terça-feira, 1 de junho de 2021

Adobe Gewürztraminer 2015

 

Nos dias atuais eu tenho garimpado novas experiências sensoriais, saindo da temível zona de conforto, com novas castas e novas regiões pelo menos para mim. Mas esse meu desejo, essa minha avidez pelo novo no universo do vinho já vem de algum tempo, já vinha atingindo contornos há pelo menos uns 3 ou 4 anos, aproximadamente. Embora algumas cepas sejam populares em seus países de origem ou na maioria dos países consumidores e produtores de vinho, no Brasil ainda são carentes de oferta de rótulos.

E o exemplo é a casta chamada “Gewürztraminer”. O nome é grande e até, as vezes, para muitos, é impronunciável, mas quando a conheci, quando a descobri sem querer (sempre é assim, já reparou?) nunca havia degustado uma casta tão delicada, tão aromática, mas de marcante personalidade em minha vida. Que primor! Que maravilha! Parece que você está cheirando um buquê de flores brancas, parece que você está em um campo com flores brancas e você, no meio, a correr, como se estivesse levitando com tamanho aroma.

A minha primeira experiência com a Gewürztraminer foi, como sempre, em um evento de degustação em minha cidade, Niterói, um evento, anualmente, produzido por uma grande rede de supermercados local. Isso foi há pouco tempo, em 2017. Quando me aproximei do estande de uma vinícola chilena importante chamada Emiliana, conhecida mundialmente por produzir vinhos orgânicos e biodinâmicos e que pertence a gigante Concha Y Toro, percebi alguns vinhos de rótulos simples, mas elegantes e a minha curiosidade foi o imã para tê-los em minhas mãos e em minha taça.

E foi aí que vi o nome da casta: enorme, difícil de falar, pedi ajuda para o demonstrador que, muito atencioso, falou pelo menos umas duas vezes ou mais, não me recordo, para eu aprender a falar: Gewürztraminer! E degustei o Adobe dessa casta e adorei! Que vinho interessante e saboroso! O paladar sucumbiu deliciosamente a cepa de nome complicado! O que importa! E decidi compra-lo, ir, onde quer que eu fosse para tê-lo em minha adega, até que, um belo dia, o encontrei.

Não demorei muito para degusta-lo e logo o tirei da adega para deleite das minhas experiências sensoriais. Então o vinho que degustei e gostei veio de uma região chilena chamada Valle del Rapel, que possui uma denominação de origem, e, claro, se chama Adobe Gewürztraminer da safra 2015.

Um pouco de curiosidade sobre o nome “Adobe”: O Adobe é um material natural milenar utilizado nas construções chilenas e que inclusive faz parte da estrutura da vinícola. Considerada uma linha Reserva, são feitos com uvas orgânicas e refletem a qualidade de seus vinhedos, tendo sempre um profundo respeito pelo meio ambiente e seus trabalhadores.

Adobe

Valle del Rapel DO

Para quem adora apreciar vinhos não apenas pela bebida em si, mas também pela História que está por trás de sua produção e, principalmente, por conta da região onde ele foi produzido, uma boa opção é começar a procurar por destinos interessantes onde é possível fazer turismo e degustar bons vinhos aqui por perto. Neste sentido, países como Uruguai, Argentina e Chile, são pródigos em oferecer boas opções para quem deseja viajar e se aprofundar mais dentro da História da produção vinícola destas regiões. Um bom exemplo disto é a região conhecida como Vale do Rapel, no Chile.

De todas as regiões vinícolas do Chile, o Vale do Rapel é sem sombra de dúvidas uma das mais interessantes para quem deseja unir turismo e vinhos de qualidade numa única viagem. A região responde por alguns dos melhores vinhos do Chile, e tem em suas origens ligadas ao início da produção vinícola no chamado Vale Central, que é uma das regiões mais importantes em matéria de vinhos do país, e que fica ao sul da capital, Santiago.

Vale del Rapel

O Vale do Rapel segue aquela velha lógica que indica que sempre que há um vale, também há um rio próximo, e neste caso, este rio atende pelo nome de Rio Rapel, que é o principal rio que corta e abastece toda a região. A agricultura de um modo geral é muito beneficiada pela presença do Rio Rapel, mas a produção vinícola é a que mais se favoreceu de sua presença, conseguindo traduzir isto em vinhos de altíssima qualidade. Boa parte da produção vinícola Vale Central do Chile tem sua origem no Vale do Rapel, que consegue entregar variedades das mais interessantes.

O Vale do Rapel se notabiliza pela produção de alguns dos vinhos mais importantes do Chile, sendo que dentre as variedades de vinhas mais cultivadas na região estão as seguintes: Cabernet Sauvignon e Carmenère. Portanto, se você procura por vinhos bons originários do Vale do Rapel, provavelmente terá de procurar entre as opções destas variedades de vinhas. Mas a região também produz vinhos Merlot, Cabernet Franc e Syrah, especialmente mais ao norte do Vale do Rapel.

Gewürztraminer, a casta aromática

A inconfundível casta Gewürztraminer é uma uva de aroma peculiar, que lembra lichia, rosas, manga e pode ser bastante apimentada. A origem do nome da casta é ainda muito discutida, para alguns estudiosos do mundo do vinho, o prefixo “gewürz” (especiaria em alemão), faz referência a grande variedade de aromas encontrados nos vinhos elaborados a partir da casta, já para alguns degustadores, o nome foi dado a cepa por conta de suas características bastante marcantes, o aroma e perfume que denota aos vinhos brancos.

A origem da uva Gewürztraminer ainda é passível de dúvidas. A teoria mais provável é que a cepa tenha se originado na Itália, no vilarejo de Traminer, entretanto, há suposições de que a casta tenha parentesco com a cepa Amineada Thessalia e tenha se originado ao norte da Grécia. Apesar de ser cultivada em países do Novo Mundo, Chile, Austrália, Estados Unidos e Nova Zelândia, a cepa obtém bastante sucesso nos vinhedos da Europa, sendo as da região da Alsácia (França) e de Pfalz (Alemanha) as melhores uvas da casta.

Com características físicas e sabores bastante marcantes, a uva Gewürztraminer é utilizada na elaboração de vinhos bastante diferentes entre si, a cepa pode originar vinhos que vão de brancos secos e bem encorpados até maravilhosos e doces vinhos de sobremesa. A uva Gewürztraminer possui difícil cultivo e por isso baixos rendimentos. Os vinhos elaborados com a casta possuem coloração intensa que varia entre um amarelo bem escuro e dourado com presença de acidez bastante delicada, característica que contribui para que a maioria dos exemplarem seja apreciada enquanto jovens. Muito dos rótulos elaborados na Alsácia Francesa possui maior taxa de acidez, podendo assim, os vinhos serem degustados com maior tempo de envelhecimento.

Possuindo aspecto aromático bastante elevado, os vinhos brancos secos elaborados com a cepa Gewürztraminer acompanham e harmonizam excelentemente bem com pratos que possuam bastante presença de condimentos, destacando-se a gastronomia tailandesa, chinesa e indiana. Já as versões mais adocicadas de vinhos brancos originários da casta, contrastam e criam um inesquecível sabor no paladar quando degustados juntamente com sobremesas que possuam frutas como base.

E agora finalmente o vinho!

Na taça possui um amarelo claro, palha com reflexos esverdeados que traz um brilho lindo e envolvente.

No nariz traz a explosão aromática, o principal destaque desta casta, o seu predicado, e entrega notas frutadas, de frutas brancas como abacaxi, pera, damasco, um toque herbáceo, de ervas que outro destaque maravilhoso da casta, sem contar com os aromas florais, de flores brancas que traz frescor e elegância ao vinho.

Na boca é saboroso, fresco, jovial e de marcante personalidade, por ser persistente, deixando uma grata sensação de doçura no paladar sem ser enjoativo, com uma acidez refrescante e equilibrada com um final prolongado e frutado. Passou 4 meses em tanques de aço inoxidável.

