sábado, 17 de abril de 2021

Santa Júlia Malbec Reserva 2016

Sempre costumo usar a palavra “celebração” para ilustrar um momento de degustação. E tenho certeza que essa palavra se adequa ao momento. Degustar um rótulo que você investiu tempo em escolher e colher informações e dinheiro torna o momento único, singular, importante. Não é só mais uma degustação, é sempre A degustação. É um momento a ser valorizado, a ser celebrado. A palavra surge espontaneamente, por isso a sua importância em tê-la como parte da definição, das sensações e das experiências de se degustar um vinho.

Falo sobre celebração, pois a degustação de hoje tem um caráter de comemoração. Hoje, dia 17 de abril, comemoramos o “Malbec Day”. Eu tenho minhas controvérsias com relação a dias comemorativos, afinal, algo que é especial para você tem de ser sempre celebrado. Algumas comemorações soam como oportunistas, meramente de cunho mercadológico, mas, para este caso, em especial, a Malbec merece uma celebração à altura pelo conjunto da obra, de sua história rica que personifica a história de toda uma cultura vitivinícola.

Vou fundamentar o discurso da celebração, mesmo que seja algo formalizado, instituído, com uma data. A oficialização da corroboração da importância da Malbec para cada um de nós, enófilos, ávidos pelo vinho. Lembro-me e, aqui vale um singelo registro de quanto a Malbec foi importante, sobretudo quando adentrei no universo do vinho.

Eu pouco conhecia sobre propostas de vinho, tão pouco sobre as características da cada casta, entre outros detalhes básicos para entender o que determinados rótulos podem entregar para o enófilo. Mas eu tinha a necessidade, depois de algum tempo degustando vinhos, de alguns rótulos mais encorpados, mais complexos, que entregassem um pouco mais de “ousadia”, pensava eu, com talvez um pouco da ingenuidade do início da capacidade sensorial para os vinhos. Fui aos supermercados em busca de respostas e, claro, de vinhos e fui recomendado por um gentil funcionário, lembro-me com nitidez, de que a Malbec se encaixava em meus anseios. Comprei um rótulo que, confesso, não era tão complexo, mas também não era tão básico, estava no limiar dos dois. A experiência foi completa e arrebatadora! Precisa repetir a minha experiência e assim o foi. Foram tantos e tantos Malbecs que a casta se tornou uma espécie de referência para mim quando se menciona estrutura e complexidade.

Então, o dia 17 de abril precisava ser enaltecido com um rótulo de Malbec e a taça inundada da tal celebração. O vinho que escolhi, degustei e gostei vem da emblemática e tradicional região argentina de Mendoza, e é o Santa Julia Malbec Reserva da safra 2016, da Família Zuccardi. E, já que falamos do “Malbec Day” e do dia 17 de abril, vamos a história por trás da data e da celebração.

“Malbec Day’

Comemorado pela primeira vez em 17 de abril de 2011, o Dia Mundial do Malbec, conhecido como “Malbec World Wine” é uma iniciativa global criada pela “Wines of Argentina” que busca posicionar o Malbec argentino como um dos mais importantes do mundo e comemorar o sucesso da indústria vinícola nacional. Esse evento histórico e cultural que promove, globalmente, contou, na sua primeira edição, com a participação de mais de 72 eventos, em 45 cidades de 36 países diferentes.

Embora a Malbec tenha conquistado a Argentina foi na França que nasceu. Tem como origem a França, mais especificamente a região sudoeste do país (onde está, por exemplo, a região de Cahors). Essa área, uma pequena cidadela próxima à Bordeaux, por sua vez, é até os dias atuais aquela em que as frutas são mais cultivadas na nação francesa.

Cahors

Em determinado período histórico, a França passou por alguns eventos climáticos e biológicos bastante característicos. O primeiro deles foi a infestação das uvas por um fungo que comumente acomete essas frutas e que fez com que muitas plantações fossem dizimadas. Depois, o frio extremo que assolou a Europa fez com o restante delas sofresse consequências irreparáveis na época. Com isso, ficou bem claro que as uvas Malbec não têm uma resistência muito boa para climas extremos, sejam eles frios ou quentes. Isso fez com que, pouco a pouco, ela fosse descartada como uma das uvas indicadas para a produção na França, mas que se desse muito bem em um território bem distante: a Argentina.

Os primeiros exemplares de vitis vinifera, a uva própria para produção de vinho, chegaram à Argentina no início do século XVI junto com os seus colonizadores. No entanto, foi só em 1551 que o cultivo da uva se espalhou por toda a região. As condições climáticas e o solo dos arredores dos Andes favoreceram muito a agricultura dos vinhedos e, impulsionada pelos monastérios que precisam produzir vinho para a celebração das missas.

Junto com a cultura espanhola desembarcou na Argentina uma forte tradição católica, e a vitivinicultura se beneficiou enormemente de ambas. No século XIX chegou à região uma nova onda de imigrantes europeus que trouxeram em suas bagagens novas cepas estrangeiras e muita tradição na produção de vinhos, como os italianos. Os europeus recém-chegados encontraram em Los Andes e no Vale de Rio Colorado os locais ideais para começar o seu próspero cultivo, e ali se estabeleceram. Entre 1850 e 1880 a produção de vinhos argentinos começou a mudar de forma. Com a integração do país à economia mundial, a chegada da industrialização e a abertura de múltiplas ferrovias cortando a região, o que antes era uma agricultura voltada para a produção de vinhos tomou forma de uma indústria do vinho.

Em 1853 foi criada a Quinta Normal de Agricultura de Mendoza, a primeira escola de agricultura do país, por meio das quais novas técnicas de cultivo de vinhedos foram implementadas na região, como o uso de máquinas e modernas metodologias científicas. O seu fundador foi, claro, um francês, chamado Michel Aimé Pouget, conhecido também por Miguel Amado Pouget. Michel Aimé Pouget ou ,Miguel Amado Pouget nasceu na França em 1821. O engenheiro agrônomo emigrou primeiro para o Chile e depois para Mendoza, na Argentina.

Michel Aimé Pouget

Em 1852, o presidente da Argentina à época, Domingo Faustino Sarmiento se estabeleceu em Mendoza e propôs ao governador Pedro Pascual Segura a contratação Pouget. Ele próprio aceitou a proposta e se estabeleceu em Mendoza, em 1853. Modelada na França, a iniciativa propunha a adição de novas variedades de uvas como um meio de melhorar a indústria vinícola nacional. Em 17 de abril de 1853, com o apoio do governador de Mendoza, foi apresentado um projeto ao Legislativo Provincial, com o objetivo de estabelecer uma Escola Agrícola e Quinta Normal. Este projeto foi aprovado pela Câmara dos Deputados em 6 de setembro do mesmo ano. Portanto, Pouget plantou em Mendoza, com Justo Castro, inúmeras variedades de uvas originárias de seu país de origem: entre elas estava o Malbec. No final do século XIX, com a ajuda de imigrantes italianos e franceses, a indústria do vinho cresceu exponencialmente e, com ela, a Malbec, que rapidamente se adaptou aos vários terroirs e se desenvolveu com resultados ainda melhores do que em sua região de origem. Assim, com o tempo e com muito trabalho, surgiu como a principal uva da Argentina. Quer saber mais? Acesse “Malbec Day: História”.

E agora finalmente o vinho!

Na taça se revela um vermelho intenso, brilhante com reflexos violáceos, com uma abundante formação de lágrimas que mancham e desenham as paredes da taça.

No nariz explode em aromas de frutas vermelhas e negras, como groselha, cereja e amora, típico da Malbec e o aporte da madeira entregando notas de baunilha, especiarias e caramelo.

Na boca é estruturado, volumoso e frutado, tem taninos presentes, mas aveludados, com acidez equilibrada que traz ao vinho frescor, sendo fácil de degustar. A madeira se faz presente, mas muito bem integrada ao vinho, sendo este harmonioso e equilibrado, bem como como um agradável toque de baunilha, como no aspecto olfativo. Cerca de 50% do vinho passou 10 meses por barricas de carvalho e os outros 50% em tanques de aço inoxidável, privilegiando a tipicidade da cepa. Final persistente, longo e frutado.

