sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

San Antolin Reserva 2012

 

Já li e ouvi muitas discussões, questionamentos e problemáticas com relação a qualidade dos vinhos que ostentam, em seus rótulos, as nomenclaturas “Reserva” e “Gran Reserva”.

E os questionamentos e discussões pairam em torno de uma questão de suma importância para nós enófilos, mas que, para os “aristocratas do vinho” pode se tornar um fato de segregação, que são os valores dos vinhos, sobretudo aqueles valores baixos.

Gera-se uma discussão acerca dos valores baixos dos vinhos reservas e gran reservas, principalmente os espanhóis, e sumariamente os rejeita com um argumento que, penso, ser pouco contundente, de que não se pode degustar tais vinhos com valores abaixo de R$50.

Eu confesso que fomentar essa “polêmica” é totalmente desnecessário, haja vista que qualidade não se mensura, penso eu, pelo preço do vinho, até porque o que precisamos levar em consideração é a proposta do vinho, o que ele pode te entregar e principalmente o que você espera de um vinho para o momento em que você deseja degustar um rótulo.

Me parece se tratar de um argumento totalmente segregador, de que vinho bom é vinho caro, buscando nesse conceito ou pré-conceito, no vinho como artigo de etiqueta social, excluindo aqueles da base da pirâmide social desse nicho seletíssimo do vinho.

Mas não, não podemos pensar dessa maneira! Vinho é para todos e para todos também tem de ser as diversas propostas, é o que o vinho nos proporciona: propostas para as mais diversas situações e momentos. Não há um vinho pior que outro.

Então pensando nisso decidi desbravar algumas regiões da já mencionada por aqui, a Espanha. Sair um pouco ou simplesmente mudar o foco de regiões tradicionais, emblemáticas e famosas como Rioja e Ribera del Duero, por exemplo.

E há cerca de um ano atrás, aproximadamente, descobri um rótulo em um famoso e-commerce de vinhos aqui no Brasil por um valor espetacularmente baixo (R$39,90) de uma região chamada Navarra, um Gran Reserva. Sim! Um Gran Reserva! Como degustar e comprar um Gran Reserva a esse valor? Mesmo baixo decidi ousar e comprar.

Eu o comprei dois anos antes, 2019 e decidi degusta-lo em 2021, pois a safra era de 2011. Optei por desarrolhá-lo aos 10 anos de vida. Era o Gran Villa Gran Reserva 2011. E a experiência foi arrebatadora, especial! Decidi investir em novos rótulos dessa região. 

Mas revisitando os meus “arquivos de degustação” encontrei um que havia esquecido e que achei da forma mais despretensiosa do mundo em um supermercado, praticamente jogado, esquecido e empoeirado no rodapé das gôndolas: um branco da famosa casta Viúra ou Macabeo chamado El Lagar de la Aldea 2017, há um valor, pasmem, de R$19,90! E que vinho delicioso!

E em minhas incursões pela grande rede, pela internet, encontrei outro de Navarra que, por uma grata coincidência, é do mesmo produtor do Gran Villa Gran Reserva, desta vez um Reserva, da Bodegas Bornos.

Então sem mais delongas vamos às apresentações! O vinho que degustei e gostei veio de Navarra, um espanhol chamado San Antolin Reserva composto pelas castas Cabernet Sauvignon (60%), Graciano (35%) e Garnacha (5%) da safra 2012.

Ah e mais um com mais de dez anos de garrafa, 11 anos para ser mais preciso! Essa aventura dos vinhos velhos, sobretudo os espanhóis, tem me levado a experiências sensoriais incríveis e esse, para não perder o costume, surpreendeu positivamente! E para não perder o costume também falemos dessa bela região que, a cada dia, venho me aventurando: Navarra!

DO (Denominação de Origem) Navarra

A região de Navarra (DO Navarra) fica ao norte da região de Rioja, entre a parte baixa dos Pirenéus, até o rio Ebro, apresentando cerca de 11.500 hectares ocupados por vinhedos, graças ao seu solo extremamente fértil e propício para o cultivo de inúmeras castas.

A viticultura começou já no século II a. C quando os romanos criaram as primeiras adegas. Por muitos anos, o vinho foi produzido pelos monges dos inúmeros monastérios desta antiga área vitivinícola.

Na idade Média, Navarra era um reino poderoso, aliado à França, o que ajudou o desenvolvimento da viticultura. O fato que fica no Caminho de Santiago aumentou a demanda, os vinhos de Navarra sendo recomendados aos romeiros.

Navarra

As videiras foram devastadas pela praga filoxera em 1892, eliminando quase 98% das vinhas na época. No início do século XX, foram replantadas vinhas com raízes do Novo Mundo. Produtores formaram cooperativas e produziram vinho em grande quantidade, exportado a granel. Somente nos anos 1980, vinícolas privadas começaram a fazer vinhos de qualidade. A Denominación de Origen, originalmente aprovada em 1933, foi modificada para refletir a transição de vinhos de massa para vinhos de qualidade.

A região produz cerca de 89 milhões de litros de vinho por ano, dos quais 30% são exportados. Apesar dos vinhos brancos da região fazerem bastante sucesso e agradarem aos exigentes paladares da crítica especializada, é a produção de vinhos tintos que se destaca em Navarra. Em decorrência disso, 70% da produção da área espanhola é constituída de vinhos tintos, sendo os outros 25%, destinados a produção de vinhos brancos e rosés.

Diversas variedades de uva são cultivadas na região, como as da casta Moscatel, Chardonnay, Mazuelo, Graciano, Merlot, Cabernet Sauvignon e Viura. Entretanto, as uvas de maior sucesso da região de Navarra são a Garnacha e a Tempranillo. Por muitos anos, a Garnacha foi de longe a variedade de uva mais plantada nas vinhas, intercaladas com as fazendas de frutas e vegetais pelas quais Navarra é tão famosa. Até pouco tempo atrás, as vinhas velhas de Garnacha, dominavam o território.

Tempranillo ultrapassou Garnacha como a variedade mais plantada, com Cabernet Sauvignon chegando em terceiro lugar. Os resultados são muito respeitáveis, se muito raramente são excepcionais. As bodegas de Navarra foram capazes de investir em carvalho francês para suas uvas francesas.

Consideravelmente auxiliados por um programa de pesquisa do governo local, eles fizeram uma avaliação cuidadosa de variedades de uvas: Cabernet Sauvignon, Merlot, Chardonnay e, especialmente, Tempranillo - que agora produz alguns vinhos finos e concentrados, tipicamente envelhecidos em carvalho americano.

Navarra tem clima continental, com verão seco e quente, e invernos bem frios. Tem uma influência marítima vendo do mar Atlântico, moderando as temperaturas durante a maduração das uvas, e a noite, as temperaturas caiem no fim de agosto. A grande diversidade dos vinhos de Navarra reflita a influência da confluência dos climas das 2 principais zonas de produção da região, situação excepcional na península ibérica: atlântico na Tierra Estella e na Baja Montaña; mediterrâneo na Ribera Alta e na Ribeja Baja.

