sábado, 16 de janeiro de 2021

Terranova Brut

A vida é construída por elos emocionais. Embora soe um tanto quanto passional, a realidade é essa e, convenhamos, mais do que necessária! São nossos “carimbos históricos”, que conta um pouco do nosso percurso, da nossa vida com algo ou alguém. Um dos momentos emblemáticos da minha vida, como enófilo, sobretudo naquela transição de que todo brasileiro apreciador de vinho passa, que é do vinho de mesa para as uvas vitis vinífera, foi ter degustado alguns rótulos da vinícola Miolo. A Miolo, com seus rótulos, foram os primeiros vinhos nacionais que eu degustei quando as minhas estruturas sensoriais estavam sendo construídas para o vinho, fizeram e fazem parte da minha história. Mas, há muito tempo eu não degustava um vinho desse produtor que hoje é líder de mercado neste segmento e que ganhou o mundo graças a sua expertise e sua grande capacidade de saber fazer, com qualidade, grandes rótulos, de muita tipicidade expressando grandemente o nosso terroir. Eu havia deixado, meio lado, os seus rótulos nesses últimos anos, a adega estava vazia da Miolo. Não sei dizer o motivo, exatamente, talvez os valores altos, uma oportunidade, não sei. Não quero especular o que de fato não importa muito, porque, depois de muito tempo eis que surge em minha adega, em minhas mãos, em minha taça um vinho da Miolo, para rememorar os bons tempos de outrora nos dias de hoje.

E o vinho que degustei e gostei não poderia ser melhor: um espumante brasileiro! Um grande espumante que veio de terras inusitadas para o cultivo do vinho que hoje, é uma grata realidade, de terras banhadas pelas águas de nosso patrimônio natural: o Vale São Francisco, o Velho Chico, no Vale são Francisco, na Bahia: É o Terranova brut, produzido pelo método charmat, não safrado, com um blend composto pelas castas: Chenin Blanc, Sauvignon Blanc e Verdejo, um “Blanc des Blancs”, um corte bem interessante que faz do vinho muito especial, a assinatura da Miolo para a produção dos melhores espumantes brasileiros. E com esse rótulo, vem também as histórias para contar, as informações que, agregados a nossa vida, se transforma em conhecimento adquirido. O que significa “Blanc des Blancs”? O Vale são Francisco e sua história...Muito para se contar!

Branco dos brancos

O termo “blanc de blancs” encontrado nas garrafas e publicidades de espumantes, é um termo bastante utilizado na região de Champagne na França e posteriormente estendeu-se a diversas outras regiões do mundo, incluindo o Brasil. Mas o que significa “blanc de blancs”? Blanc de blancs significa: espumante branco elaborado somente de uvas brancas.

Um espumante pode ser branco e ser elaborado de uvas tintas, como classicamente da uva Pinot Noir ou de uvas brancas, como por exemplo, da uva Chardonnay. Pode também ser elaborado de uma mistura (assemblage, corte ou blend) de uvas brancas e tintas, mesmo sendo um vinho espumante branco. A indicação “blanc de blancs” serve para que o consumidor saiba, que aquele espumante, ou aquele champagne, se for oriundo da região de Champagne na França, foi elaborado apenas com uvas brancas.

Vale São Francisco: Os vinhos do sol

A vitivinicultura do semiárido brasileiro é uma excepcionalidade no mundo, uma vez que está localizada entre os paralelos 8º e 9o S e produz, com escalonamento produtivo, uvas o ano todo totalizando duas safras e meia em condições ambientais adversas como alta luminosidade, temperatura média anual de 26oC, pluviosidade aproximada de 500mm, a 330m de altitude, em solo pedregoso.

Cinturão dos vinhos

Seus vinhos possuem público crescente, porque são jovens “vinhos do sol”, peculiares nos aromas e sabores, considerados como fáceis de beber e apresentando boa relação comercial qualidade/preço. Aliado a essas particularidades, diretamente associadas à produção de vinhos finos, o Vale é ainda cenário de diversas belezas naturais, históricas e culturais. Estudos já publicados permitem identificar que a região conta com diversas características que comprovam o seu potencial turístico para o desenvolvimento da atividade, como é o caso da sua história, riquezas ambientais e diversificada cultura regional. Esses fatores estão relacionados à diversidade observada na região. Isso é notado, principalmente, em decorrência da sua extensão. A Bacia do São Francisco é a terceira maior bacia hidrográfica do país e a única que está totalmente inserida no território nacional. Nela estão localizados 506 municípios contando com, aproximadamente, 13 milhões de habitantes, que representa 9,6% da população brasileira.

Bem antes do Vale do São Francisco se consolidar como polo de vitivinicultura, quem já exercia esse papel no Brasil era a região Sul. No século 19, o Rio Grande do Sul, mesmo com as condições climáticas desfavoráveis, passou a ser considerado um polo crescente nesse meio – e até hoje segue inserido no ramo. Mas, a chegada de imigrantes estrangeiros no país trouxe o conhecimento técnico e a noção de mercado, o que fez com que outras regiões brasileiras também mostrassem a sua capacidade produtiva. É na década de 1960 que o Nordeste entra em cena e o Vale do São Francisco inicia a sua trajetória na produção de uvas e vinhos, com a implantação das primeiras videiras. Nos anos de 1963 e 1964, foram instaladas duas estações experimentais, nos municípios de Petrolina, no Sertão de Pernambuco e Juazeiro, na Bahia, onde seriam implantados, respectivamente, o Projeto Piloto de Bebedouro e o Perímetro Irrigado de Mandacaru.

Vale do São Francisco

Apesar da escassez de chuva, o clima quente e seco do semiárido mostrou-se terreno fértil para a vitivinicultura e, na mesma década, outras cidades do Sertão de Pernambuco passam a fazer parte da cadeia produtiva. O pioneirismo da vitivinicultura no Nordeste é representado pelo Sertão Pernambucano, que iniciou a sua trajetória na vitivinicultura na década de 1960, produzindo vinhos base para vermutes, na cidade de Floresta, uvas de mesa em Belém do São Francisco e em Santa Maria da Boa vista, localidade que na época se chamava Coripós. Entre os anos 80 e 90, a região banhada pelo Rio São Francisco passa a ser conhecida também pela produção de vinhos finos, e em 1984 é produzido o primeiro vinho no Vale do Submédio São Francisco, com a marca Boticelli. O fortalecimento da vitivinicultura no Vale do Submédio São Francisco se deu com a instalação de vinícolas na Fazenda Milano, em Santa Maria da Boa Vista – PE e Fazenda Ouro Verde, em Casa Nova, na Bahia, que passaram a produzir vinhos finos. Ao longo da década de 1990, ganha destaque a vitivinicultura tecnificada e a produção de uvas sem sementes. É também nessa época, que cresce o investimento de grupos empresariais na região. A instalação de uma infraestrutura física, como construção de packing houses, melhoria no sistema rodoviário e portuário, e, sobretudo, a organização dos produtores em associações e cooperativas, desempenharam um importante papel na consolidação das exportações de uvas de mesa do Vale do Submédio São Francisco. A partir dos anos 2000, a produção se fortalece ainda mais com a implantação de outras vinícolas e vitivinícolas e também com as iniciativas públicas. Ações governamentais e de ensino, pesquisa e inovação, a partir do ano 2000, trouxeram novas tecnologias de produção e processamento de uvas e o reconhecimento de atores internacionais. É nessa época que surge a Escola do Vinho do Curso Superior de Tecnologia em Viticultura e Enologia, do Instituto Federal do Sertão Pernambucano.

Estruturação de IG (Indicação Geográfica)

A estruturação da Indicação de Procedência Vale do São Francisco para vinhos está vinculada a projeto financiado pelo MCT/Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tenológico - CNPq. A ação do projeto, voltada para a estruturação da IG, tem as seguintes instituições de CT&I como executoras: Embrapa Uva e Vinho (coordenação) em parceria com a Embrapa Semiárido, Embrapa Clima Temperado, UCS, UFLA, UFP e IF Sertão. O setor vitivinícola da região é representado pelo “Instituto do Vinho do Vale do São Francisco” (Vinhovasf). O projeto conta, ainda, com outras instituições que participam em diversas pesquisas para apoiar o desenvolvimento tecnológico da vitivinicultura da região do Vale do São Francisco. Os produtos IP Vale do São Francisco incluem os vinhos finos tranquilos brancos, rosados e tintos, o espumante fino e o moscatel espumante.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um amarelo palha, bem claro, mas com reflexos esverdeados e reluzentes, brilhantes. Tem perlage em profusão e bem finas.