Um vinho orgânico como nunca havia degustado, meu primeiro branco orgânico que degustei e que estará definitivamente nos anais da minha humilde história de degustador neste vasto e inexplorado universo dos vinhos, da poesia líquida. Um vinho que consegue ser, ao mesmo tempo, delicado, elegante, mas poderoso, intenso, de personalidade. Uma drincabilidade, uma versatilidade que pode atingir em cheio vários paladares, dos mais exigentes e experientes aos mais joviais daqueles que estão começando a seguir no caminho do vinho. Versátil também na gastronomia, harmonizando com comidas leves e também sozinho, sem refeições, mas apenas com um bate papo informal com bons amigos para celebrar a vida e a este vinho que sintetiza como poucos o terroir diversificado do Chile. Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Emiliana Organic & Vineyards:

No final da década de 1990, os visionários Rafael e José Guilisasti, perceberem que o mercado estava começando a mudar e que o consumidor global estava começando a se tornar mais consciente dos produtos que estava consumindo, não só por uma questão de saúde, mas também por seu efeito ambiental e social.

Foi assim que eles, juntamente com a visão enológica de Álvaro Espinoza, iniciaram o processo de conversão de uma vinícola chilena convencional em uma vinícola 100% orgânica e biodinâmica, com o firme propósito de criar vinhos da mais alta qualidade com respeito pela natureza e pelas pessoas.

Depois de mais de duas décadas o que começou como um sonho, hoje está corporizado em um portfólio completo, com grande reconhecimento nacional e internacional, e que se adequa as novas necessidades de nossos consumidores.

Mais informações acesse:

http://www.emiliana.cl/pt/


Referências:

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/gewurztraminer

“Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/os-encantos-do-vale-do-rapel-no-chile/#:~:text=A%20regi%C3%A3o%20responde%20por%20alguns,ao%20sul%20da%20capital%2C%20Santiago.

Degustado em: 2017






sábado, 29 de maio de 2021

Amandla! Red Fusion 2019

 

Tão prazeroso quanto degustar um vinho e seus rituais é a mensagem que o mesmo pode nos proporcionar de edificante. As vezes elas se conduzem de forma discreta, quase que imperceptível ao olho humano ou a sutileza ou se mostra de forma veemente e contundente diante de nossas retinas, mas está lá, seja no rótulo ou qualquer formato de comunicação.

Sempre defendi, de forma intensa e filosófica de que vinho e cultura andam de mãos dadas e mantém uma relação sinérgica, estreita e um complementa o outro, uma perfeita convergência a serviço de nós, pobres mortais enófilos. Além do apelo visual, do rótulo, austero ou descontraído, das regiões e suas tipicidades, com as suas castas, a história literalmente conta.

Quando recebi esse vinho de um clube de vinhos que não escolhemos, o que pode parecer um fator complicador, eu gostei, mas, confesso que, a priori, por desconhecer as informações contidas no seu rótulo, não significa muito para mim. Mas quando decidi que iria degusta-lo resolvi buscar maiores detalhes sobre o seu nome, que me chamou alguma atenção.

Quando as informações começaram a aflorar em uma explosão de conhecimento, algumas percepções acerca do vinho corroboraram claras como água cristalina. E não se enganem com algo do tipo “autoajuda” que, em vez de ajudar, diminui ainda mais o seu autoestima, muito pelo contrário, que adiciona valor a sua degustação.

O vinho que degustei e gostei veio da África do Sul da emblemática e poderosa região do Western Cape e se chama Amandla! Red Fusion com um avassalador e interessante blend das castas Shiraz (41%), Cabernet Sauvignon (34%), Merlot (16%) e Pinotage (9%) da safra 2019.

E antes de falar sobre o significado de “Amandla!” e das suas relevâncias culturais e históricas falemos um pouco da história de sua importante região: Western Cape, importante polo de produção vitivinícola da África do Sul.

Western Cape: a toda poderosa região vinícola sul africana

Localizada a sudoeste da África do Sul, tendo a Cidade do Cabo como ponto central, Western Cape é a principal região vitivinícola do país, responsável por cerca de 90% da produção vinícola do país. Boa parte da indústria do vinho sul-africana se concentra nessa área e microrregiões como Stellenbosch e Paarl são alguns de seus principais destaques. Com terroir bastante diversificado, a combinação do clima mediterrâneo, da geografia montanhosa, das correntes de ar fresco vindas do Oceano Atlântico e da variedade de uvas permite que Western Cape seja considerada uma verdadeira potência da produção de vinhos no país. Suas regiões vinícolas estendem-se por impressionantes 300 quilômetros a partir da Cidade do Cabo até a foz do rio Olifants ao norte, e cerca de 360 quilômetros até a Baía Mossel, a leste – para entender essa grandiosidade, vale saber que regiões vinícolas raramente se estendem por mais de 150 quilômetros.

Western Cape

O clima fresco e chuvoso também favorece o plantio e a colheita por toda a região. Entre os grandes destaques de Western Cape estão as uvas Pinotage, Cabernet Sauvignon e Shiraz, que dão origem a excelentes varietais e blends. Entre os brancos – que, por si só, têm grande reconhecimento mundial –, brilham a Chenin Blanc, uva mais cultivada do país, a Chardonnay e a Sauvignon Blanc. As primeiras vinhas plantadas na região remetem ao século XVII, trazidas por exploradores europeus que se fixaram por lá. Durante vários séculos, fatores como o estilo rudimentar de produção, o Apartheid e a falta de investimentos mantiveram a cultura vitivinícola sul-africana limitada ao próprio país. Somente no início do século XX, com a formação da cooperativa KWV, que a África do Sul começou a responder por todo o controle de qualidade do vinho que se produzia por lá, e seus rótulos passaram a chamar a atenção do mercado internacional, dando início a um processo de exportação que conta, inclusive, com selos de qualidade específicos para a atividade. A proximidade da Cidade do Cabo facilita o acesso dos visitantes às inúmeras rotas vinícolas e turísticas de Western Cape, que incluem experiências como caminhadas, degustações por suas muitas bodegas, além de ótimos restaurantes e hospedagens em suas pequenas e aconchegantes cidades, a maioria em estilo europeu.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um rubi intenso com tons violáceos muito brilhantes com uma boa concentração de lágrimas finas e persistentes que desenham as bordas do copo.

No nariz traz uma explosão aromática de frutas negras, onde se destacam ameixa, amora, groselha preta com o toque de especiarias, de pimenta, típica da Syrah, maior percentual no blend.

Na boca é aveludado, mas que goza de uma marcante personalidade fazendo deste vinho versátil e de ótima drincabilidade, sendo muito saboroso corroborando com um bom volume de boca. As especiarias, as notas picantes se fazem presente, a Syrah domina as atenções, com as frutas negras se reproduzindo, crédito da Cabernet Sauvignon, com taninos presentes, mas domados e uma boa acidez que confere ao vinho jovialidade. Final persistente.

“Amandla!” significa poder nas línguas locais da África Sulista. É normalmente usado para criar um sentimento de unidade e união. O produtor afirma que o vinho traz a lembrança de que a força e a unidade são criadas quando se trabalha junto, simbolizando todas as mãos envolvidas na produção desta garrafa de vinho. Quando falamos, até de forma demasiada, em tipicidade, em terroir, traz a luz quando as mãos que criaram, que conceberam esse vinho, que vem com a cultura de um povo, o amor e o respeito a terra de onde se faz a vindima, todo o detalhe constrói o conceito e a proposta do vinho. Amandla! Red Fusion traz uma textura macia, uma elegância, um equilíbrio com personalidade, mas muito fácil de degustar. Um vinho ainda na plenitude de sua jovialidade, sintetizando o caráter expressivo e frutado dos típicos vinhos sul africanos. E os 10 meses que passou em tanques de aço inoxidável trouxeram à tona as características genuínas de todas as castas que compuseram esse interessante blend. As mãos, o trabalho, a dedicação e o esmero a serviço do enófilo, para seu deleite. Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Marianne Wine Estate & Guesthouse:

Originário de Bordeaux, a família possui 3 propriedades vinícolas, se aproximando da África do Sul graças as suas várias viagens pelo mundo, aportando no sul da África.

O nosso sonho era combinar o Velho e o Novo Mundo para fazer vinhos próximos da da visão de perfeição dos produtores. Portanto, decidiram comprar a Marianne Wine Estate & Guesthouse, uma vinícola boutique de 32 hectares (incluindo 24 em vinhas) localizada no vale Simonsberg em 2004.

A colheita manual, a seleção das melhores uvas, o envelhecimento em carvalho francês e acácia, combinados com um "savoir-faire" francês do enólogo sul-africano Jos Van Wyk, irão levá-lo a explorar alguns dos melhores vinhos produzidos na região.

