terça-feira, 10 de agosto de 2021

Marea Valle de Leyda Sauvignon Blanc 2012

 

O enófilo às vezes sofre por algumas “provações”, alguns dilemas. Agora vem a pergunta: Mas como sofrer por degustar a poesia líquida, por degustar grandes e especiais rótulos? A escolha, a tomada de decisão para nós que apreciamos um bom vinho pode parecer muito difícil. Pelo preço: o seu orçamento está curto e gostaria de comprar a loja inteira, mas você tem de sair dela com uma no máximo duas garrafas! E aí, como fazer para escolhê-las com tantos rótulos que julgou serem especiais? Essa é uma das mais sofridas, sem dúvida!

E quando o vinho não tem nenhuma informação no rótulo, mas algo te cativou nele, sabe-se, como a região, a casta que você nunca degustou? Eu que preciso dos requintes de detalhe do vinho, fico tenso em saber um pouco mais do rótulo e se de fato ele contempla os meus anseios de momento. São várias as situações que eu poderia elencar aqui, mas uma enredou o vinho que será o protagonista dessa resenha de hoje e ele veio do Chile, que já é uma porta de entrada no que tange a qualidade.

Eu estava como sempre, em uma de minhas incursões ao supermercado e logo me dirigi à adega para ver se tinha algumas gratas novidades. Logo vi que tinha muitas promoções, os cartazes com os preços baixos gritavam em números garrafais, hipnotizava o humilde enófilo que tentava, com seus parcos salários, comprar algum vinho e este clamava: “Me leve!”.

Contudo, diante de irresistíveis dicas, um me chamou demasiadamente a minha atenção. Já que falei em hipnotismo esse sim fez com que merecesse a minha atenção. Tomei o rótulo em minhas mãos e era um Sauvignon Blanc de uma região que estampava no rótulo e que não conhecia: Leyda, Valle de Leyda. Continuei a examiná-lo e vi que era da Viña Luis Felipe Edwards, adoro esse produtor! Já estava ficando animado. Quando vi o preço: R$ 22,90! Uau! Não é possível! Mas uma informação me deixou receoso... A safra!

2012 era a safra e estávamos em 2018! E agora? Para um branco, um Sauvignon Blanc me parecia ser bem “velhinho” e era a única garrafa! Nossa que sofrimento, que dilema! Uma garrafa de um branco da casta Sauvignon Blanc, mas a um atraente preço. Levo ou não? Decidi leva-lo, afinal, se estivesse avinagrado ou coisa do tipo, eu perderia apenas 20 e poucos reais.

Optei por abri-lo de uma vez, naquela semana! Quando a rolha, naquele característico barulhinho que se desprende da garrafa, apresentou o vinho que foi derramado na taça, em seu “primeiro round” um arrebatamento tomou de assalto em minha vida naquele momento: Que vinho! Que grande vinho! Ele estava vivo, pleno e descortinava todas as características de um grande Sauvignon Blanc! A compra fora muito bem sucedida! Então o vinho que degustei e gostei veio do Valle de Leyda, no Chile e se chama Marea, da casta Sauvignon Blanc (100%) da safra 2012. Então falemos de Valle de Leyda, antes deste vinho surpreendente.

Valle de Leyda, Valle de San Antonio

Valle de Leyda é uma região vinícola do Chile, situada a menos de 100 quilômetros da capital Santiago e é uma sub-região que fica no Valle de San Antonio. Esta região é privilegiada pela corrente fria de Humboldt proveniente do Oceano Pacífico e, por consequência, dá origem a vinhos excelentes a partir das uvas Chardonnay e Pinot Noir.

Valle de San Antonio e Valle de Leyda

Associada à produção de cevada e trigo, a região chilena rapidamente está conquistando seu espaço perante o mundo dos vinhos de alta qualidade. Os primeiros produtores apareceram na região em 1990, atraídos por um terroir ideal para a elaboração de uvas premiadas. Com o investimento de uma família produtora de vinhos, obteve-se a construção de um gasoduto de 8 quilômetros para canalizar a água do rio Maipo – potencializando o cultivo das vinhas.

A região de Valle de Leyda está localizada em um conjunto de colinas ao lado da faixa costeira que protege a faixa central do país de influências oceânicas. Trata-se de uma região vinícola localizada ao sul da fria região de Valle de Casablanca.

As brisas frias do oceano e a névoa da manhã moderam as temperaturas da área, mais baixas do que sua altitude indica. Estas temperaturas frescas são complementadas pela elevada incidência solar durante o período de crescimento das vinhas, proporcionando que as uvas amadureçam completamente e desenvolvam excelente complexidade, mantendo seus níveis de acidez equilibrados.

Leyda Valley é uma das zonas vinícolas em maior ascensão do Chile, atraindo a atenção de muitos críticos e especialistas do mundo do vinho com o decorrer dos últimos anos. Além de produzir alguns dos melhores vinhos chilenos Pinot Noir e Chardonnay, a região é responsável também pela elaboração de excelentes vinhos Syrah e Sauvignon Blanc.

E agora finalmente o vinho!

Na taça o vinho apresenta uma viva, intensa e brilhante cor amarela, com alguns traços esverdeados com poucas e finas lágrimas que logo se dissipavam.

No nariz uma exuberância explosão de aromas de frutas brancas e tropicais frescas, como groselha verde, maracujá, abacaxi, pera, maçã-verde, além de notas cítricas vívidas.

Na boca se revelou com alguma estrutura, com um incrível volume de boca, mas equilibrado, redondo e extremamente elegante. A acidez muito alta, mas que não agride, pelo contrário, entregava um frescor maravilhoso apesar dos 6 anos de safra, com toques minerais e de especiarias, talvez pimenta. Tem um final frutado e prolongado.

Um grande vinho! Um vinhaço! Exuberância é um bom adjetivo para este rótulo que estava lá esquecido, a um preço que certamente estava bem abaixo por ter uma safra “antiga” para a sua proposta. Desconheciam os gerentes do supermercado de onde comprei este vinho que ele estava vivo, intenso, pleno, com todas as suas características presentes na taça, no olfato e no paladar. Um vinho saboroso e que ousaria em dizer que teria mais alguns anos pela frente. Um achado, um valioso e especial rótulo que, diante da situação que se apresentava naquela gôndola, certamente, em um momento “racional” ninguém levaria por receoso. Mas diante desta experiência aprendi que a emoção do sentimento, o “feeling”, o coração precisa ser ouvido. Tem teor alcoólico de 13,5%.

Sobre a Viña Luis Felipe Edwards:

A Viña Luis Felipe Edwards foi fundada em 1976 pelo empresário Luis Felipe Edwards e sua esposa. Após alguns anos morando na Europa, o casal decidiu retornar ao Chile e, ao conhecer terras do Colchágua, um dos vales chilenos mais conhecidos, se encantou. Ali, aos pés das montanhas andinas, existia uma propriedade com 60 hectares de vinhedos plantados, uma pequena adega e uma fazenda histórica que, pouco tempo depois, foi o marco do início da LFE.

De nome Fundo San Jose de Puquillay até então, o produtor, que viria a se tornar uma das maiores vinícolas do Chile anos mais tarde, começou a expandir sua atuação. Após comprar mais 215 hectares de terras no Vale do Colchágua nos anos de 1980, começou a vender vinho a granel, estudar a fundo seus vinhedos e os resultados dos vinhos, e cultivar diferentes frutas para exportação.

