Decidi surpreender um amigo que estava enveredando para o
mundo do vinho. O convidei para vir à minha casa e queria ajuda-lo a adentrar,
com algum estilo, ao universo do vinho. A ideia era fazer com um rótulo pouco
usual, fugir um pouco do óbvio de determinados países ou regiões produtoras.
Lembro-me que na época, há cerca de 3 anos atrás, aproximadamente, quando fiz
esse convite ao meu estimado amigo, a Austrália ainda era uma novidade para
mim, embora, nessa época, eu já tinha alguma “rodagem” como enófilo. A
Austrália sempre foi difícil encontrar em terras brasileiras. Não havia tantas
opções de rótulos e propostas e as poucas que tinham os valores eram
demasiadamente altos. Bem, ainda o é nos dias atuais, mas a gente consegue,
garimpando com um pouco mais de dedicação, encontrar alguns rótulos legais a
preços mais acessíveis para bolsos desprovidos de capital. E, quando estava
escolhendo o vinho, lembrei-me de um vinho que tinha visto em um supermercado
grande e conhecido na minha cidade, de um australiano que me recomendaram,
principalmente pela ótima relação custo X benefício e corri para o local para compra-lo e o
encontrei!
O vinho que degustei e gostei, como disse, vem da Austrália,
cuja região é Barossa Valley, no sul da Austrália e é o Jacob’s Creek, um 100%
Syrah, da safra 2015. Antes de falar do vinho, convém lembrar que, logo após a
degustação deste vinho, eu repeti a dose, degustando a mesma linha de rótulos,
mas foi o corte das castas Cabernet Sauvignon e Syrah, típico blend
australiano, da safra 2014 e pode ser lido aqui: Jacob's Creek Classic Cabernet/Syrah 2014. Falemos também da região de Barossa Valley.
Barossa Valley.
O Barossa Valley é a região produtora de vinhos mais antiga do
sul da Austrália. Ao contrário de outras regiões vinícolas, influenciadas pelos
ingleses, a produção de vinhos no Barossa Valley foi iniciada por imigrantes
alemães, fugidos da região prussiana da Silésia (hoje, Polônia). Embora a
Austrália seja famosa por seu Cabernet Sauvignon, em Barossa Valley o destaque
fica para a produção de intensos e longevos exemplares de Shiraz.
Barossa Valley
Em sua história, o Barossa Valley começou sua produção de
vinhos com o Riesling, devido à influência alemã, chegando a produzir o estilo
porto por um certo tempo, até que começou a ganhar fama com a elaboração de um
Shiraz encorpado, com notas intensas de chocolate e especiarias. A acidez das
uvas produzidas no Barossa Valley precisa ser equilibrada através de diversos
processos, como a inversão osmótica ou a adição de água ao mosto. Por outro
lado, a separação da casca em fases iniciais da fermentação ajuda a dar ao
vinho de Barossa Valley um paladar suave.
E agora o vinho!
Na taça tem um vermelho rubi intenso, escuro, mas, por outro
lado com um reluzente brilhante, com lágrimas em boa quantidade tingindo as
paredes do copo, da taça.
No nariz traz aromas agradáveis de frutas vermelhas maduras,
como amora, com notas de chocolate amargo e um discreto tostado. No site do
produtor não tem informação sobre passagem por barricas de carvalho e tão pouco
nos rótulos, mas tais características apresentadas no aroma, tudo indica que
tenha tido uma breve passagem por madeira.
Na boca é seco, típico da Syrah, bem como aquele atraente
picante, com corpo médio, mas muito elegante e macio, com taninos presentes,
porém sedosos, com uma boa acidez que entrega um vinho fresco, jovem e
saboroso. Tem um final longo, agradável e com muita fruta.
Pois é, meu amigo gostou muito do vinho, eu me apaixonei,
ainda mais, pelos vinhos australianos e pelo Syrah que lá é produzido. E esse
Jacob’s Creek Classic é redondo, equilibrado, de personalidade marcante, mas
fresco, fácil de degustar. Harmoniza muito bem com carnes, massas, pizza e
arriscaria em dizer que, caso queira ser um pouco mais ousado, um bom
hambúrguer de carne bem passada. Um vinho super versátil. Tem 13,9% de teor
alcóolico muito bem integrados.
Sobre a Orlando Wines:
A história remonta à chegada de um imigrante visionário da
Baviera, o alemão Johann Gramp. Gramp, impulsionado pela saudade dos vinhos de
sua terra natal, a Baviera (hoje parte da Alemanha), que o levou a plantar, em
1847, algumas vinhas em seu novo lar, às margens de um riacho em Rowland Flat,
na região de Barossa Valley, sul da Austrália. Sua intenção inicial era a de produzir vinhos
que revelassem a identidade da área, agregando em seus sabores e aromas, o
melhor do clima e das condições físicas da região. Da pequena vinícola saíram
as primeiras garrafas, que ganharam fama e logo alavancaram um negócio, levado
adiante por seus filhos e expandido pelas gerações seguintes.
O rótulo Jacob’s Creek:
O famoso riacho que encabeçou a marca fica a uma distância de
80 quilômetros ao Norte da cidade de Adelaide. Após a fundação da vinícola, com
o nome de Orlando Wines, Gramp resolveu adotar o nome do riacho para seus
rótulos, ficando por isso conhecida como Vinícola Jacob’s Creek, isso em 1976. “Creek”
em inglês significa “riacho”. Reconhecida como um verdadeiro ícone da indústria
australiana, os vinhos de Jacob’s Creek são intensos e de uma elegância
implacável.
