sábado, 11 de julho de 2020

Coppiere Montepulciano D'Abruzzo 2016


Nada melhor do que “degustar” a tradição de um país. A tipicidade de um país dentro de um pequeno recipiente, dentro de uma garrafa, mas que revela uma grandiosidade significativa da tipicidade, da cultura vitivinífera de uma emblemática região produtora. Há quem diga que para entender e definir tais quesitos é preciso ter um detalhado conhecimento do terroir de uma região ou de um país, talvez seja verdade, mas o simples fato de saber que está degustando uma casta tradicional, de uma importante região, nos transportamos para aquele país e região, em uma viagem enológica que nos propicia prazer e a sensação, mais do que evidente, de uma celebração, uma genuína ode ao vinho.

A tradição vem da região de Abruzzo, na Itália, a casta é a Montepulciano, e o vinho que degustei e gostei é o Coppiere, um DOC (Denominação de Origem Controlada), da safra 2016, do Grupo Schenk Wineries. Eu havia degustado, um tempo atrás, o Nero d’Avola da Coppiere e tive uma grata surpresa com o vinho, que fiz uma resenha e que pode ser lida aqui: Coppiere Nero D'Avola 2018. Um vinho correto, honesto, bem feito e no que se propôs a entregar foi pleno, perfeito. Então decidi comprar o Montepulciano d’Abruzzo, um tradicional vinho da Velha Bota e o custo X benefício, como o Nero d’Avola, foi surpreendente. Mas antes de falar do vinho, uma breve história da Montepulciano e o seu berço, Abruzzo.

Montepulciano e Abruzzo

Antes de qualquer coisa não confundir a casta Montepulciano com a região chamada Montepulciano que fica na Toscana. A casta Montepulciano tem sua base na região de Abruzzo, já a região Montepulciano traz vinhos com a casta predominante na Toscana, a Sangiovese. A uva tinta Montepulciano é cultivada em regiões da Itália banhadas pelo mar Adriático como Abruzzo, Molise e Marches. Além dos excelentes vinhos varietais que elabora, a Montepulciano dá origem a bons vinhos de corte, especialmente quando é combinada às uvas Sangiovese e Syrah. Os vinhos à base dessa variedade de uva apresentam sabor leve, baixa acidez, taninos suaves e coloração escura e densa. Os aromas mais frequentemente encontrados nesses rótulos são os de cereja, amora preta, notas de cacau e tabaco. Podendo ser consumidos ainda jovens, os vinhos elaborados a partir da uva Montepulciano também são excelentes exemplares de guarda, com a capacidade de envelhecer por décadas. Suas melhores harmonizações se dão com pratos mais encorpados como guisados, carnes de cordeiro ou de porco. Massas que apresentem molhos vermelhos e temperos fortes são ótimas escolhas para acompanhar os vinhos Montepulciano. Seus melhores vinhos Montepulcianos são da parte norte de Abruzzo, sendo que grande parte provém do distrito de Chieti. Assim, a região é considerada uma das maiores produtoras de vinhos italianos, tornando-se fundamental para viticultura do país. Tanto é que eles são comercializados sob a denominação de origem. Abruzzo está localizada na parte centro-oriental da Itália, ela é cercada por uma natureza exuberante e paisagens de tirar o fôlego. Além de vilarejos charmosos e uma culinária que provoca nosso paladar.

Abruzzo, Itália

É uma região montanhosa, formada por várias colinas e quilômetros de praias, incluindo a imponente cordilheira dos Appennini. Dessa forma, Abruzzo apresenta vários microclimas que favorecem as condições ideais para o cultivo de varietais importantes, como a Trebbiano e a Montepulciano. Ao norte, o cenário é composto por terrenos arenosos; já no sul, encontram-se terrenos marcados por uma vegetação mediterrânea. A temperatura média anual varia entre 8 e 12 ºC nas áreas montanhosas e de 12 a 16 ºC na parte marítima.

Agora o vinho!

Na taça um vermelho rubi com reflexos violáceos vivos e brilhantes. Com uma profusão de lágrimas finas, porém que logo se dissipam das paredes do copo, devido, é claro, do baixo teor alcoólico do vinho, característico da casta Montepulciano.

No nariz não é tão aromático, mas traz notas de frutas vermelhas e negras, tais como: cereja, morando, com toques de tabaco, denotando certa rusticidade.

Na boca é seco e, por ser um vinho jovem, é macio, fácil de degustar, leve e agradável. É frutado, tem uma acidez evidente para um tinto, porém equilibrado, não tão elevada, taninos presentes, mas delicados e com uma adstringência discreta sem agredir ao palato. Um retrogosto persistente e frutado.

Um vinho redondo, agradável e com um excelente custo X benefício, o que me parece não ser muito comum, sobretudo vinhos com essa casta ofertadas no Brasil, onde tenho a impressão de que são poucos. E esses poucos rótulos disponíveis para venda no Brasil estão em um preço elevados e que tem a mesma proposta do Coppiere Montepulciano d’Abruzzo, que custou, pasmem: R$ 25,90! Como todo bom vinho italiano é muito gastronômico e harmoniza muito bem com carnes mais gordurosas e encorpadas e massas com temperos mais proeminentes, sendo este último o que usei para a harmonização e ficou fantástico. Nada como uma boa massa com um vinho tradicional italiano. Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a Schenk Wineries:

As vinícolas italianas de Schenk são de longe um dos produtores de vinho mais importantes a nível nacional. Fundada em 1952 em Reggio Emilia e transferida em 1960 para Ora, no sul do Tirol, a sede da primeira vinícola está intimamente ligada à área de produção. Este foi o primeiro passo do projeto "Vinícolas Italianas". Através deste projeto, a empresa, anteriormente dedicada ao engarrafamento de vinho a granel, torna-se produtora antes de tudo com o desenvolvimento de “Marcas da terra”, graças à colaboração com pequenos produtores de alta qualidade localizados nessas regiões, historicamente mais vocacionados para produção de vinho como Tirol do Sul, Toscana, Veneto, Sicília, Piemonte, Apúlia e Abruzzo. Em segundo lugar, através da aquisição das vinícolas “Bacio della Luna” em Vidor - Valdobbiadene (Treviso) e “Lunadoro” em Valiano di Montepulciano (Siena). Um caminho evolutivo começou há muitos anos, com o objetivo de fortalecer os laços com a terra e as tradições. Esses valores, juntamente com as fortes oportunidades oferecidas pelo progresso tecnológico, permitem que as vinícolas italianas da Schenk trabalhem de maneira sustentável.

