conhecer novos rótulos, Um vinho com todas as características marcantes da cepa. É um típico Carménère sim, sem nenhuma grande novidade, mas correto, bem feito, honesto e com um excelente custo X benefício, um vinho que personifica a história, o terroir, a cultura da casta no Chile. Um vinho que sem sombra de dúvida entregou muito mais do que valeu, que grata surpresa positiva. O atraso do tempo, se é que podemos mensurá-lo, foi reparado no dia de hoje com uma celebração com uma bela degustação. O vinho com excelente vocação gastronômica pode harmonizar facilmente com carnes grelhadas, massas bem condimentadas e queijos mais expressivos. Hoje o harmonizei com um belo queijo mussarela.

Um vinho frutado, expressivo, com alguma contundência em boca, com um paladar saboroso e com seus 13,5% de teor alcoólico bem integrados com o conjunto do vinho.

Sobre a Viña San Pedro:

A Viña San Pedro foi fundada em 1865 no Vale do Curicó pelos irmãos Correa. Hoje, mais de 150 anos depois, ainda chamamos este vale de lar. Os irmãos foram os pioneiros em trazer diferentes variedades do Velho Continente para o Vale. San Pedro é hoje um dos vinhedos mais importantes do Chile e um dos exportadores mais importantes do país, presente em mais de 80 países ao redor do mundo. Em 2002 foi fundada uma vinícola especial com foco em vinhos finos, localizada no Vale Cachapoal dos Andes, aos pés da Cordilheira dos Andes. Lá são feitos os cinco vinhos finos de Altair, Cabo de Hornos, Sideral, Kankana del Elqui e Tierras Moradas.

San Pedro mantém os melhores vinhedos por meio da vinificação sustentável e inovadora, explorando corajosamente os ricos solos para manter um portfólio diversificado e amplo, produzindo os melhores vinhos para milhões em todo o mundo.

Mais informações acesse:

https://sanpedro.cl/en/

Referências de pesquisa:

Portal Gazeta on Line, em: https://blogs.gazetaonline.com.br/vinhosemaisvinhos/2011/06/incrivel-historia-da-carmenere-no-chile.html#:~:text=As%20uvas%20Carmen%C3%A8re%20foram%20introduzidas,dos%20anos%20sempre%20amadurecia%20tardiamente.

Blog Grand Cru, em: https://blog.grandcru.com.br/vinho-chile-carmenere-uva-tinta-bom-barato/

 





quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

Pinta Negra Aragonez e Castelão 2016

 

Sou um grande fã dos vinhos da região de Lisboa, da capital de Portugal, isso é fato! Todavia um vinho, em especial, me fez trazer à tona algumas lembranças perdidas. Eu explicarei! Quando no período da transição dos vinhos de mesa para os vinhos de uvas vitivinícolas, aquela transição que todos os simples enófilos nascidos no Brasil fazem, eu não tinha aquela preocupação em ter noção ou conhecimento dos rótulos que degustava, aqueles requintes de detalhes tais como: castas, regiões, passagem ou não por barricas de carvalho etc. Degustava os vinhos sem ter a preocupação com esses detalhes. Então alguns rótulos, talvez por conta dessa falta de preocupação ou ainda por inexperiência, passavam despercebidos, não adquiria a famosa memória fotográfica ou coisa similar. Porém, quando eu assistia a um dos poucos programas de TV direcionados ao mundo vinho, que tem transmissão no Canal Globosat, da TV Globo, chamado “Um Brinde ao Vinho” que dedicou uma temporada as regiões mais emblemáticas de Portugal e, claro que Lisboa estava na rota do programa. E quando a apresentadora Cecília Aldaz esteve na jovem AdegaMãe mostrou alguns dos seus rótulos e, por um relance, mostrou um rótulo que havia degustado há muito tempo atrás e que tinha caído no esquecimento, mas ainda assim tinha um lampejo de lembrança. Animado por conhecer um pouco mais do rótulo que havia degustar a tempos atrás, fui, o mais rápido possível, aos supermercados em busca do vinho. Coloquei como prioridade achá-lo e degustá-lo.

E achei! Parecia que os tempos de outrora ganhara novos contornos contemporâneos e que ficaria para todo sempre com uma degustação mais rebuscada e atraente ao paladar e ao conhecimento adquirido. Quando o desarrolhei foi como se um novo tempo havia iniciado entre eu e esse rótulo e essa vinícola. Me apaixonei pelo produtor. O vinho que degustei e gostei se chama Pinta Negra, um tinto composto pelas castas Castelão e Aragonez, da safra 2016. A região de Lisboa descortinara, mais uma vez, um rótulo, apesar de jovem e direto, expressivo e de belíssima personalidade. Mas já que a minha relação com Lisboa é de um amor profundo, falemos, mais uma vez, sobre ela.

Lisboa

Na região de Lisboa, região com longa história na viticultura nacional, a área de vinha é constituída pelas tradicionais castas portuguesas e pelas mais famosas castas internacionais. Aqui é produzida uma enorme variedade de vinhos, possível pela diversidade de relevos e microclimas concentrados em pequenas zonas da região. A região de Lisboa, anteriormente conhecida por Estremadura, situa-se a noroeste de Lisboa numa área de cerca de 40 km. O clima é temperado em virtude da influência atlântica. Os Verões são frescos e os Invernos suaves, apesar das zonas mais afastadas do mar serem um pouco mais frias. Esta região possui boas condições para produzir vinhos de qualidade, todavia há cerca de quinze anos atrás a região de Lisboa era essencialmente conhecida por produzir vinho em elevada quantidade e de pouca qualidade. Assim, iniciou-se um processo de reestruturação nas vinhas e adegas. Provavelmente a reestruturação mais importante realizou-se nas vinhas, uma vez que as novas castas plantadas foram escolhidas em função da sua produção em qualidade e não em quantidade. Hoje, os vinhos da Região de Lisboa são conhecidos pela sua boa relação qualidade/preço. A região concentrou-se na plantação das mais nobres castas portuguesas e estrangeiras e em 1993 foi criada a categoria “Vinho Regional da Estremadura”, hoje "Vinho Regional Lisboa". A nova categoria incentivou os produtores a estudar as potencialidades de diferentes castas e, neste momento, a maior parte dos vinhos produzidos na região de Lisboa são regionais (a lei de vinhos DOC é muito restritiva na utilização de castas). A Região de Lisboa é constituída por nove Denominações de Origem: Colares, Carcavelos e Bucelas (na zona sul, próximo de Lisboa), Alenquer, Arruda, Torres Vedras, Lourinhã e Óbidos (no centro da região) e Encostas d’Aire (a norte, junto à região das Beiras).