Celebração, experiências, história, rótulos, tudo se mescla se resume no prazer pela degustação de um grande Malbec argentino. Todas as personificações de Malbec, os países, seus terroirs, são válidos, mas não há como não se render ao Malbec argentino, a verdadeira representação do potente, estruturado, complexo, simples, frutado Malbec que nós conhecemos e o Santa Júlia Reserva encarna, com fidelidade, a tipicidade do típico Malbec mendocino: Frutado, fresco, mas com marcante personalidade e com a opulência de que esperamos arrebatar as nossas percepções sensoriais. A celebração do Malbec na taça desafiando a nossa humildade e simplicidade perante a décadas e séculos de história a serviço do nosso deleite. Que o dia 17 de abril se estenda eternamente e inunde de celebração as nossas vidas. Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Bodega Santa Júlia:

Julia é filha única de José Zuccardi. Criada em sua homenagem, a Santa Julia representa o compromisso da Família Zuccardi em atingir os mais altos níveis de qualidade, por meio de práticas sustentáveis ​​que contribuam para o cuidado com o meio ambiente e sejam úteis à comunidade em que se instalaram.

Em 1950 Alberto Zuccardi começa a fazer experiências com novos sistemas de irrigação em Mendoza. Em 1963 Ele instala um vinhedo na região de Maipú para mostrar aos produtores da região a funcionalidade de um sistema de irrigação criado por ele. Em 1982 decidiu-se ter como objetivo a produção de castas de alta qualidade. Júlia nasce. Em 1990 as primeiras exportações da marca Santa Julia acontecem. Ruben Ruffo se junta como enólogo da Santa Julia e se torna responsável pelo desenvolvimento e crescimento dos vinhos. No vinhedo Santa Rosas se plantam vinhedos com variedades não tradicionais na Argentina: Caladoc, Ancellotta, Graciano, Bourbulenc, Aglianico, Albariño, Falangina, etc.

Em 2001, a Bodega Santa Julia foi a primeira vinícola a abrir um centro de visitantes com restaurante próprio. Hoje o projeto é dirigido por Julia Zuccardi. Foi uma década de início de novos projetos. Aos quais as novas gerações da Família gradualmente se juntaram. O projeto dos espumantes começa a ser desenvolvido. Um novo desafio que, hoje, acompanha a linha de vinhos. Em 2004, com o objetivo de produzir vinhos da forma mais natural possível, consegue-se a primeira certificação de vinha orgânica. Em 2013 Duas das principais vinhas da família Zuccardi são certificadas pela Fair For Life. Isso permite um desenvolvimento mais justo das atividades socioeconômicas de nossos trabalhadores.

Mais informações acesse:

https://santajulia.com.ar/

Referências:

No link: “Malbec Day: História”

 


 




 

 

quarta-feira, 14 de abril de 2021

E hoje é o dia da Tannat!

A uva Tannat é originária da comuna francesa de Mandiran, na região de Occitanie, nos Altos Pirineus, na França. A região de Occitanie está localizada ao sul do Bordeaux, e muito próxima da divisa com os Países Bascos da Espanha. A Tannat é conhecida na Europa também como Mandiran.

Em sua terra natal, é tida como uma uva selvagem de taninos agressivos, quase rústica. Mas, no Uruguai (e também na fronteira com o Brasil), o clima diferente e a habilidade dos viticultores e enólogos transformaram essa cepa em um emblema de alta qualidade e vinhos muito agradáveis (embora ainda potentes).

Madiran

A região onde a Tannat se originou, no sudoeste da França, abaixo das regiões de Bordeaux e Armagnac, fica próxima da fronteira com a Espanha e o País Basco, e essa divisa natural é feita pelas altas e frias montanhas dos Pirineus. Nessa zona de Madiran e Cahors, a Tannat era, até bem pouco tempo atrás, raramente vinificada sozinha. Ela era mais comumente utilizada em cortes com a Cabernet Sauvignon e a Cabernet Franc, objetivando uma diminuição em sua alta carga tânica. O terroir alto, frio e de terrenos muito antigos influencia as características da uva que, apenas recentemente e com o uso de modernas técnicas de cultivo e vinificação, vem produzindo vinhos varietais mais domados em sua força natural.

A imigração para o Uruguai

O Uruguai era originalmente povoado pelos índios Charruas, mas em 1680 os portugueses começaram a se assentar na região; os espanhóis chegaram logo em seguida. Mas um pouco antes, em 1516, o navegador Juan Dias de Sólis, considerado o descobridor oficial do Uruguai, ao tentar uma aproximação amistosa, foi, junto com toda sua comitiva, massacrado pelos charruas.

Os primeiros vinhedos, como em Mendoza e Santiago, foram plantados pelos jesuítas, para o vinho das cerimônias religiosas. O primeiro registro de uma vinícola apareceu somente em 1776, dois séculos depois dos vinhedos de Mendoza e 170 anos após os de Buenos Aires. Em 1835, na posse do 2º Presidente, Manuel Oribe, foi servido um vinho uruguaio, no entanto, o desenvolvimento dos vinhedos e a produção regular de vinhos só aconteceram mesmo a partir de 1870, quando começaram a chegar os imigrantes espanhóis e italianos. Os imigrantes trouxeram consigo a cultura do vinho, e passaram a produzir, principalmente, para o consumo familiar. Poucos produziam para comercializar.

Com a chegada dos investidores ingleses, interessados no gado bovino e na comercialização da carne, cresceu o consumo da cerveja. O que incentivou a abertura de várias cervejarias. A influência dos ingleses no consumo de bebidas foi comprovada pela icônica água tônica Paso de Los Lobos, que era produzida para atender, principalmente, os consumidores ingleses.

Em 1871, a criação da ARU – Associação Rural do Uruguai – deu um impulso importante na agricultura e na produção de vinhos. Francisco Vidiella, um dos fundadores da ARU, após uma viagem à Europa, trouxe consigo mudas de uvas Cabernet Sauvignon, Merlot, Garnacha e começou a produzir bons vinhos.

Em 1874, Pascual Harriague, de origem espanhola e, também, fundador da ARU, viajou para Concordia, na Argentina, onde estavam sendo produzidos vinhos de muito boa qualidade, no estilo de Bordeaux, utilizando uma uva conhecida como Lorda. Na volta, trouxe consigo mudas e plantou 200 hectares de vinhedos, na região de Salto,  noroeste do Uruguai. A uva Lorda se adaptou muito bem a este terroir, com vinhos de muito boa qualidade. Em 1888, já havia em Salto cerca de 90 bodegas de vinho. Várias vinícolas em todo o Uruguai começaram a plantar a uva, e com o sucesso passaram a referir-se a ela como Harriague. Em 1919, após estudos, a uva Lorda foi reconhecida e identificada como sendo a Tannat, da região de Occitanie, nos Altos Pirineus.

O país, como o conhecemos hoje, passou a existir com a declaração de independência em 1828, quando se estabeleceu como República, após vários anos de guerras sangrentas que envolveram Espanha, Portugal, Argentina e o Brasil.

Don Pascual Harriague

Com o basco Pascual Harriague a Tannat teve seu grande impulso no Uruguai. Esse empresário, nascido em 1819, chegou ao Uruguai em 1840 e, após várias atividades pecuárias no país, se estabeleceu na cidade de Salto.

Don Pascual Harriague

Por volta de 1870, depois de alguns anos fazendo testes com diversas variedades de uva, ele encontrou as condições para produzir um ótimo vinho tinto com uvas Tannat. Ele apresentou esses vinhos em 1887, que receberam elogios e prêmios internacionais nas exposições mundiais de Barcelona e Paris em 1888 e 1889 Hoje já são quatro gerações de viticultores uruguaios que continuam o legado de Pascual.

Dom Pascal Harriague introduziu ao Uruguai várias castas de uva em busca de uma que se adaptasse bem ao solo e clima da região. A Tannat foi a que se saiu melhor na experiência e desde então, por causa do seu sucesso imediato e duradouro no país, ela dá vida ao autêntico vinho uruguaio.