O ponto de virada na história da Viña Luis Felipe Edwards veio na década de 1990, quando Luis Felipe Edwards viu a expectativa do mercado sobre os vinhos chilenos. Sabendo da alta qualidade dos rótulos que criava, o fundador resolveu renomear a vinícola e passou a usar o seu próprio nome como atestado de qualidade. Após um período de crescimento e modernização, especialmente com o início das vendas do primeiro vinho em 1995, a LFE se tornou um importante exportador de vinho chileno no começo do século XX. A partir de então, o já famoso produtor começou a adquirir terras em outras regiões do país.

Na busca incessante por novos terroirs de qualidade, ele encontrou no Vale do Leyda um dos seus maiores tesouros: 134 hectares de videiras plantadas em altitude extrema, a mais de 900 metros acima do nível do mar.

Mais informações acesse:

https://www.lfewines.com/

Referências:

“Vinci”: https://www.vinci.com.br/c/regiao/valle-de-leyda

Degustado em: 2018

 

 

 

 

 




sábado, 7 de agosto de 2021

Gran Villa Gran Reserva 2011

 

Já vi e ouvi algumas discussões ditas polêmicas com relação ao questionamento de qualidade de alguns vinhos “Gran Reserva”. O questionamento a qual me refiro paira sobre os valores de alguns rótulos. Eu confesso que fomentar essa “polêmica” é totalmente desnecessário, haja vista que qualidade não se mensura, penso eu, pelo preço do vinho, até porque o que precisamos levar em consideração é a proposta do vinho, o que ele pode te entregar e principalmente o que você espera de um vinho para o momento em que você deseja degustar um rótulo.

Para muitos, os famosos “aristocratas do mundo do vinho”, um grande rótulo é aquele de grife, de vinícola famosa, caro, por isso que aquele que ostenta um “Gran Reserva” tem de ser caro, três dígitos, no mínimo. E quando se depara com um de dois dígitos e abaixo de R$ 40,00 dinheiros, surge àquela interrogação na cabeça: Será que ele é bom? Sei não...

Mas quando degustamos um Gran Reserva espanhol precisamos fazer algumas considerações: os Reservas, os Crianzas, os Gran Reservas na Espanha seguem uma rígida legislação que busca valorizar, enaltecer os terroirs de cada região, bem como algumas regras e determinações com relação às passagens pelas barricas de carvalho, bem como os seus “descansos” na garrafa, nas caves das vinícolas antes de chegar às mesas dos enófilos. Para saber mais do assunto leia: “Classificação dos vinhos espanhóis” “Lei 24/2003, de 10 de julho, sobre Vinha e Vinho”.

Eu acessei um famoso aplicativo de vendas de vinhos e, de forma despretensiosa, confesso, comecei a navegar, olhar os rótulos sem intenção de buscar nada em especial e vislumbrei um rótulo espanhol, um Gran Reserva, de uma região não muito conhecida, como Rioja, por exemplo, de um produtor não muito badalado, mas que chamou a minha atenção confesso, pelo preço. Mas me senti na obrigação de buscar referências para não fazer uma compra no escuro. Porém, pelo simples fato de ser de uma região e vinícola pouco badaladas, pouco achei sobre o vinho, inclusive no próprio site do produtor nada havia sobre o vinho.

Comprei no escuro, contudo me identifiquei com alguns pontos e que o vinho entregava: um vinho com uma safra razoavelmente antiga, com potencial de guarda, com grande complexidade, pelo menos eu esperava ter isso em minha taça e um Gran Reserva na faixa dos R$ 39,90 acredite se quiser!

Como sempre costumo fazer quando pouco se tem de informação sobre o vinho, antes de degusta-lo, contatei o produtor para confirmar as castas que compunha o blend, o percentual de cada uma, entre outros detalhes de sua descrição técnica. E de posse da informação (ótimo feedback do produtor) eu decidi esperar, não sei dizer o motivo, o vinho completar 10 anos de safra para degusta-lo. E como segurar a ansiedade? O vinho na adega, por dois anos, o comprei em 2019, aguardando o meu momento, o ápice da celebração da degustação.

E eis que o momento chegou, 5 de agosto de 2021, 10 anos de safra, um vinho evoluído, uma noite de inverno, um vinho para acalentar, esquentar a alma sedenta por degustar um vinho que eu nutri tanta expectativa. A rolha anuncia o início do ritual da degustação se desprendendo da garrafa, a liberdade da poesia líquida pronto para ser recitada. A taça é inundada de um momento que esperava ser sublime, a análise visual, o aroma, a degustação! Incrível! Tanta complexidade, elegância, maciez e personalidade em um só rótulo, essas improbabilidades se fez verdadeira. O vinho que degustei e gostei veio da região espanhola de Navarra e se chama Gran Villa, um Gran Reserva cujo blend é composto pelas castas Cabernet Sauvignon (60%), Graciano (20%), Tempranillo (10%) e Garnacha (10%) da safra 2011. Essa combinação, que me parece ser comum da região de Navarra, de castas francesas e das uvas populares da Espanha, traz a tônica ao vinho também e antes de falar do vinho, falemos um pouco da região de Navarra.

DO Navarra

A região de Navarra (DO Navarra) fica ao norte da região de Rioja, entre a parte baixa dos Pirenéus, até o rio Ebro, apresentando cerca de 11.500 hectares ocupados por vinhedos, graças ao seu solo extremamente fértil e propício para o cultivo de inúmeras castas. A viticultura começou já no século 2 antes de Cristo quando os Romanos criaram as primeiras adegas. Por muitos anos, o vinho foi produzido pelos monges dos inúmeros monastérios desta antiga área vitivinícola. Na idade Media, Navarra era um reino poderoso, aliado à França, o que ajudou o desenvolvimento da viticultura. O fato que fica no Caminho de Santiago aumentou a demanda, os vinhos de Navarra sendo recomendados aos romeiros.

DO Navarra

As videiras foram devastadas pela praga filoxera em 1892, eliminando quase 98% das vinhas na época. No início do século XX, foram replantadas vinhas com raízes do Novo Mundo. Produtores formaram cooperativas e produziram vinho em grande quantidade, exportado a granel. Somente nos anos 1980, vinícolas privadas começaram a fazer vinhos de qualidade. A Denominación de Origen, originalmente aprovada em 1933, foi modificada para refletir a transição de vinhos de massa para vinhos de qualidade.

A região produz cerca de 89 milhões de litros de vinho por ano, dos quais 30% são exportados. Apesar dos vinhos brancos da região fazerem bastante sucesso e agradarem aos exigentes paladares da crítica especializada, é a produção de vinhos tintos que se destaca em Navarra. Em decorrência disso, 70% da produção da área espanhola é constituída de vinhos tintos, sendo os outros 25%, destinados a produção de vinhos brancos e rosés.

Diversas variedades de uva são cultivadas na região, como as da casta Moscatel, Chardonnay, Mazuelo, Graciano, Merlot, Cabernet Sauvignon e Viura. Entretanto, as uvas de maior sucesso da região de Navarra são a Garnacha e a Tempranillo. Por muitos anos, a Garnacha foi de longe a variedade de uva mais plantada nas vinhas, intercaladas com as fazendas de frutas e vegetais pelas quais Navarra é tão famosa. Até pouco tempo atrás, as vinhas velhas de Garnacha, dominavam o território.

Tempranillo ultrapassou Garnacha como a variedade mais plantada, com Cabernet Sauvignon chegando em terceiro lugar. Os resultados são muito respeitáveis, se muito raramente são excepcionais. As bodegas de Navarra foram capazes de investir em carvalho francês para suas uvas francesas.

Consideravelmente auxiliados por um programa de pesquisa do governo local, eles fizeram uma avaliação cuidadosa de variedades de uvas: Cabernet Sauvignon, Merlot, Chardonnay e, especialmente, Tempranillo - que agora produz alguns vinhos finos e concentrados, tipicamente envelhecidos em carvalho americano.

