quarta-feira, 15 de março de 2023

Canceddi Vermentino 2019

 

Mais um vinho da série: castas novas para mim! Como é bom ter centenas e centenas de castas que ainda não degustamos catalogadas e à disposição para todos os enófilos que decide, claro, garimpar, buscar novas experiências, novas sensações.

E essa casta de hoje, tipicamente italiana, eu já conhecia, porém nunca tinha tido a oportunidade de comprar, de degustar e um dos motivos, é claro, era o valor. Alguns “exemplares” são muito caros, talvez pela baixa oferta de alguns rótulos em nosso mercado de vinhos, um tanto quanto “escravizado” pelas castas de sempre.

Mas ela é muito popular na Itália, sobretudo no noroeste deste país, bem amplamente cultivada em algumas regiões vinícolas ao redor do Mediterrâneo, sul da França e nas ilhas vizinhas de Sardenha e Córsega.

Não precisamos dizer que ela deve trazer algo de “solar”, um frescor, leveza, mas que certamente goza de alguma personalidade. Falo da Vermentino. Não precisa dizer do quão animado e ansioso para degusta-la!

E o rótulo de hoje teve um estímulo extra para a compra. Não foi apenas pelo fato de ser de uma casta que nunca degustei, o que já é bem relevante, mas também por ter degustado um vinho de outra casta que, até então, era nova para mim: a Grilo, igualmente típica da Itália, de regiões igualmente quentes.

Quando eu degustei o Canceddi Grillo da safra 2019 e vi o vinho, do mesmo produtor e da mesma linha de rótulos, da casta Vermentino, não hesitei muito e decidi compra-lo, sem contar também que o valor estava deveras atraente.

Então sem mais delongas vamos às apresentações que já foram feitas, basicamente. O vinho que degustei e gostei veio da ótima e querida região da Sicília, no sul da Itália, e se chama Canceddi Vermentino da safra 2019. E para variar vamos de história, vamos de Sicília e da cepa Vermentino. 

Sicília

A Sicília é a maior ilha do Mediterrâneo. É uma ilha vulcânica repleta de praias lindas, paisagens espetaculares e uma arquitetura interessante. Fruto da mistura de civilizações que habitaram a ilha e da cálida hospitalidade de seu povo. A Passagem de diversos povos através durante séculos, a Sicília tornou-se um entreposto importante no Mediterrâneo. É um destino desejado para todo viajante. Mas a Sicília não é apenas conhecida pela exuberante natureza, mas também se destaca quando o assunto é vinho. E isso teve influências na sua cultura e, claro, no seu vinho.


Foram os fenícios que iniciaram o cultivo da videira e a elaboração do vinho na Sicilia, porém foram os gregos que introduziram as cepas de melhor qualidade. Alguns historiadores relatam que antigamente na região de Siracusa (província siciliana), havia um vinho chamado Pollios, em homenagem a Pollis de Agro (que foi um ditador nessa região), que se tornou famoso na Sicilia no século VIII-VII a.C.. 

Esse vinho era um varietal de Byblia, uva originária da área mais oriental do Mediterrâneo, dos montes de Biblini na Trácia (antiga região macedônica que hoje é dividida entre a Grécia, Turquia e Bulgária). O historiador Saverio Landolina Nava (1743-1814) relatou que o Moscato de Siracusa deriva desse vinho de Biblini, sendo classificado como o vinho mais antigo da Itália.

Já o vinho doce Malvasia delle Lipari (Denominação de Origem do norte da Sicilia) parece ter sua origem na época da colonização grega na Sicilia. Lipari é uma cidade que pertence ao arquipélago das ilhas Eólicas.

Durante o Império Romano, o também vinho doce Mamertino (outra Denominação de Origem) produzido no norte da Sicilia, era muito apreciado por muitos, inclusive por Júlio César e era exportado para Roma e África.

A viticultura na região sofreu uma grande redução com a queda do Império Romano, porém durante a dominação árabe foi introduzida a variedade de uva Moscatel de Alexandria na ilha Pantelleria, que mantém ainda hoje ali o nome árabe Zibibbo. Os árabes introduziram na Sicília suas técnicas de viticultura e também o processo de passificação das uvas.

No século XVIII a indústria enológica na Sicilia teve um grande avanço e começou a produzir o vinho de Marsala que conta atualmente com uma Denominação de Origem Protegida. Esse vinho se tornou conhecidíssimo no resto da Europa graças a um navegante e comerciante inglês chamado John Woodhouse, que ancorou sua embarcação no porto de Marsala para se proteger de uma tempestade. Foi quando provou o vinho local e se apaixonou, resolvendo levar alguns barris para a Inglaterra. O vinho de Marsala fez tanto sucesso por lá que Woodhouse começou a investir na Sicilia comprando vinhedos e construindo vinícolas para produzir vinho de Marsala, se tornando um empresário do setor vitivinícola de grande êxito.

Como na maioria dos vinhedos da Europa, a Phylloxera também atingiu a ilha Salinas, no norte da Sicilia, provocando uma devastação dos vinhedos que foram se recuperando gradativamente com a plantação de novos vinhedos e a criação em 1973 da Denominação de Origem Malvasia delle Lipari.

A região possui um clima e um solo que favorecem muito a viticultura e a elaboração de vinhos, sendo uma das principais atividades econômicas da ilha italiana. A topografia é variada, formada por colinas, montanhas, planícies e o majestoso vulcão Etna. Encontramos vinhedos por toda parte, que vão das colinas até a parte costeira.

Nas colinas os vinhedos são cultivados em terrazas que chegam inclusive a uma altitude de 1.300 metros, o que as videiras adoram, pois proporciona muita luminosidade e uma ótima drenagem. Encontramos vinhedos também na parte costeira da ilha.

O clima na Sicília é mediterrâneo, mais quente na área mais costeira e no interior da ilha é temperado e úmido, podendo ás vezes apresentar temperaturas bem elevadas por influência de ventos procedentes da África. Também possui uma quantidade grande de microclimas por causa da influência do mar. As chuvas são mais comuns durante o inverno com cerca de 600mm anuais. Os vinhedos sicilianos necessitam, portanto, serem regados.

O solo na ilha é muito variado e rico em nutrientes em razão das erupções vulcânicas do Etna. Encontramos solos arenosos, argilosos e de composição calcária. Em uma parte da ilha o solo é constituído de gneiss, que é um tipo de rocha metamórfica composta de granito. Em quase todas as localidades da Sicília se elaboram vinhos, e essas regiões vitivinícolas contam com várias DOC.

As principais castas tintas produzidas na Sicília são: Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, Syrah, Nerello Mascalese, Nerello Capuccio, Frappato, Sangiovese, Nero d’Avola e Pinot Nero. Já as brancas destacam-se: Grillo, Catarrato, Carricante, Inzolia, Moscato di Panteleria, Grecanico, Trebbiano Toscano, Malvasia, Chardonnay e Sauvignon Blanc.

Vermentino

A Vermentino é uma uva branca amplamente cultivada em diversas regiões vinícolas ao redor do Mediterrâneo, como no noroeste da Itália, sul da França e nas ilhas vizinhas de Sardenha e Córsega. A Vermentino é conhecida por diversos nomes, tais como Pigato, Favorita, Malvoisie de Corse e Rolle.

Não há consenso sobre a origem da Vermentino. De um lado, há quem acredite que ela seja originária do noroeste da Itália, possivelmente da Liguria, muito usada na elaboração dos vinhos brancos conhecidos como “Colli di Luni”, ou mesmo do Piemonte, onde é conhecida como Favorita. Por outro lado, há quem aposte que ela seja originária da Espanha, tendo chegado à Córsega na época em que a região era controlada pela Coroa espanhola.

Já em Bolgheri, região próxima a Toscana, a Vermentino produz alguns dos melhores e mais ricos vinhos italianos. Graças ao clima da Toscana, quente e com alta incidência solar, e às modernas técnicas de vinificação, essa variedade de uva dá origem a vinhos cuja complexidade aromática pode ser comparada aos elaborados com a casta Viognier.

