quarta-feira, 29 de julho de 2020

Salton Reserva Ouro brut


Dizem por aí que os espumantes brasileiros são certeiros para quem quer degustar vinhos frescos, leves, frutados e descompromissados. E é verdade! Hoje considero, sem medo de errar, que os nossos espumantes pode rivalizar, hoje, em iguais condições com o champanhe, o original francês, os cavas espanhóis, os proseccos italianos. Mas nem sempre foi assim para mim. Digo isso pois nunca tive uma ligação muito forte e intensa, no que tange, é claro, nas degustações com os espumantes brasileiros, quando comecei a degustar os vinhos finos. Como muitos no Brasil ainda, eu nutria certa rejeição com os brancos tranquilos e espumantes. Achava que eram vinhos sem expressão e vida e que não iria me satisfazer, me entregar o que eu esperava nas percepções olfativas e do paladar. Demorei um pouco a ter um contato com tais vinhos. Mas decidi arriscar e comecei a juntar estímulos para degustar espumantes. O fiz, mas não me recordo, devo confessar, qual foi o meu primeiro rótulo exatamente que me desvirginou para o mundo dos vinhos das borbulhas, mas foi com algum rótulo da Salton. Lembro-me, pois fui abordado em um supermercado por uma pessoa que me via criar ânimo e coragem para escolher um espumante e estava demorando para isso, acredito que foi por esse motivo que o bom enófilo tenha intercedido por mim, me recomendando um rótulo. Degustei e gostei muito e prometi: a partir daqui seguirei a degustar mais e mais espumantes. E falando na minha saga com os espumantes, anos depois, em minhas excursões nos supermercados avistei um espumante, que estava com um valor bem convidativo, da Salton que logo me animou para comprar.

E esse vinho, ou melhor, o vinho que degustei e gostei e que arrebatou por inteiro, foi o Salton Reserva Ouro brut, da Serra Gaúcha, com um blend das castas Chardonnay (70%), Pinot Noir (20%) e Riesling (10%), produzido pelo método Charmat (Caso queira saber um pouco mais sobre esse e outros métodos clique aqui: Diferenças entre os métodos Champenoise e Charmat), mas esse é feito pelo “método Charmat Longo”. Mas o que significa esse bendito “Charmat Longo”? O bom da degustação é que ela estimula o aprendizado, para quem quer, é claro, absorvê-lo. Aprendi e faço questão de aqui compartilhar o significado. Quando se quer um espumante mais estruturado, com um corpo mais presente, cor mais intensa, menores perfumes frutados, porém maior complexidade aromática se utiliza o método Charmat longo, inventando em 1970 pelo enólogo italiano Nereo Cavezzani, onde o processo de fermentação é mais demorado (de 6 à 12 meses) e aonde os tanques de aços inox pressurizados são munidos de um agitador em hélice para colocar em suspensão os sedimentos da fermentação (lias), favorecendo a estrutura do vinho e criando um perfil sensorial mais complexo, prerrogativa típica dos espumantes produzidos com o método clássico ou tradicional.

Então vamos ao que interessa: O vinho!

Na taça apresenta um amarelo palha e não tinha detalhes tão dourados assim, diria até um tanto quanto transparente, com perlages bem finos, não em abundância, mas persistentes.

No nariz é floral, traz algumas notas frutadas, mas não em grande evidência. Percebi notas de abacaxi, toques cítricos discretos, com aquele toque, também discreto, mas agradável de fermento, pão torrado, certa cremosidade, devido, é claro, a sua proposta do método do Charmat Longo e também pelo contato por 12 meses com as leveduras.

Na boca é seco, claro, é um brut, baixo residual de açúcar, as percepções frutadas também, como no olfato, é bem discreto, mas é muito fresco, leve, descompromissado, mas que revela certa personalidade, marcante diria, cremoso e com um final persistente.

Um vinho delicioso e que definitivamente colocou, foi responsável, os espumantes em meus caminhos na estrada das experiências de rótulos. A Salton, e seus espumantes, faz parte da minha história no que tange aos vinhos de borbulhas em todas as suas personificações e propostas. Harmoniza bem com pratos de entrada como frios, com comidas leves e mais simples ou sozinho. Tem 12,5% de teor alcoólico. 

Sobre a Vinícola Salton:

A história começa na Itália, em 1878, quando Antonio Domenico Salton partiu da cidade de Cison di Valmarino, na região do Vêneto, à procura de oportunidades melhores no Brasil. Ele se instalou na colônia italiana de Vila Isabel, hoje conhecida como a cidade de Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul. A empresa foi formalmente constituída em 1910, quando os irmãos Paulo, Angelo, João, José, Cesar, Luis e Antonio deram cunho empresarial aos negócios do pai, o imigrante Antonio Domenico Salton, que vinificava informalmente, como a maioria dos imigrantes italianos. Os irmãos passaram a se dedicar à cultura de uvas e à elaboração de vinhos, espumantes e vermutes, com a denominação "Paulo Salton & Irmãos", no centro de Bento Gonçalves. Um século depois, a Salton é reconhecida como uma das principais vinícolas brasileiras, líder na comercialização de espumantes nacionais no Brasil. Hoje, à frente da vinícola, membros da quarta geração da família preservam o legado de seu fundador, Paulo Salton, amparado nos valores construídos ao longo dos mais de cem anos de história e inspirados pela simplicidade e pelo trabalho árduo das primeiras gerações.