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Fonte sobre a Montepulciano e Abruzzo:








terça-feira, 7 de julho de 2020

Santa Helena Seleccion Del Directorio Cabernet Sauvignon e Syrah 2012


Esse vinho tem história em minha vida. Tem fator, um valor sentimental que definiu e traçou as minhas percepções de enófilo e que me fez enveredar para os vinhos finos, produzidos por cepas vitis viníferas. Seus vinhos foram responsáveis para a transição dos simples vinhos de mesa, os famosos “vinhos de garrafão”, os “vinhos coloniais”, para os vinhos finos, estimulou o meu ávido interesse para o caminho do aprendizado do universo rico e ainda inexplorado mundo do vinho. Ah como ele foi e ainda é importante para mim, esse simples apreciador de vinhos que, por mais que busque novas experiências e sensações, sempre nos lembramos do nosso início, dos nossos primeiros passos e os quantos ainda têm a percorrer. Comecei a degustar os vinhos de entrada, os mais simples e fui degustando a sua história, passo a passo, degrau por degrau. Ele passeou, transitou por tanto tempo em minhas taças, as lembranças de bons momentos que ele protagonizou nas minhas celebrações, foram determinantes para o que sou hoje como enófilo e sinto sim orgulho disso tudo.

E o ápice, o cume desse momento se deu com um vinho fantástico, um vinho que degustei e gostei e que veio do Vale do Colchagua, é o Santa Helena Selección Del Directório composto pelas castas Cabernet Sauvignon (85%) e Syrah (15%), da safra 2012. Embora no rótulo esteja estampado apenas “Cabernet Sauvignon” ele, pelo menos para mim, é um corte. Mas a legislação chilena garante ao vinho a condição de um varietal, pois o é porque o Cabernet Sauvignon leva mais de 75% da composição do vinho. E que vinho! Um vinhaço!

Na taça o vinho se revela com um vermelho rubi intenso e profundo, intenso e brilhante, um tom lindamente reluzente, com lágrimas em profusão, finas e abundantes que teimavam em desaparecer das paredes do vinhos, desenhando-as.

No nariz é uma explosão aromática de frutas negras, com toque de baunilha e tabaco, diria um toque de especiarias, conferido pelos seus 10 meses de passagem por barricas de carvalho.

Na boca é frutado, estruturado, com alguma complexidade, mas macio, elegante com taninos presentes, mas delicado e domado, um toque amadeirado, de tosta, com acidez correta e um final longo e persistente.

Um vinho de grande personalidade, mas fácil de degustar, afinal o tempo em barricas de carvalho lhe conferiu equilíbrio, tornando-o harmonioso, mas, ao mesmo tempo, complexidade, elegância e um toque delicado. E olha que, quando o degustei, em 2017, ele já tinha 5 anos de vida! E ainda se mostrou vivo e pleno! Um vinho, uma vinícola que fez parte da minha história, uma história ainda viva, que ainda caminha graças ao que a Santa Helena me revelou e revela ao longo do tempo. Tem 14% de teor alcoólico muito bem integrado.

Sobre a Vinícola Santa Helena:

No início do século XX, no Chile, um amado produtor de vinho ficou seriamente doente. Sua família e trabalhadores dedicaram-se a cuidar dele, o que fez que seu campo sofresse uma notável deterioração. Helena, sua filha, vendo como o campo perdeu seu encanto, partiu para reviver todas as videiras do vale. Com determinação e dedicação, ele conseguiu devolver a qualidade e seu pai, uma vez recuperado, decidiu batizar seus vinhos com o nome "Santa Helena", em homenagem a sua filha. Juntos, eles aperfeiçoaram e completaram o trabalho enológico, cujo legado durou até hoje. A Viña Santa Helena, fundada em 1942 e com mais de 75 anos de experiência, está localizada no Vale Central, o vale mais característico do Chile. A qualidade do vinho nasce na vinha, por isso a nossa atenção e energia começam na terra, preocupando-se com a gestão sustentável de todos os nossos processos agrícolas. O Vale Central tem ótimas condições naturais de clima e solo, que permitem uma terra fértil e perfeita para a produção de vinhos de alta qualidade, refletidos em nossas diferentes linhas. Em 1994 a vinícola Santa Helena foi adquirida pelo VSPT Wine Group, grupo composto pelas seguintes vinícolas: San Pedro, Tarapacá, Leyda, Santa Helena, Misiones de Rengo, Viña Mar e Casa Rivas no Chile, e por duas vinícolas argentinas, a La Celia e a Tamarí. Apesar da grande diversidade de marcas, o Grupo mantém a identidade de cada uma das vinícolas, que produzem o seu próprio vinho com as próprias características. Atualmente a vinícola Santa Helena é uma das 10 maiores exportadoras do Chile e seus vinhos estão em mais de 45 países, nos 5 continentes. Os principais mercados são: Brasil, Finlândia, Japão, Coreia do Sul e Reino Unido.

