sábado, 31 de dezembro de 2022

Sanjo Núbio Cabernet Sauvignon 2012

 

Não existe aquele ditado popular que diz: “Um raio não cai duas vezes no mesmo lugar”. Olha que, segundo especialistas, um raio não só pode cair em um mesmo lugar duas vezes como muitas e muitas vezes e eu acho, melhor, tenho certeza que essa questão, com metáforas à parte, pode se aplicar ao universo do vinho! O que quero dizer com isso?

Simples! Um vinho pode sim ser degustado várias outras vezes! Aquele vinho de mesmo rótulo, porém de safras diferentes ou de mesmo rótulo e também de safras iguais. Aprendi, com um conhecido especialista e jornalista do vinho, chamado Didu Russo, que podemos comprar o mesmo vinho, da mesma safra, degustara um de forma imediata e deixar o outro guardado por alguns anos e fazer as devidas comparações entre eles.

Hoje estou dentro do possível e das condições financeiras, fazendo isso com alguns vinhos, que tenham uma boa longevidade, um bom potencial de guarda. E decidi fazer esse teste com um vinho brasileiro, da serra catarinense, da fria São Joaquim.

Recentemente fiz a aquisição da linha “Núbio” da Cooperativa Sanjo, tida como uma das maiores, senão a maior produtora de maçãs do Brasil e que, em 2002, se aventurou na produção de vinhos.

E aproveitei os festejos do fim de ano para degustar uma das garrafas, da safra 2012! Sim, dez anos de um vinho para celebrar mais um ano que, apesar das já costumeiras dificuldades do cotidiano, terminamos com saúde para continuar a degustar bons vinhos.

E como aqui em minha casa, esse período do ano é marcada por uma tradição, o churrasco, optei, claro, por harmonizar com um tinto, uma casta condizente, a meu ver com essa popular comida brasileira, carioca. A casta é a rainha das uvas tintas: Cabernet Sauvignon.

Bem diante dessas dicas já está mais do que evidente o vinho que degustei e gostei. Falo do Sanjo Núbio Cabernet Sauvignon da safra 2012! Esse foi o primeiro rótulo da vinícola que degustei e o amor foi a primeira vista, algo como arrebatador! E o primeiro foi o Sanjo Núbio Cabernet Sauvignon da safra 2010 e como estava maravilhoso! Depois foi o Sanjo Núbio Sauvignon Blanc 2017, depois o surpreendente Sanjo Nobrese Cabernet Sauvignon e espero que venham muitos.

E veio esse Sanjo Núbio Cabernet Sauvignon 2012 que foi responsável por eu conhecer os vinhos de Santa Catarina que pensei que nunca teria acesso pelos altos preços de alguns rótulos. Mas a linha Sanjo te oferece oportunidades nesse sentido e foi mais um quesito que agregou ao meu sentimento de carinho que construí por esse produtor que, estranhamente, é pouco mencionado, a não ser pelo próprio especialista e jornalista Didu Russo.

Então sem mais delongas vamos com um pouco de história e desbravar são Joaquim e sua importância para o cenário vitivinícola brasileira e é tida como a região que abriga os vinhos mais longevos do Brasil e me parece que a linha Núbio Cabernet Sauvignon corrobora isso.

São Joaquim, Serra Catarinense, Brasil

A vitivinicultura no Brasil ficaria restrita a pequenas áreas em distintos pontos do território nacional até 1875, quando se inicia, no Rio Grande do Sul a instalação de imigrantes italianos. Concebe-se então, como marco da indústria vitivinícola brasileira a chegada destes imigrantes italianos (século XIX) e sua instalação na Serra Gaúcha. Em Santa Catarina, as primeiras mudas de uva plantadas pelos imigrantes italianos que chegaram, em 1878, na região onde seria fundada a cidade de Urussanga, são as responsáveis pelo início da vitivinicultura catarinense que conhecida atualmente.

Os italianos trouxeram mudas e sementes de vitis viníferas, mas elas não se adaptaram à úmida região”. A cultura da uva e o hábito do consumo do vinho faziam parte do patrimônio cultural acumulado dos imigrantes italianos oriundos na sua maioria da região do Trento, acostumados a dispor do vinho em seu ritual à mesa. Diante das condições naturais adversas, foram buscar videiras que se adaptassem às características climáticas da região de Urussanga, mesmo que o vinho resultante se apresentasse diferente da bebida já consumida na Itália. Recorreram então às variedades americanas e híbridas, como a Isabel, mais resistentes a pragas e ao clima tropical.

Atualmente, a região Meio-Oeste é a maior produtora de vinhos do estado de Santa Catarina. Foi nela que, na primeira metade do século XX, italianos que haviam migrado do Rio Grande do Sul deram início à construção da mais expressiva cadeia vitivinícola de Santa Catarina. A produção da uva e do vinho no Meio-Oeste catarinense é constituída principalmente de uvas de origem americana e híbrida. Apenas na década de 70, com a criação em Santa Catarina do PROFIT (Projeto de Fruticultura de Clima Temperado) é que houve um grande incentivo para o plantio de castas europeias. Desde o final da década de 1990, entretanto, vem ocorrendo uma reversão das expectativas no plantio das variedades de castas europeias, representada por novos plantios, inclusive em áreas não tradicionais para o cultivo da videira, como é o caso das regiões de elevada altitude (acima de 950 metros). Assim como ocorreu com o setor macieiro, as condições geográficas da região do planalto catarinense favorecem a produção de uvas, especialmente as da variedade vitis viníferas.

A partir de estudos visando o desenvolvimento da vitivinicultura no planalto serrano, iniciados na década de 1990 pela EPAGRI e de investimentos de empresas de outras regiões identificados no mesmo período, a produção de vinhos finos vem crescendo. Além das características geoclimáticas adequadas para a produção das castas europeias, há que se considerar também o emprego de sofisticadas técnicas enológicas, bem como as modernas instalações produtivas. Pode-se também atribuir o início do cultivo de parreiras e da fabricação de vinhos na serra catarinense à fixação de descendentes de italianos oriundos da região sul do estado de Santa Catarina que migraram para o planalto.

O início dos experimentos da EPAGRI e o plantio de 50 plantas experimentais de uvas Cabernet Sauvignon realizado pela vinícola Monte Lemos que detém a marca Dal Pizzol foram o incentivo que faltava para que Acari Amorim, Francisco Brito, Nelson Essenburg e Robson Abdala adquirissem uma propriedade em São Joaquim, no ano de 1999, dando início a Quinta da Neve.

Em 2000, o empresário Dilor de Freitas adquiriu uma propriedade no município de Bom Retiro, onde em 2001 iniciou o cultivo de uvas finas. No ano de 2002, adquiriu sua propriedade de São Joaquim e lançou a construção de sua vinícola onde localiza-se a sede da Villa Francioni e o centro de visitações. O empresário Nazário Santos, a partir de uma sociedade com um grupo de profissionais liberais paulistas, idealizou a Quinta Santa Maria, sendo um dos pioneiros produtores de vinhos de uvas vitis viníferas em São Joaquim.

Os novos terroirs de Santa Catarina, localizados em altitudes que podem chegar a 1.400 metros no Estado que registra as temperaturas mais baixas do País, têm vantagens para quem planta uvas viníferas. Em regiões mais frias e altas, o ciclo da videira se desloca para mais tarde, e esse ciclo longo ajuda a concentrar açúcares e taninos, além de melhorar a sanidade dos grãos. Atualmente, na região vitivinícola de São Joaquim, já é possível destacar os municípios de São Joaquim, Urubici, Urupema e Bom Retiro.

Ao investigar a vitivinicultura de altitude de São Joaquim, observa-se a tendência e a existência de significativos acertos no processo de desenvolvimento do setor. A identificação de recursos naturais raros e diferenciados se apresenta como um fator capaz de gerar vantagens competitivas, estruturando a atividade produtiva com o foco na segmentação de mercado.

Através do suporte de instituições de pesquisa como mecanismo de desenvolvimento de todo o setor produtivo da uva e do vinho, da articulação entre os recursos disponíveis, dos maiores investimentos em publicidade e propaganda realizados pelas empresas do setor e dos projetos que visam o diferencial do produto afirmado pelas indicações geográficas identifica-se a importância das tipicidades que procedem dos vinhos finos de altitude, confirmando então, a criação de um produto diferenciado no país.