Lisboa e suas sub regiões

1| Encostas de Aire

2| Lourinhã

3| Óbidos

4| Torres Vedras

5| Alenquer

6| Arruda

7| Colares

8| Carcavelos

9| Bucelas

As regiões de Colares, Carcavelos e Bucelas outrora muito importantes, hoje têm praticamente um interesse histórico. A proximidade da capital e a necessidade de urbanizar terrenos quase levou à extinção das vinhas nestas Denominações de Origem. A Denominação de Origem de Bucelas apenas produz vinhos brancos e foi demarcada em 1911. Os seus vinhos, essencialmente elaborados a partir da casta Arinto, foram muito apreciados no estrangeiro, especialmente pela corte inglesa. Os vinhos brancos de Bucelas apresentam acidez equilibrada, aromas florais e são capazes de conservar as suas qualidades durante anos. Colares é uma Denominação de Origem que se situa na zona sul da região de Lisboa. É muito próxima do mar e as suas vinhas são instaladas em solos calcários ou assentes em areia. Os vinhos são essencialmente elaborados a partir da casta Ramisco, todavia a produção desta região raramente atinge as 10 mil garrafas. A zona central da região de Lisboa (Óbidos, Arruda, Torres Vedras e Alenquer) recebeu a maioria dos investimentos na região: procedeu-se à modernização das vinhas e apostou-se na plantação de novas castas. Hoje em dia, os melhores vinhos DOC desta zona provêm de castas tintas como por exemplo, a casta Castelão, a Aragonez (Tinta Roriz), a Touriga Nacional, a Tinta Miúda e a Trincadeira que por vezes são lotadas com a Alicante Bouschet, a Touriga Franca, a Cabernet Sauvignon e a Syrah, entre outras. Os vinhos brancos são normalmente elaborados com as castas Arinto, Fernão Pires, Seara-Nova e Vital, apesar da Chardonnay também ser cultivada em algumas zonas. A região de Alenquer produz alguns dos mais prestigiados vinhos DOC da região de Lisboa (tintos e brancos). Nesta zona as vinhas são protegidas dos ventos atlânticos, favorecendo a maturação das uvas e a produção de vinhos mais concentrados. Noutras zonas da região de Lisboa, os vinhos tintos são aromáticos, elegantes, ricos em taninos e capazes de envelhecer alguns anos em garrafa. Os vinhos brancos caracterizam-se pela sua frescura e carácter citrino. A maior Denominação de Origem da região, Encostas d’Aire, foi a última a sofrer as consequências da modernização. Apostou-se na plantação de novas castas como a Baga ou Castelão e castas brancas como Arinto, Malvasia, Fernão Pires, que partilham as terras com outras castas portuguesas e internacionais, como por exemplo, a Chardonnay, Cabernet Sauvignon, Aragonez, Touriga Nacional ou Trincadeira. O perfil dos vinhos começou a alterar-se: ganharam mais cor, corpo e intensidade.

E agora o vinho!

Na taça apresenta um vermelho rubi intenso, escuro e brilhante com uma boa proliferação de lágrimas, finas e que teimavam em se dissipar das bordas do copo.

No nariz é intenso, muito aromático, notas de frutas vermelhas frescas e um toque floral muito agradável.

Na boca é um vinho meio seco, macio, fácil de degustar, um vinho despretensioso e saboroso, mas que revela certa expressividade, personalidade. Tem taninos macios, mas gulosos, com uma acidez equilibrada. Tem um final persistente, de retrogosto frutado. É um vinho com muita fruta, mas sem soar enjoativo.

O passado revisitou o presente e ajudou a construir um futuro na minha vida de enófilo e me fez observar e entender que, além do maravilhoso exercício da análise sensorial, a história do vinho, como seu terroir, sua história, sua região, pode ser sim, sem sombra de dúvida, um aditivo para a construção de sua percepção perante o rótulo. Pinta Negra é um vinho básico, para o dia a dia, mas que entrega muito além da sua proposta, definitivamente uma grata surpresa. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a AdegaMãe:

A AdegaMãe pertence ao grupo Riberalves, empresa familiar portuguesa, que é a maior produtora de bacalhau do mundo – 30 mil toneladas por ano, o equivalente a 10% de todo o bacalhau pescado no mundo! É uma homenagem da família à sua matriarca, Manuela Alves. Em 2009, investindo na paixão pelo vinho, a família inaugurou a vinícola, que fica próxima da sede da empresa.  A vinícola fica em Torres Vedras, que faz parte da CVR Lisboa (Comissão Vitivinícola da Região de Lisboa), antiga Estremadura, zona com grande influência atlântica, devido à proximidade com o oceano, com solos calcários, terroir propício para a produção de vinhos bastante minerais e com acidez marcante. A AdegaMãe tem um projeto lindíssimo e Diogo, juntamente com Anselmo Mendes, enólogo consultor, entrou desde o começo da concepção da adega, no projeto das vinhas, de forma a definir as melhores variedades para a região, tanto que as vinhas velhas que ali estavam foram arrancadas, pois não eram boas o suficiente para os vinhos que pretendiam fazer. Mas é possível ver a vinha mãe da adega exposta como obra de arte, em uma das paredes da vinícola.

A Norte de Lisboa e a um passo da costa oceânica, a AdegaMãe potencia um terroir  fortemente influenciado pelas brisas marítimas predominantes, destacando-se pelos seus vinhos de inspiração atlântica, plenos de carácter, frescos e minerais, premiados a nível nacional e internacional. Referida pela arquitetura exclusiva, e pela forma como se harmoniza com a fantástica paisagem envolvente, a AdegaMãe foi desenhada de raiz para integrar a melhor experiência de visita, assumindo-se como uma referência no enoturismo da Região de Vinhos de Lisboa.