Mais informações acesse:



História da Vinícola Salton


Degustado em: 2017


sábado, 25 de julho de 2020

Aves del Sur Gran Reserva Cabernet Sauvignon 2012


Em mais uma saga pelos vinhos de bom custo X benefício me pus a fazer algumas incursões nos supermercados, afinal, em tempos bicudos os famosos vinhos “BBB” (bons, bonitos e baratos) são imprescindíveis à um simples e humilde enófilo trabalhador como eu, para continuar degustando os tão desejados rótulos e continuar a ter as percepções e experiências que faz de nossa vida um pouco mais agradável. Estava determinado a comprar um vinho que me surpreendesse e que fosse mais acessível ao bolso. Então eu já sabia, já esperava que a proposta do vinho fosse mais simples, vinhos básicos, de entrada, mas isso não significa que teria rótulos ruins, é claro, afinal, como costumo dizer e defender de forma veemente: são propostas e, independente da mesma, podemos sim, encontrar coisas muito boas! Comecei meu trabalho de “investigação” e garimpo e não conseguia encontrar nenhum vinho que me chamasse a atenção e, depois de algum tempo tentando, já estava desistindo, inclusive, avistei um vinho, sem identificação de valor, era um Gran Reserva, que me chamou a atenção pela beleza do rótulo e por não conhecer o produtor, por curiosidade, apenas, pois esperava que o valor fosse elevado, fui a máquina que lê o código de barras para confirmar o valor: R$ 27,99! Atônito, não acreditei e tornei a fazer a leitura do código de barras: R$ 27,99! Era tudo o que eu precisava: um ótimo valor, para um vinho cujo produtor eu não conhecia, e de uma proposta que não condizia com o valor que estava diante de mim, no display daquela máquina que lia o código de barras. Não sei o motivo pelo qual o vinho estava naquele preço, talvez pelo fato da safra que o supermercado julgou ser antiga e queria impulsionar a venda. Que seja! Comprei sem hesitar! E hoje, finalmente, decidi desarrolhá-lo.

Esse achado, esse vinho fantástico que degustei e gostei vem do Chile, de uma comuna localizada na emblemática região do Maule, Valle del Locomilla, que possui um DO (Denominação de Origem), chamado Aves del Sur, a casta é Cabernet Sauvignon (100%), da safra 2012. Essa comuna, Valle del Locomilla (San Javier de Loncomilla), que não conhecia, que fica na Região do Maule (Quem não conhece essa região?), fica na província de Linhares e tem uma área de 1.313,4 km² e uma população de 37.793 habitantes, senso de 2002.

Região do Maule e San Javier de Loncomilla

As aves do sul

A grande diversidade natural do Chile é expressa de várias maneiras, o clima, a paisagem, o solo e a grande variedade de pássaros que sobrevoam o país. A linha “Aves del Sur” foi criada como um tributo para torná-los conhecidos e se destacar. Cada variedade de vinho é representada por uma espécie diferente em três atitudes naturais, que mostram seu espírito livre, seus gestos finos e seu voo diário sobre nossa terra, da mesma maneira que cada um de nossos vinhos expressa sua identidade única em cada garrafa. A Viña del Pedregal capturou nesta coleção de vinhos frescos e nobres, as aves mais representativas do Chile. O condor, símbolo majestoso do país, voa nas alturas dos Andes. Sua casa é a cordilheira e eles são cada vez mais escassos, assim como esta requintada Carmenère. A águia e o falcão também são raros nessas latitudes, como os vinhos desta linha, feitos com vinhas velhas selecionadas, uvas colhidas à mão e depositadas em pequenos cestos para uma nova seleção, com guarda de doze meses em barris de carvalho francês. O sul do mundo oferecem vários habitats para as mais diversas aves que encontraram lar em terras chilenas. No gelo do sul, florestas, rios, falésias e no interior do Chile, milhares de pássaros crescem a cada estação. Desta forma, a natureza se expressa nesses vinhos, produzindo uma variedade notável de variedades, multiplicando sabores e cores cheios de frescura e caráter.

Vamos às impressões organolépticas do vinho!

Na taça apresenta um impressionante vermelho rubi, escuro, profundo e muito brilhante. Lágrimas finas e abundantes que desenham e que demoram a se dissipar das paredes do copo.

No nariz uma explosão aromática onde se destacam frutas vermelhas maduras, com toques de especiarias, diria pimentão, com notas amadeiradas e de baunilha, tudo em pleno equilíbrio, nada sobressaindo.

Na boca é estruturado, com alguma complexidade, com a presença das frutas vermelhas maduras evidentes nas impressões olfativas, com taninos presentes, firmes, mas sedosos, com pouca acidez, quase que imperceptível, com notas de madeira, bem integrada, e o destaque para o chocolate e um discreto tostado que lembra um pouco café, torrefação, graças aos 12 meses de passagem por barricas de carvalho.

Eu fui surpreendido pelo preço de um Gran Reserva, fui arrebatado pelas suas credenciais de qualidade. Estava, confesso receoso, pelo valor baixo, não condizente a proposta do mesmo, mas que logo foram dissipadas todas as preocupações pelo estímulo em degusta-lo, afinal, um chileno Gran Reserva da casta Cabernet Sauvignon não é para todo dia, o momento de celebração, de ode ao bom vinho estava diante dos meus olhos e abrilhantando a minha simples e humilde taça. Um vinho de personalidade, de caráter único, que reflete o terroir na sua história, no seu rótulo, no seu nome e, sobretudo no seu líquido. Um vinho cheio de tipicidade, fácil de degustar, harmonioso, elegante, entregando, claro, muito além do que vale. E isso se deve o seu tempo de estágio nas barricas de carvalho e o tempo de safra que, no auge dos seus 8 anos de vida, mostrou-se vivo e pleno, com vocação para uma boa evolução. Teor alcoólico de 13,5% muito bem integrados.