Mais informações acesse:

http://www.mariannewines.com/

Referências:

“Vinho Capital”: https://vinhocapital.com/tag/wine/page/3/

“Wine”: https://www.wine.com.br/winepedia/enoturismo/western-cape-a-gigante-sul-africana/?doing_wp_cron=1611015613.7245669364929199218750#:~:text=Localizada%20a%20sudoeste%20da%20%C3%81frica,alguns%20de%20seus%20principais%20destaques.

 

 





sábado, 22 de maio de 2021

Torcello Cabernet Sauvignon 2015

 

Eu sempre defendi e defendo que a degustação de um vinho não se restringe ao consumo meramente, a degustação propriamente dita, embora seja o ápice, o momento épico, único, singular. Porém degustamos também a informação que absorvemos o conhecimento decantado, o banho de cultura, um escambo cultural é necessário sem nenhuma sombra de dúvida e não é mero preciosismo, mas também a certeza de que podemos ter acesso aos mais diversos rótulos, castas, regiões, países e o principal: novas experiências sensoriais que nos propicie a melhor, adivinhe, degustação, o célebre momento da degustação.

O caso desse rótulo retrata fielmente o que registrei acima. Em meados dos anos 2000, não sei dizer ao certo o ano, talvez 2013, eu participei de um evento de degustação no Rio de Janeiro, no Centro da cidade. Esse evento de degustação, tornou-se, por cerca de duas horas, o centro de minha atenções, o deleite das minhas experiências sensoriais. Eram muitos rótulos, estava difícil escolher por onde começar: vinhos brasileiros, italianos, portugueses...que dúvida ótima essa, não é?

Mas comecei as degustações e de estande por estande, produtor por produtor, observei, ainda ao longe, distante até, mas aproximei, interessado e, como que atraído, como um imã, cheguei em um estande que não tinha tantos rótulos disponíveis, mas que me interessou e confesso que não sabia o motivo pelo qual tinha sido atraído para aquele estande, para aquele produtor, talvez pelo fato de ser um rótulo novo, pouco conhecido à época.

Era um vinho brasileiro, de uma vinícola nova, mas que pertencia a gigante, tradicional e importante Família Valduga da região de Bento Gonçalves, no Vale dos Vinhedos. E isso eu fui descobrindo pelo fundador, Rogério Carlos Valduga, isso mesmo, o criador da vinícola em pessoa estava diante de mim, muito atencioso e simpático, que passava, sem hesitar, todas as informações dos rótulos disponíveis e da sua vinícola. Fiquei tão entusiasmo quando degustei cada um deles, Merlot, Tannat etc, que diante da opção sensorial, os meus sentidos apontou para o Torcello, esse também é o nome da vinícola e que dá nome aos vinhos também, da casta Tannat da safra 2014.


Eu estava experimentando os Tannats nacionais e estava gostando e muito dos rótulos escolhidos, então esse veio a calhar e como veio! Então aqui seguem as minhas impressões, mais do que entusiasmadas, desse ótimo vinho: Torcello Tannat 2014. Mas o tempo foi passando, descobertas foram sendo feitas, novas experiências sendo empreendidas e no ano de 2017, em mais um evento de degustação conhecido como “Vinho na Vila”, direcionado apenas aos vinhos nacionais, lá estava eu passeando pelos estandes e conhecendo um pouco mais os rótulos brasileiros. Esse evento foi emblemático, um verdadeiro divisor de águas para mim, no que tange ao contato mais intenso com os vinhos tupiniquins.

E por uma grata surpresa lá estava o estande da Torcello! Agora com uma bela diversidade de rótulos, novos rótulos para mim e os que eu já conhecia daquela época de 3 ou 4 anos atrás. E neste evento o Rogério Carlos Valduga de novo, juntamente com a sua simpática, empatia e atenção tão característica que tive a oportunidade de ver há algum tempo atrás. Claro que fui até o estande, não hesitei desta vez e degustei um a um e cheguei ao Cabernet Sauvignon (não me recordo se tinha degustado este na primeira vez, no primeiro contato com os vinhos da Torcello), fui servido, a minha taça cheia de novidades! O degustei e gostei! Que vinhaço! Então não hesitei em levá-lo.

Ficou em minha adega por longos 4 anos! E com 6 anos de safra, um vinho mais austero, poderoso, mas afinado pelo tempo. A ansiedade palpitava! É chegada a hora de degusta-lo. Então o vinho que degustei e gostei veio do Brasil, da região do Vale dos Vinhedos e se chama claro, Torcello da casta Cabernet Sauvignon (100%) da safra 2015. Mas antes de falar do vinho não podemos deixar de enaltecer a região de onde é oriunda: Vale dos Vinhedos!

O Vale dos Vinhedos

O Vale dos Vinhedos localiza-se no centro do triângulo formado pelas cidades de Bento Gonçalves (nordeste), Monte Belo do Sul (noroeste) e Garibaldi (sul). O Vale dos Vinhedos compreende a parte da bacia hidrográfica do Rio Pedrinho, situada a montante da foz de um córrego afluente deste e situado a sudeste da comunidade de Vale Aurora, no município de Bento Gonçalves. A parte do vale a jusante é denominada de Vale Aurora. A maior parte da área do Vale dos Vinhedos fica localizada em território do município de Bento Gonçalves, com 55 por cento do total, e a menor parte fica localizada em território de Monte Belo do Sul, com 8 por cento na porção noroeste. A parte sul do Vale pertence ao município de Garibaldi, com 37 por cento da área total. Parte da zona urbana de Bento Gonçalves situa-se dentro do perímetro do Vale, haja vista que a linha divisória de águas entre as bacias do Rio Pedrinho e do Rio Buratti passa pela parte oeste da cidade. Localizam-se ao longo desta linha, ou próximo desta, a pista do Aeroclube de Bento Gonçalves, a Estação Rodoviária de Bento Gonçalves, o Estádio da Montanha e a Estação Ferroviária de Bento Gonçalves.

Vale dos Vinhedos

O Vale dos Vinhedos foi a primeira região com classificação de Denominação de Origem (DO) de vinhos no país. Sua norma estabelece que toda a produção de uvas e o processamento da bebida seja realizada na região delimitada do Vale dos Vinhedos. A DO também apresenta regras de cultivo e de processamento mais restritas que as estabelecidas para a Indicação de Procedência (IP), em vigor até a obtenção do registro da DO, outorgado pelo INPI.

Vale dos Vinhedos DO

Detalhes da Denominação de Origem do Vale dos Vinhedos

1 - A produção de uvas e a elaboração dos vinhos ocorrem exclusivamente na região delimitada do Vale dos Vinhedos, uma área de 72,45 km2 localizada nos municípios de Bento Gonçalves, Garibaldi e Monte Belo do Sul.

2 - Existem requisitos específicos para de cultivo dos vinhedos, produtividade e qualidade das uvas para vinificação;

3 - Os espumantes finos são elaborados exclusivamente pelo “Método Tradicional” (segunda fermentação na garrafa), nas classificações Nature, Extra-brut ou Brut; para este produto as uvas Chardonnay e/ou Pinot Noir são de uso obrigatório; 

4 - Nos vinhos finos brancos, a uva Chardonnay é de uso obrigatório, podendo ter corte com a Riesling Itálico;

5 - O uso da uva Merlot é obrigatória para os vinhos finos tintos da DO, os quais podem ter cortes com vinhos elaborados com as uvas Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Tannat;

6 - Os produtos que passam por madeira envelhecem exclusivamente em barris de carvalho;

7 - Para chegar ao mercado, os vinhos brancos passam por um período mínimo de envelhecimento de 6 meses; no caso dos vinhos tintos são 12 meses; os espumantes finos passam por um período mínimo de 9 meses em contato com as leveduras, na fase de tomada de espuma;

8 - Os vinhos apresentam características analíticas e sensoriais específicas da região e somente são autorizados para comercialização os produtos que obtenham do Conselho Regulador da DO o atestado de conformidade em relação aos requisitos estabelecidos no Regulamento de Uso.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um vermelho rubi intenso, escuro, com reflexos acastanhados em seu entorno demonstrando a maturidade do vinho, com lágrimas grossas e abundantes que desenham, mancham as paredes do copo.