Mais informações acesse:

https://adegamae.pt/


Referências de pesquisa:

Portal Infovini, em: http://www.infovini.com/pagina.php?codNode=3901

Degustado em: 2018









sábado, 28 de novembro de 2020

Montecchio Sangiovese 2018

 

O que vem a mente quando falamos na emblemática casta Sangiovese: a Toscana, os vinhos que mais eleva que exporta o nome da Itália vitícola para o mundo, os Chiantis, os Brunelos de Montalcino etc. Definitivamente a Sangiovese é uma jóia da Itália, a uva mais produzida, mais cultivada daquele país, uma casta icônica que personifica a história, a cultura vitivinícola da Itália. Mas não se enganem prezados leitores, não é só da Toscana que vive a fama da velha e necessária Sangiovese. Por uma questão geográfica a região, pouco conhecida, menos comentada em terras brasileiras, de Emilia Romagna, mais ao sul da Itália, faz divisa com a Toscana e é tida como uma das grandes produtoras da cepa, mas com algumas características mais peculiares. Confesso que desconhecia a importância dessa região para com a Sangiovese, embora a casta esteja em toda a Itália, transformando-a em uma das mais cultivadas e adoradas entre os italianos, sendo responsável, inclusive por 10% da região vitícola do país. Então, como sempre, e isso me faz ter orgulho de mim mesmo, pretensões à parte, decidi comprar um vinho italiano 100% Sangiovese da região de Rubicone, localizado em Emilia Romagna. Claro que não são os Chiantis, os Brunelos da vida, mas quem se importa? Vamos de novidades, vamos investir em coisas pouco ortodoxas e deixar de trafegar, por um instante, da zona de conforto dos emblemáticos. 

E o ímpeto e avidez em ler sobre a Sangiovese fez com que, em uma curiosa conexão, encontrar, em mais uma de minhas inúmeras incursões aos supermercados, um rótulo de Sangiovese da região de Rubicone, na região de Emilia Romagna. E resolvi degusta-lo, sem mais delongas. E não é que o vinho surpreendeu! Então apresentemos o vinho que degustei e gostei que desembarcou de Emilia Romagna, de Rubicone, para meu deleite, em minha taça, e se chama Montecchio, um IGT (indicação Geográfica Típica) da casta Sangiovese, da safra 2018. Então, como toda grande e inspiradora novidade, sempre vem com doses cavalares de informação e história, falemos de um pouco da região, Emilia Romagna e Rubicone, da Sangiovese na região de Romagna e um pouco da magnífica casta que é sinônimo da Itália, a Sangiovese.

Emilia Romagna

A Emília-Romanha (em italiano Emilia-Romagna; em emiliano-romanholo Emégglia-Rumâgna) é uma região situada no Norte da Itália com quatro milhões de habitantes e 22 124 km², cuja capital é Bolonha.[1][2][3] Limita-se ao norte com o Vêneto e Lombardia, a oeste com o Piemonte e a Ligúria, ao sul com a Toscana e com a República de São Marinho. Esta região é composta da união de duas regiões históricas: a Emilia, que compreende as províncias de Placência, Parma, Reggio, Módena, Ferrara e parte da província de Bolonha, com a capital, e a Romanha, com as restantes províncias de Ravena, Rimini, Forlì-Cesena e a parte oriental da província de Bolonha. A Romanha histórica compreende também territórios das Marcas, da Toscana e da República de San Marino. O centro da Itália nos reserva algumas fantásticas surpresas. Como são regiões relativamente novas, a variedade é bastante grande e a qualidade depende do pioneirismo de alguns ótimos produtores. A região Emilia-Romagna sempre foi mais conhecida pelos populares vinhos Lambrusco, mas, atualmente alguns talentosos produtores têm feito surgir aqui também alguns dos melhores vinhos tintos e brancos da Itália.


Emilia Romagna e Rubicone

Emilia-Romagna conta com a presença de ventos frios e delicados em suas colinas. A região italiana dá origem a um vinho tinto com a uva Sangiovese muito apreciado pelos italianos, embora seja pouco conhecido pelos estrangeiros. A região sofreu um sério problema de identidade com relação aos seus vinhos na época do fascismo italiano, graças ao líder do regime no país, Benito Mussolini, que alterou o mapa da Itália, separando a região de Romagna da Toscana em meados de 1920. Emilia-Romagna é, na verdade, a combinação entre duas regiões muito distintas quando o assunto se refere à produção de vinhos. Emilia, localizada mais ao norte em direção aos Apeninos e à Lombardia, é conhecida principalmente pelas denominações de origem para produtos alimentícios. Romagna, situada mais ao sul, na fronteira do mar Adriático, e cujas terras já em parte à Toscana, produz vinhos elegantes e elaborados. Atualmente, com a consolidação de uma única região produtora, Emilia-Romagna uniu os dois tipos de produção, tornando-se referência em vinhos e também na elaboração de produtos alimentícios relacionados. Em 1962, foi criado o Consórcio de Vinhos da Romagna. Sobre suas regras encontram-se 7 empresas, 87 produtores e 9 cooperativas. Através desse trabalho eles conseguiram, em 1967, que os vinhos elaborados na região italiana recebessem uma Denominação de Origem Controlada (DOC). Estão inseridos na DOC os vinhos produzidos a partir da uva Sangiovese cultivadas nas colinas de Imola até as plantadas na cidade de Rimini.

