sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

Traversa Sauvignon Blanc 2020

 

Atualmente o cenário para os enófilos brasileiros é desanimador. Desanimador no que tange aos preços que sobem de uma forma abusiva e, em alguns momentos, de maneira injustificável. Ou melhor tem uma triste e desoladora justificativa: o custo Brasil é deveras alto e a carga tributária que incide sobre o mercado da bebida de Baco é devastador.

Políticas para alavancar o setor são mencionadas por políticos em épocas de campanha eleitoral, porém, quando se elegem não são efetivadas e nós, pobres mortais trabalhadores apreciadores no néctar, ainda sofre e muito com os valores. Como democratizar a cultura do vinho neste país com um cenário desses?

Mas não quero, a priori, entrar no mérito da discussão, embora urgente e necessária, foi apenas para ilustrar que o enófilo da “classe operariada” neste Brasil sofre e muito para querer degustar um vinho, para adentrar ao universo da poesia líquida, porém ainda há uma luz, um farol no fim do sombrio e temeroso túnel.

Com um pouco mais de dedicação e garimpo, ainda conseguimos encontrar alguns rótulos, de alguns produtores sinceros, de excelente custo X benefício e que, curiosamente, não tem a devida divulgação por parte de alguns formadores de opinião e especialistas em vinho! Vai entender!

E um desses exemplos clássicos e interessantes vem do Uruguai, mais precisamente da região de Montevidéu, da capital uruguaia. Falo da Família Traversa. Essa região não é necessariamente a mais famosa do Uruguai para a produção de vinhos, como Canelones, por exemplo, e a Família Traversa, desde a década de 1950 no mercado, também não goza de popularidade, mas seus vinhos são surpreendentes!

Lembro-me como se fora hoje do meu primeiro vinho da Família Traversa, um Traversa Reserva Tannat com Merlot, corte típico da região, da safra 2016. Que vinho espetacular, que vinho surpreendente e que, à época, custou menos de R$40! Quando vemos um valor desses logo desconfia, se tratando de alguns “aristocráticos” que encaram o vinho como status e etiqueta social.

Mas o vinho foi estupendo! E mais uma vez me ponho a degustar mais um rótulo da Traversa e dessa vez, para mim pelo menos, virá carregado de novidade! Sim! O meu primeiro Sauvignon Blanc uruguaio! Não preciso dizer da ansiedade, da animação para tê-lo em minha humilde taça!

E hoje foi dada a largada para esse momento! O momento pede, afinal, dias de sol, de calor, de verão, nada mais consensual do que um belo, fresco e marcante Sauvignon Blanc para “harmonizar” com esse clima.

Embora a Sauvignon Blanc seja uma casta recorrente em minha trajetória enófila, dentre as cepas brancas, bem como a Chardonnay, por exemplo, essa vem carregada de novidades, mas espero encontrar as já famosas características da casta que fizeram dela e fazem até hoje a sua fama.

Então sem mais delongas vamos às apresentações! O vinho que degustei e gostei veio de Montevidéu e se chama Traversa da casta Sauvignon Blanc da safra 2020! E para não perder o costume falemos um pouco dessa região vinícola que embora não tenha tanta fama, é uma das mais importantes do Uruguai: Montevidéu!

Montevidéu

Montevidéu começou seu processo de fundação em 1723. O Governador do Río de la Plata, Bruno Mauricio de Zabala, foi enviado pela coroa espanhola para fundar esta cidade portuária e expulsar aos portugueses, que tinham construído o Fuerte de Montevideu sobre a baia. Assim, as primeiras famílias que povoaram “San Felipe y Santiago de Montevideo” foram de origem espanhol, provenientes do grande centro colonial do Río de la Plata: Buenos Aires. Pela sua condição de principal porto do Rio da Prata e Montevidéu teve não teve bom relacionamento com a cidade vizinha.

Pedro Millán traçou o primeiro plano da cidade em 1726, ano em que começaram a chegar os colonos das Ilhas Canarias. A antiga Ciudadela de Montevidéu (edificada ao longo de uns quarenta anos) apresentava as características típicas das cidades colônias da época: Uma Praça de Armas no centro (Atual Praça Constitución, mais conhecida como Matriz) rodeada pela Igreja (atual Catedral) e o edifício do governo (Cabildo).

A pequena cidade estava rodeada de muralhas das que hoje só ficam o portal de entrada, a simbólica Puerta de la Ciudadela. Em 1807 se produziram as Invasões Inglesas, enfrentadas e vencidas pelos orientais. Este fato deu a Montevidéu o status de “Muy Fiel y Reconquistadora” e a converteu no bastião espanhol do Río de la Plata. Montevidéu se manteve fiel a Espanha durante as Revoluções de Maio de 1810 em Buenos Aires. Durante esse período, a coroa espanhola se instalou em Montevidéu, o que significou o um grande crescimento para a cidade.

O departamento de Montevidéu se estabeleceu em 1816, como a primeira divisão administrativa da Banda Oriental. Ao se declarar o novo Estado Independente em 1828, Montevidéu foi estabelecido como capital, e a partir da “Jura de la Constitución de 1830” começou a se projetar a “Nova Cidade” por fora dos limites da Ciudadela. Contudo, a atual Ciudad Vieja foi durante muitas décadas o centro econômico e cultural de Montevidéu. As grandes bandas migratórias da Europa (principalmente espanhóis, mas também italianos, alemães, franceses, húngaros, judeus e ingleses) deram ao Montevidéu de 1900 um ar cosmopolita.

A herança dos escravos africanos trazidos durante a época colonial aportou o caráter multicultural da cidade, que se percebe até hoje. Ao longo do século XX Montevidéu se expandiu sobre a baia para o leste, e também para o norte, com numerosos centros de população afastadas do centro. A emblemática Rambla de Montevidéu, principal cartão postal da cidade, foi construída em 1910. Outros monumentos significativos datam dos anos 20 e 30, como o Palácio Legislativo e o Estádio Centenário.

O Uruguai era originalmente povoado pelos índios Charruas, mas em 1680 os portugueses começaram a se assentar na região; os espanhóis chegaram logo em seguida. As primeiras uvas viníferas foram cultivadas em território uruguaio há mais de 250 anos. A produção de vinhos, entretanto, só começou a ser realizada comercialmente na segunda metade do século XIX. Em 1870, Dom Pascal Harriague introduziu ao Uruguai várias castas de uva em busca de uma que se adaptasse bem ao solo e clima da região.

A Tannat foi a que se saiu melhor na experiência e desde então, por causa do seu sucesso imediato e duradouro no país, ela dá vida ao autêntico vinho uruguaio. Na década de 1970, houve uma renovação na vitivinicultura do Uruguai; novas técnicas de plantio e cultivo, bem como a introdução de novas variedades de uvas, possibilitaram um desenvolvimento substancial à sua indústria de vinhos.

Aliado a tudo isso, a evolução dos vinhos uruguaios aconteceu por causa da paixão dos produtores e apreciadores de lá pela bebida. A maneira artesanal e a relação respeitosa que eles têm com as uvas que cultivam tornaram seus vinhos premiados e bastante reconhecidos no mercado internacional.

Fortemente influenciado pelo Rio da Prata e Oceânico Atlântico, o Uruguai tem as suas principais regiões produtoras de vinhos na costa sul – Maldonado, Canelones e Colônia. Situado entre os paralelos 30 e 35, a exemplo de Chile, Argentina, Austrália e África do Sul, o país tem a possibilidade de elaborar vinhos que possuem a energia do Novo Mundo e o refinamento do Velho Mundo.