Produção

Na década de 1970, houve uma renovação na vitivinicultura do Uruguai; novas técnicas de plantio e cultivo, bem como a introdução de novas variedade de uvas, possibilitaram um desenvolvimento substancial à sua indústria de vinhos. Aliado a tudo isso, a evolução dos vinhos uruguaios aconteceu por causa da paixão dos produtores e apreciadores de lá pela bebida. A maneira artesanal e a relação respeitosa que eles têm com as uvas que cultivam tornaram seus vinhos premiados e bastante reconhecidos no mercado internacional.

Hoje em dia, além da qualidade de seus terroirs com clima mediterrâneo e solo fértil, há uma gama de variedades plantadas que elevaram o padrão do vinho produzido no país. O pequeno território do Uruguai abriga vinhedos em toda a sua extensão – 16 dos 19 estados uruguaios possuem plantações de uvas viníferas, a maior parte de uvas tintas, que representam mais de 80% das castas cultivadas.

A Tannat representa 44% das plantações no Uruguai, mas outras castas como a cabernet sauvignon, pinot noir e sauvignon blanc (entre outras) podem ser destacadas na produção do país.

A região sul do país é a que mais concentra vinícolas. As regiões de Montevidéu e Canelones tem a maior parte da produção de vinhos do país, San José e Colônia del Sacramento são outros centros vinicultores importantes.

O Uruguai possui uma rota de vinho especial e aconchegante, coordenada pela Associação de Turismo Enológico do Uruguai, que reúne muitas bodegas familiares, com estrutura e história que fascinam seus visitantes. A rota, batizada de “Os caminhos do vinho” passa por regiões de Montevidéu, Canelones, Maldonado, Colônia e Rivera, cujas paisagens belas e exuberantes são atrativas que complementam sua ótima gastronomia e seus vinhos finos.

Características da Tannat

Os cachos da uva Tannat têm tamanho médio a grande, são compactos e cilíndricos. Os frutos (bagas) têm tamanho pequeno a médio, sendo ligeiramente alongados. O grande destaque é a concentração de cor em sua casca e também na polpa da fruta, justificando a intensa coloração violácea que caracteriza os vinhos elaborados com ela.

A uva Tannat

Em relação ao tempo necessário para sua maturação, possui um ciclo médio, podendo adaptar-se a diversas regiões e ser colhida no ponto ideal de maturação.  Essa é uma das variedades mais ricas em polifenóis — uma categoria de compostos bioativos encontrados em alguns vegetais. Eles apresentam importantes propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias. O resveratrol é mais importante polifenol encontrado nas cascas e nas sementes das uvas, principalmente das tintas. A substância reduz a ação dos radicais livres no organismo e impede a atividade de enzimas que podem prejudicar células saudáveis. Por isso, o vinho é uma bebida que faz muito bem para a saúde.

Em geral, o vinho elaborado em território uruguaio é mais frutado e menos rústico do que o francês, devido ao clima e solo locais. Entretanto, ele ainda mantém as características de taninos firmes, o que lhe confere o nome (Tannat = Taninos) cor escura, teor alcoólico médio e afinidade com o carvalho.

No Brasil, a região da Campanha Gaúcha localiza-se a sudoeste do estado do Rio Grande do Sul e faz fronteira com o Uruguai. A combinação dos verões quentes com dias ensolarados, do solo sedimentar e do relevo em forma de coxilhas resulta em vinhos de grande complexidade e notável equilíbrio.

Referências:

“Blog do Milton”: http://www.blogdomilton.com.br/post/br/201903-uruguai

“Blog Art des Caves”: https://blog.artdescaves.com.br/conheca-tannat-uva-francesa-famosa-uruguai

“Blog da Famiglia Valduga”: https://blog.famigliavalduga.com.br/conheca-as-principais-caracteristicas-da-uva-tannat/

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/historia-da-tannat-no-uruguai_12654.html

https://revistaadega.uol.com.br/artigo/tannat-uva-imigrante_11878.html

“Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/uruguai-um-pequeno-pais-de-grandes-vinhos/







 

segunda-feira, 12 de abril de 2021

Cinco Tierras Sorbus Torrontés 2016

 

Quando falamos na Argentina, além do futebol, é claro, e da secular rivalidade nesse esporte com o Brasil, há também outra “marca” que eleva o nome do país a condições globais e que foi o pilar da economia dos nossos hermanos: a casta Malbec. Não há como dissociar, quando falamos da Argentina produtora de vinhos, da velha Malbec. Apesar de ser oriunda da região francesa de Cahors foi na Argentina, mais precisamente na região emblemática de Mendoza, que a Malbec encontrou seu lar e lá construiu seu nome, com rótulos proeminentes e valorosos nas suas mais diversas propostas e terroirs.

Mas quando falamos de castas brancas não podemos negligenciar a importância da Torrontés. Temos a Chardonnay, a Pinot Gris (Pinot Grigio), Chenin Blanc que também é prolífica em terras argentinas, mas a Torrontés ganhou destaque e hoje é umas das castas brancas mais importantes produzidas naquele país, arrisco dizer que a mais importante, sem sombra de dúvida. Não me lembro como se deu o primeiro contato com a Torrontés. Acredito que tenha sido lendo, as minhas buscas intensas pela informação, a construção do conhecimento do universo do vinho abriu muitas janelas, me proporcionou muitos rótulos especiais, muitas experiências sensoriais.

Mas lembro-me, com nitidez, quando degustei o meu primeiro rótulo argentino da casta Torrontés. Eu adorava Chardonnay, foi a primeira casta branca que degustei e ela me entregou muita expressividade, personalidade marcante, mesclado ao frescor e jovialidade e isso me agradava muito. E foi essa a percepção que tive quando degustei a Torrontés: Uma casta com personalidade marcante, explosão aromática, com destaque para as frutas brancas e cítricas, toques florais e o frescor e a jovialidade. Foi amor à primeira vista, ou melhor, a primeira degustação. E desde então não deixo de tê-la figurando a minha adega. 

E hoje, para variar, já que estou falando da Torrontés, mais um capítulo da minha história com essa especial cepa se constrói e, com gratas novidades, porque vem com aquela famosa já mencionada construção do conhecimento atrelado às minhas degustações e relação com o universo do vinho. O rótulo de hoje vem de uma região argentina que eu não conhecia e que, após, pesquisas e leituras e tida como uma localidade que é referência na produção da Torrontés! E não se enganem, não é Mendoza! Falo do Valle de Cafayate, na região de Salta. Conhece? Pois é, eu não conhecia.

Porém antes apresentemos o vinho que degustei e gostei que veio do Valle de Cafayate, na Argentina, e se chama Cinco Tierras Sorbus da casta, claro, Torrontés, da safra 2016. E, antes de falar do vinho, narremos a história de Valle de Cafayate e também da especial Torrontés.

Torrontés: a casta emblemática da Argentina

A uva branca Torrontés tornou-se ícone na Argentina, dando origem a vinhos brancos extremamente potentes e capazes de surpreender inúmeros paladares. A produção de vinhos a partir da uva Torrontés ocorre, em especial, na Argentina e, eventualmente, é possível encontrar alguns notáveis exemplares em regiões da Nova Zelândia e do Chile. Na Argentina, a uva Torrontés é encontrada em diversas áreas vinícolas, com destaque para o Vale de Cafayate, situado ao norte do país, e Salta. Com vinhedos cultivados em altitudes altíssimas, o vinho Torrontés de Cafayete é extremamente frutado e saboroso, bem como complexo e delicado, com corpo leve, tonalidade amarelo claro com reflexos verdes e raramente passa por barris de carvalho durante sua vinificação.

A casta Torrontés possui ainda três variantes – Mendocina, Sanjuanina e Riojana –, onde a mais importante é a variedade Torrontés Riojana por se tratar da única uva criolla originada na América, que possui um alto valor enológico e importante relevância comercial na produção de alguns dos melhores vinhos brancos argentinos. Os vinhos produzidos a partir da uva Torrontés são alguns dos vinhos brancos mais aromáticos da Argentina, onde é possível encontrar notas de ervas e especiarias. Na boca, os exemplares são intensos, com refrescante acidez e devem ser consumidos ainda jovens.