Na década de 1980 a região começou a passar por grandes mudanças, com a renovação de mentalidade trazida por produtores jovens e inquietos, que culminou com a redescoberta e valorização das castas mais tradicionais e de seus vinhedos de vinhas velhas. Como os preços médios ainda permanecem mais baixos que os da Rioja, os vinhos de Navarra tornaram-se opções muito interessantes.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um lindo e instigante vermelho rubi intenso, escuro com halos evoluídos, de cor atijolada denotando seus 11 anos. Tem lágrimas em profusão, grossas, lentas e que mancham o bojo.

No nariz traz um bouquet exalando frutas pretas maduras, onde se destacam amoras e cereja preta, com notas amadeiradas, graças aos seus 24 meses em barricas de carvalho francês, bem integradas ao conjunto do vinho, além de baunilha, couro, tabaco, estrebaria, chocolate e baunilha, conferindo-lhe complexidade.

Na boca é seco, de estrutura mediana, cheio, untuoso e alcoólico, mas com muita elegância graças aos seus 11 anos de garrafa. Replicam-se as percepções amadeiradas, trazendo a torrefação, tosta e algo de caramelo e mentolado e frutadas como no aspecto olfativo, com taninos persistentes, porém redondos e marcantes, com baixa acidez e um final de média persistência e retrogosto frutado.

Um misto de sentimentos me tomou de assalto quando degustei o San Antolin Reserva: o prazer de degustar um vinho com 11 anos de vida, o que, convenhamos não é cotidiano, e pelo fato de carregar, de ostentar o título de “Reserva”, um reserva espanhol que traz todo o rigor da famosa “Lei 24/2003, de 10 de julho, sobre vinha e vinho”. 

Sobre a Bodega Señorio de Sarría:

Embora a adega tenha sido fundada em 1953, muitos séculos de história contemplam estas terras como zona de cultivo de vinha. Diz a história que o Senhor de Sarría desde a Idade Média, por intermédio de crônicas da época, acompanhou o rei Sancho El Fuerte na batalha de Las Navas de Tolosa em 1212.

Séculos depois, no século XVI, a história do Señorío e Navarra se confunde ainda mais, já que o então senhor de Sarría (Juan de Azpilicueta), irmão de San Francisco Javier (atual patrono de Navarra), pagou seus estudos em Paris, com os rendimentos obtidos na pecuária e exploração agrícola desta fazenda. O manuscrito no qual San Francisco Javier agradece a seu irmão por esta ajuda ainda é preservado hoje.

E foi muitos anos depois, em 1953, quando o renomado empresário navarro Don Félix Huarte comprou o Señorío, realizou as novas plantações de vinhedos e construiu a vinícola, passando a produzir e comercializar vinhos com a marca Señorío de Sarría.

Posteriormente, em 1981, a adega separou-se da família Huarte e iniciou uma nova etapa, que teve um importante renascimento em 2001, dando início a um novo e ambicioso projeto de renovação de instalações e vinhas, de forma a estar na vanguarda do panorama nacional e internacional mercado.

Situado em Puente La Reina, no coração do Caminho de Santiago, o Señorío de Sarría está localizado em uma área que oferece condições de clima e solo imbatíveis, o que permite a produção de uma gama de vinhos da mais alta qualidade.

100 hectares de vinhas de múltiplas variedades estão espalhados pelas encostas e espreguiçadeiras de Puente La Reina, Olite e Corella. Cada planta, cada vinha, cada parcela, recebe um cuidado primoroso e um acompanhamento particular para produzir vinhos magníficos desde a sua origem. Cada casta foi cuidadosamente selecionada e cultivada no local mais adequado, tendo em conta as condições de luz, humidade e temperatura exigidas em cada caso.

Mais informações acesse:

https://www.bodegadesarria.com/

http://www.bornosbodegas.com/

Referências:

“Premium Wines”: https://www.premiumwines.com.br/_regiao_olha.php?reg=72

“Vindame”: https://www.vindame.com.br/navarra

“Bella Cave”: https://www.bellecave.com.br/vinhos-de-navarra-na-espanha

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/regiao/navarra




sábado, 14 de janeiro de 2023

Vitis Barbera 2018

 

Estamos, creio, testemunhando uma volta ao passado na vitivinicultura do Brasil ou a recuperação de um passado, não sei dizer exatamente. Estamos presenciando um “boom” de castas autóctones italianas em nossos terroirs.

Cepas como Sangiovese, Teroldego, Barbera e por aí o vai são alguns dos exemplos de algumas clássicas uvas, tendo outras, não muito conhecidas, despontando em nossas terras, sobretudo no sul do Brasil, mais precisamente em Santa Catarina.

Alguns produtores por lá cultivam apenas castas oriundas da Itália! E o que estou tentando dizer com uma volta ao passado? Nos primórdios de nossa jovem vitivinicultura, foram os italianos, os imigrantes, que desbravaram as nossas selvagens, intocáveis terras e cultivaram algumas cepas americanas, haja vista que o clima não “harmonizou” com as castas vitis viníferas que os italianos trouxeram consigo.

Hoje com toda a tecnologia e a expertise dos seus descendentes, com uma retaguarda de capital de algumas verdadeiras indústrias do vinho, estão revistando o passado de seus desbravadores cultivando castas do país da bota.

A Itália e suas castas estão sendo revisitadas em terras brasilianas trazendo o passado para o presente, mas enaltecendo a tipicidade do local, das terras brasileiras. E não se enganem que seja apenas no sul do Brasil, no Rio Grande do Sul ou em Santa Catarina, mas há informações de que no Centro Oeste brasileiro algumas vinícolas estão produzindo a Barbera! Sensacional!

E por falar em Barbera a minha degustação de hoje trará uma vinícola de peso, de tradição que tem, em seu portfólio, um clássico feito de outro clássico piemontês, a Barbera.

Uma junção de clássicos que entrega uma casta tradicional, com um rótulo tipicamente da Serra Gaúcha, talvez a mais emblemática e icônica região produtora de vinhos, não só do Brasil, mas da América Latina.

Então sem mais delongas vamos às apresentações! O vinho que degustei e gostei veio do Vale Trentino, entre Caxias do Sul e Farroupilha, na Serra Gaúcha, um brasileiro chamado Vitis da clássica italiana Barbera da safra 2018.

Um pouco sobre a linha “vitis”: os varietais dessa linha de rótulos, a Barbera e também a Marselan, fazem parte de uma categoria de uvas raras no Brasil e representam os resultados surpreendentes que o terroir do Vale Trentino oferece para estas castas europeias sem passagem por barrica. A linha foi lançada após mais de 10 anos do plantio das videiras, momento no qual se percebeu que as mesmas haviam revelado sua tipicidade na região.