É a terra do Tannat, sim, mas há muito mais por descobrir. O Uruguai é comparado com a região de Bordeaux, na França. Seu Rio da Prata é comumente equiparado ao estuário do Gironde. A maior região vitivinícola – Canelones – é dona de 60% da produção total. Fica bem no centro do país, ao sul, muito próxima da capital Montevidéu, que abriga 40% da população local com 3,4 milhões de moradores.

As demais regiões produtoras do sul do país ficam a menos de duas horas da capital – à oeste, Colônia (pela Rota 1) e, à leste, Maldonado (pela Rota 9). O Uruguai possui uma rota de vinho especial e aconchegante, coordenada pela Associação de Turismo Enológico do Uruguai, que reúne muitas bodegas familiares, com estrutura e história que fascinam seus visitantes. A rota, batizada de “Os caminhos do vinho” passa por regiões de Montevidéu, Canelones, Maldonado, Colônia e Rivera, cujas paisagens belas e exuberantes são atrativos que complementam sua ótima gastronomia e seus vinhos finos.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um amarelo claro, palha, translúcido com halos discretamente esverdeados, com muito brilho, além de algumas lágrimas finas e rápidas.

No nariz impera os aromas de frutas brancas, tropicais e cítricas com destaque para a maçã-verde, vindo em seguida o abacaxi, a lima, o maracujá. Uma agradável sensação de frescor entrega mineralidade e notas herbáceas, com um fundo floral.

Na boca é leve, fresco, mas untuoso, algo de cremoso, graças à parte do vinho que passou brevemente por barricas de carvalho. As notas frutadas protagonizam também no paladar como no aspecto olfativo e repete-se também o mineral trazendo sabor e personalidade ao vinho. Tem acidez evidente vibrante que instiga a mais uma taça, com um final persistente e frutado.

A Família Traversa e todos os seus rótulos que vão desde os básicos até o que se chamam de alta gama definitivamente são os melhores que apresentam a relação qualidade X preço do mercado de vinhos! E esta nova versão da linha Traversa que degusto hoje traz tudo o que esperamos da Sauvignon Blanc: frescor, personalidade, alguma untuosidade, leveza, um toque mineral agradabilíssimo. A Família Traversa entrega o lado “alternativo” da triste realidade dos valores impraticáveis dos vinhos no Brasil e nos possibilita trafegar, com dignidade, neste vasto e impecável universo dos vinhos. Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Família Traversa:

Esta empresa com as suas vastas vinhas e fábricas de processamento de vinho, conta com a presença constante da Família Traversa. Sessenta anos de muito trabalho e três gerações que sustentam a qualidade dos seus vinhos. Cada novo plantio e manutenção, processamento, embalagem e distribuição de vinho, marketing e atendimento ao cliente são sempre supervisionados por um membro da família. Assim eles são e ambicionam o conceito de qualidade e este é o resultado do trabalho da vinícola. A história desta família é o legado de bondade e esperança que está nas vinhas e há três gerações.

Em 1904, Carlos Domingo Traversa veio para o Uruguai com seus pais. Filho de imigrantes italianos, foi em sua juventude peão rural em fazendas de vinhedos, e em 1937 com sua esposa, Maria Josefa Salort, conseguiu comprar 5 hectares de terras em Montevidéu. Suas primeiras plantações de uvas de morango e moscatel foram em pequena escala. Em 1956 fundou a adega com os seus filhos, Dante, Luis e Armando, que hoje com os seus netos têm muito orgulho de continuar o seu sonho.

A atitude constante de crescimento contínuo, com dedicação e desenvolvimento levou e ainda leva a vinícola a ser um exemplo em todo o Uruguai. Em mais de 240 hectares próprios, além de vinhedos de produtores cujas safras são controladas diretamente pela empresa, obtendo assim uma grande harmonia com os vinhos e as próprias uvas. As variedades plantadas são: Tannat, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Merlot, Chardonnay e Sauvignon Blanc.

As uvas são processadas com maquinários e instalações da mais alta tecnologia. Inicia-se com um rígido controle de produção, colheita no momento ideal, plantio de leveduras selecionadas, controle de fermentação, aplicação a frio no processo de elaboração, clarificações e degustação dos vinhos para definir diferentes categorias de qualidade. Daí passa-se a armazenar em grandes recipientes de grande tecnologia, como inox, tanques térmicos, ou em barricas de carvalho americano e francês.

Mais informações acesse:

http://grupotraversa.com.uy/en/

Referências:

“Uruguai.org”: http://www.uruguai.org/a-historia-de-montevideu/

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/uruguai-natural_9771.html

 

 

 

 


 




sábado, 28 de janeiro de 2023

Estampa Gran Reserva 2016

 

Arte, inspiração, poesia líquida etc. Alguns adjetivos parecem personificar o vinho. Ambos se enlaçam em uma convergência, a necessidade de um complementar o outro para entender, sentir as suas nuances, evocar os seus terroirs. Assim costumo enxergar, perceber o vinho, mesmo que por um aspecto lúdico.

Algumas vinícolas costumam imprimir essa filosofia aos seus vinhos, que vai desde a vinificação até na concepção estética de seus rótulos, por exemplo. É claro que traz todo um aspecto mercadológico por detrás dessa concepção, afinal aliar um rótulo, uma linha de vinhos a esses quesitos pode ser viável comercialmente, mas não é só a estética e o conceito, mas também como método de vinificação.

Quando descobri uma vinícola de nome “Estampa” eu logo me lembrei, ou melhor, associei à tecidos. Sim! Roupas, tecido, a arte de costurar roupas, criar uma vestimenta a partir de fragmentos de tecidos.

E acredito que seja isso mesmo, pequenos fragmentos que formam um todo! E “viajando” um pouco mais em seu site, com o intuito de buscar respostas para o que percebi, no que tange às propostas dos vinhos, observei que todos os vinhos do produtor ou que pelo menos estavam expostos no site, são cortes, formados por blends.

Creio que aí está a resposta: pequenos tecidos, estampas que juntas formam um todo, tendo como alicerce o terroir, as características das regiões onde se encontram as vinhas. Embora traga algo meio “romantizado”, na prática é perfeitamente concebível levando em conta a metodologia imposta pela vinícola.

As variedades (castas) são vinificadas separadamente, são vindimadas em datas distintas, tudo conspira para esse fato, para esta observação. E cada detalhe como esses inspira, requer competência e sensibilidade do enólogo que precisa para que o vinho entrega tipicidade, entregue qualidade.

E com base nisso comprei um rótulo desse produtor que, além da inspiração, trouxe também o atrativo valor: na faixa dos R$58! E melhor: para um “Gran Reserva”! Decidi, claro, “assumir o risco” e comprar o rótulo.

Levei algum tempo para degusta-lo! Repousou calmamente na adega por pelo menos dois ou três anos! E hoje, no auge dos 7 anos, mostrou-se vivaz, pleno e altivo. O vinho que degustei e gostei veio da região chilena de Marchigue DO, no emblemático Vale do Colchágua, e se chama Estampa Gran Reserva com um corte das castas Carmènére (85%), Syrah (10%) e Cabernet Sauvignon (5%) da safra 2016.

Castas que ganharam destaque no Chile e que estão juntas oferecendo um arrebatamento sensorial, uma salutar experiência que só os chilenos podem proporcionar. Mas antes de entrar nos pormenores do vinho, nada mais relevante do que aflar um pouco do Vale do Colchágua.

Vale do Colchágua

O Vale do Colchágua está localizado à aproximadamente 180 km de Santiago no centro do país, exatamente entre a Cordilheira dos Andes e o Pacífico. É cortado pelas águas do rio Tinguiririca, suas principais cidades são San Fernando e Santa Cruz, e possui algumas regiões de grande valor histórico e turístico como Chimbarongo, Lolol ou Pichilemu. Colchágua significa na língua indígena “lugar de pequenas lagunas”.