Sobre a Viña Del Pedregal:

1825 marca o início da tradição vinícola da família Del Pedregal. Naquele ano, Carlos Del Pedregal chega ao Chile das Astúrias, com suas convicções, por um lado, e com variedades europeias, por outro, para realizar seu sonho de fundar uma vinha no vale Maule. A área de Loncomilla foi escolhida por esse pioneiro espanhol que percebeu as excelentes condições do Chile, ideais para o cultivo de videiras e a elaboração de vinhos. Já há várias gerações ligadas ao comércio familiar, quase 200 anos dedicado à elaboração de vinhos nobres, adaptando-se à história e às mudanças ao longo do tempo. Todos os membros da família estão envolvidos em diferentes tarefas e, de várias maneiras, contribuem com seu conhecimento, paixão e amor pela terra, transmitidos de pais para filhos.

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terça-feira, 21 de julho de 2020

Marquês de Marialva Colheita Seleccionada tinto 2014


Sempre ouvi maravilhas sobre a região portuguesa da Bairrada. Mas me parecia distante degustar um vinho dessa região. Não sabia dizer ao certo, talvez pela pouca oferta de rótulos aqui no Brasil ou talvez pelo valor elevado dos únicos que aqui tinham disponíveis para venda. Sempre li ou ouvi enófilos e especialistas falarem da Bairrada e sua casta emblemática de lá, a Baga. Pensei: Será que vou degustar um vinho dessa região? Que dificuldade encontrar um vinho de lá! Mas em uma de minhas incursões aos supermercados sem intenção alguma encontrei um rótulo com o nome “Bairrada” estampado em grande destaque. Parecia ser um orgulho daquele produtor em vinificar naquelas bandas. Então decidi examinar melhor o vinho e foi assim que começou a minha jornada, ainda apenas no começo, as minhas experiências com essa terra fantástica com vinhos de excelente tipicidade. Foi o meu primeiro vinho da Bairrada, um tinto da Adega Cooperativa de Cantanhede, uma das mais conhecidas e importantes vinícolas daquela região.

O vinho que degustei e gostei foi o Marquês de Marialva colheita selecionada tinto com um blend das castas Baga (50%), Tinta Roriz (30%) e Touriga Nacional (20%) da safra 2014. Cortes de castas tradicionais da região e de toda Portugal e foi com esse assemblage que o vinho ganhou em potencialidade, enaltecendo em tipicidade. Que vinho! Que rótulo! Mas já que a Bairrada ganhou destaque em meu humilde texto, claro que falarei um pouco sobre a região e também a sua casta mais popular, a Baga.

Bairrada e a Baga

Há registros que desde o século X e elaborado vinhos na região. Em 1867, cientista António Augusto de Aguiar estudou os sistemas de produção de vinhos e definiu as fronteiras da região. Em 1867, vinte anos mais tarde, fundou a Escola Prática de Viticultura da Bairrada. Destinada a promover os vinhos da região e melhorar as técnicas de cultivo e produção de vinho. O primeiro resultado prático da escola foi a criação de vinho espumante em 1890. E foi com os espumantes que a região conquistou o mundo. Frutados, com um toque mineral e boa estrutura esses vinhos tornaram-se referencias e, até hoje, fazem da Bairrada uma das maiores regiões produtoras de espumantes de Portugal. Com o passar do tempo, as criações tintas ganharam espaço. Muito por conta do que os produtores têm feito com a Baga, casta autóctone da região. A Baga possui enorme importância para a região da Bairrada e ocupa 50% de toda a extensão de vinhedos da área, seguida, em grau de importância pelas uvas tintas Touriga Nacional, Castelão e Aragonez.

Bairrada

Os vinhos brancos também são muito elegantes e com bom corpo, classificados entre os melhores exemplares de Portugal. Lá se encontram as castas autóctones Arinto, Rabo de Ovelha, Maria Gomes e Bical. Alguns produtores modernos têm utilizado outras castas portuguesas e internacionais com resultados excepcionais. A Bairrada é, sem dúvidas, uma das maiores fontes de grandes vinhos de Portugal, como os celebrados do produtor Manuel Campolargo e Luiz Pato, bem como os históricos vinhos brancos e tintos do Palácio do Buçaco. O clima da região é temperado e estável, tanto no inverno quanto no verão, contribuindo para a qualidade das vinhas cultivadas. Já os solos podem variar de um extremo a outro da região, sendo que os de maior representatividade na Bairrada são os que demonstram características arenosas, ainda que o tipo argiloso seja predominante na região portuguesa. O nome “Bairrada” deriva de “barrentos”, uma associação à quantidade de barro encontrada no solo onde as vinhas são cultivadas.

Agora vamos ao vinho!

Na taça tem um vermelho rubi escuro, intenso, límpido e brilhante, mas com bonitos entornos violáceos. Tem lágrimas em média intensidade que demora um pouco a se dissipar das paredes do copo, fazendo um bonito desenho.

No nariz tem uma predominância de frutas vermelhas maduras, com agradáveis notas de especiarias, de pimentão, com ligeiros toques de madeira graças aos 6 meses de passagem por barricas de carvalho.

Na boca é igualmente frutado, bem estruturado, de personalidade marcante, mas macio e fácil de degustar. Diria que a Touriga Nacional “abrandou” a Baga graças ao equilíbrio percentual das duas castas no blend tendo a Tinta Roriz trazendo o toque de frutas vermelhas. Apresenta taninos presentes, mas sedosos e acidez correta. Tem um discreto toque de baunilha com um fundo amadeirado. Tem persistente final, com um retrogosto frutado.