A maior parte dos vinhos Torrontés não passa por barris de madeira, proporcionando maior frescor aos exemplares. Além disso, devido a não utilização de madeira, os vinhos passam a apresentar uma coloração mais clara que os demais exemplares. Trata-se de uma variedade com bagos grandes, peles grossas e amadurecimento precoce. O clima mais frio é ideal para a uva Torrontés, ajudando a reter seus níveis de acidez natural. Essa casta cresceu rapidamente para se tornar um ícone dos vinhos brancos argentinos, além de tornar-se uma das variedades mais cultivadas do país. A partir de 2012, a Torrontés tornou-se a segunda uva branca mais cultivada da Argentina, atrás apenas da nativa Pedro Ximenez utilizada na elaboração de vinhos de mesa simples, destinados ao consumo do mercado local.

Valle de Cafayate, Salta

Cafayate é uma região produtora de vinho no noroeste da Argentina, localizada no amplo Vale do Calchaqui - um dos lugares mais altos do mundo adequado para a viticultura. A cidade de Cafayate fica perto da fronteira sul da região vinícola mais ao norte da Argentina, Salta, embora administrativamente seja uma parte da Província de Salta.

Salta e o Valle de Cafayate

Razoavelmente conhecido por seus Torrontes e Malbec, o Vale Calchaqui (um nome genérico para uma série de vales na borda da Cordilheira dos Andes) circunda Cafayate e tem algumas das paisagens mais espetaculares da Argentina, mudando rápida e dramaticamente do deserto às montanhas à floresta subtropical. Cafayate fica a 1700 m (5600 pés) acima do nível do mar, a uma latitude de 26 ° S (que compartilha com o deserto do Kalahari na África). Esta altitude é o que define o terroir da região, tornando-o adequado para a viticultura, apesar de sua proximidade com o Equador e o Trópico de Capricórnio. A altitude faz com que a luz solar que Cafayate receba é mais intensa do que nas regiões mais baixas, fazendo com que as uvas desenvolvam cascas mais espessas como proteção contra a radiação solar. Altitude também significa noites frias, alimentadas pelos ventos noturnos do oeste dos Andes cobertos de neve. As temperaturas podem ser cerca de 60F / 15C mais frias do que durante o dia, e é esta variação diurna da temperatura que prolonga a estação de crescimento e conduz ao equilíbrio nos vinhos acabados.

Os tipos de solo em Cafayate são variados, consistindo principalmente de argila arenosa de drenagem livre, com alguns bolsões de mais seixos. Estes solos secos causam stress nas vinhas, levando-as a produzir menos vegetação e menos uvas, reduzindo o rendimento global e contribuindo para os elevados níveis de concentração nos vinhos daí resultantes. Cafayate tem um clima desértico com baixa pluviosidade e umidade. As videiras são auxiliadas pela irrigação dos rios de degelo da região para mantê-las hidratadas durante o verão.

O terroir de Cafayate é particularmente adequado para a variedade Torrontes Riojana, que produz vinhos brancos florais e crocantes com uma profundidade de sabor surpreendente. Vinhos encorpados e ricamente estruturados feitos de Malbec e Cabernet Sauvignon também são produzidos em Cafayate.

E agora o vinho!

Na taça apresenta um amarelo palha brilhante e com reflexos esverdeados, com uma formação, de média intensidade, de lágrimas finas, que logo se dissipam.

No nariz o destaque fica para as notas florais, flores brancas, com, logo em seguida, as frutas aparecerem, frutas brancas, como melão, pera, maçã e um fundo cítrico, lembrando laranja e diria limão.

Na boca vem algumas peculiaridades, a começar pelo baixo amargor, aquele seco intenso no paladar, típico da cepa, não se percebe, bem como a baixa acidez, tornando o vinho delicado. As notas frutadas são evidentes também, como no aspecto olfativo. Um vinho fresco e direto, bem descompromissado, com um final curto.

Novas percepções, novas experiências, novas facetas, novas histórias sendo escritas de uma velha conhecida, de uma casta que acompanha a minha estrada enófila desde algum tempo, a boa e necessária Torrontés. O Cinco Tierras Sorbus me revelou que a grandeza da Torrontés nos torna pequenos, mas especiais, por ter a oportunidade de degustar essa cepa que, tão versátil, te entrega personalidade, complexidade e a simplicidade do seu frescor, da sua vivaz acidez. Terroir, tipicidade, palavras que, embora sejam tão próximas ao nosso vocabulário enófilo e tão complexas, pode permitir que façamos, graças aos rótulos que degustamos, viagens, nos tornar tão familiarizados com as terras de onde foram concebidos, a perfeita logística que nos conduz até as regiões, tendo a taça cheia como o veículo, a ponte. O Cinco Tierras Sorbus, com a sua jovialidade e frescor, apesar dos incríveis 6 anos de safra, de vida, mostrou vivacidade e marcante expressividade personificando as mais fiéis características da Torrontés. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Bodega e Viñedos Cinco Tierras:

Cinco Tierras é uma vinícola familiar que nasceu em 2000 por Rubén Banfi e sua esposa, Marie Geneviève, para produzir vinhos de alto padrão com uvas das melhores terras do país. Em 2002 lançaram os primeiros vinhos elaborados com uvas adquiridas a produtores independentes e os resultados foram tão favoráveis ​​que continuaram a desenvolver um crescimento sustentado. Em 2005, adquiriram uma fazenda de 25 hectares em Agrelo, Luján de Cuyo, estabelecida com antigos vinhedos Malbec, Merlot, Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc, e começaram a fazer um Torrontés com uvas do Vale do Cafayate em Salta.

A vinícola está localizada em Vistalba, Luján de Cuyo, e conta com os últimos avanços tecnológicos e uma capacidade de produção de 250.000 litros divididos em piscinas de cimento revestidas com epóxi (7.000 a 25.000 litros) e tanques de aço inoxidável (5.000, 7.500, 15.000 e 25.000 litros). Ele também tem 300 barris de carvalho francês no subsolo. Possui 3 linhas de vinhos: Cinco Tierras Reserva; Cinco Terras Clássicas e Sorbus. Em todos eles destacam-se a fruta e o equilíbrio, bem como uma excelente expressão varietal com um toque de carvalho.

Os itens são limitados, a Reserva varia entre 4.000 e 10.000 garrafas e a linha Classic cerca de 40.000. A produção anual é de 160.000 garrafas. Desde a primeira vindima, os vinhos Cinco Tierras tiveram uma aceitação muito boa tanto local como internacionalmente e foram premiados em importantes concursos. Atualmente exportam 70% da produção para França, Brasil, EUA e China.

Mais informações acesse:

www.bodegacincotierras.com.ar

Referências:

“Vinci”: https://www.vinci.com.br/c/tipo-de-uva/torrontes

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/torrontes

“Wine Searcher”: https://www.wine-searcher.com/regions-cafayate+-+calchaqui+valley

 


 


sábado, 10 de abril de 2021

Autoritas Reserva Cabernet Sauvignon 2017

 

Sabe aquele Cabernet Sauvignon frutado, redondo, equilibrado, mas com personalidade, alguma expressividade e ainda ter um custo extremamente atrativo, o famoso “vinho baratinho”? Pois é estimados leitores, acreditem se quiserem, existe sim e que vem do Chile, a terra do Cabernet Sauvignon potente e robusto, aqueles “carnudos” que parece que comemos com garfo e faca de tão encorpados. Que fique bem claro que não tenho nenhuma objeção com relação a essa proposta de Cabernet Sauvignon, mas é possível, muito possível, encontrarmos vinhos dessa cepa com um valor acessível e, ao mesmo tempo entregar muito além do que se esperava. Ah esses vinhos que nos surpreendem...

E o vinho mencionado já foi degustado em outras oportunidades, em outra safra e, nesta ocasião, eu buscava uma proposta atraente de custo X qualidade, eu buscava preço baixo e o risco é alto, afinal, além do preconceito de que o vinho barato não presta, podemos, por outro lado, alimentar uma grande expectativa acerca de um rótulo cuja proposta é mais básica. Mas o vinho surpreendeu, um vinho que me arrebatou por inteiro, foi uma explosão sensorial!