A Sangiovese na Romagna

A proximidade física com a Toscana faz com que os vinhos Sangiovese da Romagna sejam frequentemente comparados com seus vizinhos. Mas eles têm estilo e vigor próprios. Sopra um vento frio e delicado nas suaves colinas da Romagna. Essas terras, em algumas zonas bastante férteis e, em outras, um pouco mais pobres, permitindo o cultivo das vinhas, produzem um tinto da Sangiovese muito apreciado pelos italianos, embora pouco conhecido dos estrangeiros, que faz dele o acompanhamento perfeito para a gastronomia da região, a mais rica de toda a Itália. A Emilia-Romagna é, na verdade, a combinação de duas regiões que se distinguem muito pelo que produzem. A Emilia, mais ao norte e em direção dos Apeninos e da Lombardia, é conhecida pelas denominações de origem para produtos alimentícios, e a Romagna, mais ao sul com um território que termina no mar Adriático, é a região dos vinhos mais elaborados e elegantes, cujas terras já pertenceram em parte à Toscana, sua vizinha ao sul. Foi Benito Mussolini quem alterou o mapa da Itália e separou as terras da Romagna das da Toscana, na década de 1920, criando um problema de identidade para os vinhos da região. As uvas Sangiovese plantadas em ambas as zonas têm uma raiz comum na região entre Florença e Bologna, mas, com o passar dos anos, os toscanos foram fazendo seleções de clones até descobrirem os que melhor se adaptavam ao seu território, menos fértil e mais pedregoso, e chegarem aos especialíssimos Brunellos de Montalcino (preparados à partir da variedade Sangiovese Grosso). Durante muito tempo os toscanos acreditavam que a variedade usada na Romagna era inferior, mas as pesquisas dos ampelógrafos descobriram que a variedade de grãos mais delicados (Sangiovese Piccolo) da zona mais ao norte era ainda mais característica da cepa do que alguns clones toscanos. A grande diferenciação de qualidade devia-se ao tratamento dado às uvas e ao terroir onde elas estavam inseridas. Os vinhos produzidos nessas regiões seguem regulamentos que não permitem a utilização de outras uvas além da Sangiovese em razão superior a 15%, a produtividade máxima de 11 toneladas por hectare (que pode ser muito menor de acordo com o estilo do vinho) e a classificação em três tipos, o Novello (vinho jovem com, ao menos, 50% de maceração carbônica), o Superiore e o Riserva. Em meados da década de 1960 que a Romagna começou a levar seus vinhos mais a sério (como já faziam os vizinhos do sul) e criou, em 1962, o Consórcio dos Vinhos da Romagna. Sob suas regras estão nove cooperativas, 87 produtores e mais sete empresas. Com esse trabalho eles conseguiram que, em 1967, seus vinhos obtivessem uma Denominação de Origem Controlada. Estão inseridos nela os vinhos feitos com as uvas Sangiovese cultivadas desde as colinas de Imola, no extremo oeste, até o extremo leste, na cidade de Rimini, que inclui as províncias de Bologna, Ravenna, Forli-Cesena e a própria Rimini. Ao longo das décadas, mesmo com todo o controle e fiscalização implementados pelo Consórcio, os bons vinhos da Romagna ainda não conseguiam atingir o potencial que seus produtores sabiam que eles tinham. Assim, nasceu em 2001 o "Convito di Romagna", uma espécie de consórcio voluntário e auto-patrocinado que une oito produtores comprometidos com a alta qualidade dos produtos. Os participantes são as vinícolas Calonga, Drei Donéa (Tenuta La Palzza), Fattoria Zerbina, Stefano Ferrucci, Poderi Morini, San Patrignano, San Valentino e Tre Monti, que entenderam que, para uma área de produção ser valorizada, é preciso que os produtores estejam unidos com propósito comum. Da mesma forma que o Convito di Romagna vem trabalhando para reforçar a imagem e controlar a qualidade dos vinhos produzidos com a Sangiovese, o Consorzio Vini di Romagna resolveu estreitar ainda mais as suas regras, e também reposicionar a DOC, mudando-a de nome. A partir da colheita de 2011, a DOC passará a se chamar Romagna Sangiovese.

Sangiovese

Pense num bom vinho tinto que lembre a Toscana. Pensou? Que rótulo veio à mente? Chianti? Carmignano? Brunello di Montalcino? Rosso di Montalcino? Pois bem, todos eles têm algo em comum, um “quê” a mais que os torna tão únicos e especiais. Este “quê” chama-se Sangiovese, uma uva nascida, criada e crescida na Itália. Fruto possivelmente do cruzamento das castas Calabrese Montenuovo e Ciliegiolo, a Sangiovese também é conhecida na Toscana, onde é ícone da vitivinicultura, com os nomes de Sangioveto, Brunello, Prugnolo Gentile ou Morellino. Algumas teorias em torno da origem da casta datam seu cultivo desde a vinicultura romana, e parte disso se dá por conta do nome dela. Sangiovese vem do latim “Sanguis Jovis”, ou seja, sangue de Júpiter. Outros garantem que ela já existia desde a civilização Etrusca, que viveu onde hoje é a Toscana entre 1.200 e 700 a.C. De qualquer maneira, o primeiro documento encontrado a respeito da uva é de 1590, na própria Toscana. Seu reconhecimento, no entanto, só aconteceu depois do século XVIII, quando passou a ser uma das castas mais plantadas da região, onde encontra condições perfeitas de crescimento. Foi na Toscana que, em meados do século XIX, o agricultor Clemente Santi isolou suas vinhas para uma prática pouco comum na época: fabricar vinhos varietais de Sangiovese, que envelheceriam por um período considerável. Em 1888, seu neto Ferruccio Biondi-Santi, um veterano soldado que lutou ao lado de Giuseppe Garibaldi, lançou a primeira versão moderna do Brunello di Montalcino, um vinho que descansou por mais de uma década em barris de madeira. O vinho agradou tanto os toscanos que, nas primeiras décadas do século XX, já era aguardado ansiosamente por críticos e consumidores locais. Ao redor de 1950, a fama do Brunello extrapolou os limites italianos e fez dele um fenômeno mundial. A uva sangiovese tem um tempo de cultivo longo, mas o fato é que pode ser produzida em diversos lugares, tendendo a se desenvolver melhor em ambientes quentes, de clima seco e de solos calcários. Além da região da Toscana, há grandes plantações de sangiovese em outras áreas da Itália como na Umbria, zona central italiana, e em Campania, no sudeste do país. Estados Unidos e Austrália também são grandes produtores de Sangiovese. Uma das características típicas da legítima Sangiovese é elevada acidez e concentração de taninos. Por isso, é muito comum que os produtores de vinho a misturem com outras uvas, como a canaiolo, mais macia e suave. Um parêntese importante: a combinação de sangiovese, canaiolo e malvasia é a composição do tradicional vinho Chianti, resultado de experimentos de um barão chamado Benito Ricasoli no final do século XIX. O fato é que outros produtores da região começaram a questionar as convenções tradicionais e passaram a experimentar outras propostas com a uva sangiovese, misturando-a especialmente com uvas de origem francesa como as da região de Bourdeaux, entre elas, a Cabernet Sauvignon. Surgia, assim, um tipo de vinho conhecido como Super Tuscan (ou Supertoscano) que, em um primeiro momento, não agradou muito os consumidores italianos, mas conquistou o mercado internacional, com grandes apreciadores mundo afora, principalmente nos Estados Unidos.

E agora finalmente o vinho:

Na taça conta com um vermelho rubi com traços violáceos e diria um tom meio atijolado, meio marrom, com lágrimas finas e rápidas.

No nariz apresenta um discreto toque frutado, de frutas vermelhas maduras como cereja e groselha, além de notas de especiarias, algo meio apimentado.

Na boca é seco, leve, macio, um vinho fácil de degustar, com as percepções, também discretas, frutadas, com taninos leves e sedosos, mas com uma proeminente acidez que faz do vinho pouco ortodoxo e fresco, ainda jovem. Tem um final de média persistência com o álcool evidente, mas equilibrado, bem integrado ao conjunto do vinho.