Indicação Geográfica (IG) da Serra Catarinense

Em 29 de junho de 2021, o INPI concedeu a Indicação Geográfica Santa Catarina para Vinhos de Altitude (serra catarinense) da espécie Indicação de Procedência (IP), para vinho fino, vinho nobre, vinho licoroso, espumante natural, vinho moscatel espumante e brandy. O pedido da IG foi solicitado pela “Vinhos de Altitude – Produtores e Associados”, em 2 de junho de 2020.

A área geográfica da IP Vinhos de Altitude de Santa Catarina abrange 29 municípios que correspondem a 20% da área do estado catarinense: Água Doce, Anitápolis, Arroio Trinta, Bom Jardim da Serra, Bom Retiro, Brunópolis, Caçador, Campo Belo do Sul, Capão Alto, Cerro Negro, Curitibanos, Fraiburgo, Frei Rogério, Iomerê, Lages, Macieira, Painel, Pinheiro Preto, Rancho Queimado, Rio das Antas, Salto Veloso, São Joaquim, São José do Cerrito, Tangará, Treze Tílias, Urubici, Urupema, Vargem Bonita e Videira.

Atualmente são aproximadamente 300 hectares de área cultivada, concentradas entre 900 e 1400 metros de altitude, na região vitivinícola de maior altitude e mais fria do Brasil. Do ponto de vista sensorial, os vinhos da IP irão enriquecer ainda mais a paleta de cores e sabores dos vinhos brasileiros.

A paisagem, o solo, o relevo e o clima particular dessas regiões de altitude favorecem a biossíntese dos pigmentos e dos aromas, preservando a acidez e atribuindo estrutura e corpo aos vinhos, permitindo a expressão plena da genética de cada variedade de uva.  Os vinhos da região têm sua qualidade atribuída, também, ao elevado nível tecnológico empregado nos vinhedos e nas vinícolas.  São vinhos com uma excelente expressão de sabor e elevada tipicidade, são vinhos com um sentido de lugar.

Foram aprovadas para produção dos vinhos da IP as variedades finas (Vitis vinifera L.) Aglianico, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Chardonnay, Garganega, Gewurztraminer, Grechetto, Malbec, Marselan, Merlot, Montepulciano, Moscato Bianco, Moscato Giallo, Nero d’Avola, Petit Verdot, Pignolo, Pinot Noir, Rebo, Refosco dal Peduncolo Rosso, Ribolla Gialla, Rondinella, Sangiovese, Sauvignon Blanc, Sémillon, Syrah, Touriga Nacional e Vermentino.

Diversos requisitos de produção fazem parte do Caderno de Especificações Técnicas da IP. Dentre eles, destaca-se que 100% das uvas devem ser produzidas na área delimitada, em áreas de altitude. Os sistemas de condução autorizados para os vinhedos são a espaldeira e o Ýpsilon, sendo que a produtividade máxima permitida é de 7000 litros de vinho por hectare/ano.

Para a vinificação, as uvas devem atingir níveis de maturação definidos por tipo de vinho, os quais, por sua vez, devem ser elaborados na área delimitada pelos municípios integrantes da IP.

Os vinhos atendem padrões analíticos de qualidade, próprios da IP, e devem ter a qualidade sensorial aprovada em degustação realizada às cegas; normas de rotulagem dos vinhos, facilitando a identificação das garrafas pelo consumidor,  incluindo um selo de controle numerado exclusivo da IP; controles sob a gestão do Conselho Regulador que aplica um Plano de Controle para atestar a conformidade dos produtos em relação aos requisitos de produção.

E agora finalmente o vinho!

Na taça um atraente vermelho rubi, intenso, vívido, quase escuro, com halos denunciando evolução em cor atijolada, granada, com lágrimas grossas, lentas e em profusão, manchando o bojo.

No nariz é elegante e delicado, mas complexo, trazendo uma belíssima convergência, harmonia entre as notas amadeiradas, graças aos 12 meses em barricas de carvalho, cerca de 50% do lote, com notas frutadas, de frutas negras maduras, apesar dos 10 anos de garrafa. Aromas balsâmicos são percebidos, bem como baunilha, um defumado, especiarias, com destaque para pimenta e pimentão, além de terra molhada, ervas, tabaco.

Na boca traz o sabor marcante da Cabernet Sauvignon, a elegância, o equilíbrio, com a estrutura que a cepa entrega, sendo alcoólico, sem agredir, conferindo-lhe um belo volume de boca, sendo corpulento. As notas frutadas também protagonizam como no aspecto olfativo, as notas amadeiradas oferecem uma discreta tosta, caramelo, chocolate. Os taninos estão presentes, mas sedosos, a acidez se mostra vívida, intensa, salivante com um final potente e persistente.

Especial, singular, incrível! Adjetivos não faltam ao Sanjo Núbio Cabernet Sauvignon que, mesmo aos 10 anos de vida, teria muitos anos pela frente e a evoluir fantasticamente, não é a toa que há mais um exemplar como esse por mim degustado na adega evoluindo lentamente para daqui alguns anos ser degustado. E não é especial apenas por isso, mas por ser oriundo de regiões, terroirs frios, a Cabernet Sauvignon precisa ser cultivada em climas quentes, então são poucas as safras, são poucos os anos que rótulos como esse são concebidos. Para se ter uma noção da dimensão disso e do quão especial é degustar esse vinho, é de que a safra de 2012 é a mais atual dessa linha de rótulos. Celebremos um novo ano, um ano melhor, melhor com vinhos para evocar a alegria e a saúde para sermos longevos como o Sanjo Núbio Cabernet Sauvignon. Tem 14% de teor alcoólico.

Sobre a Sanjo Cooperativa Agrícola de São Joaquim:

Formada originalmente por 34 fruticultores, em sua maioria imigrantes e descendentes de japoneses oriundos da cooperativa paulista de Cotia, a Sanjo construiu uma história de sucesso comercial investindo em qualidade e tecnologia agrícola. Nossa produção alcança mais de 50 mil toneladas anuais de maçãs, em uma área plantada de 1240 hectares.

No Brasil, as variedades mais consumidas de maçãs são a Gala e a Fuji. A Sanjo produz ambas em grande volume, comercializadas em todo o país, e divididas entre as marcas Sanjo, Dádiva, Pomerana e Hoshi, conforme a categoria. A empresa também comercializa com sucesso a linha de maçãs em sacolas Sanjo Disney, destinada ao público infantil.

A partir de 2002, aliando os valores da tradição japonesa à qualidade das uvas francesas e à experiência de enólogos de descendência italiana, vindos das tradicionais vinícolas da Serra Gaúcha, a Sanjo passou a investir também com sucesso na produção de vinhos finos de altitude, contribuindo para o reconhecimento alcançado pelos vinhos produzidos na Serra Catarinense. São 25,7 hectares das variedades Cabernet Sauvignon, Merlot, Chardonnay e Sauvignon Blanc, cultivadas com as mais avançadas tecnologias de produção de uvas para a elaboração de vinhos.

Mais informações acesse:

http://www.sanjo.com.br//



Referências:

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/comecando-por-cima_8143.html

“O Turismo e a Produção de Vinhos Finos na Região de São Joaquim (SC): Notas Preliminares”: https://www.ucs.br/ucs/eventos/seminarios_semintur/semin_tur_6/arquivos/13/O%20Turismo%20e%20a%20Producao%20de%20Vinhos%20Finos%20na%20Regiao%20de%20Sao%20Joaquim.pdf

“Blog do Jeriel”: https://blogdojeriel.com.br/2010/02/21/nubio-2005-um-bom-cabernet-sauvignon-de-sao-joaquim-santa-catarina/

“CafeViagem”: https://cafeviagem.com/vinhos-de-altitude-de-santa-catarina-conquistam-indicacao-geografica/#

“Embrapa”: https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/63617903/vinhos-de-altitude-de-santa-catarina-nova-indicacao-geografica-na-regiao-mais-fria-do-brasil

 







sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

Marqués de Toledo Gran Reserva Tempranillo (80%) e Cabernet Sauvignon (20%) 2011

 

As vezes alguns discursos engessados no universo do vinho me aborrecem! Sabe aquela coisa que falam com demasiada reverência: “Ah os vinhos da região ‘x’ são excelentes”! “Os vinhos da região ‘x’ são especiais”! Sempre são os vinhos de uma determinada região em detrimento de várias outras que fazem questão de jogar no ostracismo.