Em outra região da Itália, na Sardenha, a uva Vermentino tornou-se ícone na produção de bons vinhos brancos. Na área, a variedade possui sua própria denominação regional, o Vermentino di Sardegna, e é utilizada na elaboração de um dos melhores vinhos italianos, o Vermentino di Gallura.

No sul da França, conhecida tradicionalmente como Rolle, a uva Vermentino foi autorizada na produção de vinhos AOC apenas nos últimos 20 anos. Anteriormente, a variedade era restrita na elaboração do Vin de Pays – IGP, em especial, os vinhos brancos Bellet, produzidos com, no mínimo, 60% da Vermentino.

Pequenos produtores nos Estados Unidos começaram a produzir vinhos Vermentino, em especial, na Califórnia. Entretanto, a variedade ainda não atingiu a popularidade desfrutada pela uva Chardonnay, Sauvignon Blanc e Pinot Grigio. O enorme prestígio das três variedades de uvas tem desempenhado um papel fundamental na crescente popularidade da casta Vermentino na Austrália, onde inúmeras adegas têm oferecido seus vinhos como uma alternativa refrescante para o dia a dia.

De forma geral, os vinhos produzidos com a Vermentino são bastante variados. Há os delicados e frescos, mas também os estruturados e potentes. Os aromas mais comuns são de pera, maçã, flores brancas, amêndoas, hortelã, erva-doce e tomilho. Aromas e sabores minerais aparecem frequentemente. Em boca, um leve amargor no final é característica marcante da casta.

Segundo dados da OIV, a área plantada de Vermentino ao redor do mundo, em 2015, era de 11.155 hectares. A grande maioria destes vinhedos (cerca de 98% da área plantada) situava-se na Itália e França. Na Itália eram 5.625 hectares (50,4%), enquanto a França contava então com 5.378 hectares (48,2%). Porém, por conta do acelerado crescimento dos vinhedos na França nos últimos cinco anos, sobretudo no Languedoc-Roussillon, a Itália deve perder a liderança quando da divulgação de estatísticas mais recentes. Na França existam cerca de 2.800 hectares de vinhedos de Vermentino em 1998, área que passou para mais de 6.300 hectares em 2018.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um lindo e reluzente amarelo ouro, um pouco mais para o claro, com discretas e rápidas lágrimas finas.

No nariz traz a sutileza e delicadeza do frescor e leveza, com aromas de frutas de polpa branca e cítricas com destaque para a maçã verde, abacaxi, pera, maracujá, com um toque floral agradável, como se estivéssemos a caminhar em um campo com flores brancas, além do herbáceo evidente, bem como a salinidade, a mineralidade.

Na boca é leve, fresco, refrescante, mas que goza de alguma personalidade, graças a uma intrigante untuosidade que o torna saboroso e volumoso no palato. Protagoniza, como no aspecto olfativo, as notas frutadas, cítricas e de polpa branca e também a salinidade, a mineralidade, com uma acidez instigante, média, que saliva, com um azedo gostoso, típico da casta e um final persistente.

É um prazer que não se cessa quando se degusta, pela primeira vez, vinhos cujas castas ou regiões não conhecia. E degustar uma casta pouquíssima conhecida em nossas terras, embora goze de popularidade em terras italianas, considero esse momento especial. Um vinho simples, com uma proposta direta, mas singular no seu momento em que envolve tantas gratas novidades. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Mandrarossa:

Criada em 1999 graças a um estudo que durou mais de 20 anos, que levou à seleção das melhores combinações variedade/terroir: os habitats ideais que permitem a cada casta expressar plenamente o seu potencial.

Depois de fundar a Marca, fruto de anos de estudos de mapeamento de solos, a pesquisa continuou a ser o fio condutor dos vinhos sicilianos inovadores. No território de Menfi, onde é criada a Mandrarossa, o comportamento de outras variedades foi monitorado em 5 campos experimentais. Intensas atividades de microvinificação foram realizadas levando à introdução de novos vinhos na linha de produtos ao longo do tempo, alguns dos quais únicos para o panorama siciliano.

A ambição de Mandrarossa é grande e, a partir de 2014, uma equipa internacional de enólogos, agrônomos e especialistas em terroir, lançou um importante estudo científico sobre os solos calcários, levando à produção de dois vinhos Contrada.

Sobre a Vinícola Settesoli:                                         

Cantine Settesoli é uma grande cooperativa vinícola siciliana que exporta um grande volume de vinhos de valor sob as classificações Sicilia DOC bem como Terre Siciliane IGT.

A empresa foi fundada em Menfi em 1958 por um grupo de agricultores no momento em que eclodia uma crise econômica na região. Settesoli agora tem mais de 2.000 viticultores membros, com vinhedos totalizando então cerca de 6.500 hectares.

A empresa inicialmente vendia apenas a granel, mas começou a engarrafar seus próprios vinhos em 1974. Settisoli começou a se concentrar em variedades locais como Grecanico, Inzolia e Nero d’Avola, e em seguida, em meados da década de 1980, começaram a plantar variedades importadas como Cabernet Sauvignon, Syrah, Sauvignon Blanc e Chardonnay.

Settesoli é a linha principal de vinhos varietais, enquanto o rótulo Mandrarossa é a camada superior. Inycon é, de fato, a marca exclusiva para exportação da empresa, lançada em 1999.

Mais informações acesse:

https://www.mandrarossa.it/en

https://www.cantinesettesoli.it/

Referências:

“Revista Sociedade de Mesa”: https://revista.sociedadedamesa.com.br/2016/04/sicilia/

“Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/290-sicilia-o-continente-do-vinho

“Vinhos e Castelos”: https://vinhosecastelos.com/vinhos-da-sicilia-italia/

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/vermentino

“Revista Sociedade de Mesa”: https://revista.sociedadedamesa.com.br/2022/02/uva-vermentino/

“Wine”: https://www.wine.com.br/winepedia/sommelier-wine/serie-uvas-vermentino/

“Wine Fun”: https://winefun.com.br/vermentino-conheca-uma-das-uvas-que-mais-vem-ganhando-espaco-na-europa/

 

 








sábado, 11 de março de 2023

Parole di Famiglia Tannat 2015

 

Me pego refletindo se ter essa preocupação de regiões, terroirs, de safras, de potencial de guarda, de países é válido, haja vista que teríamos que apenas nos permitir degustar. Mas até para a simples manifestação da degustação, para se ter o prazer ou a qualidade nesse simplório momento, vejo como necessário ter o mínimo entendimento desses, digamos, quesitos.

Quesitos esses que também podem formatar a nossa identificação com os vinhos que degustamos, isso, creio, seja o mais relevante. Até porque o aprendizado, o caminho a ser percorrido na estrada do vinho, passa por isso também.

Claro que tais entendimentos não precisam ser tão aprofundados, não há a necessidade de sermos catedráticos nesses assuntos, claro que se for de desejo o estudo pode ser vislumbrado, mas o mínimo pode ser entendido ou absorvido para melhorar, ainda mais, na qualidade do que inunda as nossas taças.

De algum tempo para cá tenho me enamorado, cada vez mais, pelos Tannats brasileiros! Claro que a referência da casta que temos é a uruguaia, com os seus parrudos rótulos, dada a devida proposta de vinho, claro, mas assim são conhecidos: vinhos austeros, intensos, marcantes e complexos.

O que percebo, observo a cada experiência sensorial dos nossos Tannats é a fruta protagonizando, em sinergia com a madeira, com vinhos mais saborosos, intensos também, mas não tão parrudos, encorpados como os tradicionais uruguaios.

diferença, as especificidades de cada um, de cada terroir. Uma não supera a outra, a diferença, repito, é a grande maravilha do vasto e ainda inexplorado universo do vinho e é por isso que ele é encantador. E isso é fomentado pela busca do conhecimento.