Um Sangiovese com características peculiares, inerentes à sua região, mostrando o quanto é importante, essencial a tipicidade, a importância do terroir e ecoa na tradição, na cultura de um povo e esse forte apelo regionalista faz da Sangiovese emblemática no molde do DNA da história da vitivinicultura da Itália e que atualmente vem se globalizando e a casta vem ganhando rótulos produzidos em várias partes do mundo, inclusive do Brasil a Sangiovese vem tendo espaço considerável. O Montecchio me trouxe uma nova possibilidade de uma Sangiovese pouco difundida, é um vinho descomplicado, frutado, fresco, leve, tendo a jovialidade como a razão primordial de sua condição, mas que mostra a personalidade, com a sua expressividade, sendo versátil e com uma ótima vocação gastronômica. O Montecchio Sangiovese mostra e corrobora que a simplicidade pode nos entregar a nobreza do vinho, abrindo um leque diverso de percepções e experiência sensorial, além de uma gama infindável de informação, cultura e história. Que o aspecto regional ganhe o mundo e mostre a todos os rincões desse planeta a importância da tipicidade no vinho. Tem 12% de teor alcoólico.

Sobre a Bosco Viticultori:

Bosco Viticultori possui sede em Salgareda, no coração da Marca Trevigiana, terra sempre voltada para a produção de vinhos. A empresa é parte integrante do Grupo Vi.V.O. (Viticoltori Veneto Orientale) desde 2009, o mais importante grupo cooperativo para a produção de vinhos do território nordeste italiano, com outros 2.300 sócios viticultores e uma produção anual superior a 52.000.000 de quilos de uvas, dando-lhes assim uma forte ligação ao território.  Nestas terras, onde as condições ambientais e de trabalho das pessoas deram vida a uma tradição vitivinícola famosa em todo o mundo, a empresa Bosco Viticultori produz desde 1948 bons vinhos graças a presença de um moderno e amplo centro de produção. A Bosco Malera é uma das maiores produtoras de Lambruscos. A marca Montecchio é mundialmente conhecida pela ligação com a história de Romeu e Julieta. Além disso, a vinícola também produz outros vinhos no norte da Itália. A Bosco Viticultori dá vida a uma produção de vinhos que são a expressão das características e das peculiaridades próprias da terra de origem: perfume nítido, intenso, delicado e limpo. As delicadas operações de seleção e colheita, seguidas da prensagem e fermentação em temperatura controlada, permite o pleno respeito da natureza e da própria complexidade das diversas uvas cultivadas e vinificadas.

Mais informações acesse:

http://www.boscoviticultori.com/it/

Referências de pesquisa:

Sobre Emilia Romagna:

Wikipedia, em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Em%C3%ADlia-Romanha

Portal Mistral, em: https://www.mistral.com.br/regiao/emilia-romagna

Sobre a Sangiovese em Romagna:

Portal Revista Adega, em: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/a-romagna-do-sangiovese_3217.html

Sangiovese:

Portal Art de Caves, em: https://blog.artdescaves.com.br/uva-sangiovese-tudo-sobre-essa-joia-toscana

Portal Revista Adega, em: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/sangiovese-uva-icone-da-toscana_11856.html

 

 

 


 





quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Obikwa Chenin Blanc 2011

 

Sabe aquela sensação de que determinados vinhos, de determinados países, castas e regiões estão distantes de suas pretensões de degustação? Aqueles vinhos que, quando você vê em supermercados e lojas especializadas, pensa: Será que ainda o degustarei? Será que o terei em minha adega? Há alguns anos atrás, talvez uns dez anos atrás, lembro-me que os vinhos sul africanos, além de escassos no mercado brasileiro, eram caros, difícil para os enófilos assalariados. Pois é, caros leitores, apesar da distância dos vinhos da terra de Mandela e da pouca oferta, mantinha a chama da expectativa de tê-los em minha taça para meu deleite, para o ritual da degustação. Mas, pelo menos eu tinha o ávido interesse pela história vitícola desse país, a África do Sul. Lia sobre as suas principais castas e regiões, parecia ser uma espécie de ensaio para adentrar o universo dos vinhos do sul da África. Até que em uma das minhas incursões aos supermercados, olhando, com muito cuidado cada canto das gôndolas, avistei, como que por instinto, um vinho com um rótulo colorido, chamativo, mas muito descontraído e moderno vinho branco que decidi olhar com mais esmero, com mais cuidado. O Examinei como se fora o meu primeiro vinho e observei que se tratava da África do Sul! Seria a minha oportunidade de degustar um vinho desse país e logo um branco? Sim! O valor estava atraente, em torno de R$ 39,90! Não hesitei e comprei!

Mas a ansiedade não parou por aí. De posse do meu novo rótulo decidi degusta-lo o quanto antes, sem delongas e foi o escolhido para uma noite agradável e fresca. Acho que a noite harmonizaria plenamente com o vinho sul africano que escolhi. E a escolha não poderia ter sido melhor! Maravilhoso vinho! O vinho que degustei e gostei veio de uma região chamada Stellenbosch e se chama Obikwa e a casta era a inédita Chenin Blanc da safra 2011. E, como eu não me atenho a degustação, o que é fantástico, preciso falar um pouco sobre essa emblemática região da África do Sul e uma casta que se deu bem nas terras deste país. Então falemos um pouco de cada um deles.

Stellenbosch

Stellenbosch é a segunda colónia europeia mais antiga na África do Sul, após a Cidade do Cabo, e fica na Província do Cabo Ocidental. Está situada a cerca de 50 km da Cidade do Cabo, e no ano 2000 contava com cerca de 90 mil residentes com habitação formal, portanto sem contar estudantes e outras pessoas com habitação informal. Seu nome e existência se devem ao antigo governador do Cabo, Simon van der Stel, que estabeleceu um povoado à beira do rio Eerste em 1679, fazendo dela a segunda cidade mais antiga da África do Sul. Hoje, é uma linda cidade caracterizada por ruas ladeadas de carvalhos e casas brancas, muitas das quais de origem Cape Dutch (cabo-holandesa), e fica entre a suntuosa montanha Simonsberg e a mais modesta Papegaaiberg (“Montanha do Papagaio”). Logo que chegaram os primeiros colonos, particularmente os Huguenotes franceses, teve início a cultura da vinha nos vales férteis em torno de Stellenbosch, que rapidamente se tornou o centro da indústria vinícola sul-africana. Até há pouco tempo, a concentração de riqueza trazida por esta indústria fez com que a área tivesse um elevado coeficiente de Gini, embora esta situação esteja a mudar.

