quinta-feira, 22 de julho de 2021

Encostas do Trogão Reserva tinto 2011

 

Costumo dizer, até de forma demasiada, de que Portugal, mesmo que tão pequeno, em dimensões territoriais, é significativo e gigante em seus diversificados terroirs, é um universo inexplorado e maravilhoso, ainda há muito a se degustar, muitas regiões a se descobrir e vinhos nas suas mais propostas. Por isso que é impossível alguém, um digno enófilo que seja que não aprecie os vinhos lusitanos.

E melhor que descobrir novos terroirs, novas regiões, novos vinhos e novas propostas são conhecê-los nos famosos e imprescindíveis eventos de vinhos, aqueles festivais de degustação que temos a nossa disposição. Eu estive em um, no ano de 2017, na minha cidade, em Niterói, de um evento de degustação de um grande supermercado local, o Festival de Vinhos Supermercado Real 2017, onde os rótulos expostos para degustação eram os mesmos que estavam sendo ofertados em suas filiais. 

Já para o final do evento, eu já estava praticamente me preparando para deixar o local do evento e vi, ao longe, um estande, até pouco procurado e com poucos rótulos disponíveis para degustação e vi um rótulo, simples, mas que me chamou a atenção pela região que confesso não conhecia para a produção de vinhos: Trás-os-Montes. É uma região conhecida, mas não sabia que se produziam vinhos por lá, nunca degustei, claro, que isso me atraiu e decidi degusta-lo. Que vinho maravilhoso e surpreendente era! Degustei primeiro o reserva, depois o mais básico, ambos tintos e depois um branco. Todos excelentes!

Pensei: tomara que esse vinho tenha no mercado mais próximo da minha casa! Uma semana após o evento de degustação, decidi ir ao supermercado para comprar alguns vinhos, sobretudo os que degustei no evento e gostei, inclusive esse rótulo de Trás-os-Montes. E logo quando adentrei o mercado, não é que localizei o vinho!! Não hesitei e coloquei o rótulo em meu carrinho de compras e levei-o, entre outros rótulos, para casa.

Demorei um pouco para degusta-lo, cerca de um ano, aproximadamente. Mas decidi, em dado momento, que precisava degusta-lo, até porque era um vinho da safra 2011 e já estava com cerca de 7 anos de vida! O vinho que degustei e gostei, como disse, veio das terras portuguesas de Trás-os-Montes e se chama Encostas do Trogão Reserva, com um blend das castas Tinta Roriz, Touriga Nacional e Trincadeira da safra 2011. E como o Trás-os-Montes era, até então, uma região vinícola nova para mim, nada mais prudente falar um pouco sobre ela.

Trás-os-Montes: Os vinhos trasmontanos

Já durante a ocupação dos romanos se cultivava a vinha e se produzia vinho na região de Trás-os-Montes. Situada no nordeste de Portugal, a província de Trás-os-Montes e Alto Douro é um lugar onde a identidade portuguesa, fruto de tradições culturais enraizadas, sobreviveu como em nenhuma outra região do país lusitano. O seu conhecido isolamento, bem como o alto índice de emigração e despovoamento, são características que acompanham a região há muito tempo.

Sua capital é a cidade de Vila Real, e, ao longo da história, sofreu diversas modificações em seu território e nas atribuições administrativas. Desde o século XV, passou de Comarca a Província, e suas fronteiras territoriais, cujos limites foram se adequando com a aquisição ou perda de regiões, já não são as mesmas da época de sua fundação. Atualmente, é formada por três sub-regiões: Alto Trás-os-Montes, Douro e Tâmega.

Trás-os-Montes

As paisagens desta província apresentam uma beleza natural e rural exuberante, sendo suas terras ricas em cerais, legumes e frutos como amêndoas e cerejas, além das oliveiras que produzem azeites. Para completar, ainda existe a cultura vitivinícola, que, com as inúmeras vinhas da região, fazem de Trás-os-Montes e Alto Douro um destino turístico perfeito para os amantes da gastronomia e do vinho de alta qualidade. Montes é uma das regiões mais ricas em descobertas arqueológicas. Destacam-se as estações do paleolítico da serra do Brunheiró e Bóbeda, assim como dólmenes e povoados do período neo-eneolítico.

Trás-os-Montes é uma região montanhosa, caracterizada por sua diversidade de relevo e de clima – altitude, temperatura, pluviosidade, solo, etc, variam conforme cada cidade da província. As diferenças são bastante acentuadas. De maneira geral, seu relevo é formado por uma série de elevadas plataformas onduladas atravessadas por vales e bacias profundas, os solos se apresentam como graníticos, mas com presença importante de xisto. Trás-os-Montes tem clima com influência mediterrânico-continental, com áreas de muito frio nas partes mais altas e outras mais quentes na região do Douro.

A natureza privilegiada é fonte de riqueza para a região: os recursos hídricos, com rios importantes, por exemplo, são utilizados para gerar energia elétrica e produzir água mineral.

Essas diferenças climáticas acentuadas permitiram definir três sub-regiões para a produção de vinhos de qualidade com direito a DO Trás-os-Montes. Os critérios tidos em conta foram essencialmente as altitudes, exposição solar, clima e a constituição dos solos, tendo sido a Denominação de Origem (DO Trás-os-Montes) reconhecida a partir de 9 de Novembro de 2006 (Portaria n.º 1204/2006).

Outra possibilidade de riqueza retirada da natureza da região são as vinhas dispostas nos vales que circundam o Douro e que originam vinhos excelentes e apreciados no mundo todo. O principal deles: o famoso Vinho do Porto. A vitivinicultura em Trás-os-Montes e Alto Douro tem história e tradição. Além de ter sido a primeira região regulamentada para produção vinícola do mundo, em 1756, foi reconhecida pela UNESCO, em 2001, como Património da Humanidade por causa da beleza de suas vinhas. Quanto à produção, 50% dos vinhos elaborados nas vinícolas da região são destinadas para o Vinho do Porto, a outra metade se dedica à produção de vinhos que utilizam a denominação de origem controlada (DOC) “Douro”, e que são tão diversos quanto os microclimas e solos da província.

Tradicionalmente, as vinhas são plantadas de maneiras diferentes em Trás-os-Montes, aproveitando toda a diversidade da região. Essa característica se reflete nos vinhos produzidos, que além do vinho do Porto, pode resultar excelentes vinhos tintos e brancos. As castas brancas dominantes são: Côdega do Larinho, Malvasia Fina, Fernão Pires, Gouveio, Rabigato, Síria e Viosinho, e nas tintas Bastardo, Tinta Roriz, Marufo, Touriga Franca, Touriga Nacional e Trincadeira. Os vinhos brancos são suaves e com aroma floral. Os vinhos tintos são geralmente frutados e levemente adstringentes.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um vermelho rubi intenso e profundo, mostrando-se um pouco caudaloso, com lágrimas finas e abundantes que teimavam em se dissipar.

No nariz há um destaque para um mix de frutas vermelhas e negras, onde se destacam a ameixa, cereja e amora, sendo muito complexo nesse sentido, com toques evidentes de especiarias, algo como tabaco, uma linha bem herbácea, diria. Um vinho ainda vivo e fresco, apesar dos 7 anos de safra à época.

Na boca é estruturado, redondo, harmonioso, com o protagonismo das frutas vermelhas e negras, mas muito vívido, pleno, com uma boa acidez ainda, com taninos maduros, presentes, mas domados devido ao tempo de vida do vinho, com um final voluptuoso e frutado. Não tem passagem por barricas de carvalho, estagia em cubas de aço inox e 12 meses em garrafa antes de sair da vinícola o que mostra o seu incrível equilíbrio.

