sábado, 27 de junho de 2020

São Miguel do Sul Syrah 2016


Eu não sei ao certo se essa região vitivinícola de Portugal pode ser considerada uma unanimidade devido aos seus vinhos de personalidade, de um terroir muito característico, haja vista que Portugal, apesar de ser um país de dimensões territoriais pequenas, se mostra grande na produção de vinhos, com uma diversidade de rótulos e propostas, fazendo desse país um universo vasto e rico e em franca expansão no que tange aos vinhos que produz. Falo do Alentejo. É bem possível que a minha fala venha carregada de sentimentos, de algo que vem do coração e isso é bom, claro, mas talvez me falte a razão e quem liga para a razão nesse momento? Alentejo é muito popular no Brasil, juntamente com a região dos Vinhos Verdes e arrisco em dizer que a região alentejana fez e faz parte da vida de muitos enófilos brasileiros, como fez na minha. A minha iniciação aos vinhos lusitanos se deu com os vinhos do Alentejo e esse momento nunca por mim será negligenciado.

E hoje fiz reviver, como em vários outros quando desarrolho um bom alentejano, esse momento inicial de minhas degustações portuguesas com um estupendo e surpreendente vinho da emblemática região, da Casa Relvas: O São Miguel do Sul, um vinho regional alentejano, da casta Syrah (100%) da safra 2016. Um vinho que degustei e gostei e que foi incrivelmente arrebatador de uma casta oriunda da França, mas com o toque de Portugal. E antes de falar das minhas sensações do vinho, não posso deixar de falar um pouco da região do Alentejo e expressar toda a minha reverência a mesma.

Alentejo

A história do Alentejo anda de mãos dadas com a história de Portugal e da Península Ibérica, ex-hispânicos, assim como, pertencentes a época de civilizações romana, árabe e cristãs. Em muitos lugares no Alentejo encontrar provas da civilização fenícia existente à 3000 anos atrás. Fenícios, celtas, romanos, todos eles deixaram um importante legado da era antes de Cristo, na região que é hoje o Alentejo. Uma terra onde a cultura e tradição caminham lado a lado. Os romanos deixaram nesta região o legado mais importante, escritos, mosaicos, cidades em ruínas, monumentos, tudo deixado pelos romanos, mas não devemos esquecer as civilizações mais antigas que passaram pela zona deixando legados como os monumentos megalíticos, como Antas. Após os romanos e os visigodos, os árabes, chegaram a esta terra com o cheiro a jasmim, antes da reconquista, que chegou com a construção de inúmeros castelos, alguns deles construídos sobre mesquitas muçulmanas e a construção de muralhas para proteger a cidade e as cidades que foram crescendo. Desde essa altura até hoje, o Alentejo tem continuado o seu crescimento, um crescimento baseada na agricultura, pecuária, pesca, indústria, como a cortiça e desde o último século até aos nossos dias, com o turismo com uma ampla oferta de turismo rural. Situado na zona sul de Portugal, o Alentejo é uma região essencialmente plana, com alguns acidentes de relevo, não muito elevados, mas que o influenciam de forma marcante. Embora seja caracterizada por condições climáticas mediterrânicas, apresenta nessas elevações, microclimas que proporcionam condições ideais ao plantio da vinha e que conferem qualidade às massas vínicas.


As temperaturas médias do ano variam de 15º a 17,5º, observando-se igualmente a existência de grandes amplitudes térmicas e a ocorrência de verões extremamente quentes e secos. Mas, graças aos raios do sol, a maturação das uvas, principalmente nos meses que antecedem a vindima, sofre um acúmulo perfeito dos açúcares e materiais corantes na película dos bagos, resultando em vinhos equilibrados e com boa estrutura. Os solos caracterizam-se pela sua diversidade, variando entre os graníticos de "Portalegre", os derivados de calcários cristalinos de "Borba", os mediterrânicos pardos e vermelhos de "Évora", "Granja/Amarelega", "Moura", "Redondo", "Reguengos" e "Vidigueira". Todas estas constituem as 8 sub-regiões da DOC "Alentejo".

Agora o vinho!

Na taça tem um belíssimo vermelho rubi intenso, escuro e brilhante, com lágrimas finas e em profusão que demora a se dissipar das paredes do copo, desenhando-o.

No nariz se revela muito frutado, frutas vermelhas, como amora, cereja, talvez. Não é muito aromático e, ao desarrolhar a garrafa e me servir da primeira taça, percebi o álcool em evidência, mas, com vinho, respirando, por um breve período, logo se equilibrou.

Na boca percebem-se as notas frutadas, sendo seco, muito seco, diria até com alguma adstringência, mas que nada afeta o conjunto do vinho, com um toque picante, de especiaria, típico da Syrah. Tem certa estrutura, bom corpo, com taninos presentes, mas equilibrados, uma boa acidez, alta até para um tinto, com final de média persistência e frutado. Percebi um toque de baunilha, o que denota uma passagem por barricas de carvalho. Mas em contato com o produtor, o mesmo informou que o vinho não passou por madeira, mas ao olhar o contra rótulo aparece a informação de que passou 6 meses por carvalho.

Um vinho de personalidade marcante, equilibrado, um Syrah diferente de tudo que eu havia degustado desta cepa até então. Uma curiosidade do vinho: como o Alentejo é uma região produtora de cortiça, graças a exuberante vegetação de sobreiros, a linha de rótulos “São Miguel do Sul” celebra esse recurso natural alentejano, onde a cortiça, usada para produzir as rolhas, também estampa os rótulos dos vinhos, ou seja, os rótulos são feitos de cortiça e traz um lindo efeito estético ao mesmo. Inclusive a Casa Relvas, desde 1997, dispõe de mais de 300 hectares de sobreiros. Os vinhos São Miguel do Sul são a homenagem da vinícola à região e ao compromisso da Família Relvas em preservar as florestas locais de montado. Esse vinho é muito gastronômico e harmoniza com carnes vermelhas, massas, pizzas e queijos mais encorpados. Tem 14,5% de teor alcoólico e, apesar, do alto percentual, estão muito bem integrados ao vinho, mostrando-se imperceptíveis.

Sobre a Casa Relvas:

A Casa Relvas, que até há dois anos era conhecida por Casa Agrícola Alexandre Relvas, foi fundada em 1997 por Alexandre Relvas. Hoje, e com cinco gerações ligadas ao mundo agrícola, esta herdade tem como negócio principal o vinho e produz cerca de 6 milhões de garrafas de vinho por ano. Com cerca de 150 clientes e 15 mil pontos de venda pelo mundo, a Casa Relvas é um autêntico oásis de vinhos alentejanos para todos os paladares que apreciam o "néctar dos Deuses". Situada em São Miguel de Machede, no Redondo, a adega principal recebe eventos personalizados, que vão desde a tradicional visita à adega, com provas de vinhos, a diversas atividades que acompanham o ciclo de vida do processo vinícola.

Mais informações acesse:


Fonte de pesquisa sobre a história do Alentejo:







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