Navarra tem clima continental, com verão seco e quente, e invernos bem frios. Tem uma influencia marítima vendo do mar Atlântico, moderando as temperaturas durante a maduração das uvas, e a noite, as temperaturas caiem no fim de agosto. A grande diversidade dos vinhos de Navarra reflita a influência da confluência dos climas das 2 principais zonas de produção da região, situação excepcional na península ibérica: atlântico na Tierra Estella e na Baja Montaña; mediterrâneo na Ribera Alta e na Ribeja Baja.

Na década de 1980 a região começou a passar por grandes mudanças, com a renovação de mentalidade trazida por produtores jovens e inquietos, que culminou com a redescoberta e valorização das castas mais tradicionais e de seus vinhedos de vinhas velhas. Como os preços médios ainda permanecem mais baixos que os da Rioja, os vinhos de Navarra tornaram-se opções muito interessantes.

E agora finalmente o vinho!

Na taça tem um lindo vermelho rubi intenso, mas com traços violáceos que lhe confere algum brilho, com lágrimas finas e em profusão, lentas e que mancham de vermelho as bordas do copo.

No nariz o buquê aromático é o destaque, com notas de frutas negras, como a ameixa e a amora, em especial, com a madeira também protagonizando, bem como a baunilha, o couro, tabaco e toques de especiarias como a baunilha, por exemplo.

Na boca é estruturado, quente, corpulento, porém macio e aveludado graças aos 36 meses de passagem por barricas de carvalho e 5 anos evoluindo na garrafa antes de sair da vinícola, que lhe confere também complexidade. Os taninos são firmes e presentes, mas domados, com uma acidez presente e na medida, apesar dos seus 10 anos de safra. A madeira também presente entrega toques generosos de torrefação e chocolate. Um vinho que envelheceu muito bem e tem um final longo e prolongado.

Um misto de sentimentos me tomou de assalto quando degustei o Gran Villa Gran Reserva: o prazer de degustar um vinho com 10 anos de vida, o que, convenhamos não é cotidiano, e pelo fato de carregar, de ostentar o título de “Gran Reserva”. Quando ostenta um vinho espanhol o “Gran Reserva” em seu rótulo, merece todas as referências possíveis. E independente dos valores, baixos ou não para esta proposta, temos de olhar com carinho, mas que não significa que o vinho não traga frustrações, mas nesse quesito temos de ressaltar a particularidade das experiências sensoriais de cada um. Um vinho de uma complexidade aromática única, com estrutura e personalidade marcante, mas equilibrado e elegante conferidos pelo tempo, um vinho que se deve degustar vagarosamente, apreciando, respeitando cada nuance, cada detalhe que faz dele único, vívido, pleno e intenso. Um vinho que envelheceu bem, com grande capacidade de evolução, pleno e vivo e que teria, sem dúvidas anos e anos pela frente! Tem evidentes 14% de teor alcoólico, mas muito bem integrados ao conjunto do vinho.

Sobre a Bodega Señorio de Sarría:

Embora a adega tenha sido fundada em 1953, muitos séculos de história contemplam estas terras como zona de cultivo de vinha.

Diz a história que o Senhor de Sarría desde a Idade Média, por intermédio de crônicas da época, acompanhou o rei Sancho El Fuerte na batalha de Las Navas de Tolosa em 1212. Séculos depois, no século XVI, a história do Señorío e Navarra se confunde ainda mais, já que o então senhor de Sarría (Juan de Azpilicueta), irmão de San Francisco Javier (atual patrono de Navarra), pagou seus estudos em Paris, com os rendimentos obtidos na pecuária e exploração agrícola desta fazenda. O manuscrito no qual San Francisco Javier agradece a seu irmão por esta ajuda ainda é preservado hoje.

E foi muitos anos depois, em 1953, quando o renomado empresário navarro Don Félix Huarte comprou o Señorío, realizou as novas plantações de vinhedos e construiu a vinícola, passando a produzir e comercializar vinhos com a marca Señorío de Sarría.

Posteriormente, em 1981, a adega separou-se da família Huarte e iniciou uma nova etapa, que teve um importante renascimento em 2001, dando início a um novo e ambicioso projeto de renovação de instalações e vinhas, de forma a estar na vanguarda do panorama nacional e internacional mercado.

Situado em Puente La Reina, no coração do Caminho de Santiago, o Señorío de Sarría está localizado em uma área que oferece condições de clima e solo imbatíveis, o que permite a produção de uma gama de vinhos da mais alta qualidade.

100 hectares de vinhas de múltiplas variedades estão espalhados pelas encostas e espreguiçadeiras de Puente la Reina, Olite e Corella. Cada planta, cada vinha, cada parcela, recebe um cuidado primoroso e um acompanhamento particular para produzir vinhos magníficos desde a sua origem. Cada casta foi cuidadosamente selecionada e cultivada no local mais adequado, tendo em conta as condições de luz, humidade e temperatura exigidas em cada caso.

Mais informações acesse:

https://www.bodegadesarria.com/

http://www.bornosbodegas.com/

Referências:

“Premium Wines”: https://www.premiumwines.com.br/_regiao_olha.php?reg=72

“Vindame”: https://www.vindame.com.br/navarra

“Bella Cave”: https://www.bellecave.com.br/vinhos-de-navarra-na-espanha

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/regiao/navarra




domingo, 1 de agosto de 2021

Amandla! Pinotage 2019

 

Sou réu confesso! Nunca me interessei em degustar um vinho tendo como princípio um prato, uma comida. Essa sempre foi um coadjuvante diante do protagonismo do vinho e digo mais: nunca fui muito bom em harmonizar vinho com comida, embora eu acredite humildemente que a harmonização de comida com vinho é um experimento, parte de alquimia, sempre experimentando, buscando o paladar, o casamento perfeito, é basicamente aquele que te faz bem, que os teus sentidos dão um feedback positivo.

Hoje a escolha do vinho se deu por conta de uma comida que vi minha mãe preparando, um prato que adoro: carnes inundados em um feijão manteiga. Então pensei: Por que não harmonizar isso tudo com um bom vinho? Com aquele vinho mais encorpado, haja vista também que estamos passando por um inverno que, para os parâmetros cariocas, rigoroso. Parecia que tudo conspirava a favor.

Então me coloquei a observar com carinho na adega, será que eu encontraria um vinho à altura do meu súbito interesse por uma degustação hoje? Por que súbito? Não estava no roteiro uma degustação hoje. Ah e precisa de roteiro? Precisa sim do amor ao vinho e da taça cheia, na hora em que você quiser e puder.

Depois de uma criteriosa, mas rápida verificação (para os meus padrões) na adega eis que surgiu a escolha do rótulo e estava muito eufórico com essa escolha e com o seu propósito: a harmonização com o prato tão carinhosamente feito pela minha mãe: aquele típico prato dominical em família.

Trata-se um sul africano, uma proeminente região no Novo Mundo que já se tornou uma referência na produção de grandes vinhos nas suas mais diversas propostas, a tradição no Novo Mundo, por que não? E melhor, de uma região especial e que sem sombra de dúvida que foi e será a porta de entrada de muitos enófilos nos rótulos da terra de Mandela: Western Cape, a toda poderosa região vitivinícola da África do Sul.

E adivinhem a casta: Pinotage, a cepa autóctone das terras sul africanas e apesar do óbvio sempre se torna especial quando degusto um vinho da casta Pinotage. Então sem mais delongas apresento o Vinho que degustei e gostei que veio, claro, da emblemática região de Western Cape e que se chama Amandla! Pinotage da safra 2019.