Essa degustação foi deveras significativa, não apenas pelo fato de ter sido o meu primeiro rótulo da região de Trás-os-Montes, mas também pela relevância e qualidade deste belíssimo vinho, ainda mais que descobri, quando busquei maiores informações sobre o rótulo de que o ano de 2011 para a vitivinicultura portuguesa foi extremamente produtiva e significativa, sendo uma das melhores de todos os tempos. Que momento especial eu tive com esse grande vinho! Preocupado com possíveis borras que poderia encontrar com o tempo de safra deste vinho decidi decanta-lo, mas não precisou, não tinha sequer um sedimento, nada, e o vinho estava ótimo, muito equilibrado, harmonioso e que o produtor, acertadamente, decidiu não repousá-lo em madeira, elevando ainda mais as características de cada cepa, destacando-se as frutas, a acidez e os taninos que em um impressionante equilíbrio, brilharam sem um ofuscar o outro. Um vinho de 8 anos de vida quando o degustei, mas cheio de vida, personalidade e pegada. Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Adega Cooperativa de Rabaçal:

Com cerca de 400 associados, oriundos dos concelhos de Vinhais, Valpaços, Mirandela e Macedo de Cavaleiros, a Adega Cooperativa de Rabaçal, C.R.L.recebe 1,5 milhões de quilos de uvas de uma zona de transição entre a Terra Quente e a Terra Fria, que garante um grau surpreendente em todos os néctares que ali são vinificados.

A reconversão da vinha que está em curso e a aposta nas castas Touriga Nacional, Touriga Franca, Trincadeira e Tinta Roriz já está a dar os seus frutos ao nível da qualidade do produto final. Ao nível da promoção, a adega que labora em Rebordelo vive um período de evolução, bem patente na criação de uma imagem institucional que simboliza o vinho e os quatro concelhos produtores.

No que se refere à tipicidade dos vinhos da região de Trás-os-Montes, para além da diversidade existente, a base dos mesmos assenta nas especificidades únicas das nossas castas.

“Porque o mundo é um mar de oportunidades e também de desafios, hoje globais; porque acreditamos que, para além de nos inserirmos num país que se afirma cada vez mais enquanto produtor de vinhos de excelência e também numa região privilegiada, Trás-os-Montes, a Adega Cooperativa de Rabaçal, C.R.L. afirma-se com base nos efetivos vitícolas da Adega, que a alimentam com as melhores castas autóctones, mantidas por várias gerações, num percurso que se aprimorou cada vez mais a nossa região, cultura e história, numa descoberta, aqui de novos «territórios sensoriais», os seus vinhos”.

Filosofia do produtor

Mais informações acesse:

http://www.adegarabacal.com/www/default.asp

Referências:

“Clube dos Vinhos Portugueses”: https://www.clubevinhosportugueses.pt/vinhos/regioes/tras-os-montes/doc-tras-os-montes/

“Wine Tourism Portugal”: https://www.winetourismportugal.com/pt/regioes/tras-os-montes/

“Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/tras-os-montes-e-alto-douro-um-paraiso-vinicola-em-portugal/

Degustado em: 2018

  




domingo, 18 de julho de 2021

Quinta da Lixa Loureiro 2018

 

Minha adorável e querida afilhada fará 2 anos de idade! E o tempo é um grão de areia que se esvai com facilidade por entre os nossos dedos. Se não aproveitar a vida que temos, ela passa diante dos nossos olhos sem pestanejar e de forma implacável. Então para comemorar esse momento maravilhoso nada mais prudente e adequado escolher um rótulo à altura.

E para esses momentos o que vem à mente? Um vinho complexo, estruturado, aqueles que os entendidos costumam dizer que devem ser desarrolhados em momentos de grande e singular celebração. Confesso que concordo e inclusive pensei em vinhos desse naipe quando passei os meus olhos pela adega. Mas pensei e tentei, para variar, subverter a máxima, as conveniências que rondam o universo do vinho.

Optei por um vinho como a minha adorável sobrinha: solar, delicado, leve e agradável. E quando fiquei sabendo dos quitutes que servirão nos festejos de seu aniversário, pensei: Que tal um vinho verde? Sim! Um vinho verde é leve, agradável, solar e delicado e que harmoniza, penso eu, perfeitamente com as frituras típicas de aniversários tais como aqueles salgadinhos, tão gostosos e indispensáveis.

E escolhi um rótulo muito especial também. Um presente de um amigo que ganhei que veio de Vila Nova de Gaia, de Portugal, quando aqui esteve em terras brasileiras com a mala repleta de rótulos, carinho e amizade! Como é bom ter amigos e que gosta e te presenteia com vinhos, melhor ainda!

Demorei em escolhê-lo, escolher o rótulo, talvez estivesse esperando o melhor momento. O aniversário de 2 anos de minha adorada afilhada! E é um vinho verde de uma casta que considero a melhor para esses vinhos que tem a cara do nosso Brasil: a Loureiro! Vão achar que estou blasfemando! É claro que é a Alvarinho! Talvez estejam, os defensores desta casta, com razão, mas não posso deixar de negligenciar a importância da Loureiro por se tratar de uma casta leve, delicada e que goza de uma vibrante acidez.

Então o vinho que degustei e gostei veio das terras dos Vinhos Verdes, a emblemática região dos Vinhos Verdes, é pertence a um produtor que descobri recentemente e que é um dos melhores na produção de Vinho Verde em Portugal: Quinta da Lixa e a casta, claro, a Loureiro, da safra 2018. E já que teci meus melhores comentários para essa tão importante região e que mais parece ser a sucursal do Brasil em Portugal, por ter vinhos, majoritariamente leves, frescos e delicados, nada mais interessante, para massagear também o nosso ego cultural, falar um pouco dessa importante região chamada de Vinhos Verdes e uma de suas principais cepas: a Loureiro.

Vinhos Verdes: Entre-Douro-e-Minho

Desde o tempo da ocupação romana, antes da era cristã, a vinha era cultivada na margem sul do Rio Minho da forma característica e invulgar que se mantém até hoje. Não se trata de suposição. As referências à viticultura na região encontram-se nos escritos do naturalista Plínio, o Velho, em sua História Natural, e do filósofo Sêneca, em seu compêndio Questões Naturais. Está também documentada na legislação do Imperador Domiciano, entre 96 e 51 a.C.

Na Idade Média multiplicam-se as referências escritas ao cultivo das uvas e a elaboração de vinhos no noroeste lusitano, a partir das atividades nos mosteiros e do decisivo suporte da coroa portuguesa. O vinho entra definitivamente, entre os séculos XIII e XIV, nos hábitos das populações entre o Minho e o Douro ao mesmo tempo em que se dá a expansão econômica da região e a crescente circulação da moeda. Ainda que a exportação fosse pequena, os vinhos verdes foram, entre os vinhos portugueses, os primeiros conhecidos fora das fronteiras, particularmente na Inglaterra.

No início do século XX, ultrapassados os problemas das quebras de produção devido às pragas, foram tomadas medidas especiais para a colocação dos vinhos locais e escoamento dos excedentes. Tornava-se obrigatório, para isso, conservar a genuinidade e a qualidade dos produtos, assegurando-se seu valor do ponto de vista cultural e econômico.

O ano de 1908 é crítico na história portuguesa: o rei Carlos I e seu filho são assassinados, abrindo caminho para a República. Nesse mesmo ano, a região dos vinhos verdes é demarcada oficialmente e dividida em seis sub-regiões: Monção, Lima, Basto, Braga, Amarante e Penafiel. O limite a oeste é o Atlântico e, ao norte, a Espanha.

Região dos Vinhos Verdes

A Região Demarcada dos Vinhos Verdes está dividia em nove sub-regiões, cada uma com sua característica específica e suas castas de uva recomendadas:

Sub-região de Monção e Melgaço: utilizam-se apenas as castas Pedral (tinta) e Alvarinho (branca). É de lá o mais icônico Alvarinho, com notas cítricas misturadas com nuances de aromas florais e de frutos tropicais e paladar mineral.

Sub-região de Amarante: as castas brancas são Azal e Avesso e originam vinhos com aromas frutados e com o maior teor alcoólico da Região. Mas é dos tintos que vem a fama da sub-região. Elaborados com Amaral, Vinhão e Espadeiro, são vinhos com cor carregada e muito viva.

Sub-região de Baião: também tem muita notoriedade na produção dos brancos, a partir da casta Avesso.

Sub-região de Basto: a casta Azal atinge o seu máximo potencial e resulta vinhos com aroma de limão e maçã verde muito frescos, de alta acidez.

