sábado, 30 de abril de 2022

Dardines Barrica Syrah 2018

 

Mais um momento de grandes novidades pelo menos para mim, é claro. A Syrah trouxe a novidade! Agora vem a pergunta: como que uma casta tão conhecida e solidificada em vários terroirs espalhados pelo planeta pode ser novidade, sobretudo para um enófilo com alguma “litragem”?

Pois é, como costumo dizer e até de forma demasiada, o universo do vinho é vasto e felizmente ainda inexplorado. Há muito por garimpar, há muito para percorrer em prol sempre das nossas experiências sensoriais, para novas experiências sensoriais, sem temer a zona de conforto que só nos escraviza.

E sim a Syrah já faz parte de minha história enófila e já degustei alguns bons, especiais exemplares dessa excelente variedade que se adapta, vem se adaptando em várias regiões consolidadas na produção de vinho e daquelas em potenciais também.

Mas será a minha primeira experiência com um 100% Syrah espanhol. Sim, um Syrah espanhol! Sempre acompanhei e vi alguns rótulos deste país, com esta cepa, mas os valores estavam sempre, diria, “indigestos”, altos para o meu simples e pobre bolso e via as minhas intenções de degustar tal exemplar adiado, longe.

Mas eis que fui surpreendido com a seleção de um clube de vinhos que eu fazia parte em que veio um rótulo da casta Syrah e logo me animei, fiquei feliz quando este abrilhantou a minha simples adega.

E, falando em adega, há particularmente com a Syrah, alguns exemplares muito especiais nela, das quais ainda não degustei, como por exemplo um brasileiro das Minas Gerais que vem se notabilizando na produção da casta, no Vale do São Francisco, no nordeste brasileiro, um Syrah de Lisboa, cuja variedade também seu deu bem e, claro, um Syrah espanhol.

Então diante de tantas novidades e fomentando essa minha “fome” por vinhos novos, com novas concepções e percepções, pelo menos para mim, decidi escolher um para estimular as minhas experiências sensoriais e o felizardo foi o Syrah da Espanha, mais precisamente da região de Castilla La Mancha. Região esta que vem me surpreendendo a cada rótulo degustado, apesar de infelizmente ter descoberto a mesma, recentemente, mas antes tarde do que nunca, já dizia o ditado.

Então com esse transborde de novidades, sem mais delongas, apresentarei o vinho que degustei e gostei, da região de Dom Quixote, Castilla La Mancha, na Espenha, chamado Dardines Barrica, da casta Syrah, safra 2018.  E antes de falar do vinho falemos da história, da importância de La Mancha para a viticultura espanhola.

Castilla La Mancha, a terra de Dom Quitoxe e os seus Moinhos de Vento

Bem ao centro da Espanha, país com a maior área de vinhas plantadas em todo o mundo e o terceiro maior mercado produtor de vinhos, está localizada a região vitivinícola de Castilla La Mancha. Um território com grande extensão de terra quase que completamente plana, sem grandes elevações.  É nessa macrorregião que se origina quase 50% do total de litros de vinho produzidos anualmente na Espanha.

“Em um lugar em La Mancha, cujo nome eu não quero lembrar, existiu há não muito tempo um cavaleiro, do tipo que mantinha uma lança nunca usada, um escudo velho, um galgo para corridas e um cavalo velho e magro”.

“Dom Quixote de La Mancha ou o Cavaleiro da triste figura” de Miguel de Cervantes.

O nome “La Mancha” tem origem na expressão “Mantxa” que em árabe significa “terra seca”, o que de fato caracteriza a região. Neste território, o clima continental ao extremo provoca grandes diferenças de temperaturas entre verão e inverno. Nos dias quentes de verão os termômetros podem alcançar os 45°C, enquanto nas noites rigorosas de frio intenso do inverno, as temperaturas negativas podem chegar a até -15°C. 

A irrigação torna-se muitas vezes essencial: além do baixo índice pluviométrico devido ao caráter continental e mediterrâneo do clima, o local se torna ainda mais seco graças ao seu microclima, que impede a entrada de correntes marítimas úmidas. A ocorrência de sol por ano é de aproximadamente 3.000 horas. Esta macrorregião é composta por várias regiões menores, incluindo sete “Denominações de Origem”, das quais se pode destacar La Mancha e Valdepeñenas.

Castilla La Mancha


Sub regiões de Castilla

La Mancha: é a principal região dentre elas, sendo considerada a maior DO da Espanha e a mais extensa zona vinícola do mundo.  O território abrange 182 municípios, distribuídos em quatro províncias: Albacete, Ciudad Real, Cuenca e Toledo. As principais uvas produzidas naquele solo são a uva branca Airen e a popular tinta espanhola Tempranillo, também conhecida localmente como Cencibel.

Valdepeñenas: localizada mais ao sul, mas com as mesmas condições climáticas, tem construído sua boa reputação graças à produção de vinhos de grande qualidade, normalmente varietais da uva Tempranillo ou blends desta com castas internacionais.

A DO La Mancha conta mais de 164.000 hectares de vinhedos plantados. Com isso, é a maior Denominação de Origem do país e a maior área vitivinícola contínua do mundo, abrangendo 182 municípios, divididos em quatro províncias: Albacete, Ciudad Real, Cuenca e Toledo.

A regulamentação comunitária permite a produção de vinhos com indicação geográfica (IGP Vinos de la Tierra de Castilla), desde que tenham sido obtidos a partir de determinadas castas e provenham de uma determinada zona de produção. Na Espanha, esses vinhos são chamados de Vinos de la Tierra e podem usar menções em sua rotulagem relacionadas às variedades, safras e nome da vinícola, bem como às condições naturais ou técnicas da viticultura que deram origem ao vinho.

A importância social e econômica do setor na região, bem como o esforço de modernização feito pelos produtores, transformadores, engarrafadores e comerciantes nos últimos anos, exige um instrumento que lhes permita oferecer os seus vinhos de qualidade dignamente rotulados ao mercado.

Os tipos de vinhos que podem ser elaborados no IGP Vinos de la Tierra de Castilla são: vinhos brancos, rosés e tintos; Vinhos espumantes; Vinhos espumantes; vinhos licorosos; e vinhos de uvas maduras. São eles:

Brancas: Airén, Albillo Real, Chardonnay, Gewürztraminer, Macabeo oViura, Malvar, Malvasía Aromática, Marisancho o Pardillo, Merseguera, Moscatel de grano menudo, Moscatel de Alejandría, Parellada, Pedro Ximénez, Riesling, Sauvignon blanc, Torrontés, Verdejo, Verdoncho e Viognier.