Mas confesso que a procedência também ajudou bastante e diria que teve a preponderância e direi que foi a grande escolha, afinal um produtor de renome mundial e sendo do Chile, um Cabernet Sauvignon do Chile! Ah evidente que não poderia ter um erro completo! O vinho em questão era o belíssimo Autoritas Reserva Cabernet Sauvignon da safra 2015

Então está revelado o vinho que degustei e gostei que veio, claro, do Chile, da região do Vale do Colchagua e é o Autoritas Reserva Cabernet Sauvignon da safra 2017. Mas uma “rodada” dessa linha muito interessante da Autoritas da emblemática vinícola Luis Felipe Edwards. Não posso negligenciar a degustação do Autoritas Chardonnay também que foi outro vinho que me impressionou pela leveza e informalidade, bem diferente dos “pesadões” Chardonnays chilenos. E ainda teve a grata surpresa do valor pago. Essa linha de rótulos já tem um valor bem acessível ao bolso, mas no dia em que estive fazendo as minhas visitas ao supermercado, tive a sorte grande de encontra-lo a um incrível valor de R$ 22,90! Pasmem! Pasmem!! Antes de falarmos do tão esperado  vinho, falemos de uma tradicional região do Chile que vale a pena produzir algumas linhas: Vale do Colchagua.

Vale do Colchagua

O Vale do Colchágua está localizado à aproximadamente 180 km de Santiago no centro do país, exatamente entre a Cordilheira dos Andes e o Pacífico. É cortado pelas águas do rio Tinguiririca, suas principais cidades são San Fernando e Santa Cruz, e possui algumas regiões de grande valor histórico e turístico como Chimbarongo, Lolol ou Pichilemu. Colchágua significa na língua indígena “lugar de pequenas lagunas”.

Vale do Colchagua

A fertilidade de suas terras, a pouca ocorrência de chuva e constante variação de temperatura possibilita o cultivo de mais de 27 vinhas, que, com o manejo certo nos grandes vinhedos da região e padrões elevados no processo de produção, faz com que os vinhos produzidos no vale sejam conhecidos internacionalmente, com alto conceito de qualidade. Clima estável e seco (que evita as pragas), no verão, muito sol e noites frias, solo alimentado pelo degelo dos Andes e pelos rios que desaguam no Pacífico, o Vale de Colchágua é de fato um paraíso para o cultivo de uvas tintas e produção de vinhos intensos. Em Colchágua, predomina o clima temperado mediterrâneo, com temperaturas entre 12ºC como mínima e 28ºC, máxima no verão e 12ºC e 4ºC, no inverno. Com este clima estável é quase nenhuma variação de uma safra para a outra; e a ausência de chuva possibilita um amadurecimento total dos vários tipos de uvas cultivadas na região. Entre as principais variedades de uvas presentes no Vale de Colchágua estão as tintas Cabernet Sauvignon, Merlot, Carmenère, Syrah e Malbec, que representam grande parte da produção chilena. O cultivo das variedades brancas, apesar de em plena ascensão, ainda se dá de forma bastante reduzida se comparada às tintas; as principais uvas brancas produzidas no vale são a Chardonnay e a Sauvignon Blanc. Ambas as variedades resultam vinhos premiados e cultuados por especialistas e amantes do vinho.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um vermelho rubi intenso, vivo e com reflexos violáceos, com lágrimas finas e abundantes.

No nariz explodem os aromas frutados, frutas vermelhas como cereja, framboesa, com notas agradáveis de madeira, bem integradas ao conjunto do vinho, devido a passagem de 6 meses por barricas de carvalho, baunilha e toques de especiarias e pimentão.

Na boca é seco, saboroso, macio, mas com alguma estrutura, as frutas vermelhas em destaque, como no aspecto olfativo. A madeira aparece, mas em perfeito equilíbrio com o vinho, deixando sobressair as características da cepa. Tem taninos finos, sedosos, boa acidez e um final de média persistência.

A palavra “Autoritas” vem do latim auctoritas, que significa prestígio, honra, respeito, autoridade. Esses valores foram o que inspirou a criação desta marca, desenvolvida por Luis Felipe Edwards Family Wines. A crista (brasão) da família, presente em cada garrafa, é o selo que reúne esses valores, passados ​​de geração em geração e expressos em cada copo da Autoritas. Esse prestígio é a assinatura desse produtor que, graças aos seus rótulos, independente de valores e propostas, foi conquistado ao longo desses anos. E é com autoridade que conquistou o meu coração definitivamente. A cada experiência sensorial com a linha “Autoritas” traz a certeza de que a tradição, qualidade e idoneidade personificam em tipicidade, o terroir dentro de uma garrafa que vai diretamente para a taça, para a nossa taça, a nossa degustação de cada dia. Um vinho redondo, honesto e, primordialmente, com um valor justo, que cabe no bolso em tempos bicudos! Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Viña Luis Felipe Edwards:

A Viña Luis Felipe Edwards foi fundada em 1976 pelo empresário Luis Felipe Edwards e sua esposa. Após alguns anos morando na Europa, o casal decidiu retornar ao Chile e, ao conhecer terras do Colchágua, um dos vales chilenos mais conhecidos, se encantou. Ali, aos pés das montanhas andinas, existia uma propriedade com 60 hectares de vinhedos plantados, uma pequena adega e uma fazenda histórica que, pouco tempo depois, foi o marco do início da LFE. De nome Fundo San Jose de Puquillay até então, o produtor, que viria a se tornar uma das maiores vinícolas do Chile anos mais tarde, começou a expandir sua atuação. Após comprar mais 215 hectares de terras no Vale do Colchágua nos anos de 1980, começou a vender vinho a granel, estudar a fundo seus vinhedos e os resultados dos vinhos, e cultivar diferentes frutas para exportação. O ponto de virada na história da Viña Luis Felipe Edwards veio na década de 1990, quando Luis Felipe Edwards viu a expectativa do mercado sobre os vinhos chilenos. Sabendo da alta qualidade dos rótulos que criava, o fundador resolveu renomear a vinícola e passou a usar o seu próprio nome como atestado de qualidade. Após um período de crescimento e modernização, especialmente com o início das vendas do primeiro vinho em 1995, a LFE se tornou um importante exportador de vinho chileno no começo do século XX. A partir de então, o já famoso produtor começou a adquirir terras em outras regiões do país. Na busca incessante por novos terroirs de qualidade, ele encontrou no Vale do Leyda um dos seus maiores tesouros: 134 hectares de videiras plantadas em altitude extrema, a mais de 900 metros acima do nível do mar.

Mais informações acesse:

https://www.lfewines.com/

Referências:

Site Clube dos Vinhos em: https://www.clubedosvinhos.com.br/um-passeio-pelo-vale-do-colchagua/

 




sábado, 3 de abril de 2021

Marquês de Marialva Colheita Seleccionada tinto 2015

 

Diz o ditado popular que “o raio não cai mais de uma vez em outro lugar”. Pois bem, no universo do vinho essa frase, a meu ver, não tem muita validade ou pelo menos não deveria ter, diria pelo menos em doses “homeopáticas” e seguras. Eu explico esse conjunto de charadas: por que não podemos repetir a degustação de um rótulo, de um rótulo que gostamos, que marcou a nossa vida? Podemos fazer melhor: Acompanhar a evolução de um vinho degustando safra por safra e exercitar a nossa capacidade de análise sensorial e reforçar, ou não, a nossa predileção, o nosso carinho por aquela linha de rótulos ou aquele produtor, nos estimulando a buscar novos vinhos, outras propostas dessa vinícola. Ah e quando falei das doses “homeopáticas” e seguras é não fazer dessa predileção uma temível zona de conforto, isto é, nos render aos mesmos vinhos, da mesma região, do mesmo produtor, das mesmas castas etc.

Mas vou falar de um vinho que degustei e gostei e que tive a oportunidade de degustar novamente, mas uma “nova safra”. Antes preciso contar uma história que me fez chegar a esse vinho, ou melhor, a região a qual ele faz parte. Estava eu assistindo a um dos raros programas de TV voltado para o mundo dos vinhos, no Canal Globosat, chamado “Um Brinde ao Vinho”, onde uma temporada fora Portugal e as suas mais importantes regiões vitícolas. Entusiasmado, a cada dia da exibição dos episódios, lá estava eu, diante da tela, mesmerizado, vendo tudo. E um desses dias foi sobre uma região que não conhecia chamada Bairrada. Me animei pelo simples fato de que iria conhecer uma nova região lusitana. Assisti ao programa e coloquei uma meta a ser traçada: buscar, procurar vinhos dessa região!