E uma região brasileira vem despontando, além da tipicidade, como também na expertise no cultivo e produção da Tannat, é a Campanha Gaúcha. A campanha sempre foi o “patinho feio” da gigante vizinha Serra Gaúcha, ficando sempre no esquecimento.

Porém hoje a Campanha se tornou ou vem se tornando uma grata realidade, entregando tipicidade e se igualando, em qualidade atestada, na produção de grandes vinhos e a Tannat vem se destacando. E graças a Campanha os Tannats brasileiros invadiram a minha taça e adega e de lá teimam em sair.

E o vinho de hoje traz uma novidade: o produtor. Não o conhecia e achei a sua linha de rótulos com valores extremamente atrativas, nos provando, ainda que de forma escassa, de que podemos encontrar vinhos, com propostas mais “audaciosas”, ou seja, complexas, com preços verdadeiramente atraentes, embora isso tudo seja um tanto quanto subjetivo.

E ele já está a pelo menos 3 anos na adega, evoluindo e hoje, aos 8 anos de garrafa, me parece no auge, no ápice para uma boa e satisfatória degustação. E é chegada a hora da degustação! Sem mais delongas o vinho que degustei e gostei teve as uvas oriundas da Campanha Gaúcha e vinificado na Serra Gaúcha e se chama Parole di Famiglia, um 100% Tannat da safra 2015. E para não perder o costume, claro, vamos às histórias, vamos de Campanha Gaúcha.

Campanha Gaúcha

Entre o encontro de rios como Rio Ibicuí e o Rio Quaraí, forma-se o do Rio Uruguai, divisa entre o Brasil, Argentina e Uruguai. Parte da Campanha Gaúcha também recebe corpo hídrico subterrâneo, o Aquífero Guarani representa a segunda maior fonte de água doce subterrânea do planeta, dele estando 157.600 km2 no Rio grande do Sul.

A Campanha Gaúcha se espalha também pelo Uruguai e pela Argentina garante uma cumplicidade com os “hermanos” do outro lado do Rio Uruguai. Os costumes se assemelham e os elementos locais emprestam rusticidade original: o cabo de osso das facas, o couro nos tapetes, a tesoura de tosquia que ganha novas utilidades.

No verão, entre os meses de dezembro a fevereiro, os dias ficam com iluminação solar extensa, contendo praticamente 15 horas diárias de insolação, o que colabora para a rápida maturação das uvas e também ajuda a garantir uma elevada concentração de açúcar, fundamental para a produção de vinhos finos de alta qualidade, complexos e intensos.

As condições climáticas são melhores que as da Serra Gaúcha e tem-se avançado na produção de uvas europeias e vinhos de qualidade. Com o bom clima local, o investimento em tecnologia e a vontade das empresas, a região hoje já produz vinhos de grande qualidade que vêm surpreendendo a vinicultura brasileira.

A mais de 150 anos, antes mesmo da abolição da escravatura, a fronteira Oeste do Rio Grande do Sul já produzia vinhos de mesa que eram exportados para os países do Prata (Uruguai, Argentina e Paraguai) e vendidos no Brasil.

A primeira vinícola registrada do Brasil ficava na Campanha Gaúcha. Com paredes de barro e telhado de palha, fundada por José Marimon, a vinícola J. Marimon & Filhos iniciou o plantio de seus vinhedos em 1882, na Quinta do Seival, onde hoje fica o município de Candiota.

E o mais interessante é que, desde o início da elaboração de vinhos na região, os vinhos da Campanha Gaúcha comprovam sua qualidade recebendo medalha de ouro, conforme um artigo de fevereiro de 1923, do extinto jornal Correio do Sul de Bagé.

IP (Indicação de Procedência) da Campanha Gaúcha

Em 2020 a Campanha Gaúcha ganhou reconhecimento de Indicação de Procedência (IP) para seus vinhos. Aprovada pelo Inpi na modalidade de I.P., a designação vem sendo utilizado pelas vinícolas da região a partir do ano de 2020 para os vinhos finos, tranquilos e espumantes, em garrafa.

A Indicação Geográfica (IG) foi o resultado de mais de 5 anos de pesquisa, discussões e estudos de um grupo interdisciplinar coordenados pela Embrapa Uva e Vinhos do Rio Grande do Sul.

Além disso, os vinhos devem ser elaborados a partir das 36 variedades de vitis viníferas permitidas pelo regulamento, plantadas em sistema de condução em espaldeira e respeitando os limites máximos de produtividade por hectare e os padrões de qualidade das frutas que seguirão para a vinificação. Finalmente, os vinhos precisam ser avaliados e aprovados sensorialmente às cegas por uma comissão de especialistas.

Esta é uma delimitação localizada no bioma Pampa do estado do Rio Grande do Sul, região vitivinícola que começou a se fortalecer na década de 1980, ganhando novo impulso nos anos 2000, com o crescimento do número de produtores de uva e de vinho, expandindo a atividade para diversos municípios da região.

A área geográfica delimitada totaliza 44.365 km2. A IP abrange, em todo ou em parte, 14 municípios da região: Aceguá, Alegrete, Bagé, Barra do Quaraí, Candiota, Dom Pedrito, Hulha Negra, Itaqui, Lavras do Sul, Maçambará, Quaraí, Rosário do Sul, Santana do Livramento e Uruguaiana.

A Campanha Gaúcha está situada entre os paralelos 29º e 31º Sul e trata-se de uma zona ensolarada, com as temperaturas mais elevadas e o menor volume de chuvas entre as regiões produtoras do Sul do Brasil.

Ao mesmo tempo, as parreiras – predominantemente plantadas em sistema de espaldeira – foram estabelecidas em grandes extensões de planície (altitude entre 100 e 360 m.) com encostas de baixa declividade, o que favorece a mecanização das colheitas, reduz os custos e potencializa a escala produtiva. Uma característica importante é o solo basáltico e arenoso, com boa drenagem, que somada aos outros fatores propicia a ótima qualidade das uvas.

Esta foi uma conquista para a região, que pode refletir em uma garantia da qualidade de seus produtos. Fica a torcida para que, após muito tempo de consistência de qualidade e de uma real identificação da tipicidade, a Campanha Gaúcha possa ter o reconhecimento de uma Denominação de Origem (DO). Leia aqui na íntegra o regulamento de uso da IP da Campanha Gaúcha. 

A Campanha e o Tannat

A Campanha Gaúcha faz fronteira com o Uruguai e parte da Argentina. Tão grande é a região que foi dividida em duas. A Campanha oriental, na fronteira com a Argentina e a Campanha propriamente dita. Região das grandes fazendas, do gaúcho estilizado, aquele que é conhecido por “Centauro dos Pampas”.

Por falar em pampa esta é uma região pastoril de planícies com leves ondulações e possui, talvez o melhor pasto do mundo. Espalha-se por parte da Argentina e todo o Uruguai e certamente dali sai a melhor carne do mundo.

Mas além das pastagens únicas no mundo a Campanha tem um clima muito demarcado, pode-se até considerá-lo um clima continental. Muito frio no inverno e no verão muito sol e calor de dia, a noite refrescando nos locais mais altos. O solo, muitas vezes rochoso, são ideais para o plantio da uva.

E da uva para o vinho a Campanha vem produzindo e cultivando grandes cepas para a produção de vinhos e isso não é novidade para ninguém, sobretudo aos apreciadores da bebida que são informados e se interessam pelos detalhes que o circunda. Mas a que se destaca é a Tannat!

Convém destacar que a Campanha está no mesmo paralelo de grandes produtores mundiais de vinho como Mendoza, Santiago, Cidade do Cabo e Austrália. O que, dá indícios de boas condições de produção de vinhos de qualidade, por certo aliado a outros quesitos.