Vale de Colchágua

A fertilidade de suas terras, a pouca ocorrência de chuva e constante variação de temperatura possibilita o cultivo de mais de 27 vinhas, que, com o manejo certo nos grandes vinhedos da região e padrões elevados no processo de produção, faz com que os vinhos produzidos no vale sejam conhecidos internacionalmente, com alto conceito de qualidade.

Clima estável e seco (que evita as pragas), no verão, muito sol e noites frias, solo alimentado pelo degelo dos Andes e pelos rios que desaguam no Pacífico, o Vale de Colchágua é de fato um paraíso para o cultivo de uvas tintas e produção de vinhos intensos.

Em Colchágua, predomina o clima temperado mediterrâneo, com temperaturas entre 12ºC como mínima e 28ºC, máxima no verão e 12ºC e 4ºC, no inverno. Com este clima estável é quase nenhuma variação de uma safra para a outra; e a ausência de chuva possibilita um amadurecimento total dos vários tipos de uvas cultivadas na região. Entre as principais variedades de uvas presentes no Vale de Colchágua estão as tintas Cabernet Sauvignon, Merlot, Carmenère, Syrah e Malbec, que representam grande parte da produção chilena.

O cultivo das variedades brancas, apesar de em plena ascensão, ainda se dá de forma bastante reduzida se comparada às tintas; as principais uvas brancas produzidas no vale são a Chardonnay e a Sauvignon Blanc. Ambas as variedades resultam vinhos premiados e cultuados por especialistas e amantes do vinho.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um intenso, quase negro, vermelho rubi, com contornos granada e uma linda profusão de lágrimas grossas e lentas que desenham as bordas do copo.

No nariz mostrou-se tímido no início, mas logo se revelou frutado, frutas negras maduras, como ameixa preta, amora e cereja em total sinergia com as perceptíveis notas amadeiradas, graças aos seus 14 meses em barricas de carvalho, com toques levemente tostados, de baunilha, com especiarias, com destaque para pimenta preta e um agradável herbáceo.

Na boca mostrou o destaque, entregando um vinho, aos sete anos de garrafa, muito elegante, com as notas frutadas em convergência com a madeira, replicando as impressões olfativas, mas ainda assim cheio, volumoso e saboroso. O carvalho traz também um delicioso chocolate meio amargo e torrefação. Os taninos estão macios e amáveis, com acidez discreta e uma persistência longa com retrogosto tentador que investe em mais e mais taças.

O conceito, a filosofia, o método, o terroir, o vinho. Quando costumamos falar da cultura de um povo que é expressada dentro de uma garrafa de vinho, é exatamente nesse preceito que a Vinícola Estampa se baseia para apresentar seus rótulos. Criação, inovação, inspiração enológica são nomes bem pertinentes para personificar o trabalho da Estampa em seus belos vinhos. A “versão” Gran Reserva, com a predominância da casta icônica do Chile, Carmènére, é bem preponderante para a qualidade dos rótulos. Tem 14% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Estampa:

Há mais de um século, Don Manuel González Dieguez, imigrante espanhol, comprou um moinho de trigo em Santiago, Chile, e nomeou-o, Estampa. O moinho de grãos original ainda está em operação, mas a última geração de descendentes de D. Manuel, a família González-Ortiz, iniciou uma nova expansão do negócio. Construíram a primeira vinícola no Chile, dedicada aos vinhos de “Assemblage” e a nomearam Estampa, mantendo a tradição familiar para honrar o avô, fundador da empresa.

A Viña Estampa foi fundada em 2001 pelo empresário e visionário Miguel González Ortiz, que descende de uma família que há cem anos dedica-se a indústria agroalimentar. Nascido no Chile, ele escolhe Palmilla, na Rota do Vinho do Vale do Colchagua para estabelecer esse magnífico projeto vitivinícola.

A arquitetura exuberante da sede já diz muito sobre a própria essência da empresa que tem como características a inovação, ousadia e o primor no que faz e produz nesse maravilhoso segmento do mundo dos vinhos. Tem capacidade de produção de 700 mil garrafas ao ano, possui uma sala de barrica com 700m2 e foram pioneiros na América Latina a utilizarem microvinificação com Ânforas.

Possuem cerca de 400 hectares divididos em três terroirs do Vale do Colchagua, Palmilha onde está a sua sede, e em Paredones e Marchigüe onde foi uma das pioneiras em plantação de vinhas com microclimas tão peculiares. Especializaram-se na produção de vinhos blends, e o que vemos é diversidade de inúmeras castas plantadas em cada vinhedo.

Mais informações acesse:

https://estampa.com/

Referências:

“Dayane Casal”: https://dayanecasal.com/vina-estampa-uma-expressao-do-espirito-de-inovacao-no-chile/

“Vinho Virtual”: https://www.vinhovirtual.com.br/vinicolas-1644-Estampa

“Clube dos Vinhos”: “Clube dos Vinhos” em: https://www.clubedosvinhos.com.br/um-passeio-pelo-vale-do-colchagua/


terça-feira, 24 de janeiro de 2023

Murviedro Colección Tempranillo 2015

 

Quando falamos em Tempranillo espanhol o que lembramos? O que associamos? Os vinhos de personalidade forte, vinhos de estrutura média a encorpada, com volume de boca, sobretudo representados por aqueles rótulos amadeirados que ostentam, em seus rótulos, o “reserva”, “gran reserva” etc.

É praticamente impensado um Tempranillo jovem, leve, que infelizmente é encarado, associado a vinhos inexpressivos, ruins, aqueles vinhos de volume que são imprestáveis para a degustação.

Acredito que, com esses panoramas, tais vinhos podem ser alvos fáceis de rejeição, haja vista que quem deseja degustar um legítimo Tempranillo espanhol, não vá querer arriscar com os famosos baratinhos, principalmente aqueles que gozam de uma vultosa conta bancária e que tem condições de ter os Tempranillos complexos e barricados.

Entendo, mas não concordo. Poderíamos e até deveríamos buscar fundamentações teóricas para explicar a discordância, mas prefiro explicar com fatos e experiências concretas, embora as experiências sejam bem particulares.

Já tive alguns contatos com alguns Tempranillos mais básicos da Espanha e boa parte deles, confesso, não corresponderam às minhas expectativas, não tive uma boa impressão, mas um, em especial, me trouxe uma satisfação, diria, arrebatadora. Pode parecer certo exagero de minha parte usar termos como “arrebatador” ou “surpreendente”, mas é a mais legítima verdade, pelo menos a minha verdade e o mínimo que posso fazer para comprovar é recomendar. Então lá vai!

O vinho que degustei e gostei veio da região de Valência e se chama Murviedro Coleccion da casta Tempranillo da safra 2015. E além das gratas surpresas, tinha sido um dos meus primeiros contatos, um dos meus primeiros rótulos da Bodegas Murviedro, um excelente produtor cuja experiência excepcional inaugural que tive foi com o Murviedro Coleccion Peti Verdot safra 2015. E antes de falar do vinho, falemos um pouco da história da região do vinho: Valência.

Valência


A produção de vinho no norte da região de Valencia – escrito València na língua local, e também conhecida pelos espanhóis como Levante ou Valenciano – é dominada por antigas áreas de plantações ao redor de Valencia, a terceira maior cidade da Espanha.

Situada no interior da província de Valencia, na zona mais interiorana de Vall d´Albaida, a 80 quilômetros do Mar Mediterrâneo, e com uma altitude média de 600 metros sobre o nível do mar. Esta região do interior do Levante Valenciano possui um clima continental muito especial. Com invernos frios e verões cálidos que se suavizam com o vento que atravessa todo o Vall d´Albaida desde o Mediterrâneo, refrescando todo o vale, e criando assim um microclima ótimo para a viticultura.