Atualmente parte do grupo Pernod Ricard, é uma das principais
vinícolas não apenas em seu país, mas também no mundo. Com tintos e brancos com
expressões distintas, a vinícola vem produzindo, de maneira muito consistente,
ótimos exemplares ao longo dos anos. Seus vinhos são fruto de verdadeira
excelência na produção, o que já lhes rendeu premiações importantes como em
2008, quando ganhou o título de vinícola mais premiada do mundo. Ao todo, já
são mais de 7 mil prêmios conquistados (vale repetir: são sete mil prêmios),
pela alta qualidade dos vinhos produzidos pela vinícola. Esse panorama de
sucesso foi o responsável por elevar a Austrália a um ótimo nível de reputação
internacional, no tocante a excelência de seus vinhos.
Acredito fortemente que tradição e modernidade podem sim, se
complementar, ter uma simbiose, um potencializando o outro. Claro que a
tradição vem primeiro! Todo vinho se torna emblemático quando tem a
personificação do seu terroir, a assinatura de sua tipicidade, da cultura da
terra desenhando as características mais marcantes de um vinho, é como degustar
uma região, um país, é como se tudo isso, embora seja de uma complexidade
inimaginável de entender, estivesse em uma taça para nosso deleite em uma agradável
degustação celebrando rituais. O contemporâneo traz o frescor, doses delicadas
de novidade, de novos prazeres e experiências que torna o vinho arrojado e
dinâmico, o tempero da novidade nos surpreende positivamente, sem soar datado e
previsível. Foi o que aconteceu com a minha degustação de hoje. Uma casta,
emblemática e importante de um país, considerado como o Novo Mundo entre os
grandes produtores espalhados pelo mundo, mas que ostenta uma tradição ilibada,
mas que, neste rótulo expressou todo frescor da novidade, todo o arrojo de que
falei nas linhas desse texto. Afinal a Carménère no Chile é o DNA vitivinícola
deste país. É o que o projeta para o
alto, para longe, fazendo do mesmo, um dos recantos da cultura do vinho.
Então parte do “mistério” do vinho que degustei e gostei já
foi desvendado, e o desfecho vem com o seu nome, que traz o nome de uma das
mais importantes vinícolas do Chile nos últimos 20 anos e que traz na sua
filosofia a preocupação com o novo, sem desviar suas intenções da essência e do
terroir. Falo da Viña Ventisquero com o seu Ventisquero Reserva com o corte de
Carménère (85%) e Syrah (15%) da safra 2015, da região, também emblemática, do
Vale do Colchagua, que ostenta uma DO (Denominação de Origem). Um vinho que
definitivamente me surpreendeu pela austeridade, pelo corpo e estrutura, mas
que traz um arrojado frescor e maciez, tornando-o moderno, equilibrado e muito,
muito elegante. Mas antes de falar do vinho, vou falar, brevemente, sobre a
importante Vale do Colchagua para a vitivinicultura chilena.
Vale do Colchagua
O Vale do Colchágua está localizado à aproximadamente 180 km
de Santiago no centro do país, exatamente entre a Cordilheira dos Andes e o
Pacífico. É cortado pelas águas do rio Tinguiririca, suas principais cidades
são San Fernando e Santa Cruz, e possui algumas regiões de grande valor
histórico e turístico como Chimbarongo, Lolol ou Pichilemu. Colchágua significa
na língua indígena “lugar de pequenas lagunas”.
Vale do Colchagua
A fertilidade de suas terras, a pouca ocorrência de chuva e
constante variação de temperatura possibilita o cultivo de mais de 27 vinhas,
que, com o manejo certo nos grandes vinhedos da região e padrões elevados no
processo de produção, faz com que os vinhos produzidos no vale sejam conhecidos
internacionalmente, com alto conceito de qualidade. Clima estável e seco (que
evita as pragas), no verão, muito sol e noites frias, solo alimentado pelo
degelo dos Andes e pelos rios que desaguam no Pacífico, o Vale de Colchágua é
de fato um paraíso para o cultivo de uvas tintas e produção de vinhos intensos.
Em Colchágua, predomina o clima temperado mediterrâneo, com temperaturas entre
12ºC como mínima e 28ºC, máxima no verão e 12ºC e 4ºC, no inverno. Com este
clima estável é quase nenhuma variação de uma safra para a outra; e a ausência
de chuva possibilita um amadurecimento total dos vários tipos de uvas
cultivadas na região. Entre as principais variedades de uvas presentes no Vale
de Colchágua estão as tintas Cabernet Sauvignon, Merlot, Carmenère, Syrah e
Malbec, que representam grande parte da produção chilena. O cultivo das
variedades brancas, apesar de em plena ascensão, ainda se dá de forma bastante
reduzida se comparada às tintas; as principais uvas brancas produzidas no vale
são a Chardonnay e a Sauvignon Blanc. Ambas as variedades resultam vinhos
premiados e cultuados por especialistas e amantes do vinho.
E agora o vinho!
Na taça apresenta um lindo vermelho rubi com reflexos
violáceos brilhantes com lágrimas finas em profusão que desenham as paredes do
copo por algum tempo até se dissipar.
No nariz trazem fantásticos aromas de frutas negras e maduras
como ameixas e amoras, com toques florais e de baunilha e notas terrosas.