Sub-região do Cávado: tem vinhos brancos das castas Arinto, Loureiro e Trajadura com acidez moderada e notas de frutos cítricos e de pomar. Os vinhos tintos são na maioria cortes de Vinhão e Borraçal, cor intensa vermelho granada e aromas de frutos frescos.

Sub-região do Lima: Os vinhos brancos mais famosos são produzidos a partir da casta Loureiro. Os aromas são finos e elegantes e vão desde de limão até rosas.

Sub-região de Paiva: produz alguns dos tintos mais prestigiados de toda a Regiãoa a partir de Amaral e Vinhão.

Sub-região do Sousa: utiliza a casta Espadeiro, principalmente para a produção de rosés, sendo alguns dos mais destacados da Região.

Sub-região do Ave: Arinto e Loureiro Trajadura juntas compõem um blend perfeito com frescura viva e notas florais e de frutas cítricas.

O uso indiscriminado dos termos “Vinhos Verdes” ou “Vinho Verde” gera muita confusão. Pode parecer uma questão simplesmente ligada ao plural, mas não é. Os termos se referem à Região dos Vinhos Verdes (plural), uma das 14 regiões demarcadas de Portugal e à Denominação de Origem Controlada (DOC) Vinho Verde (singular). Para receber o selo de Denominação de Origem Vinho Verde, os vinhos devem respeitar as normas estabelecidas pela lei. Não há restrição de área de cultivo, toda a produção realizada dentro da Região dos Vinhos Verdes pode receber o selo se respeitarem as diretrizes da DOC.

A legislação permite a elaboração de vinhos brancos, rosés e tintos dos tipos tranquilo e espumante. Os tranquilos devem ter um volume alcoólico entre 8,5% e 14% e os espumantes entre 10% a 15% de álcool. Todos são elaborados exclusivamente com castas autóctones da região, são elas: as brancas Alvarinho, Arinto, Avesso, Loureiro, Azal, Batoca, Trajadura, e as tintas Vinhão, Alvarelhão, Amaral, Borraçal, Espadeiro, Padeiro, Pedral e Rabo de Anho. É permitida a criação de varietais e blends. Contanto, varietais de Alvarinho só recebem a certificação DOC Vinhos Verdes quando elaborados na sub-região de Monção e Melgaço. Exemplares de qualquer outra sub-região recebe a certificação de Vinho Regional do Minho.

Em 1926 foi criada a Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV), responsável por controlar e certificar os produtos elaborados na região. Quando a amostra apresentada à CVRVV não cumpre com os requisitos legais para ser certificada como DOC, o exemplar recebe o selo IG Minho. Isso não quer dizer que o vinho é de pior qualidade, apenas que não se enquadra legalmente aos parâmetros pré-definidos. A IG Minho permite a utilização de maior variedade de castas, incluindo uvas internacionais, e regras distintas de vinificação. Na maioria dos casos, os produtores não estão buscando necessariamente a tipicidade do vinho, mas a produção de vinhos inovadores. É comum encontrar vinhos IG Minho mais caros que os DOC Vinhos Verdes. Alguns produtores optam de forma intencional por rotular seus vinhos como Regional do Minho, até mesmo por questões de marketing e posicionamento de mercado.

A região dos Vinhos Verdes tem influência atlântica, reforçada pela orientação dos vales dos principais rios, que correndo de nascente para poente facilitam a penetração dos ventos marítimos. É observada elevada pluviosidade, temperatura amena, pequena amplitude térmica e solo majoritariamente granítico e localmente xistoso. Mas algumas regiões, por conta do microclima, apresentam características de terroir distintas. O que influencia diretamente no vinho.

Por que vinho verde?

Evidentemente, a cor do Vinho Verde não é verde. Então, por que esse nome? Duas são as versões mais conhecidas. O Vinho Verde leva esse nome porque as uvas da região, mesmo quando maduras, têm elevado teor de acidez, produzindo líquido cujas características lhes dão a aparência de vir de uvas colhidas antes da correta maturação. A outra explicação diz que "Vinho Verde" significa "vinho de uma região verde", ou seja, a denominação deriva da belíssima paisagem local, onde o verde das terras cultivadas se perde no horizonte.

Loureiro

A uva Loureiro é uma variedade branca amplamente cultivada no norte de Portugal, famosa por fazer parte na composição do tradicional Vinho Verde, elaborado na região do Minho. Além disso, a Loureiro também é cultivada em pequenas quantidades na Galícia, comunidade autônoma espanhola, ao noroeste da península ibérica.

Originária do Vale do rio Lima, a uva Loureiro é uma variedade extremamente fértil e com rendimentos generosos e que, apenas recentemente, assumiu o papel de uma casta nobre. Em regiões espanholas, essa variedade é conhecida também como Loureira, dando origem a excelentes vinhos brancos em Rías Baijas e, muitas vezes, sendo misturada com a casta mais tradicional e emblemática do país, a uva Albariño.

O nome Loureiro vem de “louros” que, no dialeto espanhol, é como eram chamadas às folhas da vinha por causa do seu perfume muito característico. Além das folhas, a flor da uva Loureiro tem também qualidades aromáticas marcantes por conta da sua personalidade floral, com ênfase nos aromas de flor de acácia, tília e laranjeira.

Os vinhos produzidos a partir da uva Loureiro apresentam excelentes aromas, notável acidez e baixos índices alcoólicos, visto que os varietais estão se tornando cada vez mais populares entre consumidores e críticos. No entanto, os famosos Vinhos Verdes, sempre foram historicamente elaborados com as uvas Trajadura e Arinto – conhecida também como Perdenã na região do Minho.

E agora finalmente falemos do vinho!

Na taça apresenta um amarelo dourado com reflexos esverdeados com um lindo e intenso brilho, além daquele pitoresco gaseificado.

No nariz uma explosão de frutas cítricas e brancas como abacaxi, limão, pera, maça verde, entregando certa complexidade, além de um agradável e delicado toque floral, lembrando flores brancas.

Na boca é seco, muito fresco e jovial que enaltece o seu caráter frutado, com uma incrível acidez muito típica da casta com um final prolongado e um retrogosto frutado.

Ah minha querida, idolatrada e adorável sobrinha Gabriela seu aniversário, seu momento simbólico de mais um ano de vida foi celebrado por todos a sua volta que te ama, que te quer bem e esse belíssimo e desconcertante vinho verde da também adorável e delicada casta Loureiro soube representar, de forma indelével, esse momento especial de sua e nossas vidas. Um vinho como você: solar, agradável, delicado, floral, perfumado. Um vinho simples, como todo vinho verde que se preze, mas com a nobreza da celebração que personifica esse vinho que parece ter o DNA de todos nós brasileiros e que os nossos patrícios nos presenteou, presenteou o mundo. É o mundo que você merece minha adorável Gabriela, que tenhas uma vida longa e próspera e que eu possa, a cada celebração de um ano de sua vida, degustar um grande rótulo para brindar. Tem 11% de teor alcoólico.

A doce Gabriela e eu

Ah e por curiosidade, o “Pingo doce”, estampado no rótulo no vinho, se trata de um famoso e popular supermercado de Portugal, onde este vinho é exclusivo para venda. Mais um motivo para celebrar, pois se está degustando um vinho exclusivo para venda em Portugal, apenas! Saúde!

Sobre a Quinta da Lixa:

A Quinta da Lixa é o testemunho vivo da paixão que a Família Meireles sempre teve pelos Vinhos Verdes. Presente em diversas áreas do mundo empresarial, esta família que já era proprietária de vinhedos localizados em redor da pequena Vila da Lixa, decide em 1986 criar uma pequena empresa que se viria a tornar naquela que é hoje a Quinta da Lixa - Sociedade Agrícola, Ltda. O vinho produzido era inicialmente vendido a granel, mas rapidamente se percebeu que a sua qualidade e aceitação eram tais que o engarrafamento na propriedade era imperativo. Devido ao aumento de produção, torna-se necessário a construção de novas instalações que viessem substituir a primitiva adega onde já não era possível a manutenção do padrão de qualidade que caracterizava os vinhos da Empresa. O desenvolvimento contínuo da empresa só é possível graças à satisfação dos Clientes em todos os serviços prestados. Faz parte da política de qualidade da Quinta da Lixa promover a satisfação de todas as partes interessadas, tais como Clientes, Fornecedores, Colaboradores e Sociedade em geral; cumprir os requisitos dos Clientes, bem como Normativos e Legais aplicáveis; estabelecer permanentemente práticas de melhoria continua, atingindo níveis de rentabilidade que garantam o crescimento sustentado da empresa e a eficácia do SGQ, fazendo desta forma que a Quinta da Lixa mereça a certificação ISO 9001:2015.