Stellenbosch

Stellenbosch possui uma rica história vinícola e é lar de alguns dos vinhos mais famosos do país. Além disso, a uva Cabernet Sauvignon é a variedade mais cultivada na região, utilizada muitas vezes ao lado da casta Merlot. Situada a apenas 40 quilômetros ao leste da Cidade do Cabo, Stellenbosch é separada pelas montanhas de Simonsberg e Paarl. Seus vinhedos cobrem as colinas da região sul-africana que vão desde Helderber, no sul, até as inclinações mais baixas de Simonsberg, no norte. Este terreno proporciona uma grande variação nos estilos de vinho produzidos, bem como microclimas ideais para o cultivo de inúmeras variedades encontradas entre as colinas e os vales de Stellenbosch. Os solos da região são compostos predominantemente de arenito e granito, onde é possível encontrar também um alto teor de argila, responsável por garantir uma melhor retenção da água. O clima de Stellenbosch é quente e seco, embora receba uma influência marítima do sul, proveniente de False Bay. A refrescante brisa que as vinhas recebem à tarde e a incidência solar pela manhã possibilita que as uvas concentrem melhor seus aromas e sabores, dando origem a vinhos com características únicas e peculiares. Em decorrência dessa variação de terroir, Stellenbosch é dividida em inúmeras áreas produtoras de vinho diferentes, entre elas, Bonghoek, Papegaaiberg, Devon Valley e Polkadraai Hills. Além disso, a região sul-africana é o segundo assentamento mais antigo do país, ficando atrás apenas de Cape Town. As principais variedades cultivadas em Stellenbosch são as uvas Cabernet Sauvignon, Chenin Blanc, Sauvignon Blanc e Shiraz. Além disso, a fama da região se deve também por ser o berço da casta Pinotage, resultado de um cruzamento das uvas Cinsaut e Pinot Noir em 1924.

Chenin Blanc

A Chenin Blanc é uma das muitas variedades de origem francesa, e como tal, honra o título de prata da casa: na parte central do Vale do Loire, essa uva dá origem a diversos tipos de vinho, dos secos e ácidos até os doces, alguns entre os melhores do mundo. A África do Sul, por sua semelhança com o Velho Mundo, também produz rótulos de características suaves, mas ao mesmo tempo bem elaborados. Lá, a variedade é chamada de Steen, e a técnica nacional de fermentação fria dá ao vinho toques de pêra, que aumentam à medida que o açúcar do vinho diminui e a bebida se torna mais seca. A acidez dessa uva favorece o processo de envelhecimento, principalmente nos rótulos mais secos, mas seus vinhos de sobremesa, feitos de frutos com a “podridão nobre”, também têm grande potencial para serem guardados. Os principais aromas da Chenin Blanc são maçã, pêra (principalmente oriundos da fermentação fria), marmelo, nozes, mel e cevada. Os vinhos brancos elaborados com a casta Chenin Blanc possuem corpo leve. Com crescente popularidade na África do Sul, a casta possui variedade de sabores, sendo parte da razão disso o estilo de vinificação por qual passa e o terroir presente na região de cultivo. Os aromas encontrados nos vinhos elaborados com a casta Chenin Blanc possuem bastante presença de frutas, como damasco, limão, tangerina e até mesmo maracujá. Em caso de vinhos amadurecidos em carvalho, os sabores de noz moscada e amêndoa são bastante evidenciados.

E agora o vinho!

Na taça tem um amarelo palha com lindos reflexos esverdeados, muito brilhantes, reluzentes.

No nariz traz uma explosão de notas frutadas, frutas brancas e cítricas que me remete a maçã, pera, abacaxi, limão, com muito frescor e jovialidade, apesar do tempo de safra, com quatro anos. Não podemos negligenciar outro destaque do vinho no aspecto olfativo, o toque floral intenso, lembrando flores brancas.

Na boca é fresco, jovial, informal e descompromissado, mas, ao mesmo tempo se revela um vinho expressivo, com bom volume de boca, sobretudo por conta da fruta, percebido no quesito olfativo e na intensa acidez. Tem um final longo, persistente e refrescante.

Essa foi a minha primeira e satisfatória experiência com meu primeiro vinho branco sul africano com a casta Chenin Blanc. Um vinho equilibrando, redondo e, mesmo que seja leve e fresco, tem personalidade marcante, mostrando toda a sua versatilidade e vocação gastronômica, onde harmoniza com pratos de entrada como frios, a refeições mais simples e carnes brancas, frituras, é o famoso vinho para se degustar à beira da piscina e por que não leva-lo à praia? Gostei tanto da Chenin Blanc sul africana que, quando surgiu a oportunidade, degustei outro vinho da casta da tradicional vinícola daquele país, a Nederburg, o 56 Hundred Chenin Blanc 2017. Tem 13% de teor alcoólico muito bem integrados ao conjunto do vinho.

Sobre a Obikwa Winery:

A história dos vinhos Obikwa começou em 2002, em Stellenbosch, mas todos os vinhos produzidos eram exportados. Com o aumento da popularidade, os produtos passaram a ser vendidos também na África do Sul a partir de 2009. Obikwa é o nome de uma das mais antigas tribos do país, para a qual o avestruz simboliza força vital e fidelidade. Como forma de homenagear essa tribo e toda sua história, a vinícola leva a sério seu compromisso com a sustentabilidade ambiental e a qualidade do seu trabalho. Com a proposta de fazer ‘vinhos de real valor a ótimo preço’, esse produtor honra suas origens com rótulos surpreendentes. Obikwa é o primeiro vinho sul-africano a mudar para novas garrafas verdes ultraleves de 350g, ecologicamente corretas, que são 25% mais leves . Toda a gama OBiKWA apresenta um Selo de Sustentabilidade , emitido pelo South African Wine & Spirit Board.

Mais informações acesse:

https://www.distell.co.za/home/

Referências de pesquisa:

Sobre Stellenbosch:

Portal Vinci, em: https://www.vinci.com.br/c/regiao/stellenbosch#:~:text=Situada%20na%20%C3%A1rea%20costeira%20do,ao%20lado%20da%20casta%20Merlot.