Não é a primeira vez que degustei um vinho dessa linha de rótulos, tive uma ótima impressão do Amandla! Red Fusion 2019, um blend explosivo das principais cepas produzidas na África do Sul. Mas neste novo rótulo eu percebi um detalhe que me chamou a atenção: “Bush Wines”. O que é isso? Confesso que não conhecia o significado e, como sempre aprendi que temos de ler cada canto do rótulo para saber o que estamos degustando, me debrucei nas pesquisas. Falemos de “Bush Wines”, da região de Western Cape e um pouquinho da ótima casta Pinotage.

“Bush Wines”

O termo em inglês, “Bush Vines” ou “Bush Wines”, pode parecer distante para muita gente, até mesmo entre especialistas e enófilos, mas, traduzindo-o, “Vinhas Arbustivas” ou “Vinhos de Arbusto”, o termo pode parecer mais familiar, contudo, ainda assim, é um conceito distante, sobretudo para os brasileiros, apesar de termos e palavras populares no dicionário dos apreciadores da nobre bebida. Mas afinal de contas o que de fato significa “Vinhas Arbustivas”?

Dependendo do clima, do estilo do vinho, do solo e de outros fatores, a videira é podada de forma específica e adquire uma formação especial. A videira arbustiva é, portanto, um estilo de poda que, como o próprio nome indica, é em forma de arbusto e é um dos estilos de poda mais antigos do mundo. Geralmente tem um tronco curto e o topo é um tanto irregular e não como as vinhas de Bordeaux, por exemplo, que têm esse formato em "T" (cientificamente chamado Double Fuyot).

Vinhas de Bordeaux (Double Fuyot)

Mas por que alguém escolheria? Pois bem, com este formato a videira passa a ter quantas folhas forem necessárias para a sombra, para que o fruto não queime enquanto ajuda no amadurecimento gradual e adequado das uvas. Também ajuda a ventilar a videira evitando doenças como o bolor. Diante disso entende-se que as vinhas de arbusto são ideais para áreas com clima quente e muito sol, como o Ródano, África do Sul, Austrália e Grécia. Ao mesmo tempo, as raízes das vinhas arbustivas têm a capacidade de atingir até 20 metros de profundidade em busca de água. Isso os torna ideais para climas secos, bem como para áreas onde a irrigação é difícil ou proibida.

Vinhas arbustivas

Por outro lado, as vinhas arbustivas também apresentam algumas desvantagens. O mais importante deles é a incapacidade de realizar a colheita mecânica. Como resultado, é preciso muito mais trabalho (e dinheiro) e tempo para colher as uvas. Além disso, apresentam rendimentos mais baixos, o que em combinação com o anterior conduz a uma perda de dinheiro para o produtor (a menos que consiga vender os seus vinhos a um preço superior).

E de acordo com essa desvantagem o cenário das videiras arbustivas tem declinado nas regiões de Stellenbosch, Malmesbury e Paarl, regiões emblemáticas de produção de vinhos na África do Sul, segundo dados apresentados em 1991, por Archer, do Departamento de Viticultura e Enologia da Universidade de Stellenbosch. Na área de Stellenbosch, a porcentagem de videiras sendo cultivadas como videiras arbustivas diminuíram de 59% em 1971 para 38% em 1979 e 30% em 1987. De acordo com os dados de bloco SAWIS de 2012, 23% (excluindo blocos de um ano de idade) da superfície plantada com videiras em Stellenbosch foi cultivada como vinhas. Estima-se que 80 a 90% das uvas para vinho no distrito de Malmesbury (Swartland) eram cultivadas como vinhas no final da década de 1980 (Archer, 1991). Os dados de bloco SAWIS mais recentes mostram que 47% das videiras nesta área não são gradeadas.

Um dos motivos para o afastamento das vinhas de arbusto é provavelmente o objetivo de maiores produções viabilizado por sistemas de treliça, em conjunto com a maior disponibilidade de água para irrigação. Além disso, o foco na mecanização é cada vez maior e o fato de os processos de poda e colheita em cipós não poder ser mecanizado, impacta nas considerações dos produtores no momento do estabelecimento.

O cultivo de uvas para vinho como vinhas de arbustos diminuiu e espera-se que diminua ainda mais como resultado da crescente pressão para mecanizar. Os produtores também devem buscar uma alta produção unitária, o que só é possível por meio de sistemas de treliça maiores (superfície foliar).

No entanto, as trepadeiras arbustivas continuam a ser uma opção em terrenos de menor rendimento (por exemplo, terras secas com teor de umidade do solo suficiente), onde um sistema caro de treliça não garante necessariamente produções mais altas. Muitas vezes, esse terreno permite videiras equilibradas com crescimento e produção moderados, a partir dos quais vinhos concentrados e de alta qualidade podem ser feitos. O desafio é, portanto, encontrar valor para esses vinhos nos mercados. Só então a icônica videira do mato será capaz de permanecer uma parte sustentável de nossa paisagem de vinhedos.

Alguns ligam as vinhas de arbusto ao cultivo biodinâmico e a vinhos de qualidade. Esta ligação não foi cientificamente comprovada, mas foi demonstrado que as vinhas são menos suscetíveis no Botrytis cinereal ou, em outras palavras, podridão cinza. Isso significa uma planta mais saudável sem a necessidade de usar muitos produtos químicos e é provavelmente por isso que ela é escolhida pelos defensores do cultivo biodinâmico. Leia Mais em: "Bush Wines".

Western Cape: a toda poderosa região vinícola sul africana

Localizada a sudoeste da África do Sul, tendo a Cidade do Cabo como ponto central, Western Cape é a principal região vitivinícola do país, responsável por cerca de 90% da produção vinícola do país. Boa parte da indústria do vinho sul-africana se concentra nessa área e microrregiões como Stellenbosch e Paarl são alguns de seus principais destaques. Com terroir bastante diversificado, a combinação do clima mediterrâneo, da geografia montanhosa, das correntes de ar fresco vindas do Oceano Atlântico e da variedade de uvas permite que Western Cape seja considerada uma verdadeira potência da produção de vinhos no país. Suas regiões vinícolas estendem-se por impressionantes 300 quilômetros a partir da Cidade do Cabo até a foz do rio Olifants ao norte, e cerca de 360 quilômetros até a Baía Mossel, a leste – para entender essa grandiosidade, vale saber que regiões vinícolas raramente se estendem por mais de 150 quilômetros.

Western Cape

O clima fresco e chuvoso também favorece o plantio e a colheita por toda a região. Entre os grandes destaques de Western Cape estão as uvas Pinotage, Cabernet Sauvignon e Shiraz, que dão origem a excelentes varietais e blends. Entre os brancos – que, por si só, têm grande reconhecimento mundial –, brilham a Chenin Blanc, uva mais cultivada do país, a Chardonnay e a Sauvignon Blanc. As primeiras vinhas plantadas na região remetem ao século XVII, trazidas por exploradores europeus que se fixaram por lá. Durante vários séculos, fatores como o estilo rudimentar de produção, o Apartheid e a falta de investimentos mantiveram a cultura vitivinícola sul-africana limitada ao próprio país. Somente no início do século XX, com a formação da cooperativa KWV, que a África do Sul começou a responder por todo o controle de qualidade do vinho que se produzia por lá, e seus rótulos passaram a chamar a atenção do mercado internacional, dando início a um processo de exportação que conta, inclusive, com selos de qualidade específicos para a atividade. A proximidade da Cidade do Cabo facilita o acesso dos visitantes às inúmeras rotas vinícolas e turísticas de Western Cape, que incluem experiências como caminhadas, degustações por suas muitas bodegas, além de ótimos restaurantes e hospedagens em suas pequenas e aconchegantes cidades, a maioria em estilo europeu.