Serra Gaúcha

Situada a nordeste do Rio Grande do Sul, a região da Serra Gaúcha é a grande estrela da vitivinicultura brasileira, destacando-se pelo volume e pela qualidade dos vinhos que produz. Para qualquer enófilo indo ao Rio Grande do Sul, é obrigatório visitar a Serra Gaúcha, especialmente Bento Gonçalves.

Serra Gaúcha

A região da Serra Gaúcha está situada em latitude próxima das condições geoclimáticas ideais para o melhor desenvolvimento de vinhedos, mas as chuvas costumam ser excessivas exatamente na época que antecede a colheita, período crucial à maturação das uvas. Quando as chuvas são reduzidas, surgem ótimas safras, como nos anos 1999, 2002, 2004, 2005 e 2006.

A partir de 2007, com o aquecimento global, o clima da Serra Gaúcha se transformou, surgindo verões mais quentes e secos, com resultados ótimos para a vinicultura, mas terríveis para a agricultura.

Desde 2005 o nível de qualidade dos vinhos tintos vem subindo continuamente, graças a esta mudança e também do salto de tecnologia de vinhedos implantado a partir do ano 2000.

Vale Trentino, Distrito de Forqueta

Localizada a 15Km da área central da cidade de Caxias do Sul, a Região Administrativa de Forqueta tem como característica principal a produção de vinhos e uvas, que responde por cerca de 90% da sua economia rural. Conta a história de que o nome surgiu devido a abertura de uma casa de comércio no entroncamento da Estrada Geral com a estrada que levava aos Santos Anjos. O entroncamento tinha a forma de um garfo, uma “forchetta” em italiano, derivando aí o nome de Forqueta.

Distrito de Forqueta (Destaque)

Vale Trentino é o nome do roteiro que faz parte dessa região, um percurso que reúne atrativos em Caxias do Sul e Farroupilha. Tem duas características fortes: o cultivo da uva, com lindos vales e parreirais, o que garante um belo passeio para contemplar as lindas paisagens. No centro está o museu da Uva e do Vinho Plínio Slomp.

Outra característica é a religiosidade dentre as 15 capelas em diferentes localidades do interior, uma é em devoção a Nossa Senhora da Salete, a padroeira dos agricultores e de São Roque, em Farroupilha, que data de 1898 e é uma das mais antigas.

Forqueta ainda tem a Festa do Vinho Novo, realizada a cada dois anos nos três primeiros finais de semana de julho. O evento conta com exposições, shows, desfiles temáticos e culinária típica.

Barbera, o “vinho do povo”.

Uma das maiores uvas italianas, ficando atrás apenas da Sangiovese, a uva Barbera, conhecida anteriormente por produzir vinhos de menor qualidade, hoje é responsável por vinhos nobres e notáveis. Esta casta passou, pelos últimos anos, uma verdadeira história de superação. Trata-se da uva que é responsável pelo vinho que os piemonteses consomem no dia a dia, daí o nome que foi concedido pelas pessoas da região: “o vinho do povo”.

Acredita-se que a uva Barbera tem origem nas montanhas de Monferrato, na região central de Piemonte, na Itália. Alguns documentos, datados entre 1246 e 1277, encontrados na Catedral da Casale Monferrato, detalham acordos relacionados a vinhedos plantados com “de bonis vitibus barbexinis”, a uva Barbera.

Contudo, um ampelógrafo chamado Pierre Viala especula que ela se originou em Oltrepò Pavese, na região da Lombardia. Nos séculos 19 e 20, ondas de imigrantes italianos trouxeram esta cepa para a Califórnia, Argentina e outros lugares nas Américas. Em 1985, um evento trágico relacionado à uva Barbera envolveu produtores adicionando ilegalmente metanol aos vinhos.

Esta ação causou declínio no plantio e vendas da uva. Isto levou a Montepulciano tomar o posto da uva Barbera no meio da década de 90. Anteriormente considerada uva de vinhos inferiores, até o escândalo de Relações Públicas nas décadas de 80 e 90, a uva Barbera tomou um rumo de superação muito interessante.

Frutado, ele tem gosto de cerejas, morangos e framboesas. Quando jovem, o vinho Barbera pode ter aroma de mirtilos também. Com pouco tanino e alta acidez natural, a uva Barbera é uma boa pedida para harmonizar vinhos com alimentos ricos e reconfortantes, como queijos, carnes e cogumelos.

Além de Piemonte, a uva Barbera é cultivada em outras regiões da Itália, como Campania, Emilia-Romagna, Puglia, Sardenha e Sicília, somando 52.600 acres de plantação. Fora do país, a Argentina, a Austrália, os Estados Unidos e até mesmo o Brasil são outros produtores conhecidos de vinhos de qualidade com a Barbera. Em regiões quentes, como a Califórnia, nos EUA, destacam-se toques de ameixa, além do sabor frutado de cereja.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela uma cor vermelho rubi intensa, brilhante e com reflexos violáceos, com lágrimas finas e em profusão, mas rápidas.

No nariz traz o protagonismo das frutas vermelhas, remetendo a cerejas, amoras, framboesa e morango, além de delicadas expressões de especiarias.

Na boca é seco de textura leve, mas de marcante personalidade por ser untuoso, com o destaque para a fruta replicando as impressões olfativas. Tem taninos sedosos, amáveis, macios, com acidez evidente, mas equilibrada e um final de média persistência e retrogosto frutado.

Terroir, história, experiências sensoriais... Tudo parece convergir para o prazer, para a celebração de se degustar um vinho, de se ter à mesa um vinho para, primordialmente, proporcionar a alegria, o momento único de se ter em nossa humilde taça um vinho desse naipe. O passado é o presente, que inspira o futuro. Ah sim o Brasil vem ganhando expertise para o cultivo de uvas autóctones italianas e se tornará, a médio e/ou longo prazo um dos grandes produtores nesse quesito no mundo, até porque, tendo como primeira referência, o Vitis Barbera, não há como negar, mesmo que com uma dose generosa de euforia, esse momento para a história da vitivinicultura do Brasil. Que venham muitos, que o passado, o presente e o futuro se entrelacem. Tem 14% de teor alcoólico.

Sobre a Casa Perini:

Em 1876 chegava da Itália a família Perini com Giuseppe e Antônio Perini, mas somente em 1929 começaram a elaborar seus primeiros vinhos de forma artesanal no porão de sua casa, quando os fornecia para cerimônias festivas da comunidade local, no Vale Trentino, em Farroupilha.

Quatro décadas após o patriarca iniciar sua modesta produção, seu filho viria a promover mudanças maiores. Em outubro de 1970 resolve ampliar os negócios da família, fundando a Casa Perini.