Na boca se reproduz, de forma maravilhosa, as notas frutadas,
sendo estruturado, com alguma complexidade, taninos presentes, mas aveludados,
com uma boa acidez que confere ao vinho muito frescor, apesar de ser encorpado,
com discretas notas amadeiradas e de chocolate, graças aos 70% do vinho ter
passado por 10 meses em barricas de carvalho, mais 3 meses em garrafa. Final persistente e frutado.
A linha reserva da Ventisquero, em especial esse corte
fantástico da Carménère com a Syrah, castas que são verdadeiros ícones no
Chile, trouxeram uma combinação especial para este vinho. Mostra um vinho
frutado, fresco, saboroso, mas de grande personalidade, estruturado, carnudo,
fácil de degustar, sendo ainda harmonioso, redondo e elegante. Harmoniza muito
bem com massas, carnes, queijos semi duros e diria uma refeição. Um vinho
versátil e com um teor alcoólico de 13% muito bem integrados.
Sobre a Viña Ventisquero:
Liderada por uma equipe jovem, criativa e empreendedora, em
1998 começou produção da Viña Ventisquero,
sob o slogan “um passo além”. A ideia foi elaborar vinhos de alta qualidade,
vanguardistas e modernos, combinados com uma nova maneira de se comunicar com o
público-alvo e os processos de marketing. Ela é apenas um dos ramos de poderosa
holding chamada Agrosuper, que comercializa carne, frango, porco, peru, frutas,
embutidos, além de vinho. Criada em 1998 por Gonzalo Vial, a vinícola tem hoje
1.500 hectares de vinhedos em diferentes regiões como os vales de Casablanca,
do Maipo, de Rapel, de Colchagua e de Apalta. O nome Ventisquero deriva de um
glaciar, massa de gelo que se concentra nas montanhas. Da mão do enólogo-chefe,
Felipe Tosso, a vinícola surgiu em 2003 no Maipo Costa, área onde nasceram os
primeiros vinhos. Depois de três anos, foram dados novos passos no Vale de
Casablanca e no Vale de Colchágua, mais precisamente no Vale de Apalta, berço
dos vinhos de alta gama da Ventisquero. Uma das características da vinícola é a
preocupação com o meio ambiente, desde o plantio, que obedece à agricultura orgânica,
até a redução de emissões de CO2 nos transportes de seus vinhos. Outra é a alta
tecnologia que permite à equipe de enólogos acompanharem todo o processo do
vinho. Outro fator que concorre para a qualidade dos vinhos é a disponibilidade
de recursos. Só um açude construído no meio dos vinhedos para captar a água dos
Andes custou dois milhões e meio de dólares. Buscando consolidar qualidade, se
aventuraram a criar vinhos ícones com John Duval, um dos mais prestigiados
enólogos da Austrália e do mundo. Com vinhedos nas melhores áreas vitivinícolas
do Chile (Lolol é um exemplo), e um forte trabalho de pesquisa em terroir, o
desafio foi oferecer a melhor qualidade e consistência nos vinhos Ventisquero.
Com escritórios nos EUA, Espanha, Inglaterra e Japão e presença em mais de 55
países, é uma das cinco vinícolas mais importantes do Chile.
Quando decidimos abrir uma garrafa de vinho, normalmente o
fazemos através de um ritual agradável e sistemático. Deve ser um momento
prazeroso, pelo menos para quem se dedica um pouco mais sobre o mundo cultural
do vinho. Sistemático, pela escolha, porque nem sempre estamos no clima de
bebermos algo mais complexo, por aquele varietal mais ácido ou mesmo um vinho
excessivamente equilibrado… enfim, decidimos pelo momento, companhia, meditação
ou algo que iremos harmonizar. Esse momento agradável deveria ser perfeito,
entretanto, não rara às vezes, temos surpresas desagradáveis, como é o caso de
vinhos com forte sensação de amargor.
Para alguns especialistas, o gosto amargo no vinho não é bem
vindo, nem para os que o produzem e muito menos para aqueles que o consomem. É
tarefa do enólogo (quem produz o vinho) tentar evitar o amargor no vinho.
A sensação do sabor amargo no vinho deve ser imperceptível
para vinhos brancos e tintos jovens e frutados. No entanto, em determinados
tintos envelhecidos pode aparecer ao paladar um discreto fundo
"amargo". Isso ocorre devido a oxidação dos taninos ao longo do
tempo.
Nesses casos o que acaba disfarçando essa sensação de amargor
é o álcool. É por isso que geralmente vinhos com teor alcoólico acima de 12,5%
envelhecem bem.
Mas em outros casos, o gosto amargo pode ser um "defeito
do vinho". Vamos para alguns exemplos:
1 - Defeito de elaboração: onde acaba ocorrendo um inicio
precoce da fermentação por ferimento das uvas no transporte entre o vinhedo e a
cantina;
2 - Outro caso, é quando por questões econômicas, acaba-se
aproveitando (ainda que parcialmente) os cachos de uvas que apodreceram. Nesse
caso, há formação de fungos e bolores, os quais acabam destruindo as
substâncias aromáticas e transmitindo ao vinho o sabor amargo.
Amargor é normal?
Há quem diga que o amargor não é um defeito do vinho, pelo
menos em determinados vinhos e propostas. Como é o caso do afamado Amarone
italiano, um vinho estiloso e caro, elaborado na maioria das vezes com três
castas especiais: corvina, rondinella e molinara, negrara às vezes. Essa
sensação de amargor é, principalmente sentida, durante o retrogosto e
considerada normal. Tudo é cabível, desde que não haja exageros. Também poderá
acontecer da adstringência de um vinho muito jovem ou mal elaborado se
confundir com o amargor, e isso é igualmente comum. Já os vinhos envelhecidos,
do mesmo modo, poderão exibir leve amargor diante dos taninos oxidados,
conforme já mencionado no texto.
Amargor e adstringência
Ao degustarmos um vinho, o sabor amargo e a sensação de
adstringência se misturam. E, em linhas gerais, ambos são produzidos pelos
polifenóis da uva, os taninos. Um vinho tânico tem consistência, estrutura e
continuidade. Porém, taninos demais o vinho fica duro e grosseiro.
Vinhos brancos, por exemplo, com menos taninos, são menos
amargos. Mas, mesmo sem amargor, podem ser também adstringentes, pois a
adstringência vem mais dos taninos dos cabos e das sementes do que das cascas
das uvas, que costumam ser descartadas rapidamente durante o processo de
vinificação.
A impressão de secura na boca, causada pelos taninos,
acontece porque eles têm a capacidade precipitar as proteínas, e nossa saliva é
rica em compostos proteicos. Precipitando as proteínas da saliva, ficamos com a
adstringente sensação de rugosidade na língua.
Questão de equilíbrio?
Além dos taninos, que têm sabor amargo, o vinho também é
composto de ácidos, açúcares e sais, cada um com seu gosto específico. O sabor
do vinho é uma espécie de soma desses sabores individuais. Os ácidos ajudam a
equilibrar o amargor do vinho. Quanto menor a acidez de um vinho, mais os
taninos se destaca. Os açúcares mascaram o amargor e adstringência, retardando
a nossa impressão sobre eles. E os sais atenuam os sabores amargos.
Pois é, há algumas divergências quanto ao quesito “amargor”
no vinho, se é um “defeito” ou um processo natural das uvas. O fato é que temos
de ter essa percepção, exercitando a nossa capacidade de análise dos vinhos e
principalmente escolher os vinhos que a gente mais se identifica. Saúde!
Ter referências sobre um vinho é importante. Ajuda e muito na
sua tomada de decisão. É claro que o fator emocional, o coração também é
importante. Sabe quando você bate os olhos em um rótulo e diz: É esse! Permitir
ouvir a voz do coração é sempre relevante em todos os aspectos da vida e com o
vinho não é diferente. Mas tendo fatores racionais que auxiliam na sua decisão
de compra também é essencial para uma satisfatória degustação, sem riscos e sem
desilusões. A proposta do vinho que você quer degustar no momento, a região que
você deseja degustar, as castas ou o blend, tudo torna tangível seu melhor
momento: a degustação. E nesse vinho que degustei, que escolhi, veio alicerçado
pela referência de uma grata surpresa que tive, há cerca de dois anos atrás, quando degustei e pode ser lida neste link: Quinta do Casal Monteiro branco da safra 2016, composto pelo típico corte das castas lusitanas Arinto (50%) e
Fernão Pires (50%). Quando o degustei fui acometido por uma grata satisfação,
um excelente vinho de ótimo custo X benefício. E, claro, quando avistei o
tinto, da mesma linha de rótulos, também com um valor atrativo, nas gôndolas do supermercado, não hesitei
em tê-lo em minha adega e agora, para meu deleite, na taça.
O vinho que degustei e gostei, vem do Tejo e que se chama
como já apresentado, o Quinta do Casal Monteiro tinto, composto pelas castas
Touriga Nacional (50%), Merlot (30%) e Syrah (20%), da safra 2018, um DOC
(Denominação de Origem Controlada) da emblemática região lusitana do Tejo. Que
vinho! Meu “feeling”, modéstia à parte, está afiado e alheio algumas
referências, só ajudou na minha escolha. Mas, como fiz com o branco, vou
reavivar a memória e falar um pouco sobre a região do Tejo.
Tejo
Nesta região vitivinícola, situada no Centro de Portugal, a
arte de produzir vinho remonta a 2000 a.C., quando os Tartessos iniciaram a
plantação da vinha junto às margens do rio que lhe dá o nome. Reza a História
que já Afonso Henriques fez referência aos vinhos da região no Foral de
Santarém, datado de 1170, e que o Cartaxo terá exportado 500 navios com tonéis
de vinho que, em apenas um ano, terão atingido o valor de 12.000 reis. As
histórias continuam pela cronologia fora, com o ano de 1765 a destacar-se pelo
desaparecimento da vinha nos campos do Tejo, como consequência de uma ordem
imposta por Marquês de Pombal.
Tejo
Em 1989, são fundadas seis Indicações de Proveniência
Regulamentada para vinhos da região do Ribatejo e, em 1997, é criada a Comissão
Vitivinícola Regional do Ribatejo, à qual se sucede a constituição por lei da
Comissão Vitivinícola Regional do Tejo, em 2008, seguindo-se a Rota dos Vinhos
do Tejo.
E vamos ao vinho!
Na taça apresenta um vermelho rubi com reflexos violáceos
muito brilhantes. Lágrimas em pouca quantidade que logo se dissipam.
No nariz tem uma explosão de frutas vermelhas, frutas em
compotas como cerejas, ameixas, morangos. Um vinho agradavelmente aromático e
que traz uma frescura, uma jovialidade impressionante.
Na boca se reproduz as impressões olfativas, sendo muito frutado,
com bom volume de boca, mas macio, equilibrado, fácil de degustar. Tem taninos sedosos,
com uma acidez imperceptível e um final persistente e frutado.
