Significado de
paradoxo: pensamento, proposição ou argumento que contraria os princípios
básicos e gerais que costumam orientar o pensamento humano, ou desafia a
opinião consabida, a crença ordinária e compartilhada pela maioria.
Agora vem a pergunta que não quer calar: Por que raios
coloquei o significado de paradoxo inaugurando essa resenha? Talvez para fazer
menção a alguma coisa relacionada ao vinho que degustarei esta noite
tradicional de sábado.
Mas não é somente isso! “Pensamento, proposição ou argumento
que contraria os princípios básicos e gerais que costumam orientar o pensamento
humano, ou desafia a opinião consabida!” Vou explicar trazendo para a realidade
do universo do vinho ou mais precisamente para apenas o vinho em questão: É
possível degustar um vinho que seja fácil de degustar sem ser aquele vinho
inexpressivo, tendo, pelo contrário, personalidade marcante? É possível?
Pois direi que sim, é muito possível degustar um vinho como
esse! Sempre? Não sei dizer, mas tive algumas experiências surpreendentes
adequando-se a este caso! É como fugir do padrão, é como fugir do óbvio! Vinhos
gostosos, saborosos, arrojados, descomplicados, mas que gozam de marcante
personalidade, estrutura e fogem do linear e agrada, de forma democrática, a
todos as percepções e predileções do enófilo para com o vinho.
Ah mas vinhos de personalidade não podem ser considerados
fáceis de degustar! Esses comentários demasiados arcaicos definitivamente são
um desserviço para a disseminação da cultura do vinho. A máxima agora é fugir
de padrões.
E degustando essa linha da gigante Vinícola Salton, o que já
é sinônimo de história e qualidade, me trouxe a reflexões, mais uma vez, desse
tipo, e não tão somente pelo nome que carrega em seu rótulo, mas pelo que tem
dentro daquela garrafa, a começar também pelo fato de ser oriundo da Campanha
Gaúcha que, a cada dia, vem entregando, de forma singular, vinhos excelentes e
de tipicidade revelando o que sempre foi: uma região tradicional, importante,
mas que tem trazido gratas e arrojadas novidades.
O vinho que degustei e gostei vem, como disse, da região
brasileira da Campanha Gaúcha, e se chama, claro, Salton Paradoxo da casta
Merlot (100%) da safra 2017. E não só pelo nome, pela sua definição, mas também
pelo fato de que o Brasil está produzindo, cada vez mais, Merlots fantásticos,
maravilhosos, de caráter, versáteis e que não se resume apenas à Serra Gaúcha,
mas em todos os terroirs deste país varonil.
Então já que estamos falando de regiões, não custa nada falar
um pouco mais da Campanha Gaúcha e da sua importância para o cenário
vitivinícola brasileiro.
Campanha Gaúcha
Entre o encontro de rios como Rio Ibicuí e o Rio Quaraí,
forma-se o do Rio Uruguai, divisa entre o Brasil, Argentina e Uruguai. Parte da
Campanha Gaúcha também recebe corpo hídrico subterrâneo, o Aquífero Guarani
representa a segunda maior fonte de água doce subterrânea do planeta, dele
estando 157.600 km2 no Rio grande do Sul. A Campanha Gaúcha se espalha também
pelo Uruguai e pela Argentina garante uma cumplicidade com os hermanos do outro
lado do Rio Uruguai. Os costumes se assemelham e os elementos locais emprestam
rusticidade original: o cabo de osso das facas, o couro nos tapetes, a tesoura
de tosquia que ganha novas utilidades.
No verão, entre os meses de dezembro a fevereiro, os dias
ficam com iluminação solar extensa, contendo praticamente 15 horas diárias de
insolação, o que colabora para a rápida maturação das uvas e também ajuda a
garantir uma elevada concentração de açúcar, fundamental para a produção de
vinhos finos de alta qualidade, complexos e intensos.
As condições climáticas são melhores que as da Serra Gaúcha e
tem-se avançado na produção de uvas europeias e vinhos de qualidade. Com o bom
clima local, o investimento em tecnologia e a vontade das empresas, a região
hoje já produz vinhos de grande qualidade que vêm surpreendendo a vinicultura
brasileira.