Um vinhaço! Uma proposta direta, diria até simples, mas que, como um Denominação de Origem Controlada (DOC) como todo vinho da região da Bairrada, mostrou personalidade, intensidade aromática e no paladar. Um bom começo em minha “viagem” na Bairrada e que já resultou em outras gratas experiências que espero em breve registrar por aqui. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Adega Cooperativa de Cantanhede:

A constituição da Adega Cooperativa de Cantanhede acontece no ano de 1954, fruto da vontade de um grupo de viticultores empenhado em criar condições para valorizar e rentabilizar o elevado potencial que já então reconheciam aos vinhos produzidos no terroir de Cantanhede. Neste concelho, onde a viticultura remonta ao tempo dos romanos, encontramos a principal mancha vitícola da Região Demarcada da Bairrada. Atualmente com cerca de 1400 viticultores associados, representando uma área total de vinha de 2000 Ha, esta adega é o maior produtor da região, representado 25 a 30% da produção. A sua dimensão e consequente responsabilidade que assume no contexto da região demarcada onde se insere, desde cedo exigiu que o caminho a seguir fosse o de valorizar as castas características da região, apostando na produção de vinhos com maior qualidade. Inicialmente comercializados exclusivamente a granel, após apenas 9 anos depois da sua fundação e contra todas as correntes do sector cooperativo de então, esta adega inicia, pioneiramente, a venda dos seus vinhos engarrafados procurando uma alternativa para a diferenciação dos vinhos de Cantanhede. A estratégia adoptada não demorou a dar frutos. Hoje esta adega certifica mais de metade da sua produção com a Denominação de Origem Bairrada, assumindo uma destacada liderança neste segmento e, mais recentemente também nos Vinhos Regional Beiras. Hoje a sua política produtiva assenta num pressuposto basilar que passa por uma forte aposta nas castas portuguesas, particularmente da Bairrada, sua defesa, promoção e divulgação.

Mais informações acesse:
Quem quiser conhecer um pouco mais da cultura vitivinícola da Bairrada segue link do site “Rota da Bairrada”:


Fontes para a história da Bairrada e da casta Baga:



Degustado em: 2019






domingo, 19 de julho de 2020

Festival de Vinhos Supermercado Real 2017


No dia 10 de julho de 2017 participei de um festival de vinhos patrocinado por uma rede de supermercados importantes da minha cidade, Niterói. A princípio, quando anunciaram as informações sobre o evento, achei o valor do ingresso um pouco caro, sobretudo para aqueles iniciantes no mundo do vinho que desejam participar de festivais como esse para ampliar seus horizontes, conhecendo novos rótulos, fazer um escambo de informações e conhecimento, reforçando sua predileção pelo néctar. Sempre critiquei os altos valores de tais eventos realizados no Brasil. A demanda tem aumentado pelo que pude observar nos eventos que tenho ido, logo a oferta também está aumentando, mas o valor está um verdadeiro absurdo! Se está tendo um fenômeno de crescimento e interesse de enófilos para estes eventos, qual a dificuldade de reduzir os valores dos ingressos estimulando ainda mais a procura? É uma forma de democratizar a cultura para o vinho! Enfim...Mas este evento trouxe uma novidade: Dos R$ 150,00 do valor do ingresso, R$ 100,00 foram revertidos para compra de rótulos nos supermercados do grupo! Bem, já foi uma boa ajuda!

As Importadoras confirmadas foram:

Importadora Real Comercial Woldwine

Vinhos Italianos: Primitivo di Manduria Zenith / Farnese Fantini /
Vinhos Chilenos: Petirrojo tinto e branco
Vinho Uruguaio Garzon tannat e outros

Importadora Casa Flora

Vinho Argentino Nieto Emilia tinto e Rosé
Vinho Chileno Santa Carolina tinto e branco
Espumantes, Vodka, Cerveja Paulaner e outros

Importadora Real Comercial La Pastina

Vinhos Chileno Orgânico Emiliana Adobe tinto e branco / Cono sur Bicicleta tinto e branco
Vinho Francês JP Chenet e outros

Importadora Adega Alentejana

Vinhos Portugueses Paulo Laureano Premium Vinhas Velhas / Cartuxa Reserva / Chaminé e outros

Importadora Qualimpor

Vinhos Portugueses Esporão Reserva tinto / Assobio Douro tinto / Monte velho e outros

Importadora VCT Brasil Conha y Toro

Vinhos Chilenos Marquês de Casa Concha / Trio Concha y toro / Casillero del Diablo
Vinho Argentino Trivento e outros

Importadora Cantu

Vinhos Chilenos Ventisquero Reserva e Clásico
Vinho Português Quinta de Bons Ventos e outros

Vinhos exclusivos:

Vinhos Portugueses Herdade do Grous Casa Real / Regional Transmontano Encostas do Trogão tinto, branco e Reserva

Então vamos aos principais rótulos degustados no evento:

Quando se fala na vinícola Emiliana do Chile a primeira coisa que vem à mente é o processo de fabricação de seus vinhos orgânicos e claro não faltou no festival de degustação e também o meu ímpeto e interesse por degustar um de seus principais rótulos.

A começar pela linha reserva “Adobe”

De entrada eu degustei o rosé, da casta Syrah: um vinho fresco, jovem, mas de bom volume de boca, frutado, aromático e de personalidade marcante. Não costumo degustar com frequência os rosés chilenos e quando o fiz com o “Adobe” foi uma experiência fantástica. Logo após o rosé degustei o Carmenere, casta carro chefe de todas as vinícolas chilenas e claro, não ficou atrás em termos de qualidade, de drincabilidade. Um vinhaço! Aquele toque de couro, tabaco, de frutas negras e vermelhas no paladar e no aroma. Um toque na medida de um amadeirado, bem integrado, um vinho estruturado e macio, ao mesmo tempo. Fechei com o Cabernet Sauvignon: encorpado, robusto, frutado, macio, harmonioso. Definitivamente a linha “Adobe” me fisgou de vez.