De gata borralheira na França, mais precisamente em Madiran, onde nasceu a Tannat, para atingir o status de rainha no Uruguai onde adaptou-se muito bem. O clima mais ensolarado e quente no verão em comparação com o de Canelones nos arrabaldes de Montevidéu colabora para um Tannat mais frutado e aromático. Menos rústico e rascante como é o tradicional desta casta bastante tânica em sua origem.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um rubi intenso, quase escuro, com halos acastanhados, discretamente atijolados, denotando os seus oito anos de garrafa ou pelo fato de ter passado por barricas de carvalho ou pelos dois motivos, com lágrimas finas, lentas e em abundância.

No nariz traz complexidade, porém é elegante e equilibrado, com as notas frutadas ainda perceptíveis, apesar de uma idade razoavelmente avançada, frutas negras e vermelhas maduras, com destaque para jabuticaba, cereja, ameixa preta, morango e framboesa, uma verdadeira geleia de frutas. É amadeirado e sente-se a baunilha, o couro, tabaco, especiarias, como canela, um fundo de torrefação, de chocolate.

Na boca entrega também a complexidade, juntamente com o médio corpo, mas é redondo, macio, afinal o tempo em garrafa lhe foi gentil, com as notas frutadas em plena sinergia com a madeira, também evidente, os 16 meses em barricas de carvalho denuncia isso, a madeira é bem calibrada e perceptível, mas bem integrada. É um vinho volumoso, cheio, alcoólico, tem toques de mentolado, caramelo, taninos presentes, porém dóceis, domados, com uma acidez correta e final persistente e retrogosto que lembra café, torrefação. 

Aqui vale uma curiosidade sobre o nome do vinho, “Parole di Famiglia”:

A linha “Parole di Famiglia” foi idealizada em homenagem ao fundador da Vinícola Don Affonso e tinha como princípio que a palavra dita valia muito e costumava sempre dizer que “Le parole vale píu que la escrita”, ou seja: “As palavras valem muito mais que o escrito”. Em sua homenagem a linha “Parole di Famiglia” enaltece a tradição italiana desde 1870 onde a palavra “Parole” traz consigo os traços da imigração e os valores de perseverança, força e honra da família De Gasperín.

André Gasperín, enólogo.


A Campanha Gaúcha se revela gigante, importante para a vitivinicultura brasileira. O Tannat encontrou o solo ideal para apresentar a sua tipicidade, a realidade do seu clima, da sua cultura, da sua tipicidade. Um Tannat frutado, vivaz, de marcante personalidade, equilibrado, taninos evidentes, mas domados, acidez que aguça a degustação. Um vinho com a cara do Brasil, com os aspectos mais exemplares e fiéis da Campanha Gaúcha. Grande e espetacular vinho com uma audaciosa relação qualidade X preço. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Don Affonso:

A família Gasperin traz consigo uma história de muito trabalho e dedicação pelo cultivo da uva, traz no sangue a trajetória de luta e perseverança, bem como a religiosidade e a valorização dos princípios de vida ligados a família e ao trabalho na terra. Dessa forma, Affonso Gasperin produzia seus vinhos para consumo próprio a partir do cultivo das suas uvas e, o excedente, vendia aos seus amigos.

O vinho era apreciado por todos e assim, a pedido dos seus amigos e consumidores, Affonso constituiu oficialmente a Vinícola Gasperin, em 13 de julho de 1982. Desde sua fundação teve como princípios fundamentais a busca pela qualidade dos seus produtos e o cuidado e carinho com a produção de uvas e elaboração de vinhos, sucos e espumantes.

Hoje dirigida pelo destacado enólogo André Gasperin e equipe vem ganhando destaque internacional na conquista de premiações em tradicionais e renomados concursos de vinhos pelo mundo.

Mais informações acesse:

https://www.donaffonso.com.br/















sexta-feira, 10 de março de 2023

Colinas de Ançã bruto Bical e Arinto

 

Quando nos lembramos de espumante é impossível não referenciá-los aos nossos rótulos brasileiros! Inegavelmente os nossos espumantes está em um patamar altíssimo, sem discussões ufanistas.

E além da qualidade, da tipicidade dos nossos espumantes, a melhor harmonização com os espumantes é o nosso clima, quente, tropical, é o clima de calor humano que somente o povo brasileiro possui.

Assim é o espumante brasileiro! Um dos melhores borbulhas do mundo, extremamente solar e descontraído, mesmo que, alguns rótulos, algumas propostas descortinem vinhos complexos e de grande longevidade.

E falo com todo o devido respeito aos nossos “concorrentes”, tais como o Prosecco italiano, os cavas espanhóis, o famosíssimo Champagne etc. Coloco, sem medo de errar, que os nossos espumantes podem figurar entre esses ícones aqui mencionados.

Mas já que falei dos grandes borbulhantes espalhados pelo globo terrestre, hoje, pelo que denuncia, não degustarei um espumante brasileiro, falei deles apenas por uma referência, por serem tão especiais, mas de um espumante lusitano! Sim, um espumante português!

Não podemos nos deixar enganar e pensar que não tenha grandes espumantes produzidos na terrinha, pois tem sim, e os grandiosos vêm da bela e necessária Bairrada, que fica no coração de Portugal.

A terra da casta Baga, que também desfila em protagonismos em alguns espumantes feitos por lá, fazem bebidas borbulhantes extremamente vibrantes, de grande acidez e de marcante personalidade. Lembro-me do meu primeiro espumante bairradino que degustei com 7 anos de garrafa, sim, 7 anos!

E estava vivo, pleno e intenso em seus aromas e sabores. Falo do Bom Caminho Baga 2013 e que, depois de algum tempo, de um longo tempo, finalmente irei degustar o meu segundo espumante português, mas dessa vez, oriundo do Beira Atlântico, região muito próxima à Bairrada.

E não é apenas isso que será especial na minha degustação, mas também pelo fato de ser um rótulo da maravilhosa Adega de Cantanhede que dispensa comentários, pois foi com ela que descobri os rótulos da Bairrada e do Beira Atlântico a valores justos e acessíveis.

Então vamos às apresentações! O vinho que degustei e gostei veio, claro, do Beira Atlântico e se chama Colinas de Ançã, um espumante brut, feito no método champenoise ou tradicional, composto pelas castas, tipicamente regionais, Bical (60%) e Arinto (40%).

Antes de falar, com requintes de detalhes, do vinho, para não perder o costume falemos um pouco de história e de alguns conceitos que, de alguma forma, pode nos descortinar algumas propostas e percepções do vinho degustado em questão. Falemos do método tradicional e da região do Beira Atlântico.

O método natural do espumante ou champenoise

O método tradicional consiste principalmente em uma dupla fermentação do mosto, a primeira em grandes recipientes, e a segunda em garrafas, dentro das caves ou adegas, fazendo o processo de remuage (rotação das garrafas) regularmente.

A primeira fermentação, chamada fermentação alcoólica, é idêntica à que ocorre com os vinhos comuns, ou seja, os “não efervescentes”, ditos tranquilos. O vinho básico costuma ser vinificado em tanques de concreto, aço inoxidável ou madeira, mas alguns produtores preferem fazer a vinificação em barricas de carvalho (com muitos anos de uso).

No momento de engarrafar, a esse vinho básico, é acrescentado um composto denominado liqueur de tirage, uma solução de vinho adoçado com açúcar (de cana ou beterraba) ou suco de uva concentrado (aproximada 24 g/l de açúcar) e leveduras selecionadas, para iniciar a segunda fermentação.

Esse composto, dentro garrafa, provoca o início da segunda fermentação. É ela que gera as bolhas de dióxido de carbono, fruto da transformação química dos açúcares em álcool mais gás carbônico.