Um vinhaço, com ótimo custo X benefício (pasmem, custou R$
25,90!) revelando toda a sua tipicidade, com castas autóctones e francesas,
mostrando que essa junção se tornou uma grande e satisfatória realidade nas
principais regiões vitivinícolas portuguesas. Um vinho aveludado, equilibrado,
que também entrega certa personalidade e que harmoniza maravilhosamente com
massas pouco condimentadas ou carnes grelhadas ou degustando-o sozinho, sendo
muito versátil e saboroso. Essa é a palavra: saboroso! E que venham mais e mais
vinhos desse belo produtor. Tem 13% de teor alcoólico.
Sobre a Quinta do Casal Monteiro:
Fundada em 1979, a Quinta do Casal Monteiro engarrafa safras
limitadas de produção exclusivamente a partir de sua propriedade de 80
hectares. Com idade média de 35 anos, as vinhas estão localizadas em solo
arenoso aluvial fértil, enraizando-se em uma combinação incomum e resultando em
uma produção de baixo rendimento de vinho de alta qualidade. Além disso, a
característica do clima temperado sub-mediterrânico e a sua proximidade ao rio
Tejo conferem aos vinhos uma identidade singular, revelada tanto nos aromas
exuberantes como no paladar complexo, revestido por uma excelente acidez - são
excelentes companheiros de comida. Em 2009, a nova geração / família assumiu a
empresa e, desde então, uma reestruturação da vinícola e da vinha vem
ocorrendo. Foram feitos investimentos consideráveis em equipamentos modernos
e a reabilitação das vinhas tem sido uma tarefa contínua. Como tal, todos os
anos nossa qualidade tem aumentado e esperamos fazê-lo continuamente ao longo
da década atual. O crescente número de prêmios internacionais e análises da
imprensa internacional são uma prova da nossa qualidade contínua de produção.
A minha primeira experiência com os vinhos sul africanos foi
com os rótulos da Nederburg. Ainda em uma época, lembro-me bem, que tais vinhos
da África do Sul ainda eram difíceis de entrar nas adegas dos brasileiros, seja
pelo alto valor ou escassez de opção de rótulos. A Nederburg foi talvez a
primeira vinícola a adentrar com força no mercado brasileiro com valores
atrativos e possíveis aos bolsos, aliado a qualidade e tipicidade dos vinhos
das mais emblemáticas regiões do país sul africano. Já degustei o Nederburg 1791 Syrah, o Nederburg Foundation Pinotage, casta oriunda daquele país e a
linha básica do produtor, o 56 Hundred Chenin Blanc e digo que sempre terei um
Nederburg na minha adega. Todas essas castas são muito bem cultivadas na África
do Sul, tornando-a um dos mais famosos e importantes terroirs deste mundo.
Mas ainda há rótulos da Nederburg que me surpreendem positivamente
e que ainda me oferecem grandes e doces recomeços no que tangem a grandes
experiências dos vinhos da África do Sul. O vinho que degustei e gostei foi o
Nederburg Foundation da casta Sauvignon Blanc, da região de Paarl, Western Cape, safra 2016.
E antes de falar sobre o vinho que foi deveras arrebatador para os meus
sentidos, falemos um pouco da importante região de Paarl.
Paarl
Paarl está localizada na província de Western Cape, ficando a
60 km da Cidade do Cabo, na África do Sul, sendo hoje uma região produtora dos
melhores vinhos daquele país, exportados para o mundo todo.
Paarl
A região vitivinícola de Paarl é das mais importantes para a
produção de vinho na África do Sul, podendo ser considerada como o grande
portal para quem quer conhecer os vinhos da região do Cabo. O nome Paarl é
derivado de pérola, sendo a designação da Montanha Pérola, uma rocha de granito
que se sobrepõe à paisagem, tornando-se brilhante à luz do sol, principalmente
em dias de chuva. A história da vitivinicultura na região de Paarl remonta ao
século XVII, precisamente em 1680. A produção de vinhos teve início na África
do Sul com os franceses, em 1652, com Jan Van Riebeek, o primeiro comandante da
guarnição que fundou a Cidade do Cabo. Sua pretensão era produzir vinho para
combater o escorbuto que grassava na época entre os marinheiros da Companhia
Holandesa das Índias Ocidentais. Os vinhedos foram se espalhando ao longo do
tempo, ocupando a região de Stellembosch, em seguida Constantia, chegando a
Paarl em 1680.
E agora o vinho!
Na taça apresenta um amarelo palha, bem brilhante, límpido,
com algum reflexo esverdeado.
No nariz traz notas frutadas, aromas de maracujá, maça verde,
pera, frutas brancas e cítricas, com um agradável toque floral, flores brancas
e tropicais.
Na boca é fresco, leve, frutado sem ser enjoativo, com um bom volume de boca, uma boa acidez, com um final persistente, me remetendo a muita fruta.
Um belo Sauvignon Blanc, agradável, jovem, refrescante, bem
despretensioso e equilibrado, redondinho. O meu primeiro sul africano com essa
casta e que ficará na minha humilde história, na minha caminhada de um simples
enófilo de um vinho, embora simples, mostra, com maestria, a tipicidade de um
país que respira cultura do vinho. Harmoniza maravilhosamente com carnes
brancas, massas leves, queijos igualmente leves ou simplesmente sozinho. Tem
13% de teor alcoólico.