Tintas: Bobal, Cabernet-sauvignon, Cabernet-franc, Coloraillo, Forcallat tinta, Garnacha tinta, Garnacha tintorera, Graciano, Malbec, Mazuela, Mencia, Merlot, Monastrell, Moravia agria, Moravia dulce o Crujidera, Petit Verdot, Pinot Noir, Prieto picudo, Rojal tinta, Syrah, Tempranillo o Cencibel, Tinto de la pámpana blanca e Tinto Velasco o Frasco.

As castas mais cultivadas em Castilla de La Mancha, sejam DO ou IGP, são: Airén, Viúra, Sauvignon Blanc e Chardonnay entre as brancas e as tintas são: Tempranillo, Syrah, Cabernet Sauvignon, Merlot e Grenache.

Classificação dos rótulos da DO de Castilla La Mancha:

ü Jóven: Categoria mais básica, sem passagem por madeira, para ser consumido preferencialmente no mesmo ano da colheita.

ü  Tradicional: Sem passagem por madeira, porém com mais estrutura do que o Jóven.

ü  Envelhecimento em barris de carvalho: Envelhecimento mínimo de 90 dias em barris de carvalho.

ü  Crianza: Envelhecimento natural de dois anos, sendo, pelo menos, seis meses em barris de carvalho.

ü  Reserva: Envelhecimento de, no mínimo, 12 meses em barris de carvalho e 24 meses em garrafa.

ü  Gran Reserva: Envelhecimento de, no mínimo, 18 meses em barris de carvalho e 42 meses em garrafa.

ü Espumante: Produzidos a partir do método tradicional (segunda fermentação em garrafa), com no mínimo nove meses de autólise.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um vermelho rubi intenso, brilhante e com reflexos violáceos, com lágrimas finas e em certa profusão desenhando as paredes do copo.

No nariz protagoniza os aromas de frutas vermelhas em compota, tais como ameixa, framboesa e morango, com notas amadeiradas, graças aos 3 meses de passagem por barricas de carvalho e especiarias. Tem também um toque floral que traz uma sensação de frescor e até leveza.

Na boca tem de leve a média estrutura, reproduz as frutas vermelhas como no aspecto olfativo, álcool proeminente que revela um bom volume no palato, a madeira é perceptível, mas bem integrada ao conjunto do vinho, tornando-o equilibrado e redondo, especiarias, a pimenta típica da Syrah que entrega aquele picante, além de taninos gordos, mas domado e acidez correta. Final persistente com algo de café, torrefação e muita fruta.

“A safra 2018 começou com um outono seco e um inverno com algumas geadas significativas, mas a primavera chegou com chuvas abundantes.”

Esse é um fragmento da descrição do vinho da empresa especializada em vendas de vinhos que concebeu esse rótulo em seu clube de vinhos a qual fazia parte. Fiz questão de coloca-la no final deste texto, dessa resenha, para corroborar o que eu disse no início. De que embora a Syrah seja uma casta global, diria massificada por se adaptar a vários terroirs espalhados pelo mundo, sempre há novidades e gratas novidades, diria. Além da trazer algo novo para mim, de degustar o meu primeiro 100% Syrah espanhol, trouxe também um vinho intenso, com alguma complexidade, de média estrutura, notas frutadas e taninos cheios, com notas especiadas, tudo o que um Syrah pode proporcionar pelas suas características, mas também as características de Castilla La Mancha, de vinhos mais robustos e de marcante personalidade. Novidades movimentam o mundo e com o vinho não é diferente. E além de tudo isso apresentado, a vinícola traz a novidade da produção partilhada, conhecida como “Winemakers e Winelovers” que consiste na participação dos enófilos que escolhem as diferentes opções de parcelas que estão sendo vinificadas, sendo engarrafados os vinhos escolhidos pelos “Winelovers”. É a máxima concepção de identidade cultural e da terra. Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Reserva de la Tierra:

A Reserva de la Tierra faz parte deste maravilhoso mundo do vinho há mais de 60 anos. Os primeiros passos foram dados em San Rafael, província de Mendoza, na República Argentina. Foi naquelas terras tão distantes, e ao mesmo tempo tão caras aos emigrantes espanhóis, que os primeiros vinhos foram feitos com muito entusiasmo, tenacidade e muito esforço.

Anos depois, já com uma grande experiência acumulada, o Grupo fixou-se em Espanha, atrás de um novo sonho. Daquele momento até hoje, o Reserva de la Tierra não parou um momento de trabalhar, da tradição à inovação em cada uma das iniciativas do Grupo.

Hoje a empresa é admirada e respeitada em todo o mundo por sua constante adaptação às mudanças, sua visão inovadora e seu respeito por trabalhar em harmonia com o meio ambiente. Menção especial deve ser feita aos valores em relação às pessoas que fazem parte desta grande família. A honestidade é especialmente valorizada e acima de tudo a atitude empreendedora.

Com paixão, esforço e dedicação constante, Reserva de la Tierra vem cumprindo todas as expectativas. As vinhas, as adegas, os vinhos, nada mais são do que sonhos realizados.

“Winemakers e Winelovers” – conceito e filosofia

Na Reserva de la Tierra há uma visão diferente do mundo do vinho, partilhada, mais social e mais próxima de todos.

Para Reserva de la Tierra cada vinho é concebido com paixão como a união entre dois mundos: Enólogos e Enólogos. Cria-se vinhos com pessoas, abraçando uma filosofia de trabalho ao mesmo nível que se distingue dos restantes.

Os enólogos selecionam as melhores cepas e terroirs para fazer os vinhos mais especiais. Mas o mais importante é que grupos muito variados de apreciadores de vinho participem desse processo, degustando diferentes opções de variedades. Após este processo, engarrafa-se apenas o vinho selecionado pelos Winelovers, conseguindo assim vinhos com uma identidade única.

Mais informações acessem:

https://www.reservadelatierra.com/

Referências:

“Vinho Blog”: http://blog.vinhosite.com.br/la-mancha-maior-regiao-produtora-vinhos-espanha/

“Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/245-a-regiao-de-castilla-la-mancha-a-terra-de-dom-quixote

Blog “Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/245-a-regiao-de-castilla-la-mancha-a-terra-de-dom-quixote#:~:text=Este%20livro%2C%20universalmente%20famoso%2C%20trata,no%20centro%2Fsudeste%20da%20Espanha.&text=Os%20primeiros%20escritos%20da%20cultura,vinhas%20foram%20introduzidas%20pelos%20romanos.

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/vinhos-dos-moinhos_4580.html

“Blog VinhoSite”: http://blog.vinhosite.com.br/la-mancha-maior-regiao-produtora-vinhos-espanha/

“Pagina JCCM”: http://pagina.jccm.es/agricul/paginas/comercial-industrial/consejos_new/vinostierra.htm

 

 

 






sexta-feira, 29 de abril de 2022

Moinho de Sula Colheita Selecionada tinto 2016

 

Alguns rótulos, algumas castas, algumas regiões deixam de ser novidade, sobretudo quando passamos a assumir que avidamente garimpamos aquelas castas, regiões e rótulos pouco usuais, pouco conhecidos do grande público enófilo.

