O melhor espumante do mundo é do Brasil! Ufanismos à parte,
essa afirmação tão veemente tem muita força. Não quero entrar no âmago da
discussão, mas o Brasil, atualmente, está entre os melhores produtos dos
borbulhantes no planeta. Rivaliza em condições de igualdade com os cavas
espanhóis, os champanhes franceses, os proseccos italianos entre outros.
Infelizmente há entraves entre os nossos espumantes: o preço! O custo Brasil é
deveras alto, as cargas tributárias que incidem sobre os nossos rótulos são
absurdos e os nossos grandes vinhos ainda não foram devidamente apresentados
aos brasileiros como deveria ser. O consumo é baixo, apesar de tímidos
crescimentos. Mas não quero entrar no mérito dessa questão, embora urgente e
necessária, ainda. Quando comecei o texto com afirmando que o espumante
brasileiro é o melhor do mundo, eu quis dizer que, apesar de ser uma afirmação
mais do que pertinente, há sim grandes espumantes espalhados pelo mundo que são
dignos de nossa audiência, inclusive mencionei algumas emblemáticas regiões
produtores de grandes vinhos borbulhantes.
Estava eu em minhas incursões pelos supermercados e
garimpando pelas gôndolas, cada canto, com um olhar atento e perspicaz, meus
olhos pararam em uma garrafa linda, em um formato de flauta, com um discreto
rótulo que me chamou a atenção. Aproximei-me, a tomei em minhas mãos e
analisando com mais interesse e perícia, observei se tratar de um italiano, um
espumante da Velha Bota. Confesso que nunca havia degustado um vinho espumante
da Itália e, nos atuais dias de intenso calor, é muito propícia a compra de um
espumante leve, fresco e frutado. Bem, alguns quesitos fizeram com que essa
compra fosse tomasse corpo. Quando verifiquei o contra rótulo, as castas também
chamaram a atenção. Ah já estava me enamorando pelo vinho. Será que, na
degustação, caso a aquisição fosse decretada, seria um amor a primeira vista?
Para fechar com chave de ouro o preço estava atraente: R$ 29,90! Como não
conhecia o espumante, apesar de conhecer o produtor, decidi fazer uma pesquisa
de preço na grande rede: a média, alta, estava entre R$ 60,00 e R$ 80,00!
Inacreditável então encontrar o vinho por R$ 30,00! Verdades e mentiras acerca
do espumante italiano resolvi arriscar e o tomei em meus braços e o comprei.
O vinho que degustei e gostei veio da tradicional região do
Vêneto e é o Contessa Carola Extra Dry Millesimato, composto pelo blend das
castas Garganega e Trebbiano da safra 2017. Apesar de ser uma safra um tanto
quanto “antiga” para um espumante, tudo nele, tudo que o define me chamou a
atenção: o termo “Extra Dry” e a casta Garganega. Tudo novidade para mim. A
Trebbiano eu já conhecia em degustações de vinhos tranquilos, mas a Garganega
eu nunca tinha ouvido falar. Então, antes de falar no espumante, definiremos os
conceitos de “Extra Dry” e vamos conhecer um pouco sobre a casta Garganega.
“Extra Dry”
O termo extra-dry pode ser encontrado no rótulo de alguns
espumantes. Diferente do que se acredita, não se trata de uma classificação
extra seca. Esse termo está interligado à classificação de nível de doçura dos
espumantes, que é definida durante a vinificação. Geralmente, os espumantes
começam a ser vinificados secos. O grau de doçura é determinado na adição do
licor de expedição, uma quantidade de vinho e açúcar (ou similar). Cada país ou
continente possui a própria legislação quanto a nomenclatura de vinhos.
Portanto, é comum que vinhos importados sejam reetiquetados. Termos oficiais em
alguns países podem não ter a mesma validade no Brasil, como é o caso do
extra-dry. O nome continua no rótulo, porém, leva uma nova etiqueta na parte de
trás. O rótulo precisa estar de acordo com a legislação brasileira quando passa
pelo MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento). Quando as
mudanças são necessárias, elas são feitas com base nos laboratórios nacionais e
na legislação. Dessa forma, um espumante prosecco, por exemplo, se vier de
Itália como extra-dry, entra em nosso país como Brut ou Seco. Seguem as
diferenças entre as classificações de açúcar nos espumantes nas legislações do
Brasil e da União Europeia:
Legislação Brasileira
Nature: Até 3 g de açúcar por litro;
Extra-brut: De 3 a 8 g de açúcar por litro;
Brut: De 8 a 15 g de açúcar por litro;
Seco: De 15 a 20 g de açúcar por litro;
Demi-sec: De 20 a 60 g de açúcar e por litro;
Doce: Acima de 60 g de açúcar por litro.
Legislação Europeia
(dados da OIV)
Brut: Até 12 g/l de açúcar com tolerância de + 3 g/l;
Extra-dry: Acima de 12 g/l de açúcar até 17 g/l com
tolerância de + 3 g/l;
Dry: Acima de 17 g/l de açúcar até 32 g/l com tolerância de 3
g/l;
Demi-sec: Acima de 32 g/l de açúcar até 50 g/l;
Doce: Acima de 50 g/l de açúcar.