Valência é uma região que produz vinhos há milhares de anos, segundo arqueólogos. E que, desde 1957, é oficialmente reconhecida e regulada por um conselho constituído formalmente.

Apesar de Valência está na costa leste da Espanha, virada para o Mediterrâneo, poucos vinhedos estão próximos do mar. A maior parte dos vinhedos sofrem influências de clima continental, estando mais próximas do interior.

Na teoria, e segundo a legislação local, cultivadores de Valência podem escolher entre uma longa lista de variedades de uvas autorizadas. Na prática, a maioria prefere plantar as castas Merseguera, Malvasia, Tempranillo, Monastrell e Moscatel. Mas há produtores que produzem outras castas como Bobal, Forcallat, Mandó, as francesas Cabernet Sauvignon, Merlot, Syrah, Pinot Noir, entre as tintas e as brancas são Macabeo ou Viúra, Pedro Ximenez, Tortosina, Verdil, Sauvignon Blanc e Chardonnay. Os tintos oferecem jovialidade, são muito aromáticos e apresentam um equilíbrio de acidez, maciez e tanicidade, já os brancos oferecem vinhos perfumados, brilhantes e transparentes e os rosés frutados e agradáveis. Vale lembrar que, para a minha alegria, eu degustei um surpreendente e maravilhoso Petit Verdot da igualmente maravilhosa Murviedro, da região de Valência, onde fiz uma resenha que pode ser lida aqui.

São 4 as sub regiões valencianas ou sub regiões da denominação valenciana:

ü  Alto Turia: com solos arenosos e alta altitudes, entre 700 e 1.100 metros, onde destacam-se os brancos frescos, frutados e aromáticos, produzidos principalmente com as castas Merseguera e Macabeo;

ü  Valentino: a maior das sub regiões, na parte central de Valência, onde a diversidade de solos e climas reflete-se, também, em variedade de vinhos, tanto tintos como brancos;

ü  Moscatel de Valência: com baixas altitudes e clima quente e ensolarado, oferece um dos vinhos mais conhecidos da região, licoroso, sendo o mais representativo da história dessa denominação;

ü  Clariano: subzona do sul da província, na qual mais perto do mar destacam-se as variedades brancas e a tinta Tintoreira, e o interior é reconhecido pelas tintas Monastrell, Cabernet Sauvignon, Merlot e Tempranillo.

Atualmente são cerca de 50 milhões de garrafas de vinhos valencianos, produzidas a cada ano. Mais de 80 vinícolas e quase 12.000 viticultores estão envolvidos no processo de produção desses vinhos. Suas plantações ocupam 13.000 hectares de vinhedos. E os vinhos são exportados para mais de 100 países, incluindo, felizmente, o Brasil, graças ao porto da cidade. Um acordo formal permite que as bodegas de Valencia comprem vinho da região vizinha Utiel-Requena.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um vermelho rubi intenso, brilhante, mas com entornos violáceos e uma média quantidade de lágrimas finas e rápidas.

No nariz predomina o aroma de frutas vermelhas frescas, em compota, onde se destacam a framboesa, cereja, morango, além de um delicado toque floral com notas especiadas, algo talvez de pimenta, de ervas.

Na boca é seco, de estrutura leve para média, com a fruta vermelha reproduzida como no aspecto olfativo, com taninos leves, maduros, com uma ótima acidez, que faz do vinho vívido e fresco, com um final prolongado.

O Murviedro Colección Tempranillo pode ser “atípico” para aquele vinho estruturado, potente e que “adora” uma barrica de carvalho, sobretudo os oriundos da Espanha. Pode causar estranheza, rejeição logo de cara, mas nunca podemos negligenciar antes de tentar, afinal, comprar vinhos é aceitar certos riscos. Um vinho versátil e que harmoniza, por exemplo, com carnes vermelhas, massas e refeições simples ou apenas sozinho em uma conversa descontraída com bons amigos. Descontraído, informal é este vinho. Mesmo diante de sua simplicidade consegue ser especial no que se propõe, entregando mais do que esperava. Um belo vinho! Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a Bodega Murviedro:

A Bodegas Murviedro foi fundada em Valência em 1927, a princípio como filial espanhola do Grupo Swiss Schenk, que cresceu e se tornou uma das vinícolas mais importantes da região.

A Schenk España decide então, em 1931, concentrar as suas atividades na adega de Valência, o que, localizado junto ao porto, significou o início de um dos principais pilares da marca: a exportação.

Posteriormente, já em 2002, a empresa aproveita ao máximo as comemorações do 75º aniversário ao mudar seu nome para ‘Bodegas Murviedro’ em homenagem ao seu vinho Cavas Murviedro, uma das marcas de vinho mais emblemáticas da Comunidade Valenciana, o que fez de Murviedro uma das vinícolas mais renomadas.

A vinícola, desde que começou a sua atividade, sempre teve acesso a uma ampla variedade de castas indígenas e internacionais e produzem um amplo portfólio de estilos de vinho.

A filosofia da empresa baseia-se na combinação de modernas técnicas de vinificação com uvas de vinhas tradicionais para atender aos mais altos padrões internacionais de qualidade, mantendo seu caráter espanhol assim como a originalidade.

Mais informações acesse:

https://murviedro.es/

Referências:

“Cataimport”: https://cataimport.com/espanha/valencia/#

“Vinho Virtual”: https://vinhovirtual.com.br/regioes-123-Valencia

“Revista Sociedade de Mesa”: https://revista.sociedadedamesa.com.br/2016/08/valencia-espanha/

“Tintos & Tantos”: http://www.tintosetantos.com/index.php/denominando/755-valencia#:~:text=Uma%20regi%C3%A3o%20que%20produz%20vinhos,fato%2C%20est%C3%A3o%20pr%C3%B3ximos%20ao%20mar

Degustado em: 2018 










sábado, 21 de janeiro de 2023

Matiz Cabernet Sauvignon 2013

 

Sempre ouvi e li comentários de que os vinhos brasileiros não são dotados de longevidade, incapazes de proporcionar boa evolução em garrafas por anos e anos. Não sei se nutrimos, em outros aspectos da sociedade, o famoso “complexo de vira-latas”, que não permite que valorizemos os nossos produtos, ufanismos à parte.

Claro que não tenho absolutamente nada contra os vira-latas, os acho adoráveis e carinhosos, não tem motivo para associá-los a baixa autoestima, com o devido respeito a frase cunhada pelo grande Nelson Rodrigues. O que me preocupa verdadeiramente é de fato a baixa autoestima dos brasileiros e a capacidade apenas de valorizar o que não é nosso.

Evidente que a vitivinicultura brasileira, em comparação com as demais do Velho Mundo, por exemplo, ainda está engatinhando, é muito jovem e ainda tem um longo caminho a percorrer para chegar ao status de excelência, mas sim, temos vinhos para todos os gostos e exigências, inclusive os vinhos de guarda.

E nada melhor que constatar isso conhecendo novos produtores que vem despontando no cenário do vinho brasileiro e em regiões em igual condição, ou seja, novas regiões que estão sendo desbravadas por abnegados produtores e homens do vinho.

É o caso da Serra do Sudeste, no Rio Grande do Sul e a Vinícola Hermann! A “joia bruta”, como alguns especialistas chama a região, vem produzindo vinhos de tipicidade e de grande personalidade e também os longevos rótulos!

Os vinhos da Hermann, vinícola sediada em Santa Catarina, mas que cultivam seus vinhos na Serra do Sudeste, no Rio Grande do Sul, eu tive o prazer de conhecer em um evento que uma casa de vendas de vinhos em minha cidade, Niterói, estava promovendo, no ano de 2022 e que pode ser lido aqui os detalhes do evento.