Confesso que pensei que seria muito difícil localizar, mas precisava esmero e dedicação para isso. Em uma das minhas necessárias incursões aos supermercados atrás de vinho atraente, de bom custo x benefício, comecei a procurar, não pelos vinhos da Bairrada, mas outro vinho, uma proposta que não conseguirei lembrar neste momento em que redijo essas linhas. Mas, o meu olhar, já descontente com o que eu não achei, já estava me preparando para sair de cena, quando me deparei com um rótulo que nunca tinha visto naquele supermercado que, regularmente visitava, e me aproximei para ter detalhes dele e o que encontrei: um vinho da Bairrada! Sem querer encontrei o que buscava desde aquele programa de TV quando conheci um pouco dessa região. O preço estava de acordo, mas fiquei temoroso quanto a safra, 2014. Mas precisava compra-lo e fui o que fiz. No dia da degustação tão esperada o vinho me surpreendeu de uma forma tamanha que eu precisava continuar comprando mais e mais vinhos da Bairrada e, em especial, da Adega de Cantanhede. Que produtor excepcional! 

Sem mais delongas o vinho que degustei e gostei no passado não muito distante e que continuo a gostar, veio, é claro, da Bairrada, e se chama Marquês de Marialva Colheita Seleccionada, um DOC tinto, da safra 2015, composto pelo blend das castas Baga (50%), a emblemática da região que também descobri, Tinta Roriz (30%) e Touriga Nacional (20%). Duas safras revelaram uma coisa óbvia e que evolui: a qualidade. E, claro que vale mais história. Falemos um pouco da Bairrada e sua emblemática casta, a Baga.

Bairrada e a sua casta Baga

Localizada na região central de Portugal e se estendendo até o Oceano Atlântico, especificamente entre as cidades de Coimbra e Águeda, a região vinícola da Bairrada – cujo nome é uma referência ao solo argiloso que a compõe – tem clima temperado bastante favorável às vinhas. A Bairrada é uma daquelas regiões portuguesas com grande personalidade. Apesar de sua longa história vínica, a certificação da região é recente. A Denominação de Origem Controlada (DOC Bairrada) para vinhos tintos e brancos é de 1979 e para espumantes de 1991. A Região Demarcada da Bairrada possui também uma Indicação Geográfica: IG Beira Atlântico.

Bairrada

Há registros que desde o século X é elaborado vinhos na região. Em 1867, o cientista António Augusto de Aguiar estudou os sistemas de produção de vinhos e definiu as fronteiras da região. Em 1867, vinte anos mais tarde, fundou a Escola Prática de Viticultura da Bairrada. Destinada a promover os vinhos da região e melhorar as técnicas de cultivo e produção de vinho. O primeiro resultado prático da escola foi a criação de vinho espumante em 1890. E foi com os espumantes que a região conquistou o mundo. Frutados, com um toque mineral e boa estrutura esses vinhos tornaram-se referencias e, até hoje, fazem da Bairrada uma das maiores regiões produtoras de espumantes de Portugal. Com o passar do tempo, as criações tintas ganharam espaço. Muito por conta do que os produtores têm feito com a Baga, casta autóctone da região. O grande responsável pelo fortalecimento internacional da região é o engenheiro Luís Pato. Conhecido como o Mr. Baga, Pato tem um trabalho minucioso sobre as uvas, tudo para conseguir um vinho autêntico com o mínimo de interferência externa. A uva Baga, uma das principais uvas nativas de Portugal, é capaz de oferecer enorme complexidade aos rótulos que compõe. Demonstrando muita classe e estrutura, a variedade da casta de tintos é única no seu valor e possui um fantástico potencial de envelhecimento, que atua com o vinho na garrafa durante anos após sua fabricação. Além de refinados e inimitáveis, os vinhos produzidos com esta variedade de uva apresentam muita personalidade e distinção. No passado, a Baga era conhecida por ser empregada na produção de vinhos rústicos, excessivamente ácidos e tânicos e de pouca concentração. Porém, após a chegada do genial Luís Pato, conhecido como o “revolucionário da Bairrada” e maior expoente desta variedade, a casta da uva Baga foi “domesticada”.

A localização da DOC Bairrada e suas características de clima e solo fazem dela uma região única. Paralelamente, o plantio das vinhas é feito em lotes descontínuos de pequenas proporções e faz divisa com outras culturas e outros usos de solo. Com isso, seus vinhos são de terroir, ou seja, o local onde a uva é plantada influencia diretamente em suas particularidades. Delimitada a Sul, pelo rio Mondego, a Norte pelo rio Vouga, a Leste pelo oceano Atlântico e a Oeste pelas serras do Buçaco e Caramulo, a região é composta por planalto de baixa altitude. O solo é predominantemente argilo-calcário, mas há algumas poucas regiões com solos arenosos e de aluvião. O clima é mediterrânico moderado pelo Atlântico. A região recebe forte influência marítima do oceano Atlântico. Os invernos são frescos, longos e chuvosos e os verões são quentes, suavizados pela presença de ventos frequentes nas regiões junto ao mar. A área se beneficia de grande amplitude térmica na época do amadurecimento das uvas. A variação que pode chegar aos 20ºC de diferença entre o dia e a noite.

O Decreto-Lei n.º 70/91 estabeleceu as castas castas autorizadas e recomendadas para produção de vinhos na DOC Bairrada. A lei descreve as diretrizes para elaboração dos vinhos tintos, rosés, brancos e espumantes. Para a produção de tintos e rosés com o selo DOC Bairrada, as castas recomendadas são Baga (ou Tinta Poeirinha), Castelão, Moreto e Tinta-Pinheira. No conjunto ou separadamente, deverão representar 80% do vinhedo, não podendo a casta Baga representar menos de 50%. As castas autorizadas são Água-Santa, Alfrocheiro, Bastardo, Jaen, Preto-Mortágua e Trincadeira. Para os vinhos brancos as castas recomendadas são Maria-Gomes (também conhecida como Fernão Pires), Arinto, Bical, Cercial e Rabo-de-Ovelha, no conjunto ou separadamente com um mínimo de 80% do encepamento: e as autorizadas são Cercialinho e Chardonnay. O vinho base para espumantes naturais devem ser elaborados através das castas recomendadas Arinto, Baga, Bical, Cercial, Maria-Gomes e Rabo-de-Ovelha; ou das autorizadas Água-Santa, Alfrocheiro-Preto, Bastardo, Castelão, Cercialinho, Chardonnay, Jean, Moreto, Preto-Mortágua, Tinta-Pinheira e Trincadeira. Em 2012 foi publicada a Portaria n.º 380/2012, que atualiza a lista de castas permitidas para elaboração dos vinhos DOC Bairrada.  Foi incluída recentemente uma autorização para o cultivo das castas internacionais Cabernet Sauvignon, Syrah, Merlot, Petit Verdot e Pinot Noir e das portuguesas Touriga Nacional, Castelão, Rufete, Camarate, Tinta Barroca, Tinto Cão e Touriga Franca. Vinhos elaborados com castas que não estejam relacionadas no Decreto-Lei, não podem receber o selo de DOC Bairrada e são rotulados com o selo Vinho Regional Beira Atlântico.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um vermelho rubi intenso com entornos violáceos, com lágrimas finas e em média intensidade.

No nariz predomina as frutas vermelhas maduras, como groselha e cereja, além de toques de especiarias, um discreto pimentão, baunilha e amadeirado graças aos 6 meses de passagem por barricas de carvalho.

Na boca traz também, como no aspecto olfativo, o toque frutado, um vinho “quente”, expressivo, mas macio e muito equilibrado, devido ao seu tempo de safra e pelo fato de ter passado dois meses na garrafa evoluindo antes de sair da adega. Tem taninos presentes, mas domados e finos, com baixa acidez, além de um amadeirado discreto muito bem integrado ao conjunto do vinho. Final de média intensidade.