Motivado e apaixonado por transformar a uva em vinho, buscam a cada ano aperfeiçoar a vinícola com equipamentos, tecnologia e equipe qualificada, pois sem uma equipe profissional a arte de elaborar vinhos perde criatividade e talento. Em 2005 a Família Perini adquire a unidade Bacardi Martini em Garibaldi agregando tecnologia ao seu processo produtivo através dos tanques “Vinimatics”, utilizados na maceração e fermentação dos vinhos tintos.

Em 2010 a vinícola foi pioneira no setor ao implantar o sistema de rastreabilidade no qual é possível, através do número do lote, rastrear todo o caminho do vinho desde o vinhedo até a garrafa. O reconhecimento vem a cada prêmio alcançado e a cada consumidor satisfeito, o que se comprova com a conquista de mais de 200 medalhas nacionais e internacionais e, principalmente, com a recente premiação do Casa Perini Moscatel, eleito o 5° melhor vinho do mundo de 2017 pela WAWWJ (World Association of Writers & Journalists of Wines & Spirits).

Mais informações acesse:

https://www.casaperini.com.br/home

Referências:

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/piemonte-grandiosa-regiao-italiana_8360.html

“Vem da Uva”: https://www.vemdauva.com.br/vinho-barbera-conheca-suas-caracteristicas/

“Enologuia”: https://enologuia.com.br/uvas/256-uva-barbera-conheca-o-vinho-do-povo

“Blog Art des Caves”: https://blog.artdescaves.com.br/uva-barbera-mais-plantadas-na-italia

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=SERRAGAUCHA

“Guia de Caxias do Sul”: https://www.guiadecaxiasdosul.com/turismo/rural/categoria/regiao-de-forqueta-roteiro-vale-trentino

“Destinos do Sul”: https://destinosdosul.com/2021/02/24/uvas-e-muita-historia-no-vale-trentino-em-caxias-do-sul/






domingo, 8 de janeiro de 2023

Terras de Felgueiras Vinhão 2020

 

Algumas gratas descobertas nos enchem de alegria e orgulho, diria, no universo dos vinhos. E elas se materializam em eventos de degustação que, além das referidas descobertas, nos propicia conversar com os produtores sobre os seus rótulos, bem como o intercâmbio de informações e conhecimento com os demais participantes enófilos. 

E o rótulo de hoje, embora eu conheça o produtor, e tenha me enamorado pelos seus vinhos, eu não conhecia e me encheu de satisfação e alegria quando o localizei em um popular supermercado em minha cidade, Niterói.

O evento foi o maravilhoso “Vinho Verde Wine Experience de 2020” e o produtor é a Vercoope. Uma das adegas cooperativas da belíssima região dos Vinhos Verdes com mais entrada e representatividade de mercado aqui no Brasil.

Já tinha degustado o Terras de Felgueiras AlvarinhoLoureiro e surpreenderam pela excelente relação qualidade X preço e quando estive no evento que deixou saudades, pois lamentavelmente, desde 2020, não é realizado, encontrei o estande da Vercoope e como já era de se esperar a fila estava grande.

Mesmo tendo degustado alguns de seus rótulos e podemos incluir os da linha mais básica, eu decidi, claro, me aproximar do estande de exposição de seus vinhos e degustar novamente os rótulos que havia tido contato e quem sabe outros novos vinhos para mim.

Encontrei uma simpática expositora que já fez perguntas sobre a vinícola e com a garrafa do Alvarinho em mãos. Disse que já o conhecia, mas fiz questão de degusta-lo novamente. Mas olhando um pouco mais de atenção observei alguns espumantes feitos com a casta Loureiro (a minha preferida da região de Vinhos Verdes) e um tinto. Sim! Um vinho verde tinto!

Para os desavisados há vinho verde tinto embora seja produzido em uma escala muito baixa em proporção com relação aos já famosos brancos. Eu, interessado, tentei buscar informações acerca desses dados, desses números e infelizmente nada encontrei de atualizado, mas recordo-me que, há algum tempo atrás, eu li em algum site de que a proporção é de 85% de produção de brancos e pouco menos de 10% de tintos e em menor proporção ainda os rosés, com cerca de 5% da produção.

A predominância é dos brancos e são esses rótulos que chegam à profusão em nossas terras e chegam em relevantes números, pois são, geralmente leves e frescos, tendo e muito a ver com as nossas características climáticas.

Mas de volta ao evento eu vi um da casta Vinhão e claro me pus a experimentá-lo e a nossa simpática e atenciosa expositora fez questão de encher a minha taça e tecendo maravilhas a seu respeito. A princípio pensei: é coisa de quem está expondo, falar bem é o seu trabalho. Mas quando o degustei fui arrebatado! Estava maravilhoso! O destaque ficou para a sua excelente acidez que saliva, para os seus taninos (Sim!), mas fresco, leve e altivo.

Mas após a degustação logo lamentei: Infelizmente não poderei comprar por aqui no evento, pois não está à venda! Espero que eu consiga encontra-lo disponível para venda em algum lugar e a expositora, preocupada em me animar, disse que poderia ser encontrado em vários supermercados do Rio de Janeiro.

Então me lembrei do supermercado muito popular que havia comprado o Alvarinho. Quem sabe eu poderia encontrar o Terra de Felgueiras Vinhão. E encontrei! E por um preço tão arrebatador quanto o vinho: cerca de R$35,00! Não hesitei e comprei.

Estava animado para degusta-lo inteiro, a garrafa inteira! Eu já tinha degustado uns poucos vinhos verdes tintos com a Vinhão em blends, em cortes, não varietal como esse. Então o vinho que degustei e gostei veio da região dos Vinhos Verdes e se chama Terras de Felgueiras da casta Vinhão (100%) da safra 2020.

Antes de tecer os comentários acerca desse vinho falemos um pouco da emblemática região dos Vinhos Verdes e um pouco dessa casta que ainda é pouco conhecida pelos brasileiros: a Vinhão.

Vinhos Verdes: Entre-Douro-e-Minho

Desde o tempo da ocupação romana, antes da era cristã, a vinha era cultivada na margem sul do Rio Minho da forma característica e invulgar que se mantém até hoje. Não se trata de suposição. As referências à viticultura na região encontram-se nos escritos do naturalista Plínio, o Velho, em sua História Natural, e do filósofo Sêneca, em seu compêndio Questões Naturais. Está também documentada na legislação do Imperador Domiciano, entre 96 e 51 a.C.

Na Idade Média multiplicam-se as referências escritas ao cultivo das uvas e a elaboração de vinhos no noroeste lusitano, a partir das atividades nos mosteiros e do decisivo suporte da coroa portuguesa. O vinho entra definitivamente, entre os séculos XIII e XIV, nos hábitos das populações entre o Minho e o Douro ao mesmo tempo em que se dá a expansão econômica da região e a crescente circulação da moeda. Ainda que a exportação fosse pequena, os vinhos verdes foram, entre os vinhos portugueses, os primeiros conhecidos fora das fronteiras, particularmente na Inglaterra.