Sobre a Nederburg:
A história de Nederburg começou em 1791, quando o imigrante
alemão Philippus Wolvaart adquiriu 49 hectares de terra no vale de Paarl. Ele
nomeou sua propriedade Nederburgh, em homenagem ao comissário Sebastiaan
Cornelis Nederburgh. Mais tarde, o 'h' foi retirado da grafia do nome da
fazenda e tornou-se Nederburg como é conhecido hoje. A bela mansão holandesa do
Cabo, coberta de palha e empena, que Wolvaart completou em 1800 é hoje um
monumento nacional. E sobre a linha “56 Hundred” há uma curiosidade: Essa variedade
de vinhos refrescantes, frutados e suave leva o nome ao preço de mil e
seiscentos florins que Philippus Wolvaart pagou em 1791 pela fazenda em que
deveria nomear Nederburg. Um visionário que reconheceu o potencial vitícola da
terra, ele teve a tenacidade de domesticar a propriedade e estabelecer uma
fazenda que continua a florescer hoje. Em 1810, vendeu a fazenda para a família
Retief, que conservou a propriedade por 70 anos. Em seguida a Nederburg passou
por diversos proprietários até ser adquirida, em 1937, por Johann Graue que foi
buscar na Alemanha o talentoso enólogo Günter Brözel para comandar a produção.
Durante anos, Brözel elevou a reputação da Nederburg a nível mundial. Quem o
sucedeu foi o enólogo romeno Razvan Macici, que recebeu inúmeros prêmios ao
longo dos anos. Macici aliava a capacidade de criar vinhos exclusivos à
habilidade para a elaboração de rótulos acessíveis. A Nederburg é conhecida
pela visão vanguardista, sempre valorizando os cuidados no vinhedo e na
vinificação para a elaboração de exemplares famosos mundialmente.
Recebi uma notificação, pelas redes sociais, de uma loja
especializada de vendas de vinhos, de uma prova de rótulos argentinos. Embora seja
uma simples prova e não uma farta degustação resolvi ir, afinal, são pequenas
oportunidades como essa que podem nos brindar, com o perdão da analogia, com
gratas surpresas. Fui com essa perspectiva! No local da prova chegando havia
poucos rótulos disponíveis, cerca de 6 rótulos argentinos, mesclados entre
tintos, rosés e brancos com as principais castas daquele país, sendo
predominante a região emblemática de Mendoza. Isso não seria um problema se os
vinhos selecionados para a prova fossem, é claro, muito bons. Comecei a prova e
um me chamou a atenção, um da casta Bonarda. A Bonarda atualmente é uma uva
muito conhecida e consumida entre os enófilos e entregam grandes vinhos nas
suas mais diversas propostas. Inclusive a minha primeira degustação da casta
foi de um vinho amadeirado, potente e muito saboroso, o Don Nicanor, da Nieto
Senetiner. Mas não se enganem, nunca foi assim, de vinhos excelentes da casta
Bonarda. No passado os vinhos produzidos com essa casta eram do tipo a granel e
de baixíssima qualidade, mas nisso falemos logo. Falemos do excelente Bonarda
que estava entre os rótulos da prova de vinhos ministrada pela loja
especializada. E que vinho!!
O vinho que degustei e gostei veio de Luján de Cuyo, Mendoza,
Argentina, e se chama Colonia Las Liebres Clasico, um 100% Bonarda, da safra
2014, feito com uvas orgânicas. Quando o degustei, o levei a boca, foi como se
fora uma revelação arrebatadora, um vinho fantástico que, na altura de sua
simplicidade nobre, entregou tudo que eu precisava e esperava de um vinho
mendocino. Mas, antes de falar deste belo vinho, vamos falar um pouco sobre a
história da Bonarda.
Bonarda
Para alguns produtores, a Bonarda plantada na Argentina é a
mesma do Norte da Itália, prima das uvas da Lombardia e da Emilia-Romagna.
Outros acham que ela é aparentada da Corbeau ou Douce Noire de Savóia, na
França. Essa região está separada da Itália pelos Alpes e, portanto, a Bonarda
deve ser também prima da Dolcetto ou da Barbera. Sabe-se que a Bonarda chegou à
Argentina com os primeiros imigrantes europeus, no final do século XIX.
Lentamente, adaptou-se às condições locais, por meio de uma seleção natural de
clones no campo, ajudada pelo fato de não ser particularmente sensível a nenhuma
enfermidade. Depois da Malbec, com 19 mil hectares de vinhas vêm a Bonarda, com
16 mil hectares, dos quais 9 mil são plantados nas planícies quentes do Leste
de Mendoza, nos arredores de San Martin, Junin, Rivadavia e Santa Rosa, longe
dos ventos frios da Cordilheira dos Andes. A uva Bonarda tem um ciclo longo de
amadurecimento, necessitando de bastante calor para conseguir amadurecer.
Quando as uvas não amadurecem o suficiente, seus vinhos têm pouca cor e corpo
e, no palato, um leve toque de ervas. Apesar disso, é muito produtiva. Os
vinhos ralos com uvas provenientes de vinhedos de grande produção não ajudaram
a boa reputação da Bonarda. Além de produzir vinhos medíocres, ela é usada em
cortes de uvas Malbec e até com variedades como Criolla, nos 'vinos gruessos',
vinhos baratos dos supermercados argentinos. São vinhos marcados por frescor,
acidez vibrante, fruta fresca e taninos suaves. Por um preço bastante
acessível, constituem uma excelente relação entre qualidade e preço e, na
Argentina, diz-se que são um revigorante para a alma, combatendo tristezas e
saudade.
E agora vamos ao vinho!
Na taça apresenta um vermelho rubi intenso e profundo, com
alguns reflexos arroxeados, com lágrimas finas e em profusão, que desenha as
paredes do copo, pois demoram a se dissipar.