Fui ao evento, confesso, sem muita expectativa, pois não conhecia a vinícola e também porque desde 2020 eu não participava de eventos de degustação em virtude do caos pandêmico a qual fomos acometidos nesses últimos dois anos. Então lá fui!

Degustei cerca de seis rótulos e gostei muito e comprei cerca de três rótulos distintos, inclusive um tinha nove anos quando o degustei, o Matiz Plural 2013, degustado em 2022, além do excelente Lírica Crua, um espumante natural com as leveduras que foi simplesmente arrebatador.

E degustei outro que decidi esperar o seu décimo ano de garrafa (um período “redondo”, sem mais) para degusta-lo e esse, também da linha “matiz”, deixou uma excelente impressão no referido evento e, dessa vez, eu teria uma garrafa todinha para mim.

Então sem mais delongas vamos às apresentações do vinho! O vinho que degustei e gostei veio da Serra do Sudeste, no Rio Grande do Sul, e de chama Matiz Cabernet Sauvignon da safra 2013. E para não perder o costume, vamos de histórias, vamos de Serra do Sudeste!

Serra do Sudeste

Nossa mais famosa região vinícola é, sem dúvida alguma, a Serra Gaúcha, da qual faz parte a primeira área de Indicação de Procedência brasileira, o Vale dos Vinhedos. De dentro para fora, sabemos que o Vale está chegando ao seu limite de plantio.

Como área de procedência certificada, as regras que controlam sua existência são rígidas e hoje sobram poucas terras de qualidade às vinícolas para que plantem suas uvas. Ele não deixa de ser, no entanto, o polo para onde convergem as atrações turísticas e as grandes instalações produtoras das vinícolas, incluindo suas adegas.

Os outros municípios que compõem a região da Serra Gaúcha vêm se desenvolvendo com constância como Garibaldi, Flores da Cunha e Farroupilha. Mas algumas novidades interessantes estão aparecendo em cidades a noroeste de Bento Gonçalves, como Guaporé, na linha Pinheiro Machado e Casca, na direção de Passo Fundo.

Mas tem uma região que, apesar de ter sido descoberta na década de 1970, pode-se considerar que se trata de uma região nova, pois somente a partir dos anos 2000, com investimentos feitos pelas vinícolas da Serra Gaúcha, que o potencial dela foi, de fato, explorado. Essa região é a Serra do Sudeste.

Ela forma uma espécie de ferradura virada para o mar, ligando os municípios de Encruzilhada do Sul e Pinheiro Machado, separados ao meio pelo rio Camaquã, que deságua na Lagoa dos Patos. Essa região faz divisa com outra importante área vinícola brasileira, a Campanha Gaúcha, dividida entre Campanha Meridional (que começa na cidade de Candiota) e Campanha Oriental, que segue a linha da fronteira com o Uruguai.


Serra do Sudeste

A Serra do Sudeste tem colinas suaves, que facilitam o plantio e a mecanização, tornando-a um terroir mais simples de trabalhar. Aliadas a isso, estão as condições climáticas mais favoráveis do que no Vale dos Vinhedos.

Essa região tem o menor índice de chuvas do Estado do Rio Grande do Sul, além de noites frias mesmo no verão, justamente a época da maturação das uvas. Essas condições naturais, além de um solo mais pobre e de origem granítica, ajudam a ter maior concentração de cor, estrutura e potencial de envelhecimento dos vinhos.

O Instituto de Pesquisa Agrícola do Rio Grande do Sul mapeou pela primeira vez esta área nos anos 1970, mas é no começo da década de 2000 que as primeiras vinícolas de certa importância começam a plantar vinhedos por aqui, entre os municípios de Encruzilhada do Sul, o principal, Pinheiro Machado e Candiota (mesmo próxima de Bagé Candiota é considerada pelo IBGE como pertencente à Serra do Sudeste e não à Campanha, embora haja controvérsias).

Em grande parte, se trata de uma região vitícola, geralmente as uvas aqui colhidas são conduzidas nas instalações das vinícolas na Serra Gaúcha e lá transformadas em vinho, esta região ainda não possui, e nem pleiteia em curto prazo, o reconhecimento a Denominação de Origem Controlada, quando, e se, isso ocorrer o vinho deverá ser produzido por aqui, já que este é um fator crucial na lei das denominações de origem.

As castas internacionais dominam a viticultura na Serra do Sudeste, tintas e brancas que na Serra Gaúcha podem representar um desafio pelo clima úmido, aqui prosperam com mais facilidade, o índice pluviométrico é alinhado com o estado do Rio Grande do Sul, chove um pouco menos que no Vale dos Vinhedos, mas o que mais importa é que as chuvas são mais bem distribuídas ao longo do ano, raramente coincidindo com o período da colheita das variedades tardias.

A característica dos vinhos daqui é o bom nível de aromas, a acidez pronunciada por conta da presença do calcário e o perfil gastronômico, boa acidez, taninos enxutos nos tintos e presença mineral nos brancos. Uvas mais cultivadas na região são: Malbec, Cabernet Franc, Merlot, Gewurztraminer, Sauvignon Blanc e Malvasia.

Se é verdade que a Serra do Sudeste não possui o panorama encantador da Serra Gaúcha, é também verdade que seus vinhos representam um patrimônio da vitivinicultura brasileira que merece ser descoberto, e sem demora.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um vermelho rubi intenso, mas com reflexos violáceos bem brilhantes, o que surpreende em se tratar de um vinho de 10 anos de garrafa, ou seja, sem nenhum traço de evolução sob o aspecto visual.

No nariz traz um incrível e agradável frescor capitaneado pelas notas frutadas, de frutas vermelhas e pretas maduras, com destaque para framboesas, amoras, cerejas com a presença do carvalho, pelos longos 24 meses em barricas, em uma bela sinergia, muito bem integrado ao vinho, além de toques herbáceos, de especiarias, como pimenta preta e pimentão, típico da casta, couro e algo de mineral e floral.

Na boca é saboroso, envolvente, com boa presença e volume, bem untuoso, algo bem convidativo e instigante, diria, mas macio, elegante, conquistados por uma década de garrafa. Essa complexidade e personalidade marcante são garantidas também pela madeira, que, de forma discreta, se revela, com arrojados toques de baunilha e leve toque de torrefação e tosta. Tem taninos redondos, amáveis, com excelente acidez com final frutado.

O projeto da Hermann trouxe um dos caras mais importantes atualmente da enologia lusitana, o Anselmo Mendes, considerado como o “pai da Alvarinho”, que trouxe um pouco da identidade do seu país para agregar ao terroir da Serra do Sudeste. É evidente que essa parceria traz peso e qualidade aos rótulos e que pude comprovar em degustar esse maravilhoso rótulo que aos dez anos mostrou-se vivo, pleno e com aptidão para evoluir por mais alguns anos em garrafa. Sim os vinhos brasileiros têm potencial de guarda, têm complexidade, têm relevância e têm a cara do vinho brasileiro, sem cópias e comparações com o Velho Mundo. O Matiz Cabernet Sauvignon representa a elegância, a complexidade, o arrojo que todo vinho com a sua proposta pode entregar. Tanto que comprei outro rótulo que decidi deixar por pelo menos mais cinco anos na adega. Como o encontrarei? Isso já é outra história. Tem 13,4%¨de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Hermann:

A família Hermann trouxe todo o seu know-how de profundos conhecedores de diversas regiões vinícolas do mundo para a esfera da produção de vinhos, apostando no potencial dos melhores terroirs da região sul do Brasil.

Proprietários de uma das maiores importadoras de vinhos de alta qualidade do país, a Decanter, compraram em 2009 um vinhedo de grande vocação em Pinheiro Machado, na Serra do Sudeste no Rio Grande do Sul, plantado com mudas de alta qualidade por um dos viveiros líderes de Portugal.