Mais informações acesse:

https://www.quintadalixa.pt/index.php



Referências:

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/vinho-verde-bebida-portuguesa-do-verao_8317.html

https://revistaadega.uol.com.br/artigo/a-paisagem-que-deu-nome-ao-vinho_2744.html

“Reserva 85”: https://reserva85.com.br/vinho/indicacao-geografica-ig-denominacao-de-origem-do/regioes-demarcadas-de-portugal/regiao-dos-vinhos-verdes/

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/loureiro








sábado, 17 de julho de 2021

Château Pinet la Houssaie 2018

 

Bordeaux, na França, definitivamente é um universo à parte. E como tal ainda tem muito a se explorar. As propostas e características desenhadas por infindáveis terroirs parecem deduzir ao enófilo uma ignorância retumbante, haja vista que, a cada nova degustação de um vinho bordalês nos sentencia o óbvio: temos tanto a descobrir, tantas sub-regiões, tantos vilarejos, tantas terras, tantas culturas intrínsecas e escondidas dentro de uma garrafa e decretadas por rótulos.

Há os encorpados e complexos que garantem longevidade, há os adocicados, há também os frutados e de boa acidez que lhe garante descontração e simplicidade ao degustar, são tantas as propostas que nos entregam uma diversidade, um leque de opções em todos os aspectos, dos sensoriais aos monetários.

Mas há quem diga, diante dessa riqueza de propostas, que Bordeaux que é Bordeaux que se preze tem de ser caro, amadeirado. O status de uma região que é vitrine, referência para o mundo vitivinícola acaba virando alvo de grife, sinônimo de poder econômico. Não devemos negligenciar os clássicos dos clássicos, afinal atingiu esse ápice por merecimentos, por honra e a benção de uma terra abastada pela natureza, tudo parece conspirar a favor naquelas terras.

Tudo é tão meticulosamente complexo que eu não deveria sequer ousar, talvez, entrar no mérito das discussões do status, dos valores, das propostas, confesso-lhes, caros leitores, que tenho medo de falar, de tecer quaisquer comentários acerca de uma região que parece um país, diante da sua importância para o universo vinífero e que suscita a doce utopia de todo e qualquer enófilo quer almeja, deseja ter em sua taça, em sua mesa, em sua história.

Mas como todo clichê que fomenta a nossa vida, o vinho bom é aquele que você degusta e gosta eu comprei, em um site especializado de venda de vinhos, um Bordeaux a um preço arrebatador, aquele que mesmeriza, sabe? Te envolve, te faz perder a noção? Um valor incrível, e ainda no frete grátis, na bagatela de R$ 35! É claro que o “inseto” do juízo de valor pré-concebido povoou a minha mente e as perguntas surgem: Será que é bom? Será gato por lebre? Será o vinho ruim?

Mas aí surge o argumento da proposta, um alento mais do que pertinente que nos faz ter o direito de degustar um Bordeaux que definitivamente contemple as necessidades e desejos de todos os enófilos. Parafraseando aquele presidente: “Sim, é possível!” É possível degustar um bom Bordeaux em todos os seus estágios de propostas e ainda assim entregar tipicidade, expressar o caráter daquela terra.

Então sem mais delongas apresento o vinho que degustei e gostei que vem da emblemática Bordeaux e se chama Château Pinet la Houssaie Bordeaux composto pelo clássico corte Merlot (60%), Cabernet Sauvignon (30%) e Malbec (10%) da safra 2018. E como já disse, são tantos detalhes, fragmentos que faz um todo que vale e muito a pena textualizar a história dessa região mágica. Com vocês: Bordeaux.

Bordeaux

Não é de hoje que Bordeaux é referência no mundo do vinho. Desde a Idade Média, a região tem atraído olhares de outras partes do mundo, principalmente da Inglaterra, que a incorporou à rota mercantilista – isso num tempo em que a maioria das denominações francesas eram praticamente desconhecidas fora do país.

Vamos começar pensando na fama que Bordeaux tem: vinhos elegantes, estruturados, bem feitos. Talvez os mais “franceses” da França. Comprar um Bordeaux é, na maioria das vezes, a certeza de um vinho correto, de um vinho que vai evoluir na guarda, de um vinho complexo, a cara do Velho Mundo.

Posicionada no litoral sudoeste da França, Bordeaux é uma região entremeada pelos rios Dordogne e Garone, que, ao se encontrarem, dão origem ao Gironde (maior e mais influente que os demais). Seu próprio nome faz referência aos rios (Bordeaux deriva da expressão francesa “au bord de l’eau”, que significa “ao longo das águas”).

Bordeaux

maiores atributos de Bordeaux. Além de amenizar o clima da região, as águas provêm o melhor ambiente para o desenvolvimento das videiras. De tão extensa que é Bordeaux, a denominação está mais para um conjunto de várias denominações e terroirs. Um antigo ditado de Bordeaux diz que os melhores vinhedos “podem ver o rio”, regiões onde o solo é formado por cascalho e pedras, perfeito para a drenagem da água. A maioria dos principais produtores bordaleses está exatamente nessas localidades. É exatamente por isso que Bordeaux deu tão certo no mundo dos vinhos – ali, as uvas crescem no clima, no solo… No terroir ideal. Existem outras denominações até melhores? Claro que sim, mas Bordeaux ainda é vista como um modelo a ser seguido para que tudo dê certo no final.

Na verdade, é sempre diferente. Mesmo com os rios, o clima da localidade ainda é extremamente delicado, chegando a ponto de ser instável. É justamente por isso que cada safra se diferencia das demais, algo que não se vê na maior parte do Novo Mundo, onde os climas são estáveis.

O famoso corte bordalês

Apesar de vasta, Bordeaux cultiva poucas uvas. São elas Cabernet Sauvignon, Merlot, Cabernet Franc, Malbec, Petit Verdot, Sauvignon Blanc, Sémillon, Muscadelle e Ugni Blanc. Houve um tempo em que a Carménère também brotava na região, porém foi extinta pela praga da filoxera que devastou parte de Bordeaux (e da Europa inteira).

Não existe uma regra específica quanto às proporções usadas no corte, e também nem todas as cepas precisam estar presentes. Cada uma delas desempenha um papel no corte e contribui de alguma maneira para deixar o vinho redondo, correto. Para se ter uma ideia, a maioria dos rótulos de Bordeaux nem mencionam as uvas que levam.

O rio

Extensa, Bordeaux é formada por diversas comunas. E adivinhe só? Cada uma se tornou uma denominação de origem (ou apelação, como chamam os franceses). Para conseguirem estampar o nome da denominação de onde saíram, os vinhos passam por longas e rigorosas avaliações.

Podemos dizer, de modo geral, que Bordeaux se divide em três partes ao longo do rio Gironde: margem esquerda, margem direita e Entre-Deux-Mers (“entre dois mares”, em francês). Daí, então, já dá para tirar algumas conclusões: à direita do rio, predomina a Merlot, enquanto que à esquerda, Cabernet Sauvignon; já Entre-Deux-Mers é conhecida por seus brancos. É bom ter isso sempre em mente, afinal, os vinhos de Bordeaux não costumam estampar a uva no rótulo, mas pela denominação já dá para saber!

O que sabe sobre a margem esquerda, tirando o fato de nela predominar o cultivo da Cabernet Sauvignon? É onde estão alguns dos maiores nomes de Bordeaux. São grandes as chances de já ter ouvido falar em alguns dos rótulos e vinícolas de peso que de lá emergiram. As sub-regiões desse “pedaço” de Bordeaux são: Médoc, Saint-Estèphe, Pauillac, Saint-Julien e Margaux.