No nariz traz aromas de frutas vermelhas, frutas em compota,
como cerejas e framboesas, muito floral, além de notas de especiarias, como
canela, pimentão ou algo do tipo.
Na boca é seco, tem médio corpo, mas muito redondo, elegante
e fresco, um vinho, embora da safra de 2014, revelou-se jovem e pleno, com
taninos finos e sedosos, com uma acidez agradável e equilibrada com um
retrogosto frutado e persistente.
Um senhor vinho com excelente custo X benefício, de muita
tipicidade e por não ter passagem por madeira revela a pura expressão das
características da casta. Um vinho que harmoniza bem com massas em geral,
carnes grelhadas ou podendo ser degustado sozinho. Tem 13,2% de teor alcoólico
muito bem integrado.
Sobre o “Colonia Las Liebres”:
Durante a maior parte de sua existência na Argentina, Bonarda
foi cultivada e cultivada como vinho de mistura, uma vez que poderia proporcionar
grandes rendimentos que mantinham a cor e o sabor frutado. Os enólogos
costumavam misturar este vinho com vinho a granel de baixa qualidade e, na
maioria das vezes, ignoravam Bonarda como um sério vinho varietal único. No
entanto, em 2000, Alberto Antonini e Attilio Pagli, os vinicultores da Bodega
Altos Las Hormigas, especialista em Malbec, descobriram por sorte o potencial
do cultivo de Bonarda varietal em Mendoza. Uma tempestade de granizo havia se
movido rápida e violentamente pela região, podando naturalmente o dossel das
folhas de um vinhedo de Bonarda nas proximidades. A vinha evitou grandes danos,
mas a colheita produziu apenas metade da colheita usual. Ao avaliar os danos,
os enólogos descobriram que as uvas restantes tinham uma concentração e
estrutura surpreendentes. O vinho resultante era bonito, com textura suave e
sabores persistentes. Como lembra Alberto, ele sabia naquele momento que estava
preso em Bonarda. A equipe Altos Las Hormigas acreditou no potencial e na
personalidade única de Bonarda desde o início e, em 2003, começou a explorar
suas variações nos solos e climas de Mendoza. A Colonia Las Liebres foi
estabelecida como uma marca irmã para se concentrar apenas no cultivo da uva
Bonarda. Colonia las Liebres, que significa Colônia de Hares, retrata uma lebre
selvagem. Essa imagem faz alusão à personalidade do vinho, que brota de seu
lugar de origem, como a da lebre selvagem que percorre nossas videiras,
trazendo sem esforço um senso de lugar. A primeira Colonia Las Liebres Bonarda
lançada no mercado foi a safra de 2003. Em 2005, vinte acres de videiras Estate
foram plantadas em Lujan de Cuyo. Após 10 anos produzindo e experimentando
Bonarda como um único vinho varietal, a equipe continua sendo apoiadores
dedicados e fervorosos defensores do futuro da Bonarda no mercado global.
Sobre a vinícola Altos Las Hormigas:
Em 1995, Alberto Antonini, um conhecido enólogo da Toscana, e
Antonio Morescalchi, um jovem empresário, fizeram uma viagem para visitar as
florescentes áreas vinícolas da América do Sul. Foi preciso apenas uma parada
para encontrar o que eles estavam procurando. Eles ficaram imediatamente
impressionados com as vinhas que prosperavam na alta altitude e no clima seco
de Mendoza, e foram cativados pelas tradições sussurradas e pela mistura de
culturas. Eles retornaram à Toscana impressionantemente impressionados não
apenas pela região, mas também pelo potencial inexplorado de Malbec, uma uva
que tinha uma forte tradição local, mas foi amplamente ignorada e mal
compreendida. Enquanto o resto do mundo do vinho viu Mendoza lutando para
derramar sua imagem de vinho em massa, os dois jovens italianos viam Mendoza
como um lugar onde os valores vitivinícolas tradicionais e as terras imaculadas
podiam ser revigorados com uma abordagem moderna de vinificação e experiência internacional.
Em vez de plantar Cabernet Sauvignon e Merlot, como muitos outros fizeram nos
anos 90, a equipe decidiu investir sua confiança no Malbec. Hoje, Malbec é a
varietal pela qual a Argentina é mais conhecida. Contra todas as
probabilidades, eles consolidaram sua visão de se tornarem especialistas em
Terroir. Logo depois, dois amigos e parceiros de negócios, também entusiasmados
com a idéia, se juntaram ao empreendimento: Attilio Pagli, um renomado enólogo
da Toscana com dois vinhos com pontuação de 100 pontos em seu recorde pessoal e
Carlos Vazquez, um engenheiro agrônomo argentino, que trabalha há 20 anos com o
grupo Catena, plantando novas variedades, desenvolvendo vinhedos desconhecidos
e contribuindo muito para a mudança qualitativa da viticultura argentina desde
o início.
E continuo pela minha agradável saga pela busca de novas
experiências de degustações, de rótulos pouco badalados, de castas pouco populares
em terras brasileiras, afinal novas percepções de aromas e sabores só enriquece
o ato da degustação, fazendo desta algo prazeroso e agradável e não algo
mecânico e banal. Há algum tempo venho investindo em regiões e castas novas
para mim, sobretudo aquelas castas que, embora muito popular em suas regiões
autóctones, no Brasil ainda é pouco conhecida. E assim você varia a sua adega,
amplia seu conhecimento, exercita suas análises organolépticas. Enfim, muitos
fatores no processo de degustação são positivamente impactados e, aliando isso
tudo, a preços extremamente convidativos a seu bolso, em tempos bicudos e de
incertezas, torna-se também essencial.