No início do século XX, ultrapassados os problemas das quebras de produção devido às pragas, foram tomadas medidas especiais para a colocação dos vinhos locais e escoamento dos excedentes. Tornava-se obrigatório, para isso, conservar a genuinidade e a qualidade dos produtos, assegurando-se seu valor do ponto de vista cultural e econômico.

O ano de 1908 é crítico na história portuguesa: o rei Carlos I e seu filho são assassinados, abrindo caminho para a República. Nesse mesmo ano, a região dos vinhos verdes é demarcada oficialmente e dividida em seis sub-regiões: Monção, Lima, Basto, Braga, Amarante e Penafiel. O limite a oeste é o Atlântico e, ao norte, a Espanha.

Região dos Vinhos Verdes

A Região Demarcada dos Vinhos Verdes está dividia em nove sub-regiões, cada uma com sua característica específica e suas castas de uva recomendadas:

Sub-região de Monção e Melgaço: utilizam-se apenas as castas Pedral (tinta) e Alvarinho (branca). É de lá o mais icônico Alvarinho, com notas cítricas misturadas com nuances de aromas florais e de frutos tropicais e paladar mineral.

Sub-região de Amarante: as castas brancas são Azal e Avesso e originam vinhos com aromas frutados e com o maior teor alcoólico da Região. Mas é dos tintos que vem a fama da sub-região. Elaborados com Amaral, Vinhão e Espadeiro, são vinhos com cor carregada e muito viva.

Sub-região de Baião: também tem muita notoriedade na produção dos brancos, a partir da casta Avesso.

Sub-região de Basto: a casta Azal atinge o seu máximo potencial e resultam vinhos com aroma de limão e maçã verde muito frescos, de alta acidez.

Sub-região do Cávado: têm vinhos brancos das castas Arinto, Loureiro e Trajadura com acidez moderada e notas de frutos cítricos e de pomar. Os vinhos tintos são na maioria cortes de Vinhão e Borraçal, cor intensa vermelho granada e aromas de frutos frescos.

Sub-região do Lima: Os vinhos brancos mais famosos são produzidos a partir da casta Loureiro. Os aromas são finos e elegantes e vão desde limão até rosas.

Sub-região de Paiva: produz alguns dos tintos mais prestigiados de toda a região a partir de Amaral e Vinhão.

Sub-região do Sousa: utiliza a casta Espadeiro, principalmente para a produção de rosés, sendo alguns dos mais destacados da Região.

Sub-região do Ave: Arinto e Loureiro Trajadura juntas compõem um blend perfeito com frescura viva e notas florais e de frutas cítricas.

O uso indiscriminado dos termos “Vinhos Verdes” ou “Vinho Verde” gera muita confusão. Pode parecer uma questão simplesmente ligada ao plural, mas não é. Os termos se referem à Região dos Vinhos Verdes (plural), uma das 14 regiões demarcadas de Portugal e à Denominação de Origem Controlada (DOC) Vinho Verde (singular). Para receber o selo de Denominação de Origem Vinho Verde, os vinhos devem respeitar as normas estabelecidas pela lei. Não há restrição de área de cultivo, toda a produção realizada dentro da Região dos Vinhos Verdes pode receber o selo se respeitarem as diretrizes da DOC.

Em 1926 foi criada a Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV), responsável por controlar e certificar os produtos elaborados na região. Quando a amostra apresentada à CVRVV não cumpre com os requisitos legais para ser certificada como DOC, o exemplar recebe o selo IG Minho. Isso não quer dizer que o vinho é de pior qualidade, apenas que não se enquadra legalmente aos parâmetros pré-definidos. A IG Minho permite a utilização de maior variedade de castas, incluindo uvas internacionais, e regras distintas de vinificação.

Na maioria dos casos, os produtores não estão buscando necessariamente a tipicidade do vinho, mas a produção de vinhos inovadores. É comum encontrar vinhos IG Minho mais caros que os DOC Vinhos Verdes. Alguns produtores optam de forma intencional por rotular seus vinhos como Regional do Minho, até mesmo por questões de marketing e posicionamento de mercado.

A região dos Vinhos Verdes tem influência atlântica, reforçada pela orientação dos vales dos principais rios, que correndo de nascente para poente facilitam a penetração dos ventos marítimos. É observada elevada pluviosidade, temperatura amena, pequena amplitude térmica e solo majoritariamente granítico e localmente xistoso. Mas algumas regiões, por conta do microclima, apresentam características de terroir distintas. O que influencia diretamente no vinho.

Por que vinho verde?

Evidentemente, a cor do Vinho Verde não é verde. Então, por que esse nome? Duas são as versões mais conhecidas. O Vinho Verde leva esse nome porque as uvas da região, mesmo quando maduras, têm elevado teor de acidez, produzindo líquido cujas características lhes dão a aparência de vir de uvas colhidas antes da correta maturação.

A outra explicação diz que "Vinho Verde" significa "vinho de uma região verde", ou seja, a denominação deriva da belíssima paisagem local, onde o verde das terras cultivadas se perde no horizonte.

Felgueiras

Felgueiras é uma cidade portuguesa no Distrito do Porto, região Norte e sub-região Tâmega, com cerca de 15.525 habitantes, inserida na freguesia de Margaride. É sede de um município com 115,62 km² de área e 58.922 habitantes (2006), subdividido em 32 freguesias. O município é limitado a norte pelo município de Fafe, a nordeste por Celorico de Basto, a sueste por Amarante, a sudoeste por Lousada e a noroeste por Vizela e Guimarães.

O município é constituído por quatro centros urbanos: a Cidade de Felgueiras, a Cidade da Lixa, a Vila de Barrosas e a Vila da Longra. Verdadeiro coração da NUT Tâmega, constitui hoje uma centralidade importante no mapa de auto-estradas e itinerários principais, uma garantia sólida de afirmação das inúmeras potencialidades reais concelhias.

Os bordados são uma das mais ricas tradições do concelho, que emprega cerca de dois terços das bordadeiras nacionais. O filé ou ponto de nó, o ponto de cruz, o bordado a cheio, o richelieu e o crivo são exemplos genuínos do produto artesanal de verdadeiras mãos de fada. Os sabores autênticos da gastronomia, a frescura e intensidade dos aromas dos vinhos e o ambiente de grande animação proporcionam momentos inesquecíveis.

Dando corpo a essa riqueza, foi já constituída a “Confraria do Vinho de Felgueiras”, destinada a divulgar e defender o vinho e a gastronomia felgueirenses. Felgueiras, com 58 000 habitantes é um dos concelhos com a população mais jovem do país e da Europa. Uma terra de exceção que aposta na valorização dos seus recursos humanos, na consolidação do campus politécnico, no desenvolvimento econômico (pleno emprego e centro de negócios) e na consolidação das suas infraestruturas.