 


Mas a surpresa estaria guardada para logo depois da curta, mas significativa série de degustação da linha “Adobe”. Tive o prazer de degustar o “Novas”, a linha orgânica gran reserva da Vinícola Emiliana. Um corte das castas mais populares do Chile, Cabernet Sauvignon e Carmenere, é um vinho encorpado, com um aroma de frutas vermelhas, com toques generosos de especiarias e a madeira bem integrada, com aquele tostado. Na boca segue as mesmas percepções olfativas com taninos elegantes e presentes e boa acidez. Um belíssimo vinho! Esse, com os meus R$ 100,00 de crédito, tive a oportunidade e a alegria de comprar e que, três anos depois do evento, ainda está na minha adega evoluindo, me esperando para degustá-lo no melhor momento para nós dois!



Continuando com o Chile “viajei” para a vinícola Cono Sur, onde degustei os famosos vinhos da “bicicleta”, com uma proposta mais simples, com vinhos de entrada, mas não menos importante para o meu humilde paladar. Que belos vinhos! Apesar da popularidade do rótulo em terras brasileiras, não os conhecia, não os tinha degustado até então.

Comecei com o Pinot Noir: muito legal! Soube, com primazia, representar a essência da casta como poucos chilenos que tive a oportunidade de degustar. Um vinho que privilegia a fruta vermelha, a delicadeza e a maciez, a elegância típica da boa Pinot Noir. Depois degustei uma casta não muito comum nas taças dos brasileiros: a Gewurztraminer. Vinho muito bem feito! Um vinho fresco, jovem, frutado, um toque meio apimentado, de bom volume de boca. Dois grandes rótulos da vinícola com excelente custo x benefício.


Agora indo para a Argentina pousei em uma das vinícolas mais tradicionais dos hermanos: Bodegas Norton!

Não tinha sido o meu primeiro contato com os rótulos da vinícola, mas o “Cosecha Tardia” branco e rosé foi a minha primeira vez. Sempre tive uma reticência com relação aos vinhos da colheita tardia, por serem doces demasiadamente. Não sou apreciador desses tipos de vinho. Mas o demonstrador me abordou e disse: “Já experimentou o colheita tardia branco e rosé da Norton?” Disse que não gostava desses vinhos por serem muito doces, mas logo ele disse: “Esses não são tão doces assim, acredite, você irá gostar!” Bem, não tinha nada a perder, experimentei. Não é que ele tinha razão! Um vinho com um baixo residual de açúcar, tanto o branco quanto o rosé. Esses eu compraria. Depois degustei o emblemático Malbec tinto da Norton, da região de Luján de Cuyo. Esse eu já conhecia, mas não poderia deixar de degusta-lo novamente, é sempre um prazer! Macio, frutado, como todo bom Malbec, encorpado, taninos presentes e sedosos. Clássico!




Agora o Velho Mundo, a Velha Bota, a Itália!

Um rótulo bem conhecido aqui no Brasil, muito bem aceito por aqui: A linha Santa Cristina. Já degustei no passado o tinto e o branco, da casta Pinot Grigio, que me surpreendeu positivamente e que foi responsável pela minha predileção pela casta branca, típica e altamente cultivada na Itália.
Mas o que eu degustei no evento foi o Chianti Superiore, que não havia bebido antes. Que grata experiência! Um vinho encorpado, redondo, com taninos gordos, presentes, mas sedosos, boa acidez, a fruta presente, a madeira bem integrada. Um belo vinho que eu nunca tinha visto nas gôndolas dos supermercados da minha cidade, Niterói, apesar da popularidade desta linha de vinhos por aqui em terras “brasilianas”.


O Brasil não poderia ficar de fora e a escolhida para a minha degustação é a mais importante e premiada vinícola deste país: A Cooperativa Aurora! Infelizmente não tinha os rótulos tintos da vinícola, apenas contou com os brancos, espumantes e moscatéis, mais populares entre os enófilos.

Comecei a degustar o Moscatel rosé, nunca havia degustado um Moscatel rosado. Resolvi experimentar e vou confessar aqui, apesar de não gostar mais dos moscatéis: Esse me surpreendeu positivamente! Baixo residual de açúcar, frutado, fresco, leve e bem descontraído. Degustaria ele novamente. Degustei o Moscatel branco que já o fiz em outras ocasiões na minha vida de enófilo. O Rosé é muito melhor! E para fazer também um paralelo com o “Cosecha Tardia Norton” degustei o “Colheita Tardia” da Aurora e dessa vez os argentinos saíram na frente, em minha opinião.




Ainda na Argentina, tive o meu momento mágico em degustar um vinho que parecia, ou melhor, ainda está tão distante em minhas pretensões de compra. Um vinho de alto custo, mas que entrega cada centavo de seu valor: Um Rutini com o corte de Cabernet Sauvignon e Malbec da safra 2015. Um vinho encorpado, poderoso, que enche a boca, frutas vermelhas e pretas, taninos presentes, mas sedosos e boa acidez. Aquele vinho que se quiseres pode guardar por muitos anos.


Voltei ao Velho Mundo dando uma passadinha por Portugal. Ah a terrinha não pode ficar de fora em nenhum evento de degustação de vinhos que se preze.