No nariz as notas de frutas vermelhas maduras se revelam de forma intensa, mas em perfeito equilíbrio com a madeira, com toques discretos de baunilha e tostado, além de um pimentão.

Na boca é estruturado, encorpado, mas muito redondo e harmonioso, o tempo lhe foi gentil, os taninos se mostram vivazes, mas aveludados, com a madeira e o tostado aparecendo de novo, devido a passagem de 6 a 8 meses por barricas de carvalho, com uma boa acidez que entrega um vinho pleno aos 6 anos de idade. Final persistente e frutado.

Um belíssimo Cabernet Sauvignon, equilibrado e austero, o tempo foi muito gentil com esse vinho, mas revelou-se ainda complexo, estruturado, poderoso. Uma curiosidade que recebi do produtor: “Trabalhamos com apenas 3 Kg de uva por planta, dessa forma a uva ganhou muito em estrutura e nutrientes.” Um exemplo de que temos sim grandes vinhos da casta Cabernet Sauvignon que, para muitos, existe o receio de vinhos brasileiros inexpressivos dessa cepa. O Torcello é o exemplo de que essa informação é totalmente improcedente. Um vinho oriundo das informações, da decantação do conhecimento. Vinho e conhecimento andam juntos, devem andar juntos, de mãos dadas a serviço do enófilo, para deleite e prazer do enófilo, sempre. Novas experiências, novas percepções, todas são formas de celebração ao vinho e Torcello Cabernet Sauvignon é uma ode às gratas novidades! Que venham mais e mais vinhos com esse emblema de qualidade e tipicidade. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Torcello:

A História da Torcello inicia com a chegada do primeiro imigrante italiano da Família Valduga ao Brasil (Marco Valduga), em 1875. Com muita fé, trabalho e perseverança, desbravaram matas virgens e construíram o que hoje conhecemos como Vale dos Vinhedos. A Vinícola Torcello foi fundada no ano de 2000 por Rogério Carlos Valduga, quarta geração da Família Valduga, e filho de Remy Valduga (viticultor, escritor e bisneto de Marco). A Torcello surgiu do fascínio de Rogério pela vitivinicultura e pelo seu desejo de resgatar a tradição da família, a qual elaborava vinho de maneira totalmente artesanal no próprio porão de casa para consumo próprio.

Curiosidades sobre a Torcello:

Uma das menores ilhas de Veneza chama-se Torcello, e dessa forma, por sermos uma das menores vinícolas instaladas no Vale dos Vinhedos, fizemos alusão a ilha. Já a escolha do símbolo da Vinícola, Leão Alado de São Marcos, deu-se pelo fato de o Leão representar proteção. Sendo assim, o símbolo remete a proteção do Leão Alado sobre os vinhos por nós elaborados. Os primeiros vinhos foram elaborados em 2005, e a abertura do varejo aconteceu em 2007. Hoje a Vinícola elabora vinhos, espumantes e sucos em pequena escala, buscando sempre a qualidade.

Mais informações acesse:

https://www.torcello.com.br/

Referências:

“Wikipedia”: https://pt.wikipedia.org/wiki/Vale_dos_Vinhedos#Denomina%C3%A7%C3%A3o_de_Origem_Vale_dos_Vinhedos

“Viajali”: https://www.viajali.com.br/vale-dos-vinhedos/

“Embrapa”: https://www.embrapa.br/indicacoes-geograficas-de-vinhos-do-brasil/ig-registrada/do-vale-dos-vinhedos









quinta-feira, 20 de maio de 2021

Moinho de Sula Colheita Selecionada branco 2017

Muitos tomam as suas decisões de escolher um vinho mediante um valor baixo, aquele valor atrativo, bem baratinho que nos atrai, nos hipnotiza que compramos sem olhar ou no máximo aquela casta de que apreciamos geralmente aquelas muito famosas e que é fácil encontrar em qualquer ponto de venda, como supermercados ou até em lojas especializadas. E comigo não era diferente, admito, o valor baixo me atraia, aquela casta conhecida que não tinha erro também, mas atualmente não são esses fatores que pesam na escolha de um vinho.

Não sei dizer exatamente o motivo pelo qual o meu “radar” mudou, mas hoje tenho dado um grande valor a escolher determinados vinhos cujas castas são pouco populares ou pouquíssimas conhecidas ou de uma região menos badalada, menos famosa. Diante disso, em tese, o risco de ser ter uma decepção pode ser avassaladora e degustar um vinho que não esperava, afinal como negligenciar um vinho da região de Bordeaux, na França, Alentejo, em Portugal, Serra Gaúcha, no Brasil, por exemplo?

É claro que regiões como essas é quase irrecusável degustar um vinho, são emblemáticas, tradicionais e especiais, mas será que temos de nos render a uma zona de conforto que temos de admitir, ser um sério risco, é rejeitar veementemente as outras regiões ou castas pelo simples fato não conhece-las e sequer abrir a mente para conhece-las?

Como em vários aspectos da vida temos os tabus no universo do vinho, mas eles estão aí para serem quebrados, rompidos, para que possamos nos libertar e buscar novas experiências sensoriais. De um tempo para cá descobri, quase que sem querer, uma região em Portugal chamada Beira Atlântico graças a conhecida e famosa Bairrada que, geograficamente falando, é próxima a primeira região. Degustei o primeiro vinho e gostei, degustei um segundo rótulo e gostei. Pensei: Não é possível, essa região tem algo de especial, vamos buscar, garimpar novos rótulos, novas experiências. E encontrei.

O vinho que degustei e gostei veio, claro, da Região do Beira Atlântico, e se chama Moinho de Sula Colheita Selecionada, um branco composto pelas autóctones castas Bical (40%), Maria-Gomes (40%), mais conhecida como Fernão Pires e a famosa Arinto (20%) da safra 2017. E como falei, de forma entusiasmada da região do Beira Atlântico nada mais justo do que falar um pouco sobre ela, sobre a sua história e um pouco também das castas Bical e Maria-Gomes, Fernão Pires, as menos conhecidas que compõe esse belíssimo blend.

Beira Atlântico

A produção de vinho na região remonta ao tempo dos romanos, fazendo disso prova os diversos lagares talhados nas rochas graníticas (lagares antropomórficos), onde na época o vinho era produzido. Já nos reinados de D. Joao I e de D. Joao III, respectivamente, foram tomadas medidas de proteção para os vinhos desta área do país, dadas a sua qualidade e importância social e econômica.

A tradição destes vinhos remonta ao reinado de D. Afonso Henriques, que autorizou a plantação das vinhas na região, com a condição de ser dada uma quarta parte do vinho produzido. Estendendo-se desde o Minho ate a Alta Estremadura, e uma região de agricultura predominantemente intensiva e multicultural, de pequena propriedade, aonde a vinha ocupa um lugar de destaque e a qualidade dos seus vinhos justifica o reconhecimento da DOC "Bairrada".

Beira Atlântico

Os solos são de diferentes épocas geológicas, predominando os terrenos pobres que variam de arenosos a argilosos, encontrando-se também, com frequência, franco-arenosos. A vinha e cultivada predominantemente em solos de natureza argilosa e argilo-calcaria. Os Invernos são longos e frescos e os Verões quentes, amenizados por ventos de Oeste e de Noroeste, que com maior frequenta e intensidade se faz sentir nas regiões mais próximas do mar.

A região da Bairrada situa-se entre Agueda e Coimbra, delimitada a Norte pelo rio Vouga, a Sul pelo rio Mondego, a Leste pelas serras do Caramulo e Bucaco e a Oeste pelo oceano Atlântico. E uma região de orografia maioritariamente plana, com vinhas que raramente ultrapassam os 120 metros de altitude, que, devido a sua planura e a proximidade do oceano, goza de um clima temperado por uma fortíssima influencia atlântica, com chuvas abundantes e temperaturas médias comedidas. Os solos dividem-se preponderantemente entre os terrenos argilo-calcários e as longas faixas arenosas, consagrando estilos bem diversos consoantes à predominância de cada elemento.

Integrada numa faixa litoral submetida a uma fortíssima densidade populacional, a propriedade rural encontra-se dividida em milhares de pequenas parcelas, com dimensões medias de exploração que raramente ultrapassam um hectare de vinha, favorecendo a presença de grandes adegas cooperativas e de grandes empresas vinificadoras, a par de um conjunto de produtores engarrafadores que muito dignificam a região.