Pinotage

A Pinotage foi criada pelo Prof. Abraham Izak Perold, em 1925, cruzando um clone de Pinot Noir com a uva tinta chamada Cinsault (também conhecida como Hermitage). Seu nome vem da união dos dois nomes de origem: Pinot + Hermitage = Pinotage.

Abraham Izak Perold

A uva entrou em evidência a primeira vez, quando em 1959 um vinho produzido com esta cepa foi campeão no Concurso Cape Young Wine Show na Cidade do Cabo. Em 1991, outro vinho produzido somente com Pinotage foi eleito o melhor tinto no Concurso Internacional “Wine & Spirits” em Londres, reforçando a sua imagem de qualidade.

A uva Pinotage produz vinhos tintos com aromas ricos e exóticos, bem diferentes e quase “selvagens”, algumas vezes lembrando borracha. Há exemplares macios e frutados, destacando-se a framboesa e o mirtillo com presença de alcaçuz e leve nuance de fumaça, enquanto outros são densos, estruturados e concentrados, feitos para um longo envelhecimento. Os vinhos da casta Pinotage que possuem corpo mediano são ideais para serem harmonizados com risoto ao funghi e carnes vermelhas, já os encorpados, podem ser acompanhados de queijos maduros e carnes assadas.

A Pinotage é sem dúvida a uva tinta mais emblemática da África do Sul. No entanto, o que muitos não sabem é que atualmente não é ela a uva tinta mais plantada no país, e sim a, tão conhecida, Cabernet Sauvignon. Os vinhedos de Cabernet quase dobraram de tamanho ao longo da última década, chegando a aproximadamente 10% de todas as uvas tintas plantadas no país. Já a Pinotage manteve-se estável, com uma área de aproximadamente 6%. Isto ocorre, principalmente, pelo fato desta cepa não se adaptar em qualquer “terroir” e também por não ser uma uva fácil de domar.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta uma lindíssima cor vermelha com predominâncias violetas que traz contornos brilhantes, reluzentes com uma profusão de lágrimas finas e lentas desenhando as paredes do copo.

No nariz traz uma explosão de frutas vermelhas, tais como cereja, morango, framboesa, amoras, com uma nota de flores vermelhas, com um inusitado toque discreto de baunilha.

Na boca é macio, redondo, extremamente frutado, as frutas vermelhas realçam como nas impressões olfativas, mas tem uma persistência em boca, um bom volume que faz com que o vinho tenha certa personalidade típica da casta. Tem um curioso toque de madeira, defumado e tabaco, mas não passa por barricas de carvalho, passa sim 10 meses em tanques de aço inoxidável, para privilegiar as características da cepa, mas fugindo do conceito mais robusto da Pinotage. Taninos macios e acidez na medida, com um final elegante e frutado.

“Amandla!” significa poder nas línguas locais da África Sulista. É normalmente usado para criar um sentimento de unidade e união. O produtor afirma que o vinho traz a lembrança de que a força e a unidade são criadas quando se trabalha junto, simbolizando todas as mãos envolvidas na produção desta garrafa de vinho. Quando falamos, até de forma demasiada, em tipicidade, em terroir, traz a luz quando as mãos que criaram, que conceberam esse vinho, que vem com a cultura de um povo, o amor e o respeito a terra de onde se faz a vindima, todo o detalhe constrói o conceito e a proposta do vinho.

Agora vem a pergunta que não quer calar: Como foi a harmonização das carnes banhadas no feijão manteiga com o Amandla! Pinotage 2019? Digo que, apesar do meu amadorismo nas harmonizações, foi maravilhoso! Uma comida gordurosa, com algum peso para um vinho de médio corpo, com alguma personalidade, típico de toda Pinotage. Mas apesar disso degustei um belo vinho, macio, redondo, como sugere um vinho produzido em vinhas arbustivas que trouxe um Pinotage que fugiu um pouco do peso atribuído a essas castas, com taninos presentes, mas domados, frutados e com uma acidez equilibrada que limpou a boca, clamando por mais e mais garfadas do prato que carinhosamente minha mãe preparou para aglutinar a família e reforçar a necessidade do clamor do vinho pela comida e vice versa. Que possamos nos permitir experimentar, sem visões pré-concebidas e sem ruídos externos desses formadores de opinião que na realidade apenas quer impor o que pensa. Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Marianne Wine Estate & Guesthouse:

Originário de Bordeaux, a família possui 3 propriedades vinícolas, se aproximando da África do Sul graças as suas várias viagens pelo mundo, aportando no sul da África.

O sonho era combinar o Velho e o Novo Mundo para fazer vinhos próximos da da visão de perfeição dos produtores. Portanto, decidiram comprar a Marianne Wine Estate & Guesthouse, uma vinícola boutique de 32 hectares (incluindo 24 em vinhas) localizada no vale Simonsberg em 2004.

A colheita manual, a seleção das melhores uvas, o envelhecimento em carvalho francês e acácia, combinados com um "savoir-faire" francês do enólogo sul-africano Jos Van Wyk, irão levá-lo a explorar alguns dos melhores vinhos produzidos na região.

Mais informações acesse:

http://www.mariannewines.com/

Referências:

“Vinho Capital”: https://vinhocapital.com/tag/wine/page/3/

“Wine”: https://www.wine.com.br/winepedia/enoturismo/western-cape-a-gigante-sul-africana/?doing_wp_cron=1611015613.7245669364929199218750#:~:text=Localizada%20a%20sudoeste%20da%20%C3%81frica,alguns%20de%20seus%20principais%20destaques.

“WineLand”: https://www.wineland.co.za/cultivation-of-bush-vines-in-south-africa-the-current-situation/

“Blog Botilia”: https://blog.botilia.gr/en/bush-vines-en/

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/pinotage

“Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/quase-indomavel-pinotage/

 

 

 

 


 










sábado, 31 de julho de 2021

Dom Bernardino Touriga Nacional 2018

 

Digo e não me canso de repetir sempre: O universo do vinho é vasto e inexplorado. E essa máxima reforça, corrobora o quanto estar nele, viajar nele, é fantástico. Reafirma a nossa condição de enófilo, pois nos estimula a garimpar novas regiões, novas castas, novas histórias, novas experiências sensoriais e tudo isso aliado ao contato com culturas e manifestações comportamentais que afetam diretamente na condição de vinificar os rótulos que chegam às nossas mesas.

Essa condição na altura da minha vida de simples e humilde enófilo se tornou essencial, necessário, quase que algo orgânico, que não pode faltar ao funcionamento de meu corpo. Tenho me empenhado, de forma latente, na busca de novos rótulos, de novas castas, de novos terroirs, de novas experiências.

Sempre ouvi dizer que São Paulo sempre foi uma região proeminente na produção de vinhos e mais, com certo protagonismo para a história vitivinícola brasileira. Mas nunca parei para pensar na dimensão dessa informação, na relevância disso tudo e consequentemente nunca me atentei para a possibilidade de degustar quaisquer vinhos das regiões contempladas pela natureza nas terras paulistas.

E o meu primeiro contato com os vinhos de São Paulo se deu de uma forma totalmente ocasional e despretensiosa. Estava eu acessando as minhas redes sociais e me deparei com uma publicação um tanto quanto atípica para mim e estava relacionado aos vinhos artesanais ou a vinhos produzidos por pequenas e médias vinícolas com baixa produção. Aquilo fora como se amor à primeira vista, dado o tamanho do interesse que me tomou como um arrebatamento.