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Degustado em: 2017



segunda-feira, 6 de julho de 2020

Armador Cabernet Sauvignon 2015


Tradição é estabelecimento de qualidade! E no mundo do vinho não é muito diferente essa máxima. Algumas “marcas registradas” trazem a confiabilidade, a tão importante credibilidade de que esperamos no difícil momento da escolha de um vinho. Uma região importante, um produtor de renome e idôneo, uma casta de predominância internacional entre vários outros fatores, podem ser preponderantes para uma boa degustação, não duvido disso. Mas também pode te escravizar, te engessar, as vezes é preciso “ousar” e correr riscos para que você se permita buscar novas experiências, novas e possíveis gratas sensações. Mas nessa degustação a tradição e a idoneidade pesaram firmes e de forma avassaladora. Foi uma das minhas grandes e inesquecíveis experiências de degustação. É consenso que no Chile se produz um dos melhores Cabernet Sauvignon do mundo, como também é unânime que podemos encontrar os melhores vinhos orgânicos. Eu consegui aliar esses dois quesitos em um vinho e o resultado foi...

O vinho que degustei e gostei veio da emblemática região do Vale do Maipo, Chile, da famosa vinícola Odfjell, é o Armador da casta Cabernet Sauvignon (100%) da safra 2015. Um maiúsculo vinho chileno, arrebatador, excelente!

Na taça apresenta um vermelho rubi intenso e profundo, mas com bordas violáceas muito brilhantes e reluzentes. Tinha lágrimas finas e em profusão, que demoravam a se dissipar desenhando as bordas do copo.

No nariz traz uma explosão aromática de frutas vermelhas e negras, maduras, como cerejas e amoras, com toques generosos de especiarias, como pimenta preta, o toque de baunilha também é evidente, mas bem equilibrado.

Na boca é estruturado, robusto, mas equilibrado, elegante e harmonioso, o tornando, apesar de encorpado, muito fácil de degustar, com taninos maduros, gordos, mas sedosos e calmos, com acidez correta. Um toque discreto da madeira, com um agradável toque de madeira, tostado e chocolate meio amargo, graças aos 20% do vinho passar por 6 meses por barricas de carvalho e os outros 80% permaneceu em tanques de aço inoxidável. Tem um final persistente e frutado.

Sem sombra de dúvida que o Armador foi um dos melhores vinhos orgânicos de que degustei, trazendo toda a tipicidade de um Cabernet Sauvignon tipicamente chileno, o terroir se fez presente, a tradição se fez presente neste vinho. A cultura de um povo produtor de vinho embalado em uma garrafa. Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Odjfell Vineyards:

Há mais de 25 anos, o construtor pioneiro norueguês Dan Odfjell descobriu e se apaixonou por um pequeno canto do famoso Vale de Maipo, no Chile. Nascido na cidade chuvosa de Bergen, Noruega, ele não conseguiu resistir à atração do sol do sul de um lugar tão poético. Hoje, a vinha é dirigida por seus filhos Laurence e Dan Jr., que participam ativamente da promoção de vinhos nos mercados internacionais e que também fazem parte do diretório de Odfjell Vineyards S.A. Fundada no espírito explorador da família Odfjell como armadores noruegueses (Daí o nome do vinho “Armador”, em homenagem ao espírito aventureiro da família) e na sua paixão pelo vinho, Odfjell Vineyards procura produzir vinhos de qualidade únicos de forma sustentável. A visão Odfjell Vineyards transforma seu espírito pioneiro em capturar o melhor do Chile em uma garrafa. Acreditamos firmemente na sustentabilidade como um dos nossos princípios e procuramos constantemente entregar vinhos memoráveis ​​de forma a gerar valor para os nossos acionistas, funcionários e parceiros estratégicos.

Projeto biodinâmico e orgânico da Odfjell Vineyards:

Desde o início da Odfjell Vineyards, a visão dos proprietários é trabalhar em harmonia com o meio ambiente. O primeiro passo foi eliminar o uso de produtos químicos. Depois de alguns anos, essa decisão permitiu que eles seguissem em direção ao manejo orgânico e certificassem todas as nossas vinhas pela IMO na Suíça. Mais tarde, em 2009, começaram a explorar as culturas biodinâmicas nas vinhas do sul, para finalmente concluir essa transição com as vinhas de Padre Hurtado. Em 2012, a certificação DEMETER reconheceu 100% de nossas vinhas como biodinâmica.

Práticas ambientais:

Seguindo a missão e os valores, para melhorar a gestão ambiental, eles trabalham constantemente na avaliação e estabelecimento de práticas e procedimentos que melhoram sua gestão, como:

1 - A produção do composto orgânico e biodinâmico em si é feita de vassouras e bagaço misturado com estrume de nossos cavalos fiordes, reduzindo assim o impacto dos resíduos.

2 - Plantação de pasto entre vinhedos para melhorar os níveis de nitrogênio no vinhedo.

3 - Plantio de flores e desenvolvimento de "ilhas ecológicas" para atrair insetos benéficos (predadores naturais) e aumentar a biodiversidade do ecossistema da vinha.

4 - Apicultura com abelhas próprias para contribuir para o equilíbrio natural.

5 - Uso dos Cavalos do Fiorde para trabalhar as vinhas, evitando assim a compactação do solo causada pelas máquinas.

6 - Medição das emissões de CO2 e implementação de um plano proativo para reduzi-las a cada ano.

7 - Incentive o uso de vidro ecológico apenas com a seleção de garrafas leves e, assim, minimize as emissões de CO2 do transporte.

8 - Incentive o uso de papel reciclado em nossas caixas, reduzindo o desmatamento.

9 - Implemente um programa ativo de reciclagem para todos os tipos de resíduos: plásticos, papéis, papelão, vidro e material orgânico.