As fronteiras oficiais da Bairrada foram estabelecidas em 1867, por Antônio Augusto de Aguiar, tendo sido das primeiras regiões nacionais a adoptar e a explorar os vinhos espumantes, uma vez que na região, o clima fresco, úmido e de forte ascendência marítima favorece a sua elaboração, oferecendo uvas de baixa graduação alcoólica e acidez elevada, condição indispensável para a elaboração dos vinhos espumantes.

Bical

A Bical é uma uva branca de origem portuguesa utilizada na elaboração de vinhos brancos e espumantes. Cultivada principalmente na região de Beiras, especialmente na Bairrada e no Dão, no centro de Portugal, produz vinhos de elevada acidez, podendo ser aproveitada em blends ou em vinhos varietais. É caracterizada por sabor frutado e pode apresentar, em anos mais maduros, notas de frutas tropicais. Trata-se de uma casta precoce com elevado teor alcoólico, que apresenta alta resistência à podridão, mas tem como peculiaridade a alta sensibilidade ao oídio.

Também conhecida como Arinto de Alcobaça, Bical de Bairrada, Pintado dos Pardais ou Pintado das Moscas, Barrado das Moscas e Borrado das Moscas, devido à sua aparência nos vinhedos, a uva Bical é, junto com a uva Maria Gomes, é uma das castas mais importantes desta região portuguesa da Bairrada. Os vinhos elaborados com a casta Bical são bastante macios e muito aromáticos, frescos e de boa estrutura. Respondem muito bem ao envelhecimento em carvalho e ao contato estendido com as borras, resultando em ótimos vinhos. Os melhores exemplares podem maturar por mais de dez anos, adquirindo características próximas a vinhos elaborados com a Riesling. Esta uva também é bastante utilizada em espumantes, muitas vezes misturada com as castas Arinto e Cercial.

Uva bastante precoce, a Bical possui amadurecimento rápido nos vinhedos e pode desenvolver alto teor alcoólico, principalmente se for deixada na videira por um longo período. Quando apresenta acidez acima da média, é utilizada na elaboração de espumantes ou em vinhos de corte com a Arinto. Na região do Dão ela é conhecida como Borrado das Moscas, pois as uvas maduras nos vinhedos apresentam pequenas manchas castanhas, que lembram muito o desenho de moscas, mas que são apenas sardas na parte externa da fruta. Esta característica faz com que se tenha a impressão de as uvas estarem levemente irregulares.

Maria-Gomes ou Fernão Pires

Maria Gomes é uma variedade de pele clara conhecida popularmente como uva Fernão Pires. Trata-se de uma variedade aromática e cultivada, principalmente, em Portugal. A versátil uva Maria Gomes é utilizada na elaboração de vinhos brancos secos e serve de base também para vinhos de sobremesa e bons espumantes. Lima, laranja e raspas de limão são os três aromas mais comuns encontrados nos vinhos Maria Gomes. Em alguns casos, os vinhos apresentam também sabores de mel e bem minerais, com o decorrer do tempo em que vão envelhecendo.

As vinhas da Maria Gomes se adaptam melhor quando são cultivadas em regiões com temperaturas elevadas, principalmente, nas áreas centrais e no sul de Portugal – Bairrada, Lisboa e Ribatejo. Os altos rendimentos dessa variedade necessitam ser controlados pelo produtor, a fim de que seus frutos apresentem complexos aromas e sabores. Além disso, as videiras da Maria Gomes são sensíveis a geadas, sendo inadequada para o cultivo em regiões frias. A maior parte dos vinhos produzidos a partir da Maria Gomes apresenta excelente complexidade aromática, embora ocorram algumas complicações por parte dos produtores, precisando que alguns cuidados sejam tomados durante a vinificação para que seja produzido um bom vinho.

Os níveis de acidez da uva Maria Gomes podem diminuir consideravelmente no final do crescimento, dando origem a vinhos pouco complexos e “flácidos”, com tendência a serem simples. Apenas os melhores exemplares podem envelhecer por alguns anos na garrafa. Na maior parte das vezes, os vinhos de Portugal são combinações de duas ou mais uvas, e os vinhos produzidos com a uva Maria Gomes não são exceção. A casta aparece nos rótulos dos exemplares, normalmente, ao lado de outras cepas nativas de Portugal, como a Arinto.

E agora finalmente o vinho!

Na taça tem um lindo, reluzente e brilhante amarelo palha com discretas tonalidades esverdeadas.

No nariz explode em aromas frutados, de frutas brancas, como pera, maçã verde, melão com toques citrinos e nuances tropicais que entregam um frescor e leveza incríveis.

Na boca é fresco, leve, jovial, as notas frutadas aparecem com grande destaque sem ser enjoativo, muito harmonioso e equilibrado, com uma acidez correta e um final prolongado, persistente e de retrogosto frutado.

Novas regiões, castas autóctones, apelo regionalista, tradições à flor da pele, novas experiências sensoriais, são todas essas percepções que nos proporciona viagens maravilhosas ao vasto e inexplorado universo do vinho. O Moinho de Sula, diante de sua nobre simplicidade, entrega tudo isso e de forma incondicional e digo isso com toda a certeza, com toda a excitação possível. E mostra que, podemos sim, romper com tabus e paradigmas no conservador mundo do vinho que se esconde no óbvio da zona de conforto que nos impede de degustar novos rótulos, novas castas e novas regiões. Um vinho jovem, fresco, leve, saboroso, mas intenso e expressivo que, com a personalidade de sua simplicidade entrega plenamente o que propõe. Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a Adega de Cantanhede:

Fundada em 1954 por um conjunto de 100 viticultores, a Adega de Cantanhede conta hoje com 500 viticultores associados ativos e uma produção anual de 6 a 7 milhões de quilos de uva, constituindo-se como o principal produtor da Região Demarcada da Bairrada, representando cerca de 40% da produção global da região. Hoje certifica cerca de 80% da sua produção, sendo líder destacado nas vendas de vinhos DOC Bairrada DOC e Beira Atlântico IGP.

Reconhecendo a enorme competitividade existente no mercado nacional e internacional, a evolução qualitativa dos seus vinhos é o resultado da mais moderna tecnologia, com foco na qualidade e segurança alimentar (Adega Certificada pela norma ISO 9001:2015, e mais recentemente pela IFS Food 6.1.), mas também da promoção das castas Portuguesas, que sempre guiou a sua estratégia, particularmente das variedades tradicionais da Bairrada – Baga, Bical e Maria Gomes – mas também de outras castas Portuguesas que encontram na Bairrada um Terroir de eleição, como sejam a Touriga Nacional, Aragonez e Arinto, pois acredita que no inequívoco potencial de diferenciação e singularidade que este património confere aos seus vinhos.

O seu portfólio inclui uma ampla gama de produtos. Em tinto, branco e rose os seus vinhos vão desde os vinhos de mesa até vinhos Premium a que acresce uma vasta gama de Espumantes produzidos exclusivamente pelo Método Clássico, bem como Aguardentes e Vinhos Fortificados. É um portfólio que, graças à sua diversidade e versatilidade, é capaz de atender a diferentes segmentos de mercado, com diferentes graus de exigência em qualidade, que resulta na presença dos seus produtos em mais de 20 mercados.

A sua notoriedade enquanto produtor, bem como dos seus vinhos e das suas marcas, vem sendo confirmada e sustentadamente reforçada pelos prémios que vem acumulando no seu palmarés, o que resulta em mais de 750 distinções atribuídas nos mais prestigiados concursos nacionais e internacionais, com destaque para Mundus Vini – Alemanha, Concours Mondial de Bruxelles, Selections Mondiales du Vins - Canada, Effervescents du Monde – França, Berliner Wein Trophy – Alemanha e Japan Wine Challenge. sendo por diversas ocasiões o único produtor da Bairrada com vinhos premiados nesses concursos e, por isso, hoje um dos mais galardoados produtores da região. Em 2015 integrou o TOP 100 dos Melhores Produtores Mundiais, pela WAWWJ – Associação Mundial dos Jornalistas e Críticos de Vinho e Bebidas Espirituosas. Nos últimos 8 anos foi eleita “Melhor Adega Cooperativa” em Portugal por 3 vezes pela imprensa especializada.