Comecei com uma região, que até aquele momento, nunca havia degustado um rótulo sequer: Trás-os-Montes! E quando me aproximei do stand dos rótulos dessa região, fiquei um tanto quanto curioso e, claro, não pude deixar de degustar. Então comecei com o branco “Encostas do Trogão” da Cooperativa Rabaçal. Um produtor pouco conhecido no Brasil e me parece que apenas o Supermercado Real vende, distribui esses rótulos em Niterói. Um vinho de ótima acidez, gostoso, frutas brancas e cítricas e com um aroma floral que me encantou. Infelizmente não tinha esse vinho na filial do supermercado próximo a minha região e até hoje não o encontrei! Que falta de sorte! Logo depois degustei o tinto reserva de uma safra relativamente antiga, de 2011: fiquei receoso, na época com seis anos de vida! Mas degustei: Que vinho! Pleno, vivo, encorpado, frutado, com taninos presentes e um retrogosto persistente! Não o comprei no mesmo ano do evento. Fui comprá-lo um ano depois.


Continuei em Portugal e degustei uma das mais emblemáticas vinícolas daquele país: A Herdade do Esporão! Vinhos de excelência e sempre com rótulos que contemplam todas as propostas, adequadas para vários momentos, dos mais descontraídos aos mais célebres.

Degustei, primeiramente, um velho conhecido: o Monte Velho tinto. Esse nunca sai de moda, vinho de médio corpo, com aromas de frutas vermelhas e negras, com taninos delicados e boa acidez. Depois fui para o Esporão Reserva: um vinho robusto, da velha e essencial Alentejo, amadeirado, toque de chocolate e tostado, encorpado, taninos gordos e robustos, acidez correta. Que vinho espetacular! E fechei com outro velho conhecido: Assobio. O Douro muito bem representado. Um vinho fresco, jovem, mas de grande personalidade.



E fechei a minha estadia em Portugal com um rótulo tradicional e emblemático também do Douro, da famosa e conceituada Casa Ferreirinha: o Papa Figos da safra 2015. Um senhor vinho encorpado, mas harmonioso, de personalidade marcante, toques de madeira bem integrada, tabaco, frutas vermelhas.


Dei uma “passadinha” pela bela e emblemática Bordeaux, da França. Muitos dizem que para degustar bons vinhos dessa região tem de custar mais de “três dígitos”, em suma, tem de custar caro! Mas eu acho que essa antiga cultura está caindo por terra. Temos visto bons bordaleses a ótimos preços e vinhos com ótima drincabilidade.

E a prova foram esses dois belos vinhos que degustei: a começar com o “Marquis de Sade”, da safra 2012. Um vinho de uma proposta simples, mas que já tinha, á época, cinco anos de safra! Fiquei curioso para degusta-lo, será que ele estaria avinagrado? Nunca! Que vinho sensacional, incrível! Ele estava pleno, vivo, um vinho cheio de altivez e personalidade no alto dos seus cinco anos de vida! Frutado, aromas de frutas vermelhas, especiarias, toques de pimenta. Na boca é frutado, taninos elegantes e delicados e um final agradável com retrogosto persistente e frutado. Finalizei Bordeaux com o Chateau Haut-Giron, também da safra 2012. Um vinho interessante, frutado e saboroso, mas não tão bom quanto o primeiro.


E para finalizar a França outro vinho que me surpreendeu por inteiro e, quando a demonstradora me falou do seu valor, fiquei boquiaberto por completo: R$ 40,00! Bouchard Ainé. Um vinho leve, despretensioso, pouco austero, fácil de degustar. Frutadinho, fresco, correto, honesto, com taninos leves, quase que imperceptíveis e acidez correta.


E fechei com a Espanha. Infelizmente não tinha muitos rótulos da Espanha para degustar, diria que esse foi o ponto negativo do evento. Mas consegui degustar uma casta, popular neste país, que nunca havia tido uma experiência: a Monastrell, da região de Jumilla. O Castillo San Simón Monastrell é um vinho de proposta mais simples, de entrada. 

Mas entregou muito bem a sua proposta, com um vinho de leve a médio corpo, frutado, de taninos finos e sedosos e boa acidez. Não é aquele Monastrell encorpado, típica da casta, mas valeu e muito a minha primeira degustação da referida casta.


Além das degustações e do clima agradável da estrutura do local, um restaurante chamado Villa Toscana, em Niterói, tivemos ótimas degustações de queijos, entre outros quitutes deliciosos que harmonizou maravilhosamente com os rótulos e com a bela noite de degustação, troca de informações, de conhecimento e a certeza de que novos festivais de vinhos virão para que possamos ser “submetidos” a novas experiências de degustações especiais.











quarta-feira, 15 de julho de 2020

Bobal de SanJuan 2016


Hoje é um dia especial para no meu caminho na degustação de vinhos. Não que o meu caminho de um simples e humilde enófilo não tenha sido especial. Todos os momentos em que enchi a taça, a empunhava e levava à boca foi e é especial. O ritual da degustação é fabuloso! Mas esse dia será especial porque serei submetido a algumas novas experiências. Ah quanto maior o percurso no mundo do vinho, menores são as experiências, afinal o universo é vasto, infinito e inexplorado. E hoje o meu caminho segue um novo curso! Novas castas e regiões viníferas se descortinarão diante de mim, meus sentidos serão impactados com a tal nova experiência. Afinal penso que deve ser assim, o mundo do vinho, quando nele imergimos, exige isso: navegar em novas percepções.