Por isso sempre faço questão de dizer UNIVERSO DO VINHO! Ele é vasto, gigante, diversificado, logo traz inúmeras regiões com suas peculiaridades, especificidades e tudo o mais. Será que realmente não merecemos desbravar todas elas? Ou pelo menos boa parte delas, até porque precisaríamos viver mil anos para degustar todos os vinhos do mundo.

E apenas para citar um exemplo: Espanha! Espanha é um dos “centros” produtivos de vinhos com o maior número de regiões, hectares e tudo o que tem direito do planeta. Por que ficar restrito a Rioja e Ribera del Duero?

Evidente que são regiões emblemáticas, importantes, tradicionais e que merecem a relevância, o pedestal que as colocam, mas, pergunto mais uma vez: Será que só existem essas regiões, as demais não podem apresentar particularidades, algo especial?

Eu respondo! Sim! E de imediato apresento uma que descobri, confesso e com certa vergonha, recentemente: Castilla La Mancha. A terra do errante Dom Quixote tem revelado para mim alguns vinhos excepcionais, diria surpreendentes para mim. A escolha foi boa? Sorte de principiante? Não sei dizer ao certo, mas o fato é que as escolhas foram certeiras.

O discurso mais forte que segmenta essa região por parte dos “formadores de opinião” é: “Ah são vinhos de volume! ” Vinhos de volume tem de ser sempre ruins? Quais os critérios? Talvez tenham alguns pontos técnicos, de vinificação, mas me parece que são campanhas perversas de exclusão dessas regiões e social também.

Então com o meu espírito subversivo e fora da caixinha, tenho me aventurado nessas regiões “alternativas” da Espanha, como Utiel-Requena, Valdepeñas, Castilla La Mancha etc. A Espanha é gigantesca e oferece um mundo de terroirs, de características de vinhos, dos mais básicos aos mais complexos.

E por falar em complexidade e também nessa incessante busca por todas as regiões espanholas eu tenho me fixado, quase ao ponto de uma “doce patologia”, em vinhos “reservas”, “gran reservas” que reinam absolutos na Espanha. Afinal é na Espanha que tais nomenclaturas são ostentadas com rigor, seguindo uma legislação (Lei 24/2003, de 10 de julio, de la Viña y del Vino) que garante o mínimo de qualidade aos rótulos.

Mas será que garantem a qualidade? Não! Mas traz um norte às propostas que carregam, entregam o que realmente são e isso, por si só, já traz um estímulo à degustação.

E a degustação de hoje marcará uma estreia: a primeira degustação de um “Gran Reserva” de Castilla La Mancha! E um Gran Reserva com seus 11 anos de garrafa, 11 anos de vida! Uma série de momentos especiais em apenas um rótulo!

Então sem mais delongas vamos às apresentações! O vinho que degustei e gostei veio de Albacete, Castilla La Mancha, e se chama Marques de Toledo Gran Reserva das castas Tempranillo (80%) e Cabernet Sauvignon (20%) da safra 2011. Então vamos às histórias, para não perder o costume.

Castilla La Mancha, a terra de Dom Quitoxe e os seus Moinhos de Vento

Bem ao centro da Espanha, país com a maior área de vinhas plantadas em todo o mundo e o terceiro maior mercado produtor de vinhos, está localizada a região vitivinícola de Castilla La Mancha. Um território com grande extensão de terra quase que completamente plana, sem grandes elevações.  É nessa macrorregião que se origina quase 50% do total de litros de vinho produzidos anualmente na Espanha.

O nome “La Mancha” tem origem na expressão “Mantxa” que em árabe significa “terra seca”, o que de fato caracteriza a região. Neste território, o clima continental ao extremo provoca grandes diferenças de temperaturas entre verão e inverno.

Nos dias quentes de verão os termômetros podem alcançar os 45°C, enquanto nas noites rigorosas de frio intenso do inverno, as temperaturas negativas podem chegar a até -15°C.

A irrigação torna-se muitas vezes essencial: além do baixo índice pluviométrico devido ao caráter continental e mediterrâneo do clima, o local se torna ainda mais seco graças ao seu microclima, que impede a entrada de correntes marítimas úmidas.

A ocorrência de sol por ano é de aproximadamente 3.000 horas. Esta macrorregião é composta por várias regiões menores, incluindo sete “Denominações de Origem”, das quais se pode destacar La Mancha e Valdepeñas.

Castilla La Mancha

La Mancha: é a principal região dentre elas, sendo considerada a maior DO da Espanha e a mais extensa zona vinícola do mundo.  O território abrange 182 municípios, distribuídos em quatro províncias: Albacete, Ciudad Real, Cuenca e Toledo. As principais uvas produzidas naquele solo são a uva branca Airen e a popular tinta espanhola Tempranillo, também conhecida localmente como Cencibel.

Valdepeñas: localizada mais ao sul, mas com as mesmas condições climáticas, tem construído sua boa reputação graças à produção de vinhos de grande qualidade, normalmente varietais da uva Tempranillo ou blends desta com castas internacionais.

A DO La Mancha conta mais de 164.000 hectares de vinhedos plantados. Com isso, é a maior Denominação de Origem do país e a maior área vitivinícola contínua do mundo, abrangendo 182 municípios, divididos em quatro províncias: Albacete, Ciudad Real, Cuenca e Toledo.

As castas mais cultivadas em Castilla de La Mancha são: Airén, Viúra, Sauvignon Blanc e Chardonnay entre as brancas e as tintas são: Tempranillo, Syrah, Cabernet Sauvignon, Merlot e Grenache.

Classificação dos rótulos da DO de Castilla La Mancha:

Jóven: Categoria mais básica, sem passagem por madeira, para ser consumido preferencialmente no mesmo ano da colheita.

Tradicional: Sem passagem por madeira, porém com mais estrutura do que o Jóven.

Envelhecimento em barris de carvalho: Envelhecimento mínimo de 90 dias em barris de carvalho.

Crianza: Envelhecimento natural de dois anos, sendo, pelo menos, seis meses em barris de carvalho.

Reserva: Envelhecimento de, no mínimo, 12 meses em barris de carvalho e 24 meses em garrafa.

Gran Reserva: Envelhecimento de, no mínimo, 18 meses em barris de carvalho e 42 meses em garrafa.

Espumante: Produzidos a partir do método tradicional (segunda fermentação em garrafa), com no mínimo nove meses de autólise.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um vermelho rubi intenso, com halos já evoluídos, atijolados, denotando os seus 11 anos de vida, com lágrimas grossas e esparsas e bem lentas.

No nariz traz exuberantes notas de frutas pretas maduras, tais como cereja preta, amoras e frutas secas. Os 24 meses de barricas de carvalho se apresentam com notas amadeiradas, baunilha, tosta, especiarias, algo de herbáceo, vegetal, couro e tabaco. Uma complexidade típica.

Na boca é seco, de média estrutura, mas elegante, afinal o tempo de garrafa se encarregou de deixa-lo complexo e macio, com as notas frutadas protagonizando como no aspecto olfativo. O toque herbáceo também dá o ar da graça, bem como aquele toque de terra, terroso, de terra molhada, com taninos presentes, mas domados, com acidez média, amadeirado, que lhe confere discreto chocolate e um final de média persistência.

11 anos de vida! E ainda um longo caminho pela frente! Um vinho pleno, complexo em um misto de frutas negras e aromas terciários revelando a sua versatilidade, a sua complexidade. Alguma estrutura, densidade, mas que o tempo conferiu elegância e equilíbrio. Por isso que esses especiais espanhóis vêm me ganhando a cada experiência sensorial. Que venham mais e mais momentos como esse! Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Bodegas Lozano:

Em 1853 começa a história da vinícola, quando a família Lozano planta as primeiras vinhas em Villarrobledo (município da Espanha na província de Albacete, comunidade autônoma de Castilla-La-Mancha) formada principalmente pela variedade Aíren, nativa da região. Desde então, foram quatro gerações na gestão da adega, sempre apostando no bom trabalho e no uso de técnicas tradicionais na elaboração.

Em 1985, as instalações existentes foram adquiridas. Desde então, houve muitas melhorias que foram desenvolvidas, proporcionando um aumento considerável na capacidade de vinificação.