Mais informações acesse:

https://www.cantanhede.com/

Referências:

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/bical

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/maria-gomes

“IVV”: https://www.ivv.gov.pt/np4/503/

 

 

 

 

DNA Murviedro Gran Astro Crianza Tempranillo 2015

 

No passado eu tinha certa rejeição, alguma controvérsia com os vinhos espanhóis. Talvez pela visão pré-concebida, preconceituosa acerca dos seus rótulos. Sempre tive a percepção de que os vinhos espanhóis ofertados em terras brasilis eram demasiados caros e pouco atrativos! Os valores altos são reais e verdadeiros até os dias de hoje, mas pouco atrativos não, nunca! Estava anestesiado pela ignorância, pela incapacidade de discernimento, de entendimento da relevância histórica e de qualidade dos vinhos da Espanha.

Mas convenhamos que no passado, cerca de 10 ou 15 anos atrás, aproximadamente, não tínhamos uma gama, um leque de opções de compra como temos em dias atuais, com uma enxurrada de e-commerce ofertando os mais variados rótulos espanhóis de todo o tipo e proposta, logo valores também, que vai do mais simbólico aos mais altos. Todavia tenho de admitir também que essa gama, essa diversidade sempre existiu, mas que, diante do ápice da minha incompetência ou diria, ingenuidade, nunca identifiquei.

O conceito de vinhos jovens, crianzas, reservas e gran reservas, nomenclaturas tão massificadas no universo do vinho, na Espanha é muito bem definido e regido por um conjunto de normas rígidas que devem ser seguidas para que esses vinhos garantam a sua tipicidade, expressando o que há de melhor de seus terroirs e consequentemente a sua qualidade, enquanto em outros polos importantes da vitivinicultura mundial e usado como marketing para se posicionar no mercado produtor de vinhos.

Quando descobri essas propostas de vinhos espanhóis, muito por acaso, uma janela de oportunidades se abriu diante dos meus olhos, me arrebatando por inteiro. Minhas experiências sensoriais se viram atraídos por esses vinhos e que culminou com o meu interesse pelos vinhos evoluídos, pelos vinhos de vocação de guarda. Sim, os crianzas, reservas e, sobretudo os gran reservas entregam longevidade.

E hoje, com a presença de um querido amigo que compõe a nossa nova e espero longeva confraria, reservo para degustando um interessante e instigante crianza que me chamou muita a atenção pelo surpreendente valor, um valor atrativo, na faixa dos R$ 39,90, de uma emblemática região espanhola, a grife dos vinhos daquele país, chamada Rioja, uma região que não degustava vinhos há tempos e que, no início, me deixou um tanto quanto receoso, afinal um vinho de Rioja a esse valor! Como? Mas o que me trouxe certa tranquilidade, reforçando a minha decisão de compra-lo foi o seu produtor, chamado Murviedro, cujos vinhos já degustei dois rótulos, com destaque para o Murviedro Collection Petit Verdot 2015 excepcional. Então assumi o risco e comprei!

O vinho que degustei e gostei como disse veio da região espanhola tradicional de Rioja e se chama DNA Murviedro Signature Gran Astro, um crianza, da safra 2015, da emblemática casta Tempranillo (100%), um DOC riojano. Esse é o meu terceiro crianza, os primeiros foram o Viña Chatel 2013 e o El Misionero da safra 2015. E já que falei muitas vezes dos vinhos “crianza”, vale e muito a pena embarcar no conceito desses vinhos e também da importante Rioja para a Espanha.

Crianza

O termo “Crianza”, encontrado em alguns dos rótulos dos vinhos espanhóis, ainda causa muita confusão. Ao contrário do que muitos imaginam, a palavra não está relacionada à jovialidade do vinho (não tem nada a ver com criança). A questão principal ao falar sobre um vinho Crianza é a sua maturação. O termo Crianza em espanhol é aplicado para determinar que àquele vinho passou por um processo em barrica de carvalho, desse modo, entrando em contato com madeira, e com isso, adquirindo corpo.

Geralmente um crianza estagia, no mínimo, seis meses em barrica de carvalho. Nas regiões de Rioja e Ribera del Duero, o tempo em carvalho aumenta para um ano. No caso dos brancos e rosés, mínimo de seis meses em barricas e total de um ano e meio de amadurecimento. E o que isso representa? Que é um vinho mais elaborado e que, por ter amadurecido em contato com a madeira, ganhou mais complexidade de aromas e sabores quando comparado a vinhos que não passam por este estágio.

Como todos os vinhos que passam por madeira – e podemos incluir os vinhos Reserva e Gran Reserva – os vinhos Crianza tem um maior volume de aromas, complexidade e sabores. São indicados para uma apreciação paciente e para acompanhar pratos que exijam uma presença de vinhos aromáticos.

Leia mais sobre os vinhos crianza, reserva e gran reserva em: Vinho espanhol Crianza, Reserva, Gran Reserva e outras classificações.

Rioja: a mais famosa região vinícola da Espanha

A Espanha é um retalho de diferentes denominações de origem ligadas ao vinho. Entre as mais importantes está Rioja, no nordeste do país, às margens do rio Ebro, com 63.593 hectares de vinhedos distribuídos no território das três províncias que margeiam o rio: La Rioja, Álava e Navarra. Cem quilômetros de distância separam Haro, a cidade mais ocidental, de Alfaro, a mais oriental. O vale ocupado por vinhedos tem cerca de 40 quilômetros de largura máxima.

Rioja

As primeiras vinhas desse vale remontam ao período romano e a cultura do vinho foi mantida durante a Idade Média pelos monges. Aliás, Gonzalo de Berceo, monge em San Millan de la Cogolla, considerado o primeiro poeta do idioma castelhano, chegou a exaltar em versos o vinho local. No entanto, durante séculos, a principal cultura local foi a de cereais. O vinho só tomaria lugar de destaque na Idade Moderna, com o aparecimento das cidades e o florescimento do comércio. Um dos principais marcos do vinho na região foi a criação do Conselho Real de Colhedores, em 1787, que visava promover o cultivo da videira, contribuir para melhorar a qualidade dos vinhos e facilitar o comércio dentro dos mercados do norte, de modo que sua dedicação prioritária foi construir e melhorar estradas e pontes para unir as cidades vinícolas de Rioja com Vitória e o porto de Santander.

O auge, porém, foi com a fundação de vinícolas históricas em meados do século XIX, a chegada da estrada de ferro e dos compradores franceses, devido à crise da filoxera. Enólogos ilustres como Luciano Murrieta (Marqués de Murrieta), Camilo Hurtado de Amezaga (Marqués de Riscal) e Rafael López Heredia (Viña Tondonia) introduziram o conceito de qualidade nos vinhos de Rioja.

Desde então, as vinícolas de Rioja têm estado à frente de muitas revoluções na indústria do vinho espanhol, especialmente durante a revolução tecnológica da década de 1970. A Denominação de Origem Qualificada foi dada em abril de 1991, fazendo com que Rioja se tornasse a primeira região a receber o status de DOCa.

Desde então, as vinícolas de Rioja têm estado à frente de muitas revoluções na indústria do vinho espanhol, especialmente durante a revolução tecnológica da década de 1970. A Denominação de Origem Qualificada foi dada em abril de 1991, fazendo com que Rioja se tornasse a primeira região a receber o status de DOCa.

Um dos baluartes da DOCa Rioja é o uso da madeira, tanto que os vinhos são denominados qualitativamente de acordo com o tempo que passam em barrica, indo do genérico, passando pelo Crianza, depois Reserva e, por fim, Gran Reserva. No entanto, desde 2017, a região criou uma nova forma de dividir os vinhos qualitativamente ao dar mais ênfase à sua origem, além do tempo em barrica. Dessa forma, criou-se a seguinte divisão: vinhos de zona, vinhos de município e vinhos de vinhedos singulares (que seriam os mais representativos da região). E esses três tipos de vinhos então são divididos novamente em quatro categorias: genérico, Crianza, Reserva e Gran Reserva. Uma das características dos vinhos de Rioja é a aptidão que possuem para o envelhecimento.