A garrafa então é tapada com uma cápsula metálica parecida com as de cerveja. Contudo, nessa segunda fermentação, ocorre o surgimento de borras que deverão ser retiradas do vinho. Assim, o próximo passo é conduzir o vinho para o período de descanso em garrafa, que pode ser de pouco mais de um ano chegando até 10 anos, ou mais. Normalmente os Champagne safrados, ou millésimes, permanecem mais tempo em garrafa antes de serem lançados ao mercado.

Para retirar as borras, faz-se a remuage. O processo consiste em dispor as garrafas em cavaletes especiais, ditos pupitres, com o gargalo para baixo. A cada dia, as garrafas são giradas em um quarto de volta. Isso tem como objetivo descolar as borras (resíduos) da parede da garrafa e fazê-las descer para o gargalo. Em muitos lugares, essa prática é feita ainda manualmente, enquanto os grandes produtores já o fazem com equipamentos automatizados, como os giropalets.

Finalmente, para retirar o depósito de borra, é realizada a degola (dégorgement, em francês). Para tal, congela-se o gargalo em um preparado de salmoura a 25ºC negativos. Nesse momento, a cápsula é retirada e a borra é expulsa pelo gás sob pressão. A pequena perda de volume de vinho é substituída por uma mistura de vinho e açúcar, chamado licor ou vinho de dosagem, também conhecido, principalmente na França, como liqueur d’expédition.

Normalmente, esse licor é um composto de vinho (de reserva), açúcar e SO2, como antioxidante e antimicrobiano. Sua função, além de recompor o volume da garrafa, é definir o estilo do espumante conforme a concentração de açúcar. Essa quantidade de açúcar presente no licor vai determinar se o espumante de método champenoise será Brut Nature (menos de 3 g/l), Extra-Brut (até 6 g/l), Brut (menos de 12 g/l), Extra-Sec (entre 12 e 17 g/l), Sec (entre 17 e 32 g/l), Demi Sec (entre 32 e 50 g/l) ou Doux (mais de 50 g/l). E há também alguns produtores que não utilizam o licor de expedição.

Nos últimos anos, muitas vinícolas passaram a produzir espumantes do tipo Nature. Essa bebida nobre extrai o sabor mais puro das uvas e do processo de fermentação, criando um resultado surpreendente.

Nature

O Nature passa pelo método tradicional de produção, conhecido como champenoise. Contudo, a diferença é que a categoria não passa pela etapa de correção de sabor – momento em que um licor de expedição, feito a partir do próprio vinho e do açúcar, é adicionado na bebida.

O interessante desse espumante é que ele geralmente vai ter uma qualidade maior de ingredientes. Como não passa pela correção de sabor, é importante que seja feito com perfeição.

Para ganhar o título de Nature, a bebida precisa conter até 3 gramas de açúcar por litro, enquanto o Brut pode conter entre 6 e 15 gramas por litro. Por isso, o sabor do espumante é mais seco. O tempo de maturação do vinho também é maior, o que resulta em um volume de boca considerável. Ou seja: é mais cremoso do que os outros estilos. Normalmente as variedades utilizadas para esse tipo de espumante é a Chardonnay e a Pinot Noir.

Beira Atlântico

A produção de vinho na região remonta ao tempo dos romanos, fazendo disso prova os diversos lagares talhados nas rochas graníticas (lagares antropomórficos), onde na época o vinho era produzido. Já nos reinados de D. João I e de D. João III, respectivamente, foram tomadas medidas de proteção para os vinhos desta área do país, dadas a sua qualidade e importância social e econômica.

A tradição destes vinhos remonta ao reinado de D. Afonso Henriques, que autorizou a plantação das vinhas na região, com a condição de ser dada uma quarta parte do vinho produzido. Estendendo-se desde o Minho ate a Alta Estremadura, e uma região de agricultura predominantemente intensiva e multicultural, de pequena propriedade, aonde a vinha ocupa um lugar de destaque e a qualidade dos seus vinhos justifica o reconhecimento da DOC "Bairrada".

Beira Atlântico

Os solos são de diferentes épocas geológicas, predominando os terrenos pobres que variam de arenosos a argilosos, encontrando-se também, com frequência, franco-arenosos. A vinha e cultivada predominantemente em solos de natureza argilosa e argilo-calcaria. Os Invernos são longos e frescos e os Verões quentes, amenizados por ventos de Oeste e de Noroeste, que com maior frequenta e intensidade se faz sentir nas regiões mais próximas do mar.

A região da Bairrada situa-se entre Agueda e Coimbra, delimitada a Norte pelo rio Vouga, a Sul pelo rio Mondego, a Leste pelas serras do Caramulo e Bucaco e a Oeste pelo oceano Atlântico. E uma região de orografia maioritariamente plana, com vinhas que raramente ultrapassam os 120 metros de altitude, que, devido a sua planura e a proximidade do oceano, goza de um clima temperado por uma fortíssima influencia atlântica, com chuvas abundantes e temperaturas médias comedidas. Os solos dividem-se preponderantemente entre os terrenos argilo-calcários e as longas faixas arenosas, consagrando estilos bem diversos consoantes à predominância de cada elemento.

Integrada numa faixa litoral submetida a uma fortíssima densidade populacional, a propriedade rural encontra-se dividida em milhares de pequenas parcelas, com dimensões medias de exploração que raramente ultrapassam um hectare de vinha, favorecendo a presença de grandes adegas cooperativas e de grandes empresas vinificadoras, a par de um conjunto de produtores engarrafadores que muito dignificam a região.

As fronteiras oficiais da Bairrada foram estabelecidas em 1867, por Antônio Augusto de Aguiar, tendo sido das primeiras regiões nacionais a adoptar e a explorar os vinhos espumantes, uma vez que na região, o clima fresco, úmido e de forte ascendência marítima favorece a sua elaboração, oferecendo uvas de baixa graduação alcoólica e acidez elevada, condição indispensável para a elaboração dos vinhos espumantes.

Integrada numa faixa litoral submetida a uma fortíssima densidade populacional, a propriedade rural encontra-se dividida em milhares de pequenas parcelas, com dimensões medias de exploração que raramente ultrapassam um hectare de vinha, favorecendo a presença de grandes adegas cooperativas e de grandes empresas vinificadoras, a par de um conjunto de produtores engarrafadores que muito dignificam a região.

As fronteiras oficiais da Bairrada foram estabelecidas em 1867, por Antônio Augusto de Aguiar, tendo sido das primeiras regiões nacionais a adoptar e a explorar os vinhos espumantes, uma vez que na região, o clima fresco, úmido e de forte ascendência marítima favorece a sua elaboração, oferecendo uvas de baixa graduação alcoólica e acidez elevada, condição indispensável para a elaboração dos vinhos espumantes.

E agora finalmente o vinho!

Na taça tem um amarelo palha, bem claro e brilhante com reflexos esverdeados, com perlages finas, abundantes e constantes.

No nariz aromas pronunciados, intensos de frutas frescas com destaque para maçã, limão, pêssego, tangerina, além de frutos secos como amêndoas e avelãs, com um discreto, mas intrigante, tostado, algo de pão, de panificação, com toques minerais e um floral que denuncia o frescor e a jovialidade do vinho.

Na boca é seco, fresco, untuoso, com as notas de brioche, de pão tostado, graças aos nove meses que ficou na cave, protagonizando juntamente com o mineral dominando todo o palato, além, é claro, do frutado, as frutas de cítricas e de polpa branca, com uma acidez vibrante, intensa e suculenta que saliva a boca, com um final cheio e persistente.

Aqui vale uma curiosidade, mesclada a história das regiões da Bairrada e do Beira Atlântico que a Adega de Cantanhede faz questão de estampar nos seus rótulos. Por que o nome do espumante é “Colinas de Ançã”?

Ançã é uma Vila Histórica da Bairrada - Região Demarcada de Viticultura no centro de Portugal, perto do Oceano Atlântico. A sua história tem uma forte relação a alguns dos mais antigos e icónicos monumentos em Portugal, uma vez que a maioria foi construída com um tipo especial de calcário proveniente das terras de Ançã. Este calcário faz parte do solo que, misturado com barros, é um dos elementos mais distintivos do terroir da Bairrada, terra de vinhos de vincado carácter.

E com esse apelo regional que é muito vívido nos rótulos portugueses enalteço também a tipicidade desse espumante que entrega vivacidade, frescor, mas personalidade, notas frutadas, juntamente com uma acidez envolvente, instigante, com um corte delicioso de Bical e Arinto mostrando que os lusitanos produzem bons espumantes. Ponto para a Adega de Cantanhede! Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a Adega de Cantanhede:

Fundada em 1954 por um conjunto de 100 viticultores, a Adega de Cantanhede conta hoje com 500 viticultores associados ativos e uma produção anual de 6 a 7 milhões de quilos de uva, constituindo-se como o principal produtor da Região Demarcada da Bairrada, representando cerca de 40% da produção global da região. Hoje certifica cerca de 80% da sua produção, sendo líder destacado nas vendas de vinhos DOC Bairrada DOC e Beira Atlântico IGP.

Reconhecendo a enorme competitividade existente no mercado nacional e internacional, a evolução qualitativa dos seus vinhos é o resultado da mais moderna tecnologia, com foco na qualidade e segurança alimentar (Adega Certificada pela norma ISO 9001:2015, e mais recentemente pela IFS Food 6.1.), mas também da promoção das castas Portuguesas, que sempre guiou a sua estratégia, particularmente das variedades tradicionais da Bairrada – Baga, Bical e Maria Gomes – mas também de outras castas.

Portuguesas que encontram na Bairrada um Terroir de eleição, como sejam a Touriga Nacional, Aragonez e Arinto, pois acredita que no inequívoco potencial de diferenciação e singularidade que este património confere aos seus vinhos.

O seu portfólio inclui uma ampla gama de produtos. Em tinto, branco e rose os seus vinhos vão desde os vinhos de mesa até vinhos Premium a que acresce uma vasta gama de espumantes produzidos exclusivamente pelo Método Clássico, bem como Aguardentes e Vinhos Fortificados. É um portfólio que, graças à sua diversidade e versatilidade, é capaz de atender a diferentes segmentos de mercado, com diferentes graus de exigência em qualidade, que resulta na presença dos seus produtos em mais de 20 mercados.

A sua notoriedade enquanto produtor, bem como dos seus vinhos e das suas marcas, vem sendo confirmada e sustentadamente reforçada pelos prémios que vem acumulando no seu palmarés, o que resulta em mais de 750 distinções atribuídas nos mais prestigiados concursos nacionais e internacionais, com destaque para Mundus Vini – Alemanha, Concours Mondial de Bruxelles, Selections Mondiales du Vins - Canada, Effervescents du Monde – França, Berliner Wein Trophy – Alemanha e Japan Wine Challenge, sendo por diversas ocasiões o único produtor da Bairrada com vinhos premiados nesses concursos e, por isso, hoje um dos mais galardoados produtores da região. Em 2015 integrou o TOP 100 dos Melhores Produtores Mundiais, pela WAWWJ – Associação Mundial dos Jornalistas e Críticos de Vinho e Bebidas Espirituosas. Nos últimos 8 anos foi eleita “Melhor Adega Cooperativa” em Portugal por 3 vezes pela imprensa especializada.

Mais informações acesse:

https://www.cantanhede.com/

Referências:

Revista Adega: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/champenoise-tradicional-ou-classico-os-metodos-de-fazer-champagne_11987.html

Gaúcha ZH: https://gauchazh.clicrbs.com.br/destemperados/bebidas/noticia/2017/10/nature-um-espumante-puro-ckboenhcu004dmmslca2k2gtc.html

“IVV”: https://www.ivv.gov.pt/np4/503/

 

 








terça-feira, 7 de março de 2023

Ernst Loosen Dornfelder 2020

 

Quando comecei a degustar os meus primeiros vinhos, quando entrei neste vasto e apaixonante universo dos vinhos, alguns rótulos, algumas regiões, algumas castas, alguns países eu jamais pensei que fosse ter acesso.

Talvez pelo preço, talvez pela pouca oferta à época, os motivos podem ser inúmeros, mas sempre olhei para alguns rótulos com essa distância, com esses entraves, esses obstáculos.

E situações como essas fomenta, creio, a tão temida e famigerada “zona de conforto”, porque nos rendemos aos rótulos, aos produtores e as castas que tem maior incidência no mercado de vinhos. Evidente que há uma infinidade de rótulos para degustarmos e que teríamos de viver duas ou mais vidas para degustar todos, mas a zona de conforto existe e é sedutora.

De um tempo para cá, e não tem tanto tempo assim, descobri os vinhos alemães! Lembro-me que a cerca de 20, 23 anos, quando estava engatinhando nas minhas degustações pouco se tinha oferta de rótulos germânicos, na realidade não tínhamos tanto e-commerce como nos dias de hoje.

Atualmente com esse boom de sites especializados em venda de vinhos as ofertas, sobretudo de rótulos alemães, estão aparecendo com força! E são vinhos de todas as propostas, das mais simples aos mais complexos em sua característica.

O meu primeiro vinho foi degustado em 2020, há apenas três anos atrás, da casta emblemática daquele país, a Riesling, que se chamava Rebgarten da safra 2018. Foi em um dia muito agradável na casa de um nobre amigo e confrade que me recebeu e nos brindou com um belo e surpreendente Riesling alemão.

Outros foram sendo degustados, a Alemanha enfim estava, mesmo que de forma vagarosa, em termos quantitativos, sendo conhecida e a cada rótulo degustado era uma maravilhosa experiência!

Tão relevante e especial que algumas castas que nunca degustei estão abrilhantando a minha humilde e simplória adega! É o caso da Dornfelder. Nunca tinha ouvido falar dela! Claro que, quando vi sendo ofertada em um site de vendas de vinhos famoso, decidi adquirir e estava em um valor muito atrativo.

A minha curiosidade é tamanha que decidi não esperar muito tempo e degustar o quanto antes. E o momento, finalmente, chegou! A degustação não poderia mais esperar. Então sem mais delongas vamos às apresentações! O vinho que degustei e gostei veio da famosa região alemã de Pfalz e se chama Ernst Loosen da casta Dornfelder e a safra é 2020. E lembrar que tive uma ótima experiência anterior com esse mesmo produtor, mas com o Pinot Noir, o Ernst Loosen Pinot Noir 2017. E Para não perder o costume vamos de histórias! Vamos de Pfalz e Dornfelder.

Pfalz

Localizada no sudoeste da Alemanha e fazendo fronteira com a Alsácia, na França, Pfalz é famosa por seus vinhos. É a segunda maior das 13 regiões vinícolas do país, com mais de três mil famílias de vinicultores dedicadas à produção de vinho. Região estreita de 22.000ha, o Platinado se estende a oeste do Reno, por cerca de 80 km seguindo um eixo norte-sul. Divide-se em três setores: Mittelhaardt (Haardt média), Deutschen Weinstraße (Rota Alemã do Vinho) e Südliche Weinstrasse (Rota Sul do Vinho).

Os melhores vinhedos ladeiam as encostas a leste da Floresta do Platinado. A região é famosa pela qualidade de seus vinhos brancos, particularmente por seus Rieslings, vinhos de caráter, minerais, geralmente encorpados, mas também muito finos. A produção dos vinhos tintos é muito limitada, mas sua qualidade é geralmente excelente.

Pfalz

A região vinícola do Palatinado, denominada oficialmente de Pfalz, pode ser descoberta da melhor maneira pela Rota Alemã do Vinho (Deutschen Weinstraße). Essa rota turística de vinhos, a mais antiga do gênero no mundo, liga diversas cidades produtores de vinho, de Bockenheim, ao norte, a Schweigen, na fronteira com a França. A rota permite conhecer de maneira agradável a região vinícola entre a floresta Pfälzerwald e o Reno.