Portal South Africa, em: https://www.southafrica.net/br/pt/travel/article/stellenbosch-uma-das-joias-da-regi%C3%A3o-vin%C3%ADcola

Wikipedia, em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Stellenbosch

Sobre a Chenin Blanc:

Blog Sonoma, em: https://blog.sonoma.com.br/uvas/chenin-blanc-a-prata-da-casa-francesa-de-vinhos/

Portal Mistral, em: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/chenin-blanc

Degustado em: 2015




sábado, 21 de novembro de 2020

Alto las Nieves Cabernet Sauvignon 2019

 

Há quem diga que degustar um Cabernet Sauvignon de entrada, da linha básicas dos produtores é um demasiado risco, um vinho sem personalidade que não retrata a potência da cepa, para os mais radicais são vinhos sem expressividade, sem vida. Digo que degustar vinhos mais simples, os mais básicos das vinícolas pode sim ser um risco, da mesma forma que o dito icônico dos produtores pode ser um risco também! Pois é, caros enófilos leitores, é um risco também! Escolher vinhos é sempre um risco que corremos afinal a grife pode te entregar o status, mas não o prazer que o vinho pode te proporcionar na degustação. Não podemos negligenciar a possibilidade de vinhos simples, básicos serem bons, bons pelo que se propõe a entregar ao enófilo. Simplicidade não significa que seja ruim. Então não se enganem, um Cabernet Sauvignon básico de um produtor pode sim ser bom, entregar o que há de melhor da cepa. Eu costumo repetir, como um mantra, que quando um vinho simples, básico de um produtor é bom, é porque o produtor e seus rótulos são idôneos, com vinhos de tipicidade.

Então decidi arriscar, o risco faz parte para aqueles que decidem sair da famosa zona de conforto, e abrir um jovem vinho que repousava na minha adega da casta Cabernet Sauvignon de um dos maiores produtores da cepa no mundo, o Chile. Na realidade a Cabernet Sauvignon é a uva mais emblemática do mundo, a mais cultivada do planeta também. Talvez tudo que eu redigir, do que eu contextualizar sobre a rainha das uvas tintas soe como redundante, haja vista que a literatura do vinho tenha dito em verso e prosa sobre essa inspiradora casta, mas, especificando e falando, brevemente, sobre a Cabernet Sauvignon no Chile é de que a mesma, apesar de ser a mais cultivada naquele país, ela não tem, sobretudo nessas últimas décadas, a reverência, o respeito e o interesse que merece. Mas é inegável que o casamento, a “harmonização” entre quantidade e qualidade acontece, embora não tenha o devido crédito, como a Carmènére, por exemplo. Então, sem delongas faço questão de proferir, de gritar, de redigir aos quatro cantos do mundo que tive o prazer de degustar e gostar de um vinho surpreendentemente bom, da emblemática região do Vale Centra, no Chile, da jovem safra de 2019, da vinícola, de fundadores espanhóis, Miguel Torres, chamado Alto Las Nieves da emblemática e necessária Cabernet Sauvignon. E já que falei da região do Vale Central, de onde veio o vinho que degusto, é conhecida por cultivar um dos melhores Cabernets do Chile, então falemos um pouco sobre ela.

Vale Central

Valle Central, ou Central Valley como é conhecida, é uma região vinícola do Chile, estando entre uma das mais importantes áreas produtoras de vinho de toda a América do Sul, em termos de volume. Além disso, o Central Valley é uma das regiões que mais se destaca com relação a extensão, indo desde o Vale do Maipo até o final do Vale do Maule. Uma ampla variedade de vinhos é produzida na região, elaborados a partir de uvas cultivadas em diferentes terrenos. Tal exemplar vão desde vinhos finos e elegantes, como os produzidos em Bordeaux, até os vinhedos mais velhos e estabelecidos em Maule. A região do Valle Central é também lar de diversas variedades de uvas, porém, as plantações são ocupadas pelas castas Cabernet Sauvignon, Sauvignon Blanc, Merlot, Chardonnay e Syrah. A uva ícone do Chile, a Carmenère, também é importante na região, assim como a Malbec é referência em Mendoza, do outro lado dos Andes. As áreas mais frias do Central Valley estão ganhando cada vez mais destaque perante o mundo dos vinhos, onde são cultivadas as uvas Riesling, Viognier e até mesmo a casta Gewürztraminer. O Central Valley é dividido em quatro sub-regiões vinícolas, de norte a sul, cada qual com características e diferenças marcantes. O Maipo é a sub-região mais histórica do país, onde as vinhas são cultivadas desde o século XVI, abrigando as videiras mais antigas existentes na região. O Rapel Valley é lar das tradicionais sub-regiões Cachapoal e Colchagua, enquanto Maule Valley é uma das sub-regiões vinícolas mais prolíferas de toda a América do Sul. Por fim, a última sub-região Curico Valley foi a pioneira no cultivo vinícola na década de 1970, onde Miguel Torres deu início a vinicultura moderna.

Vale Central

A Cabernet Sauvignon pode ser cultivada com sucesso tanto no Vale do Maipo quanto no Vale de Rapel, cada um por um motivo diferente. No Vale de Rapel, a presença de um solo rochoso e com baixa atividade freática (pouca disponibilidade hídrica) aliado à alta taxa de amplitude térmica (diferença entre a maior e a menor temperatura nessa área em um dia) vai favorecer o grau de maturação da Cabernet Sauvignon, aprofundando seu sabor. Essa parte do vale, portanto, produz uvas com um sabor mais profundo e maduro. Já a Cabernet Sauvignon que é cultivada no vale do Maipo (de onde provém mais da metade da produção dessa cepa) conta com a influência direta do Rio Maipo. Onde as águas do rio servem para regular a temperatura e fornecer a irrigação dos vinhedos. E para não deixar de destacar a área a sotavento da Cordilheira da Costa, o Vale do Curicó possui um clima quente e úmido, já que todo o ar frio é impedido de passar pela barreira natural da montanha. Quem se beneficia com isso é a produção de Carménère, que por tamanha perfeição em seu desabrochamento são conhecidos por todo o mundo, não sendo surpresa o fato de que somente desse Vale derivem vinhos para mais de 70 países ao redor do mundo. Em outras palavras, o Vale Central se constitui como uma mina de ouro de cepas premiadas e irrigadas com tradição centenária. O Valle Central é uma área plana, localizada na Cordilheira Litoral e Los Andes, caracterizada por seus interessantes solos de argila, marga, silte e areia, que oferece ao produtor uma extraordinária variedade de terroirs. Excepcionalmente adequada para a viticultura, o clima da região é mediterrâneo e se traduz em dias de sol, sem nuvens, em um ambiente seco. A coluna de 1400 km de vinhas é resfriada devido à influência gelada da corrente de Humboldt, que se origina na Antártida e penetra no interior de muito mais frio do que em águas da Califórnia. Outra importante influência refrescante é a descida noturna do ar frio dos Andes.

Então vamos falar do vinho!