A melhor uva tinta de Rioja é a Tempranillo, que atua com o mesmo peso das principais uvas tintas do mundo, como a Cabernet Sauvignon e a Nebbiolo. Os vinhos de Rioja são envelhecidos em tonéis de carvalho americano, atravessando um lento processo de evolução, micro-oxigenação e estabilização, o que lhes garante uma característica notoriamente distinta. Os vinhos brancos do Rioja, produzidos com a uva Viura, também participam de um longo envelhecimento nos tonéis de carvalho. Os exemplares mais modernos, que permanecem por menos tempo, adquirem um caráter leve e frutado.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um vermelho rubi de média intensidade, vivo e muito brilhante, com lágrimas em abundância e muito finas e que teimavam em se dissipar das paredes do copo.

No nariz notas destacadas de frutas vermelhas frescas com toques amadeirados e de baunilha. Muito frescor no olfato, mostrando que o vinho, mesmo com seus seis anos de safra, estava pleno e vivo.

Na boca se revelou redondo, equilibrado e harmônico. Mesmo apresentando alguma estrutura e complexidade, o vinho se mostrou muito bem integrados entre taninos, muito amáveis e aveludados, entre a madeira, passou por 14 meses em barricas de carvalho, e acidez, de média intensidade entregando frescor, com as frutas vermelhas em evidência. Um final persistente e prolongado.

Um vinho que personifica Rioja e que foi “decantado” textualmente nesta resenha: expressivo, de marcante personalidade, mas fácil de degustar, valorizando sua elegância, seu equilíbrio, sua versatilidade. Um vinho que carrega essa máxima em seu nome: “DNA” Murviedro. Nele há a essência dos vinhos cuja origem é a fusão cultural intrínseca e ao povo das terras espanholas. Há o terroir à flor da pele, a terra represada na garrafa que, ao desarrolhar, explode em tipicidade, a força de Rioja Alta que dança na taça para deleite de nossos sentidos. Um vinho delicado, mas intenso, pleno, saboroso e de uma complexidade que só um crianza pode oferecer aos mais exigentes enófilos. A Espanha, a cada dia e rótulo, ainda revela grandes e atraentes surpresas. Teor alcoólico de 12,5%.

Sobre a Bodega Murviedro:

Em 1927 a Bodegas Schenk instala subsidiárias na Espanha, a primeira em Vilafranca del Penedès, na Catalunha, sob o nome de 'Schenk Spain'. Em 1929 abre vinícolas em Alicante, Utiel e Requena, vinícolas jovens que inicialmente optaram pelo vinho a granel de 'qualidade', uma marca registrada até hoje. Em 1931 a Schenk Espanha decide concentrar suas atividades na vinícola Valência, que, localizada ao lado do porto, foi o início de um dos pilares fundamentais da marca: as exportações. O vinho engarrafado está ganhando importância, até hoje é o foco principal da empresa, aderindo a essa “tendência”, em 1950. Em 1997 a Schenk Spain muda de sede, aproximando-se dos pés das vinhas, Requena, no coração da Denominação de Origem Utiel-Requena, produtora de vinhos de excelente qualidade. Em 2002 aproveitando a comemoração do 75º aniversário muda o nome da vinícola para 'Bodegas Murviedro', em homenagem ao seu vinho Cavas Murviedro, uma das marcas de vinho mais emblemáticas da Comunidade Valenciana e que fez de Murviedro uma das vinícolas mais reconhecidas.

Para mais informações acesse:

https://murviedro.es/

Referências:

“Blog Lovino”: https://blog.lovino.com.br/o-que-e-um-vinho-crianza/

“Blog Vinho Tinto”: https://www.blogvinhotinto.com.br/curiosidades/desvendando-vinhos-crianzas/

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/os-grandes-vinhos-de-rioja-na-espanha_12056.html

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/regiao/rioja

“Revista Versar”: https://www.revistaversar.com.br/rioja-conheca-a-mais-famosa-regiao-vinicola-da-espanha/

 

 

 

 





segunda-feira, 17 de maio de 2021

Bertolini Teroldego 2018

 

Inspiração, novos caminhos, exemplos, tradição, histórias... São nomes que podem parecer um tanto quanto “soltos” e perdidos, mas quando falamos em vinhos brasileiros são conceitos que se fundem e que, ao longo do tempo, vem, apesar dos entraves que a política pública impõe ao vinho, vêm, a duras penas, se consolidando com força. Sem discursos ufanistas distantes da realidade do povo brasileiro, o vinho nacional vem conquistando notoriedade e respeito em todos os cantos do planeta e vem solidificando sua qualidade em terras consagradas e milenares na produção vinícola, no Velho Mundo. Pena que ainda não tivemos o reconhecimento, em todos os aspectos, em solo brasileiro, sobretudo pelos nossos governantes que, com um discurso torto e conservador, a considera apenas como um produto alcoólico e não como um alimento que é cientificamente comprovado por especialistas como benéfico à saúde.

Mas não é sobre isso que gostaria de falar, pelo menos ainda, e sim da qualidade do vinho brasileiro e quanto eles crescem em tipicidade, enaltecendo, de forma sublime, os nossos mais ricos e proeminentes terroirs. E o que mais me deixa feliz, como um apreciador da bebida de Baco, é de que castas raras ou oriundas de outros países estão sendo produzidas, cultivadas em nossas terras, adquirindo um caráter todo especial, com a nossa “assinatura”, o nosso DNA sem, é claro, abrir mão, negligenciar as suas mais genuínas características.

E, por intermédio, dos vinhos brasileiros, as conheci, estou conhecendo-as. As nossas terras entregam, com incrível brilhantismo, as castas de outras terras. Somos abençoados pela natureza, pelos nossos recursos naturais e diria culturais, dessas abnegadas pessoas que extraem, com amor e competência, a matéria-prima que nos presenteia com os seus grandes rótulos.

E assim descobri uma casta chamada Teroldego. Teroldego? Um nome esquisito, pouco usual diante dos nomes mais conhecidos como Malbec e Merlot, mas que alguns dos mais renomados e até menos conhecidos produtores desse país estão produzindo em suas vinícolas. E, depois de uma leitura mais minuciosa sobre a casta, não hesitei em comprar um exemplar dessa casta ainda pouco conhecida no Brasil.

E estava com um amigo em busca de escolha por um rótulo para compor o nosso mais novo encontro de confraria e sugeri a compra de um rótulo da casta Teroldego. E então resolvemos arriscar com um que veio de uma promissora região que fica no sudeste do Rio Grande do Sul, Encruzilhada do Sul. O Vinho que degustei e gostei, e como gostei, se chama Bertolini Riserva Famiglia Bigorna, da casta, é claro, Teroldego, da safra 2018. Já que falemos da Teroldego e de Encruzilhada do Sul, vamos traçar um histórico de todos!

Teroldego: A uva do Trentino

Teroldego (lê-se “terôldego”) é uma uva tinta da região do extremo norte de Trentino, nordeste da Itália. A primeira vez que o vinho utilizando essa uva foi mencionado (que se tem registro) foi em 1840 em Cognola na Itália, em um contrato que dizia haver uma quantidade de “bons vinhos Teroldego”.

É provável que o berço da Teroldego seja a planície Rotaliano e que tenha tomado o nome de um lugar chamado Alle Teroldege, onde vinhas foram mencionadas antes do século XV. Outra hipótese é pelo sinônimo Tiroldigo, o nome que deriva de Tiroler Gold, ouro do Tirol, este nome era, aparentemente, usado em Viena para designar vinhos de Trentino. Alguns autores sugerem que a uva foi introduzida a partir da planície vizinha de Verona, onde uma variedade chamada Terodol’i foi mencionada no passado. Estudos feitos baseados no DNA, revelou que a Teroldego é uma “irmã” da Dureza (uva extinta “mãe” da Syrah), portanto, um “tio/tia” da Syrah.

Teroldego é uma uva roxa de cor escura e cascas firmes. Produz vinhos com uma acidez e um amargor característicos e tem potencial para produzir desde vinhos de corpo mais leve até os mais encorpados.

Teroldego

Trentino continua sendo a “casa” da Teroldego. Elisabetta Foradori é a principal produtora dos vinhos Teroldego Rotaliano (D.O.C). Além disso, tais exemplares podem ser consumidos dentro de três anos após o engarrafamento ou, até mesmo, envelhecer por dez anos. Em blends, a uva Teroldego é utilizada para adicionar cor aos exemplares e é cultivada em Toscana e Veneto para esta utilidade. Outros países que produzem vinhos com esta uva são: Estados Unidos, Austrália e Brasil.