Cruzar a margem do Gironde é como viajar para outra região. As comunas à direita em nada lembram as da margem esquerda, com luxuosos châteaux e vinhedos enormes. São mais modestas, menos conhecidas (com uma exceção) e, além disso, quem domina a região é a Merlot, e não a Cabernet. As suas sub-regiões desse pedaço são: Saint-Émilion e Pomerol.

Já em Entre-Deux-Mers, como o próprio nome diz, se encontra entre os rios Dordogne e Garonne. É um tanto quanto marginalizada principalmente quando comparada às demais denominações de Bordeaux. Nunca seus vinhos foram classificados e a maioria dos tintos, inclusive, não segue as regras da denominação Entre-Deux-Mers, se enquadrando apenas como Bordeaux ou Bordeaux Superiéur. Lá, os brancos é que dominam. Feitos principalmente de blends de Semillón, mas também de Sauvignon Blanc e Muscadelle, são florais com um toque picante. E por não estagiarem em barrica, ganham leveza e frescor como nenhum outro.

E como ler um rótulo de Bordeaux? Bordeaux Superiéur, Cru, Grand Cru… O que é tudo isso? Que classificações são essas? Tudo começou em 1855 (antes mesmo da criação do conselho regulador), quando Napoleão III resolveu organizar o Julgamento de Paris, que classificou os melhores vinhos à época. Esta classificação não considerou toda Bordeaux, então algumas denominações, sentindo-se inferiorizadas, criaram posteriormente as suas próprias classificações. Premier Grand Cru, Grand Cru Classé, Grand Cru… E por aí vai! Acredite, são várias delas, todas com nomes muito parecidos. Mas três, as mais importantes, são usadas até hoje.

Para o evento, os principais châteaux deveriam classificar seus vinhos do melhor para o pior e, então, seriam degustados, avaliados e distribuídos em cinco categorias. Com apenas um vinho classificado, a vinícola já ganha um título vitalício! Funciona como um atestado garantia de qualidade, e até os vinhos mais simples que da propriedade saem têm preços astronômicos. Ao todo, 61 produtores foram classificados… E adivinhe só? A maioria deles está justamente em Médoc – fora isso, os outros que entram estão em Sauternes, Barsac e Graves.

Château-o-quê?

Difícil mesmo é encontrar sequer um rótulo de Bordeaux sem a palavra “château”. O que parece ser uma mania local, na verdade, tem uma explicação pra lá de plausível.

Como a maioria dos vinhedos estava localizada no entorno de castelos (châteaux, em francês), as vinícolas acabaram sendo batizadas com seus nomes. Hoje, nem todas as vinícolas tem castelos próprios, mas mesmo assim são denominadas châteaux!

Mis en Bouteille au Château

Procure pela frase num rótulo e tenha a certeza de que as uvas do vinho que vai beber foram cultivadas e vinificadas no próprio château. Ao pé da letra, “Mis en Bouteille au Château” significa “engarrafado no château”, ou seja, é quando todas as etapas de produção de um vinho passaram aos cuidados do próprio vinicultor.

Por que preferir estes? Para conhecer a tipicidade de um terroir específico (pode acreditar que cada um deles tem características completamente únicas!).

E agora finalmente o vinho!

Na taça o vermelho rubi intenso sobressai, mas com algum reflexo violáceo que traz à tona um reluzente brilho, com uma profusão de lágrimas finas que teimam em se dissipar das paredes do copo.

No nariz traz as frutas vermelhas como protagonistas, “estrelando” cerejas, ameixa e talvez framboesa, com um toque de couro, estrebaria, carpete, algo de tabaco, talvez, arriscaria dizer ainda notas terrosas.

Na taça é seco, com alguma estrutura, marcante, mas macio e fácil de degustar, um pouco alcoólico no início, mas que logo se equilibrou, porém não escondeu a sua presença em toda a degustação, mas que, em momento algum, agrediu. Tem bom volume de boca, sendo saboroso, frutado, com taninos presentes e redondos com uma acidez vivaz e final longo e persistente.

Entre margens, terroirs, caráter expressivo, marcante personalidade, maciez, elegância, a fruta que traz leveza, estrutura, não há como não se sentir alegre, mesmo que por um súbito momento de alegria, por um efêmero momento, quando se degusta um Bordeaux. E parece que valores, propostas, status, grife parecem perecer diante de uma taça cheia de um vinho bordalês! Claro que detalhes como esse delimita a proposta de um vinho, te mostra o que está degustando. O meu Château Pinet la Houssaie Bordeaux, que traz a predominância da Merlot, traz a maciez, o espírito frutado, com uma acidez equilibrada que determina as características mais marcantes desta emblemática cepa, mas que entrega também personalidade, expressividade graças aos seus taninos firmes e ainda presentes pela sua jovialidade, mas sem agredir ao paladar, sem contar com o apelo estético, visual, com o típico vermelho rubi. Barato sim, mas significativo, pois personifica uma região tradicional, importante, histórica e que nos brinda com vinhos de toda ordem, de tantos terroirs que parece se tratar um mundo, de um universo que muito tem ainda a se explorar. Tem 13% de teor alcoólico.

O Château Pinet la Houssaie

Localizada na cidade de Berson, a vinha de Chateau Pinet La Houssaie faz fronteira com a Côtes de Bourg e gira em torno da cidade de Blaye em uma paisagem de colinas que correm ao lado de uma vista para o estuário. Desfrutando de um clima favorável, as vinhas florescem completamente.

Sobre a Maison Bouey:

A história da família Bouey no vinho enraizou-se na região de Médoc, no momento em que eles adquiriram suas primeiras vinhas em 1821. A casa comercial foi criada posteriormente, em 1958, por Roger Bouey e seus filhos André e Serge e continuou se desenvolvendo até agora, mantendo seu caráter familiar e independência. 2016 marca uma virada no seu desenvolvimento.

Após uma carreira internacional em administração e finanças, Patrick Bouey decidiu então, em 1989, se juntar a seu pai Serge e seu tio na aventura da família, e assume totalmente as rédeas da empresa em 1991 com seu irmão Jacques, o consultor artístico da casa. A empresa entra, dessa forma, em uma nova era graças ao desenvolvimento das vendas em garrafas para a distribuição em massa. Em 2005, Patrick deu à casa da família um novo nome: Maison Bouey.

Com uma paixão pelo terroir e o desejo de produzir seus próprios vinhos com uma abordagem de qualidade, a casa compra duas propriedades no Médoc em 1998: o Château Lestruelle assim como o Château Maison Blanche, ambos Crus Bourgeois. Patrick faz muitos trabalhos nas vinhas e nas adegas para dar à casa os meios de sua ambição de se reconectar não só com o terroir mas também com a qualidade.

Logo após, em 2009, Patrick Bouey transferiu todas as instalações e escritórios em um único local em Ambarès, nos arredores de Bordeaux. Foi uma nova alavanca para o desenvolvimento da empresa e então Patrick lançou o “360 Plan”. Este plano se concentra em três diretrizes: subir no mercado, desenvolver exportações, bem como um amplo plano de marketing e comunicação.

A fim de destacar os notáveis ​​terroirs da família no Médoc, Patrick aumentou o portfólio de castelos em 2014 com o Château La France Delhomme, Cru Bourgeois.

Este último incorpora a abordagem de premiumização da gama ‘Bouey Family Vineyards and Chateaus’. Posteriormente, em 2015, ele adicionou o Château du Mont (Haut-Médoc) e o Crus Burguês Château La Ribaud e Château Saint-Yzans. Desde 2007, Patrick trabalha com Stéphane Derenoncourt para todas as propriedades da família. Tanto quanto houve a garantia de qualidade, tal colaboração resultou na criação de coleções exclusivas de assinaturas como ‘Les Parcelles’.

A Maison Bouey respeita a natureza e a vinha com agricultura integrada. Mas a Maison Bouey não promove tanto a maneira como o vinho é produzido, como a confiança no viticultor e a personalidade do terroir.