Marcada pela invulgar capacidade empreendedora do seu povo é responsável por 50% da exportação nacional de calçado, por um terço do melhor Vinho Verde da Região e por um valioso patrimônio cultural. Felgueiras é um dos municípios com maior desenvolvimento do Norte do País.

A primeira referência histórica a Felgueiras data de 959, no testamento de Mumadona Dias, quando é citada para identificar a vila de Moure: "In Felgaria Rubeans villa de Mauri". Felgueiras deriva do termo felgaria, que significa terreno coberto de fetos que, quando secos, são avermelhados (rubeans).

Havendo quem afirme que o determinativo Rubeans se deve a que o local foi calcinado pelo fogo. Existem historiadores que afirmam que Felgueiras recebeu foral do conde D. Henrique. No entanto, apenas se conhece o foral de D. Manuel a 15 de outubro de 1514.

 No entanto, já em 1220, a terra de Felgueiras contava com 20 paróquias (conhecidas hoje em dia como freguesias) e vários mosteiros e igrejas. Em 1855, ao ser transformado em comarca, Felgueiras ganhou mais doze freguesias. Em 13 de Julho de 1990 Felgueiras foi elevada à categoria de cidade.

Vinhão

A casta Vinhão é essencialmente apreciada pelas suas qualidades corantes, pois origina vinhos de cor vermelha intensa e opacos à luz. Pensa-se que é oriunda da zona do Minho e teria sido levada para a região do Douro, onde é conhecida por Sousão.

Vinhão no Minho e Sousão no Douro e no resto do país – dois nomes da mesma casta, duas realidades unidas geneticamente e separadas estilisticamente, duas faces da mesma moeda, cara e coroa, yin e yang. Uma casta intensa, com tudo no máximo – cor, acidez, tanino, onde as possíveis fraquezas são consequências das suas virtudes. 

O Vinhão representa um vinho popular, por vezes rústico, franco e imediato na fruta e no modo de consumo e o Sousão refere-se ao vinho de nicho, menos divulgado e mais seletivo, onde a forte personalidade da casta fica moldada pela abordagem enológica. Entretanto, presencia-se uma mudança de paradigma: há Vinhões que ultrapassam a estigma do “vinho do ano” e Sousões a fingir que são “Vinhões”, com o perdão do trocadilho.

Na viragem do século, Vinhão/Sousão era a quarta casta tinta mais plantada em Portugal, representando 3% da plantação nacional. Hoje é a 10ª casta mais plantada, com 3.772 ha a nível nacional, sendo a região do Minho responsável pela maioria das plantações, sendo a casta tinta mais cultivada da região. Com alguma expressão e peso no Douro, encontra-se também nas regiões de Trás-os-Montes, Alentejo e até no Algarve, mas é claramente minoritária, sendo mais uma curiosidade do que tendência.

Na Espanha chama-se Sousón e está bastante presente na região de Galícia: DO Monterrei, Valdeorras, Rias Baixas, sobretudo nas sub-regiões Condado do Tea e O Rosal “coladas” ao rio Minho do outro lado da fronteira. Planta-se também algum Vinhão/Sousão na África do Sul, Austrália e Califórnia, mas nos dados estatísticos aparece na categoria “outras castas” e normalmente é usada para produção dos vinhos licorosos.

É uma casta originária do Minho, mais precisamente da ribeira do Lima. Viajou para o Douro no século XVII, por volta de 1790. Nesta altura, uma das principais castas do Douro era Bastardo, muito precoce, de teor alcoólico alto, mas com intensidade de cor baixíssima, por isto o Vinhão, assumindo o nome de Sousão, veio para conferir a sua cor intensa aos vinhos do Porto como alternativa às bagas de sabugueiro.

Mas existia no Minho outra casta, também antiga, com o nome Sousão. Aparecia mencionada nos estatutos da DO Vinho Verde até há relativamente pouco tempo. Esta casta não tinha nada a ver com Vinhão, nem com Sousão no Douro, mas o nome idêntico era suficiente para criar confusão. A questão resolveu-se com alteração do nome Sousão para Sezão em 2012 na lista de castas aptas à produção de Vinhos em Portugal, passando o Sousão do Douro a sinônimo oficial do Vinhão no Minho. Existem 7 clones homologados da casta e as características variam bastante em termos de rendimento, acidez e teor alcoólico.

A Vinhão é a mais conhecida e mais divulgada casta na Região do Minho. Tem maior expressão nas sub-regiões de Lima, Basto e Ave. E Amarante é afamada pelos seus vinhos tintos com predominância de Vinhão, sobretudo da zona de Gatão.

Em 1999, Vinhão ocupava 7.928 ha, em 2017 apenas metade – 3.447 ha, mas é uma das castas mais utilizadas no âmbito de restruturação da vinha (518 ha), sendo a única casta tinta a ser replantada com esta dimensão.

Os vinhos produzidos com a casta Vinhão apresentam também elevada acidez e por vezes, ficam muito acídulos. No Douro esta casta é essencialmente utilizada para conferir boa cor ao vinho, incluindo o vinho do Porto.

Pelas suas características intrínsecas, Vinhão/Sousão dificilmente chegará ao estrelato de uma Touriga Nacional. Continuará como um vinho de nicho, a despertar o interesse dos enófilos, sobretudo nos mercados mais maduros, onde se procura diferença de estilos e se aprecia o caráter de castas autóctones.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um vermelho rubi intenso, profundo e opaco, caudaloso, que mancha o bojo do copo, trazendo um gaseificado visível que denotam frescor e leveza.

No nariz aromas proeminentes de frutas vermelhas frescas, como ameixas, morango e até jamelão maduro, com notas herbáceas, vegetais, couro e um floral evidente que impõe uma sensação de frescor e delicadeza.

Na boca é leve, saboroso, mas com personalidade exigida pelas características marcantes da casta. Tem uma agulha destacada, aquela efervescência gostosa e instigante. O protagonismo das frutas é replicado no paladar, com taninos leves, mas com uma leve adstringência, acidez intensa que saliva a boca, com um final persistente.

A Região dos Vinhos Verdes ainda consegue me surpreender, me trazer gratas e espetaculares experiências sensoriais. O vinho, no auge de sua simplicidade, traz tanta complexidade ao aroma e principalmente no paladar com sua explosão de acidez e taninos, mas entregando frescor e leveza como tem de ser um legítimo e típico vinho verde. E essa característica faz da casta parte de um nicho, de poucos apreciadores e logo poucos rótulos como esse chegam até nós, brasileiros. Mas para aqueles que vislumbram novidades e, consequentemente sair da temível “zona de conforto”, o Terras de Felgueiras Vinhão é o ideal. Tem 11% de teor alcoólico.

Sobre a Vercoope:

A Vercoope é uma união de sete Cooperativas Vitivinícolas da Região dos Vinhos Verdes: Amarante, Braga, Guimarães, Famalicão, Felgueiras, Paredes e Vale de Cambra. Foi criada em 1964 com o objetivo de engarrafar, comercializar e distribuir o vinho produzido pelos viticultores destas cooperativas. A união permitiu juntar a produção de 4 000 viticultores e lança-la no mercado, nacional e internacional, conseguindo mais qualidade, dimensão e competitividade.