E hoje o vinho que degustei e gostei vem da Espanha, da “nova” casta para o meu paladar, Bobal, de uma nova região para mim também, Utiel-Requena, e se chama Bobal de SanJuan, da safra 2016. A Bobal, apesar de não ser tão popular aqui no Brasil, como a Tempranillo, por exemplo, é a segunda mais produzida e plantada na Espanha, e neste vinho a mesma é proveniente de vinhas velhas, com 60 a 80 anos de idade! E a região, Utiel-Requena, acolhe a casta, sendo esta a mais plantada naquela região. Então nada mais pertinente do que falar sobre a história da casta e da região, antes de mencionar as propriedades organolépticas dessa surpreendente e maravilhoso vinho.

Bobal

As primeiras notícias da Bobal datam do século XIV. Da costa de Valência, esta uva estabeleceu-se com sucesso em outras regiões do interior da Espanha. Lugares como Utiel-Requena, Ribera e Manchuela, todas Denominação de Origem Controlada, tem a Bobal como uma das suas principais variedades, chegando seu cultivo ser quase que majoritário. A Bobal é pouco cultivada fora da Espanha, há plantações dela nas regiões de Languedoc-Roussillon, no sul da França, e da Sardenha, na Itália. Dentro dessas regiões é também conhecida por requena, espagnol, benicarlo, provechón, valenciana, carignan d’espagne, balau, requenera, requeno, valenciana tinta ou bobos. Seu nome é derivado da palavra latina Bovale, que significa touro, e refere-se à semelhança que os seus cachos têm com a cabeça de um touro. 

Bobal

É uma uva de porte médio para grande, com bagos redondos e cheios de sumo; além disso, apresentam quantidade razoável de taninos e sabores de chocolate e frutos secos. Seus cachos, por sua vez, são muito grandes, bem compactados e pesados. Dá-se muito bem com climas mediterrâneos. Elabora diferentes tipos de vinhos, com especial destaque para os vinhos rosés, sempre jovens, com muita cor e com boa acidez; a Bobal ainda é responsável pelos aromas frutados destas bebidas. Os tintos desta uva são pouco alcoólicos, mas muito saborosos, vinhos de coloração cereja escura profunda e boa estrutura de taninos. Por sua versatilidade e acidez adequada, a Bobal pode ainda ser ainda utilizada para produzir espumantes. As peles grossas de Bobal têm uma elevada quantidade de uma substância que dá cor intensa aos vinhos, bem como presenteia a bebida com uma presença importante de taninos finos, esse é um dos motivos que tem dado a esta uva um destaque especial na produção espanhola, principalmente na região de Manchuela, cujo status de Denominação de Origem deu respaldo ao cultivo da Bobal e aos os vinhos elaborados com ela frente ao mercado interno e externo.

Utiel-Requena

Espanha possui a maior área cultivada de Vitis Vinifera do mundo, embora em volume de produção ocupe somente a terceira posição. Trata-se de um amplo território o qual nos presenteia, ano após ano, com vinhos exuberantes e geralmente de bastante personalidade: o emblemático Jerez fortificado da Andaluzia, tintos de Rioja, Priorat e Ribera Del Duero, brancos de Rueda, entre outros. É natural que, entre as 13 macrorregiões a qual está dividida, existam sub-regiões as quais permaneçam relativamente ocultas do grande público, mesmo daquele consumidor habitual de vinhos. Algumas preferem manter o “anonimato”, dedicando sua produção ao consumo regional; outras, porém, dedicam esforços incansáveis no sentido de promover seu terroir, suas cepas endêmicas, a tipicidade de seus vinhos e as melhorias em seu processo produtivo. Este é o caso de Utiel-Requena. Recentemente, foram descobertos registros arqueológicos que comprovam que, desde o século V a.C., era praticada a vitivinicultura na região de Utiel-Requena. Sítios arqueológicos como El Molón, em Camporrobles, Las Pilillas, em Requena e Kelin, em Caudete atestam o passado vinícola da região. Quando do domínio romano sobre a região, estes introduziram novas técnicas de vinificação, propiciando a melhora dos vinhos ali produzidos. Utiel-Requena têm sua história também ligada ao período conhecido como Reconquista: a retomada, a partir do século VIII, do controle europeu dos territórios da Península Ibérica, dominados pelos árabes (mouros) desde o século VI. Muitas das cidades da região foram fundadas e/ou possuem grande influência islâmica em suas construções, bem como vestígios de fortalezas e construções mouras, como a cidade de Chera, por exemplo. Em 1238, a região cai sob o domínio do reino de Castela. No século seguinte, após conflitos envolvendo este reino e seu vizinho, Aragão, ocorre a união entre a rainha Isabel (Castela) e Fernando (Aragão), conhecidos como os Reis Católicos, e, após a conquista dos demais reinos ibéricos por estes (exceto Portugal), constitui-se o Reino da Espanha. Utiel-Requena, consequentemente, torna-se domínio espanhol. Durante o século XIX, eclodem na Espanha as Guerras Carlistas, que dividem a população espanhola entre os partidários do absolutismo e do liberalismo; reflexo de outras manifestações do mesmo cunho ocorridas Europa afora. Utiel (absolutista) e Requena (liberal), assim como as demais cidades da região, assumem posições antagônicas, situação somente resolvida com a conclusão da Primeira Guerra Carlista.