E o vinho que degustei traz todos os quesitos mencionados
acima, embora a sua casta seja bem conhecida pelo mundo, sobretudo na Itália e
até aqui no Brasil, aonde a mesma sempre vem em blends nos nossos espumantes. Falo
da Trebbiano. E com essa novidade, pelo menos para a minha história como
enófilo, vem também outro fator inusitado: a região, a famosa e emblemática
Abruzzo. Abruzzo é conhecida como a região que entrega a famosa Montepulciano,
mas que também nos brinda com a Trebbiano. E outro ponto interessante também é
que esse é um vinho branco tranquilo e não um espumante, mais comum com essa
casta. Então, diante de tantas novidades, não me resta mais nada além de
apresentar o Trebbiano d’Abruzzo Rocca da safra 2018 e que ostenta um DOC
(Denominação de Origem Controlada). Um vinho supreendente! Mas antes de falar
sobre o rótulo, para não perder o costume, falemos um pouco da Trebbiano que,
apesar de ser altamente cultivada, não goza de grande reputação.
Trebbiano
A uva Trebbiano é cultivada amplamente em diversos países
tanto da Europa quanto do Novo Mundo. Na Itália, por exemplo, mais de 80
rótulos são produzidos a partir dessa variedade de uva, a grande maioria deles
é de vinhos brancos bastante refrescantes. Devido ao amplo cultivo observado ao
redor do mundo, a uva Trebbiano ganhou diversos nomes, alguns muito
característicos das regiões vinícolas onde é cultivada. Na França, a uva
Trebbiano é conhecida também como Ugni Blanc, e representa um dos principais
ingredientes dos destilados Cognac e Armagnac. Já na região da Califórnia, nos
Estados Unidos, os vinhos produzidos a partir de uvas Trebbiano caracterizam-se
por serem deliciosos em especial, os que levam uvas com maior tempo de
amadurecimento na elaboração. Acredita-se que esse tipo de uva foi incorporado
à fabricação de vinhos franceses no século XIV quando a corte papal foi
transferida de Roma. Nos dois séculos seguintes, a casta Trebbiano foi
largamente disseminada e plantada, ganhando fama com seu nome local, Ugni
Blanc. Com a descoberta de novas variedades de uva, a casta teve uma queda de
popularidade, mas continua sendo cultivada em larga escala. Além de ser
utilizada com maestria na produção dos destilados Cognac e Armagnac, a casta
serve de base para uma grande variedade de vinhos brancos. A uva Trebbiano dá
origem a vinhos secos com aromas, geralmente, associados à amêndoas. Além
disso, a cepa, que tem cachos cilíndricos e bagos fortes, propicia elevada
acidez aos rótulos.
Agora vamos ao vinho!
Na taça tem um amarelo palha com reflexos esverdeados muito
brilhante.
No nariz tem uma explosão aromática de frutas brancas e
cítricas, como maça verde, pera, maracujá, com um evidente toque floral, flores
brancas.
Na boca é delicado e reproduz as notas frutadas, com um bom
volume de boca que me fez salivar de tão saboroso, graças também a acidez
moderada que faz do vinho fresco e refrescante. Tem um final frutado e
persistente.
Que belo vinho, que entregou muito mais do que valeu! Um
excelente custo X benefício! Uma casta que, embora tenha sofrido, ao longo dos
anos, um descrédito, neste rótulo da Família Ângelo Rocca trouxe um caráter
elegante, refrescante, jovem, perfeito para momentos informais e descontraídos
e que pode ser degustado entre amigos ou a beira de uma piscina ou em qualquer
momento, a hora que você quiser. Um vinho que harmoniza muito bem com refeições
cotidianas, massas leves, queijos também leves ou pode ser degustado sozinho.
Um vinho simples? Sim, mas muito versátil e saboroso! Teor alcoólico de 12%.
Sobre a Vinícola Rocca:
A família Rocca trabalha no ramo de vinhos desde 1880, quando
Francesco, o ancestral fundou a “Vinícola Rocca”, iniciando seus negócios
históricos com vinho a granel. Em 1936, seu filho Ângelo aprimorou a produção
de vinho e construiu uma adega em Nardò, Apúlia. Na década de 1960, Ernesto
Rocca, filho de Ângelo, comprou a primeira linha de engarrafamento e iniciou a
distribuição de produtos sob a marca Rocca. Em 2009, a Rocca Family se torna o
principal acionista da vinícola histórica Dezzani, no Piemonte, realizando
novas sinergias comerciais e produtivas. Em 1999, apaixonado por Apúlia, ele
comprou uma fazenda em Leverano, no coração de Salento. A tradição, a paixão
por vinhos merecedores, juntamente com a dedicação à viticultura e à produção
de vinho, foi fortemente afirmada pela Família durante essas cinco gerações. A
Companhia cresceu ao longo do tempo e desenvolveu uma abordagem internacional,
prestando muita atenção às necessidades do mercado, mas sempre cuidando e
respeitando o terroir e a tipicidade dos produtos. Rocca é uma realidade
dinâmica e flexível, ao mesmo tempo, extremamente ligada às suas raízes e hoje
inclui uma fazenda de prestígio na Apúlia, uma vinícola moderna em Agrate
Brianza, perto de Milão, e tem o controle da vinícola histórica Dezzani no
Piemonte. Os vinhos Rocca são apreciados nos mercados mais exigentes em mais de
40 países do mundo.