Em 2005, a Lozano diversificou o negócio e começou a concentrar-se em sucos e concentrados de uva, formando a empresa CONUVA, usando o mesmo roteiro: para alcançar a mais alta qualidade em todos os seus produtos e para agregar valor diferenciado a todos os clientes, a confiança.

A adega passou por diferentes estágios que forjaram o que é hoje: uma empresa familiar e profissional que é referência no setor vitivinícola que aposta adaptação aos novos tempos através de novos produtos e formatos.

Mais informações acesse:

https://bodegas-lozano.com/es/

Referências:

“Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/245-a-regiao-de-castilla-la-mancha-a-terra-de-dom-quixote

“Blog “Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/245-a-regiao-de-castilla-la-mancha-a-terra-de-dom-quixote#:~:text=Este%20livro%2C%20universalmente%20famoso%2C%20trata,no%20centro%2Fsudeste%20da%20Espanha.&text=Os%20primeiros%20escritos%20da%20cultura,vinhas%20foram%20introduzidas%20pelos%20romanos.

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/vinhos-dos-moinhos_4580.html

“Blog VinhoSite”: http://blog.vinhosite.com.br/la-mancha-maior-regiao-produtora-vinhos-espanha/

 

 

 





quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

Colinas de Ançã Colheita Selecionada Baga Rosé 2020

 

Já que estamos adentrando os dias quentes de verão no Brasil nada mais adequado do que um vinho mais leve, aqueles mais descontraídos para “harmonizar” com o clima. Claro que, quando tomamos tal decisão de degustar esses vinhos, quais são os que nos vem à mente? O nosso espumante, o espumante brasileiro! Normal!

Mas hoje decidi “subverter” e mudar o meu radar para outro país, outra proposta de vinho que, réu confesso que sou, admito que não venho degustando com a frequência que merecem: o rosé.

E é um rosé de Portugal! Para quem acha que é da bucólica e agradável região dos Vinhos Verdes, se enganou, embora seja uma grande pedida. Mas não é! Hoje degustarei um belo rosé da Bairrada!

Confesso que quando opto por degustar um bairradino o coração se enche de alegria! Tenho curtido deveras em degustar, em desbravar os vinhos da região. E nada melhor também que degustar um Baga rosé, a casta mais representativa da Bairrada.

O de hoje não será exatamente o meu primeiro Baga rosé. Eu degustei o Conde de Cantanhede Baga, mas não era safrado e sem uma região produtora em especial. Mas o vinho foi especial, afinal para o que se propõe em entregar ele foi primoroso.

O rótulo de hoje é, como disse, da Bairrada e da safra 2020. Então digamos que será o primeiro Baga com região e safra bem definida. Então sem mais delongas vamos às apresentações! O vinho que degustei e gostei veio da Bairrada e se chama Colinas de Ançã, um 100% Baga da safra 2020.

Por que “Colinas de Ançã”?

Ançã é uma Vila Histórica da Bairrada - Região Demarcada de Viticultura no centro de Portugal, perto do Oceano Atlântico. A sua história tem uma forte relação a alguns dos mais antigos e icónicos monumentos em Portugal, uma vez que a maioria foi construída com um tipo especial de calcário proveniente das terras de Ançã.

Este calcário faz parte do solo que, misturado com barros, é um dos elementos mais distintivos do terroir da Bairrada, terra de vinhos de vincado carácter.

Bairrada

Localizada na região central de Portugal e se estendendo até o Oceano Atlântico, especificamente entre as cidades de Coimbra e Águeda, a região vinícola da Bairrada, cujo nome é uma referência ao solo argiloso que a compõe (barro) tem clima temperado bastante favorável às vinhas.

A Bairrada é uma daquelas regiões portuguesas com grande personalidade. Apesar de sua longa história vínica, a certificação da região é recente. A Denominação de Origem Controlada (DOC Bairrada) para vinhos tintos e brancos é de 1979 e para espumantes de 1991. A Região Demarcada da Bairrada possui também uma Indicação Geográfica: IG Beira Atlântico.

Bairrada

António Augusto de Aguiar estudou os sistemas de produção de vinhos e definiu as fronteiras da região. Em 1867, vinte anos mais tarde, fundou a Escola Prática de Viticultura da Bairrada. Destinada a promover os vinhos da região e melhorar as técnicas de cultivo e produção de vinho.

O primeiro resultado prático da escola foi a criação de vinho espumante em 1890. E foi com os espumantes que a região conquistou o mundo. Frutados, com um toque mineral e boa estrutura esses vinhos tornaram-se referencias e, até hoje, fazem da Bairrada uma das maiores regiões produtoras de espumantes de Portugal. Com o passar do tempo, as criações tintas ganharam espaço.

Muito por conta do que os produtores têm feito com a Baga, casta autóctone da região. O grande responsável pelo fortalecimento internacional da região é o engenheiro Luís Pato. Conhecido como o "Mr. Baga", Pato tem um trabalho minucioso sobre as uvas, tudo para conseguir um vinho autêntico com o mínimo de interferência externa. A uva Baga, uma das principais uvas nativas de Portugal, é capaz de oferecer enorme complexidade aos rótulos que compõe.

Demonstrando muita classe e estrutura, a variedade da casta de tintos é única no seu valor e possui um fantástico potencial de envelhecimento, que atua com o vinho na garrafa durante anos após sua fabricação. Além de refinados e inimitáveis, os vinhos produzidos com esta variedade de uva apresentam muita personalidade e distinção. No passado, a Baga era conhecida por ser empregada na produção de vinhos rústicos, excessivamente ácidos e tânicos e de pouca concentração. Porém, após a chegada do genial Luís Pato, conhecido como o “revolucionário da Bairrada” e maior expoente desta variedade, a casta da uva Baga foi “domesticada”.

A localização da DOC Bairrada e suas características de clima e solo fazem dela uma região única. Paralelamente, o plantio das vinhas é feito em lotes descontínuos de pequenas proporções e faz divisa com outras culturas e outros usos de solo. Com isso, seus vinhos são de terroir, ou seja, o local onde a uva é plantada influencia diretamente em suas particularidades. Delimitada a Sul, pelo rio Mondego, a Norte pelo rio Vouga, a Leste pelo oceano Atlântico e a Oeste pelas serras do Buçaco e Caramulo, a região é composta por planalto de baixa altitude.

O solo é predominantemente argilo-calcário, mas há algumas poucas regiões com solos arenosos e de aluvião. O clima é mediterrânico moderado pelo Atlântico. A região recebe forte influência marítima do oceano Atlântico. Os invernos são frescos, longos e chuvosos e os verões são quentes, suavizados pela presença de ventos frequentes nas regiões junto ao mar. A área se beneficia de grande amplitude térmica na época do amadurecimento das uvas. A variação que pode chegar aos 20ºC de diferença entre o dia e a noite.

Decreto-Lei n.º 70/91 estabeleceu as castas autorizadas e recomendadas para produção de vinhos na DOC Bairrada. A lei descreve as diretrizes para elaboração dos vinhos tintos, rosés, brancos e espumantes. Para a produção de tintos e rosés com o selo DOC Bairrada, as castas recomendadas são Baga (ou Tinta Poeirinha), Castelão, Moreto e Tinta-Pinheira. No conjunto ou separadamente, deverão representar 80% do vinhedo, não podendo a casta Baga representar menos de 50%. As castas autorizadas são Água-Santa, Alfrocheiro, Bastardo, Jaen, Preto-Mortágua e Trincadeira.

Para os vinhos brancos as castas recomendadas são Maria-Gomes (também conhecida como Fernão Pires), Arinto, Bical, Cercial e Rabo-de-Ovelha, no conjunto ou separadamente com um mínimo de 80% do encepamento: e as autorizadas são Cercialinho e Chardonnay. O vinho base para espumantes naturais devem ser elaborados através das castas recomendadas Arinto, Baga, Bical, Cercial, Maria-Gomes e Rabo-de-Ovelha; ou das autorizadas Água-Santa, Alfrocheiro-Preto, Bastardo, Castelão, Cercialinho, Chardonnay, Jaen, Moreto, Preto-Mortágua, Tinta-Pinheira e Trincadeira.