Deixam de ser novidade sim, mas não deixam de ter o encanto, não deixam de ter gratas novidades sempre que degustamos um novo rótulo. A minha percepção sempre muda, ou melhor, sempre agrega novidades quando degusto aquele vinho que, a princípio, possa apresentar similaridades ou coisa do tipo.

Nunca será o mesmo, independente de ser do mesmo produtor, da mesma casta ou de blends parecidos, nunca serão os mesmos! A safra entrega um período climático diferente, dias mais quentes, mais frios e isso influencia, claro, diretamente no comportamento da variedade.

Safras, castas, regiões, novidades, o que deixou de ser novidade... O que estou querendo dizer com isso? Digo que graças a um produtor, castas e regiões, que jamais sabia da existência de descortinou diante dos meus olhos! Falo da Adega de Cantanhede que me revelou castas como a Baga, por exemplo, e regiões como o Beira Atlântico que jamais pensei em conhecer e que não goza de tanta popularidade em terras brasileiras. Ah e sem deixar de falar da Bairrada, mais famosa, que está no centro, no coração do Beira Atlântico.

Regiões que trouxeram e trazem grandes vinhos, surpreendentes relações qualidade x preço ou custo x benefício, um forte apelo regionalista com castas, variedades extremamente populares nessas regiões e em toda Portugal.

E, mais uma vez, sinto-me feliz, privilegiado por ser submetido a mais uma experiência sensorial com os vinhos do Beira Atlântico e com as principais castas que lá são produzidas e a Baga, como na Bairrada, reina absoluta, e apresenta longevidade aos vinhos e um caráter totalmente inusitado, pouco ortodoxo, graças as suas características, aos rótulos, tornando-a especial.

Então já que falei da Adega de Cantanhede e do Beira Atlântico, sinaliza-se mais uma nova experiência com um rótulo que já não é novidade, mas que me trouxe muitas alegrias com os seus brancos, o Moinho de Sula Colheita Selecionada 2017 e o Moinho de Sula Reserva Arinto 2017 e desta vez será um tinto.

O vinho que degustei e gostei vem, claro, do Beira Atlântico, de Portugal, e se chama Moinho de Sula Colheita Selecionada composto pelas castas Baga (50%), Touriga Nacional (30%) e Castelão (20%) da safra 2016. Então antes de tecer os comentários sobre o vinho falemos um pouco da região do Beira Atlântico e da casta que brilha por lá: Baga.

Beira Atlântico

A produção de vinho na região remonta ao tempo dos romanos, fazendo disso prova os diversos lagares talhados nas rochas graníticas (lagares antropomórficos), onde na época o vinho era produzido. Já nos reinados de D. João I e de D. João III, respectivamente, foram tomadas medidas de proteção para os vinhos desta área do país, dadas a sua qualidade e importância social e econômica.

A tradição destes vinhos remonta ao reinado de D. Afonso Henriques, que autorizou a plantação das vinhas na região, com a condição de ser dada uma quarta parte do vinho produzido. Estendendo-se desde o Minho ate a Alta Estremadura, e uma região de agricultura predominantemente intensiva e multicultural, de pequena propriedade, aonde a vinha ocupa um lugar de destaque e a qualidade dos seus vinhos justifica o reconhecimento da DOC "Bairrada".

Beira Atlântico

Os solos são de diferentes épocas geológicas, predominando os terrenos pobres que variam de arenosos a argilosos, encontrando-se também, com frequência, franco-arenosos. A vinha e cultivada predominantemente em solos de natureza argilosa e argilo-calcaria. Os Invernos são longos e frescos e os Verões quentes, amenizados por ventos de Oeste e de Noroeste, que com maior frequenta e intensidade se faz sentir nas regiões mais próximas do mar.

A região da Bairrada situa-se entre Agueda e Coimbra, delimitada a Norte pelo rio Vouga, a Sul pelo rio Mondego, a Leste pelas serras do Caramulo e Bucaco e a Oeste pelo oceano Atlântico. E uma região de orografia maioritariamente plana, com vinhas que raramente ultrapassam os 120 metros de altitude, que, devido a sua planura e a proximidade do oceano, goza de um clima temperado por uma fortíssima influencia atlântica, com chuvas abundantes e temperaturas médias comedidas. Os solos dividem-se preponderantemente entre os terrenos argilo-calcários e as longas faixas arenosas, consagrando estilos bem diversos consoantes à predominância de cada elemento.

Integrada numa faixa litoral submetida a uma fortíssima densidade populacional, a propriedade rural encontra-se dividida em milhares de pequenas parcelas, com dimensões medias de exploração que raramente ultrapassam um hectare de vinha, favorecendo a presença de grandes adegas cooperativas e de grandes empresas vinificadoras, a par de um conjunto de produtores engarrafadores que muito dignificam a região.

As fronteiras oficiais da Bairrada foram estabelecidas em 1867, por Antônio Augusto de Aguiar, tendo sido das primeiras regiões nacionais a adoptar e a explorar os vinhos espumantes, uma vez que na região, o clima fresco, úmido e de forte ascendência marítima favorece a sua elaboração, oferecendo uvas de baixa graduação alcoólica e acidez elevada, condição indispensável para a elaboração dos vinhos espumantes.

Baga

A uva Baga, uma das principais uvas nativas de Portugal, é capaz de oferecer enorme complexidade aos rótulos que compõe. Conhecida também como Tinta da Bairrada, Tinta Fina ou Tinta Poeirinha, a Baga demonstra muita classe e estrutura, sendo única no seu valor e possui um fantástico potencial de envelhecimento, que atua com o vinho na garrafa durante anos após sua fabricação.

A uva Baga é conhecida pela sua complexidade e peculiaridade, dando origem a vinhos interessantes, únicos e intensos. Encontrada, sobretudo na região da Bairrada, a uva Baga produz excelentes vinhos em uma das mais prestigiadas regiões produtoras de Portugal. Além de refinados e inimitáveis, os vinhos produzidos com esta variedade de uva apresentam muita personalidade e distinção.

No passado, a Baga era conhecida por ser empregada na produção de vinhos rústicos, excessivamente ácidos e tânicos e de pouca concentração. Porém, após a chegada do genial Luís Pato, conhecido como o “revolucionário da Bairrada” e maior expoente desta variedade, a casta da uva Baga foi “domesticada”. Luís Pato foi o responsável por fazer com que a fruta desse origem a alguns dos melhores vinhos tintos da região da Bairrada. Produzindo grandes exemplares de tintos, finos, estruturados e complexos, a variedade é, sem dúvida, uma ótima referência de Portugal.