No nariz tem um caráter frutado, frutas brancas e cítricas, tais como abacaxi, limão siciliano, maracujá, pera e melão e agradável e delicado toque floral, graças à Chenin Blanc, ressaltados graças a opção da taça: um pouco mais bojuda que privilegia, que ressalta os aromas.

Na boca tem um ótimo frescor e jovialidade graças a sua boa acidez, que acredito seja cortesia da Sauvignon Blanc, com um ótimo equilíbrio e leveza, além de um final frutado e retrogosto persistente.

Um espumante excepcional, que expressa, com veemência, as características mais marcantes de um terroir improvável, mas que, com expertise e arrojo por parte de empreendedores do vinho, fizeram acontecer, entregando aos enófilos vinhos frescos, jovens, mas vibrantes. E, depois de tantas histórias, conceitos e conhecimentos agregados, a minha história com a Miolo foi restabelecida, com um caminho longo, mas prazeroso, a se percorrer! Há de se ter mais vinhos, porque sou merecedor deles, como um enófilo, como um apreciador de vinhos. E por falar em merecimento e qualidade, esse Terranova brut é digno de sua história, de seu DNA: um vinho fresco, jovem, direto, mas com a personalidade de uma região que, a cada dia cresce, em estrutura e qualidade. Castas típicas da Espanha, França encontraram em terras brasileiras um cultivo ideal entregando, para nosso deleite, vinhos sensacionais, e que esse Terranova entrega maravilhosamente! Teor alcoólico de 12%.

Terranova Brut harmonizado com um belo queijo Gruyere

Sobre a Vinícola Terranova:

O Grupo Miolo, além de sua presença forte no Rio Grande do Sul, é dona também da Vinícola Terranova, em Casa Nova, na Bahia. Eles adquiriram a Fazenda Ouro Verde, onde hoje está a Vinícola Terranova, no ano 2000. Na época, já existia uma pequena vinícola em funcionamento no local, que foi totalmente restaurada e ampliada. A construção da nova vinícola começou em 2002 e levou dez anos para ser totalmente concluída. Hoje 10% da produção é destinada ao mercado internacional. Desde sua abertura para o público, eles recebem cerca de 2.500 visitantes por mês. São 683 hectares, área que compreenderia uma cidade de 30 mil habitantes. Desses, 200 hectares são dedicados ao plantio das uvas. É horizonte de parreiras a perder de vista.

Vinícola Terranova

Diferentemente da maioria dos vinhedos, a Terranova conta com até duas safras e meia de uvas por ano devido ao controle que faz do ciclo das parreiras. Ou seja, o ciclo normal que leva um ano na maior parte do mundo, ali leva apenas 4 meses. De um lado elas estão verdejantes e carregadas de uvas, do outro lado elas estão nascendo ou ainda na fase de poda. Esta é a região mais seca do Brasil. Anualmente contam com 3.100 horas de sol e apenas 400mm de chuvas anuais. O inverno nunca chega diferentemente da maioria das vinícolas ao redor do mundo (incluindo as brasileiras). O que causa tal milagre é a irrigação contínua e localizada por sistema de gotejamento do Rio São Francisco. A plantação é dedicada à uva perfeita para espumantes, vinhos jovens e frutados, e também do melhor suco de uva integral que você encontrará no mercado.

Sobre a Vinícola Miolo:

A história da família Miolo no Brasil começa em 1897. Entre os milhares de imigrantes italianos que vieram ao país em busca de oportunidades, estava Giuseppe Miolo, um jovem que já tinha nas veias a paixão pela uva e pelo vinho, vindo da localidade de Piombino Dese, no Vêneto. Ao chegar ao Brasil, Giuseppe foi para Bento Gonçalves, município recém-formado por imigrantes italianos. Entregou suas economias em troca de um pedaço de terra no vale dos vinhedos, chamado Lote 43. Já em 1897, o imigrante começou a plantar uvas, dando início a tradição vitícola da família no Brasil.

Na década de 70, a família foi pioneira no plantio de uvas finas, fazendo com que os netos de Giuseppe Miolo, Darcy, Antônio e Paulo, ficassem muito conhecidos na região pela qualidade de suas uvas. No final da década de 80, uma crise atingiu as cantinas dificultando a comercialização de uvas finas e forçando a família Miolo, a partir de 1989, a produzir o seu próprio vinho para a venda a granel para outras vinícolas. Surge a Vinícola Miolo, com apenas 30 hectares de vinhedos. Em 1992 a primeira garrafa assinada pela família foi um Merlot safra 1990, que na partida inicial teve 8 mil garrafas produzidas. Em 1994 é lançado o Miolo Seleção, que logo se torna o vinho mais distribuído da Miolo.

A paixão pela vitivinicultura e o desejo de levar mundo afora o vinho fino brasileiro foi o que inspirou a família Miolo a tomar a decisão de expandir o negócio. Inicia-se em 1998 o Projeto Qualidade. Desde então o crescimento da empresa foi significativo: com investimentos constantes na terra, tecnologia, recursos humanos e no próprio consumidor, iniciou-se também o Projeto de Expressão do terroir brasileiro.

Instalado na Estância Fortaleza do Seival, localizada no Sul do Brasil, no município de Candiota, próximo à divisa com o Uruguai, o “Projeto Seival”, nos anos 2000. Em 2001 a Família Miolo juntamente com a família Benedetti (Lovara) iniciam o projeto Terranova no Vale do São Francisco, adquirindo a antiga propriedade do Sr. Mamoro Yamamoto chamada Fazenda Ouro Verde. Em 2009 a Família Miolo, juntamente com a família Benedetti e a família Randon, adquirem a Vinícola Almadén pertencente a Pernod Ricard. Sendo também uma das mais importantes do segmento de vinhos no mercado nacional, introduzindo a colheita mecânica, pioneira no Brasil.

Mais informações acesse:

https://www.miolo.com.br/

Referências de pesquisa:

“Enoestilo”: https://www.enoestilo.com.br/dica-de-vinho-do-dia-blanc-de-blancs/

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=BR04

“Revistas Unifacs”: https://revistas.unifacs.br/index.php/rde/article/viewFile/4017/2739

“Blog Vinho Tinto”: https://www.blogvinhotinto.com.br/destaquesdoblog/ja-conhece-os-vinhos-do-vale-do-sao-francisco/

“Enovírtua”: https://www.enovirtua.com/enoturismo/producao-de-uvas-e-vinhos-no-vale-do-sao-francisco-uma-historia-que-comeca-na-decada-de-1960/#:~:text=%C3%89%20na%20d%C3%A9cada%20de%201960,a%20implanta%C3%A7%C3%A3o%20das%20primeiras%20videiras.&text=Ao%20longo%20da%20d%C3%A9cada%20de,produ%C3%A7%C3%A3o%20de%20uvas%20sem%20sementes.

“Embrapa”: https://www.embrapa.br/uva-e-vinho/indicacoes-geograficas-de-vinhos-do-brasil/ig-em-estruturacao/vale-do-sao-francisco

“Site Terra”: https://chickenorpasta.com.br/2018/enoturismo-na-bahia-visitando-a-vinicola-terranova

 

 

 

 









 

quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

Muralhas de Monção 2015

 

Sabe aquele vinho que “harmoniza” com o clima do Brasil? Um clima quente, tropical, aquele vinho que se assemelha a descontração do povo brasileiro, a sua receptividade? Pois é, com essas linhas iniciais muitos pensariam que estou a falar do nosso espumante que, de fato, se adequa a esses quesitos, sendo ainda uma referência de qualidade e tipicidade para a nossa vitivinicultura. Mas dessa vez eu não falo dos espumantes, mas sim dos vinhos verdes! Os vinhos verdes, oriundo da região de mesmo nome, lá do Minho em Portugal, predominantemente com os seus rótulos, traz todo o frescor, a jovialidade e a leveza de que nós, brasileiros, apreciamos e que tem tudo a ver com o nosso clima e estado de espírito. Claro que, a região dos Vinhos Verdes, representados pelos seus dignos e perseverantes produtores está investindo em rótulos mais complexos, encorpados e com passagens por barricas de carvalho, mas que se configura em uma espécie de confronto, de substituição aos clássicos vinhos verdes mais leves e frescos que, muitas vezes são erroneamente confundidos com vinhos de má qualidade, mas apenas como uma proposta a mais, cabendo ao enófilo escolher o que lhe convém.