A qualidade dos vinhos é reconhecida e comprovada pelos consumidores, pelas vendas e pelas centenas de prémios conquistados em competições de vinhos e imprensa especializada. A Vercoope produz anualmente 8 milhões de garrafas de Vinho Verde, sendo 30% para exportação. A Vercoope – União das Adegas Cooperativas da Região dos Vinhos Verdes, U.C.R.L, está inserida na Região Demarcada dos Vinhos Verdes, considerada a maior região demarcada de Portugal e uma das maiores do mundo, essencialmente devido à sua extensão e da área dos solos dedicados à cultura da vinha, a que acresce uma significativa percentagem de população diretamente dependente do sector vitivinícola e nomeadamente do Vinho Verde.

A Vercoope é uma entidade vocacionada para o engarrafamento, comercialização e distribuição de Vinho Verde e integra na sua estrutura as adegas cooperativas de Amarante, Braga, Guimarães, Famalicão, Felgueiras, Paredes e Vale de Cambra que representam no seu conjunto explorações vitícolas de cerca de 5000 viticultores. Situada em Agrela, Santo-Tirso, numa estrutura moderna e tecnologicamente avançada, quer com meios técnicos quer com meios humanos, tem potenciado, desde a sua fundação, em 1964, o desenvolvimento da cultura do Vinho Verde, promovendo a sua divulgação, o seu consumo e a valorização do produtor.

Com mais de meio século de atividade a defender uma política de qualidade e prestígio para os seus vinhos, espumantes e aguardentes, ocupa por direito próprio, um lugar de destaque no sector, sendo muito naturalmente considerada uma instituição de referência no panorama regional e nacional.

Mais informações acesse:                                                                       

https://vercoope.pt/

Referências:

“Terras de Portugal” em: http://www.terrasdeportugal.pt/felgueiras

“Vinho Virtual”: https://www.vinhovirtual.com.br/uvas-351-Vinh%C3%A3o

“Grandes Escolhas”: https://grandesescolhas.com/vinhao-vs-sousao-a-dupla-face-de-uma-uva/

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/vinho-verde-bebida-portuguesa-do-verao_8317.html

https://revistaadega.uol.com.br/artigo/a-paisagem-que-deu-nome-ao-vinho_2744.html

“Reserva 85”: https://reserva85.com.br/vinho/indicacao-geografica-ig-denominacao-de-origem-do/regioes-demarcadas-de-portugal/regiao-dos-vinhos-verdes/

 







sábado, 7 de janeiro de 2023

Anciano Reserva Tempranillo 2011

 

Alguns rótulos aos poucos vão atingindo status de sucesso comercial com vendas altas, com representatividade de mercado, graças também a propagandas agressivas por parte de alguns sites especializados em vendas de vinho, principalmente por causa de exclusividade de venda ou coisas similares.

Nada melhor, penso, para um vinho ganhar notoriedade por intermédio de seus enófilos, para aquele que o compra, independentemente de sua classe social, de seu poder aquisitivo, de que posição está na famosa “pirâmide social”. Afinal vinho é para quem o degusta.

E um ótimo exemplo disso é a famosa linha de vinhos espanhóis da “Anciano”. Lembro-me bem que quando o comprei, quando comprei um rótulo, ele estava na faixa dos R$40 a R$ 50. Isso em 2019! Há quase quatro anos essa era a média do vinho em um famoso e-commerce de vinhos brasileiros.

Mas como vivemos em um país com taxas altas de impostos que incidem no vinho e também pela ganância desmedida de alguns revendedores, o valor atingiu, com a sua linha “Gran Reserva” quase R$100! Sim! Três dígitos em pouco menos de quatro anos!

Essa é a realidade de um país que encara o vinho, bebida cientificamente comprovada como benéfica a saúde, como meramente uma bebida alcoólica. Infelizmente a carga tributária e o custo Brasil são entraves para a difusão da cultura do vinho em terras brasileiras.

Mas não vou entrar, pelo menos por enquanto, nessa discussão, embora urgente e necessária, mas falar na minha primeira experiência com a linha “Anciano” que custou em 2019, R$ 44,50, pasme, para um Gran Reserva! Mas também não gozava ainda de grande sucesso, apesar da propaganda agressiva de vendas.

Lembro que o abri em meu aniversário com um amigo de longa data e como ele tinha outro rótulo de safra distinta, sugeri que fizéssemos uma “mini degustação vertical” com os dois rótulos que tínhamos!

Os rótulos eram o Anciano Gran Reserva 2006 e 2008! Os dois degustados em 2021! 15 e 13 anos de garrafa, respectivamente. Não preciso dizer a excitação que estávamos para degusta-los. A experiência foi especial e arrebatadora. Prometi, à época, que tornaria a degustar qualquer outro rótulo da linha.

E a oportunidade surgiu pouco mais de um ano depois e com a sua “versão Reserva” e melhor: com uma garrafa Magnum, ou seja, uma garrafa que contém um litro e meio de vinho! Uma grande e desafiadora novidade para mim. Mas com isso veio uma dúvida: Como degustar, sozinho, uma garrafa, em um dia, que tem um litro e meio?

Para mim parece um tanto quanto difícil degustar todo ele em um dia. Então decidi fazer algo que há tempos não fazia: degustar o vinho em duas etapas, isto é, em dois dias. Sequer me lembro de quando foi a última vez que degustei o vinho em dois ou mais dias. Até o meu famoso “vácuo vin” estava um tanto quanto aposentado, devido pouco uso.

E o rótulo também conta com algum tempo em garrafa que, para mim, já é outro atrativo para o vinho. Cerca de 12 anos de garrafa! Não preciso dizer também da minha excitação para com a degustação.

Então sem mais delongas vamos às apresentações do vinho! O vinho que degustei e gostei veio da região espanhola de Valdepeñas, que fica em Castilla La Mancha, e se chama Anciano Reserva da casta Tempranillo (100%) da safra 2011. Para não perder o costume vamos de história e falar de Valdepeñas, em Castilla La Mancha.

Valdepeñas


A D.O. Valdepeñas fica ao sul de Castilla La Mancha no centro da Espanha. Trata-se de uma região muito propícia para o cultivo da vinha, com um clima continental de baixo índice pluviométrico, e que registra temperaturas extremas, com máximas que superam os 40°C, e mínimas que podem ser inferiores a -10°C.

Os solos, pobres em matéria orgânica e de baixa fertilidade, obrigam as raízes das videiras a se desenvolverem, a se aprofundarem e a se fortalecerem. Nesse cenário, cultivam-se uvas que alcançam boa maturação, e que são capazes de produzir vinhos muito estruturados, complexos, aromáticos e de coloração muito profunda.