O cultivo da Baga é árduo e trabalhoso, demorando para que o amadurecimento ocorra. A fruta desenvolve-se melhor quando plantada em solos argilosos e necessita de uma excelente exposição ao sol durante o processo de cultivo. Entretanto, após os devidos cuidados e maturação, a Baga produz preciosos rótulos, podendo envelhecer na garrafa durante anos, garantindo complexidade e elegância para seus exemplares, além de tornar os vinhos concentrados, aromáticos e possuidores de uma coloração escura.

A uva Baga atualmente é considerada uma das maiores uvas portuguesas, com enorme complexidade, estrutura e classe, sendo muito apreciada no mundo do vinho. A casta Baga dá origem a vinhos portugueses com muita personalidade, altamente interessantes e únicos.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um vermelho rubi intenso, com alguns reflexos violáceos e com um discreto atijolado denotando tempo de garrafa, além de lágrimas finas e em profusão.

No nariz intenso para frutas vermelhas bem maduras, com as notas amadeiradas em perfeita sinergia, com toques de especiarias, de baunilha, de couro, tabaco e ainda um leve tostado, graças aos 6 meses de passagem por barricas de carvalho, garantindo-lhe também alguma complexidade.

Na boca revela média estrutura, porém é macio e elegante, afinal o tempo e a passagem por barrica trouxeram equilíbrio ao vinho, além de um defumado e toque terroso e de pimenta. É alcoólico, o que o torna cheio, volumoso, tem taninos vivos, mas polidos, com acidez quase que imperceptível. Final persistente, prolongado.

Quando degustei este vinho, com seus seis anos de vida, graças a capacidade de longevidade da Baga, que predomina neste blend, observei que a novidade não está definida, entendida, na primeira vez, mas a cada momento. Cada momento é novo, pois traz singularidades, traz nuances diferentes e únicas. O Moinho de Sula Colheita Selecionada a mim entregou tudo o que eu venho buscando atualmente em meus garimpos por novas experiências: apelo regionalista, vinhos com caráter, expressividade, simplicidade, novas regiões. A Adega de Cantanhede me proporcionou e ainda proporciona parte disso ou tudo isso e o mais importante: trazendo todas essas experiências com valores possíveis, justos e com qualidade. O Moinho de Sula Colheita Selecionada tinto está entre as mais novas experiências importantes pelas quais venho sendo docemente impactado. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Adega de Cantanhede:

Fundada em 1954 por um conjunto de 100 viticultores, a Adega de Cantanhede conta hoje com 500 viticultores associados ativos e uma produção anual de 6 a 7 milhões de quilos de uva, constituindo-se como o principal produtor da Região Demarcada da Bairrada, representando cerca de 40% da produção global da região. Hoje certifica cerca de 80% da sua produção, sendo líder destacado nas vendas de vinhos DOC Bairrada DOC e Beira Atlântico IGP.

Reconhecendo a enorme competitividade existente no mercado nacional e internacional, a evolução qualitativa dos seus vinhos é o resultado da mais moderna tecnologia, com foco na qualidade e segurança alimentar (Adega Certificada pela norma ISO 9001:2015, e mais recentemente pela IFS Food 6.1.), mas também da promoção das castas Portuguesas, que sempre guiou a sua estratégia, particularmente das variedades tradicionais da Bairrada – Baga, Bical e Maria Gomes – mas também de outras castas Portuguesas que encontram na Bairrada um Terroir de eleição, como sejam a Touriga Nacional, Aragonez e Arinto, pois acredita que no inequívoco potencial de diferenciação e singularidade que este património confere aos seus vinhos.

O seu portfólio inclui uma ampla gama de produtos. Em tinto, branco e rose os seus vinhos vão desde os vinhos de mesa até vinhos Premium a que acresce uma vasta gama de Espumantes produzidos exclusivamente pelo Método Clássico, bem como Aguardentes e Vinhos Fortificados. É um portfólio que, graças à sua diversidade e versatilidade, é capaz de atender a diferentes segmentos de mercado, com diferentes graus de exigência em qualidade, que resulta na presença dos seus produtos em mais de 20 mercados.

A sua notoriedade enquanto produtor, bem como dos seus vinhos e das suas marcas, vem sendo confirmada e sustentadamente reforçada pelos prémios que vem acumulando no seu palmarés, o que resulta em mais de 750 distinções atribuídas nos mais prestigiados concursos nacionais e internacionais, com destaque para Mundus Vini – Alemanha, Concours Mondial de Bruxelles, Selections Mondiales du Vins - Canada, Effervescents du Monde – França, Berliner Wein Trophy – Alemanha e Japan Wine Challenge. sendo por diversas ocasiões o único produtor da Bairrada com vinhos premiados nesses concursos e, por isso, hoje um dos mais galardoados produtores da região. Em 2015 integrou o TOP 100 dos Melhores Produtores Mundiais, pela WAWWJ – Associação Mundial dos Jornalistas e Críticos de Vinho e Bebidas Espirituosas. Nos últimos 8 anos foi eleita “Melhor Adega Cooperativa” em Portugal por 3 vezes pela imprensa especializada.

Mais informações acesse:

https://www.cantanhede.com/

Referências:

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/baga

“Soulwines”: https://www.soulwines.com.br/uvas-de-vinhos/baga

“IVV”: https://www.ivv.gov.pt/np4/503/

 

 




quarta-feira, 27 de abril de 2022

Dom Bernardino Riesling 2020

 

Continuo, a todo vapor, a me aventurar por novas experiências sensoriais, novas experiências de degustações que, cada vez mais, ampliam o meu leque de opções. Quando falo disso, e tenho comentado até de forma demasiada sobre, sempre olho para trás, olho para a minha trajetória de humilde enófilo que sou e sempre serei e me faço o seguinte comentário: estou em um momento muito alegre e satisfatório de minha caminhada.

A caminhada de desenvolvimento e que não se enganem, caros leitores: não é pautada por valores, por status, de quem está degustando rótulos caros, não é isso. Mas de vinhos cujas regiões, castas e propostas estão se aperfeiçoando, se diversificando e isso independente de status social e altos custos com compras de vinhos.

Claro que, admitamos que comprar vinhos no Brasil é uma aventura difícil, o custo Brasil, as taxas tributárias, a burocracia, impõe um revés muito grande para nós, apreciadores da poesia líquida, mas tudo é uma questão de oportunidade, não de demanda ou modismos de compra.

Mas fugindo um pouco desse assunto e falando das gratas novidades que vem a cada rótulo, surgindo em minha vida, o vinho de hoje foi, mais uma vez, um presente, uma cortesia do amigo, de São Paulo, Luciano, da loja Pemarcano Vinhos, que é oriundo da cidade de São Roque, conhecida carinhosamente pelos seus habitantes, como a “terra do vinho”, e que vem abrilhantando e inundando as minhas taças com vinhos, diria, no mínimo surpreendentes, sobretudo pela relação custo X benefício.