Portanto, a casa fez uma parceria estreita com os viticultores cujo trabalho destaca a casa. Ele presta homenagem a eles com a coleção “Retratos”, desse modo cada vinho leva a cara do viticultor que o produziu. A essas coleções é adicionada a linha Grand Crus Classés. E muita essência do que a casa faz de melhor, símbolo afinal do trabalho de excelência, lançou a cuvée Villa des Crus com uma embalagem moderna e refinada, com cada garrafa embrulhada em papel de seda e entregue em uma caixa de luxo.

Como resultado lógico da abordagem de premiumização, Patrick Bouey desejava desenvolver a distribuição seletiva para um serviço de primeira linha, clientes particulares e comitês de trabalhadores com a chegada de Benoît Lesueur. Um sólido desenvolvimento das exportações permite aumentar os mercados internacionais em cerca de sessenta países, que agora representam 60% do faturamento.

Num espírito criativo, a casa lançou novos produtos e conceitos como vinhos de prazer imediato, como ‘La Vache Rose’. Ademais, a Maison Bouey também atravessa as fronteiras de Bordeaux lançando a coleção Southwest que brinca com as notas de Malbec e Shiraz.

É claro, sem dúvida, que toda essa estratégia significa uma maior comunicação com a imprensa e participação justa. No primeiro semestre, Patrick Bouey esteve na capa de muitas revistas especializadas. Ele foi visto nas maiores feiras dos últimos meses.

Agora, a casa é um ator moderno e dinâmico na cena de Bordeaux, enquanto permanece como uma das últimas casas independentes e de propriedade familiar do comércio.

Por fim, propriedades familiares, marcas exclusivas, Grands Crus Classés, Maison Bouey se esforça para promover na França e em todo o mundo um espírito baseado em talento, qualidade, confiança e paixão pelo vinho.

Mais informações acesse:

https://www.famillebouey.fr/

Referências:

“Blog Sonoma”: https://blog.sonoma.com.br/seja-um-craque/guia-definitivo-dos-vinhos-de-bordeaux/

 

 

 







segunda-feira, 12 de julho de 2021

Crios Malbec Rosé 2017

 

O garimpo, a busca pelo vinho ainda se torna necessário e urgente, mesmo em tempos de e-commerce e questões virtuais com as suas conveniências e comodidades. Digo isso, pois tive a sorte de ganhar um convite, de uma rede grande de supermercados, de participar de uma palestra de um enólogo da vinícola, uma das melhores da Argentina atualmente, chamada Susana Balbo Wines. Além da história, dos processos de vinificação, do mercado externo de vinhos, conceitos de comportamento de degustação e degustadores, tivemos, para o nosso deleite, degustações de alguns dos mais importantes rótulos deste grande produtor.

Na época deste evento eu já conhecia, bem antes, de alguns rótulos da vinícola, sobretudo a linha básica deste produtor, a “Crios”. O meu primeiro contato foi com o Crios da casta Torrontés safra 2013. Que vinho, dignos leitores! Não se enganem ou crie uma mentalidade pré-concebida pelo fato da linha ser básica, trata-se de um excepcional Torrontés e foi um dos melhores que degustei desta casta ícone argentina. Depois deste eu decidi buscar outros rótulos da vinícola e encontrei a clássica casta Malbec, o Crios Malbec 2014, outro excelente vinho que expressa a tradição da casta produzida em Mendoza com o arrojo contemporâneo dos vinhos da excelente enóloga Susana Balbo.

Mas voltando ao evento da Susana Balbo Wines, tudo estava perfeito para todo bom enófilo: o assunto abordado, as degustações de rótulos especiais e quando eu tive acesso a outro rótulo da linha Crios eu tive uma espécie de arrebatamento, algo que deixa sem reações, somente a alegria incontida de ter as características daquele vinho impactando os seus sentidos.

Quando o degustei eu pensei, ainda atônito: Preciso compra-lo! Alguns vinhos disponibilizados para degustação não estavam, infelizmente, disponíveis para venda e isso me preocupou, pois queria o vinho que me arrebatou, que me deixou animado para tê-lo em minha simples e humilde adega, mas o encontrei e não hesitei em leva-lo.

Demorei um pouco para abri-lo, mas o momento chegou! Já havia degustado e já sabia o que me aguardava, mas ainda assim, aquele ritual para a abertura de um vinho que estruturei foi levado à risca, como se fora o meu primeiro contato com o rótulo. O vinho que degustei e gostei veio da fantástica região, localizada em Mendoza, chamada Luján de Cuyo, e se chama Crios, um Malbec Rosé da safra 2017. E para não perder tempo falemos um pouco da história da emblemática sub-região de Valle de Uco e também da vinícola de Susana Balbo, bem como a história do nome “Crios”.

Valle de Uco, a grande produtora de vinhos da Argentina

Foi possível confirmar a presença de aborígenes que povoaram o vale de Uco muitos anos antes de Cristo. Nos petróglifos encontraram seu modo de vida: eram pessoas que se dedicavam à agricultura e à caça de animais, graças aos benefícios que o lugar lhes oferecia. No século XVI, a chegada dos conquistadores espanhóis das terras chilenas e peruanas marca as primeiras explorações em terras habitadas por dóceis e laboriosas famílias indígenas: os huarpes. Daquela época vem a palavra "Uco", que se refere ao nome do cacique Cuco. Além disso, é traduzido como uma nascente de água, elemento fundamental da região.

Um século depois, os padres jesuítas se estabeleceram no vale. Eles constituíram a primeira cidade organizada e fundaram o Curato de Uco, dando início à evangelização. O general José de San Martín governou Cuyo com sede em Mendoza entre 1814 e 1816, enquanto organizava os preparativos para empreender a travessia dos Andes e libertar o Chile e o Peru. Em várias ocasiões, ele se encontrou com nativos na área antes da expedição de libertação. Também com o militar argentino Manuel de Olazábal quando retornou à sua terra natal pelo desfiladeiro El Portillo, no que hoje é conhecido como Manzano Histórico.

José de San Martín

Por sua vez, a história da viticultura na região tem suas referências. Na década de 1880, Juan Giol, Bautista Gargantini e Pascual Toso chegaram de suas terras europeias e se associaram e se dedicaram à produção de vinhos. Três apelidos famosos que deram origem à San Polo Winery and Vineyards no início dos anos 1930, que tem a honra de ter, até hoje, cinco gerações de enólogos.

Juan Giol

Bautista Gargantini

Pascoal Toso

O Vale do Uco foi “descoberto” pela indústria vitivinícola nos anos 1990. Localizado no sudoeste da cidade de Mendoza, bem aos pés dos Andes, seus vinhedos estão plantados em uma zona de clima temperado, com invernos rigorosos e verões quentes com noites frescas. Pode-se dizer que Uco é uma área realmente fria da região de Mendoza – e também de grande amplitude térmica (pode chegar a até 16o C), em parcelas que variam entre 850 e 1.700 metros de altitude. Os solos são predominantemente pedregosos, com seixos rolados misturados à areia grossa, de boa permeabilidade, boa drenagem e pouco férteis. Em algumas zonas, observa-se argila ou calcário e até áreas com depósitos de cálcio, estas últimas mais raras e valorizadas, e também de onde vêm saindo alguns dos melhores vinhos lá produzidos atualmente. O índice pluviométrico é baixo e a irrigação dos vinhedos é normalmente feita por gotejamento com água de degelo das montanhas.

O Vale estende-se por três departamentos (segundo nível de divisão administrativa nas províncias argentinas): Tupungato, Tunuyán e San Carlos. A altitude e a grande amplitude térmica constante que os três departamentos compartilham exercem influência na qualidade das uvas produzidas, uma vez que torna a fase de amadurecimento da fruta mais longa, permitindo que o caráter varietal de cada cepa cultivada desenvolva-se por completo, ao mesmo tempo em que um teor agradável de acidez seja preservado.

Valle de Uco

O sucesso do vale é tamanho que, no início da década de 2010, a área de vinhedos plantados chegava a quase 26.000 hectares, praticamente o dobro do que havia no local no início dos anos 2000. O desenvolvimento da região é inconteste, assim como a sua crescente reputação dentro da vitivinicultura argentina, haja vista que um grande número de vinícolas estabelecidas em outras áreas de Mendoza busca adquirir vinhedos no vale e também construir novas plantas na região.