A assessoria enológica de um dos mais brilhantes enólogos de Portugal, o renomado “rei do Alvarinho” Anselmo Mendes - “Enólogo do Ano” pela Revista de Vinhos de Portugal em 1997 - ao lado do talentoso enólogo Átila Zavarizze, garante a excelência na transformação das uvas promissoras em grandes vinhos brasileiros, com caráter e tipicidade.

Mais informações acesse:

http://www.vinicolahermann.com.br/

Referências:

“Marco Ferrari Sommelier”: https://www.marcoferrarisommelier.com.br/blog.php?BlogId=33

“Cave BR”: https://www.cavebr.com.br/serra-do-sudeste-1

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/a-nova-fronteira-sul_8619.html

“intelivino”: https://intelivino.com.br/serra-do-sudeste







sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

San Antolin Reserva 2012

 

Já li e ouvi muitas discussões, questionamentos e problemáticas com relação a qualidade dos vinhos que ostentam, em seus rótulos, as nomenclaturas “Reserva” e “Gran Reserva”.

E os questionamentos e discussões pairam em torno de uma questão de suma importância para nós enófilos, mas que, para os “aristocratas do vinho” pode se tornar um fato de segregação, que são os valores dos vinhos, sobretudo aqueles valores baixos.

Gera-se uma discussão acerca dos valores baixos dos vinhos reservas e gran reservas, principalmente os espanhóis, e sumariamente os rejeita com um argumento que, penso, ser pouco contundente, de que não se pode degustar tais vinhos com valores abaixo de R$50.

Eu confesso que fomentar essa “polêmica” é totalmente desnecessário, haja vista que qualidade não se mensura, penso eu, pelo preço do vinho, até porque o que precisamos levar em consideração é a proposta do vinho, o que ele pode te entregar e principalmente o que você espera de um vinho para o momento em que você deseja degustar um rótulo.

Me parece se tratar de um argumento totalmente segregador, de que vinho bom é vinho caro, buscando nesse conceito ou pré-conceito, no vinho como artigo de etiqueta social, excluindo aqueles da base da pirâmide social desse nicho seletíssimo do vinho.

Mas não, não podemos pensar dessa maneira! Vinho é para todos e para todos também tem de ser as diversas propostas, é o que o vinho nos proporciona: propostas para as mais diversas situações e momentos. Não há um vinho pior que outro.

Então pensando nisso decidi desbravar algumas regiões da já mencionada por aqui, a Espanha. Sair um pouco ou simplesmente mudar o foco de regiões tradicionais, emblemáticas e famosas como Rioja e Ribera del Duero, por exemplo.

E há cerca de um ano atrás, aproximadamente, descobri um rótulo em um famoso e-commerce de vinhos aqui no Brasil por um valor espetacularmente baixo (R$39,90) de uma região chamada Navarra, um Gran Reserva. Sim! Um Gran Reserva! Como degustar e comprar um Gran Reserva a esse valor? Mesmo baixo decidi ousar e comprar.

Eu o comprei dois anos antes, 2019 e decidi degusta-lo em 2021, pois a safra era de 2011. Optei por desarrolhá-lo aos 10 anos de vida. Era o Gran Villa Gran Reserva 2011. E a experiência foi arrebatadora, especial! Decidi investir em novos rótulos dessa região. 

Mas revisitando os meus “arquivos de degustação” encontrei um que havia esquecido e que achei da forma mais despretensiosa do mundo em um supermercado, praticamente jogado, esquecido e empoeirado no rodapé das gôndolas: um branco da famosa casta Viúra ou Macabeo chamado El Lagar de la Aldea 2017, há um valor, pasmem, de R$19,90! E que vinho delicioso!

E em minhas incursões pela grande rede, pela internet, encontrei outro de Navarra que, por uma grata coincidência, é do mesmo produtor do Gran Villa Gran Reserva, desta vez um Reserva, da Bodegas Bornos.

Então sem mais delongas vamos às apresentações! O vinho que degustei e gostei veio de Navarra, um espanhol chamado San Antolin Reserva composto pelas castas Cabernet Sauvignon (60%), Graciano (35%) e Garnacha (5%) da safra 2012.

Ah e mais um com mais de dez anos de garrafa, 11 anos para ser mais preciso! Essa aventura dos vinhos velhos, sobretudo os espanhóis, tem me levado a experiências sensoriais incríveis e esse, para não perder o costume, surpreendeu positivamente! E para não perder o costume também falemos dessa bela região que, a cada dia, venho me aventurando: Navarra!

DO (Denominação de Origem) Navarra

A região de Navarra (DO Navarra) fica ao norte da região de Rioja, entre a parte baixa dos Pirenéus, até o rio Ebro, apresentando cerca de 11.500 hectares ocupados por vinhedos, graças ao seu solo extremamente fértil e propício para o cultivo de inúmeras castas.

A viticultura começou já no século II a. C quando os romanos criaram as primeiras adegas. Por muitos anos, o vinho foi produzido pelos monges dos inúmeros monastérios desta antiga área vitivinícola.

Na idade Média, Navarra era um reino poderoso, aliado à França, o que ajudou o desenvolvimento da viticultura. O fato que fica no Caminho de Santiago aumentou a demanda, os vinhos de Navarra sendo recomendados aos romeiros.

Navarra

As videiras foram devastadas pela praga filoxera em 1892, eliminando quase 98% das vinhas na época. No início do século XX, foram replantadas vinhas com raízes do Novo Mundo. Produtores formaram cooperativas e produziram vinho em grande quantidade, exportado a granel. Somente nos anos 1980, vinícolas privadas começaram a fazer vinhos de qualidade. A Denominación de Origen, originalmente aprovada em 1933, foi modificada para refletir a transição de vinhos de massa para vinhos de qualidade.

A região produz cerca de 89 milhões de litros de vinho por ano, dos quais 30% são exportados. Apesar dos vinhos brancos da região fazerem bastante sucesso e agradarem aos exigentes paladares da crítica especializada, é a produção de vinhos tintos que se destaca em Navarra. Em decorrência disso, 70% da produção da área espanhola é constituída de vinhos tintos, sendo os outros 25%, destinados a produção de vinhos brancos e rosés.

Diversas variedades de uva são cultivadas na região, como as da casta Moscatel, Chardonnay, Mazuelo, Graciano, Merlot, Cabernet Sauvignon e Viura. Entretanto, as uvas de maior sucesso da região de Navarra são a Garnacha e a Tempranillo. Por muitos anos, a Garnacha foi de longe a variedade de uva mais plantada nas vinhas, intercaladas com as fazendas de frutas e vegetais pelas quais Navarra é tão famosa. Até pouco tempo atrás, as vinhas velhas de Garnacha, dominavam o território.

Tempranillo ultrapassou Garnacha como a variedade mais plantada, com Cabernet Sauvignon chegando em terceiro lugar. Os resultados são muito respeitáveis, se muito raramente são excepcionais. As bodegas de Navarra foram capazes de investir em carvalho francês para suas uvas francesas.

Consideravelmente auxiliados por um programa de pesquisa do governo local, eles fizeram uma avaliação cuidadosa de variedades de uvas: Cabernet Sauvignon, Merlot, Chardonnay e, especialmente, Tempranillo - que agora produz alguns vinhos finos e concentrados, tipicamente envelhecidos em carvalho americano.

Navarra tem clima continental, com verão seco e quente, e invernos bem frios. Tem uma influência marítima vendo do mar Atlântico, moderando as temperaturas durante a maduração das uvas, e a noite, as temperaturas caiem no fim de agosto. A grande diversidade dos vinhos de Navarra reflita a influência da confluência dos climas das 2 principais zonas de produção da região, situação excepcional na península ibérica: atlântico na Tierra Estella e na Baja Montaña; mediterrâneo na Ribera Alta e na Ribeja Baja.