Um raio cai sim e deve, no mundo dos vinhos, duas vezes ou mais nas nossas taças e fazer um reboliço nas nossas experiências sensoriais, iluminando os nossos dias com ótimas degustações, transformando-os em verdadeiras celebrações, uma verdadeira ode aos vinhos dessa região emblemática de Portugal que não faz tanto sucesso em terras brasileiras: a Bairrada! Espero acompanhar, seguir junto com a linha Marquês de Marialva Colheita Seleccionada, com seus rótulos tintos, safra após safra, desvendando nuances sensoriais que personificam na mais genuína qualidade que catapulta para o mundo a Bairrada e a sua casta emblemática, a Baga! Depois do Marquês de Marialva Colheita Seleccionada 2014, que venham mais e mais rótulos! Que os anos não passem em termos de qualidade e que retrate a tipicidade dessa região. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Adega de Cantanhede:

Fundada em 1954 por um conjunto de 100 viticultores, a Adega de Cantanhede conta hoje com 500 viticultores associados ativos e uma produção anual de 6 a 7 milhões de quilos de uva, constituindo-se como o principal produtor da Região Demarcada da Bairrada, representando cerca de 40% da produção global da região. Hoje certifica cerca de 80% da sua produção, sendo líder destacado nas vendas de vinhos DOC Bairrada DOC e Beira Atlântico IGP.

Reconhecendo a enorme competitividade existente no mercado nacional e internacional, a evolução qualitativa dos seus vinhos é o resultado da mais moderna tecnologia, com foco na qualidade e segurança alimentar (Adega Certificada pela norma ISO 9001:2015, e mais recentemente pela IFS Food 6.1.), mas também da promoção das castas Portuguesas, que sempre guiou a sua estratégia, particularmente das variedades tradicionais da Bairrada – Baga, Bical e Maria Gomes – mas também de outras castas Portuguesas que encontram na Bairrada um Terroir de eleição, como sejam a Touriga Nacional, Aragonez e Arinto, pois acredita que no inequívoco potencial de diferenciação e singularidade que este património confere aos seus vinhos.

O seu portfólio inclui uma ampla gama de produtos. Em tinto, branco e rose os seus vinhos vão desde os vinhos de mesa até vinhos Premium a que acresce uma vasta gama de Espumantes produzidos exclusivamente pelo Método Clássico, bem como Aguardentes e Vinhos Fortificados. É um portfólio que, graças à sua diversidade e versatilidade, é capaz de atender a diferentes segmentos de mercado, com diferentes graus de exigência em qualidade, que resulta na presença dos seus produtos em mais de 20 mercados.

A sua notoriedade enquanto produtor, bem como dos seus vinhos e das suas marcas, vem sendo confirmada e sustentadamente reforçada pelos prémios que vem acumulando no seu palmarés, o que resulta em mais de 750 distinções atribuídas nos mais prestigiados concursos nacionais e internacionais, com destaque para Mundus Vini – Alemanha, Concours Mondial de Bruxelles, Selections Mondiales du Vins - Canada, Effervescents du Monde – França, Berliner Wein Trophy – Alemanha e Japan Wine Challenge. sendo por diversas ocasiões o único produtor da Bairrada com vinhos premiados nesses concursos e, por isso, hoje um dos mais galardoados produtores da região. Em 2015 integrou o TOP 100 dos Melhores Produtores Mundiais, pela WAWWJ – Associação Mundial dos Jornalistas e Críticos de Vinho e Bebidas Espirituosas. Nos últimos 8 anos foi eleita “Melhor Adega Cooperativa” em Portugal por 3 vezes pela imprensa especializada.

Mais informações acesse:

https://www.cantanhede.com/

Referências:

“Reserva 85”: https://reserva85.com.br/vinho/indicacao-geografica-ig-denominacao-de-origem-do/regioes-demarcadas-de-portugal/bairrada/

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/baga

“Winepedia”: https://www.wine.com.br/winepedia/enoturismo/bairrada-uma-tradicao-de-seculos/

 

 

 






sexta-feira, 2 de abril de 2021

Vila de Frades branco 2018

 

Definitivamente degustar os vinhos com apelo regional é especial. Regional na verdadeira concepção da palavra, as castas locais, produtores locais, é uma ode à região e todas as suas nuances culturais, do que a terra e todas as suas propriedades geológicas e naturais podem oferecer. O terroir na sua expressão mais genuína e mais simples possível, pois, a partir do ato da degustação conseguimos entender as características mais marcantes dos vinhos produzidos em determinadas regiões.

Esse vinho sintetiza com fidelidade a rica e emblemática do Alentejo, em Portugal. Como que um lugar tão pequeno em termos geográficos, oferecer uma gama tão rica de vinhos nas suas mais diversas propostas, sejam eles vinhos brancos, tintos, complexos, jovens, encorpados, leves etc. E, devido a essa diversidade me tornei um grande fã dos vinhos alentejanos. Foram eles que abriram a janela para um mundo lusitano de vinhos diante dos meus olhos. Impossível não esquecer os meus primeiros rótulos portugueses oriundo dessa abençoada terra alentejana e, com as minhas experiências sensoriais com essa região, personificada com seus belos rótulos, descobri os brancos, confesso um pouco tardiamente, do Alentejo. E que vinhos maravilhosos e especiais!

E mais especial ainda que o rótulo por mim escolhido veio das mãos, cruzando o atlântico, direto de Portugal, por um bom amigo português. É um presente ter um amigo que aprecia bons vinhos e que se lembra de nós, pobres mortais enófilos aqui em terras brasileiras. A viagem foi garantida em todas as suas formas de interpretação: tanto no sentido literal da palavra quanto no sentido da experiência sensorial.

Ah amigos leitores, o vinho que degustei e gostei, como orgulhosamente disse, veio do Alentejo, na região da Vidigueira, é um branco, e se chama Vila de Frades, um blned composto pelas castas autóctones, tipicamente do Alentejo chamadas Antão Vaz (50%), Manteúdo (25%) e Roupeiro (25%) da safra 2018. E como não podemos negligenciar a história, falemos um pouco da região da Vidigueira e Vila de Frades e também dessas castas que, embora não sejam globais, se fazem significativas dentro de sua tradicional região do Alentejo.

Vidigueira e Vila de Frades

O topônimo “Vidigueira” é um derivado de “Vidigal” do latim “viticale”, cujo significado é “terreno onde cresce o vitex”, o mesmo que agnocasto, uma espécie de arbusto aromático. A existência desta povoação está documentada somente a partir do séc. XIII. No entanto, encontram-se registos de ocupação humana da região desde a pré-história. Para além do património megalítico, merecem referência as próximas villas romanas de São Cucufate e do Monte da Cegonha. Sem grande importância estratégica na defesa do território, o desenvolvimento desta vila foi essencialmente agrícola. Este facto é facilmente comprovado pela produção de vinho, uma vez que a Vidigueira é também o nome de uma Região de Origem Controlada. A sua fama vinícola já existia no séc. XV e no séc. XIX era a 7ª região produtora. O nome da Vidigueira está também ligado à figura histórica do Vasco da Gama, a quem D. Manuel I (1495-1521) concedeu o título de Conde da Vidigueira, em 1519. A Casa da Vidigueira, fundada então, permaneceu na mesma família até ao nosso século. Na torre do relógio da vila bate as horas um sino com a Cruz de Cristo e as armas dos Gamas gravadas, e a inscrição da data: 1520. Evoca-se ainda, a cerca de 2 km de Vidigueira outra memória de Vasco da Gama. Na capela-mor da igreja do convento de Nossa Senhora das Relíquias (já muito alterado nas suas linhas originais) estiveram depositados os restos mortais do descobridor do caminho marítimo para a Índia quando vieram de Cochim em 1539, até serem trasladados para o Mosteiro dos Jerónimos em 1898.

Vidigueira é uma vila portuguesa pertencente ao Distrito de Beja, região Alentejo e sub-região Baixo Alentejo, com cerca de 3 000 habitantes. É sede de um município com 314,20 km² de área e 5.963 habitantes (2006), subdividido em 4 freguesias. O município é limitado a norte pelo município de Portel, a leste por Moura, a sueste por Serpa, a sul por Beja e a oeste por Cuba. No coração do Alentejo, fica o concelho da Vidigueira, o quarto menor do Baixo Alentejo. Este pequeno concelho está delimitado pela Serra do Mendro a norte, o rio Guadiana a leste e a planície que se estende até perder de vista para sul. É nesta harmonia entre serra, planície e rio que assenta a riqueza das terras, onde proliferam as hortas, laranjais, vinhas, olivais e os campos de cereais.