Diante do tamanho do interesse decidi procurar detalhes sobre o vinho mencionado e como qualquer coisa que colocamos na grande rede para pesquisar, uma coisa vai puxando a outra, porém dentro do contexto. Até que cheguei a um site que vende vinhos de uma região famosa do interior de são Paulo conhecida como “a terra do vinho”, chamada São Roque! Havia outras regiões também, como Serra Negra, por exemplo. Além do interesse instigante de novos terroirs, a degustação de vinhos artesanais e produzidos por pequenas vinícolas me atraía de uma forma visceral e implacável. Decidi comprar três rótulos e não demorei em selecionar um para degustar o quanto antes, tamanho é o interesse para tê-los em minha taça.

Então o momento chegou e a animação virou ansiedade, estava tomado por uma exaltação salutar, precisava degustar um vinho como esse, com essa proposta. E o vinho que degustei e gostei veio da região paulistana, brasileira, de São Roque e se chama Dom Bernardino e a casta é a famosa lusitana Touriga Nacional da safra 2018. A casta veio do Sul, a região de São Roque ainda não tem clima para produzir castas vitis vinífera, mas foi vinificado sobre os preceitos, a filosofia da vinícola Bella Aurora que, apesar de pequena, goza de uma tradição de 85 anos de vida. Então antes de falarmos do vinho e da história da vinícola, falemos um pouco de São Roque.

São Roque: “A terra do vinho”

A cidade de São Roque foi fundada no dia 16 de agosto de 1657, mas começou como uma grande fazenda do capitão paulista Pedro Vaz de Barros, que pertencia a uma família de bandeirantes e sertanistas. Vaz de Barros também participou de diversas Bandeiras. O fundador da cidade, também conhecido como Vaz Guaçú, contava com aproximadamente 1.200 índios que trabalhavam em suas terras, onde eram cultivados trigo e uva. Alguns anos após a morte de Vaz de Barros, seu irmão, Fernão Paes de Barros, se estabeleceu na mesma região, onde construiu uma casa e uma capela, que foram restauradas em 1945 pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, a pedido do escritor Mário de Andrade, dono da propriedade.

Na região de São Roque, podem-se identificar referências à vitivinicultura desde a sua fundação, por volta do final do século XVII. Conforme informações encontradas e divulgadas pelos moradores da cidade, através da tradição oral, ou mesmo citado pelo Professor Joaquim Silveira dos Santos em seu artigo para a Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, volume XXXVII, nessa época toda a região pertencia a apenas três grandes proprietários de terras: Pedro Vaz de Barros, seu irmão Fernão Paes de Barros e o padre Guilherme Pompeu de Almeida, sendo que Pedro Vaz (tido como o fundador da cidade) se estabeleceu próximo da atual igreja Matriz, seu irmão mais ao norte, onde até hoje ainda se encontra a casa grande e capela Santo Antônio, e por fim a fazenda do padre Guilherme Pompeu se encontrava na hoje atual cidade de Araçariguama que faz divisa com Santana do Parnaíba.

Portanto realmente não se podem esperar grandes referências desse período da história, afinal o Brasil era apenas uma colônia e que existiam restrições da fabricação de qualquer tipo de produto em nosso solo, ou seja, em tese tudo deveria vir de Portugal, inclusive o vinho.

Outro fator que pode ter influenciado e não ter feito prosperar o cultivo da videira seria a prioridade da época de então, que era a descoberta de ouro, principalmente na região das Minas Gerais. Sabemos que São Paulo até então era somente um vilarejo sem grande importância econômica para a metrópole portuguesa, e se bem analisarmos a história da agricultura brasileira a uva e o vinho nunca foram tidos como principal interesse por parte de nossos colonizadores.

Após um período difícil, o povoado originado por Pedro Vaz foi elevado à categoria de Freguesia no dia 15 de agosto de 1768, recebendo o nome de São Roque do Carambeí. No dia 10 de julho de 1832, a Freguesia foi elevada à categoria de vila, mas o progresso do local só começou em 1838, quando começaram as lavouras de milho, algodão, arroz, mandioca e farinha de mandioca, cana de açúcar e derivados, legumes e verduras. Em março de 1846, seis anos após instalar-se na vila o destacamento da Guarda Nacional, Dom Pedro II e uma pequena comitiva permaneceram um dia na cidade de São Roque. Com a passagem de Dom Pedro II, Antonio Joaquim começou a se destacar no cenário político e, graças ao morador ilustre, São Roque foi elevada à categoria de cidade no dia 22 de abril de 1864.

Após esse longo período de estagnação, o primeiro registro oficial de plantação de uvas na região de São Roque se dá por volta de 1865, quando o Doutor Eusébio Stevaux inicia uma pequena plantação na sua fazenda em Pantojo. Pela mesma época, um colono italiano adquire uma pequena propriedade no bairro de Setúbal, alguns anos mais tarde um português na terra do então Sítio Samambaia forma um razoável vinhedo e inicia o processo de fabricação do vinho.

Dr. Eusébio Stevaux

Já em 1875 foi inaugurada a Estrada de Ferro Sorocabana, que ligou a cidade de São Paulo a São Roque e Sorocaba. Após alguns anos, em 1884, começou a grande chegada de imigrantes à cidade, fazendo com que as vinícolas aparecessem novamente e ganhassem força nos anos seguintes. Em 1924, a cidade já contava com 17.300 habitantes e foram produzidos 10 mil litros de vinho a cada ano, tendo doze produtores de vinhos, sendo cinco deles italianos.

O que possibilitou o retorno da cultura da uva e fabricação do vinho foi a importação de videiras oriundas dos Estados Unidos, pois estas eram mais resistentes ao clima brasileiro. Dentre as principais videiras trazidas estão inicialmente a “Izabel”, a “Seibel 2” (importada da França), curiosamente trazida por imigrantes italianos que se instalaram na região e posteriormente a “Niágara Branca”, oriunda da região do Alabama, EUA.

Portanto, a divisão do período da cultura vinícola de São Roque, desde a fundação da cidade até a época atual em quatro fases distintas:

1ª fase: 1657 – 1880: importação de videiras portuguesas, plantações domiciliares, sem qualquer cunho comercial, ou seja, somente para consumo próprio.

2ª fase: 1880 – 1900: Retomada da viticultura são-roquense, ainda que amadora, quase que familiar, continua voltada basicamente para o consumo e pequeno varejo. Já apresenta uma tendência a profissionalização graças às técnicas trazidas pelos imigrantes italianos e portugueses. Já se utiliza da videira americana que melhor se adaptou ao clima tropical brasileiro (talvez seja este um dos principais fatores de sucesso do cultivo da uva na região de São Roque);

3ª fase 1900 – até aproximadamente final da década de 1950: processo de industrialização e profissionalização da produção do vinho com aplicações de técnicas mais modernas permitindo assim obter resultados e desempenho melhores.

Podemos dividir esta fase primeiramente num período de início do processo de profissionalização e logo após (a partir da década de 1920), o período em que realmente a região investiu e desenvolveu as técnicas vinicultoras, durando até aproximadamente a década de 1950, onde após a massificação da produção entra num processo de decadência.

4ª fase década de 1960 – atual: esta fase engloba o processo de decadência da viticultura são-roquense. Por motivos econômicos e climáticos e até mesmo por falta de investimentos em pesquisas, que se reduziram sensivelmente tanto a qualidade como a quantidade de vinho produzido, levando ao fechamento de diversas adegas (isso principalmente a partir da década de 1980). São Roque permanecendo hoje somente com o título de “terra do vinho”, sendo que os poucos fabricantes que restaram (aproximadamente treze adegas) fabricam seu vinho não de uvas nativas de São Roque, mas sim oriundas de outras partes do Estado ou mesmo de outros estados (exemplo: Rio Grande do Sul).