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Degustado em: 2019


Luigi Cecchi Sangiovese di Toscana 2015


Lembro-me que quando comecei a degustar vinhos eu iniciei também um intenso processo de pesquisa para conhecer um pouco mais sobre os países que são grandes produtores, das regiões emblemáticas e suas cepas tradicionais. Afinal eu precisava trilhar um caminho para seguir sem sombras, ter o mundo do vinho esclarecido e descortinado diante dos meus olhos e sentidos. E claro que nessa viagem eu me deparei com a Itália. A Itália e seus vinhos maravilhosos, de história rica e ilibada. E uma vez me falaram que o símbolo da Itália era a casta Sangiovese, era a menina dos olhos da Velha Bota. Mas inicialmente eu não degustei um vinho dessa casta. Ainda um pouco “inexperiente” no mundo dos vinhos, não conseguia encontrar nos supermercados um vinho com essa casta. Mas até que um dia caminhando despretensiosamente pelo supermercado, encontrei um Sangiovese e mais: da tradicional região da Toscana, que é praticamente o berço da casta! Fiquei eufórico e pensei em silêncio: Finalmente vou degustar um Sangiovese! Comprei!

Um vinho surpreendente! Um vinho extremamente versátil e saboroso! Mas não vou adiantar, pelo menos agora, os detalhes do vinho, mas vou apresentar o vinho que degustei e gostei da já referida Toscana, da casta Sangiovese, da Família Cecchi, da safra 2015, um Indicação Geográfica Típica. Antes eu não posso deixar de falar um pouco da clássica “Sangiovese”.

Sangiovese:

Algumas teorias em torno da origem da casta datam seu cultivo desde a vinicultura romana, e parte disso se dá por conta do nome dela. Sangiovese vem do latim “Sanguis Jovis”, ou seja, sangue de Júpiter. Outros garantem que ela já existia desde a civilização Etrusca, que viveu onde hoje é a Toscana entre 1.200 e 700 a.C. De qualquer maneira, o primeiro documento encontrado a respeito da uva é de 1590, na própria Toscana. Seu reconhecimento, no entanto, só aconteceu depois do século XVIII, quando passou a ser uma das castas mais plantadas da região, onde encontra condições perfeitas de crescimento. Foi na Toscana que, em meados do século XIX, o agricultor Clemente Santi isolou suas vinhas para uma prática pouco comum na época: fabricar vinhos varietais de Sangiovese, que envelheceriam por um período considerável. Em 1888, seu neto Ferruccio Biondi-Santi, um veterano soldado que lutou ao lado de Giuseppe Garibaldi, lançou a primeira versão moderna do Brunello di Montalcino, um vinho que descansou por mais de uma década em barris de madeira. O vinho agradou tanto os toscanos que, nas primeiras décadas do século XX, já era aguardado ansiosamente por críticos e consumidores locais. Ao redor de 1950, a fama do Brunello extrapolou os limites italianos e fez dele um fenômeno mundial. A guinada final da Sangiovese foi dada nos anos 1960 e 70, quando aconteceu uma revolução enológica que deu origem aos chamados Supertoscanos. Nessa época, os vinhos mais importantes da região eram largamente conhecidos, mas não reconhecidos. Alguns vinicultores acreditavam que as regras de produção estabelecidas os impediam de fazer um vinho de maior qualidade, utilizando, além da Sangiovese, uma pequena porcentagem de castas internacionais e técnicas mais modernas. Eles então se “rebelaram” e passaram a produzir vinhos da maneira que achavam certo, sem se importar com as regras que lhes garantiam o selo DOC. O resultado foram vinhos de alta qualidade e preço, que mais tarde ficaram conhecidos como Supertoscanos. A Sangiovese é cultivada em cerca de 100 mil hectares (o que corresponde a quase 10% de toda a área plantada dos páis) e contribui com 15% dos vinhedos que resultam em vinhos DOC. Ela é cultivada em 18 regiões, 70 províncias e dá origem a mais de 190 tipos de vinho diferentes. Os italianos gostam de pensar que a casta é o equivalente italiano à Cabernet Sauvignon, tanto por seu potencial de envelhecimento quanto pela versatilidade, uma vez que se dá bem tanto em vinhos varietais quanto em grandes blends. Em sua casa, na Toscana, em seu estilo mais tradicional, a uva – de cor rubi intensa e cachos bem carregados – dá origem a vinhos herbáceos e com sabores de cereja, além de ter acidez alta e taninos marcantes. Por isso, pode envelhecer por anos, como é o caso dos Brunello di Montalcino.

Agora o vinho!

Na taça o vinho apresenta um vermelho rubi intenso com reflexos violáceos brilhantes e vivo! Há uma boa quantidade de lágrimas, mas que logo se dissiparam.

No nariz tem um delicado e elegante toque frutado, lembrando frutas vermelhas em compota, como cereja e morando, por exemplo. É perceptível também o toque floral, ampliando ainda mais os aromas.

Na boca se reproduz as impressões olfativas, mostrando-se frutado, com alguma estrutura, personalidade marcante, mas muito harmonioso, redondo e fácil de degustar, certamente pelo tempo que evoluiu na garrafa antes de sair da vinícola, por dois meses. Com uma boa acidez e taninos presentes, mas sedosos.