E de uma casta que jamais pensei que fosse degustar por estar associada aos rótulos germânicos tão caros e difícil acesso ao bolso de um assalariado enófilo brasileiro que é a Riesling. A propósito, será o meu primeiro Riesling brasileiro!

Vinhos diferentes, leves, frescos, com o DNA do clima tropical de nossas terras, mas com personalidade que poucas castas brancas podem oferecer, essa é a Riesling. Então sem mais delongas, vamos apresentar o vinho! O vinho que degustei e gostei veio, como disse da região paulista de São Roque, chamado Dom Bernardino Riesling.

Digo de antemão que o vinho é simplesmente surpreendente e valoriza o frescor, a leveza, a simplicidade sim, mas que entrega as características mais marcantes da Riesling. Características estas que, antes de descrever sobre o rótulo, falarei aqui bem como a história brilhante e repleta de riquezas e tradição de São Roque. Lembrando ainda que a minha experiência com esses vinhos, da Vinícola Bella Aurora, não é a primeira, pois degustei o também surpreendente Dom Bernardino Touriga Nacional 2018.

São Roque: “A terra do vinho”

A cidade de São Roque foi fundada no dia 16 de agosto de 1657, mas começou como uma grande fazenda do capitão paulista Pedro Vaz de Barros, que pertencia a uma família de bandeirantes e sertanistas. Vaz de Barros também participou de diversas Bandeiras. O fundador da cidade, também conhecido como Vaz Guaçú, contava com aproximadamente 1.200 índios que trabalhavam em suas terras, onde eram cultivados trigo e uva. Alguns anos após a morte de Vaz de Barros, seu irmão, Fernão Paes de Barros, se estabeleceu na mesma região, onde construiu uma casa e uma capela, que foram restauradas em 1945 pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, a pedido do escritor Mário de Andrade, dono da propriedade.

Na região de São Roque, podem-se identificar referências à vitivinicultura desde a sua fundação, por volta do final do século XVII. Conforme informações encontradas e divulgadas pelos moradores da cidade, através da tradição oral, ou mesmo citado pelo Professor Joaquim Silveira dos Santos em seu artigo para a Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, volume XXXVII, nessa época toda a região pertencia a apenas três grandes proprietários de terras: Pedro Vaz de Barros, seu irmão Fernão Paes de Barros e o padre Guilherme Pompeu de Almeida, sendo que Pedro Vaz (tido como o fundador da cidade) se estabeleceu próximo da atual igreja Matriz, seu irmão mais ao norte, onde até hoje ainda se encontra a casa grande e capela Santo Antônio, e por fim a fazenda do padre Guilherme Pompeu se encontrava na hoje atual cidade de Araçariguama que faz divisa com Santana do Parnaíba.

Portanto realmente não se podem esperar grandes referências desse período da história, afinal o Brasil era apenas uma colônia e que existiam restrições da fabricação de qualquer tipo de produto em nosso solo, ou seja, em tese tudo deveria vir de Portugal, inclusive o vinho.

Outro fator que pode ter influenciado e não ter feito prosperar o cultivo da videira seria a prioridade da época de então, que era a descoberta de ouro, principalmente na região das Minas Gerais. Sabemos que São Paulo até então era somente um vilarejo sem grande importância econômica para a metrópole portuguesa, e se bem analisarmos a história da agricultura brasileira a uva e o vinho nunca foram tidos como principal interesse por parte de nossos colonizadores.

Após um período difícil, o povoado originado por Pedro Vaz foi elevado à categoria de Freguesia no dia 15 de agosto de 1768, recebendo o nome de São Roque do Carambeí. No dia 10 de julho de 1832, a Freguesia foi elevada à categoria de vila, mas o progresso do local só começou em 1838, quando começaram as lavouras de milho, algodão, arroz, mandioca e farinha de mandioca, cana de açúcar e derivados, legumes e verduras. Em março de 1846, seis anos após instalar-se na vila o destacamento da Guarda Nacional, Dom Pedro II e uma pequena comitiva permaneceram um dia na cidade de São Roque. Com a passagem de Dom Pedro II, Antonio Joaquim começou a se destacar no cenário político e, graças ao morador ilustre, São Roque foi elevada à categoria de cidade no dia 22 de abril de 1864.

Após esse longo período de estagnação, o primeiro registro oficial de plantação de uvas na região de São Roque se dá por volta de 1865, quando o Doutor Eusébio Stevaux inicia uma pequena plantação na sua fazenda em Pantojo. Pela mesma época, um colono italiano adquire uma pequena propriedade no bairro de Setúbal, alguns anos mais tarde um português na terra do então Sítio Samambaia forma um razoável vinhedo e inicia o processo de fabricação do vinho.

Dr. Eusébio Stevaux

Já em 1875 foi inaugurada a Estrada de Ferro Sorocabana, que ligou a cidade de São Paulo a São Roque e Sorocaba. Após alguns anos, em 1884, começou a grande chegada de imigrantes à cidade, fazendo com que as vinícolas aparecessem novamente e ganhassem força nos anos seguintes. Em 1924, a cidade já contava com 17.300 habitantes e foram produzidos 10 mil litros de vinho a cada ano, tendo doze produtores de vinhos, sendo cinco deles italianos.

O que possibilitou o retorno da cultura da uva e fabricação do vinho foi a importação de videiras oriundas dos Estados Unidos, pois estas eram mais resistentes ao clima brasileiro. Dentre as principais videiras trazidas estão inicialmente a “Izabel”, a “Seibel 2” (importada da França), curiosamente trazida por imigrantes italianos que se instalaram na região e posteriormente a “Niágara Branca”, oriunda da região do Alabama, EUA.

Portanto, a divisão do período da cultura vinícola de São Roque, desde a fundação da cidade até a época atual em quatro fases distintas:

1ª fase: 1657 – 1880: importação de videiras portuguesas, plantações domiciliares, sem qualquer cunho comercial, ou seja, somente para consumo próprio.

2ª fase: 1880 – 1900: Retomada da viticultura são-roquense, ainda que amadora, quase que familiar, continua voltada basicamente para o consumo e pequeno varejo. Já apresenta uma tendência a profissionalização graças às técnicas trazidas pelos imigrantes italianos e portugueses. Já se utiliza da videira americana que melhor se adaptou ao clima tropical brasileiro (talvez seja este um dos principais fatores de sucesso do cultivo da uva na região de São Roque);

3ª fase 1900 – até aproximadamente final da década de 1950: processo de industrialização e profissionalização da produção do vinho com aplicações de técnicas mais modernas permitindo assim obter resultados e desempenho melhores.

Podemos dividir esta fase primeiramente num período de início do processo de profissionalização e logo após (a partir da década de 1920), o período em que realmente a região investiu e desenvolveu as técnicas vinicultoras, durando até aproximadamente a década de 1950, onde após a massificação da produção entra num processo de decadência.