Utiel-Requena

Utiel-Requena localiza-se na porção leste do território espanhol, dentro da província de Valencia. Situa-se numa zona de transição entre a costa mediterrânea e os platôs da região da Mancha. Seus vinhedos localizam-se predominantemente entre os rios Turia e Cabriel. A região possui um dos climas mais severos de toda a Espanha. Os verões costumam ser longos e quentes (máximas por vezes de 40 graus), enquanto os invernos são muito frios, com ocorrência freqüente de geadas e granizo (mínimas podem chegar a -10 graus). No entanto, as vinhas encontram-se adaptadas a tais rigores e oscilações e, como atenuante, sopra do Mar Mediterrâneo o Solano, vento frio que ajuda a suavizar o efeito dos quentes verões da região. O solo possui cor escura, de natureza calcária e pobre em matéria orgânica. Utiel-Requena é uma DOP (Denominación de Origen Protegida – Denominação de Origem Protegida) pertencente a Comunidade Valenciana, a qual possui certa autonomia em relação ao governo central espanhol. Não possui sub-regiões.

Agora o vinho!

Na taça apresenta um vermelho rubi escuro com entornos violáceos de um reluzente brilho, com um bom número de lágrimas finas e que leva algum tempo para dissipar das paredes do copo, desenhando-o.

No nariz traz um delicado aroma floral e de frutas vermelhas e negras como morango e cereja.

Na boca é frutado, com um ótimo frescor, mas que revela uma personalidade marcante, com uma boa acidez, taninos sedosos e um final de relativa persistência, um retrogosto frutado.

As novas descobertas me fez rememorar os meus tempos de outrora como um simples enófilo em potencial que logo descobrira o mundo maravilhoso desta bebida e que se viu envolvido e deslumbrado. Essa última palavra define muito bem o sentimento por este rótulo: deslumbrado. Um vinho saboroso, harmonioso, equilibrado, de personalidade marcante e peculiar, mas fácil de degustar e de um belo refinamento. 7% do vinho passou 8 meses por barricas de carvalho, sendo que os 93% restantes estagiou, pelo mesmo período, em tanques de cimento. Essa proposta da passagem por tanques de cimento, contemplada pelo projeto Bobal de SanJuan da vinícola, privilegia as características da cepa, a sua essência, sendo certamente um dos motivos do equilíbrio e harmonia do vinho, com muita drincabilidade, personalidade e simplicidade, a nobreza da simplicidade. E esse equilíbrio e harmonia se deve também as vinhas velhas (60 a 80 anos de idade!) que entregam vinhos mais redondos, sem sombra de dúvida. Um vinho que harmoniza bem com pratos mais simples a elaborados, bem como uma solitária degustação. Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Valsangiacomo:

As origens de Cherubino Valsangiacomo remontam a 1831, na Suíça. Nesse ano, Vittore Valsangiacomo fundou uma vinícola com seu nome em Chiasso, no cantão suíço de Ticino, próximo à fronteira com a Itália. É a primeira vinícola da família. No final do século XIX, seu filho Cherubino Valsangiacomo decidiu abrir uma empresa de exportação de vinhos em Valência e Alicante, atraído pelas condições logísticas de seus portos e pelos excelentes frutos da terra. Cherubino, como seu pai, coloca seu nome nas vinícolas. Em 1890, o negócio se tornou tão importante que Cherubino Valsagiacomo possui várias instalações em Chiva, Requena, Utiel, Monóvar, Yecla e Grao de Valencia, a última sede da empresa até 1997. Nesse ano, Cherubino assumiu um importante compromisso com o futuro. e qualidade e é transferido para Chiva, cujas instalações são providas dos meios apropriados para o tratamento e armazenamento de vinhos a granel e equipadas com uma planta concentrada de produção de suco de uva, aumentando e melhorando a capacidade das instalações. Em 2002, as vinícolas foram ampliadas e modernizadas, criando uma nova planta e uma linha de engarrafamento, que incorporaram as melhores condições e as mais modernas técnicas de controle de qualidade na produção de nossos vinhos. Em 2008, iniciou-se o projeto bobal da SanJuan, com o objetivo de produzir vinhos 100% tintos e rosés a partir de videiras bobal velhas, fermentadas e amadurecidas em tanques de cimento bruto. As antigas instalações da Coop de San Juan adaptam-se à nova maneira de produzir e envelhecer uvas bobal, preservando sempre o valor do cimento bruto. O projeto é concluído com a aquisição de um lote de bobal centenário em um navio de 10 hectares localizado a 750m do nível do mar no município de Requena.

Projeto Bobal de SanJuan

A produção de vinhos de San Juan é baseada no trabalho com a matéria-prima, a uva . O trabalho com os viticultores concentra-se na seleção de vinhedos, estabelecendo as diretrizes que favorecem as características que são posteriormente transmitidas no vinho. As práticas agrícolas tradicionalmente focadas na obtenção de quantidade são modificadas por aquelas que, respeitando a identidade da variedade, favorecem a qualidade, como o equilíbrio do vigor das plantas, a interpretação das características edáficas, genéticas e climatológicas de cada vinhedo como entidade individual. A maturação adequada, marca a entrada do vinho da uva, evitando maturações desnecessárias que prejudicariam o perfil fresco dos vinhos que buscamos. O trabalho na adega, todo em tanques de concreto bruto, baseia-se na preservação das características aromáticas da uva, e na maceração respeitosa durante a fermentação, principalmente com base no delastage e no bombeamento suave, dependendo da uva em cada depósito. Uma pequena quantidade é transferida para litros franceses de 500 litros e o restante do vinho passa por fermentação malolática e subsequente envelhecimento em um tanque de cimento até o engarrafamento, onde aproximadamente uma pequena porcentagem de Bobal com 6 meses de idade é misturada com o vinho e criado em cimento. Atualmente, a quinta geração da família Valsangiacomo é responsável pelo gerenciamento direto da vinícola, mostrando um compromisso com seu futuro e desenvolvimento.

Mais informações acesse:


Fonte para a história da casta Bobal e da Região de Utiel-Requena: