quinta-feira, 30 de março de 2023

Portada Winemaker's Selection tinto 2015

 

Será possível degustar um vinho com muitas premiações a um custo atraente? Parece uma combinação um tanto quanto difícil, mas sim, é possível. Não que o quesito “prêmio” seja um determinante de qualidade, mas quando um vinho ostenta muitos prêmios e entrega uma ótima relação custo X qualidade, é de no mínimo olhar com mais carinho para o rótulo.

Quando o degustei, há algum tempo atrás, confesso que fui atraído pela sua fama e venda expressiva em um e-commerce popular de vinhos no Brasil e por ostentar tantos prêmios e medalhas conquistados nesses concursos espalhados pelo mundo, sejam eles famosos ou nem tanto.

E quando esteve em uma promoção avassaladora, cerca de pouco mais de R$ 34,00 à época, hoje o vinho mais que dobrou de valor, dada a sua fama), não hesitei muito e comprei. Comprei e não demorei tanto para degusta-lo. Estava curioso para degustar e vislumbrar a sua pretensa qualidade quando aliada aos seus inúmeros prêmios.

Outro detalhe que me chamou e muito a atenção foi o seu blend. Nunca tinha visto ou melhor, degustado, um vinho com um corte com tantas castas, cerca de sete uvas. Imagine a suposta complexidade! Confesso não ser muito fã de vinhos com blends de tantas cepas, mas, como comprar vinhos é sempre assumir riscos, lá fui eu.

Mas tinha um ponto, pelo menos para mim, positivo nisso tudo: a região! Adoro Lisboa e os seus vinhos banhados pelo Atlântico! O vento, o sol, tudo conspira a favor para vinhos frutados, solares e agradáveis.

Então vamos às apresentações! O vinho que degustei e gostei veio da região de Lisboa e se chama Portada Winemaker’s Selection composto pelas castas Tinta Roriz, Alicante Bouschet, Cabernet Sauvignon, Caladoc, Castelão, Pinot Noir e Touriga Nacional e a safra é 2015. Para variar vamos às histórias, vamos de Lisboa!

Lisboa

A costa de Portugal é muito privilegiada para a produção vitivinícola graças à sua posição em relação ao Oceano Atlântico, à incidência de ventos, ao solo e ao relevo que constituem o local.

Entre as principais áreas produtoras podemos citar a região dos vinhos de Lisboa, antigamente conhecida como Estremadura, famosa tanto por tintos encorpados como por brancos leves e aromáticos.

Lisboa

Tem mais de 30 hectares de cultivo com mais de 9 mil aptas à produção de Vinho Regional de Lisboa e Vinho com Denominação de Origem Controlada. O nome passou em 2009 para Lisboa de forma a diferenciar da região de mesmo nome na Espanha, também produtora de vinhos.

O litoral da IGP Lisboa corre para o sul de Beiras a partir da capital de Portugal, onde o rio Tejo encontra o Oceano Atlântico. Suas características geográficas proporcionam certa complexidade à região, pois está situada climaticamente em zona de transição dos ventos úmidos e estios, com solo de idades variadas, secos, encostas e maciços montanhosos se contrapõem a várzeas e terras de aluvião.

Ainda sofre influência direta da capital do país localizada em um extremo da região. Uma de suas características determinantes é a grande variedade de solos, como terras de aluvião (sedimentar), calcário secundário, várzeas e maciços montanhosos, muitas vezes misturados. Cada um desses terrenos pode proporcionar às uvas características completamente diferentes.

Lisboa

Esta região possui boas condições para produzir vinhos de qualidade, todavia há cerca de quinze anos atrás a região de Lisboa era essencialmente conhecida por produzir vinho em elevada quantidade e de pouca qualidade. Assim, iniciou-se um processo de reestruturação nas vinhas e adegas.

Provavelmente a reestruturação mais importante realizou-se nas vinhas, uma vez que as novas castas plantadas foram escolhidas em função da sua produção em qualidade e não em quantidade. Hoje, os vinhos da Região de Lisboa são conhecidos pela sua boa relação qualidade/preço.

A região concentrou-se na plantação das mais nobres castas portuguesas e estrangeiras e em 1993 foi criada a categoria “Vinho Regional da Estremadura”, hoje "Vinho Regional Lisboa". A nova categoria incentivou os produtores a estudar as potencialidades de diferentes castas e, neste momento, a maior parte dos vinhos produzidos na região de Lisboa são regionais (a lei de vinhos DOC é muito restritiva na utilização de castas).

Entre as principais uvas cultivadas podemos citar as brancas Arinto, Fernão Pires (ambas naturais de Portugal) e Malvasia, e as tintas, Alicante Bouschet, Castelão, Touriga Nacional e Aragonez (como é chamada a Tempranillo na região).

Acredita-se que a elaboração de vinhos seja uma atividade desde o século 12, quando os monges da Ordem de Cister se estabeleceram na região. Uma de suas principais funções era justamente a produção da bebida para a celebração de missas.

A Região de Lisboa é constituída por nove Denominações de Origem: Colares, Carcavelos e Bucelas (na zona sul, próximo de Lisboa), Alenquer, Arruda, Torres Vedras, Lourinhã e Óbidos (no centro da região) e Encostas d’Aire (a norte, junto à região das Beiras).

DO's

A Região de Lisboa é constituída por nove Denominações de Origem: Colares, Carcavelos e Bucelas (na zona sul, próximo de Lisboa), Alenquer, Arruda, Torres Vedras, Lourinhã e Óbidos (no centro da região) e Encostas d’Aire (a norte, junto à região das Beiras). 

As regiões de Colares, Carcavelos e Bucelas outrora muito importantes, hoje têm praticamente um interesse histórico. A proximidade da capital e a necessidade de urbanizar terrenos quase levaram à extinção das vinhas nestas Denominações de Origem.

A Denominação de Origem de Bucelas apenas produz vinhos brancos e foi demarcada em 1911. Os seus vinhos, essencialmente elaborados a partir da casta Arinto, foram muito apreciados no estrangeiro, especialmente pela corte inglesa. Os vinhos brancos de Bucelas apresentam acidez equilibrada, aromas florais e são capazes de conservar as suas qualidades durante anos.

Colares é uma Denominação de Origem que se situa na zona sul da região de Lisboa. É muito próxima do mar e as suas vinhas são instaladas em solos calcários ou assentes em areia. Os vinhos são essencialmente elaborados a partir da casta Ramisco, todavia a produção desta região raramente atinge as 10 mil garrafas.

A zona central da região de Lisboa (Óbidos, Arruda, Torres Vedras e Alenquer) recebeu a maioria dos investimentos na região: procedeu-se à modernização das vinhas e apostou-se na plantação de novas castas.

Hoje em dia, os melhores vinhos DOC desta zona provêm de castas tintas como, por exemplo, a casta Castelão, a Aragonez (Tinta Roriz), a Touriga Nacional, a Tinta Miúda e a Trincadeira que por vezes são lotadas com a Alicante Bouschet, a Touriga Franca, a Cabernet Sauvignon e a Syrah, entre outras. Os vinhos brancos são normalmente elaborados com as castas Arinto, Fernão Pires, Seara-Nova e Vital, apesar da Chardonnay também ser cultivada em algumas zonas.

A região de Alenquer produz alguns dos mais prestigiados vinhos DOC da região de Lisboa (tintos e brancos). Nesta zona as vinhas são protegidas dos ventos atlânticos, favorecendo a maturação das uvas e a produção de vinhos mais concentrados. Noutras zonas da região de Lisboa, os vinhos tintos são aromáticos, elegantes, ricos em taninos e capazes de envelhecer alguns anos em garrafa. Os vinhos brancos caracterizam-se pela sua frescura e carácter citrino.

A maior Denominação de Origem da região, Encostas d’Aire, foi a última a sofrer as consequências da modernização. Apostou-se na plantação de novas castas como a Baga ou Castelão e castas brancas como Arinto, Malvasia, Fernão Pires, que partilham as terras com outras castas portuguesas e internacionais, como por exemplo, a Chardonnay, Cabernet Sauvignon, Aragonez, Touriga Nacional ou Trincadeira. O perfil dos vinhos começou a alterar-se: ganharam mais cor, corpo e intensidade.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um vermelho rubi com alguma intensidade, quase escuro, mas que revela halos violáceos que o torna razoavelmente brilhante, com lágrimas grossas, lentas e em média intensidade.

No nariz traz aromas flagrantes de de frutas vermelhas maduras, com destaque para cerejas e ameixas, com notas florais e de especiarias doces, com um discreto toque herbáceo, de ervas e pimentas.

Na boca é macio, equilibrado e leve, mas com um bom volume, graças ao seu protagonismo frutado, com um discreto e inusitado residual de açúcar, com taninos médios, já domados, com uma acidez correta, na medida que revela frescor com um final persistente e de retrogosto frutado.

Mais um lisboeta que se revelou solar, pleno, equilibrado e saboroso, mas com personalidade e logo alguma complexidade, sobretudo ao paladar, destacando-se nesse quesito. Definitivamente Lisboa ainda tem a capacidade, mesmo diante de um universo de rótulos que temos à disposição no mercado brasileiro de vinhos, de nos surpreender. Um vinho para o cotidiano, mas que, ao mesmo tempo, pode revelar grandes prazeres em uma gastronomia mais complexa. Um belo vinho! Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a DFJ Vinhos:

Fundado pela lenda do vinho José Neiva Correia em 1998, o DJF Vinhos está localizado na região de Lisboa, que se estende então para o norte ao longo da costa da capital Lisboa.

José Neiva Correia

Uma filosofia simples, mas com um objetivo ambicioso: transformar as ricas e diversas variedades portuguesas em vinhos de alta qualidade, acessíveis a todos.

Qualidade e valor ao dinheiro são, sem dúvida, fundamentais, e a propriedade até compra barris de carvalho usados e emprega duas tanoeiras para desmontá-los e despojá-los de novo na madeira nova – tão boa quanto nova por uma fração do preço! Mas isso sem deixar de prezar pelo mais rígido controle de qualidade.

O DJF inegavelmente não tem poucos fãs, com mais prêmios do que qualquer outro produtor português dos últimos 20 anos, incluindo o vinho tinto do ano na IWC e a duas vezes vinícola portuguesa do ano no New York Wine Competition desde 2012.

Mais informações acesse:

https://dfjvinhos.com/

Referências:

“Blog Divvino”: https://www.divvino.com.br/blog/vinho-lisboa/

“Olhar Turístico”: https://www.olharturistico.com.br/regiao-dos-vinhos-de-lisboa/

“Belle Cave”: https://www.bellecave.com.br/vinhos-de-lisboa-saiba-mais-sobre-essa-regiao-produtora

“Infovini”: http://www.infovini.com/pagina.php?codNode=3901

“Center Gourmet”: https://centergourmet.com.br/portada-winemakers-selection-2020/


Vinho degustado em: 2019







 




domingo, 26 de março de 2023

Varanda dos Reis Loureiro 2021

Eu costumo dizer, usando um famoso jargão popular, que dou meu reino por um vinho verde! Acredito que tudo que eu dizer por aqui serei redundante, tamanho é meu apreço pela região do Minho, pela famosa região portuguesa dos Vinhos Verdes.

Mas que seja, melhor “pecar” pelo excesso do que qualquer outra coisa. Não deixo de exaltar a região e seus rótulos não é por conta apenas de seu terroir especial, mas porque são vinhos que harmonizam muito bem com as características climáticas do Brasil, bem como as culturais também.

É uma região que definitivamente entrou na rota de nosso mercado e se tornou um dos mais consumidos de nosso país. Que sorte temos, pelo menos nesse quesito, de ser um grande exportador de vinhos do Velho Mundo.

De Velho Mundo os verdes nada têm. Eles têm a “cara”, o “DNA” do Brasil e de muitos outros países tropicais. São frescos, solares, frutados, cítricos, leves, agradáveis. São tradicionalmente saborosos. Claro que os produtores e a instituição que rege e regulamentam seus vinhos estão apostando em rótulos mais complexos e longevos, a Alvarinho tem essa vocação, mas o vinho verde que conhecemos é aquele que conheço desde sempre: leve, frutado e fresco!

E falando em desde sempre, já tem quase dez anos e falo por alto que degusto os bons e valoráveis vinhos verdes. Confesso, contudo, que não me recordo do meu primeiro rótulo, mas aposto firmemente que foi da Adega de Monção, grande produtor dessa região, com os seus vinhos mais simples, de entrada e rótulos intermediários.

Em 2019 com alguns anos degustando vinhos verdes, tive a alegria de participar de um evento em minha cidade voltado a esses rótulos chamado, com um título muito sugestivo e para lá de verdadeiro, “Vinho Verde Wine Experience”, na edição de 2020, está última em plena pandemia de Coronavírus.

Foi de fato uma experiência singular, pois tive a alegria de descobrir um universo vastíssimo de propostas de vinhos verdes, que vai dos tradicionais leves e frescos com os barricados e longevos.

E hoje é dia de degustação de vinho verde! E hoje é degustação da minha cepa preferida dessa região: Loureiro. Quando costumamos falar de Vinhos Verdes torna-se inevitável falar da mais famosa e bem quista das cepas daquela região, a Alvarinho.

Mas a Loureiro hoje é a artista do espetáculo da degustação e é de um produtor que aprendi a gostar, graças evidentemente aos seus rótulos simples, mas que expressa o terroir do Minho, a Vercoope.

O vinho que degustei e gostei veio da região dos Vinhos Verdes, do Minho, no norte de Portugal e se chama Varanda dos Reis da casta Loureiro e safra 2021. Como de costume vamos de história, vamos de Minho e Loureiro.

Vinhos Verdes: Entre-Douro-e-Minho

Desde o tempo da ocupação romana, antes da era cristã, a vinha era cultivada na margem sul do Rio Minho da forma característica e invulgar que se mantém até hoje. Não se trata de suposição. As referências à viticultura na região encontram-se nos escritos do naturalista Plínio, o Velho, em sua História Natural, e do filósofo Sêneca, em seu compêndio Questões Naturais. Está também documentada na legislação do Imperador Domiciano, entre 96 e 51 a.C.

Na Idade Média multiplicam-se as referências escritas ao cultivo das uvas e a elaboração de vinhos no noroeste lusitano, a partir das atividades nos mosteiros e do decisivo suporte da coroa portuguesa. O vinho entra definitivamente, entre os séculos XIII e XIV, nos hábitos das populações entre o Minho e o Douro ao mesmo tempo em que se dá a expansão econômica da região e a crescente circulação da moeda. Ainda que a exportação fosse pequena, os vinhos verdes foram, entre os vinhos portugueses, os primeiros conhecidos fora das fronteiras, particularmente na Inglaterra.

No início do século XX, ultrapassados os problemas das quebras de produção devido às pragas, foram tomadas medidas especiais para a colocação dos vinhos locais e escoamento dos excedentes. Tornava-se obrigatório, para isso, conservar a genuinidade e a qualidade dos produtos, assegurando-se seu valor do ponto de vista cultural e econômico.

O ano de 1908 é crítico na história portuguesa: o rei Carlos I e seu filho são assassinados, abrindo caminho para a República. Nesse mesmo ano, a região dos vinhos verdes é demarcada oficialmente e dividida em seis sub-regiões: Monção, Lima, Basto, Braga, Amarante e Penafiel. O limite a oeste é o Atlântico e, ao norte, a Espanha.

Minho, Vinhos Verdes

A Região Demarcada dos Vinhos Verdes está dividia em nove sub-regiões, cada uma com sua característica específica e suas castas de uva recomendadas:

Sub-região de Monção e Melgaço: utilizam-se apenas as castas Pedral (tinta) e Alvarinho (branca). É de lá o mais icônico Alvarinho, com notas cítricas misturadas com nuances de aromas florais e de frutos tropicais e paladar mineral.

Sub-região de Amarante: as castas brancas são Azal e Avesso e originam vinhos com aromas frutados e com o maior teor alcoólico da Região. Mas é dos tintos que vem a fama da sub-região. Elaborados com Amaral, Vinhão e Espadeiro, são vinhos com cor carregada e muito viva.

Sub-região de Baião: também tem muita notoriedade na produção dos brancos, a partir da casta Avesso.

Sub-região de Basto: a casta Azal atinge o seu máximo potencial e resultam vinhos com aroma de limão e maçã verde muito frescos, de alta acidez.

Sub-região do Cávado: têm vinhos brancos das castas Arinto, Loureiro e Trajadura com acidez moderada e notas de frutos cítricos e de pomar. Os vinhos tintos são na maioria cortes de Vinhão e Borraçal, cor intensa vermelho granada e aromas de frutos frescos.

Sub-região do Lima: Os vinhos brancos mais famosos são produzidos a partir da casta Loureiro. Os aromas são finos e elegantes e vão desde limão até rosas.

Sub-região de Paiva: produz alguns dos tintos mais prestigiados de toda a região a partir de Amaral e Vinhão.

Sub-região do Sousa: utiliza a casta Espadeiro, principalmente para a produção de rosés, sendo alguns dos mais destacados da Região.

Sub-região do Ave: Arinto e Loureiro Trajadura juntas compõem um blend perfeito com frescura viva e notas florais e de frutas cítricas.

Em 1926 foi criada a Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV), responsável por controlar e certificar os produtos elaborados na região. Quando a amostra apresentada à CVRVV não cumpre com os requisitos legais para ser certificada como DOC, o exemplar recebe o selo IG Minho.

Isso não quer dizer que o vinho é de pior qualidade, apenas que não se enquadra legalmente aos parâmetros pré-definidos. A IG Minho permite a utilização de maior variedade de castas, incluindo uvas internacionais, e regras distintas de vinificação.

Na maioria dos casos, os produtores não estão buscando necessariamente a tipicidade do vinho, mas a produção de vinhos inovadores. É comum encontrar vinhos IG Minho mais caros que os DOC Vinhos Verdes. Alguns produtores optam de forma intencional por rotular seus vinhos como Regional do Minho, até mesmo por questões de marketing e posicionamento de mercado.

A região dos Vinhos Verdes tem influência atlântica, reforçada pela orientação dos vales dos principais rios, que correndo de nascente para poente facilitam a penetração dos ventos marítimos. É observada elevada pluviosidade, temperatura amena, pequena amplitude térmica e solo majoritariamente granítico e localmente xistoso. Mas algumas regiões, por conta do microclima, apresentam características de terroir distintas. O que influencia diretamente no vinho.

Por que vinho verde?

Evidentemente, a cor do Vinho Verde não é verde. Então, por que esse nome? Duas são as versões mais conhecidas. O Vinho Verde leva esse nome porque as uvas da região, mesmo quando maduras, têm elevado teor de acidez, produzindo líquido cujas características lhes dão a aparência de vir de uvas colhidas antes da correta maturação.

A outra explicação diz que "Vinho Verde" significa "vinho de uma região verde", ou seja, a denominação deriva da belíssima paisagem local, onde o verde das terras cultivadas se perde no horizonte. 

Loureiro

A uva Loureiro é uma variedade branca amplamente cultivada no norte de Portugal, famosa por fazer parte na composição do tradicional Vinho Verde, elaborado na região do Minho. Além disso, a Loureiro também é cultivada em pequenas quantidades na Galícia, comunidade autônoma espanhola, ao noroeste da península ibérica.

Originária do Vale do rio Lima, a uva Loureiro é uma variedade extremamente fértil e com rendimentos generosos e que, apenas recentemente, assumiu o papel de uma casta nobre. Em regiões espanholas, essa variedade é conhecida também como Loureira, dando origem a excelentes vinhos brancos em Rías Baijas e, muitas vezes, sendo misturada com a casta mais tradicional e emblemática do país, a uva Albariño.

O nome Loureiro vem de “louros” que, no dialeto espanhol, é como eram chamadas às folhas da vinha por causa do seu perfume muito característico. Além das folhas, a flor da uva Loureiro tem também qualidades aromáticas marcantes por conta da sua personalidade floral, com ênfase nos aromas de flor de acácia, tília e laranjeira.

Os vinhos produzidos a partir da uva Loureiro apresentam excelentes aromas, notável acidez e baixos índices alcoólicos, visto que os varietais estão se tornando cada vez mais populares entre consumidores e críticos. No entanto, os famosos Vinhos Verdes, sempre foram historicamente elaborados com as uvas Trajadura e Arinto – conhecida também como Perdenã na região do Minho.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um lindo amarelo palha brilhante, reluzente com discretos tons esverdeados, uma efervescência, a famosa concentração de bolhas, que denotam acidez e consequentemente frescor ao vinho.

No nariz traz abundância de aromas de frutas tropicais, de polpas brancas e cítricas como abacaxi, maracujá, pera, maçã-verde, limão, lichia e algo de pêssego também. Entrega um floral bem delicado, algo de flor de laranjeira e a sensação de grama cortada.

Na boca é saboroso, leve, fresco, com o protagonismo das notas frutadas, como no aspecto olfativo, com aquela agulha que pinica a ponta da língua, mas discreto, sem incomodar, trazendo ainda uma exuberante acidez que definitivamente nos faz salivar a boca, estimulando uma taça cheia atrás da outra. Entrega, apesar da frescura, como dizem os portugueses, alguma untuosidade que se prolonga no final da boca, sendo persistente.

Perguntei ao produtor, por email, qual o motivo do nome “Varanda dos Reis”. E o Sr. José Castro, muito gentilmente, me respondeu que a Vercoope é a união de sete cooperativas da Região dos Vinhos Verdes, das vilas Amarabnte, Braga, Famalicão, Felgueiras, Guimarães, Paredes e Vale de Cambra. E essa linha de rótulos é uma homenagem à uma das “Varandas dos Reis”, que há também na Vila de Amarante, uma das adegas da Vercoope. Vinhos de excelente custo X benefício que dignificam a região dos Vinhos Verdes, da Região do Minho! Tem 11% de teor alcoólico.

Sobre a Vercoope:

A Vercoope é uma união de sete Cooperativas Vitivinícolas da Região dos Vinhos Verdes: Amarante, Braga, Guimarães, Famalicão, Felgueiras, Paredes e Vale de Cambra. Foi criada em 1964 com o objetivo de engarrafar, comercializar e distribuir o vinho produzido pelos viticultores destas cooperativas.

A união permitiu juntar a produção de 4 000 viticultores e lança-la no mercado, nacional e internacional, conseguindo mais qualidade, dimensão e competitividade. A qualidade dos vinhos é reconhecida e comprovada pelos consumidores, pelas vendas e pelas centenas de prémios conquistados em competições de vinhos e imprensa especializada.

A Vercoope produz anualmente 8 milhões de garrafas de Vinho Verde, sendo 30% para exportação. A Vercoope – União das Adegas Cooperativas da Região dos Vinhos Verdes, U.C.R.L, está inserida na Região Demarcada dos Vinhos Verdes, considerada a maior região demarcada de Portugal e uma das maiores do mundo, essencialmente devido à sua extensão e da área dos solos dedicados à cultura da vinha, a que acresce uma significativa percentagem de população diretamente dependente do setor vitivinícola e nomeadamente do Vinho Verde.

A Vercoope é uma entidade vocacionada para o engarrafamento, comercialização e distribuição de Vinho Verde e integra na sua estrutura as adegas cooperativas de Amarante, Braga, Guimarães, Famalicão, Felgueiras, Paredes e Vale de Cambra que representam no seu conjunto explorações vitícolas de cerca de 5000 viticultores.

Situada em Agrela, Santo-Tirso, numa estrutura moderna e tecnologicamente avançada, quer com meios técnicos quer com meios humanos, tem potenciado, desde a sua fundação, em 1964, o desenvolvimento da cultura do Vinho Verde, promovendo a sua divulgação, o seu consumo e a valorização do produtor.

Com mais de meio século de atividade a defender uma política de qualidade e prestígio para os seus vinhos, espumantes e aguardentes, ocupa por direito próprio, um lugar de destaque no sector, sendo muito naturalmente considerada uma instituição de referência no panorama regional e nacional.

Mais informações acesse:

https://vercoope.pt/

Referências:

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/vinho-verde-bebida-portuguesa-do-verao_8317.html

https://revistaadega.uol.com.br/artigo/a-paisagem-que-deu-nome-ao-vinho_2744.html

“Reserva 85”: https://reserva85.com.br/vinho/indicacao-geografica-ig-denominacao-de-origem-do/regioes-demarcadas-de-portugal/regiao-dos-vinhos-verdes/

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/loureiro








 

sábado, 25 de março de 2023

Nero Reale Primitivo di Manduria 2018

 

Alguns vinhos são considerados como clássicos! Tradição, respeitabilidade de seus terroirs, suas tipicidades, sua história, seu povo, sua cultura, enfim, muita coisa, creio, influencia decisivamente no sucesso de um rótulo, de uma região, de uma casta, tudo se complementa e forma um bloco de tradição e respeito comercial.

E definitivamente a Itália desponta nesse quesito, de clássicos, em qualidade e quantidade também, a começar por Barolo, Brunello di Montalcino, Amarone, Valpolicella Ripasso, entre tantos outros.

Temos outros rótulos que são emblemáticos em uma combinação entre casta e região. Sabe quando falamos de uma cepa, nos vêm, imediatamente, a região? Pois é, somente a Itália, diria também, claro, a França, consegue proporcionar isso.

E essa casta tem uma força e representatividade como pouco se vê por aí: falo da boa e velha Primitivo! E quando você fala dela, quem lembramos? Manduria. O sucesso é tamanho que quando falamos de um, falamos de outro como se fora uma coisa só.

Alguns rótulos dessa região italiana já se aproveitaram e se aproveitam, sob o aspecto comercial e estampa em seus rótulos o famoso “Primitivo di Manduria” porque exporta para o mundo esse nome pesado no universo da vitivinicultura.

E falando em sucesso, a Primitivo, também conhecida como Zinfandel nos Estados Unidos, também goza de muito sucesso na terra do Tio Sam, sendo talvez a mais popular cepa tinta daquele país, brilhando em regiões como a Califórnia, por exemplo. Vejam o tamanho da popularidade da Primitivo!

Apesar desse sucesso todo tenho que admitir que poucos rótulos degustei da casta, menos do que eu gostaria, mas, evidente, estou disposto a mudar esse cenário, com a “árdua” tarefa de degustar o máximo que puder. Então comecemos por um que adquiri em um site de renome especializado em vendas de vinhos e a um preço imbatível, principalmente pela proposta que o rótulo entrega. Claro que apareceu um cupom de desconto que não poderia deixar de usar.

O vinho repousou tranquilamente na adega por pelo menos, acho, dois anos e aos cinco anos de garrafa achei que estaria na plenitude de sua degustação. Então lá vamos nós com as devidas apresentações! O vinho que degustei e gostei veio de Manduria, na Itália e se chama Nero Reale da casta Primitivo safra 2018. E para não perder o costume vamos de história! Vamos de Puglia, Manduria e Primitivo.

Puglia: “A terra dos vinhos”

Essa região italiana está localizada no sul da Itália, região que comumente chamamos de salto da bota, banhada pelo Mar Adriático e o Mar Jônico. É uma região italiana com tradição vitivinícola onde parte da produção do vinho era destinado ao norte para ser mesclado aos vinhos e vermute dessas regiões, inclusive da França.


Puglia

A introdução de videiras com técnicas eficientes de cultivo foi feita na região de Puglia desde a época dos fenícios. Os gregos, no século VIII a.C., deram continuidade ao cultivo da videira, porém a época de ouro foi durante a conquista dos romanos, onde os vinhos de Puglia alcançaram ainda mais fama por sua qualidade. Com a queda do Império Romano houve um declínio da atividade vitivinícola, mas não com grande comprometimento.

No século XVII houve um resgate de variedades autóctones, porém houve no final do século XIX, um outro baque na história da viticultura de Puglia, quando a Filoxera atingiu os vinhedos europeus. Na sequência, a recuperação dos vinhedos em Puglia foi marcada pelas replantações, dando preferência à quantidade de produção, mas do que a qualidade.

Filoxera

Atualmente os produtores de Puglia vem desenvolvendo outras estratégias apostando por exemplo, na diminuição da produção e buscando uma maior qualidade para seus vinhos. Como fruto desse trabalho há atualmente disponíveis no mercado, vinhos com qualidade.

A topografia da região é praticamente plana com paisagens belíssimas dos vinhedos. O clima é tipicamente mediterrâneo, quente, com sol boa parte do ano, pouca chuva, com presença de uma brisa marítima dando condições muito boas para a viticultura. O solo é argiloso e calcário com presença de depósitos de ferro.

As principais regiões da Puglia são:

Foggia: ao norte, encontramos tanto vinhos brancos como tintos bem simples produzidos a partir de Sangiovese, Trebbiano, Montepulciano, Aglianico, Bombino Bianco e Nero, etc.

Bari e Taranto: localizada na zona mais central. Destacamos os vinhos brancos mais encorpados de Verdeca.

Península de Salento: região onde são elaborados os vinhos mais interesantes de Puglia. Nessa zona as videiras se beneficiam dos ventos frescos provenientes do Mar Adriático e Jônico. As principais uvas dessa região são a Negroamaro, Primitivo e Malvasia Nera.

As uvas são cultivadas em toda a região. Faz parte da tradição local e o clima quente da região ainda ajuda, principalmente, as uvas roxas, já que as uvas verdes precisam de uma temperatura mais baixa.

No entanto, a Puglia produz vinhos tintos, rosés e brancos, especialmente de uvas nativas, como Bombino Bianco, Malvasia Bianca, Verdeca, Fiano, Bianco d’Alessano, Moscato Bianco e Pampanuto. Embora, a Chardonnay não seja nativa é a uva branca mais cultivada na região. O Negroamaro é a principal uva do Salento. No entanto, o Salento é uma das zonas vinícolas italianas mais importantes para a produção dos vinhos rosés. O Primitivo é a uva dominante na Terra di Bari. Enquanto a Uva di Troia, também chamada Nero di Troia, é a uva mais comum no norte da Puglia.

Quanto às Denominações de Origem a Puglia tem:

• 28 DOC (Denominação de Origem);

• 4 DOCG (Denominação de Origem Controlada e Garantida);

• 6 IGP (Indicação Geográfica Protegida).

Manduria

Manduria é uma pequena comuna italiana, localizada na região da Puglia, ao sul do país, também descrito constantemente como o “calcanhar da bota” da Itália.

As belas praias de Puglia, fruto dos mares Jônico e Adriático, atraem diversos turistas de todo o mundo. A grande produção de vinhos e a alta qualidade das garrafas rendeu à Manduria o título de principal região vinícola do sul do país, dentro do território considerado o berço dos vinhos italianos.

Primitivo

A Primitivo é uma uva muito comum no sul da Itália, mais precisamente na região de Puglia, também conhecida como o salto da bota. Ali, principalmente no IGP de Salento, e especialidade das regiões de Manduria e Gioia del Colle, ela passou de uma casta considerada secundária a uma das mais importantes variedades da região, dando origem a vinhos perfumados e encorpados que estão ganhando o mundo.

A vinícola Pugliese San Marzano foi uma das pioneiras no renascimento da Primitivo, em grande parte devido ao vinho San Marzano Sessant’Anni Primitivo di Manduria, que foi responsável por tornar a uva mais famosa e conhecida.

Um dos motivos dessa revolução é que a uva é perfeita para quem gosta de vinhos de estilo mais carnudo, concentrados e com bastante fruta, mas com acidez mais baixa e taninos leves. Enquanto em climas mais quentes os sabores predominantes são de frutas vermelhas, em regiões de climas mais frios se sobrepõem as frutas pretas e uva passa. Em Manduria, onde os vinhos de Primitivo são mais concentrados, também é comum encontrar a uva em corte com outra cepa regional, a Negroamaro.

Seu nome é uma referência à sua época de colheita. A Primitivo é uma uva precoce, o que significa que é a primeira casta tinta a ser colhida, em meados de agosto, enquanto as outras são colhidas em outubro. E, por isso, costumam ter bastante açúcar residual, o que significa um potencial de produzir vinhos com alto teor alcoólico.

Embora tenham sido encontradas rastros da cepa na Itália pelo menos desde o século XVIII, existem evidências que o vinho Primitivo tenha sido comercializado em Veneza nos anos 1400. No entanto, um estudo genético mostrou que suas raízes são, na verdade, croatas, onde ela é chamada de Tribidrag. E, para a surpresa de muitos enólogos, ela é geneticamente idêntica à outra uva, a Zinfandel, considerada por muito tempo como uma cepa originalmente californiana.

A história que se tem notícia é, em meados do século XIX, imigrantes europeus trouxeram mudas da uva para os Estados Unidos. E, chegando na Califórnia, ela se desenvolveu surpreendentemente, mostrando uma incrível adaptação natural ao terroir da região.

Quando os viticultores perceberam que mais ninguém no mundo plantava essa variedade, pensou-se que a Zinfandel fosse uma uva tipicamente indígena norte-americana. De fato, os vinhedos são os mais antigos do país, principalmente na região de Lodi, alguns deles chegando a mais de 100 anos de idade! Não à toa, seu cultivo rapidamente se espalhou por ter sido a primeira casta replantada após a praga Filoxera chegar à Califórnia.

Até então, o vinho tradicional produzido a partir dela era um rústico tinto seco de cor rubi intensa, com frutas marcantes, principalmente de compota de amora, framboesa e ameixa.

Foi no ano de 1972, no entanto, que a uva foi utilizada pela primeira vez para fazer um vinho rosé claro, resultado de um processo de vinificação que removia as cascas das uvas antes que elas ficassem em contato com o mosto. Este vinho, produzido até hoje com o nome de White Zinfandel é mais leve e doce do que se espera da casta.

Hoje, ela é considerada uma uva extremamente versátil da região americana, sendo utilizada para a produção de variedades muito diferentes de vinhos, do branco ou rosé claro aos tintos no estilo do vinho do Porto. Para se ter uma ideia, apenas 15% dos vinhos de Zinfandel californianos são tintos. Suas principais regiões produtoras nos EUA são as montanhas de Napa, Sonoma, Paso Robles e Sierra Foothills.

O vinho tinto da Primitivo é, geralmente, bem denso e frutado. Os aromas que mais se acentuam nele são os de frutas vermelhas e negras. Exemplares mais evoluídos já trazem algumas notas de especiarias doces. Na boca, mostra-se fácil de beber, com essa pitadinha de açúcar bem fácil de reconhecer e que também ajuda a "amaciar" o líquido.

E agora finalmente o vinho!

Na taça evidencia o vermelho rubi intenso, escuro, porém com halos granada, um tanto quanto atijolado, talvez pelo tempo de garrafa ou pela passagem por madeira, com lágrimas grossas, em profusão, que lentamente desenham as bordas do copo.

No nariz traz aromas intensos de frutas vermelhas bem maduras, quase em geleia, com destaque para framboesa, cereja e amora, talvez mirtilos, com notas discretas amadeiradas, graças aos 12 meses de passagem em barricas de carvalho, que entregam baunilha, tabaco, couro, um agradável mentolado e especiarias doces, sobressaindo um herbáceo.

Na boca revela bom corpo, estrutura média, persistente, cheio, volumoso, com muita complexidade, como no aspecto olfativo, trazendo a fruta vermelha madura, as notas amadeiradas mais evidentes, mas bem integrado ao conjunto do vinho, com toques de chocolate e um residual de açúcar bem agradável, um dulçor que não incomoda, logo alcoólico, com taninos presentes, marcados, mas domados, com acidez vivaz, mas equilibrada. Final longo de retrogosto frutado.

Símbolo, tradição, reverência e tudo começa com incertezas, com questionamentos e a abnegação de seus produtores, de seu povo, fez e ainda faz da Primitivo uma casta de suma importância para a região de Puglia e Manduria. Vários nomes, nomenclaturas, mas uma só realidade: qualidade e tradição. Nero Reale Primitivo entregou plenamente as características, a essência de Puglia, de Manduria, a essência daquela palavra que se tornou sinônimo de vinho: terroir! Tem 14,5% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Rocca:

A família Rocca trabalha no ramo de vinhos desde 1880, quando Francesco, o ancestral fundou a “Vinícola Rocca”, iniciando seus negócios históricos com vinho a granel. Em 1936, seu filho Ângelo aprimorou a produção de vinho e construiu uma adega em Nardò, Apúlia.

Na década de 1960, Ernesto Rocca, filho de Ângelo, comprou a primeira linha de engarrafamento e iniciou a distribuição de produtos sob a marca Rocca. Em 2009, a Rocca Family se torna o principal acionista da vinícola histórica Dezzani, no Piemonte, realizando novas sinergias comerciais e produtivas.

Em 1999, apaixonado por Apúlia, ele comprou uma fazenda em Leverano, no coração de Salento. A tradição, a paixão por vinhos merecedores, juntamente com a dedicação à viticultura e à produção de vinho, foi fortemente afirmada pela Família durante essas cinco gerações.

A Companhia cresceu ao longo do tempo e desenvolveu uma abordagem internacional, prestando muita atenção às necessidades do mercado, mas sempre cuidando e respeitando o terroir e a tipicidade dos produtos.

Rocca é uma realidade dinâmica e flexível, ao mesmo tempo, extremamente ligada às suas raízes e hoje inclui uma fazenda de prestígio na Apúlia, uma vinícola moderna em Agrate Brianza, perto de Milão, e tem o controle da vinícola histórica Dezzani no Piemonte. Os vinhos Rocca são apreciados nos mercados mais exigentes em mais de 40 países do mundo.

Mais informações acesse:

https://roccavini.com/en/

Referências:

“Vinhos e Castelos”: https://vinhosecastelos.com/vinhos-de-puglia-italia/

“Brasil na Puglia”: https://www.brasilnapuglia.com/os-vinhos-da-puglia/

“Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/277-puglia-terra-de-muitos-vinhos

“Blog Grand Cru”: https://blog.grandcru.com.br/conheca-a-primitivo-a-uva-que-e-considerada-a-ponte-entre-o-novo-e-o-velho-mundo-do-vinho/

“Blog Vinho Site”: http://blog.vinhosite.com.br/uva-primitivo/

 

 

 

 


 








segunda-feira, 20 de março de 2023

Conde de Cantanhede Reserva Baga 2015

 

Lembro-me que, quando degustei a casta símbolo da Bairrada, região emblemática portuguesa, Baga, em uma “versão” varietal, na sua forma predominante e plena, eu disse, ou melhor, textualizei; E eis que ela me surge por inteiro!

Quando se desbrava a Bairrada, não se pode negligenciar a Baga, até porque ela, por uma questão da sua Denominação de Origem (DOC), ela predomina sempre, mesmo que em blends. Mas eu precisava de um momento só com ela, aquele momento de introspecção, só nós dois.

E a minha experiência foi arrebatadora! E por ter sido arrebatadora, como disse, me veio a intenção, aquela doce e salutar loucura de desbravar a casta na sua versão varietal.

E diante disso, claro, vem a necessidade de buscar novos rótulos. Depois da minha primeira experiência com um 100% Baga com o Moinho de Sula Reserva da safra 2014, outros vinhos precisavam ser por mim descobertos.

E já que mencionei o Moinho de Sula da valorosa Adega de Cantanhede não podemos deixar de falar desse produtor, de suma importância que tem de forma exemplar, disseminando a cultura da Bairrada com seus vinhos e castas e o principal, sim, temos de levar em consideração o excepcional custo X benefício, o que, com todo o respeito, a família Pato, do grande Luis Pato e sua filha, Filipa, não proporciona.

Sei que, com esse comentário, posso gerar alguns borburinhos, a tal famigerada polêmica, mas convenhamos que o valor é alto, a “grife de rótulos” é grande no Brasil, mas, por outro lado, não podemos negar a importância e qualidade de seus vinhos e a história que tal família tem para com a Bairrada, com o Luis Pato desbravando a Baga, domando-a.

Foi a Adega de Cantanhede que abriu os meus olhos para a Baga, a Bairrada! Vale uma história aqui de como tive o meu primeiro contato com a Cantanhede! A Cantanhede me foi revelada, de uma forma quase despretensiosa, por um de seus rótulos mais falados e premiados, o Marquês de Marialva Colheita Selecionada. Eu degustei a safra 2014 no ano de 2019! Achei que estaria “avinagrado”, ruim! Enganei-me! Um senhor vinho! Vivo, pleno aos 5 anos! A Bairrada se revelara para mim com esse rótulo! A Baga se mostrava com a sua incrível capacidade longeva!

E dessa vez a Baga me surgirá por inteiro novamente! E dessa vez o rótulo, diferente do Moinho de Sula reserva, oriunda do Beira Atlântico, virá da Bairrada! Um reserva da Bairrada! E como está o coração nesse momento? Repleto de alegria e mesclado com uma salutar ansiedade.

A taça finalmente é inundada pela poesia líquida e finalmente o vinho que degustei e gostei veio da Bairrada e se chama Conde de Cantanhede Reserva da casta Baga (100%) da safra 2015. E como gostei! Todas as características da Baga, que conheci, há pouco tempo, estão neste rótulo e agora figurando solitariamente, mas ricamente.

Então sem mais delongas, antes de tecer maiores e melhores, sem dúvida, comentários do vinho, contemos um pouco a história da Baga e da região onde domina: a velha e tradicional Bairrada, no coração de Portugal que, por curiosidade, é tida também como a terra dos espumantes na terrinha!

Baga

A uva Baga, uma das principais uvas nativas de Portugal, é capaz de oferecer enorme complexidade aos rótulos que compõe. Demonstrando muita classe e estrutura, a variedade da casta de tintos é única no seu valor e possui um fantástico potencial de envelhecimento, que atua com o vinho na garrafa durante anos após sua fabricação.

A uva Baga é uma variedade amplamente utilizada na costa central de Portugal, na elaboração de ótimos vinhos tintos. Particularmente na região da Bairrada, a Baga é, sem dúvida, uma das uvas tintas mais cultivadas, além de ser plantada também no Dão e em Ribatejo. Há quem diga que a casta nasceu nas terras do Dão, inclusive alguns produtores locais mais tradicionais defendem essa tese, mas foi nas terras da Bairrada que ganhou reputação, onde ocupa mais de 90% dos vinhedos.

A Baga é conhecida tradicionalmente pela espessura de sua pele, em proporção com o tamanho das pequenas bagas que o cacho apresenta. Além disso, essa variedade é extremamente tânica, podendo ser notado o caráter adstringente em alguns vinhos.

Baga

A Baga é uma uva pequena, com casca grossa, capaz de oferecer classe e estrutura aos rótulos que compõem que vão desde os tintos até os rosés e espumantes. É exatamente o fato de o fruto ser pequeno que faz com que os vinhos da uva Baga tenham taninos em alta concentração e acidez acentuada.

No passado, a Baga era conhecida por ser empregada na produção de vinhos rústicos, excessivamente ácidos e tânicos e de pouca concentração. Porém, após a chegada do genial Luís Pato, conhecido como o “revolucionário da Bairrada” e maior expoente desta variedade, a casta da uva Baga foi “domesticada”.

Luis Pato

O cultivo da Baga é árduo e trabalhoso, demorando para que o amadurecimento ocorra. A fruta desenvolve-se melhor quando plantada em solos argilosos e necessita de uma excelente exposição ao sol durante o processo de cultivo. Entretanto, após os devidos cuidados e maturação, a Baga produz preciosos rótulos, podendo envelhecer na garrafa durante anos, garantindo complexidade e elegância para seus exemplares, além de tornar os vinhos concentrados, aromáticos e possuidores de uma coloração escura.

Conhecida também como Tinta da Bairrada, Tinta Poeirinha ou Tinta Fina, a uva Baga atualmente é considerada uma das maiores uvas portuguesas, com enorme complexidade, estrutura e classe, sendo muito apreciada no mundo do vinho. A casta Baga dá origem a vinhos portugueses com muita personalidade, altamente interessantes e únicos.

Bairrada

Localizada na região central de Portugal e se estendendo até o Oceano Atlântico, especificamente entre as cidades de Coimbra e Águeda, a região vinícola da Bairrada – cujo nome é uma referência ao solo argiloso que a compõe – tem clima temperado bastante favorável às vinhas.

A Bairrada é uma daquelas regiões portuguesas com grande personalidade. Apesar de sua longa história vínica, a certificação da região é recente. A Denominação de Origem Controlada (DOC Bairrada) para vinhos tintos e brancos é de 1979 e para espumantes de 1991. A Região Demarcada da Bairrada possui também uma Indicação Geográfica: IG Beira Atlântico.

Bairrada

António Augusto de Aguiar estudou os sistemas de produção de vinhos e definiu as fronteiras da região. Em 1867, vinte anos mais tarde, fundou a Escola Prática de Viticultura da Bairrada. Destinada a promover os vinhos da região e melhorar as técnicas de cultivo e produção de vinho.

O primeiro resultado prático da escola foi a criação de vinho espumante em 1890. E foi com os espumantes que a região conquistou o mundo. Frutados, com um toque mineral e boa estrutura esses vinhos tornaram-se referencias e, até hoje, fazem da Bairrada uma das maiores regiões produtoras de espumantes de Portugal. Com o passar do tempo, as criações tintas ganharam espaço.

Muito por conta do que os produtores têm feito com a Baga, casta autóctone da região. O grande responsável pelo fortalecimento internacional da região é o engenheiro Luís Pato. Conhecido como o Mr. Baga, Pato tem um trabalho minucioso sobre as uvas, tudo para conseguir um vinho autêntico com o mínimo de interferência externa. A uva Baga, uma das principais uvas nativas de Portugal, é capaz de oferecer enorme complexidade aos rótulos que compõe.

Demonstrando muita classe e estrutura, a variedade da casta de tintos é única no seu valor e possui um fantástico potencial de envelhecimento, que atua com o vinho na garrafa durante anos após sua fabricação. Além de refinados e inimitáveis, os vinhos produzidos com esta variedade de uva apresentam muita personalidade e distinção. No passado, a Baga era conhecida por ser empregada na produção de vinhos rústicos, excessivamente ácidos e tânicos e de pouca concentração. Porém, após a chegada do genial Luís Pato, conhecido como o “revolucionário da Bairrada” e maior expoente desta variedade, a casta da uva Baga foi “domesticada”.

A localização da DOC Bairrada e suas características de clima e solo fazem dela uma região única. Paralelamente, o plantio das vinhas é feito em lotes descontínuos de pequenas proporções e faz divisa com outras culturas e outros usos de solo. Com isso, seus vinhos são de terroir, ou seja, o local onde a uva é plantada influencia diretamente em suas particularidades. Delimitada a Sul, pelo rio Mondego, a Norte pelo rio Vouga, a Leste pelo oceano Atlântico e a Oeste pelas serras do Buçaco e Caramulo, a região é composta por planalto de baixa altitude.

O solo é predominantemente argilo-calcário, mas há algumas poucas regiões com solos arenosos e de aluvião. O clima é mediterrânico moderado pelo Atlântico. A região recebe forte influência marítima do oceano Atlântico. Os invernos são frescos, longos e chuvosos e os verões são quentes, suavizados pela presença de ventos frequentes nas regiões junto ao mar. A área se beneficia de grande amplitude térmica na época do amadurecimento das uvas. A variação que pode chegar aos 20ºC de diferença entre o dia e a noite.

Mapa geológico da Bairrada

Decreto-Lei n.º 70/91 estabeleceu as castas autorizadas e recomendadas para produção de vinhos na DOC Bairrada. A lei descreve as diretrizes para elaboração dos vinhos tintos, rosés, brancos e espumantes. Para a produção de tintos e rosés com o selo DOC Bairrada, as castas recomendadas são Baga (ou Tinta Poeirinha), Castelão, Moreto e Tinta-Pinheira. No conjunto ou separadamente, deverão representar 80% do vinhedo, não podendo a casta Baga representar menos de 50%. As castas autorizadas são Água-Santa, Alfrocheiro, Bastardo, Jaen, Preto-Mortágua e Trincadeira.