Pfalz possui uma grande variedade de solos: arenito (na maior parte da região), calcário erodido, ardósia, rocha basáltica e loess (sedimento fértil de cor amarela que só existe em algumas partes da Europa e da China), entre outros - o que permite o cultivo de amplo sortimento de castas de uvas tintas e brancas. Comparado a outras regiões alemãs, o clima de Pfalz é mais quente, porém ameno. Não há invernos rigorosos e verões de altíssimas temperaturas. A chuva acontece na medida certa e tudo isto beneficia o cultivo das uvas, influenciando diretamente na qualidade destas.

Em Pfalz são cultivadas 45 castas de uva branca e 22 de uva tinta. Aproximadamente 25% dos vinhedos do local são cultivados com a variedade Riesling, por isso, Pfalz é considerada a maior produtora destas uvas em todo o mundo. Entretanto, 40% dos vinhedos são de frutas tintas, e a região é a maior produtora de vinhos tintos do país. Além da Riesling, as uvas brancas Gewürztraminer e Scheurebe são destaque na região. Entre as tintas cultivadas em Pfalz temos Dornfelder, Portugieser, Spätburgunder (Pinot Noir) e Regent, além das mundialmente conhecidas Cabernet Sauvignon, Merlot, Tempranillo e Syrah. Em Pfalz a Pinot Noir dá os melhores resultados dentre as regiões alemãs.

O medo do desconhecido é o principal empecilho do vinho alemão. Devido aos conceitos, às expressões e ao idioma, o país possui um dos rótulos mais difíceis do mundo para compreender. Esse conteúdo vai além da safra, região de origem, teor alcoólico, uva e o nome do produtor, pois trazem dados como categoria de qualidade, número do teste de controle de qualidade, tipo e estilo do vinho. Aliás, existem alguns dados que são obrigatórios e outros que são apenas opcionais.

O vinho alemão passa por um rigoroso teste de controle de qualidade (A.P.NR.), desenvolvido pela Sociedade Alemã de Agricultura (DLG). Além disso, seus exemplares são divididos em categorias de qualidade. Essa categorização depende de dois fatores: maturidade e qualidade das uvas, e a especificidade e tipicidade da região. As categorias de qualidade podem ser consideradas um sinônimo das Denominações de Origem, por também conter regras e normas específicas como área delimitada, uvas autorizadas, entre outros.

Pirâmide de qualidade dos vinhos alemães

Deutscher Wein: São os vinhos mais simples de todas as categorias. Os vinhos podem ser produzidos com uvas colhidas em vinhedos de todo o território alemão.

Landwein: Assim como a Deutscher Wein, também possui vinhos simples, quando relacionado aos de outras categorias. Pode ser comparado aos IGP’s de outros países europeus. 85% das uvas devem ser provenientes de vinhedos de regiões reconhecidas pela categoria.

Qualitätswein bestimmter Anbaugebiet (QbA): É considerada a categoria dominante no país. As uvas precisam ser autorizadas e atingir um grau mínimo exigido de maturação. As uvas devem ser permitidas pela categoria e provenientes de uma das treze regiões vitícolas específicas. Além disso, o nome da região precisa estar estampado no rótulo. Os rótulos podem conter termos que indicam o nível de doçura do vinho como:

Trocken: vinho seco.

Halbtrocken: vinho meio-seco ou ligeiramente doce.

Feinherb: um termo não oficial para descrever vinhos semelhantes ao Halbtrocken.

Liebliche: vinho doce.

Em setembro de 1994, foi permitida a criação de uma subcategoria QbA, a Qualitätswein garantierten Ursprungs (QGU). Comparada a uma Denominação de Origem Controlada e Garantida, a QGU abrange uma região, vinha ou aldeia específica, que expressa além de alta qualidade, tipicidade. Nessa categoria, os vinhos passam por rigorosas análises sensoriais e analíticas.

Landwein: Assim como a Deutscher Wein, também possui vinhos simples, quando relacionado aos de outras categorias. Pode ser comparado aos IGP’s de outros países europeus. 85% das uvas devem ser provenientes de vinhedos de regiões reconhecidas pela categoria.

Qualitätswein bestimmter Anbaugebiet (QbA): É considerada a categoria dominante no país. As uvas precisam ser autorizadas e atingir um grau mínimo exigido de maturação. As uvas devem ser permitidas pela categoria e provenientes de uma das treze regiões vitícolas específicas. Além disso, o nome da região precisa estar estampado no rótulo. Os rótulos podem conter termos que indicam o nível de doçura do vinho como:

Trocken: vinho seco.

Halbtrocken: vinho meio-seco ou ligeiramente doce.

Feinherb: um termo não oficial para descrever vinhos semelhantes ao Halbtrocken.

Liebliche: vinho doce.

Em setembro de 1994, foi permitida a criação de uma subcategoria QbA, a Qualitätswein garantierten Ursprungs (QGU). Comparada a uma Denominação de Origem Controlada e Garantida, a QGU abrange uma região, vinha ou aldeia específica, que expressa além de alta qualidade, tipicidade. Nessa categoria, os vinhos passam por rigorosas análises sensoriais e analíticas.

Qualitätswein mit Prädikat (QmP) ou Prädikatswein

As uvas devem ser permitidas pela categoria e provenientes de uma das treze regiões vitícolas específicas. Além disso, o nome da região precisa estar estampado no rótulo. As uvas devem atingir um grau específico de maturação, açúcar e teor alcoólico natural. Os rótulos precisam estampar alguns atributos específicos referentes ao nível de maturação das uvas e ao método de colheita:

Kabinett: colheita realizada com uvas completamente maduras. Gera vinhos mais leves e com baixo teor alcoólico.

Spätlese: colheita tardia, ou seja, as uvas são colhidas em um período posterior ao considerado ideal. Gera vinhos concentrados e com intenso aroma, mas não especificamente com o paladar adocicado.

Auslese: uvas colhidas muito maduras, mas apenas os cachos selecionados. Gera vinhos nobres, com intensidade tanto no aroma quanto no paladar. A doçura no paladar não é uma regra.

Eiswein: uvas sobreamadurecidas como a Beerenauslese, porém colhidas e prensadas congeladas. Gera vinhos nobres e singulares, com alta concentração.

Trockenbeerenauslese (TBA): uvas sobreamadurecidas, infectadas por Botrytis cinerea, que secam por um determinado tempo adquirindo características próximas a de uvas passas. Gera vinhos doces, ricos e nobres.

Beerenauslese (BA): uvas sobreamadurecidas, infectadas por Botrytis cinerea, com seleção criteriosa dos bagos. Essas uvas são colhidas apenas em safras excepcionais. Gera vinhos longevos, ricos e doces.

Dornfelder

Na década de 1950, August Herold cruzou duas variedades alemãs que foram criadas por ele, a Helfensteiner e a Heroldrebe, no centro de pesquisa em Baden-Württemberg, no sul da Alemanha. O cruzamento consiste em fornecer o material genético de diferentes variedades de vinha. Para conseguir um indivíduo que mostre as características que se pretende obter diante da seleção de diferentes fenótipos.

August Herold

A nova variedade não recebeu o nome do criador, porque um dos pais da Dornfelder já tinha parte do nome de Herold, então Immanuel August Ludwig Dornfeld, um dos fundadores da escola de viticultura Weinsberg, foi homenageado.

São obtidos indivíduos resistentes às condições climáticas e edafológicas do lugar onde se pretende implantar. Além de terem maior resistência a doenças e pragas. Do mesmo modo, são obtidos vinhos com as características das variedades com as quais foram realizados os cruzamentos.

Estas características supõem uma melhora substancial das variedades que os genes forneceram para conseguir o cruzamento. Não se trata de manipulação genética, mas do cruzamento de indivíduos diferentes, buscando uma seleção ou cruzamento que, entre outros valores, ajude-nos a minimizar o uso de produtos fitosanitários no cultivo do vinhedo.