Na década de 1980 a região começou a passar por grandes mudanças, com a renovação de mentalidade trazida por produtores jovens e inquietos, que culminou com a redescoberta e valorização das castas mais tradicionais e de seus vinhedos de vinhas velhas. Como os preços médios ainda permanecem mais baixos que os da Rioja, os vinhos de Navarra tornaram-se opções muito interessantes.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um lindo e instigante vermelho rubi intenso, escuro com halos evoluídos, de cor atijolada denotando seus 11 anos. Tem lágrimas em profusão, grossas, lentas e que mancham o bojo.

No nariz traz um bouquet exalando frutas pretas maduras, onde se destacam amoras e cereja preta, com notas amadeiradas, graças aos seus 24 meses em barricas de carvalho francês, bem integradas ao conjunto do vinho, além de baunilha, couro, tabaco, estrebaria, chocolate e baunilha, conferindo-lhe complexidade.

Na boca é seco, de estrutura mediana, cheio, untuoso e alcoólico, mas com muita elegância graças aos seus 11 anos de garrafa. Replicam-se as percepções amadeiradas, trazendo a torrefação, tosta e algo de caramelo e mentolado e frutadas como no aspecto olfativo, com taninos persistentes, porém redondos e marcantes, com baixa acidez e um final de média persistência e retrogosto frutado.

Um misto de sentimentos me tomou de assalto quando degustei o San Antolin Reserva: o prazer de degustar um vinho com 11 anos de vida, o que, convenhamos não é cotidiano, e pelo fato de carregar, de ostentar o título de “Reserva”, um reserva espanhol que traz todo o rigor da famosa “Lei 24/2003, de 10 de julho, sobre vinha e vinho”. 

Sobre a Bodega Señorio de Sarría:

Embora a adega tenha sido fundada em 1953, muitos séculos de história contemplam estas terras como zona de cultivo de vinha. Diz a história que o Senhor de Sarría desde a Idade Média, por intermédio de crônicas da época, acompanhou o rei Sancho El Fuerte na batalha de Las Navas de Tolosa em 1212.

Séculos depois, no século XVI, a história do Señorío e Navarra se confunde ainda mais, já que o então senhor de Sarría (Juan de Azpilicueta), irmão de San Francisco Javier (atual patrono de Navarra), pagou seus estudos em Paris, com os rendimentos obtidos na pecuária e exploração agrícola desta fazenda. O manuscrito no qual San Francisco Javier agradece a seu irmão por esta ajuda ainda é preservado hoje.

E foi muitos anos depois, em 1953, quando o renomado empresário navarro Don Félix Huarte comprou o Señorío, realizou as novas plantações de vinhedos e construiu a vinícola, passando a produzir e comercializar vinhos com a marca Señorío de Sarría.

Posteriormente, em 1981, a adega separou-se da família Huarte e iniciou uma nova etapa, que teve um importante renascimento em 2001, dando início a um novo e ambicioso projeto de renovação de instalações e vinhas, de forma a estar na vanguarda do panorama nacional e internacional mercado.

Situado em Puente La Reina, no coração do Caminho de Santiago, o Señorío de Sarría está localizado em uma área que oferece condições de clima e solo imbatíveis, o que permite a produção de uma gama de vinhos da mais alta qualidade.

100 hectares de vinhas de múltiplas variedades estão espalhados pelas encostas e espreguiçadeiras de Puente La Reina, Olite e Corella. Cada planta, cada vinha, cada parcela, recebe um cuidado primoroso e um acompanhamento particular para produzir vinhos magníficos desde a sua origem. Cada casta foi cuidadosamente selecionada e cultivada no local mais adequado, tendo em conta as condições de luz, humidade e temperatura exigidas em cada caso.

Mais informações acesse:

https://www.bodegadesarria.com/

http://www.bornosbodegas.com/

Referências:

“Premium Wines”: https://www.premiumwines.com.br/_regiao_olha.php?reg=72

“Vindame”: https://www.vindame.com.br/navarra

“Bella Cave”: https://www.bellecave.com.br/vinhos-de-navarra-na-espanha

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/regiao/navarra




sábado, 14 de janeiro de 2023

Vitis Barbera 2018

 

Estamos, creio, testemunhando uma volta ao passado na vitivinicultura do Brasil ou a recuperação de um passado, não sei dizer exatamente. Estamos presenciando um “boom” de castas autóctones italianas em nossos terroirs.

Cepas como Sangiovese, Teroldego, Barbera e por aí o vai são alguns dos exemplos de algumas clássicas uvas, tendo outras, não muito conhecidas, despontando em nossas terras, sobretudo no sul do Brasil, mais precisamente em Santa Catarina.

Alguns produtores por lá cultivam apenas castas oriundas da Itália! E o que estou tentando dizer com uma volta ao passado? Nos primórdios de nossa jovem vitivinicultura, foram os italianos, os imigrantes, que desbravaram as nossas selvagens, intocáveis terras e cultivaram algumas cepas americanas, haja vista que o clima não “harmonizou” com as castas vitis viníferas que os italianos trouxeram consigo.

Hoje com toda a tecnologia e a expertise dos seus descendentes, com uma retaguarda de capital de algumas verdadeiras indústrias do vinho, estão revistando o passado de seus desbravadores cultivando castas do país da bota.

A Itália e suas castas estão sendo revisitadas em terras brasilianas trazendo o passado para o presente, mas enaltecendo a tipicidade do local, das terras brasileiras. E não se enganem que seja apenas no sul do Brasil, no Rio Grande do Sul ou em Santa Catarina, mas há informações de que no Centro Oeste brasileiro algumas vinícolas estão produzindo a Barbera! Sensacional!

E por falar em Barbera a minha degustação de hoje trará uma vinícola de peso, de tradição que tem, em seu portfólio, um clássico feito de outro clássico piemontês, a Barbera.

Uma junção de clássicos que entrega uma casta tradicional, com um rótulo tipicamente da Serra Gaúcha, talvez a mais emblemática e icônica região produtora de vinhos, não só do Brasil, mas da América Latina.

Então sem mais delongas vamos às apresentações! O vinho que degustei e gostei veio do Vale Trentino, entre Caxias do Sul e Farroupilha, na Serra Gaúcha, um brasileiro chamado Vitis da clássica italiana Barbera da safra 2018.

Um pouco sobre a linha “vitis”: os varietais dessa linha de rótulos, a Barbera e também a Marselan, fazem parte de uma categoria de uvas raras no Brasil e representam os resultados surpreendentes que o terroir do Vale Trentino oferece para estas castas europeias sem passagem por barrica. A linha foi lançada após mais de 10 anos do plantio das videiras, momento no qual se percebeu que as mesmas haviam revelado sua tipicidade na região.

Serra Gaúcha

Situada a nordeste do Rio Grande do Sul, a região da Serra Gaúcha é a grande estrela da vitivinicultura brasileira, destacando-se pelo volume e pela qualidade dos vinhos que produz. Para qualquer enófilo indo ao Rio Grande do Sul, é obrigatório visitar a Serra Gaúcha, especialmente Bento Gonçalves.

Serra Gaúcha

A região da Serra Gaúcha está situada em latitude próxima das condições geoclimáticas ideais para o melhor desenvolvimento de vinhedos, mas as chuvas costumam ser excessivas exatamente na época que antecede a colheita, período crucial à maturação das uvas. Quando as chuvas são reduzidas, surgem ótimas safras, como nos anos 1999, 2002, 2004, 2005 e 2006.