Roteiro do vinho: São Roque

Há atualmente um movimento para tentar a reversão dessa situação, porém continua bem modesto em relação a todo o histórico e números do passado no ápice do cultivo da videira em São Roque.

E agora finalmente o vinho!

Na taça tem um vermelho rubi intenso, mas que realça um brilho violáceo bem bonito, com lágrimas finas, lentas e em profusão, desenhando as paredes do copo.

No nariz é que está o grande destaque deste vinho, sendo muito perfumado e floral, explodindo em frutas vermelhas maduras como amora, cereja e ameixa, com notas de especiarias doces, arriscaria, com toques delicados de baunilha e madeira, graças aos 3 meses de passagem por barricas de carvalho.

Na boca se revela um vinho de leve a médio corpo que, no início mostrou um álcool um pouco sobressalente, mas que logo se equilibrou revelando um vinho saboroso, frutado, como no aspecto olfativo, com taninos presentes, mas ao mesmo tempo domados e elegantes com uma acidez equilibrada que traz certo frescor ao vinho, além de um toque de madeira e de chocolate meio amargo. Tem final curto.

Vinho não é só poesia engarrafada como dizia aquele poeta, mas história engarrafada também. Degustamos história, degustamos cultura! É muito gratificante e especial degustarmos vinhos com essa carga histórica atrelada de forma tão veemente, tão latente. A história é viva e plena, não é algo estático. Degustar o Dom Bernardino Touriga Nacional é como se estabelecêssemos contato com um novo mundo, uma nova percepção, que enaltece as nossas experiências sensoriais. Um vinho que apesar de ter as tradições lusitanas, graças às raízes que criaram a vinícola, tem o terroir brasileiro, o fazer brasileiro, a nossa cultura, a nossa assinatura. Um vinho que nada fica atrás aos Tourigas Nacionais portugueses: intenso, encorpado, com uma personalidade marcante, com as frutas vermelhas e negras tão características da cepa. Apesar de todos os problemas que acometem as cidades do Brasil, o falso progresso e as especulações imobiliárias que são um verdadeiro entrave aos vinhedos, há de se enaltecer o espírito abnegado de alguns produtores que insistem bravamente em trazer ao mundo seus rótulos para deleite de todos nós, simples e humildes enófilos. Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Bella Aurora:

Vinícola fundada na década de 1920 por Bernardino Pereira Leite imigrante português iniciou sua produção para consumo caseiro. A produção em escala comercial teve início em 1932.

Com mais de 85 anos, Vinhos Bella Aurora mantém sua tradição familiar na produção de saborosos vinhos, contando com uma excelente estrutura de atendimento aos visitantes e uma equipe de representantes comercial em todo estado de São Paulo.

A Vinícola proporciona um passeio turístico para quem busca contato com a natureza. Neste passeio poderá degustar bons vinhos e sucos, além de poder adquirir toda a linha de produtos típicos da Vinícola Bella Aurora. Para melhor atender os clientes, a cantina dos Vinhos Bella Aurora foi montada no interior de um autêntico tonel de madeira com capacidade para 120 mil litros.

Mais informações acesse:

https://www.bellaaurora.com.br/













segunda-feira, 26 de julho de 2021

Garibaldi Vero Brut Rosé

 

Já dizia o ditado popular: Um raio não cai no mesmo lugar duas vezes! Aquele clássico que é dito de boca em boca, uma unanimidade, é de fato verídico? Definitivamente eu não sei dizer, talvez dependa da situação vivida, mas no universo do vinho, esse ditado nem sempre tem validade, tem força. Explico: quantas vezes degustamos grandes vinhos duas, três vezes e sempre nos surpreendemos com algo novo, com alguma nuance que não havíamos percebido no que degustou anteriormente e isso se confirma quando são safras distintas, embora sejam de rótulos idênticos.

São vários os fatores, mas o clima e a vinificação são um dos principais motivos para degustarmos vinhos de rótulos iguais e com nuances distintas em suas características sensoriais. Mas no caso desse rótulo brasileiro é um espumante e quando falamos em espumantes nacionais tem um peso maior, afinal, os melhores espumantes produzidos no planeta estão em terras tupiniquins. E o que dizer dos rótulos, dos tradicionais espumantes da Garibaldi?

Quando mencionamos a Cooperativa Garibaldi, falamos em espumantes, falamos em tradição, falamos em referência na produção dos borbulhantes, falamos em custo X benefício! E como (sempre me pergunto isso com satisfação e até com algum ceticismo, as vezes, diante do atual cenário dos valores dos espumantes no Brasil) que os espumantes da Garibaldi, ganhando prêmios relevantes em nossas terras e na Europa, conseguem manter um valor muito competitivo nos seus rótulos, independente da proposta?

Vinhos de excelente qualidade, de tipicidade, que expressam o terroir de forma plena, com um preço justo e que difunde a democracia da cultura do vinho! É possível comprar os vinhos, os espumantes da velha Cooperativa Garibaldi. Lembro-me que quando comprei o Garibaldi Vero Brut, confesso que não alimentei maiores expectativas acerca do vinho, afinal, trata-se de um básico espumante, uma linha mais simples do produtor, mas comprei pelo preço e também pelo know how da Garibaldi. E não é que surpreendeu? Entregou muito além do que eu esperava! E aí vem a menção aquele dito popular no início do meu texto: Um raio cai duas vezes no mesmo lugar? Decidi comprar mais um espumante dessa linha, mais uma vez o preço estava convidativo então decidi arriscar de novo, estou no lucro.

O vinho que degustei e gostei veio da emblemática e tradicional Serra Gaúcha, no Rio Grande do Sul, no Brasil, e se chama Garibaldi Vero Brut Rosé, com um blend interessante das castas Trebbiano, Prosecco e Ancellotta e não é safrado. Elaborado pelo método Charmat (Leia Diferenças entre os métodos Champenoise e Charmat) esse vinho surpreendeu, é fantástico o quanto a Garibaldi consegue entregar espumantes excelentes, em todas as suas propostas, com preços atraentes e que, “de quebra”, ganha prêmios no Brasil e no mundo. Mas antes de falarmos do vinho, falemos da valorosa história dessa região que produz um dos melhores espumantes do mundo: Serra Gaúcha!

Serra Gaúcha

Situada a nordeste do Rio Grande do Sul, a região da Serra Gaúcha é a grande estrela da vitivinicultura brasileira, destacando-se pelo volume e pela qualidade dos vinhos que produz. Para qualquer enófilo indo ao Rio Grande do Sul, é obrigatório visitar a Serra Gaúcha, especialmente Bento Gonçalves.

Serra Gaúcha

A região da Serra Gaúcha está situada em latitude próxima das condições geo-climáticas ideais para o melhor desenvolvimento de vinhedos, mas as chuvas costumam ser excessivas exatamente na época que antecede a colheita, período crucial à maturação das uvas. Quando as chuvas são reduzidas, surgem ótimas safras, como nos anos 1999, 2002, 2004, 2005 e 2006.

A partir de 2007, com o aquecimento global, o clima da Serra Gaúcha se transformou, surgindo verões mais quentes e secos, com resultados ótimos para a vinicultura, mas terríveis para a agricultura. Desde 2005 o nível de qualidade dos vinhos tintos vem subindo continuamente, graças a esta mudança e também do salto de tecnologia de vinhedos implantado a partir do ano 2000.

O Vale dos Vinhedos, importante região que fica situada na Serra Gaúcha, junto à cidade de Bento Gonçalves, caracteriza-se pela presença de descendentes de imigrantes italianos, pioneiros da vinicultura brasileira. Nessa região as temperaturas médias criam condições para uma vinicultura fina voltada para a qualidade. A evolução tecnológica das últimas décadas aplicada ao processo vitivinícola possibilitou a conquista de mercados mais exigentes e o reconhecimento dos vinhos do Vale dos Vinhedos. Assim, a evolução da vitivinicultura da região passou a ser a mais importante meta dos produtores do Vale.