Aproximadamente 75% dos vinhedos são de uvas tintas, especialmente Malbec, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Merlot e Pinot Noir, com destaque para a vedete nacional nos últimos anos, a Cabernet Franc. Dentre as brancas, brilham a Chardonnay, a Sémillon e a Sauvignon Blanc, mas também há vinhos com Viognier e Torrontés.

E agora finalmente o vinho!

Na taça conta com o desconcertante rosa intenso, poderoso e muito brilhante, com algumas finas lágrimas que logo se dissipam, mas que já denuncia o sua personalidade.

No nariz uma explosão de frutas vermelhas tais como morango, groselha, framboesa e cereja, com um toque floral que lhe confere frescor e vivacidade, com muita elegância.

Na boca se confirmam as notas de frutas vermelhas, extremamente frutado, sem ser enjoativo, com uma atípica estrutura para um rosé, mas que denunciam também um frescor graças a sua vibrante acidez, sendo um vinho delicado, mas marcante, muito versátil. Tem um final prolongado e persistente com um retrogosto muito frutado.

A linha Crios nasceu do amor de Susana Balbo pelos filhos e do desejo de deixar um legado para a família que os ajudasse a percorrer os seus próprios caminhos com lições de vida que aprendeu na sua carreira de empreendedora incansável. O símbolo icônico de mãos sobrepostas em cada mamadeira representa essa relação mãe-filho e, por sua vez, as mãos como ferramentas poderosas para as mães fornecerem apoio, calor, conforto e transmitirem os ensinamentos de sabedorias e habilidades aprendidas.

Convicção, energia e identidade são necessárias para criar algo com as mãos e deixar uma marca pessoal indelével. Cuidando de seus vinhos Crios para destacar o melhor de suas variedades, Susana e sua equipe escolhem as melhores regiões vinícolas da Argentina para cada tipo de uva e, em seguida, criam cada varietal para elevar suas características intrínsecas.

E com esse conceito tão evidente, tão forte da questão da identidade, da cultura de um povo, de sua terra, esse belíssimo Crios Malbec Rosé entrega, de forma divina e maravilhosa, a tipicidade, o terroir de uma região emblemática como Valle de Uco, Mendoza, do Malbec argentino que é tão singular e global. Um Malbec rosé com uma cor rosada escura e intensa, mas brilhante, reluzente, bonita, um Malbec rosé, diria, atípico, com uma incrível estrutura, que parece que deve ser consumido, degustado com “garfo e faca”, de tão caudaloso, de tão encorpado para um rosé, mas que entrega frescor, boa acidez, mesmo com seus 4 anos de safra! Um vinho básico e excepcional e que proporciona aos mais ávidos fãs da poesia líquida as terras abençoadas da Argentina e a sua Mendoza. Tem 14,5% de teor alcoólico, mas que está muito bem integrado ao conjunto do vinho com muito equilíbrio.

Sobre a Susana Balbo Wines:

Em 1999, com quase duas décadas oferecendo seu talento ao aconselhamento de empresas nacionais e internacionais do setor vitivinícola, Susana Balbo decidiu realizar seu sonho de ter sua própria vinícola e foi para que Susana Balbo Wines se enraizasse no coração de Luján de Cuyo Mendoza. Após mais de dez anos de constante crescimento nos mercados internacionais, outro sonho se tornou realidade: seus filhos, José, um enólogo da UC Davis (Califórnia) e Ana, formada em Administração de Empresas pela Universidade de Em San Andrés, eles decidiram continuar com a tradição da família e se juntar à equipe Susana Balbo Wines. Nos últimos anos, Susana e sua equipe trabalharam duro para atender aos mais altos padrões de qualidade em nível internacional, demonstrando seu compromisso com os problemas mais importantes do século XXI: segurança alimentar, sustentabilidade e responsabilidade social corporativa.

Mais informações acesse:

https://www.susanabalbowines.com.ar/

https://www.criosdesusanabalbo.com.ar/


















sábado, 10 de julho de 2021

Santa Ema Select Terroir Reserva Merlot 2018

 

A Merlot definitivamente tem uma importância ímpar na minha trajetória de enófilo. Diria, sem medo ou exagero, que a Merlot ajudou a moldar o que sou como um apreciador incondicional da poesia líquida. Foi uma casta essencial para a minha transição dos vinhos de mesa para os vinhos finos, de uvas vitis vinífera. Mas o mais importante disso tudo é o impacto que ela causou em minha vida e que, a cada degustação, a cada experiência sensorial vem impactando.

Lembro-me com nitidez que os primeiros rótulos da casta Merlot que degustei logo me rendi de forma incondicional, me curvei perante a ela e de imediato se tornou a minha casta preferida, mesmo que naquela época eu ainda estava apenas no início da minha trajetória no universo do vinho.

Degustei alguns rótulos nacionais e chilenos, mas o segundo, de cara, me impressionou: tinham personalidade, eram marcantes, alguns encorpados, mas macios, equilibrados e fáceis de degustar. Embora naquela época, como disse, estava apenas no início da minha caminhada no mundo dos vinhos, eu conseguia ter essa percepção do vinho, o que fez curvar diante da cobiçada Merlot.

E degustei de forma ávida e dedicada alguns rótulos chilenos da casta Merlot e que maravilha era explorar cada um deles, de várias regiões, cada um com a seu terroir, as suas características, fazendo com que eu mergulhasse profundamente nos rótulos chilenos da casta. Tive momentos em que a minha simples adega se tinha Merlot chileno, como foi intenso, uma espécie de paixão avassaladora em que, determinadas situações, temia que razão tomasse conta de meus sentidos e fizesse trazer à tona alguma ingrata realidade.

Mas não permiti que a temível e silenciosa zona de conforto, tomasse conta de mim e o Chile se desbravou diante dos meus olhos e sentidos de outras formas, ou melhor, de outras castas e rótulos nas suas mais diversas propostas, mas não posso negar que o Chile e os seus grandiosos vinhos chegou a mim graças a Merlot, bem como a casta propriamente dia.

E a minha mais nova degustação de um Merlot chileno veio de uma forma inusitada e surpreendentemente incrível. Avistei, em uma das minhas novas incursões aos supermercados, um Merlot do Chile com um atraente valor na faixa dos R$ 23,00! Receoso, me aproximei para conferir com cuidado. Como costumo fazer, acessei a página do produtor para colher mais informações acerca do vinho e o que lá li me chamou muito atenção, sobretudo pelo fato do valor tão baixo.

Não tinha nada a perder, afinal, um valor baixo, caso o vinho não me agradasse eu perderia pouco dinheiro. E eis que o dia, o momento, chegou! No barulho da rolha se desprendendo da garrafa, por um instante eu voltei no tempo e relembrei de agradáveis degustações de bons Merlots chilenos. Que vinho! Então apresento o vinho que degustei e gostei que veio do Vale del Cachapoal, no Chile, e se chama Santa Ema Select Terroir Reserva, da safra 2018.

Então já que fiz comentários elogiosos a Merlot, falemos um pouco da casta e também da região a qual o vinho foi concebido, já que o nome do vinho traz a palavra-chave: “Terroir”.

Merlot: popular sim, mas elegante.

Por um longo período na história dos vinhos, a Merlot ficou conhecida pejorativamente como a “outra tinta de Bordeaux”, região de sua origem e cuja estrela principal era a Cabernet Sauvignon. Esse panorama começou a mudar no final do século XX – atualmente ela é uma das castas de maior sucesso no mundo, sendo cultivada em diversos países vitivinicultores.

Pesquisas revelam que a Merlot descende da casta Cabernet Franc, também francesa, sendo meia-irmã das não menos famosas Carmenère e da Cabernet Sauvignon. Apesar de seu prestígio ter se espalhado pelo mundo apenas na década de 1980, a Merlot tem cultivo documentado há séculos atrás. A primeira referência à uva que se tem notícia data de 1784, no seu país de origem: a França.

A sua designação, Merlot, deriva de Merle – nome dado a um pássaro na França que, assim como a uva, ostenta uma coloração escura e profunda. 