Enfim, a minha primeira experiência com um vinho 100% Sangiovese não poderia ter sido melhor. Um vinho de ótima drincabilidade, de forte personalidade, mas redondo, fácil de beber, revelando um novo “Sangiovese”, agradável e saboroso. Harmoniza muito bem com massas ou até mesmo degustando-o sozinho. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Família Cecchi:

Tudo começou em 1893, quando Luigi Cecchi se tornou um provador profissional de vinhos e entendeu o potencial da vinificação italiana.  Foi Cecchi quem iniciou uma jornada que levou ao que agora pode ser definido como uma mistura perfeita entre inovação e tradição. É na capacidade de prever o futuro que um dos segredos do sucesso da Família Cecchi se estabelece; uma espécie de presente entregue de pai para filho. Todos os passos dados pela vinícola ao longo de sua história foram precedidos de experimentações cuidadosas e completas, e é o respeito pela tradição que sempre levou a família a tomar suas decisões diárias.

Mais informações acesse:


Fonte para a pesquisa da história da Sangiovese:


Degustado em: 2016



segunda-feira, 29 de junho de 2020

Viña Brava Parellada e Garnacha Blanca 2014


Estava eu em uma das minhas inúmeras incursões aos supermercados para garimpar algum vinho interessante cujo preço não impacte tanto no bolso já combalido. Na realidade estava querendo alguma novidade também em termos de proposta de vinho. Algo novo e diferente em meu simples e humilde currículo de enófilo, talvez uma casta pouco conhecida, uma região pouco comentada, um vinho que me entregasse algo pouco usual tão comum nos supermercados. E, olhando um pouco mais de detalhe achei, jogado na parte mais baixa da gôndola, entregue a própria sorte, um vinho empoeirado, com um preço até atrativo, em torno dos seus R$ 19,00 e, nesse quesito já me chamou a atenção. Tomei o mesmo em minha mãos e olhando um pouco mais percebi que era de uma vinícola tradicional da Espanha, de uma região que nunca havia degustado um vinho sequer e duas castas que nunca tinha ouvido falar. Pronto! Era tudo o que eu precisava! Atendia as minhas necessidades de momento! Levei!

Não demorei muito para abri-lo e quando o desarrolhei fiquei preocupado, receoso, afinal, a safra era um tanto quanto “antiga” para um vinho, 2014, talvez se justificasse o preço por esse motivo, mas quando o servi na taça e levei à boca me surpreendi de uma forma que jamais esperaria! Fantástico vinho, incrível rótulo! O vinho que degustei e gostei veio, como disse da Espanha, da região da Catalunha, e se chama Viña Brava um corte das castas Parellada e Garnacha Blanca. Mas antes de falar entusiasticamente do vinho, falarei um pouco dessas castas “novas” para mim, bem como da região da Catalunha.

Parellada

A uva Parellada, nativa da Catalunha, é cultivada exclusivamente em sua região de origem e participa da composição do prestigiado vinho espumante Cava. Conhecida também como Montonec ou Montonega, essa variedade de uva é cultivada nas montanhas do Alto Penedès, a 600 metros acima do nível do mar. A Parellada atinge o ápice qualitativo quando cultivada em grandes altitudes, onde as baixas temperaturas favorecem sua acidez natural e necessita de um período maior de tempo para desenvolver todos os seus compostos aromáticos. Essa variedade é utilizada, principalmente, na fabricação de alguns dos melhores espumantes espanhóis, o Cava, ao lado das uvas Xarel-lo e Macabeo. A Parellada, considerada a uva mais elegante e refinada entre as três variedades, é responsável por adicionar acidez e frescor aos exemplares. Os vinhos elaborados a partir da uva Parellada apresentam aromas florais e cítricos, além de serem exemplares extremamente delicados, ricos em acidez, aromáticos, com coloração brilhante e contam com a presença de um baixo teor alcoólico.

Garnacha Blanca

Nativa do norte da Espanha, a Grenache Blanc é mais conhecida por fazer parte da composição de excelentes vinhos brancos franceses, em especial, o tradicional vinho Chateauneuf-du-Pape. Conhecida como Garnacha Branca na Espanha, ela é uma variante branca da casta Grenache Noir e já foi uma das castas mais importantes da França, até perder o posto de quarta uva mais plantada no país para a Sauvignon Blanc (atrás da Ugni Blanc, Chardonnay e Sémillon). Essa variedade dá origem a vinhos com coloração dourada e está sendo cada vez mais utilizada na elaboração de excelentes varietais, no entanto, encontramos a Grenache Blanc com maior facilidade em blends, por ser uma uva extremamente aromática, exibindo aromas frutados de maçã verde e melão e adicionando características típicas do ambiente em que foi cultivada ao resultado final de qualquer vinho.

Catalunha

A região da Catalunha, no norte da Espanha, é a área vinícola com maior número de DOs (Denominação de Origem) do país. Entre as mais importantes encontram-se Costers del Segre, Montsant e Penedès, além da reputada DOC Priorato, a segunda mais reconhecida na Espanha. Lar do famoso espumante espanhol Cava, a região da Catalunha possui solos chamados de 'licorella' e apresenta um baixo índice pluviométrico, fazendo com que as videiras apresentem baixa produtividade e as uvas tornem-se muito concentradas. Consequentemente, os vinhos elaborados na região possuem coloração tinta profunda, excelente textura e taninos finos.

Catalunha

É em Penedès Central, na região espanhola de Sant Saurndí d’Anoia, que ocorre a elaboração do famoso Cava, vinho espumante produzido pelo método tradicional com, no mínimo, nove meses de contato com as leveduras. Diferentes uvas podem integrar a composição do vinho Cava, classificando os exemplares entre os estilos branco ou rosado, que também variam em nível de doçura. Apesar de utilizarem-se métodos de produção similares, o sabor encontrado no Cava é diferente do Champagne, principalmente pela distinção das uvas utilizadas: enquanto um é produzido a partir das uvas Pinot Meunier, Chardonnay e Pinot Noir, o Cava é elaborado com as castas Parellada, Macabeo e Xarel-lo. Já a região do Priorato é conhecida por ter recebido o título máximo de denominação espanhola, elaborando vinhos com castas autóctones cultivadas na Catalunha. Outra região vinícola importante é Montsant, lar de alguns dos melhores e mais renomados produtores da Espanha e a denominação de origem mais nova da Catalunha, regulamentada somente em 2001.