4ª fase década de 1960 – atual: esta fase engloba o processo de decadência da viticultura são-roquense. Por motivos econômicos e climáticos e até mesmo por falta de investimentos em pesquisas, que se reduziram sensivelmente tanto a qualidade como a quantidade de vinho produzido, levando ao fechamento de diversas adegas (isso principalmente a partir da década de 1980). São Roque permanecendo hoje somente com o título de “terra do vinho”, sendo que os poucos fabricantes que restaram (aproximadamente treze adegas) fabricam seu vinho não de uvas nativas de São Roque, mas sim oriundas de outras partes do Estado ou mesmo de outros estados (exemplo: Rio Grande do Sul).

Roteiro do vinho em São Roque

Há atualmente um movimento para tentar a reversão dessa situação, porém continua bem modesto em relação a todo o histórico e números do passado no ápice do cultivo da videira em São Roque.

Riesling

A casta Riesling é uma das grandes uvas brancas da Alemanha e uma das melhores variedades do mundo todo, capaz de conferir ao vinho incrível elegância e complexidade e uma habilidade inigualável de expressar o terroir.

Seus cachos apresentam coloração verde amarelada com tamanho médio e delicado. Os vinhos elaborados com a casta costumam ter acidez bastante destacada e são extremamente aromáticos. Os melhores brancos da casta costumam ser os varietais. A uva Riesling possui duas variações, sendo a Renana a de maior qualidade e a Itálica a que possui menor grau de expressividade.

Com textura bastante envolvente, os vinhos elaborados a partir da casta Riesling podem ser secos, meio doces ou bem doces. O que é de conhecimento sobre o cultivo da uva, é que para originar os maravilhosos e extraordinários vinhos de sobremesa, ocorrem dois processos bastante distintos.

O primeiro processo é o ato de congelar a uva antes da colheita, sendo conhecido como “eiswen” – ou vinhos de gelo. Nele a casta Riesling permanece vários dias congeladas (enquanto madura), ainda no vinhedo, por conta das baixas temperaturas em que fica exposta. Logo após serem colhidas, as uvas passam pelo processo de prensagem, tornando o vinho muito mais concentrado, já que haverá menor quantidade de água. Nesse caso os melhores exemplares são encontrados no Canadá, graças ao seu clima frio e com bastante presença de geadas.

O outro processo é quando ocorre a podridão nobre, momento em que o fungo “Botrytis Cinerea” fura a casca da uva e alimenta-se da água da casta, deixando-a desidratada e exaltando os açúcares presentes na sua composição. As uvas são colhidas e levadas para vinificação, tornando o vinho muito mais especial.

Alguns produtores estampam “dry” (seco) ou “sweet” (doce), mas isso não é suficiente perto dos tantos níveis de doçura da Riesling. Ela pode ser “medium dry” (vinho meio seco), “medium sweet” (meio doce) e por aí vai.

A forma de identificar essas propostas de vinhos Riesling é verificar a graduação alcoólica – quanto menor for mais doce será. Isso acontece porque durante a fermentação, o açúcar natural da uva vira álcool (se a conversão não acontece, permanece doce e menos alcoólico). Qualquer Riesling com mais de 11% é seco, pois quase todo seu açúcar foi transformado em álcool.

Por possuir presença de açúcar residual e tempos de guarda diferentes, os vinhos elaborados com a casta Riesling possuem maior atenção na hora da harmonização, sendo na maioria das vezes melhores quando degustados e apreciados sem a companhia de pratos.

Seus vinhos podem ser sublimes e costumam durar muito tempo. Além da Alemanha, também produz vinhos excelentes na Áustria, Alsácia e também em alguns países do Novo Mundo, como Nova Zelândia, África do Sul e Austrália.

E agora finalmente o vinho!

Na taça entrega um lindo e brilhante amarelo palha, translúcido, com reflexos esverdeados.

No nariz explodem os aromas de frutas brancas frescas e cítricas, onde se destaca pera, maçã-verde, pêssego, abacaxi, limão, com notas minerais que traz a sensação de leveza e frescor.

Na boca seguem as percepções frutadas, como observado no aspecto olfativo, trazendo também a leveza e a refrescância que o torna despretensioso e informal, além de uma ótima acidez que saliva e um final prolongado e frutado.

Vinho não é só poesia engarrafada como dizia aquele poeta, mas história engarrafada também. Degustamos história, degustamos cultura! É muito gratificante e especial degustarmos vinhos com essa carga histórica atrelada de forma tão veemente, tão latente. A história é viva e plena, não é algo estático. Degustar o Dom Bernardino Riesling é como se estabelecêssemos contato com um novo mundo, uma nova percepção, que enaltece as nossas experiências sensoriais. Um vinho que apesar de ter as tradições lusitanas, tanto que o nome “Dom Bernardino” é em homenagem ao fundador da vinícola Bernardino Pereira Leite, português que se estabeleceu em São Roque, graças às raízes que criaram a vinícola, tem o terroir brasileiro, o fazer brasileiro, a nossa cultura, a nossa assinatura. Dom Bernardino Riesling é jovem, fresco, leve, despretensioso e que harmonizou perfeitamente com um meio de tarde outonal. Que venham mais e mais momentos especiais como esse! Como curiosidade: as uvas vieram de Caxias do Sul e foram, claro, vinificadas pela Bella Aurora. Tem 11% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Bella Aurora:

Vinícola fundada na década de 1920 por Bernardino Pereira Leite imigrante português iniciou sua produção para consumo caseiro. A produção em escala comercial teve início em 1932.

Com mais de 85 anos, Vinhos Bella Aurora mantém sua tradição familiar na produção de saborosos vinhos, contando com uma excelente estrutura de atendimento aos visitantes e uma equipe de representantes comercial em todo estado de São Paulo.

A Vinícola proporciona um passeio turístico para quem busca contato com a natureza. Neste passeio poderá degustar bons vinhos e sucos, além de poder adquirir toda a linha de produtos típicos da Vinícola Bella Aurora. Para melhor atender os clientes, a cantina dos Vinhos Bella Aurora foi montada no interior de um autêntico tonel de madeira com capacidade para 120 mil litros.

Mais informações acesse:

https://www.bellaaurora.com.br/












domingo, 24 de abril de 2022

Rio Sol Gran Reserva Alicante Bouschet 2015

 

Há vinhos e vinícolas que fazem parte de nossa vida enquanto enófilo! Uma espécie de elo sentimental, algo afetivo que, como uma forte corrente, nos une. Ah só quem degusta vinhos sabe o que estou dizendo. Alguns vinhos, alguns rótulos foram e ainda são muito importantes, por exemplo, na minha transição de vinhos suaves, aqueles doces de garrafão para os vinhos finos, aqueles produzidos com castas vitiviníferas.