Na taça apresenta um lindo vermelho rubi brilhante com reflexos violáceos com lágrimas grossas e esparsas que demora um pouco a se dissipar das paredes do copo.

No nariz se destaca uma explosão de aromas frutados, sem ser enjoativo, de frutas vermelhas maduras como framboesa, cereja e morango, talvez notas discretas de baunilha.

Na boca é seco, jovem e fresco, reproduz as impressões olfativas frutadas, com um leve toque amadeirado, afinal o 50% do vinho passou por barricas de carvalho (não há informações, por parte do produtor do tempo em que esse percentual do vinho passou por madeira), além de ter taninos sedosos e domados, uma acidez média e um final intenso, persistente com retrogosto frutado. Um vinho expressivo, mas fácil de degustar.

Um Cabernet Sauvignon frutado, leve, mas, ao mesmo tempo expressivo, mostrando o quão importante e rica é a região de onde esse rótulo veio. Um vinho versátil, equilibrado e gastronômico que, diante da sua proposta, entregou muito além do esperado. É possível sim degustar um Cabernet Sauvignon básico, mas honesto, bem feito, mostrando que o Chile produz, cultiva ótimos vinhos dessa cepa em todas as suas esferas de propostas. A construção da casta com as suas características foram percebidas em cada taça enchida, em cada celebração a boa degustação. Um viva a Cabernet Sauvignon como eu já não degustava havia tempo, sobretudo com essa proposta. Tem 13,5% de teor alcoólico muito bem integrados ao conjunto do vinho.

Sobre a vinícola Miguel Torres:

Miguel Torres foi a primeira empresa vinícola estrangeira estabelecida no Chile, em 1979. A família Torres escolheu este país como o destino apropriado para a prática da vinicultura, devido às suas excelentes condições para o desenvolvimento desta indústria. A decisão de escolher Chile pelas suas excelentes condições climáticas, não foi suficiente. Miguel Torres Chile foi o primeiro a introduzir novas tecnologias na produção de vinho, como a fermentação em tanques de aço inoxidável e o envelhecimento em barricas de roble francês. Além de contribuir para o crescimento dos vinhos chilenos nos últimos 30 anos. A Primeira marca de vinho Miguel Torres, após a compra dos primeiros 100 hectares adquiridos pela família Torres no setor Maquehua em Curicó, em 1981. Santa Digna é a linha de vinhos mais conhecida pelos consumidores em todo o mundo. Hoje certificada como Comércio Justo (Trade Fair) permitiu a vinha estabelecer-se como uma empresa sustentável. Foi em 1985 que as videiras de Cabernet Sauvignon de mais de 115 anos do Fundo Manso de Velasco deu fruto ao vinho ícone de Miguel Torres Chile. Reconhecido mundialmente pela sua qualidade e por representar fielmente ao Cabernet Sauvignon do Chile. Manso de Velasco, homenagem ao ilustre fundador da cidade de Curicó, é uma fazenda chilena de 15 hectares, plantados em 1902, situado ao pé da Cordilheira dos Andes e dedicados exclusivamente ao Cabernet Sauvignon. Com o passar dos anos, a empresa adquiriu novas terras e expandiu suas instalações e gama de produtos. Atualmente a vinha têm aproximadamente 350 hectares de vinhedos plantados em oito propriedades com características climáticas muito diferenciadas entre sim e 1030 no total. Isso permite o cultivo de diferentes variedades e a elaboração de vinhos com caráter varietal intensa. Em 1996 a Cordillera Carignan nasceu de um projeto onde Miguel Torres em conjunto com outros vinhedos da região de Maule e pequenos produtores se unem para formar VIGNO - Clube de Vignadores de Carignan, para trabalhar pelo resgate de variedades antigas. É assim como Miguel Torres assume fortemente a esta nova iniciativa com “Cordillera Carignan”, o que representa uma das últimas inovações mais importantes na indústria do vinho. No ano 2000 o Fundo Empedrado se juntou as propriedades da empresa. Localizado perto de Constitución, 180 km. Em direção ao sul de Curicó e com 364 hectares, é o resultado de anos de pesquisa de solos de ardósia. A particularidade deste tipo de pedra é que ela permite um alto nível de drenagem e coleta a radiação solar, mantendo um mesoclima quente, (pela cor preta da “pedra laja”). Em 2000 tem a primeira colheita do “Superunda”. Para a produção deste vinho temos experimentado por muitos anos, com velhas cepas chilenas e espanholas de diferentes origens e de diferentes variedades. Cabernet Sauvignon, Carmenere, Tempranillo, Monastrell são a base deste vinho tem recebido cumprida criança em barricas de roble novo de Nevers, ao longo de 24 meses. Em 2007, sob o nome de “Santa Digna Estelado”, Miguel Torres Chile lançou no mercado nacional a safra 2010 do primeiro espumante elaborado com variedade Pais, produto desenvolvido no âmbito de um projeto co-financiado pelo Ministério da Agricultura, através da Fundação para a inovação agrícola. A iniciativa, que começou no final de 2007, visa melhorar as condições para os agricultores das regiões secas na interior das regiões de Maule e Biobio. Em 2010, Miguel Torres Chile apresenta sua nova linha de vinho orgânico “Las Mulas”. Uma proposta inovadora e com um conceito atraente que responde a um dos valores mais importantes da adega familiar: sustentabilidade e preocupação meio ambiental. No final de 2010, Miguel Torres Chile obteve a certificação Fair Trade para sua linha de vinhos Santa Digna, a mais reconhecida no nível nacional e internacional. O objetivo da certificação é dar ao consumidor um produto de alta qualidade produzido sob a transparência e o equilíbrio entre a empresa, seus trabalhadores e o meio ambiente. Em 2012 100% das fazendas são certificadas orgânicas para as normativas de Chile, Europa, EUA e Japão, sendo a nossa linha LAS MULAS a representante desta categoria. Os produtos associados a esta linha são: Las Mulas Cabernet Sauvignon, Las Mulas Sauvignon Blanc, Las Mulas Cabernet Sauvignon Rosé, Las Mulas Carmenere e Las Mulas Viognier.

Mais informações acesse:

https://www.migueltorres.cl/pt/

Referências de pesquisa:

Portal Vinci, em: https://www.vinci.com.br/c/regiao/valle-central

Portal Winepedia, em: https://www.wine.com.br/winepedia/enoturismo/valle-central-chile/

Portal Enologuia, em: https://enologuia.com.br/regioes/186-o-vale-central-no-chile-ponto-de-encontro-de-vinhos-reconhecidos-mundialmente