E finalmente o vinho!

Na taça apresenta um amarelo com reflexos dourados, vivo e brilhante com pouca incidência de lágrimas.

No nariz, apesar da safra “antiga” para um vinho branco com essa proposta, ainda estava pleno e vivo, apresentando frescor e muito frutado, com notas de abacaxi, maça verde e pera.

Na boca é muito fresco, com notas joviais e muita elegância, se mostrando redondo e equilibrado, reproduzindo a fruta com evidência para maçã verde e abacaxi, com acidez correta e um final longo e persistente.

Um vinhaço muito bem produzido e mostrando a relevância tradicional da Família Torres na Espanha. Harmoniza muito bem com carne branca, peixes e frituras ou simplesmente sozinho. Um vinho descontraído, informal e ainda muito jovem. Acho que o degustei no tempo certo. Tem 11,5% de teor alcoólico.

Sobre a Familia Torres:

Falar da vinícola Torres é falar de um império que impõe respeito no mundo dos vinhos. Com mais de 1.300 hectares de território plantado, a Torres é hoje a maior vinícola da Espanha. Sua reputação lhe conferiu inúmeras premiações, como a de melhor vinícola européia do ano, promovida pela revista “Wine Enthusiast” em 2006. A Família Torres administra também a Miguel Torres no Chile e a Marimar Estate nos Estados Unidos. Fundada em 1870, em Penedés, a nordeste da Espanha, a vinícola Torres nasceu de uma parceria entre dois irmãos de uma família que desde o século XVII cultivava vinhas, mas sem apelo comercial. Jaime Torres era o irmão que dominava o comércio com as Américas, enquanto Miguel Torres dominava a produção de vinhos. Juntos começaram o negócio familiar focados no mercado externo, vendendo seus vinhos em barris, sem imaginar a dimensão que a Torres tomaria. A vinícola logo começou a ganhar visibilidade e recebeu ilustres visitas em sua sede, como a do rei Afonso XIII em 1904. Poucos anos depois, já na segunda geração da família, nasceu a primeira marca da Família Torres: a Coronas, marca que deu fama mundial à vinícola e que é reconhecida até os dias de hoje. Essa mesma geração foi também responsável pelo início da produção de brandies, o vinho fortificado da Torres. Tamanha fora sua aceitação e sucesso no mercado externo que tornou a Torres a maior exportadora de brandy do país. Os negócios iam bem, até que veio a guerra civil espanhola e em 1939 a vinícola foi parcialmente destruída por um bombardeio. Ao fim da guerra, iniciou-se a reconstrução da vinícola e os vinhos passaram a ser vendidos pela primeira vez em garrafas. Nos anos seguintes, nasceram marcas como Sangre de Toro, produto de entrada da Torres produzido a partir de Garnacha e Cariñena, e Viña Sol, feito a partir das castas Parellada e Garnacha Blanca com uma proposta de frescor. Próximo ao centenário, a vinícola aderiu à vitivinicultura moderna, começou a cultivar variedades estrangeiras, como a Cabernet Sauvignon e a Chardonnay e a utilizar tanques de inox para a fermentação. Em 1979, a Torres expandiu seus negócios para outros territórios. Nasceu a Miguel Torres no Chile e alguns anos depois, a Marimar Estates em Sonoma, nos Estados Unidos. Seus vinhos traduzem a tradição e o conhecimento da família aliados à riqueza do terroir dessas regiões. Na Espanha, a Torres ampliou seu negócio para outras terras e está hoje em regiões como Ribera Del Duero, Rioja, Jumilla, Toro, Rueda, Priorato e Penedés, produzindo uma variedade de castas autóctones, como Tempranillo, Monastrell, Garnacha e Cariñena e castas internacionais, como Syrah, Merlot, Sauvignon Blanc e Riesling. Sua produção chega a atingir mais de 40 milhões de litros por ano e seus vinhos estão presentes em mais de 140 países. Reputação deste império que é a vinícola Torres a tornou um ponto turístico muito procurado por amantes do vinho de diversos países, chegando a receber mais de 130.000 visitantes por ano somente na sede de Penedés. Se você estiver na Espanha e tiver a oportunidade de visitar, vale gastar algumas horas desfrutando de seus vinhos, ampliando seu conhecimento sobre esta marca histórica e apreciando a natureza incrível no entorno de suas sedes. São três os locais que permitem visitação: a sede de Penedés (Parcs Del Penedés), principal local de visitação, a vinícola de El Lloar no Priorato e o Castelo de Milmanda, em Conca de Barberà.
Mais informações acesse:


Fontes pesquisadas sobre as castas e a região:

Mistral, em:


Degustado em: 2019

sábado, 27 de junho de 2020

São Miguel do Sul Syrah 2016


Eu não sei ao certo se essa região vitivinícola de Portugal pode ser considerada uma unanimidade devido aos seus vinhos de personalidade, de um terroir muito característico, haja vista que Portugal, apesar de ser um país de dimensões territoriais pequenas, se mostra grande na produção de vinhos, com uma diversidade de rótulos e propostas, fazendo desse país um universo vasto e rico e em franca expansão no que tange aos vinhos que produz. Falo do Alentejo. É bem possível que a minha fala venha carregada de sentimentos, de algo que vem do coração e isso é bom, claro, mas talvez me falte a razão e quem liga para a razão nesse momento? Alentejo é muito popular no Brasil, juntamente com a região dos Vinhos Verdes e arrisco em dizer que a região alentejana fez e faz parte da vida de muitos enófilos brasileiros, como fez na minha. A minha iniciação aos vinhos lusitanos se deu com os vinhos do Alentejo e esse momento nunca por mim será negligenciado.