Está aí um momento de suma importância para qualquer enófilo brasileiro. Atirem a primeira pedra quem não passou por esse momento na história de degustação, de um bom e fiel apreciador da poesia líquida. Posso aqui elencar alguns vinhos e produtores que foram essenciais em minha vida nesse momento: Miolo, Almadén, foram sim, os vinhos brasileiros que me iniciaram há mais de 20 anos atrás. Parece que foi ontem!

Mas não posso me esquecer de um produtor que praticamente vi “nascer” para o mundo nas terras brasileiras, embora não seja genuinamente brasileiro, mas sim de um grupo português de produtor de vinhos, mas que praticamente desbravou e trouxe os preceitos técnicos e tecnológicos para o Vale São Francisco que hoje se tornou uma realidade no que tange aos terroirs brasileiros. Falo da Rio Sol!

Como disse apesar de estar em solo brasileiro a Rio Sol é um projeto ousado e grandioso da Global Wines, um conglomerado português que se instalou no Brasil do Velho Chico, os vinhos do Rio São Francisco que irrigam os parreirais e que entregam, para nosso deleite, vinhos frescos, maravilhosos e, ao mesmo tempo, dotados de uma marcante personalidade em todas as suas propostas.

E dessa vez assumirei um novo estágio nas degustações dos vinhos da Rio Sol, em uma nova nuance de proposta que terei o privilégio de degustar: a linha Gran Reserva da Rio Sol. Não as encaro como a melhor pelo fato de ser um “gran reserva” ou que, por esse motivo, seja mais caro. Vinho bom não é vinho caro, e nada mais que uma nova proposta de degustação de um rótulo que fez e faz parte da minha vida há mais de 20 anos e isso, por si só, já é relevante!

Então sem mais delongas apresento o vinho que degustei e gostei que veio do “eldorado” vitivinícola brasileiro, Vale do São Francisco, no Brasil e se chama Rio Sol Gran Reserva Alicante Bouschet da safra 2015. E o que mais me chama atenção neste vinho é a casta, sim, a casta! A casta, criada em laboratório, se notabilizou na região do Alentejo, mas ganhou alguma representatividade em terras brasileiras, sobretudo, claro, nas quentes terras nordestinas, banhadas pelo Velho Chico. Será minha primeira experiência e como está o coração? Cheio de alegria e expectativas! Mas antes de falar do vinho falemos do Vale do São Francisco e da Alicante Bouschet.

Vale do São Francisco: os vinhos do Velho Chico

A vitivinicultura do semiárido brasileiro é uma excepcionalidade no mundo, uma vez que está localizada entre os paralelos 8º e 9o S e produz, com escalonamento produtivo, uvas o ano todo totalizando duas safras e meia em condições ambientais adversas como alta luminosidade, temperatura média anual de 26oC, pluviosidade aproximada de 500mm, a 330m de altitude, em solo pedregoso.

Cinturão dos vinhos

Seus vinhos possuem público crescente, porque são jovens “vinhos do sol”, peculiares nos aromas e sabores, considerados como fáceis de beber e apresentando boa relação comercial qualidade/preço. Aliado a essas particularidades, diretamente associadas à produção de vinhos finos, o Vale é ainda cenário de diversas belezas naturais, históricas e culturais. Estudos já publicados permitem identificar que a região conta com diversas características que comprovam o seu potencial turístico para o desenvolvimento da atividade, como é o caso da sua história, riquezas ambientais e diversificada cultura regional.

Esses fatores estão relacionados à diversidade observada na região. Isso é notado, principalmente, em decorrência da sua extensão. A Bacia do São Francisco é a terceira maior bacia hidrográfica do país e a única que está totalmente inserida no território nacional. Nela estão localizados 506 municípios contando com, aproximadamente, 13 milhões de habitantes, que representa 9,6% da população brasileira.

Bem antes do Vale do São Francisco se consolidar como polo de vitivinicultura, quem já exercia esse papel no Brasil era a região Sul. No século 19, o Rio Grande do Sul, mesmo com as condições climáticas desfavoráveis, passou a ser considerado um polo crescente nesse meio – e até hoje segue inserido no ramo. Mas, a chegada de imigrantes estrangeiros no país trouxe o conhecimento técnico e a noção de mercado, o que fez com que outras regiões brasileiras também mostrassem a sua capacidade produtiva.

É na década de 1960 que o Nordeste entra em cena e o Vale do São Francisco inicia a sua trajetória na produção de uvas e vinhos, com a implantação das primeiras videiras. Nos anos de 1963 e 1964, foram instaladas duas estações experimentais, nos municípios de Petrolina, no Sertão de Pernambuco e Juazeiro, na Bahia, onde seriam implantados, respectivamente, o Projeto Piloto de Bebedouro e o Perímetro Irrigado de Mandacaru.

Vale do são Francisco

Apesar da escassez de chuva, o clima quente e seco do semiárido mostrou-se terreno fértil para a vitivinicultura e, na mesma década, outras cidades do Sertão de Pernambuco passam a fazer parte da cadeia produtiva. O pioneirismo da vitivinicultura no Nordeste é representado pelo Sertão Pernambucano, que iniciou a sua trajetória na vitivinicultura na década de 1960, produzindo vinhos base para vermutes, na cidade de Floresta, uvas de mesa em Belém do São Francisco e em Santa Maria da Boa vista, localidade que na época se chamava Coripós.

Entre os anos 1980 e 1990, a região banhada pelo Rio São Francisco passa a ser conhecida também pela produção de vinhos finos, e em 1984 é produzido o primeiro vinho no Vale do Submédio São Francisco, com a marca Boticelli. O fortalecimento da vitivinicultura no Vale do Submédio São Francisco se deu com a instalação de vinícolas na Fazenda Milano, em Santa Maria da Boa Vista – PE e Fazenda Ouro Verde, em Casa Nova, na Bahia, que passaram a produzir vinhos finos.

Ao longo da década de 1990, ganha destaque a vitivinicultura tecnificada e a produção de uvas sem sementes. É também nessa época, que cresce o investimento de grupos empresariais na região. A instalação de uma infraestrutura física, como construção de packing houses, melhoria no sistema rodoviário e portuário, e, sobretudo, a organização dos produtores em associações e cooperativas, desempenharam um importante papel na consolidação das exportações de uvas de mesa do Vale do Submédio São Francisco.

A partir dos anos 2000, a produção se fortalece ainda mais com a implantação de outras vinícolas e vitivinícolas e também com as iniciativas públicas. Ações governamentais e de ensino, pesquisa e inovação, a partir do ano 2000, trouxeram novas tecnologias de produção e processamento de uvas e o reconhecimento de atores internacionais. É nessa época que surge a Escola do Vinho do Curso Superior de Tecnologia em Viticultura e Enologia, do Instituto Federal do Sertão Pernambucano.