Lembro-me que, o meu primeiro contato com o vinho verde, foi, admito, tardiamente, por volta do ano de 2015, quando degustei, segundo meus registros fotográficos, o meu primeiro rótulo, muito por conta da informação que recebi sobre as suas características e que se confundia com os espumantes que eu já degustava há mais tempo. Sempre me falavam: “Você, que gosta de espumante, compre vinho verde!” Mas ainda demorei um tempo para comprar um rótulo. Quando, em uma das minhas incursões ao supermercado, perguntei a um responsável pelo setor do vinho que trafegava pelos corredores se tinha vinho verde, pois me lembrei das dicas e recomendações de tempos atrás, o funcionário do supermercado me indicou um da vinícola Adega de Monção, um rótulo simples que poucos dariam o devido crédito, mas o valor era muito atrativo e eu estava, naquele momento, muito interessado em degustar um vinho verde. O comprei!

Meu primeiro vinho verde da Adega de Monção

O retorno foi maravilhoso! De fato era o que as pessoas diziam. Então, entusiasmado com o resultado, retornei ao supermercado com a intenção de adquirir outro rótulo. Estava determinado! E quando o escolhi, inclusive do mesmo produtor, porém um pouco mais caro, não tinha noção do quão esse vinho iria impactar, de forma tão positiva e avassaladora, a minha vida como enófilo. Então o vinho que degustei e gostei veio da região portuguesa dos Vinhos Verdes, e se chama Muralhas de Monção, um corte das típicas e emblemáticas castas Alvarinho (85%) e Trajadura (15%), da safra 2015. Esse vinho abriu a minha mente, definitivamente, para o mundo dos vinhos verdes, transbordando de conhecimento no que tange a sua região, castas e tipicidade. Então, na mais prudente falar um pouco da região e da sua brilhante participação na edificação da história vitivinícola de Portugal.

Vinhos Verdes, a região.

Desde o tempo da ocupação romana, antes da era cristã, a vinha era cultivada na margem sul do Rio Minho da forma característica e invulgar que se mantém até hoje. Não se trata de suposição. As referências à viticultura na região encontram-se nos escritos do naturalista Plínio, o Velho, em sua História Natural, e do filósofo Sêneca, em seu compêndio Questões Naturais. Está também documentada na legislação do Imperador Domiciano, entre 96 e 51 a.C. Na Idade Média multiplicam-se as referências escritas ao cultivo das uvas e a elaboração de vinhos no noroeste lusitano, a partir das atividades nos mosteiros e do decisivo suporte da coroa portuguesa. O vinho entra definitivamente, entre os séculos XIII e XIV, nos hábitos das populações entre o Minho e o Douro ao mesmo tempo em que se dá a expansão econômica da região e a crescente circulação da moeda. Ainda que a exportação fosse pequena, os vinhos verdes foram, entre os vinhos portugueses, os primeiros conhecidos fora das fronteiras, particularmente na Inglaterra. No início do século XX, ultrapassados os problemas das quebras de produção devido às pragas, foram tomadas medidas especiais para a colocação dos vinhos locais e escoamento dos excedentes. Tornava-se obrigatório, para isso, conservar a genuinidade e a qualidade dos produtos, assegurando-se seu valor do ponto de vista cultural e econômico. O ano de 1908 é crítico na história portuguesa: o rei Carlos I e seu filho são assassinados, abrindo caminho para a República. Nesse mesmo ano, a região dos vinhos verdes é demarcada oficialmente e dividida em seis sub-regiões: Monção, Lima, Basto, Braga, Amarante e Penafiel. O limite a oeste é o Atlântico e, ao norte, a Espanha.

Região dos Vinhos Verdes

A Região Demarcada dos Vinhos Verdes está dividia em nove sub-regiões, cada uma com sua característica específica e suas castas de uva recomendadas:

Sub-região de Monção e Melgaço: utiliza-se apenas as castas Pedral (tinta) e Alvarinho (branca). É de lá o mais icônico Alvarinho, com notas cítricas misturadas com nuances de aromas florais e de frutos tropicais e paladar mineral.

Sub-região de Amarante: as castas brancas são Azal e Avesso e originam vinhos com aromas frutados e com o maior teor alcoólico da Região. Mas é dos tintos que vem a fama da sub-região. Elaborados com Amaral, Vinhão e Espadeiro, são vinhos com cor carregada e muito viva.

Sub-região de Baião: também tem muita notoriedade na produção dos brancos, a partir da casta Avesso.

Sub-região de Basto: a casta Azal atinge o seu máximo potencial e resulta vinhos com aroma de limão e maçã verde muito frescos, de alta acidez.

Sub-região do Cávado: tem vinhos brancos das castas Arinto, Loureiro e Trajadura com acidez moderada e notas de frutos cítricos e de pomar. Os vinhos tintos são na maioria cortes de Vinhão e Borraçal, cor intensa vermelho granada e aromas de frutos frescos.

Sub-região do Lima: Os vinhos brancos mais famosos são produzidos a partir da casta Loureiro. Os aromas são finos e elegantes e vão desde de limão até rosas.

Sub-região de Paiva: produz alguns dos tintos mais prestigiados de toda a Regiãoa a partir de Amaral e Vinhão.

Sub-região do Sousa: utiliza a casta Espadeiro, principalmente para a produção de rosés, sendo alguns dos mais destacados da Região.

Sub-região do Ave: Arinto e Loureiro Trajadura juntas compõem um blend perfeito com frescura viva e notas florais e de frutas cítricas.

O uso indiscriminado dos termos “Vinhos Verdes” ou “Vinho Verde” gera muita confusão. Pode parecer uma questão simplesmente ligada ao plural, mas não é. Os termos se referem à Região dos Vinhos Verdes (plural), uma das 14 regiões demarcadas de Portugal e à Denominação de Origem Controlada (DOC) Vinho Verde (singular). Para receber o selo de Denominação de Origem Vinho Verde, os vinhos devem respeitar as normas estabelecidas pela lei. Não há restrição de área de cultivo, toda a produção realizada dentro da Região dos Vinhos Verdes pode receber o selo se respeitarem as diretrizes da DOC. A legislação permite a elaboração de vinhos brancos, rosés e tintos dos tipos tranquilo e espumante. Os tranquilos devem ter um volume alcoólico entre 8,5% e 14% e os espumantes entre 10% a 15% de álcool. Todos são elaborados exclusivamente com castas autóctones da região, são elas: as brancas Alvarinho, Arinto, Avesso, Loureiro, Azal, Batoca, Trajadura, e as tintas Vinhão, Alvarelhão, Amaral, Borraçal, Espadeiro, Padeiro, Pedral e Rabo de Anho. É permitida a criação de varietais e blends. Contanto, varietais de Alvarinho só recebem a certificação DOC Vinhos Verdes quando elaborados na sub-região de Monção e Melgaço. Exemplares de qualquer outra sub-região recebe a certificação de Vinho Regional do Minho.

Em 1926 foi criada a Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV), responsável por controlar e certificar os produtos elaborados na região. Quando a amostra apresentada à CVRVV não cumpre com os requisitos legais para ser certificada como DOC, o exemplar recebe o selo IG Minho. Isso não quer dizer que o vinho é de pior qualidade, apenas que não se enquadra legalmente aos parâmetros pré-definidos. A IG Minho permite a utilização de maior variedade de castas, incluindo uvas internacionais, e regras distintas de vinificação. Na maioria dos casos, os produtores não estão buscando necessariamente a tipicidade do vinho, mas a produção de vinhos inovadores. É comum encontrar vinhos IG Minho mais caros que os DOC Vinhos Verdes. Alguns produtores optam de forma intencional por rotular seus vinhos como Regional do Minho, até mesmo por questões de marketing e posicionamento de mercado.

A região dos Vinhos Verdes tem influência atlântica, reforçada pela orientação dos vales dos principais rios, que correndo de nascente para poente facilitam a penetração dos ventos marítimos. É observada elevada pluviosidade, temperatura amena, pequena amplitude térmica e solo majoritariamente granítico e localmente xistoso. Mas algumas regiões, por conta do microclima, apresentam características de terroir distintas. O que influencia diretamente no vinho.