Teroldego no Brasil

A Teroldego é uma uva com fortes taninos e casca grossa e, dependendo da área onde estiver cultivada, dá origem a vinhos com diferentes estilos. Em regiões mais frias, assim como a Serra Gaúcha, essa variedade é responsável por elaborar vinhos menos potentes e aromáticos, bem como exemplares com coloração mais clara. No entanto, se a uva Teroldego estiver cultivada em regiões mais quentes e ensolaradas, como é o caso da Serra do Sudeste e Campanha, os vinhos tintos serão mais encorpados, aromáticos e com fortes taninos – suavizados com o uso de barris de carvalho. Mais informações sobre a Teroldego no Brasil leia: “Uva Teroldego resgata identidade no sul do País”.

Encruzilhada do Sul

Encruzilhada do Sul é um município brasileiro do estado do Rio Grande do Sul, localizado no Vale do Rio Pardo. O primeiro nome foi Santa Bárbara de Encruzilhada. No decorrer dos anos de 1715 até 1766 os primeiros habitantes instalaram-se no Capivari, região que hoje fica a alguns quilômetros da cidade. Surgiram na campanha os primeiros estabelecimentos pastoris, formados por uma vanguarda de missionários e índios, que lutaram juntamente com guardas que protegiam a Província das invasões espanholas. Domingos Bitencourt fez doação de uma parte de terras ao governo, onde fica a cidade de Encruzilhada do Sul, para que fosse construída uma Freguesia. Começou, então, a chegada dos primeiros povoadores de Rio Pardo, São Paulo, Açores e Laguna.

Curiosamente, a Serra do Sudeste abriga pouquíssimas cantinas. O relevo suavemente ondulado serve de sede quase que exclusivamente para vinhedos. A maior parte das uvas é transportada, geralmente à noite, até outras regiões do Rio Grande do Sul, onde é vinificada. No entanto, com o crescimento de sua importância no cenário enológico nacional e o surgimento de empreendimentos locais voltados à produção de uva, essa situação deve sofrer mudança em um futuro breve. Encruzilhada do Sul, é um amável município que fica a menos de duas horas de carro a sudoeste de Porto Alegre. Está localizado na Serra do Sudeste que possui altura média de 300 a 400 metros de altura, sendo boa parte de seu solo de pedra, com invernos rigorosos e verões com excelente insolação.

Serra do Sudeste e a Encruzilhada do Sul

Mapa Encruzilhada do Sul

A Serra do Sudeste tem colinas suaves, que facilitam o plantio e a mecanização, tornando-a um terroir mais simples de trabalhar. Aliadas a isso, estão as condições climáticas, mais favoráveis do que no Vale dos Vinhedos. Essa região tem o menor índice de chuvas do Estado do Rio Grande do Sul, além de noites frias mesmo no verão, justamente a época da maturação das uvas. Essas condições naturais, além de um solo mais pobre e de origem granítica, nos ajudam a ter maior concentração de cor, estrutura e potencial de envelhecimento dos vinhos. A expansão para a Serra do Sudeste é sinal claro da busca por qualidade dos produtores brasileiros e da diversidade de que os vinhos estão, finalmente, abraçando.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um vermelho rubi intenso, escuro, profundo com lágrimas grossas e abundantes que marca as paredes da taça, um vinho caudaloso que já denuncia a sua robustez.

No nariz traz um curioso aroma de fazenda, um toque terroso, de terra molhada, algo de estrebaria, um quê de rusticidade e notas discretas de frutas negras completa o coreto.

Na boca é estruturado, carnudo, aquele vinho que se degusta com “garfo e faca”, complexo, as frutas negras aparecem, toque de ameixas, por exemplo, as especiarias mostram a que vieram um fundo de ervas, com taninos poderosos e marcados, com uma acidez instigante. Tem um final longo, prolongado.

O apelo regionalista, a cultura arraigada e que personifica na tipicidade do vinho. A história, viva e latente, sendo, a cada dia escrita, a tradição se faz atual e contemporânea. As inspirações se confundem com a tipicidade, tudo isso em prol do nosso deleite, para a felicidade de quem degustará cada gota dessa bebida que é uma verdadeira poesia líquida. Um vinho de pegada, corpulento, voluptuoso, de personalidade. Assim podemos descrever o Bertolini Bigorna Teroldego. Ainda jovem, mostrou rebeldia e certa impetuosidade, mas, ao longo da degustação, foi afinando, amansando, se equilibrando, tornando-se fácil de degustar, harmônico, mas ainda assim expressivo e de marcante personalidade. Que a Teroldego encontre em nossas terras as condições necessárias para se perpetuar com cada vez mais rótulos e que nos brinde com vinhos cada vez melhores. Tem 13,7% de teor alcoólico.

Sobre a Bertolini Riserva Famiglia:

A Família Bertolini resgata sua trajetória, marcada pelo empreendedorismo, união e tradição italiana, e a transporta para a série especial “Vinhos Bertolini”, que homenageia os antepassados e os valores transmitidos pelos patriarcas. Cada garrafa expressa o talento para transformar matérias-primas em produtos de excelência. Hoje, parte da família, é reconhecida pela fundação e condução do Grupo Bertolini, referência pelo trabalho desenvolvido nos mercados moveleiro, de armazenagem e logístico, em todo o país.

Valorizando as raízes, os vinhos têm, em sua apresentação visual, o resgate dessa paixão através da representação das ferramentas de trabalho do ferreiro, ofício que o pai, Francisco, fez com maestria e deixou como legado para seus descendentes. Além de simbolizar os valores que forjaram o caráter da família Bertolini ao longo de sua história, elas expressam as características de cada vinho.

Os vinhos Bertolini têm como filosofia a naturalidade no processo de elaboração, ou seja, com o mínimo de intervenção mecânica e a preferência por métodos naturais durante a fermentação e afinamento. O mesmo vale para as correções de acidez, açúcar, feitas sem aporte de produtos químicos.

Assim, inspirados na tradição europeia, mas com um gosto contemporâneo, expressam o terroir de uma nova geração produtora no Brasil, que vem se destacando com excelentes resultados: a Encruzilhada do Sul.

O trabalho da Bertolini começou no ano de 2012. É um negócio pequeno que foi fundado por 5 irmãos em homenagem à geração anterior da família, de Domenico Bertolini, que era composta por metalúrgicos especializados em cozinhas de aço.

Dessa homenagem, vêm os nomes dos vinhos: “Cadinho”, “Bigorna” e “Tenaz”, referências às ferramentas utilizadas para a construção desses espaços. O foco é produzir líquidos que mostram ao máximo a tipicidade de Encruzilhada do Sul, região de clima ameno, em um vinho branco e vinhos tintos elaborados com uvas Chardonnay, Teroldego e uma mistura entre Merlot, Nebbiolo e Touriga Nacional: mistura europeia em vinhos brasileiros.

Referências:

“Vinho Básico”: https://www.vinhobasico.com/2015/06/26/teroldego-a-uva-do-trentino/

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/teroldego

“Site Terra”: https://www.terra.com.br/vida-e-estilo/homem/uva-teroldego-resgata-identidade-no-sul-do-pais,d0084ee474237310VgnCLD100000bbcceb0aRCRD.html

“Site Encruzilhada do Sul”: https://www.encruzilhadadosul.rs.gov.br/prefeitura/historia/

“Agência Preview”: https://www.agenciapreview.com/vindima-em-encruzilhada-do-sul/#:~:text=Descoberto%20na%20d%C3%A9cada%20de%201970,elaborados%20com%20uvas%20dessa%20%C3%A1rea.

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/a-nova-fronteira-sul_8619.html

“Blog Evino”: https://blog.evino.com.br/2020/06/vinhos-brasileiros-o-cultivo-de-uvas-da-europa-no-sul-do-brasil/#:~:text=Bertolini,-%E2%80%9CO%20nosso%20diferencial&text=O%20trabalho%20da%20Bertolini%20come%C3%A7ou,especializados%20em%20cozinhas%20de%20a%C3%A7o.

“Difusora 890”: https://difusora890.com.br/bertolini-apresenta-serie-especial-de-vinhos-que-contam-historia-da-familia/