Em 2012 foi publicada a Portaria n.º 380/2012, que atualiza a lista de castas permitidas para e das portuguesas Touriga Nacional, Castelão, Rufete, Camarate, Tinta Barroca, Tinto Cão e Touriga Franca. Vinhos elaborados com castas que não estejam relacionadas na elaboração dos vinhos DOC Bairrada.  Foi incluída recentemente uma autorização para o cultivo das castas internacionais Cabernet Sauvignon, Syrah, Merlot, Petit Verdot e Pinot Noir. Por Decreto-Lei, não podem receber o selo de DOC Bairrada e são rotulados com o selo Vinho Regional Beira Atlântico.

E agora finalmente o vinho:

Na taça um rosado límpido transparente, com algum acobreado, bem brilhante, com a manifestação de finas lágrimas com razoável profusão.

No nariz trouxe inicialmente aromas fechados, mas que logo se abriu, mas não eloquentemente, com notas frutadas, frutas vermelhas frescas, tais como morango, cerejas e groselhas, com incrível frescor e leveza, além de delicado floral que remete a pêssegos.

Na boca a leveza e o frescor reaparecem em um protagonismo excepcional, como no aspecto olfativo, bem como a fruta, muita fruta com um destaque fantástico para o pêssego que traz uma sensação de um dulçor que não se torna enjoativo. Tem um bom volume de boca que lhe confere sabor, acidez média e agradável. Tem um final longo, persistente, fazendo do vinho elegante e harmonioso.

Definitivamente a Adega de Cantanhede me possibilitou degustar, conhecer a região da Bairrada e não se enganem, não são vinhos ruins por entregar preços competitivos. Não! São vinhos excelentes em todas as suas camadas de propostas e o Colinas de Ançã Baga Rosé entrega perfeitamente o que todo rosé tem de entregar: muita fruta, sabor, frescor, leveza. Que venham outras experiências da Bairrada e da Adega de Cantanhede. Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a Adega de Cantanhede:

Fundada em 1954 por um conjunto de 100 viticultores, a Adega de Cantanhede conta hoje com 500 viticultores associados ativos e uma produção anual de 6 a 7 milhões de quilos de uva, constituindo-se como o principal produtor da Região Demarcada da Bairrada, representando cerca de 40% da produção global da região. Hoje certifica cerca de 80% da sua produção, sendo líder destacado nas vendas de vinhos DOC Bairrada DOC e Beira Atlântico IGP.

Reconhecendo a enorme competitividade existente no mercado nacional e internacional, a evolução qualitativa dos seus vinhos é o resultado da mais moderna tecnologia, com foco na qualidade e segurança alimentar (Adega Certificada pela norma ISO 9001:2015, e mais recentemente pela IFS Food 6.1.), mas também da promoção das castas Portuguesas, que sempre guiou a sua estratégia, particularmente das variedades tradicionais da Bairrada – Baga, Bical e Maria Gomes – mas também de outras castas

Portuguesas que encontram na Bairrada um Terroir de eleição, como sejam a Touriga Nacional, Aragonez e Arinto, pois acredita que no inequívoco potencial de diferenciação e singularidade que este património confere aos seus vinhos.

O seu portfólio inclui uma ampla gama de produtos. Em tinto, branco e rose os seus vinhos vão desde os vinhos de mesa até vinhos Premium a que acresce uma vasta gama de espumantes produzidos exclusivamente pelo Método Clássico, bem como Aguardentes e Vinhos Fortificados. É um portfólio que, graças à sua diversidade e versatilidade, é capaz de atender a diferentes segmentos de mercado, com diferentes graus de exigência em qualidade, que resulta na presença dos seus produtos em mais de 20 mercados.

A sua notoriedade enquanto produtor, bem como dos seus vinhos e das suas marcas, vem sendo confirmada e sustentadamente reforçada pelos prémios que vem acumulando no seu palmarés, o que resulta em mais de 750 distinções atribuídas nos mais prestigiados concursos nacionais e internacionais, com destaque para Mundus Vini – Alemanha, Concours Mondial de Bruxelles, Selections Mondiales du Vins - Canada, Effervescents Monde – França, Berliner Wein Trophy – Alemanha e Japan Wine Challenge, sendo por diversas ocasiões o único produtor da Bairrada com vinhos premiados nesses concursos e, por isso, hoje um dos mais galardoados produtores da região. Em 2015 integrou o TOP 100 dos Melhores Produtores Mundiais, pela WAWWJ – Associação Mundial dos Jornalistas e Críticos de Vinho e Bebidas Espirituosas. Nos últimos 8 anos foi eleita “Melhor Adega Cooperativa” em Portugal por 3 vezes pela imprensa especializada.

Mais informações acesse:

https://www.cantanhede.com/

Referências:

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/regiao/bairrada

“Reserva85”: https://reserva85.com.br/vinho/indicacao-geografica-ig-denominacao-de-origem-do/regioes-demarcadas-de-portugal/bairrada/






sábado, 24 de dezembro de 2022

Lírica Crua Nature

 

De uma coisa eu e, acredito que muitos brasileiros enamorados pelo vinho de nossas terras atualmente, de que os nossos espumantes estão entre os melhores “borbulhas” do planeta. E não é um discurso ufanista carregado de ódio que rejeita todos os produtores e rótulos de outros países, mas uma condição concreta, de que os nossos vinhos são especiais e a tendência é que cresça a cada dia.

Há alguns dias atrás eu li uma informação de que um espumante, de método charmat, simples, básico, que custa na faixa dos R$30,00, ficou entre os melhores espumantes do mundo, em um concurso, pasmem, da França, a terra dos champagnes!

Ganhou medalha de ouro e ficou no top 10 do Effervescents du Monde 2022 (Leia aqui) e se chama Conde de Foucauld brut, da grande Vinícola Aurora, além de outros dois espumantes, como o Salton Prosecco e o Nero Live Celebration, da Famiglia Valduga.

Essa é a prova contundente para mostrar, corroborar a qualidade e a tipicidade de nossos vinhos espumantes. É bem verdade que não degustamos prêmios ou medalhas, degustamos vinhos, mas quando vinhos tão baratos e básicos conquistam prêmios dessa magnitude, são laureados dessa forma, merece, no mínimo, atenção e logo reverência.

Então hoje decidi, na noite de natal, com uma celebração em família, abrir um espumante, decidi celebrar com um vinho brasileiro, celebrar com o carro chefe de nossa vitivinicultura: o espumante.

E além da escolha por um espumante, será o espumante, pois esse será o segundo rótulo que degustarei no método tradicional, no método champenoise, um espumante nature que, até pouco tempo atrás, eu nunca tinha degustado, o que ainda, mesmo degustando espumantes há tempos, tenho espaços para novidades, gratas novidades.

A minha primeira experiência fora com o Don Giovanni Nature e foi simplesmente arrebatadora a degustação, com momentos singulares. E agora mais uma página na minha história que será ilustrada com espumantes complexos, de estrutura e marcante personalidade.

E ainda tem mais: Será meu primeiro espumante de uma região, não só nova para mim, como para muitos enófilos brasileiros. Uma região que vem ganhando alguma visibilidade e ganhando também credibilidade, falo da Serra do Sudeste, no Rio Grande do Sul.

Acredito fielmente que não poderia haver melhor momento para degusta-lo! Porém eu o conheci, bem como o seu produtor, em um evento que seus rótulos foram homenageados, falo da Vinícola Hermann.

O vinho que degustei e gostei veio como disse, da Serra do Sudeste e se chama Lírica Crua, um Nature composto por Chardonnay (80%), Pinot Noir (10%) e Gouveio (10%), que também é conhecida como Verdelho e Godello, sem safra informada. E antes de entrar na história da região e falar do vinho, que é simplesmente espetacular, há uma curiosidade que rodeia o Lírica Crua. Ele foi o primeiro espumante brasileiro a ser vendido sem o processo de dégorgement.

Mas o que é dégorgement? Depois do processo completo de remuage, que consiste num trabalho cuidadoso em girar a garrafa no pupitre para que as leveduras se direcionem ao gargalo da garrafa, é feito o dégorgement, para limpar a bebida. O gargalo da garrafa é congelado para solidificar os sedimentos que ficam após a segunda fermentação nos espumantes feitos pelo método Tradicional. A garrafa, então, é aberta e a pressão expele o “gelo”. Depois ela volta a ser arrolhada.

No caso do Lírica Crua isso não acontece e as leveduras ficam na garrafa, patrocinando ao vinho uma incrível complexidade e cremosidade, dando-lhe personalidade e uma incrível capacidade de longevidade. Mas espere também frescor, leveza, como todo bom espumante brasileiro.