Anualmente, são produzidos cerca de 57 milhões de litros de vinho rotulados com a denominação Valdepeñas, sendo que quase 40% da produção são destinadas à exportação da Espanha para outros países.

A grande maioria dos vinhos de Valdepeñas, cerca de 77% deles, são tintos. Os brancos representam cerca de 18%, e os rosés de Valdepeñas, tradicionalmente famosos, representam apenas 5%.

A notoriedade de Valdepeñas encontra sua origem em vinhos rosés do passado, que foram lentamente dando lugar a tintos elegantes, sempre aveludados e frutados, que podem ser jovens ou envelhecidos em barris de carvalho.

A variedade mais importante de Valdepeñas é sem dúvida, a Tempranillo, que também é conhecida nessa região como Cencibel. Outras uvas autorizadas para cultivo em Valdepeñas são as tintas Garnacha, Cabernet Sauvignon, Merlot, Syrah e Petit Verdot, além das brancas Airén, Macabeo, Chardonnay, Sauvignon Blanc, Moscatel de Grano Menudo e Verdejo.

Denominação de Origem e história

A Denominação de Origem Valdepeñas nasceu em 1932 conforme consta do Estatuto do Vinho, a produção de vinho na região remonta ao século V aC, como comprovam os estudos científicos do sítio ibérico "Cerro de las Cabezas" localizado geograficamente dentro da área que hoje é a sua área de produção.

Foi em 1968 que a Denominação de Origem Valdepeñas foi dotada do seu primeiro regulamento, que durou até 2009, altura em que se constituiu como Associação Interprofissional, criando o quadro de trabalho entre produtores e adegas, pela qualidade diferenciada no processo de viticultura e a produção e engarrafamento dos seus vinhos.

Apesar de ser mundialmente reconhecida como "Denominação de Origem Valdepeñas", sua área de produção inclui dez municípios: Valdepeñas, Alcubillas, Moral de Calatrava, San Carlos del Valle, Santa Cruz de Mudela, Torrenueva, parte do distrito Torre de Juan Abad, Granátula de Calatrava, Alhambra e Montiel.


E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um vermelho rubi com certa transparência, mas também traz alguma intensidade, quase opaco e halos “atijolados”, com lágrimas finas e abundantes e lentas que desenham a borda do copo.

No nariz inicialmente se mostrou tímido nos aromas, mas logo apresentou notas de frutas pretas maduras com destaque para ameixa e cereja, os 12 meses em barricas de carvalho trouxe notas amadeiradas, um discreto toque de torrefação, café, tabaco, especiarias, baunilha e caramelo.

Na boca o tempo, os seus doze anos de garrafa personificaram em um vinho elegante e macio, taninos sedosos, finos e amáveis, porém surpreende pela acidez vivaz, altiva. As notas frutadas replicam no paladar e em sinergia com o carvalho que traz o aporte de características como baunilha, terra molhada, madeira, além de um final de média persistência com um retrogosto frutado.

Aos 12 se mostrou vivo e pleno, mas elegante. O tempo lhe foi gentil. Surpreendeu pela acidez vivaz e intensa, as notas frutadas evidentes. Pouco denotou a idade do vinho, apenas a sua tonalidade granada, os halos “atijolados” que deu um caráter lindo ao aspecto visual com um vermelho rubi que embora tenha se revelado intenso, mostrou também alguma transparência. Um Tempranillo sedoso, macio e saboroso. Enfim, mais uma vez a linha “Anciano” não decepcionou. Tem 13% de teor alcoólico.

Algumas curiosidades sobre a linha Anciano:

A história dos rótulos da Anciano começou quando Guy Anderson, enólogo do Reino Unido, decidiu explorar outros países para produção de seus vinhos e, assim, conheceu a capital Lisboa e Douro, em Portugal e logo depois a Espanha. Sua energia criativa e paixão casaram com a experiência da vinícola Casa Santos Lima em Portugal.

Na Espanha desbravou os solos de regiões emblemáticas como Rioja e outras regiões em ascensão, um tanto desconhecida no mundo, como Valdepeñas, por exemplo. Esta última região, traz um clima quente que favorece a produção de vinhos potentes e expressivos. E assim nasceu, sob a consultoria do “Master of Wine” (título que apenas pouco mais de 300 pessoas no mundo possuem) chamado Norrel Robertson.

Sobre a Vinícola Anciano:

Anciano é uma vinícola fundada a princípio no início do século XX por Don Juan Sánchez, um fazendeiro que decidiu construir uma adega para elaborar seu próprio vinho ao invés de vender suas uvas para outras pessoas.

Localizada no coração de La-Mancha, a Anciano desfruta dessa forma do solo especial de Valdepeñas para a produção dos vinhos. Valdepeñas significa, a saber, “vale das pedras” devido ao solo especial formado por pequenas e grandes pedras.

Estas pedras não apenas absorvem o calor do sol durante o dia e o libera à noite, mas também permitem que o calcário do solo absorva a água necessária para regar os vinhedos durante ao verão de calor intenso de La-Mancha. Ou seja, o local possui as condições perfeitas para o nascimento de grandes rótulos.

Posteriormente, a vinícola foi adquirida e hoje faz parte do grupo Guy Anderson Wines, um grupo multinacional criado pelo enólogo Guy Anderson.

Sobre a Bodegas Navalón:

A Bodegas Navalón está rodeada pelos antigos vinhedos de DO Valdepeñas no coração da Espanha. A bodega é a paixão da mesma família local há várias gerações. Foi originalmente fundada no início do século XX por Don Juan Sánchez, um proprietário de terras que decidiu construir uma adega para fazer o seu próprio vinho, em vez de vender as suas uvas a terceiros.

Valdepeñas significa “Vale das Rochas”, referindo-se ao solo especial, salpicado de seixos e pedras maiores. Essas pedras absorvem os raios do sol durante o dia e liberam seu calor durante a noite.

No subsolo profundo, camadas de giz e argila retêm água, vital para refrescar as vinhas durante o intenso calor do verão. A uma altitude média de 2.300 pés acima do nível do mar, os vinhedos se beneficiam de um clima continental seco com mais de 2.500 horas de sol e pouca chuva, resultando em um microclima ideal para o cultivo de videiras.

A enóloga, María José Marchante, é guiada pelo mestre do vinho, Norrel Robertson, na produção de vinhos varietalmente corretos, frescos, frutados e com valor incrível.

Mais informações acesse:

https://www.ancianowine.com/

https://www.guyandersonwines.co.uk/

Referências:

“Vinos Valdepeñas”: https://vinosvaldepenas.com/denominacion/

“Bardot Vinhos e Artes”: http://www.bardotvinhoseartes.com.br/2015/11/denominacion-de-origen-valdepenas.html

“Gastronominho”: https://gastronominho.com.br/noticias/2018/08/evino-anuncia-chegada-de-novos-rotulos-da-linha-anciano/