Há mais de 150 anos, antes mesmo da abolição da escravatura,
a fronteira Oeste do Rio Grande do Sul já produzia vinhos de mesa que eram
exportados para os países do Prata (Uruguai, Argentina e Paraguai) e vendidos
no Brasil.
A primeira vinícola registrada do Brasil ficava na Campanha
Gaúcha. Com paredes de barro e telhado de palha, fundada por José Marimon, a
vinícola J. Marimon & Filhos iniciou o plantio de seus vinhedos em 1882, na
Quinta do Seival, onde hoje fica o município de Candiota.
E o mais interessante é que, desde o início da elaboração de
vinhos na região, os vinhos da Campanha Gaúcha comprovam sua qualidade
recebendo medalha de ouro, conforme um artigo de fevereiro de 1923, do extinto
jornal Correio do Sul de Bagé.
E agora finalmente o vinho!
Na taça entrega um vermelho rubi intenso, brilhante e com
reflexos violáceos, com lágrimas finas e em média intensidade.
No nariz revelam aromas de frutas vermelhas maduras, tais
como groselha, amora e morango, com notas amadeiradas bem discretas, de
baunilha, de um agradável defumado e especiarias doces.
Na boca é de leve para média estrutura, bem macio, redondo e
harmonioso, com a fruta vermelha e as mesmas especiarias doces protagonizando
como no aspecto olfativo, além da madeira em pleno equilíbrio, graças aos 6
meses de passagem por carvalho e mais 6 meses nas caves, com as notas frutadas
e uma acidez vivaz entregando frescor, com taninos aveludados, domados e um
final médio.
E assim diz no rótulo do Salton Paradoxo:
“Quando o impossível se torna realidade, se converte em
paradoxo”.
A interpretação é livre, democrática. Então quando o
impossível se torna realidade, se converte em paradoxo. Ou seja, foge do padrão
que, às vezes escraviza que torna vítima da zona de conforto, nos prende ao óbvio.
E é tudo o que o Salton Paradoxo Merlot não entrega: o óbvio! Um vinho de
traços contemporâneos, moderno, que é fácil de degustar: macio, elegante, mas
estruturado, volumoso em boca, envolvente, diria até intenso. Um Merlot como
tem de ser, mas com a cara e a coragem dos vinhos dessa cepa produzido em
nossas terras, corroborando as suas conquistas. E é assim que o vinho nos
provoca, traz um reboliço em nossas percepções sensoriais e nos surpreendente
por inteiro, em uma espécie de arrebatamento. A verdadeira edificação dos nossos
sentidos. Tem 13% de teor alcoólico.
Sobre a Vinícola Salton:
Antônio Domenico
Salton veio para o Brasil em 1878 e junto com seus filhos fundou em 1910 a
vinícola que é reconhecida por ser a maior produtora brasileira de espumantes e
top 3 entre as produtoras de vinho no Brasil!
Nos anos 1980 o forte da empresa era a produção e venda de
conhaque. O vinho deixava a desejar e para mudar essa realidade foi contratado
o enólogo Lucindo Copat, um dos fundadores da Vinícola Aurora. Novos
equipamentos foram comprados e a produção foi modernizada.
Outro marco foi a criação em 1995 do projeto que resultaria
em 2002 no Salton Talento e na nova unidade no distrito de Tuiuty, que trouxe
tecnologia de ponta para a empresa. No ano de 2019 a empresa inaugurou a bela
Enoteca Salton na capital paulista. Local que mais do que pronto para a compra
de vinhos, serve como um ponto para degustar os sabores que a Salton tem.
Na extensa lista de conquistas destes mais de 100 anos de
história comemora o fato de ser familiar e 100% brasileira. Com a terceira
geração à frente da empresa, tanto na Unidade em Bento Gonçalves quanto em São
Paulo, revela em seus quadros a quarta geração Salton, que promete o mesmo
empenho e dedicação com que a empresa foi comandada até agora.
Mais informações acesse:
Referências:
“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=CAMPANHA
“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/familia-salton-completa-110-anos-de-historia_12444.html
“Enovirtua”: https://www.enovirtua.com/enoturismo/vinicola-salton/
“Vinhos da Campanha”: https://www.vinhosdacampanha.com.br/campanha-gaucha/