O método natural do espumante ou champenoise

O método tradicional consiste principalmente em uma dupla fermentação do mosto, a primeira em grandes recipientes, e a segunda em garrafas, dentro das caves ou adegas, fazendo o processo de remuage (rotação das garrafas) regularmente.

A primeira fermentação, chamada fermentação alcoólica, é idêntica à que ocorre com os vinhos comuns, ou seja, os “não efervescentes”, ditos tranquilos. O vinho básico costuma ser vinificado em tanques de concreto, aço inoxidável ou madeira, mas alguns produtores preferem fazer a vinificação em barricas de carvalho (com muitos anos de uso).

No momento de engarrafar, a esse vinho básico, é acrescentado um composto denominado liqueur de tirage, uma solução de vinho adoçado com açúcar (de cana ou beterraba) ou suco de uva concentrado (aproximada 24 g/l de açúcar) e leveduras selecionadas, para iniciar a segunda fermentação.

Esse composto, dentro garrafa, provoca o início da segunda fermentação. É ela que gera as bolhas de dióxido de carbono, fruto da transformação química dos açúcares em álcool mais gás carbônico.

A garrafa então é tapada com uma cápsula metálica parecida com as de cerveja. Contudo, nessa segunda fermentação, ocorre o surgimento de borras que deverão ser retiradas do vinho. Assim, o próximo passo é conduzir o vinho para o período de descanso em garrafa, que pode ser de pouco mais de um ano chegando até 10 anos, ou mais. Normalmente os Champagne safrados, ou millésimes, permanecem mais tempo em garrafa antes de serem lançados ao mercado.

Para retirar as borras, faz-se a remuage. O processo consiste em dispor as garrafas em cavaletes especiais, ditos pupitres, com o gargalo para baixo. A cada dia, as garrafas são giradas em um quarto de volta. Isso tem como objetivo descolar as borras (resíduos) da parede da garrafa e fazê-las descer para o gargalo. Em muitos lugares, essa prática é feita ainda manualmente, enquanto os grandes produtores já o fazem com equipamentos automatizados, como os giropalets.

Finalmente, para retirar o depósito de borra, é realizada a degola (dégorgement, em francês). Para tal, congela-se o gargalo em um preparado de salmoura a 25ºC negativos. Nesse momento, a cápsula é retirada e a borra é expulsa pelo gás sob pressão. A pequena perda de volume de vinho é substituída por uma mistura de vinho e açúcar, chamado licor ou vinho de dosagem, também conhecido, principalmente na França, como liqueur d’expédition.

Normalmente, esse licor é um composto de vinho (de reserva), açúcar e SO2, como antioxidante e antimicrobiano. Sua função, além de recompor o volume da garrafa, é definir o estilo do espumante conforme a concentração de açúcar. Essa quantidade de açúcar presente no licor vai determinar se o espumante de método champenoise será Brut Nature (menos de 3 g/l), Extra-Brut (até 6 g/l), Brut (menos de 12 g/l), Extra-Sec (entre 12 e 17 g/l), Sec (entre 17 e 32 g/l), Demi Sec (entre 32 e 50 g/l) ou Doux (mais de 50 g/l). E há também alguns produtores que não utilizam o licor de expedição.

Nos últimos anos, muitas vinícolas passaram a produzir espumantes do tipo Nature. Essa bebida nobre extrai o sabor mais puro das uvas e do processo de fermentação, criando um resultado surpreendente.

Nature

O Nature passa pelo método tradicional de produção, conhecido como champenoise. Contudo, a diferença é que a categoria não passa pela etapa de correção de sabor – momento em que um licor de expedição, feito a partir do próprio vinho e do açúcar, é adicionado na bebida.

O interessante desse espumante é que ele geralmente vai ter uma qualidade maior de ingredientes. Como não passa pela correção de sabor, é importante que seja feito com perfeição.

Para ganhar o título de Nature, a bebida precisa conter até 3 gramas de açúcar por litro, enquanto o Brut pode conter entre 6 e 15 gramas por litro. Por isso, o sabor do espumante é mais seco. O tempo de maturação do vinho também é maior, o que resulta em um volume de boca considerável. Ou seja: é mais cremoso do que os outros estilos. Normalmente as variedades utilizadas para esse tipo de espumante é a Chardonnay e a Pinot Noir.

Serra do Sudeste

Nossa mais famosa região vinícola é, sem dúvida alguma, a Serra Gaúcha, da qual faz parte a primeira área de Indicação de Procedência brasileira, o Vale dos Vinhedos. De dentro para fora, sabemos que o Vale está chegando ao seu limite de plantio. Como área de procedência certificada, as regras que controlam sua existência são rígidas e hoje sobram poucas terras de qualidade às vinícolas para que plantem suas uvas. Ele não deixa de ser, no entanto, o polo para onde convergem as atrações turísticas e as grandes instalações produtoras das vinícolas, incluindo suas adegas.

Os outros municípios que compõem a região da Serra Gaúcha vêm se desenvolvendo com constância como Garibaldi, Flores da Cunha e Farroupilha. Mas algumas novidades interessantes estão aparecendo em cidades a noroeste de Bento Gonçalves, como Guaporé, na linha Pinheiro Machado e Casca, na direção de Passo Fundo.

Mas tem uma região que, apesar de ter sido descoberta na década de 1970, pode-se considerar que se trata de uma região nova, pois somente a partir dos anos 2000, com investimentos feitos pelas vinícolas da Serra Gaúcha, que o potencial dela foi, de fato, explorado. Essa região é a Serra do Sudeste.

Ela forma uma espécie de ferradura virada para o mar, ligando os municípios de Encruzilhada do Sul e Pinheiro Machado, separados ao meio pelo rio Camaquã, que deságua na Lagoa dos Patos. Essa região faz divisa com outra importante área vinícola brasileira, a Campanha Gaúcha, dividida entre Campanha Meridional (que começa na cidade de Candiota) e Campanha Oriental, que segue a linha da fronteira com o Uruguai.


Serra do Sudeste

A Serra do Sudeste tem colinas suaves, que facilitam o plantio e a mecanização, tornando-a um terroir mais simples de trabalhar. Aliadas a isso, estão as condições climáticas, mais favoráveis do que no Vale dos Vinhedos. Essa região tem o menor índice de chuvas do Estado do Rio Grande do Sul, além de noites frias mesmo no verão, justamente a época da maturação das uvas. Essas condições naturais, além de um solo mais pobre e de origem granítica, ajudam a ter maior concentração de cor, estrutura e potencial de envelhecimento dos vinhos.

O Instituto de Pesquisa Agrícola do Rio Grande do Sul mapeou pela primeira vez esta área nos anos 1970, mas é no começo da década de 2000 que as primeiras vinícolas de certa importância começam a plantar vinhedos por aqui, entre os municípios de Encruzilhada do Sul, o principal, Pinheiro Machado e Candiota (mesmo próxima de Bagé Candiota é considerada pelo IBGE como pertencente à Serra do Sudeste e não à Campanha, embora haja controvérsias).

Em grande parte se trata de uma região vitícola, geralmente as uvas aqui colhidas são conduzidas nas instalações das vinícolas na Serra Gaúcha e lá transformadas em vinho, esta região ainda não possui, e nem pleiteia em curto prazo, o reconhecimento a Denominação de Origem Controlada, quando, e se, isso ocorrer o vinho deverá ser produzido por aqui, já que este é um fator crucial na lei das denominações de origem.

As castas internacionais dominam a viticultura na Serra do Sudeste, tintas e brancas que na Serra Gaúcha podem representar um desafio pelo clima úmido, aqui prosperam com mais facilidade, o índice pluviométrico é alinhado com o estado do Rio Grande do Sul, chove um pouco menos que no Vale dos Vinhedos, mas o que mais importa é que as chuvas são mais bem distribuídas ao longo do ano, raramente coincidindo com o período da colheita das variedades tardias.

A característica dos vinhos daqui é o bom nível de aromas, a sapidez pronunciada por conta da presença do calcário e o perfil gastronômico, boa acidez, taninos enxutos nos tintos e presença mineral nos brancos. Uvas mais cultivadas na região são: Malbec, Cabernet Franc, Merlot, Gewurztraminer, Sauvignon Blanc e Malvasia.