Garganega
A uva Garganega é nativa das províncias de Vicenza e Verona,
no nordeste da Itália. Utilizada para a produção de vinhos delicados e frescos
de Denominação de Origem Soave, presentes na região de Vêneto, esta variedade
está entre as uvas brancas mais cultivadas na Itália. A Garganega é recorrente
tanto em vinhos varietais como vinhos de corte, onde aparece com maior frequência
junto às uvas Trebbiano e Chardonnay. Os vinhos produzidos com a uva Garganega
em versões mais complexas denotam aromas de ervas e minerais, já os exemplares
originados em versão tradicional, apresentam grande riqueza de compostos
aromáticos, entre eles, perfumes florais, amêndoas e frutas, como damasco e
maçã. A uva Garganega é considerada uma fruta de rendimentos vigorosos e
produtivos, que apresenta bagos médios e em formato esférico com polpa
extremamente suculenta, de coloração dourada e pele espessa. Os cachos desta
variedade de uva são longos e têm formato cilíndrico, sendo raro encontrar
cachos compactos da Garganega nos vinhedos. A elevada frouxidão dos cachos da
uva Garganega auxiliam no amadurecimento e secura da fruta, bem como em sua
colheita tardia, uma vez que o espaço entre os bagos propicia maior ventilação
entre um cacho e outro, reduzindo o risco de doenças fúngicas se desenvolverem
na planta e permitindo assim seu cultivo prolongado.
O termo “Soave” não se trata de um vinho suave (adocicado),
apesar do nome sugerir isso, mas branco e seco, com discretas notas frutadas,
produzido a partir da uva Garganega. A qualidade varia muito, dependendo da
zona e do produtor. São três os vinhos classificados: Soave Classico, Soave
Classico Superiore (os de melhor qualidade) e o Soave Recioto.
E agora o vinho!
Na taça tem um amarelo palha brilhante, reluzente, com
reflexos violáceos com perlages finas e abundantes.
No nariz as notas frutadas se revelam em profusão. Aromas
ricos em frutas cítricas e brancas, frutas tropicais, como abacaxi, maça verde,
limão são os destaques. O destaque também fica para o agradável aroma de pão,
de fermento, bem delicado e discreto.
Na boca é seco, caracterizado por um sabor frutado, como nas
impressões olfativas, equilibrado, macio e fresco, garantido por uma ótima
acidez, além da presença do toque indefectível do pão, que é um atrativo à
parte ao espumante. Tem um final frutado e persistente.
Um espumante que, embora não tenha sido concebido em terras
brasilis, revelou-se surpreendentemente maravilhoso. Cítrico, aromático,
delicado, elegante, ainda muito fresco, apesar de sua safra e o seu blend
favoreceu e muito para o vinho entregar essas agradáveis características. Um
espumante, produzido pelo método charmat, básico, simples, mas nobre na sua
versatilidade, mostrando-se com alguma personalidade, com características
inusitadas e marcantes. Que vinho! Que espumante! Um espumante digno de Brasil,
mas concebido em terras do Velho Mundo. Versátil também nas harmonizações,
podendo ser degustado sozinho, sem acompanhamentos, mas também com uma refeição
mais leve e simples. Apesar de eu já ter degustado um Contessa Carola Negroamaro 2018, é sempre gratificante degustar vinhos de produtores pouco renomados
e desconhecidos, porque, são nessas situações é que podemos ser positivamente
surpreendidos. Tem 11,5% de teor alcoólico.
Sobre a Contri Spumanti S.p.A:
A história da empresa Contri Spumanti SpA está intimamente
ligada à do seu fundador: Luciano Contri , nascido em 1938, natural de Cazzano
di Tramigna. Aos quinze anos, enquanto Luciano se preparava para iniciar seus
estudos de especialização enológica, a família sofreu grandes dificuldades
devido a uma grave doença que atingiu seu pai Luigi e o obrigou a ficar dois
anos longe de casa. Foi o fundador da empresa da família, com mais de 90 anos,
o avô Domenico (apelidado de PACENA na aldeia, hoje uma das marcas da empresa)
quem apoiou Luciano nesse período. A sua própria experiência e sabedoria,
combinadas com a vontade e o espírito de sacrifício do sobrinho, foram capazes
de compensar a ausência de Luigi. Temperado pelo sacrifício diário e seguro dos
ensinamentos recebidos, atingiu a maioridade em 1959 e deu à luz a empresa
individual Luciano Contri , que em 1980 será transformada em Contri Spumanti
SpA , dando início à produção de espumantes e espumantes. Hoje as rédeas da
empresa estão nas mãos de Paolo Contri , que dá continuidade à política de seu
pai de manter a Contri Spumanti SpA uma empresa de ponta e líder no setor.
Tecnologia de ponta e automação de processos garantem a eficiência do ciclo
produtivo e a minimização dos custos de produção. Adaptação aos requisitos dos
sistemas de qualidade mais conhecidos, desde o planejamento, passando pela
produção, até a logística. Renovação constante dos sites de produção, expansão
e automação das áreas de logística. Capacidade de responder e se adaptar às
necessidades em constante mudança do mercado com novos tipos de produtos, novos
formatos e embalagens personalizadas. Tudo isso tem permitido a consolidação da
empresa ao longo dos anos e sua constante ascensão no mercado local e nos
principais mercados externos. Resultados confirmados pelos inúmeros prémios e
galardões obtidos nos mais conceituados concursos internacionais de vinhos. A
sede da Contri Spumanti SpA está localizada em Cazzano di Tramigna, onde se
encontram os escritórios, a histórica fábrica e o centro de logística. As
atividades comerciais e administrativas, o controle de qualidade e a organização
da produção são realizados e coordenados pela matriz. A atividade de produção
em sentido estrito é abrangida por tipo de produto entre duas fábricas.
Mais informações acesse:
https://www.contrispumanti.com/it
Referências de pesquisa:
“Vinho Perfeito”: http://vinhoperfeito.com/2017/02/19/garganega/
“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/garganega
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