E hoje fiz reviver, como em vários outros quando desarrolho um bom alentejano, esse momento inicial de minhas degustações portuguesas com um estupendo e surpreendente vinho da emblemática região, da Casa Relvas: O São Miguel do Sul, um vinho regional alentejano, da casta Syrah (100%) da safra 2016. Um vinho que degustei e gostei e que foi incrivelmente arrebatador de uma casta oriunda da França, mas com o toque de Portugal. E antes de falar das minhas sensações do vinho, não posso deixar de falar um pouco da região do Alentejo e expressar toda a minha reverência a mesma.

Alentejo

A história do Alentejo anda de mãos dadas com a história de Portugal e da Península Ibérica, ex-hispânicos, assim como, pertencentes a época de civilizações romana, árabe e cristãs. Em muitos lugares no Alentejo encontrar provas da civilização fenícia existente à 3000 anos atrás. Fenícios, celtas, romanos, todos eles deixaram um importante legado da era antes de Cristo, na região que é hoje o Alentejo. Uma terra onde a cultura e tradição caminham lado a lado. Os romanos deixaram nesta região o legado mais importante, escritos, mosaicos, cidades em ruínas, monumentos, tudo deixado pelos romanos, mas não devemos esquecer as civilizações mais antigas que passaram pela zona deixando legados como os monumentos megalíticos, como Antas. Após os romanos e os visigodos, os árabes, chegaram a esta terra com o cheiro a jasmim, antes da reconquista, que chegou com a construção de inúmeros castelos, alguns deles construídos sobre mesquitas muçulmanas e a construção de muralhas para proteger a cidade e as cidades que foram crescendo. Desde essa altura até hoje, o Alentejo tem continuado o seu crescimento, um crescimento baseada na agricultura, pecuária, pesca, indústria, como a cortiça e desde o último século até aos nossos dias, com o turismo com uma ampla oferta de turismo rural. Situado na zona sul de Portugal, o Alentejo é uma região essencialmente plana, com alguns acidentes de relevo, não muito elevados, mas que o influenciam de forma marcante. Embora seja caracterizada por condições climáticas mediterrânicas, apresenta nessas elevações, microclimas que proporcionam condições ideais ao plantio da vinha e que conferem qualidade às massas vínicas.


As temperaturas médias do ano variam de 15º a 17,5º, observando-se igualmente a existência de grandes amplitudes térmicas e a ocorrência de verões extremamente quentes e secos. Mas, graças aos raios do sol, a maturação das uvas, principalmente nos meses que antecedem a vindima, sofre um acúmulo perfeito dos açúcares e materiais corantes na película dos bagos, resultando em vinhos equilibrados e com boa estrutura. Os solos caracterizam-se pela sua diversidade, variando entre os graníticos de "Portalegre", os derivados de calcários cristalinos de "Borba", os mediterrânicos pardos e vermelhos de "Évora", "Granja/Amarelega", "Moura", "Redondo", "Reguengos" e "Vidigueira". Todas estas constituem as 8 sub-regiões da DOC "Alentejo".

Agora o vinho!

Na taça tem um belíssimo vermelho rubi intenso, escuro e brilhante, com lágrimas finas e em profusão que demora a se dissipar das paredes do copo, desenhando-o.

No nariz se revela muito frutado, frutas vermelhas, como amora, cereja, talvez. Não é muito aromático e, ao desarrolhar a garrafa e me servir da primeira taça, percebi o álcool em evidência, mas, com vinho, respirando, por um breve período, logo se equilibrou.

Na boca percebem-se as notas frutadas, sendo seco, muito seco, diria até com alguma adstringência, mas que nada afeta o conjunto do vinho, com um toque picante, de especiaria, típico da Syrah. Tem certa estrutura, bom corpo, com taninos presentes, mas equilibrados, uma boa acidez, alta até para um tinto, com final de média persistência e frutado. Percebi um toque de baunilha, o que denota uma passagem por barricas de carvalho. Mas em contato com o produtor, o mesmo informou que o vinho não passou por madeira, mas ao olhar o contra rótulo aparece a informação de que passou 6 meses por carvalho.

Um vinho de personalidade marcante, equilibrado, um Syrah diferente de tudo que eu havia degustado desta cepa até então. Uma curiosidade do vinho: como o Alentejo é uma região produtora de cortiça, graças a exuberante vegetação de sobreiros, a linha de rótulos “São Miguel do Sul” celebra esse recurso natural alentejano, onde a cortiça, usada para produzir as rolhas, também estampa os rótulos dos vinhos, ou seja, os rótulos são feitos de cortiça e traz um lindo efeito estético ao mesmo. Inclusive a Casa Relvas, desde 1997, dispõe de mais de 300 hectares de sobreiros. Os vinhos São Miguel do Sul são a homenagem da vinícola à região e ao compromisso da Família Relvas em preservar as florestas locais de montado. Esse vinho é muito gastronômico e harmoniza com carnes vermelhas, massas, pizzas e queijos mais encorpados. Tem 14,5% de teor alcoólico e, apesar, do alto percentual, estão muito bem integrados ao vinho, mostrando-se imperceptíveis.

Sobre a Casa Relvas:

A Casa Relvas, que até há dois anos era conhecida por Casa Agrícola Alexandre Relvas, foi fundada em 1997 por Alexandre Relvas. Hoje, e com cinco gerações ligadas ao mundo agrícola, esta herdade tem como negócio principal o vinho e produz cerca de 6 milhões de garrafas de vinho por ano. Com cerca de 150 clientes e 15 mil pontos de venda pelo mundo, a Casa Relvas é um autêntico oásis de vinhos alentejanos para todos os paladares que apreciam o "néctar dos Deuses". Situada em São Miguel de Machede, no Redondo, a adega principal recebe eventos personalizados, que vão desde a tradicional visita à adega, com provas de vinhos, a diversas atividades que acompanham o ciclo de vida do processo vinícola.

Mais informações acesse:


Fonte de pesquisa sobre a história do Alentejo:







terça-feira, 23 de junho de 2020

Antiguas Reservas Cabernet Sauvignon 2013


Sabe quando um vinho te ensina a gostar e amar um terroir, um país, uma casta? Mas não se equivoquem, não é nada didático, ligado a regras de degustação ou qualquer coisa engessada que o valha, é algo ligado ao coração, é algo orgânico, que às vezes em palavras não sabemos explicar. O corpo te responde, as suas percepções sobressaem, falam por si só. Tem vinhos que personifica uma terra, as características mais peculiares de um país, de uma região e mesmo que não tenhamos aquele conhecimento enciclopédico, quando degustamos um vinho, diante de uma catarse dizemos: Esse vinho representa com fidelidade o Chile! E é do Chile que veio o meu arrebatamento que jamais esquecerei! Claro que foram vários, afinal, não querendo soar como um “traidor da pátria” foi com o Chile que eu aprendi e aprendo a degustar belos vinhos. Falo da tradicional e emblemática Cousiño Macul que tem mais de século de produção de vinhos de excelência, que entrega ao enófilo os valores e a cultura de sua terra e do seu povo.

O vinho que degustei e gostei vem da região do Maipo Valley e é o Cousiño Macul Antiguas Reservas da casta Cabernet Sauvignon da safra 2013. Essa uma linha de excelente qualidade da vinícola e posso dizer eloquentemente, pois já degustei outras castas, inclusive há uma resenha, uma análise que fiz do Cousiño Macul da casta Merlot 2011 que recomendo grandemente e que pode ser conferida aqui: Antiguas Reservas Merlot 2011.

Na taça tem um vermelho rubi intenso, escuro, com reflexos violáceos. Uma cor brilhante e reluzente, límpido. Lágrimas finas e em profusão, mostrando, já ao olhar, a robustez e personalidade do vinho. Lágrimas essas que se dissipam vagarosamente.

No nariz apresenta aromas intensos, uma explosão aromática de frutas que se destacam a cereja e morango, com toques evidentes de especiarias, com destaque para pimenta preta e notas de menta que trouxe a impressão de algum frescor.

Na boca é elegante, redondo, que preenche bem a boca, estruturado, com taninos carnudos, firmes e maduros, mas equilibrado, com uma acidez equilibrada, correta, com toques, diria, generosos de baunilha, com a madeira perceptível, mas muito bem integrada ao conjunto do vinho, características essas graças a passagem por barricas de carvalho por 12 meses. Final saboroso e persistente.

Um vinhaço! Um arrebatamento líquido que entrega, com grande fidelidade, o Chile e as características mais verdadeiras de um Cabernet Sauvignon “made in Chile”. Esse vinho é bem gastronômico, harmonizando com massas condimentadas, um bom churrasco ou carnes gordas. Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Cousiño Macul:

Parte de nossa produção tem suas raízes em um território que, há mais de 500 anos, foi utilizado para a produção de vinho. Juan Jufré é um dos primeiros nomes que aparecem na história do vinho chileno e, uma vez, o proprietário da terra onde atualmente está localizada a propriedade Macul. Ele foi contratado, na época da colônia e por ordem do rei da Espanha, para produzir a cepa e o moscatel do país para fornecer vinho para a Eucaristia e parte da sociedade chilena. O primeiro Cousiño apareceu 300 anos depois, quando em 1856 Matías Cousiño adquiriu os 1.000 hectares da Hacienda Macul. Então, localizado principalmente no sopé da cordilheira dos Andes. Esse território fértil e gentil é alimentado, até hoje, naturalmente pelas encostas de Las Perdices e pelo canal de San Carlos. Após a morte de Don Matías, seu filho Luis Cousiño herdou a terra e o sonho de iniciar uma produção familiar de vinho. Para isso, ele decide renovar as vinhas que foram cultivadas lá e, juntamente com sua esposa Isidora Goyenechea , traz da Europa as primeiras vinhas destacadas do vinhedo. O Cabernet Sauvignon e Merlot foram trazidos da região de Pauillac, o Green e Gray Sauvignon de Martillac e o Riesling da Alsácia, este último pessoalmente selecionado por Doña Isidora. O casal administra a vinha até a morte de Luis Cousiño. A partir desse momento, Isidora Goyenechea assume a liderança e se torna uma das primeiras mulheres de negócios da América do Sul. Até o dia de sua morte, ele continua a tradição da família Cousiño, projetando-a no tempo com inovação e novas tecnologias. Com uma acuidade particular em engenharia, ele melhorou as condições dos trabalhadores e padronizou a produção e a excelente qualidade dos vinhos. Além disso, supervisionou a construção da vinícola icônica, encomendada por Luis Cousiño e formulada por engenheiros franceses, até sua conclusão em 1878, e redesenhou o logotipo da empresa, imortalizando seu próprio legado. Em 1898, Isidora morreu e a vinha foi herdada por seu filho Luis Arturo, bisavô da 6ª geração, que hoje dirige a empresa. Mais do que quantidade, nossa produção sempre focou na qualidade. O trabalho de pesquisa e desenvolvimento do primeiro produto de exportação levou 60 anos. Do melhor Cabernet Sauvignon da safra de 1927, nasceram as primeiras reservas de antiguidades, que até hoje são produzidas de maneira fiel ao seu estilo original.

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Degustado em: 2017