Estruturação de IG (Indicação Geográfica)

A estruturação da Indicação de Procedência Vale do São Francisco para vinhos está vinculada a projeto financiado pelo MCT/Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tenológico - CNPq. A ação do projeto, voltada para a estruturação da IG, tem as seguintes instituições de CT&I como executoras: Embrapa Uva e Vinho (coordenação) em parceria com a Embrapa Semiárido, Embrapa Clima Temperado, UCS, UFLA, UFP e IF Sertão. O setor vitivinícola da região é representado pelo “Instituto do Vinho do Vale do São Francisco” (Vinhovasf). O projeto conta, ainda, com outras instituições que participam em diversas pesquisas para apoiar o desenvolvimento tecnológico da vitivinicultura da região do Vale do São Francisco. Os produtos IP Vale do São Francisco incluem os vinhos finos tranquilos brancos, rosados e tintos, o espumante fino e o moscatel espumante.

Alicante Bouschet

O palco da uva tinta Alicante Bouchet é, sem dúvidas, a região de Alentejo, em Portugal, onde esse tipo de uva faz grande sucesso. A variedade é utilizada para adicionar corpo e estrutura aos rótulos produzidos na região, bem como dar mais volume aos vinhos.

Criada em laboratório pelo Francês Henri Bouchet, no final de 1800, na região de Languedoc-Roussillon, a uva Alicante Bouchet é a união das castas Petit Bouchet e Grenache. Apesar de ter sido criada na França, esse tipo de uva é majoritariamente cultivado em Portugal, e os vinhos tintos que usam a Alicante Bouchet são rótulos frutados de bom equilíbrio. A casta proporciona enorme capacidade de envelhecimento para os exemplares, de forma que os vinhos se tornem profundos, aromáticos e que se assemelhem a canela e pimenta.

Muito utilizada em vinhos de corte, a Alicante Bouchet dá origem a vinhos excelentes que harmonizam de forma notável com pratos que levam carnes vermelhas. Isso se deve à sua tanicidade, que contrasta muito bem com a gordura, criando sensações memoráveis no paladar.

A uva Alicante Bouchet também é bastante utilizada na elaboração de vinhos na Espanha e Croácia, regiões nas quais recebe diferentes nomes. Na Croácia, por exemplo, a uva é conhecida como Dalmatinka ou Kambusa, enquanto na Espanha é popularmente nomeada como Garnacha Tintorera, ainda que a Organização da Vinha e do Vinho (OIV) não reconheça o sinônimo espanhol.

Sua polpa possui coloração intensa e avermelhada, e seus bagos, dispostos em grandes cachos, são redondos de cor negra. Essas características naturais fazem da uva Alicante Bouchet uma variedade de grande relevância na intensificação da coloração de vinhos tintos.

A uva, apesar de não aparecer muito nos vinhedos da região americana da Califórnia, já foi bastante representativa e de grande relevância para a região. O maior destaque da uva Alicante Bouchet no país, entretanto, deu-se na época da Lei Seca, em 1920, quando a fruta era utilizada para a produção de suco de uva, uma vez que o governo norte americano havia proibido e criminalizado o transporte, comercialização e consumo de bebidas alcoólicas.

E agora finalmente o vinho!

Na taça entrega um vermelho rubi vibrante, intenso, límpido com reflexos violáceos com lágrimas grossas e em profusão que desenham as bordas do copo.

No nariz é bem aromático e remetem a compota de frutas vermelhas maduras, como cereja, framboesa e até morangos, com notas evidentes da madeira, graças aos 9 meses em barricas de carvalho, porém bem integrados, com leve tabaco e especiarias doces.

Na boca traz a fruta vermelha protagonizando também, como no aspecto olfativo, tem personalidade marcante, por ter um bom volume de boca, mas também elegante graças aos já sete anos de safra, um pouco alcoólico, mas sem agredir, sem desequilíbrio, com taninos presentes, mas domados, a presença discreta da madeira e um final agradável e de média persistência.

E já que eu falei de história e de afetividades, o Rio Sol Gran Reserva já faz parte dela, da minha história e da minha humilde vida de enófilo. Um vinho marcante, de personalidade, intenso, complexo, mas que, ao mesmo tempo revela todo o frescor, as notas frutadas que faz com que este rótulo exploda em versatilidade. Que venham mais vinhos da Velho Chico, que venham mais vinhos da Rio Sol e que eles continuem a inundar a minha taça de história viva e plena de grandes experiências sensoriais. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Santa Maria:

Localizada no Vale do São Francisco com 120 hectares de área plantada, a Rio Sol produz 1,5 milhão de quilos de uva anualmente. Entre as espécies plantadas estão uvas tintas como Cabernet Sauvignon, Syrah, Aragonês, Touriga Nacional, Alicante Bouschet, Tempranillo e Merlot, além das brancas Chenin Blanc, Viognier e Moscatel. Este é o único lugar do mundo que produz, hoje, duas safras de uvas por ano, resultado das características naturais da região e do conhecimento de seus produtores.

É no mesmo local onde se situa a indústria da Rio Sol, onde toda a linha de produtos da empresa é produzida e engarrafada, seguindo os mais modernos conceitos de qualidade. A empresa conta com modernos tanques com controle de temperatura e pressão, sala de barricas para estágio dos vinhos em barris de carvalho francês e uma linha de engarrafamento e rotulagem que utiliza tecnologia importada, semelhante a utilizada nas outras vinícolas do grupo na Europa.

Anualmente são produzidas, aproximadamente, 2 milhões de garrafas, entre vinhos e espumantes, distribuídos para todo o Brasil. Toda essa produção é acompanhada de perto pela equipe de qualidade da Rio Sol, que atua tendo como foco a melhoria contínua da qualidade e a adequação dos produtos às tendências de mercado, sempre visando a sustentabilidade e a segurança do processo. A Rio Sol possui certificação internacional ISO 9001, que atesta os rigorosos controles de qualidade da produção de uvas e elaboração de vinhos.

Sobre a Global Wines:

O Grupo Global Wines nasceu em 1990 no Dão, com o nome Dão Sul. A sua missão era ser a maior empresa da mais antiga região de vinhos tranquilos de Portugal, o Dão. Quando o objetivo foi atingido, partiram para outros sonhos, outras aventuras, outras regiões e outros países. Ainda são a empresa de vinhos líder do Dão. Mas também são uma empresa de vinhos da Bairrada, do Alentejo, de Portugal e até o Brasil.

Tem atualmente 5 Espaços de Enoturismo, 3 dos quais com restaurante, onde procuram conjugar o vinho e a gastronomia, despertando como as melhores sensações, na experiência perfeita. Recebem, diariamente, pessoas de todas as partes do mundo, a quem procuram dar a melhor experiência de vinho e gastronomia. Atualmente estão presentes nos 5 continentes e as suas marcas chegam a mais de 40 países.

Mais informações acessem:

https://www.vinhosriosol.com.br/principal/

https://www.globalwines.pt/#globalwines

Referências:

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/alicante-bouchet