Por que vinho verde?

Evidentemente, a cor do Vinho Verde não é verde. Então, por que esse nome? Duas são as versões mais conhecidas. O Vinho Verde leva esse nome porque as uvas da região, mesmo quando maduras, têm elevado teor de acidez, produzindo líquido cujas características lhes dão a aparência de vir de uvas colhidas antes da correta maturação. A outra explicação diz que "Vinho Verde" significa "vinho de uma região verde", ou seja, a denominação deriva da belíssima paisagem local, onde o verde das terras cultivadas se perde no horizonte.

E agora o vinho!

Na taça apresenta um amarelo palha com tons brilhantes muito intensos, além de um gaseificado que indica frescor.

No nariz traz um toque exuberante de frutas brancas, frutas frescas e cítricas, como pêssego, graças a Alvarinho e sua predominância, pera, maracujá, abacaxi e um intenso floral, flores brancas, além daquelas inconfundíveis notas minerais que diria ser por conta da influência atlânticas das terras do Minho.

Na boca é leve, fresco, uma belíssima jovialidade, mas com uma personalidade forte e marcante, sendo expressivo que preenche a boca, graças também a sua boa acidez, o toque cítrico, frutado, mineral, com um final persistente e fresco.

Um vinho espetacular que adentrou a minha vida de enófilo de uma forma avassaladora, como um furacão vinífero e deixou, até hoje deixas consistentes em minha vida de enófila, quase 5 anos depois de degustado. Um vinho versátil e que entrega, além do tradicional frescor e leveza de um típico vinho verde, uma personalidade marcante e poderosa aos sentidos. Sempre me lembrarei desse vinho como o de fato inaugural nas minhas degustações de vinho verde. De todos os vinhos verdes que entraram e saíram da minha adega, de todos aqueles que degustei e degustarei, ele sempre será a minha referência, o meu fator de gratas e inesquecíveis lembranças. Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a Adega de Monção:

A Adega Cooperativa Regional de Monção, CRL, foi fundada a 11 de Outubro de 1958, por iniciativa de 25 viticultores. Situada em plena Região Demarcada dos Vinhos Verdes, na sub-região de Monção e Melgaço, onde a casta Alvarinho é melhor representada. A matéria-prima, aliada à cuidada seleção das uvas à entrega da Adega, conjugada com a tecnologia moderna de vinificação e um contacto de proximidade com os clientes, são o garante da qualidade dos seus produtos, produtos estes reconhecidos em Portugal, mas também em grande parte dos países da Europa, África, América do Norte e do Sul.

Entre 1986 e 2004 a Adega de Monção melhorou as condições tecnológicas de receção de uvas e o processo de vinificação, a capacidade de armazenamento, estabilização e engarrafamento dos vinhos. Em 1999 aumentou as suas instalações com a criação de um novo centro de receção de uvas e vinificação – o pólo de Melgaço, cobrindo assim de melhor forma toda a área geográfica da sub-região em que se encontra. Entre 2004 e 2006, tiveram início às obras de criação de modernas estruturas físicas que permitiram alargar a comercialização a nível nacional e internacional, perfazendo um investimento total de 6,5 milhões de euros, infraestrutura que acolheu os novos serviços administrativos, zona de receção de uvas e nova linha de engarrafamento, obra inaugurada em 2008 aquando da comemoração dos 50 anos.

Atualmente a Adega de Monção apresenta uma faturação anual superior a 15 milhões de euros, sendo reconhecida de forma unânime como uma das melhores Adegas Cooperativas do País, assumindo assim um papel de grande importância na economia local. Possui 1720 produtores associados, que somam uma área de vinha de 1237 Ha e produções na ordem dos 8.000.000 Kg anuais, dos quais 60% dizem respeito à casta Alvarinho.

Para ser possível o desenvolvimento desta atividade a Adega de Monção, possui dois polos de produção, que no conjunto tem uma capacidade de receção de uvas de 700.000 kg por dia. Possui ainda uma capacidade de armazenamento de vinhos de 10.328.648 litros. A Adega de Monção possui capacidade de vinificação e engarrafamento da totalidade dos vinhos produzidos, tendo sido para o efeito adquirida em 2005 uma nova linha de engarrafamento com uma capacidade de produção de 6000 garrafas/hora.

Mais informações acesse:

http://adegademoncao.pt/

Referências de pesquisa:

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/vinho-verde-bebida-portuguesa-do-verao_8317.html

https://revistaadega.uol.com.br/artigo/a-paisagem-que-deu-nome-ao-vinho_2744.html

“Reserva 85”: https://reserva85.com.br/vinho/indicacao-geografica-ig-denominacao-de-origem-do/regioes-demarcadas-de-portugal/regiao-dos-vinhos-verdes/


Degustado em: 2016

 

 




 


sábado, 9 de janeiro de 2021

Traversa Tannat e Merlot Roble 2016

 

Estava eu em um evento de degustação de vinhos em minha cidade, Niterói, no Rio de Janeiro e flertando entre vários estandes com demonstrações dos rótulos e produtores e me deparei com um vinho brasileiro da gigante vinícola Salton, o famoso “Salton Intenso” com um corte, até então novo para mim, das castas Tannat e Merlot, diria bem inusitado. O que me levou até o rótulo foi esse blend. Logo pedi ao demonstrador que enchesse a minha taça. Quando o degustei achei no mínimo avassalador! Uma combinação explosiva e potente garantido pela casta Tannat e o equilíbrio e a maciez entregue pelo Merlot. Tomado pela surpresa exclamei: Que vinho saboroso! Nunca tinha degustado esse rótulo da Salton! O demonstrador disse: “Realmente é um dos melhores deste produtor e esse é corte típico do Uruguai.” Pensei imediatamente que deveria degustar mais os grandes vinhos uruguaios, afinal não sabia que esse corte era típico deste pequeno, mas significativo país produtor de vinhos grandiosos. Talvez seja de fato uma ignorância da minha parte. E, a partir daquele momento, decidi me dedicar a buscar vinhos uruguaios com esse blend. Quem diria que um vinho brasileiro tenha suscitado um interesse em buscar rótulos uruguaios. Degustei alguns grandes vinhos do Uruguai ao longo da minha vida como enófilo, mas não o suficiente, não o quanto eu queria. Gostaria de diversificar, degustar mais castas que não fosse a emblemática Tannat. E espero fazê-lo.

Mas voltando a minha aventura dos cortes das castas Tannat e Merlot, depois de algum tempo tentando, consegui encontrar alguns vinhos, de propostas mais básicas, muito boas, mas precisava degustar um com passagem por barricas de carvalho, um que fizesse jus a potência da casta Tannat. E, em um dia navegando por sites especializados de vendas de vinho, localizei um Tannat e Merlot de um tradicional produtor de Montevideo chamada Família Traversa, um, como eles chamam, de “Roble”, palavra, em espanhol, muito usada para designar que o vinho passa por madeira, e por um valor impressionante: em torno dos R$ 29,00! Não hesitei e comprei o vinho! O guardei em minha adega por quase dois anos! Decidi esperar para degusta-lo em seu auge e eis e tão esperado momento.

O vinho que degustei e gostei veio da região de Montevideo, capital do Uruguai, da Familia Traversa, o Traversa Roble, um corte típico deste país, composto pelas castas Tannat (80%) e Merlot (20%) da safra 2016. E como o Uruguai é pouco comentado pelos especialistas e enófilos em terras brasileiras, apesar de termos um número razoável de rótulos sendo ofertados em nossas terras, não vou, por aqui, negligenciar a história significativa desse país na vitivinicultura mundial.

Uruguai: o pequeno grande da vitivinicultura

O Uruguai era originalmente povoado pelos índios Charruas, mas em 1680 os portugueses começaram a se assentar na região; os espanhóis chegaram logo em seguida. O país, como o conhecemos hoje, passou a existir com a declaração de independência em 1828, quando se estabeleceu como República, após vários anos de guerras sangrentas que envolveram Espanha, Portugal, Argentina e o Brasil. Já nessa época, por influência dos europeus, havia o cultivo de uvas na região, demonstrando que a história da vitivinicultura no Uruguai se confunde com a própria história do país. As primeiras uvas viníferas foram cultivadas em território uruguaio há mais de 250 anos. A produção de vinhos, entretanto, só começou a ser realizada comercialmente na segunda metade do século XIX. Em 1870, Dom Pascal Harriague introduziu ao Uruguai várias castas de uva em busca de uma que se adaptasse bem ao solo e clima da região. A tannat foi a que se saiu melhor na experiência e desde então, por causa do seu sucesso imediato e duradouro no país, ela dá vida ao autêntico vinho uruguaio.

Na década de 1970, houve uma renovação na vitivinicultura do Uruguai; novas técnicas de plantio e cultivo, bem como a introdução de novas variedade de uvas, possibilitaram um desenvolvimento substancial à sua indústria de vinhos. Aliado a tudo isso, a evolução dos vinhos uruguaios aconteceu por causa da paixão dos produtores e apreciadores de lá pela bebida. A maneira artesanal e a relação respeitosa que eles têm com as uvas que cultivam tornaram seus vinhos premiados e bastante reconhecidos no mercado internacional. Hoje em dia, além da qualidade de seus terroirs com clima mediterrâneo e solo fértil, há uma gama de variedades plantadas que elevaram o padrão do vinho produzido no país. O pequeno território do Uruguai abriga vinhedos em toda a sua extensão – 16 dos 19 estados uruguaios possuem plantações de uvas viníferas, a maior parte de uvas tintas, que representam mais de 80% das castas cultivadas. A Tannat representa 44% das plantações no Uruguai, mas outras castas como a Cabernet Sauvignon, Pinot Noir e Sauvignon Blanc, entre outras, podem ser destacadas na produção do país. A região sul do país é a que mais concentra vinícolas. As regiões de Montevidéu e Canelones tem a maior parte da produção de vinhos do país, San José e Colônia del Sacramento são outros centros vinicultores importantes.

O Uruguai e suas regiões vinícolas

O Uruguai possui uma rota de vinho especial e aconchegante, coordenada pela Associação de Turismo Enológico do Uruguai, que reúne muitas bodegas familiares, com estrutura e história que fascinam seus visitantes. A rota, batizada de “Os caminhos do vinho” passa por regiões de Montevidéu, Canelones, Maldonado, Colônia e Rivera, cujas paisagens belas e exuberantes são atrativos que complementam sua ótima gastronomia e seus vinhos finos.

E agora finalmente o vinho!

Na taça traz um vermelho rubi intenso, brilhante e com reflexos violáceos, com abundantes lágrimas finas e consistentes que insistem em desenhar as bordas do copo.

No nariz entrega um bouquet de frutas vermelhas como groselha e morango e frutas negras como amora e ameixa, com notas amadeiradas e um toque agradável de baunilha, graças a passagem, de 10 a 12 meses, por barricas de carvalho.

Na boca é intenso, mas elegante, é estruturado, mas macio e aveludado. Um vinho harmonioso e equilibrado, com taninos gordos e presentes, com uma acidez correta, além das notas amadeiradas, com o toque de chocolate e de baunilha. Tem um final persistente e frutado.

Um vinho excepcional! A expressão máxima do terroir uruguaio com a sua casta vitrine, a Tannat, com a sua personalidade, estrutura e complexidade, aliada a maciez, o toque frutado da casta Merlot. Um casamento que, para muitos poderia parecer improvável ou para ser mais singelo, inusitado, trouxe toda a versatilidade de que o vinho merece ter para enamorar a todos os enófilos que gostam de vinhos frutados e básicos a vinhos mais estruturados e complexos. E eu tive o prazer de degustar o ápice desse vinho, com essa proposta. Eu acreditei tanto neste vinho que, mesmo que evoluindo na adega, eu decidi comprar outro vinho desse produtor, uma estréia também, um branco da icônica casta Chardonnay, que eu também não havia degustado, um Chardonnay uruguaio e também foi maravilhoso: o Traversa Chardonnay da safra 2018. O Traversa Tannat e Merlot 2016 Roble, como disse, é muito versátil e harmoniza com pratos mais simples até massas e carnes condimentadas, bem como queijos mais fortes, de aromas mais intensos. Teor alcoólico de 12,5%.

O Traversa Tannat-Merlot com queijo provolone

Sobre a Família Traversa:

Esta empresa com as suas vastas vinhas e fábricas de processamento de vinho, conta com a presença constante da Família Traversa. Sessenta anos de muito trabalho e três gerações que sustentam a qualidade dos seus vinhos. Cada novo plantio e manutenção, processamento, embalagem e distribuição de vinho, marketing e atendimento ao cliente são sempre supervisionados por um membro da família. Assim somos e ambicionamos qualidade, e este é o resultado do nosso trabalho. A história desta família é o legado de bondade e esperança que, como no nosso caso, estamos unidos nas vinhas e há três gerações.

Em 1904, Carlos Domingo Traversa veio para o Uruguai com seus pais. Filho de imigrantes italianos, foi em sua juventude peão rural em fazendas de vinhedos, e em 1937 com sua esposa, Maria Josefa Salort, conseguiu comprar 5 hectares de terras em Montevidéu. Suas primeiras plantações de uvas de morango e moscatel foram em pequena escala. Em 1956 fundou a adega com os seus filhos, Dante, Luis e Armando, que hoje com os seus netos têm muito orgulho de continuar o seu sonho.

A atitude constante de crescimento contínuo, com dedicação e desenvolvimento levou e ainda leva a vinícola a ser um exemplo em todo o Uruguai. Em mais de 240 hectares próprios, além de vinhedos de produtores cujas safras são controladas diretamente pela empresa, obtendo assim uma grande harmonia com os vinhos e as próprias uvas. As variedades plantadas são: Tannat, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Merlot, Chardonnay e Sauvignon Blanc. As uvas são processadas com maquinários e instalações da mais alta tecnologia. Inicia-se com um rígido controle de produção, colheita no momento ideal, plantio de leveduras selecionadas, controle de fermentação, aplicação a frio no processo de elaboração, clarificações e degustação dos vinhos para definir diferentes categorias de qualidade. Daí passa-se a armazenar em grandes recipientes de grande tecnologia, como inox, tanques térmicos, ou em barricas de carvalho americano e francês.

Mais informações acesse:

http://grupotraversa.com.uy/en/



Fontes para pesquisa:










quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

O que são "Bush Vines"?

 

O termo em inglês, “Bush Vines” ou “Bush Wines”, pode parecer distante para muita gente, até mesmo entre especialistas e enófilos, mas, traduzindo-o, “Vinhas Arbustivas” ou “Vinhos de Arbusto”, o termo pode parecer mais familiar, contudo, ainda assim, é um conceito distante, sobretudo para os brasileiros, apesar de termos e palavras populares no dicionário dos apreciadores da nobre bebida. Mas afinal de contas o que de fato significa “Vinhas Arbustivas”?

Dependendo do clima, do estilo do vinho, do solo e de outros fatores, a videira é podada de forma específica e adquire uma formação especial. A videira arbustiva é, portanto, um estilo de poda que, como o próprio nome indica, é em forma de arbusto e é um dos estilos de poda mais antigos do mundo. Geralmente tem um tronco curto e o topo é um tanto irregular e não como as vinhas de Bordeaux, por exemplo, que têm esse formato em "T" (cientificamente chamado Double Fuyot).

Vinhas de Bordeaux (Double Fuyot)

Mas por que alguém escolheria? Pois bem, com este formato a videira passa a ter quantas folhas forem necessárias para a sombra, para que o fruto não queime enquanto ajuda no amadurecimento gradual e adequado das uvas. Também ajuda a ventilar a videira evitando doenças como o bolor. Diante disso entende-se que as vinhas de arbusto são ideais para áreas com clima quente e muito sol, como o Ródano, África do Sul, Austrália e Grécia. Ao mesmo tempo, as raízes das vinhas arbustivas têm a capacidade de atingir até 20 metros de profundidade em busca de água. Isso os torna ideais para climas secos, bem como para áreas onde a irrigação é difícil ou proibida.

Bush Vines


Algumas realidades

Por outro lado, as vinhas arbustivas também apresentam algumas desvantagens. O mais importante deles é a incapacidade de realizar a colheita mecânica. Como resultado, é preciso muito mais trabalho (e dinheiro) e tempo para colher as uvas. Além disso, apresentam rendimentos mais baixos, o que em combinação com o anterior conduz a uma perda de dinheiro para o produtor (a menos que consiga vender os seus vinhos a um preço superior).

E de acordo com essa desvantagem o cenário das videiras arbustivas tem declinado nas regiões de Stellenbosch, Malmesbury e Paarl, regiões emblemáticas de produção de vinhos na África do Sul, segundo dados apresentados em 1991, por Archer, do Departamento de Viticultura e Enologia da Universidade de Stellenbosch. Na área de Stellenbosch, a porcentagem de videiras sendo cultivadas como videiras arbustivas diminuíram de 59% em 1971 para 38% em 1979 e 30% em 1987. De acordo com os dados de bloco SAWIS de 2012, 23% (excluindo blocos de um ano de idade) da superfície plantada com videiras em Stellenbosch foi cultivada como vinhas. Estima-se que 80 a 90% das uvas para vinho no distrito de Malmesbury (Swartland) eram cultivadas como vinhas no final da década de 1980 (Archer, 1991). Os dados de bloco SAWIS mais recentes mostram que 47% das videiras nesta área não são gradeadas.

Um dos motivos para o afastamento das vinhas de arbusto é provavelmente o objetivo de maiores produções viabilizado por sistemas de treliça, em conjunto com a maior disponibilidade de água para irrigação. Além disso, o foco na mecanização é cada vez maior e o fato de os processos de poda e colheita em cipós não poder ser mecanizado, impacta nas considerações dos produtores no momento do estabelecimento.

Status recentes

Os dados do bloco SAWIS de 2012 foram usados ​​para investigar o status atual das videiras arbustivas. Os plantios de um ano foram ignorados, visto que a maioria desses blocos são gradeados no segundo ano.

Aproximadamente 15% da superfície total plantada com videiras foi cultivada como trepadeiras. No que diz respeito às regiões, 91% das plantações de vinha em arbustos situavam-se em Malmesbury (6 404 ha; 47% da superfície regional), Stellenbosch (3 722 ha; 23% da superfície regional) e Paarl (3 449 ha; 22 % da superfície regional). De acordo com os dados do bloco, 54% do status de cipó arbustivo total era cultivado como vinhas de sequeiro. As trepadeiras são especialmente adequadas quando o vigor previsto é baixo; sob essas circunstâncias, o custo adicional de treliça muitas vezes não é justificado. Esses terrenos simplesmente não são capazes de realizar produções mais altas.

Nada menos que 67 castas são cultivadas como trepadeiras e a imagem abaixo mostra a superfície representada pelas castas mais importantes.

Cepas com um padrão de crescimento naturalmente vertical são mais fáceis de moldar e cultivar como trepadeiras. A experiência mostra que castas como a Shiraz, que têm brotos mais flexíveis, requerem mais insumos para o cultivo bem-sucedido como trepadeiras.

A Tabela abaixo indica que o segmento de videiras treliçadas em geral compreende videiras mais jovens (menos de 10 anos), com os produtores treliçando suas videiras em maior extensão. Nos últimos anos, mais plantios também têm ocorrido nas áreas de irrigação, onde o gradeamento de videiras é a norma.

Entre os 10% das vinhas de arbusto com mais de 30 anos, foram identificados vários blocos que estão produzindo vinhos com terroir excepcionais. A velha vinha de arbusto, Chenin blanc, em particular, alcançou destaque nos últimos anos e continuam surgindo excelentes exemplos desses vinhos complexos e únicos. A preços médios, no entanto, essas vinhas velhas não são sustentáveis.

O cultivo de uvas para vinho como vinhas de arbustos diminuiu e espera-se que diminua ainda mais como resultado da crescente pressão para mecanizar. Os produtores também devem buscar uma alta produção unitária, o que só é possível por meio de sistemas de treliça maiores (superfície foliar).

No entanto, as trepadeiras arbustivas continuam a ser uma opção em terrenos de menor rendimento (por exemplo, terras secas com teor de umidade do solo suficiente), onde um sistema caro de treliça não garante necessariamente produções mais altas. Muitas vezes, esse terreno permite videiras equilibradas com crescimento e produção moderados, a partir dos quais vinhos concentrados e de alta qualidade podem ser feitos. O desafio é, portanto, encontrar valor para esses vinhos nos mercados. Só então a icônica videira do mato será capaz de permanecer uma parte sustentável de nossa paisagem de vinhedos.

Alguns ligam as vinhas de arbusto ao cultivo biodinâmico e a vinhos de qualidade. Esta ligação não foi cientificamente comprovada, mas foi demonstrado que as vinhas são menos suscetíveis no Botrytis cinereal ou, em outras palavras, podridão cinza. Isso significa uma planta mais saudável sem a necessidade de usar muitos produtos químicos e é provavelmente por isso que ela é escolhida pelos defensores do cultivo biodinâmico.

Referências:

“WineLand”:https://www.wineland.co.za/cultivation-of-bush-vines-in-south-africa-the-current-situation/

“Blog Botilia”: https://blog.botilia.gr/en/bush-vines-en/













terça-feira, 5 de janeiro de 2021

Marquês de Casa Concha Cabernet Sauvignon 2014

 

Falar e degustar um vinho da Concha y Toro, a gigante vinícola das américas e do mundo, pode parecer simples, fácil e até, para alguns críticos ferrenhos deste produtor, banal, mas não sabem o quanto é maravilhoso, o quanto é prazeroso. Lembro-me, com grande nostalgia, dos tempos de outrora quando comecei a degustar os vinhos produzidos com castas, com uvas vitis vinífera, e a importância dos vinhos da Concha y Toro, mesmos que tenham sido os seus rótulos básicos, para a minha história de enófilo, para essa tão importante transição das uvas de mesa para os vinhos finos. Talvez seja fácil por ele ter tido essa representatividade em minha vida, simples porque é nobre, mas, vos digo, que não é nada banal, muito pelo contrário, meus bons amigos, é único, é especial. Essa visão preconceituosa, sobretudo dos tais “formadores de opinião”, de que, pelo simples fato é uma indústria, são vinhos produzidos em larga escala e que, por conta disso, são considerados vinhos pouco expressivos e que não fidelizam as características de seus terroirs e de suas cepas. Não se enganem, vinho é vinho! Existem vinhos bons, ruins, com inúmeras propostas em todas as circunstâncias, sejam vinhos de garagem, vinhos de autor, orgânicos, de produção de larga escala.

E o meu ápice com a seminal Concha y Toro foi com um dos seus mais emblemáticos e importantes vinhos que, desde 1976, é sinônimo de qualidade e consistência no que tange a sua tipicidade: Marquês de Casa Concha! Um nome vultoso, como a sua bebida, um vinho complexo, estruturado, poderoso e que tem no seu enólogo, Marcelo Papa, um alquimista, um idealizador que opera milagres com as suas mãos e alma, inteiramente entregue à concepção e produção desses vinhos que representam as regiões mais importantes do Chile.

E o vinho que degustei e gostei veio do Chile, é claro, da região do Vale del Maipo, o Marquês de Casa Concha, da casta Cabernet Sauvignon da safra 2014. Um vinho complexo, estruturado, potente e com um potencial de guarda que não pude esperar. O vinho me chamava da adega e hipnotizado cedi aos seus encantos. Com três anos de vida a degustação se fez necessária e urgente às minhas experiências sensoriais. E, antes de falar nele com requintes de detalhes, falemos um pouco do Vale del Maipo, da sua história.

Vale del Maipo

O Vale de Maipo é a única região vinícola do mundo com vinhedos nos limites urbanos de uma capital, Santiago, de 5,5 milhões de habitantes. O vale abriga o maior número de vinícolas do Chile, muitas delas com uma longa tradição vinícola que remonta ao início da produção chilena, e caves do século 19. Trata-se de uma área chamada, muitas vezes, de “Bordeaux da América do Sul”, onde o Cabernet Sauvignon é, sem dúvidas, o exemplar mais conhecido. Maipo está localizado no extremo norte do Valle Central, onde a faixa costeira separa a costa do Oceano Pacífico e, no lado oriental a Cordilheira dos Andes se divide, separando a região de Mendoza do Vale do Maipo. As primeiras vinhas cultivadas na região chilena datam de 1540, contudo, foi apenas em 1800 que a cultura vinícola começou a se expandir notoriamente, tornando-se uma referência entre os vinhos sul-americanos.