Se for verdade que a Serra do Sudeste não possui o panorama encantador da Serra Gaúcha, é também verdade que seus vinhos representam um patrimônio da vitivinicultura brasileira que merece ser descoberto, e sem demora.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um amarelo palha intenso e com algum brilho e reflexos esverdeados, apesar de uma discreta turbidez, devido as leveduras, com perlages finos e intensos, persistentes.

No nariz traz aromas que, evidentemente, nos remete as leveduras, com toques de panificação, de pão tostado em tom delicado, com um ataque, em seguida, de frutas cítricas, como laranja, limão, tangerina, abacaxi e logo depois frutas de polpa branca, como pera e algo floral, de flores brancas que entrega frescor e leveza.

Na boca é vivaz, altivo, intenso, complexo e de textura deliciosa, saborosa, cheio, untuoso, cremoso, com notas de pão, de fermento, pão com manteiga, mas, ao mesmo tempo é elegante, fresco, como todo bom espumante. As borras, as leveduras lhe conferem a suavidade e que equilibra a acidez, que é excelente, que faz salivar, com um final frutado e prolongado.

Sim, os nossos espumantes estão entre os melhores do mundo! Sim, expressam o que há de melhor de nossos terroirs! Sim, temos de vinhos básicos aos mais complexos e longevos! Não, isso não é discurso ufanista! É um discurso, carregado de orgulho que pode parecer passional, mas que vem repleto de argumentos fortes e contundentes. Estamos presenciando, diante dos nossos olhos, a revolução dos espumantes brasileiros, de bebidas que não estão imitando os chilenos, os argentinos, mas revelando a sua tipicidade, mostrando o nosso DNA! E como não há dia melhor para celebrar com a sua família em um dia de natal, façamos com reverências, respeito e, sobretudo muito prazer e privilégio por degustar um vinho como esse! Tem 11,8% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Hermann:

A família Hermann trouxe todo o seu know-how de profundos conhecedores de diversas regiões vinícolas do mundo para a esfera da produção de vinhos, apostando no potencial dos melhores terroirs da região sul do Brasil.

Proprietários de uma das maiores importadoras de vinhos de alta qualidade do país, a Decanter, compraram em 2009 um vinhedo de grande vocação em Pinheiro Machado, na Serra do Sudeste no Rio Grande do Sul, plantado com mudas de alta qualidade por um dos viveiros líderes de Portugal.

A assessoria enológica de um dos mais brilhantes enólogos de Portugal, o renomado “rei do Alvarinho” Anselmo Mendes - “Enólogo do Ano” pela Revista de Vinhos de Portugal em 1997 - ao lado do talentoso enólogo Átila Zavarizze, garante a excelência na transformação das uvas promissoras em grandes vinhos brasileiros, com caráter e tipicidade.

Mais informações acesse:

http://www.vinicolahermann.com.br/

Referências:

“Marco Ferrari Sommelier”: https://www.marcoferrarisommelier.com.br/blog.php?BlogId=33

“Cave BR”: https://www.cavebr.com.br/serra-do-sudeste-1

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/a-nova-fronteira-sul_8619.html

“intelivino”: https://intelivino.com.br/serra-do-sudeste

Revista Adega: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/champenoise-tradicional-ou-classico-os-metodos-de-fazer-champagne_11987.html

Gaúcha ZH: https://gauchazh.clicrbs.com.br/destemperados/bebidas/noticia/2017/10/nature-um-espumante-puro-ckboenhcu004dmmslca2k2gtc.html

“Garibaldi Blog”: https://www.garibaldiblog.com.br/post/degorgementperlageremuage

“A Gazeta”: https://www.agazeta.com.br/hz/gastronomia/espumante-brasileiro-de-r-30-e-eleito-um-dos-melhores-do-mundo-1222







 





sábado, 17 de dezembro de 2022

Dom Cândido Documento Merlot e Cabernet Sauvignon 2017

 

Eu sei, sou um réu confesso! Adoro os vinhos de cortes bordaleses! São imbatíveis! Para mim é o melhor blend que existe no universo do vinho! Talvez seja mais relevante que a própria região de Bordeaux que, por si só, já é emblemática, icônica.

Atualmente temos visto, sobretudo em terras brasileiras, muitos cortes famosos de Bordeaux, aquele com a predominância da Merlot e Cabernet Sauvignon, com alguns “resquícios” da Malbec, Cabernet Franc e Petit Verdot, em doses menos representativas.

Brasil, Chile e vários outros países que compõe o bloco do Novo Mundo têm produzido rótulos com esse corte e, diante dos seus terroirs, das suas mais marcantes características, adquirem tipicidades singulares.

Tenho esboçado uma “minuciosa aventura” nos rótulos brasileiros e digo que, diante desse meu ávido interesse, venho descobrindo, a cada dia, novos rótulos. Praticamente todas as vinícolas, sejam elas pequenas ou grandes, com pouca ou muita participação de mercado, estão investindo na dupla Merlot e Cabernet Sauvignon e digo, desde já, que são apostas certeiras.

E o rótulo de hoje foi oriundo de uma grata descoberta em esses famosos eventos de degustação de vinhos brasileiros que tem acontecido, com mais ênfase, de 2017 para cá. E o produtor desse vinho eu descobri exatamente em 2017 no festival “Vinho na Vila”.

Estava em um estande simples, com poucos rótulos em exposição e digo com uma procura baixa. Claro que aquilo me chamou a atenção, uma espécie de convite. Me dirigi a estande e o expositor, que me parecia ser um representante da vinícola, educadamente me apresentava os seus rótulos. Decidi levar o Dom Cândido Chardonnay 2017 e assim foi o meu primeiro contato com a Dom Cândido.

E agora a versão tinta, do famoso corte bordalês em uma quantidade limitada de 4.000 garrafas (a minha é número...)! Não preciso dizer da minha ansiedade em desarrolhá-lo. E esse momento, enfim, chegou! O vinho que degustei e gostei veio da fantástica Vale dos Vinhedos, da DO Vale dos Vinhedos, e se chama Documento das castas Merlot (60%) e Cabernet Sauvignon (40%) da safra 2017. E para não perder o costume vamos de história!

Serra Gaúcha

Situada a nordeste do Rio Grande do Sul, a região da Serra Gaúcha é a grande estrela da vitivinicultura brasileira, destacando-se pelo volume e pela qualidade dos vinhos que produz. Para qualquer enófilo indo ao Rio Grande do Sul, é obrigatório visitar a Serra Gaúcha, especialmente Bento Gonçalves.

Serra Gaúcha

A região da Serra Gaúcha está situada em latitude próxima das condições geoclimáticas ideais para o melhor desenvolvimento de vinhedos, mas as chuvas costumam ser excessivas exatamente na época que antecede a colheita, período crucial à maturação das uvas. Quando as chuvas são reduzidas, surgem ótimas safras, como nos anos 1999, 2002, 2004, 2005 e 2006.

A partir de 2007, com o aquecimento global, o clima da Serra Gaúcha se transformou, surgindo verões mais quentes e secos, com resultados ótimos para a vinicultura, mas terríveis para a agricultura. Desde 2005 o nível de qualidade dos vinhos tintos vem subindo continuamente, graças a esta mudança e também do salto de tecnologia de vinhedos implantado a partir do ano 2000.

Vale dos Vinhedos e a sua Indicação de Procedência

O Vale dos Vinhedos localiza-se no centro do triângulo formado pelas cidades de Bento Gonçalves (nordeste), Monte Belo do Sul (noroeste) e Garibaldi (sul). O Vale dos Vinhedos compreende a parte da bacia hidrográfica do Rio Pedrinho, situada a montante da foz de um córrego afluente deste e situado a sudeste da comunidade de Vale Aurora, no município de Bento Gonçalves.

A parte do vale a jusante é denominada de Vale Aurora. A maior parte da área do Vale dos Vinhedos fica localizada em território do município de Bento Gonçalves, com 55% do total, e a menor parte fica localizada em território de Monte Belo do Sul, com 8% na porção noroeste. A parte sul do Vale pertence ao município de Garibaldi, com 37% da área total. 

Parte da zona urbana de Bento Gonçalves situa-se dentro do perímetro do Vale, haja vista que a linha divisória de águas entre as bacias do Rio Pedrinho e do Rio Buratti passa pela parte oeste da cidade. Localizam-se ao longo desta linha, ou próximo desta, a pista do Aeroclube de Bento Gonçalves, a Estação Rodoviária de Bento Gonçalves, o Estádio da Montanha e a Estação Ferroviária de Bento Gonçalves.