Vidigueira, Vila de Frades e o Alentejo

A economia da freguesia assenta na agropecuária, sendo de salientar que as culturas predominantes são a da vinha e a da oliveira, cujo produto ao longo dos tempos adquiriu notoriedade a nível nacional. A caça é atualmente um fator económico importante; assim como a silvicultura e a indústria alimentar, destacando-se, ainda, o papel da Administração Local. No artesanato predominam os bonecos em barro, em madeira e de trapos, destinados a decoração. A região de Vila de Frades, que dá nome ao vinho, é uma vila portuguesa sede da freguesia homónima de Vila de Frades do município de Vidigueira, na região do Alentejo. Inserida na paróquia de São Cucufate, instituída em 1255, a povoação que surgiu nesse local pertencente aos frades de São Vicente de Fora tomou, logicamente, o nome de Vila de Frades (Detalhes sobre a região disponível no link: https://pt.wikipedia.org/wiki/Vila_de_Frades).

Até 1854 foi sede de concelho. Na sequência de uma Reforma Administrativa no século XIX, Vila de Frades foi integrada na Vidigueira, passando a ser uma freguesia deste Município.

As castas típicas do Alentejo

Antão Vaz

Pouco se sabe sobre as origens da casta Antão Vaz, mas curiosamente era este o nome do avô de Luís Vaz de Camões, poeta que celebrou em “Os Lusíadas” os descobrimentos e a viagem de Vasco da Gama de Portugal à Índia. Apesar da aura misteriosa que a rodeia, uma coisa se conhece: a sua filiação alentejana. E também que viajou pouco. Fora do seu Alentejo natal, apenas a Península de Setúbal a planta com alguma expressão, e não se encontram sinonímias para ela noutras regiões – como acontece com tantas outras castas –, comprovando-se assim a sua falta de apetência emigrante. Consensual, amada igualmente por viticultores e enólogos, a Antão Vaz é indiscutivelmente o “ex-libris” das castas brancas alentejanas, o orgulho e alma dos produtores locais. Particularmente bem adaptada ao clima soalheiro da grande planície, apresenta excelente resistência à seca e doença. Mais: é consistente, produtiva, e amadurece de forma homogénea. Tudo condições mais do que suficientes para a tornar incontornável no cenário dos vinhos brancos alentejanos. Por regra, dá origem a vinhos estruturados, firmes e encorpados, embora por vezes lhe falte acidez refrescante e revigorante. Daí a associação comum com as castas Roupeiro e Arinto, que contribuem com uma acidez mais viva. Se vindimada cedo, pode dar origem a vinhos vibrantes no aroma e a acidez firme; se deixada na vinha, pode atingir grau alcoólico elevado e aromas fragrantes, o que a torna boa candidata ao estágio em madeira. Os vinhos feitos com a Antão Vaz apresentam por regra aromas exuberantes, apresentando-se estruturados e densos no corpo.

Roupeiro

Roupeiro é uma das castas brancas mais utilizadas no Alentejo. Noutras regiões tem o nome de Síria ou Códega. Casta de uva branca muito utilizada em Portugal é recomendada nas regiões da Beira Interior com o nome de Codo ou Síria, no Douro com o nome de Códega e em todo o Alentejo com o nome de Roupeiro. Produz vinho com aromas primários muito interessantes a flor e a fruto, mas é sensível à oxidação e o seu vinho deve ser consumido nos anos imediatamente seguintes à colheita. Em geral, produz vinhos básicos para serem consumidos jovens, mostrando aromas de frutas cítricas e de caroço, além de notas florais. Quando bem feito, seu vinho apresenta aromas perfumados de frutas cítricas, pêssego, melão, loureiro e flores silvestres. Entretanto, perde rapidamente estes aromas, tornando-se bastante neutra após alguns meses em garrafa. Pode também oxidar rapidamente, sendo uma opção para vinhos jovens, de grande saída. Outros sinônimos: Síria, Malvasia Grossa, Dona Branca, Códega etc.

Manteúdo

Pouco se tem de informação sobre a casta Manteúdo, mas apenas se sabe, de acordo com sites e portais pela internet, é de que a mesma é produzida na região de Algarve.

E finalmente o vinho!

Na taça revela um lindo amarelo ouro, com brilhantes reflexos esverdeados, com alguma concentração de lágrimas finas e que demora um pouco a se dissipar, mostrando a sua personalidade.

No nariz a explosão de aromas frutados sobressai, frutas brancas, frutas tropicais e cítricas, suscitando em uma boa complexidade aromática, corroborando a sua jovialidade e frescor.

Na boca é seco e com alguma estrutura e intensidade, revelando uma marcante personalidade, as notas frutadas são percebidas como no aspecto olfativo, com uma acidez equilibrada, um belo volume de boca, diria uma discreta untuosidade, fechando com grande persistência e um retrogosto frutado.

O apelo regional tem sido a base, o pilar de minhas novas experiências sensoriais e, por mais que teoricamente os vinhos regionais possam limitar-se, geograficamente falando, aos seus domínios, as suas cercas territoriais, se revelam grandiosos e significativos na sua relevância para um simples enófilo como eu, cujo garimpo não se limita ao agradável ato da degustação, mas ao processo cognitivo cultural em conhecer as identidades mais relevantes de uma cultura de um povo que construiu ao longo dos anos, dos séculos, sua história vinícola, com terroirs tão ricos e complexos. Um vinho de personalidade, expressivo, jovial, fresco, que entrega a versatilidade de uma rica região como o Alentejo. Que o regional globalize os seus mais intensos e gloriosos feitos para que todos, sem exceção, todos os enófilos, possam usufruir de toda essa experiência sensorial. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Adega Cooperativa Vidigueira, Cuba e Alvito

A Adega Cooperativa de Vidigueira, Cuba e Alvito foi fundada em 1960, mas a sua cronologia vai muito para além dos seus 60 anos de existência. Foi criada para proteger a vinha, o vinho e o estilo de vida milenar desta sub-região de vinhos e aportar ainda mais renome e qualidade ao vinho aqui produzido.

Ao longo dos anos, um intenso esforço tem-se vindo a fazer para proteger as castas e as técnicas de produção, pelo que, no património vitícola da Adega descobrem-se castas autóctones, aperfeiçoadas de geração em geração, entre as quais sobressai a Antão Vaz. Esta casta legitimada como a casta da Vidigueira e musa inspiradora da Adega, dá origem a um vinho branco excecional cuja notoriedade lhe vale o título de “O Branco do Alentejo”.

Com uma produção aproximada de 8 milhões de garrafas de vinho por ano, resultado da exploração de cerca de 1500 hectares de vinha dos seus cerca de 300 sócios, é hoje uma moderna e proeminente adega. Nunca esquecendo as suas origens, projeta-se para o futuro apoiada nas gentes e na qualidade do terroir da sub-região de vinhos.

Mais informações acesse:

https://adegavidigueira.pt/

Referências:

“Wikipedia”: https://pt.wikipedia.org/wiki/Vila_de_Frades

“Clube dos Vinhos Portugueses”: https://www.clubevinhosportugueses.pt/turismo/roteiros/vinhos-da-sub-regiao-da-vidigueira-denominacao-de-origem-alentejo/

“Vinhos do Algarve”: https://www.vinhosdoalgarve.pt/pt/regiao/castas

“Revista de Vinhos”: https://www.revistadevinhos.pt/beber/antao-vaz

“Terras de Portugal”: http://www.terrasdeportugal.pt/vidigueira

“Freguesia Vidigueira”: https://www.freguesiavidigueira.pt/index.php/freguesia/historia

“Visit Portugal”: https://www.visitportugal.com/pt-pt/content/vidigueira#:~:text=XIX%20era%20a%207%C2%AA%20regi%C3%A3o,fam%C3%ADlia%20at%C3%A9%20ao%20nosso%20s%C3%A9culo.