Melre

No século XIX foi muito cultivada na região de Médoc, que fica à margem esquerda do rio Gironde. Tem seu nome mencionado em diversas ocasiões na Itália e Suíça já na virada para o século XX, mas ganha notoriedade mesmo quando entra no Novo Mundo em 1990, tornando-se a uva mais popular nos Estados Unidos.

A França continua sendo o maior cultivador desta casta, com aproximadamente dois terços da sua produção mundial. Bordeaux, com 56% de seus vinhedos cobertos de Merlot, é a principal produtora; sobretudo na sua margem direita, onde a uva domina as plantações das regiões de St. Émilion e Pomerol. Outros países como Itália (onde a Merlot é a quinta casta mais plantada), Estados Unidos (na Califórnia, principalmente), Argentina, Chile, Austrália, Brasil, Canadá e África do Sul cultivam a Merlot de forma significativa. Denotando seu prestígio, popularidade e fácil adaptação em diversas partes do globo.

Assim como a Cabernet Sauvignon, a Merlot tem boa adaptabilidade a diversos solos e terroirs. Suas cepas se desenvolvem muito bem em solos rochosos e áridos, mas também são bem cultivadas em solos argilosos. Quanto ao clima, a adaptabilidade também reina, pois consegue produzir boas safras tanto em climas mais quentes quanto em mais frios e úmidos.

Apesar do seu fácil cultivo e da sua flexibilidade, os especialistas divergem a respeito do tempo de maturação dessa uva, não existindo consenso. Isso porque, outra característica dessa uva é sua propensão para passar do ponto do amadurecimento, o que pode acontecer em questão de dias (um dia está boa e dias depois já amadureceu muito).

Os que defendem a colheita tardia entendem que isso conserva os açúcares e a maturação fenólica de forma mais concentrada. A outra corrente, ao contrário, acredita que a colheita tardia prejudica a acidez e destaca excessivamente os aromas frutados, tornando o vinho mais pesado, com menos frescor e elegância, razão pela qual defendem a colheita precoce.

Por causa dessa divergência que atualmente existem dois tipos de vinhos Merlot: (i) o estilo internacional, elaborado no novo mundo, no qual a uva é colhida mais tarde (no momento em que está mais madura), com teor alcoólico mais alto e que resulta em um vinho mais encorpado. E (ii) o tradicional estilo de Bordeaux, que usa uva colhida mais cedo para manter a acidez e produzir vinhos de corpo médio, com teor alcoólico moderado.

Como se não bastassem essas diferenças, especialistas ainda afirmam que há diferença de entre os vinhos em razão da região onde a uva é cultivada, especificamente se é em local mais quente ou mais frio. De fato, vinhos de regiões mais frias, como França, Itália e Chile, são mais estruturados, com maior presença de taninos e aromas de tabaco. Já os vinhos de regiões mais quentes, como da Califórnia, da Austrália e da Argentina, são mais frutados e com taninos menos predominantes.

Vale de Cachapoal

O Valle del Cachapoal – Valle del Rapel, é uma sub-região da região de Valle Central. Ocupa a parte sententrional do vale de Rapel, enquanto o vizinho meridional é Colchágua. Embora por muito tempo se tenha falado só de Rapel, pouco a pouco ambos foram se desligando dessa vizinhança a ponto de já muitos poucos rótulos falarem em um Rapel genérico.

Valle Central e o Valle del Cachapoal

Existe lógica por trás dessa divisão, porque as diferenças são importantes, tanto em clima quanto em topografia. Boa parte dos produtores mais importantes de Cachapoal tem seus vinhedos aos pés dos Andes, local chamado de Alto Cachapoal. Nessa região a Cabernet Sauvignon brilha com seu frescor e elegância, mas, também, aproveitando a influência fria da cordilheira e dos pedregosos solos aluviais de média fertilidade, conseguiram-se interessantes resultados com a Viognier em brancos  e  Cabernet Franc em tintos.

O poente, nos arredores de Peumo, as temperaturas aumentaram, especialmente nos setores protegidos da influência marítima, como em Las Cabras. Nesse setor, o estilo delicado e elegante transforma-se em maior potência de álcool, maturidade e doçura. Isso explica por que, na região ocidental do vale, a Carménère alcance sua completa maturação sem dificuldades. Em Peumo, na margem setentrional do rio Cachapoal, são produzidos alguns dos mais interessantes Carménère do Chile.

As brisas frescas da costa que deslizam pela bacia do rio banham os vinhedos de frescor e, ao mesmo tempo, moderam as altas temperaturas do setor. Isso explica, por exemplo, que os tintos tenham essas notas de ervas e frutas vermelhas maduras proporcionadas pelas brisas frescas.

E agora finalmente o vinho!

Na taça mostra um imponente vermelho rubi intenso com reflexos violáceos brilhantes com abundantes lágrimas grossas que mancham as paredes do copo.

No nariz revela aromas de frutas vermelhas maduras, algo de groselha e ameixas, com notas amadeiradas delicadas e de baunilha em um equilíbrio invejável, graças aos 6 meses de passagem por barricas de carvalho, cerca de 40% do vinho.

Na boca é um vinho austero, maduro, de tipicidade, com alguma estrutura, mas muito macio e harmonioso, aparecendo, mais uma vez, as notas amadeiradas, de forma discreta, fazendo com que a fruta sobressaia, o toque herbáceo se faz presente também, com taninos firmes, mas domados, acidez correta e final prolongado e frutado.

O nome do vinho traz aquela palavra-chave: “Terroir”. E ela explica muita coisa que aqui foi textualizada. As características climáticas e geográficas que personificam os Merlots chilenos, a personificação do genuíno. Antes de saber ou pelo menos ter a mínima, a vaga noção do conceito de “Terroir” eu já tinha a plena noção da tipicidade dos Merlots chilenos e foi o que me cativou, o que me arrebatou por inteiro. Santa Ema Select Terroir surpreende por entregar um vinho maduro, de personalidade marcante, mas suave, elegante. Uma versatilidade que faz com que o vinho cative a todos os paladares, dos mais exigentes aos iniciantes do universo vasto e inexplorado do vinho que ainda tem a maravilhosa capacidade de nos surpreender. Que o Merlot chileno continue nos inspirando e provocando verdadeiras catarses em nossos sentidos. Tem 13,7% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Santa Ema:

O começo da Santa Ema remonta ao início do século XX, quando o Sr. Pedro Pavone Voglino, imigrante italiano, vindo do Piemonte, atleta e empresário, descobriu na Ilha de Maipo um Terroir, onde até hoje, ainda é a sede da vinícola, isso em 1917. Em 1935 ele adquire a fazenda Santa Ema, com 35 hectares.

O fundador, juntamente com seu filho Félix Pavone Arbea, um grande empreendedor e visionário, fundou a empresa vinícola, Vinhos Santa Ema, em 1956, proporcionando uma avançada infraestrutura industrial para o desenvolvimento e gerenciamento de vinhos embalados de alta qualidade.

A primeira exportação de vinhos Santa Ema para o mercado exterior acontece em 1986 e, a partir de então, a Santa Ema se abriu para o Chile e para o mundo, iniciando suas exportações em um processo de crescimento sólido e ininterrupto, que hoje atinge a mais de 30 países de destino nas mãos da terceira e quarta geração da família.

Se existe algo que caracteriza o espírito, a missão e a visão dos Vinhos de Santa Ema, que continua pertencendo à Família Pavone, hoje em sua quarta geração, é uma adesão plena e sustentada aos seguintes valores fundamentais: Compromisso, Qualidade, Respeito, Honestidade e Responsabilidade.

Mais informações acesse:

https://www.santaema.cl/pt-br/?active=S

Referências:

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=RAPELCACHAPOAL

“Blog Vinho Site”: http://blog.vinhosite.com.br/uva-merlot-conheca-mais-sobre-os-vinhos-dessa-variedade/

“Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/uva-merlot-quando-a-popularidade-encontrou-a-elegancia/

“Blog do Jeriel”: https://blogdojeriel.com.br/2011/11/09/o-vale-de-cachapoal/