A Dornfelder é uma uva tinta que possui casca grossa, fator que impulsiona a resistência à Botrytis cinerea e também é uma ótima parceira para blends, por cooperar com cor profunda. É vigorosa e possui alta produtividade, e essas características fizeram os produtores ficarem atentos ao rendimento que deve ser controlado, para resultar em uvas com boa concentração de frutas, principalmente nos vinhos destinados ao amadurecimento em barricas de carvalho.

Esta variedade é pouco exigente quanto a solos, adapta-se bem em terrenos arenosos e pedregosos. Com esta variedade, são produzidos sobretudo vinhos tintos secos e também semi-secos com algo de açúcar residual.

Estes vinhos podem ser vendidos como jovens. Onde subtraiam os intensos aromas de frutas, tais como cereja, amora e sabugueiro, ainda que seja habitual a crianza, em barris ou tinas de carvalho. Desta maneira, os vinhos criados adquirem complexidade, destacando mais os taninos e a estrutura, reduzindo os aromas a frutas. Na maioria dos casos, trata-se de vinhos saborosos, suaves e harmônicos.

A Dornfelder é fácil de identificar pela sua cor intensa e escura. Primeiramente, estes são vinhos de consumo local, que tendem a ser bebidos, em sua maioria, na mesma região onde são produzidos. Visando uma quantidade muito pequena à exportação. As características destes vinhos são grande potencial aromático e suavidade. São redondos, expressivos e encorpados.

A Alemanha autorizou a utilização oficial da Dornfelder em 1980 e prosperou muito bem durante os cinco ou seis anos seguintes, cuja área plantada cresceu exorbitantemente. Para se ter uma ideia, a área plantada passou de 124 hectares existentes no fim da década de 1970, para 7.649 em 2017, fazendo com que a Dornfelder ultrapassasse muitas castas no ranking das mais cultivadas, ficando apenas atrás da Spätburgunder (mais conhecida como Pinot Noir, com 11767 ha), entre as tintas cultivadas em solo alemão. Um dos motivos do sucesso pode ser devido ao fato de antes dela, os tintos locais terem a coloração pouco expressiva. Tanto é que no início a Dornfelder era mais utilizada nos blends justamente para corroborar com a cor do vinho e, atualmente, muitos varietais são encontrados.

As principais regiões produtoras são Rheinhessen e Pfalz, onde os vinhos elaborados com Dornfelder costumam ter cor intensa, são macios e possuem alta acidez. Alguns outros países confiam na potencialidade da casta, como a Suíça, a Inglaterra, a República Tcheca e, mais recentemente, a Austrália. Esses países estão enxergando na Dornfelder uma bela alternativa à uva Pinot Noir, para produzir vinhos tintos com uvas cultivadas em solos de climas frios.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um rubi profundo, escuro, com tonalidades arroxeadas nas bordas, com lágrimas finas, ocasionais e rápidas.

No nariz trazem aromas intensos de frutas vermelhas frescas, com destaque para cerejas, ameixas, framboesas e morango, com notas herbáceas, ervas, diria, com toques de especiarias e minerais.

Na boca é leve, fresco, elegante, com as notas frutadas protagonizando, como no aspecto olfativo, em uma efusiva e interessante geleia de frutas, com um residual de açúcar razoável, mas que não implica na qualidade e equilíbrio do vinho, com álcool integrado, taninos delicados, acidez destacada e saborosa, com um final persistente, contínuo e de retrogosto frutado.

Um cantinho desse planeta fértil em produção vitivinícola vem, aos poucos, com paciência e deleite, sendo explorado. Cada rótulo, cada casta, cada região vem demonstrando, de forma significativa seu potencial, sua magnífica história. É um grande prazer degustar, sentir os aromas, a experiência sensorial a toda prova, adicionando, claro, o fator histórico, da cultura dessas regiões que são definitivas para as degustações e todas as impressões. Que grata surpresa descobrir a Dornfelder e que grata surpresa descobrir, a cada rótulo, a Alemanha e as suas grandes regiões produtoras de vinho! E que possamos continuar a desbravá-la! Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Ernst Loosen:

Ernst Loosen nasceu em uma grande tradição de vinificação alemã e, dessa forma, a propriedade no rio Mosel é familiar há mais de 200 anos. Em 1988, sendo assim, Ernst assumiu a frente dos negócios. Ele concluiu os estudos na renomada escola de vinificação da Alemanha em Geisenheim e, em seguida, lançou uma revisão autodirigida dos grandes vinhos do mundo.

Ele viajou para a Áustria, Borgonha e Alsácia, até a Califórnia. O que ele descobriu, portanto foi que todos compartilham uma dedicação à produção de vinhos intensos e concentrados que proclamam corajosamente sua herança.

Eles também têm uma visão mundana que lhes permite manter o respeito pela tradição, enquanto a temperam com a razão. Isso lhes dá a liberdade de reconhecer então que nem todas as tradições merecem ser observadas obstinadamente e permitem o uso criterioso das técnicas modernas de vinificação quando isso melhora a qualidade.

É essa visão de mercado global à qual Ernst atribui com entusiasmo, uma filosofia que equilibra enfim o antigo com o novo. É uma maneira de pensar que lhe permitiu ir além do fácil e familiar, do experimentado e não necessariamente tão verdadeiro, para assim fazer vinhos que se destacam como verdadeiramente distintos e de classe mundial.

Desde que Ernst Loosen assumiu o controle da propriedade, reconheceu muito potencial que não estava sendo utilizado. Seu pai e seu avô estavam mais envolvidos na política do que na produção de vinho, então nada havia sido feito para manter as vinhas ou atualizar o porão.

Ironicamente, Ernst viu que o desinteresse de seus antepassados ​​havia lhe dado exatamente o que ele precisava para produzir o tipo de vinho rico e corajoso que ele prefere.

Como seus antecessores não estavam dispostos a investir em novas vinhas para o que era essencialmente um hobby em família, Ernst herdou, pois, um bom número de vinhas com mais de 100 anos – vinhas perfeitamente adequadas ao estilo de baixo rendimento e altamente concentrado que ele queria produzir.

E a propriedade não sucumbiu às tendências dos anos 60 e 70, no momento em que muitos produtores estavam replantando suas vinhas Riesling com variedades de menor qualidade e alto rendimento. A negligência de seu pai na adega também acabou trabalhando sem dúvida alguma a favor de Ernst.

Sem nenhum equipamento de alta tecnologia para tentá-los, Ernst e seu mestre de adega não tiveram escolha a não ser fazer vinhos de maneira minimalista, com muito pouco manuseio e fermentações longas e lentas.

Desde que Ernst assumiu, os seus vinhos receberam inúmeros prêmios e críticas brilhantes na imprensa. Assim sendo, a propriedade tornou-se membro da prestigiada VDP, a associação alemã das melhores vinícolas do país, e foi nomeada uma das 10 melhores propriedades da Alemanha por quase todas as publicações de vinhos do mundo.

Ernst foi nomeado então o enólogo do ano na Alemanha na edição de 2001 do Weinguide Deutschland da Gault Millau e homem do ano da revista Decanter em 2005. Assim como foi o enólogo branco do ano do International WINE Challenge em 2005.

Anteriormente, em 1995, Ernst e seu irmão mais novo, Thomas, lançaram um segundo rótulo, Riesling, chamado “Dr. L”. Contratando produtores locais, eles podem obter frutas de alta qualidade para fazer um vinho não-embalado e com sabor muito característico da região.

Dr. L Riesling exibe os sabores de ardósia limpas e limonadas do Mosel Médio a um preço muito acessível. É uma introdução maravilhosa ao alemão Riesling e aos vinhos da propriedade Dr. Loosen.

“Ernst Loosen inseriu o vinho alemão no cenário mundial do século XXI” (Jancis Robinson).