Vale do Maipo

A região pode ser dividida em três sub-regiões, Maipo Bajo, Central Maipo e Alto Maipo. Os vinhedos cultivados em Alto Maipo, ou Maipo Superior, percorrem a borda oriental da Cordilheira dos Andes, se beneficiando de altitudes entre 400 e 760 metros. Nesta altura, os dias são quentes e as noites frias, proporcionando uma lenta maturação das uvas, isto é, uvas com maiores índices de acidez. Central Maipo, conhecida também como Maipo Médio, é uma sub-região de clima mais quente do que no Alto Maipo, bem como solos com maiores composições de argila, dando origem a vinhos mais refinados e elegantes. A uva Cabernet Sauvignon continua sendo a variedade mais cultivada na região, apesar de existirem pequenos cultivos da Carmenère, casta beneficiada graças as temperaturas mais quentes. Por fim, a sub-região do Bajo Maipo está situada em torno das cidades de Talagante e Isla de Maipo, onde apesar de existir o cultivo das vinhas, encontra-se com maior facilidade diversas vinícolas. Alguns produtores estão localizados perto do rio, onde a brisa fresca proporciona microclimas adequados para o cultivo, principalmente, de uvas brancas, além da Cabernet Sauvignon. Valle del Maipo ganhou sua denominação de origem controlada em 1994, decretada pelo governo chileno.

A região vinícola do Valle del Maipo possui 13 denominações: Alhue (DO), Buin (DO), Calera de Tango (DO), Colina (DO), Isla de Maipo (DO), Lampa (DO), Maria Pinto (DO), Melipilla (DO), Pirque (DO), Puente Alto (DO), Santiago (DO), Talagante (DO) e Til Til (DO).

E agora o vinho!

Na taça apresenta um belíssimo vermelho rubi intenso, escuro e muito brilhante, sem nenhuma transparência, caudaloso e com uma abundante concentração de lágrimas, finas e que teimam a se dissipar das paredes do copo.

No nariz sobressaem as notas as notas de frutas negras maduras se destacando a ameixa e amora, mas, por outro lado, o frescor se fazia presente, até pela sua jovialidade evcom toques de baunilha e de especiarias, sobretudo as picantes.

Na boca o vinho confirma o olfato, revelando-se frutado, sendo potente e estruturado, as especiarias também aparece no palato, com taninos gulosos e pronunciados e, como todo jovem robusto, ainda um pouco arredio, mas decidi desafiá-lo e acompanhei as suas modificações em taça. A acidez é agradável, um toque amadeirado bem integrado, mostrando seu estágio de 16 meses em barricas de carvalho, além do tabaco e um persistente final longo e cheio.

Como tratar com desdém e rejeição um vinho com essa estirpe? Um vinho voluptuoso, de marcante personalidade que fideliza, que retrata os mais reveladores e tradicionais, mas com uma assinatura arrojada e contemporânea, terroirs do Chile. É fácil, é comum, é simples falar dos vinhos da Concha y Toro? Pode não ser novidade, o Marquês de Casa Concha pode ser um vinho conhecida deveras nas terras brasileiras, mas nunca podemos negligenciar a sua importância, a sua qualidade e o impacto avassalador aos nossos paladares e olfatos. Um vinho nobre, simples, a simplicidade da nobreza nos seus mais potentes goles que saboreia a alma. Tem 14% de teor alcoólico muito bem integrado ao conjunto do vinho.

Sobre o Marques de Casa Concha:

Em 1718 o Rei Filipe V de Espanha concedeu o nobre título “Marques de Casa Concha” a José de Santiago Concha y Salvatierra pelo seu meritório trabalho como Governador do Chile e Cavaleiro de Calatrava. Nasce o fundador da vinícola, Don Melchor de Santiago Concha y Toro, o sétimo Marques de Casa Concha.

Don Melchior de Santiago Concha y Toro

Em homenagem ao título hereditário e refletindo tais valores nobres e tradicionais, um Cabernet Sauvignon de 1972 de Puente Alto foi lançado em 1976. Carregava o distinto rótulo Marques de Casa Concha e era o principal vinho da Viña Concha y Toro na época. Em 1990 os avanços no vinhedo, nas práticas de produção de vinho e nos melhores equipamentos levaram a uma melhora na qualidade do vinho e tornaram o rótulo Marques de Casa Concha procurado em todo o mundo. Marques de Casa Concha é a linha de vinhos chilena que abrange a completa diversidade do Chile, com vinhedos onde a complexa relação entre as condições naturais, a planificação do vinhedo, e os anos que as parreiras demoraram a crescer, proporcionam um caráter único para a linha inteira.

Sobre a Concha Y Toro:

Em 1883 Don Melchior Concha y Toro, importante político e empresário chileno, funda a Viña Concha y Toro. A empresa se torna uma empresa pública limitada e expande se nome comercial para a produção geral de vinho, isso em 1922. Em 1933 começam a ser negociadas na Bolsa de Valores e a primeira exportação é feita. No ano de 1957 se estabelece as bases produtivas para a expansão da vinícola, com a produção do vinho Casillero del Diablo, em 1966, onde começaram a investir em vinhos mais complexos, lançando em 1987, o seu principal rótulo, “Don Melchior”, homenageando o seu fundador. A década de 1990 veio com as criações de várias vinícolas nos principais países produtores de vinhos da América Latina, tais como Cono Sur, no Chile, Trivento, na Argentina entre outras.

Mais informações acesse:

http://www.marquesdecasaconcha.com/?lang=pt-pt

https://conchaytoro.com/holding/

Fontes de pesquisa:

“Vinci”: https://www.vinci.com.br/c/regiao/valle-del-maipo

“Blog Divvino”: https://www.divvino.com.br/blog/colchagua-chile/

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=MAIPO#:~:text=O%20vale%20abriga%20o%20maior,produzidos%2C%20at%C3%A9%20o%20planalto%20central.

Degustado em: 2017





sábado, 2 de janeiro de 2021

Bom Caminho Rosé 2015

Tem regiões e países que definitivamente não podemos negligenciar, não podemos deixar de comprar e degustar. Estive em minhas vitais incursões em supermercados sem muita expectativa para encontrar nada de atrativo nos quesitos custo X qualidade, mas que já que estava por perto, fui conferir. Olhando cada canto das gôndolas avistei um rosé, um pouco escondido, é verdade, mas estava, mesmo assim com um preço em destaque, um valor para um rosé no Brasil, interessante. Aproveito aqui para deixar um desabafo, como enófilo, dos altos e abusivos valores dos vinhos rosés neste país! Vinhos que, em sua maioria, tem a mesma proposta frutada, leve e com valores descabidos de um para outro. São vinhos com a cara do Brasil! Frescos, leves e descompromissados e custar tão caro, demasiadamente alto! Mas não vou entrar, pelo menos neste momento, em requintes de detalhes e falar do vinho, esse sim em minucias, do vinho que avistei. Era um vinho da Bairrada! Rótulos que chegam pouco ao Brasil, a oferta é muito baixa! Vai entender! Uma região tão conhecida e emblemática de Portugal não chegar por aqui. Então aliei o preço, aceitável, mas que poderia baixar um pouco mais, com a região e não hesitei em comprar.

Mas o que me deixou com receio foi a safra: 2015. Uma safra que, para vinhos rosés, é demasiadamente “antigo”, porém assumi o risco, afinal é a Bairrada! Preferi não demorar muito para desarrolhá-lo. Então sem mais delongas, o vinho que degustei e gostei (e que vinho surpreendente!) veio, como disse, da tradicional Bairrada, um rosé (Meu primeiro rosé da região!), e se chama Bom Caminho com um blend explosivo das castas Baga (60%), Touriga Nacional (30%) e Cabernet Sauvignon (10%) da safra 2015. Apesar de algumas novidades que esse vinho trouxe para a minha história de enófilo não é a primeira vez que degusto um vinho dessa interessante linha de rótulos. Degustei, sob as mesmas circunstâncias, um maravilhoso espumante chamado Bom Caminho Extra Brut Baga 2013. Mas eu não havia me atentado para o significado do nome dessa linha de rótulos: “Bom Caminho”. E a resposta estava mais próxima do que eu esperava: no contra rótulo. E, para não perder o fio da meada da história, falemos um pouco mais da grande Bairrada.