Vale dos Vinhedos

O Vale dos Vinhedos é a primeira região vinícola do Brasil a obter Indicação de Procedência de seus produtos, exibindo o Selo de Controle em vinhos e espumantes elaborados pelas vinícolas associadas. Criada em 1995, a partir da união de seis vinícolas, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale), já surgiu com o propósito de alcançar uma Denominação de Origem. No entanto, era necessário seguir os passos da experiência, passando primeiro por uma Indicação de Procedência.

O pedido de reconhecimento geográfico encaminhado ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) em 1998 foi alcançado somente em 2001. Neste período, foi necessário firmar convênios operacionais para auxiliar no desenvolvimento de atividades que serviram como pré-requisitos para a conquista da Indicação de Procedência Vale dos Vinhedos (I.P.V.V.). O trabalho resultou no levantamento histórico, mapa geográfico e estudo da potencialidade do setor vitivinícola da região. Já existe uma DOC (Denominação de Origem Controlada) na região.

O Vale dos Vinhedos foi a primeira região entregue aos imigrantes italianos, a partir de 1875. Inicialmente desenvolveu-se ali uma agricultura de subsistência e produção de itens de consumo para o Rio Grande do Sul. Devido à tradição da região de origem das famílias imigrantes, o Veneto, logo se iniciaram plantios de uvas para produção de vinho para consumo local. Até a década de 80 do século XX, os produtores de uvas do Vale dos Vinhedos vendiam sua produção para grandes vinícolas da região. A pouca quantidade de vinho que produziam destinava-se ao consumo familiar.

Esta realidade mudou quando a comercialização de vinho entrou em queda e, consequentemente, o preço da uva desvalorizou. Os viticultores passaram então a utilizar sua produção para fazer seu vinho e comercializá-lo diretamente, tendo assim possibilidade de aumento nos lucros.

Para alcançar este objetivo e atender às exigências legais da Indicação Geográfica, seis vinícolas se associaram, criando, em 1995, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale). Atualmente, a Aprovale conta com 24 vinícolas associadas e 19 associados não produtores de vinho, entre hotéis, pousadas, restaurantes, fabricantes de produtos artesanais, queijarias, entre outros. As vinícolas do Vale dos Vinhedos produziram, em 2004 9,3 milhões de litros de vinhos finos e processaram 14,3 milhões de kg de uvas viníferas.

E agora falemos do vinho!

Na taça um lindo rosado claro, límpido e muito brilhante com uma ótima concentração de perlages muito finos.

No nariz explode em frutas vermelhas onde se destacam a cereja, morango e framboesa, exaltando um excelente frescor, com um delicado toque floral e diria notas minerais.

Na boca é jovial com uma boa presença de boca, talvez pelo toque generoso de frutas vermelhas, que lhe confere ainda leveza. Tem uma acidez discreta, talvez pelas notas frutadas, mas ainda assim é fresco e o residual baixo de açúcar, típico de um brut, não é tão evidente, parecendo até mesmo um demi-sec, mas não soa enjoativo, sobretudo para quem não aprecia essa última proposta de espumante. Um final prolongado e frutado.

Ah sim senhor, um raio cai duas vezes no mesmo lugar ou melhor, para se adequar ao universo dos vinhos, um vinho cai duas vezes na mesma taça sim. Apesar deste Garibaldi Vero Brut ser um rosé o que degustei antes um espumante brut branco, são da mesma linha da vinícola e o que mais surpreende: uma linha básica deste excelente produtor. Mais uma vez a Garibaldi não decepciona e apesar de, lamentavelmente, não despontar em reconhecimento, entre os melhores produtores de espumantes do Brasil, sem dúvida nenhuma para os meus humildes aspectos sensoriais, são vinhos especiais. É isso! Essa é a palavra: especiais. Não é apenas o aspecto sensorial, mas vinhos, rótulos que tem um forte apelo sentimental, que faz parte da nossa história e que ela é viva, latente e que sempre estarão despontando em minhas taças, alegrando, celebrando os nossos dias de degustação. Esse Garibaldi Vero Rosé Brut definitivamente é leve, fresco, refrescante, simples, nobre, porque é expressivo, traz a tipicidade dos vinhos borbulhantes produzido em nossas terras e olha essa matéria que fala do prêmio que Garibaldi Vero Brut Rosé ganhou em 2019: Cooperativa Vinícola Garibaldi é a mais premiada do brinda Brasil Edição 2019. Fantástico! Tem 11,5% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Garibaldi:

Situada em Garibaldi (120Km de Porto Alegre) no coração da Serra Gaúcha, a maior região vitivinícola do Brasil, a  empresa nasceu como Cooperativa Agrícola Garibaldi na quinta-feira, 22 de janeiro de 1931, na sede do Club Borges de Medeiros. Naquele dia, Monteiro de Barros reuniu representantes de 73 famílias para criar uma das mais importantes cooperativas da região. O sucesso da empreitada foi tanto que, em 1935, o grupo já contava com 416 associados.

A prosperidade, contudo, estancou no começo dos anos 1970. Em 1973, a empresa sofreu uma intervenção que duraram cinco anos. O processo, porém, deu resultado e, no começo dos anos 1980, a Garibaldi passou a se modernizar. No entanto, o grande passo só seria dado no início dos anos 2000. No passado, a cooperativa trabalhava muito com vinho de mesa e até a granel, e isso não rentabilizava o produto. Era uma commodity. Então, teve a necessidade de agregar valor. Desde 2004, investiu-se fortemente na elaboração de espumantes para dar essa guinada, rentabilizar os produtos e remunerar a uva dos associados. Foi feito um intenso trabalho no campo de reconversão, tecnologia em produto, para chegar a esse reconhecimento de mercado que a vinícola tem hoje, como referência na produção de espumante.

A cooperativa tem hoje 400 famílias associadas, que juntas formam um total de 900 hectares em 12 municípios diferentes do Rio Grande do Sul. Gerenciar tudo isso é um trabalho complexo. O departamento técnico visita todas as propriedades pelo menos três vezes ao ano. Tem um contato direto como produtor tanto na orientação técnica quanto reconversões, conforme os interesses da cooperativa. As 380 famílias são responsáveis pela produção da uva. Elas elegem um conselho para cuidar do negócio e cada área tem um responsável, um profissional contratado para gerir. É cooperativa, mas tem que ser profissional no que faz. Em 2010, a Garibaldi adquiriu os direitos de produção e comercialização da marca Granja União, que estava sob domínio da Vinícola Cordelier. Mais recentemente, lançou a linha Acordes.

A vinícola hoje apresenta índices de crescimento superiores aos da média nacional. Resultado de uma história de investimentos, de profissionalização, de união e de uma trajetória que carrega em sua bagagem o trabalho e a vida de milhares de pessoas. O investimento é permanente em manutenção e melhoria dos processos produtivos e na qualidade dos produtos. Com uma área de 32 mil metros quadrados de construção e capacidade de processamento que ultrapassa os 20 milhões de quilos, utilizando tecnologia e equipamentos europeus para a elaboração de nossos vinhos e espumantes. Uma identidade marcante, personalidade e características próprias, aliadas ao terroir da Serra Gaúcha, fez com que os seus espumantes acumulassem uma série de premiações em concursos no Brasil e no exterior.


Mais informações acesse:

https://www.vinicolagaribaldi.com.br/inicio

Referências:

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=SERRAGAUCHA