Vale dos Vinhedos

O Vale dos Vinhedos é a primeira região vinícola do Brasil a obter Indicação de Procedência de seus produtos, exibindo o Selo de Controle em vinhos e espumantes elaborados pelas vinícolas associadas. Criada em 1995, a partir da união de seis vinícolas, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale), já surgiu com o propósito de alcançar uma Denominação de Origem. No entanto, era necessário seguir os passos da experiência, passando primeiro por uma Indicação de Procedência.

O pedido de reconhecimento geográfico encaminhado ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) em 1998 foi alcançado somente em 2001. Neste período, foi necessário firmar convênios operacionais para auxiliar no desenvolvimento de atividades que serviram como pré-requisitos para a conquista da Indicação de Procedência Vale dos Vinhedos (I.P.V.V.). O trabalho resultou no levantamento histórico, mapa geográfico e estudo da potencialidade do setor vitivinícola da região. Já existe uma DOC (Denominação de Origem Controlada) na região.

Sua norma estabelece que toda a produção de uvas e o processamento da bebida seja realizada na região delimitada do Vale dos Vinhedos. A DO também apresenta regras de cultivo e de processamento mais restritas que as estabelecidas para a Indicação de Procedência (IP), em vigor até a obtenção do registro da DO, outorgado pelo INPI.

DO Vale dos Vinhedos

O Vale dos Vinhedos foi a primeira região entregue aos imigrantes italianos, a partir de 1875. Inicialmente desenvolveu-se ali uma agricultura de subsistência e produção de itens de consumo para o Rio Grande do Sul. Devido à tradição da região de origem das famílias imigrantes, o Veneto, logo se iniciaram plantios de uvas para produção de vinho para consumo local. Até a década de 80 do século XX, os produtores de uvas do Vale dos Vinhedos vendiam sua produção para grandes vinícolas da região. A pouca quantidade de vinho que produziam destinava-se ao consumo familiar.

Esta realidade mudou quando a comercialização de vinho entrou em queda e, consequentemente, o preço da uva desvalorizou. Os viticultores passaram então a utilizar sua produção para fazer seu vinho e comercializá-lo diretamente, tendo assim possibilidade de aumento nos lucros.

Para alcançar este objetivo e atender às exigências legais da Indicação Geográfica, seis vinícolas se associaram, criando, em 1995, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale). Atualmente, a Aprovale conta com 24 vinícolas associadas e 19 associados não produtores de vinho, entre hotéis, pousadas, restaurantes, fabricantes de produtos artesanais, queijarias, entre outros. As vinícolas do Vale dos Vinhedos produziram, em 2004 9,3 milhões de litros de vinhos finos e processaram 14,3 milhões de kg de uvas viníferas.

Detalhes da Denominação de Origem do Vale dos Vinhedos

1 - A produção de uvas e a elaboração dos vinhos ocorrem exclusivamente na região delimitada do Vale dos Vinhedos, uma área de 72,45 km2 localizada nos municípios de Bento Gonçalves, Garibaldi e Monte Belo do Sul.

2 - Existem requisitos específicos para de cultivo dos vinhedos, produtividade e qualidade das uvas para vinificação;

3 - Os espumantes finos são elaborados exclusivamente pelo “Método Tradicional” (segunda fermentação na garrafa), nas classificações Nature, Extra-brut ou Brut; para este produto as uvas Chardonnay e/ou Pinot Noir são de uso obrigatório;

4 - Nos vinhos finos brancos, a uva Chardonnay é de uso obrigatório, podendo ter corte com a Riesling Itálico;

5 - O uso da uva Merlot é obrigatória para os vinhos finos tintos da DO, os quais podem ter cortes com vinhos elaborados com as uvas Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Tannat;

6 - Os produtos que passam por madeira envelhecem exclusivamente em barris de carvalho;

7 - Para chegar ao mercado, os vinhos brancos passam por um período mínimo de envelhecimento de 6 meses; no caso dos vinhos tintos são 12 meses; os espumantes finos passam por um período mínimo de 9 meses em contato com as leveduras, na fase de tomada de espuma;

8 - Os vinhos apresentam características analíticas e sensoriais específicas da região e somente são autorizados para comercialização os produtos que obtenham do Conselho Regulador da DO o atestado de conformidade em relação aos requisitos estabelecidos no Regulamento de Uso.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um lindo e brilhante vermelho rubi intenso, com entornos violáceos e lágrimas finas, lentas e em profusão.

No nariz entrega aromas de frutas vermelhas maduras, com destaque para amora, cereja e ameixa, me remetendo a um frescor, completados por notas amadeiradas, graças aos 12 meses de passagem por barricas de carvalho, baunilha, couro e diria um agradável floral.

Na boca é saboroso, intenso, de média estrutura, mas macio e muito elegante, com as notas frutadas protagonizando, como no aspecto olfativo e em plena sinergia com a madeira que também se revelam, com toque abaunilhado, terroso e de um apimentado que lembra pimenta preta, as especiarias se mostram. Tem taninos domados, redondos, uma bela acidez e um final prolongado e frutado.

Bordeaux na taça! Não! Brasil na taça! O corte, tradicional da icônica região francesa de Bordeaux, traz a tipicidade, mesmo em blends, do Brasil, traz o DNA de uma das mais importantes regiões brasileiras, a DO Vale dos Vinhedos. Entrega estrutura, complexidade, mas a elegância, a maciez, a sofisticação que esse corte pode proporcionar. Um vinho equilibrado, pronto para ser degustado, mas que poderia evoluir e bem na garrafa por mais alguns anos. Que venham mais e mais rótulos como esse e diferente desse também. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Dom Cândido:

A Vinícola Dom Cândido tem sua origem em 1875, quando Luigi e Leonor, avós de Cândido Valduga chegam em território brasileiro, vindos da região do Tirol Italiano, e se instalam em uma colônia na região hoje conhecida como o Vale dos Vinhedos. O Ano de fundação da Vinícola Dom Cândido foi em 1986.

Logo se inicia o plantio das primeiras videiras para elaboração dos vinhos para consumo da família. Porém, com o passar do tempo, a produção excedente passa a ser comercializada. E, desde a sua infância, Cândido Valduga convive com a rotina da vitivinicultura, acompanhando e auxiliando seus pais, Marco e Maria, nas tarefas no campo, o que acabou aflorando a sua paixão pela uva e vinho, nascendo, assim, uma história de amor que continua passando de geração para geração.

Ainda na juventude, Cândido conhece Lourdes e juntos constituem uma família que sempre se manteve unida em torno dos valores do trabalho, da união e do amor pelo vinho. Atualmente, os filhos estão à frente do negócio.

Localizada no coração do Vale dos Vinhedos, o complexo da Dom Cândido é um verdadeiro convite à vivência de experiências únicas, reunindo belezas naturais exuberantes, vinhos e espumantes de excelente qualidade, farta gastronomia e receptividade familiar.

A família Dom Cândido se orgulha de sua história de trabalho, dedicação e amor por esta terra, cultivando uvas nobres, em vinhedos próprios, que resultam na elaboração de quantidades limitadas de garrafas de vinhos e espumantes de sabores e aromas incomparáveis.

Pessoas envolvidas no trabalho, dedicação e amor por esta terra. Tradição e valores passados de geração em geração, fazendo com que o cultivo de uvas nobres, em vinhedos próprios, resulte na elaboração de quantidades limitadas de garrafas.

Mais informações acesse:

https://www.domcandido.com.br/

Referências:

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=SERRAGAUCHA

“Blog Sonoma”: https://blog.sonoma.com.br/o-sucesso-da-merlot-no-brasil/amp/

“Vinho IG”: https://vinho.ig.com.br/2010/08/17/merlot-brasileiro-e-melhor-do-mund.html

“Wikipedia”: https://pt.wikipedia.org/wiki/Vale_dos_Vinhedos#Denomina%C3%A7%C3%A3o_de_Origem_Vale_dos_Vinhedos

“Viajali”: https://www.viajali.com.br/vale-dos-vinhedos/

“Embrapa”: https://www.embrapa.br/indicacoes-geograficas-de-vinhos-do-brasil/ig-registrada/do-vale-dos-vinhedos