Bom Caminho!

“Segunda-feira, dia de São Marcos, foi dita missa na Mealhada; atravessámos Avelãs, vila de cerca de 80 casinhas; Azenha, de 8 casinhas; Aguada de Cima, aldeia de poucas casas...”A 25 de abril de 1594, Giovanni Battista Confalonieri do Arquivo Secreto do Vaticano, a passagem pela Bairrada da Peregrinação de D. Fábio Bondi, Patriarca de Jerusálem, de Lisboa a Santiago de Compostela. Este relato, bastante pormenorizado, é a base da actual marcação do Caminho Português a Santiago. As Caves são João, estando situadas no Caminho, prestam tributo a todos os Peregrinos que, repetindo esta viagem, continuam a passar à nossa porta e, ao criar este vinho, símbolo de tradição, persistência, vontade e fé que os move, desejar-lhes Bom Caminho!

Texto extraído do contra rótulo do vinho e que fala sobre a origem de seu nome: “Bom Caminho”.

A Bairrada

A Região da Bairrada situada na Beira Litoral, entre Aveiro e Coimbra, em pleno centro de Portugal, é uma região plana que se desenvolve ao longo da faixa marítima, sendo o seu clima tipicamente atlântico, com invernos amenos e chuvosos e verões suavizados pelos ventos provenientes do mar.

Bairrada

Data do século XIX a transformação da Bairrada numa região produtora de vinhos de qualidade, apesar de a produção existir desde o século X. O primeiro resultado prático dos investimentos realizados na altura, para o melhoramento das técnicas de cultivo e de produção de vinho, foi a criação do vinho espumante no ano de 1890. A Bairrada foi uma das primeiras regiões de Portugal a produzir vinhos espumantes e é, ainda hoje, considerada como a região mais importante do país, no que concerne à produção deste tipo de vinho. O clima fresco e húmido e os solos argilo-calcários e arenosos, favorecem a sua elaboração, proporcionando uvas de elevada acidez e baixa graduação alcoólica, resultando em vinhos frescos, aromáticos e com excelente paladar. A Região da Bairrada é também rica na produção de vinhos brancos e tintos, elaborados a partir de castas tradicionais e internacionais. A casta dominante na região é a Baga, normalmente plantada em solos argilosos que corresponde a pelo menos 50% das uvas plantadas na região; uma variedade tinta cujos taninos são muito ricos e presentes, carregados de cor, sendo equilibrados e que gozam de uma longevidade elevada. Quanto às brancas, a que mais se destaca é a Fernão Pires, que lá recebe o nome de Maria Gomes, cujos vinhos são aromáticos e florais. Segundos especialistas, as tintas de maior importância para a região são a Baga, Touriga Nacional, Castelão e Aragonez. Já pelas brancas, as representantes de maior potencial são a Maria Gomes, Bical, Arinto e Rabo de Ovelha. Além dessas, a região recentemente foi liberada para cultivar junto com as castas portuguesas, castas estrangeiras, como a Cabernet Sauvignon, Syrah, Merlot e Pinot Noir. Tudo isso para incrementar a exportação dos vinhos portugueses, para torna-los competitivos no mercado. Por fim, não há como falar da Bairrada sem falar da produção de espumantes, afinal ela é a região mais antiga e importante de Portugal na elaboração deste tipo de vinho – os espumantes são produzidos lá desde 1890, e pelo método clássico, que dão muito mais sofisticação e fineza aos vinhos.

Rota vitícola da Bairrada

Nas últimas décadas este processo de reestruturação chegou a fronteiras cada vez mais distantes. O emprego agrícola não resistiu às novas atrações urbanas, a indústria exigiu maiores centralidades e os serviços prosseguem ainda num crescimento que está para lá do nosso horizonte atual. Daí a possibilidade de lançar olhares em múltiplas direções e das visões se entrecruzarem, umas vezes parecendo dar respostas, outras apenas interrogando. A Bairrada é ainda um palco privilegiado das transformações que têm ocorrido em Portugal. Resume a mesma vitalidade social, idênticas potencialidades naturais, uma vocação comum para descobrir e sonhar, tudo em tamanho pequeno. No entanto só alguns conseguem penetrar nos seus segredos e desfrutar de todo o seu encantamento.

E finalmente falemos do vinho!

Na taça apresenta um curioso salmão tipo cor de cebola, mais intenso, fechado, talvez por conta do tempo de safra, com quase 6 anos de vida, mas também pela predominância da casta Baga. Foi perceptível, na primeira taça, um gaseificado, mostrando que ainda está vivo, o famoso frisante, além de uma quantidade inusitada de lágrimas, mostrando a influência do blend com castas de natureza encorpada, como, a Touriga Nacional, Cabernet Sauvignon e a própria Baga.

No nariz já não tem aquela profusão de frutas vermelhas, típicas em vinhos rosés, devido ao tempo de safra, mas se nota ainda as frutas vermelhas como groselha, cereja. Sente-se também um aroma de algo adocicado, algo que não consegui identificar, mas adocicado. O frescor ainda é percebido.

Na boca se reproduz as impressões olfativas quanto às frutas vermelhas e as notas adocicadas. Mostra personalidade, certo corpo e estrutura, mas muito equilibrado com ainda uma leveza, um frescor, apesar da baixa acidez. A sua estrutura se deve, sem sombra de dúvida, as castas que compõe o blend, tendo um final marcante e persistente.

Parece que o tempo só fez bem a esse belíssimo rosé, ele ainda tem o frescor e apesar dos seus 6 anos de vida, mostrou, além da leveza típica de um vinho rosé, vigor, personalidade, algum corpo para um rosé, afinal, as castas que o compõe são, por natureza, encorpadas e que acredito ter garantido um pouco da sua longevidade acima do normal. E sim, é um vinho de corpo leve a médio, e é deveras marcante em todas as sua etapas sensoriais. A Bairrada, mais uma vez, me trouxe, além das novidades, as gratas surpresas. Que rosé maravilhoso, como há muito tempo não degustava. Por mais rosé, por mais Bairrada, por mais Portugal! Tem 12% de teor alcoólico.

Sobre a Caves São João:

Fundadas em 1920 pelos irmãos José, Manuel e Albano Costa, as Caves São João são uma empresa familiar que, a princípio, se dedicava à comercialização de vinhos finos do Douro e licores. É hoje a empresa familiar mais antiga ainda em atividade no concelho de Anadia. Nos anos 30, com a interdição da elaboração dos vinhos do Porto fora de Vila Nova de Gaia, a Empresa começa a comercializar vinhos de mesa da Bairrada. Nessa altura, inicia também a produção de espumantes naturais, pelo método “champanhês”, sendo de destacar, nesta fase, o importante papel do enólogo francês Gaston Mennesson. Dá início à exportação de vinhos para o mercado brasileiro e, pouco tempo depois, para as colónias portuguesas em África. No final da década de 50 nasce uma das mais célebres marcas de vinhos da região da Bairrada – o “Frei João” – e, um pouco mais tarde, uma marca da região demarcada do Dão, o “Porta dos Cavaleiros”. Com a designação “Reserva”, iniciada pelas Caves São João, esta inova no mercado dos vinhos, utilizando rótulos de papel revestidos a cortiça natural. As Caves São João adquirem a Quinta do Poço do Lobo, propriedade rústica com cerca de 37 hectares, situada na pequena localidade de Pocariça no concelho de Cantanhede. A Quinta foi, então, totalmente replantada com castas selecionadas e rigorosamente parceladas. Com as uvas ali colhidas, a empresa iniciou a produção do vinho “Quinta do Poço do Lobo - Bairrada”, um Bairrada Tinto com uvas das castas Baga, Moreto e Castelão; o “Quinta do Poço do Lobo - Cabernet Sauvignon”, um vinho varietal com a casta de maior prestígio em todo o mundo; um vinho branco elaborado com a casta Arinto e o “Espumante Quinta do Poço do Lobo”, um espumante com uvas das castas Arinto e Chardonnay. Hoje em dia, e depois de alguns investimentos na área da vinificação e controlo de qualidade, as Caves São João encontram-se preparadas para fazer face aos futuros desafios a nível da produção, sempre com a preocupação de acompanhar a evolução dos mercados e os gostos de consumidores cada vez mais exigentes e atentos.


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