A partir de 2007, com o aquecimento global, o clima da Serra Gaúcha se transformou, surgindo verões mais quentes e secos, com resultados ótimos para a vinicultura, mas terríveis para a agricultura.

Desde 2005 o nível de qualidade dos vinhos tintos vem subindo continuamente, graças a esta mudança e também do salto de tecnologia de vinhedos implantado a partir do ano 2000.

Vale Trentino, Distrito de Forqueta

Localizada a 15Km da área central da cidade de Caxias do Sul, a Região Administrativa de Forqueta tem como característica principal a produção de vinhos e uvas, que responde por cerca de 90% da sua economia rural. Conta a história de que o nome surgiu devido a abertura de uma casa de comércio no entroncamento da Estrada Geral com a estrada que levava aos Santos Anjos. O entroncamento tinha a forma de um garfo, uma “forchetta” em italiano, derivando aí o nome de Forqueta.

Distrito de Forqueta (Destaque)

Vale Trentino é o nome do roteiro que faz parte dessa região, um percurso que reúne atrativos em Caxias do Sul e Farroupilha. Tem duas características fortes: o cultivo da uva, com lindos vales e parreirais, o que garante um belo passeio para contemplar as lindas paisagens. No centro está o museu da Uva e do Vinho Plínio Slomp.

Outra característica é a religiosidade dentre as 15 capelas em diferentes localidades do interior, uma é em devoção a Nossa Senhora da Salete, a padroeira dos agricultores e de São Roque, em Farroupilha, que data de 1898 e é uma das mais antigas.

Forqueta ainda tem a Festa do Vinho Novo, realizada a cada dois anos nos três primeiros finais de semana de julho. O evento conta com exposições, shows, desfiles temáticos e culinária típica.

Barbera, o “vinho do povo”.

Uma das maiores uvas italianas, ficando atrás apenas da Sangiovese, a uva Barbera, conhecida anteriormente por produzir vinhos de menor qualidade, hoje é responsável por vinhos nobres e notáveis. Esta casta passou, pelos últimos anos, uma verdadeira história de superação. Trata-se da uva que é responsável pelo vinho que os piemonteses consomem no dia a dia, daí o nome que foi concedido pelas pessoas da região: “o vinho do povo”.

Acredita-se que a uva Barbera tem origem nas montanhas de Monferrato, na região central de Piemonte, na Itália. Alguns documentos, datados entre 1246 e 1277, encontrados na Catedral da Casale Monferrato, detalham acordos relacionados a vinhedos plantados com “de bonis vitibus barbexinis”, a uva Barbera.

Contudo, um ampelógrafo chamado Pierre Viala especula que ela se originou em Oltrepò Pavese, na região da Lombardia. Nos séculos 19 e 20, ondas de imigrantes italianos trouxeram esta cepa para a Califórnia, Argentina e outros lugares nas Américas. Em 1985, um evento trágico relacionado à uva Barbera envolveu produtores adicionando ilegalmente metanol aos vinhos.

Esta ação causou declínio no plantio e vendas da uva. Isto levou a Montepulciano tomar o posto da uva Barbera no meio da década de 90. Anteriormente considerada uva de vinhos inferiores, até o escândalo de Relações Públicas nas décadas de 80 e 90, a uva Barbera tomou um rumo de superação muito interessante.

Frutado, ele tem gosto de cerejas, morangos e framboesas. Quando jovem, o vinho Barbera pode ter aroma de mirtilos também. Com pouco tanino e alta acidez natural, a uva Barbera é uma boa pedida para harmonizar vinhos com alimentos ricos e reconfortantes, como queijos, carnes e cogumelos.

Além de Piemonte, a uva Barbera é cultivada em outras regiões da Itália, como Campania, Emilia-Romagna, Puglia, Sardenha e Sicília, somando 52.600 acres de plantação. Fora do país, a Argentina, a Austrália, os Estados Unidos e até mesmo o Brasil são outros produtores conhecidos de vinhos de qualidade com a Barbera. Em regiões quentes, como a Califórnia, nos EUA, destacam-se toques de ameixa, além do sabor frutado de cereja.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela uma cor vermelho rubi intensa, brilhante e com reflexos violáceos, com lágrimas finas e em profusão, mas rápidas.

No nariz traz o protagonismo das frutas vermelhas, remetendo a cerejas, amoras, framboesa e morango, além de delicadas expressões de especiarias.

Na boca é seco de textura leve, mas de marcante personalidade por ser untuoso, com o destaque para a fruta replicando as impressões olfativas. Tem taninos sedosos, amáveis, macios, com acidez evidente, mas equilibrada e um final de média persistência e retrogosto frutado.

Terroir, história, experiências sensoriais... Tudo parece convergir para o prazer, para a celebração de se degustar um vinho, de se ter à mesa um vinho para, primordialmente, proporcionar a alegria, o momento único de se ter em nossa humilde taça um vinho desse naipe. O passado é o presente, que inspira o futuro. Ah sim o Brasil vem ganhando expertise para o cultivo de uvas autóctones italianas e se tornará, a médio e/ou longo prazo um dos grandes produtores nesse quesito no mundo, até porque, tendo como primeira referência, o Vitis Barbera, não há como negar, mesmo que com uma dose generosa de euforia, esse momento para a história da vitivinicultura do Brasil. Que venham muitos, que o passado, o presente e o futuro se entrelacem. Tem 14% de teor alcoólico.

Sobre a Casa Perini:

Em 1876 chegava da Itália a família Perini com Giuseppe e Antônio Perini, mas somente em 1929 começaram a elaborar seus primeiros vinhos de forma artesanal no porão de sua casa, quando os fornecia para cerimônias festivas da comunidade local, no Vale Trentino, em Farroupilha.

Quatro décadas após o patriarca iniciar sua modesta produção, seu filho viria a promover mudanças maiores. Em outubro de 1970 resolve ampliar os negócios da família, fundando a Casa Perini.

Motivado e apaixonado por transformar a uva em vinho, buscam a cada ano aperfeiçoar a vinícola com equipamentos, tecnologia e equipe qualificada, pois sem uma equipe profissional a arte de elaborar vinhos perde criatividade e talento. Em 2005 a Família Perini adquire a unidade Bacardi Martini em Garibaldi agregando tecnologia ao seu processo produtivo através dos tanques “Vinimatics”, utilizados na maceração e fermentação dos vinhos tintos.

Em 2010 a vinícola foi pioneira no setor ao implantar o sistema de rastreabilidade no qual é possível, através do número do lote, rastrear todo o caminho do vinho desde o vinhedo até a garrafa. O reconhecimento vem a cada prêmio alcançado e a cada consumidor satisfeito, o que se comprova com a conquista de mais de 200 medalhas nacionais e internacionais e, principalmente, com a recente premiação do Casa Perini Moscatel, eleito o 5° melhor vinho do mundo de 2017 pela WAWWJ (World Association of Writers & Journalists of Wines & Spirits).

Mais informações acesse:

https://www.casaperini.com.br/home

Referências:

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/piemonte-grandiosa-regiao-italiana_8360.html

“Vem da Uva”: https://www.vemdauva.com.br/vinho-barbera-conheca-suas-caracteristicas/

“Enologuia”: https://enologuia.com.br/uvas/256-uva-barbera-conheca-o-vinho-do-povo

“Blog Art des Caves”: https://blog.artdescaves.com.br/uva-barbera-mais-plantadas-na-italia

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=SERRAGAUCHA

“Guia de Caxias do Sul”: https://www.guiadecaxiasdosul.com/turismo/rural/categoria/regiao-de-forqueta-roteiro-vale-trentino

“Destinos do Sul”: https://destinosdosul.com/2021/02/24/uvas-e-muita-historia-no-vale-trentino-em-caxias-do-sul/