Para os vinhos brancos as castas recomendadas são Maria-Gomes (também conhecida como Fernão Pires), Arinto, Bical, Cercial e Rabo-de-Ovelha, no conjunto ou separadamente com um mínimo de 80% do encepamento: e as autorizadas são Cercialinho e Chardonnay. O vinho base para espumantes naturais devem ser elaborados através das castas recomendadas Arinto, Baga, Bical, Cercial, Maria-Gomes e Rabo-de-Ovelha; ou das autorizadas Água-Santa, Alfrocheiro-Preto, Bastardo, Castelão, Cercialinho, Chardonnay, Jean, Moreto, Preto-Mortágua, Tinta-Pinheira e Trincadeira.

Em 2012 foi publicada a Portaria n.º 380/2012, que atualiza a lista de castas permitidas para elaboração dos vinhos DOC Bairrada.  Foi incluída recentemente uma autorização para o cultivo das castas internacionais Cabernet Sauvignon, Syrah, Merlot, Petit Verdot e Pinot Noir e das portuguesas Touriga Nacional, Castelão, Rufete, Camarate, Tinta Barroca, Tinto Cão e Touriga Franca. Vinhos elaborados com castas que não estejam relacionadas no Decreto-Lei, não podem receber o selo de DOC Bairrada e são rotulados com o selo Vinho Regional Beira Atlântico.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um rubi com alguma intensidade, mas mostram halos bem definidos de cor granada, talvez denotando os seus oito anos de garrafa. Tem lágrimas finas, lentas e em profusão que desenham as bordas do copo.

No nariz embora traga aromas discretos, predominam as notas de frutas vermelhas maduras, como ameixa, amoras, frutas em compota, diria uma geleia de frutas, com nuances da madeira, graças aos nove meses em barricas de carvalho, que entrega baunilha, leve tostado, toque herbáceo, de terra molhada, couro, tabaco, traços rústicos, e um pouco alcoólico.

Na boca tem médio corpo, complexo, de notório volume de boca, cheio, volumoso, mas macio e elegante e apresenta, como no nariz, alguma rusticidade. As notas frutadas protagonizam, como no aspecto olfativo, bem como as notas amadeiradas e o seu aporte, como as especiarias doces, que traz uma sensação de dulçor, a baunilha, o chocolate, tem álcool presente, mas bem integrado, com taninos presentes, porém domados, redondos, além de uma surpreendente acidez apesar dos oito anos de vida. Tem um final cheio, frutado e persistente.

A experiência, mais uma vez, foi incrível! A Baga de fato traz personalidade! Essa é a palavra! E o vinho está no auge, no ápice com os seus sete anos de vida. A plenitude de uma casta retratada com as suas mais fiéis características e mesmo com a sua domesticação, se mostrou rústica, corpo médio, estrutura marcante, mas macio, elegante como bom vinho de oito anos de vida. Que a Baga se revele para todos dignos dela! Que a Baga se revele para mim sempre que eu merecer! O seu apelo regional merece o mundo! Tem 13,5% de teor alcoólico.

Curiosidades sobre o nome do rótulo do vinho: Conde de Cantanhede

A D. Pedro Meneses, 5º Senhor de Cantanhede, foi atribuído o título de 1º Conde de Cantanhede, como recompensa pela sua participação na Batalha do Toro em 1476, ao lado de D. Afonso V e o futuro D. João II.

A cidade de Cantanhede recebeu o foral de D. Manuel I, Rei de Portugal, em 1514. Naquela altura o Rei deu à família Meneses o total controle da região. Foi notório o contributo dos Meneses para o desenvolvimento da região, promovendo a agricultura, incluindo a viticultura, para o que, desde sempre foi reconhecido grande potencial nestas terras.

O porquê da Adega de Cantanhede usar esse nome no rótulo?

Empenhada em prestar homenagem à digna linhagem dos Condes de Cantanhede e ao seu importante papel na região e na história de Portugal, a Adega de Cantanhede obteve a necessária autorização dos seus descendentes para lançar esta marca, que comporta um vasto portfólio com vinhos e espumantes de qualidade.

Sobre a Adega de Cantanhede:                   

Fundada em 1954 por um conjunto de 100 viticultores, a Adega de Cantanhede conta hoje com 500 viticultores associados ativos e uma produção anual de 6 a 7 milhões de quilos de uva, constituindo-se como o principal produtor da Região Demarcada da Bairrada, representando cerca de 40% da produção global da região. Hoje certifica cerca de 80% da sua produção, sendo líder destacado nas vendas de vinhos DOC Bairrada DOC e Beira Atlântico IGP.

Reconhecendo a enorme competitividade existente no mercado nacional e internacional, a evolução qualitativa dos seus vinhos é o resultado da mais moderna tecnologia, com foco na qualidade e segurança alimentar (Adega Certificada pela norma ISO 9001:2015, e mais recentemente pela IFS Food 6.1.), mas também da promoção das castas Portuguesas, que sempre guiou a sua estratégia, particularmente das variedades tradicionais da Bairrada – Baga, Bical e Maria Gomes – mas também de outras castas portuguesas que encontram na Bairrada um Terroir de eleição, como sejam a Touriga Nacional, Aragonez e Arinto, pois acredita que no inequívoco potencial de diferenciação e singularidade que este património confere aos seus vinhos.

O seu portfólio inclui uma ampla gama de produtos. Em tinto, branco e rose os seus vinhos vão desde os vinhos de mesa até vinhos Premium a que acresce uma vasta gama de espumantes produzidos exclusivamente pelo Método Clássico, bem como Aguardentes e Vinhos Fortificados. É um portfólio que, graças à sua diversidade e versatilidade, é capaz de atender a diferentes segmentos de mercado, com diferentes graus de exigência em qualidade, que resulta na presença dos seus produtos em mais de 20 mercados.

A sua notoriedade enquanto produtor, bem como dos seus vinhos e das suas marcas, vem sendo confirmada e sustentadamente reforçada pelos prémios que vem acumulando no seu palmarés, o que resulta em mais de 750 distinções atribuídas nos mais prestigiados concursos nacionais e internacionais, com destaque para Mundus Vini – Alemanha, Concours Mondial de Bruxelles, Selections Mondiales du Vins - Canada, Effervescents du Monde – França, Berliner Wein Trophy – Alemanha e Japan Wine Challenge, sendo por diversas ocasiões o único produtor da Bairrada com vinhos premiados nesses concursos e, por isso, hoje um dos mais galardoados produtores da região. Em 2015 integrou o TOP 100 dos Melhores Produtores Mundiais, pela WAWWJ – Associação Mundial dos Jornalistas e Críticos de Vinho e Bebidas Espirituosas. Nos últimos 8 anos foi eleita “Melhor Adega Cooperativa” em Portugal por 3 vezes pela imprensa especializada.

Mais informações acesse:

https://www.cantanhede.com/

Referências:

“Divinho”: https://www.divinho.com.br/uva/baga/

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/baga

“Vinci”: https://www.vinci.com.br/c/tipo-de-uva/baga

“Soulwines”: https://www.soulwines.com.br/uvas-de-vinhos/baga

“IVV”: https://www.ivv.gov.pt/np4/503/

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/regiao/bairrada

“Reserva85”: https://reserva85.com.br/vinho/indicacao-geografica-ig-denominacao-de-origem-do/regioes-demarcadas-de-portugal/bairrada/