quarta-feira, 29 de abril de 2020

Vinificação em ovos de concreto

Tanques de concreto de formato oval estão sendo usados na elaboração de vinhos


Antigamente, pensar em uma vinícola trazia automaticamente à nossa mente a imagem de uma sala repleta de barricas e tonéis de madeira, nas quais os vinhos eram feitos e envelhecidos. Hoje, muitos já sabem que, no processo de elaboração da maioria dos vinhos, ele, em algum momento, vai passar por um recipiente que seja de aço inoxidável, concreto e/ou madeira – e aquela primeira imagem já não é tão “automática” assim.

Entretanto, o que nem todos sabem é que, nos últimos anos, um número maior de enólogos tem dado muita importância à forma do recipiente e vinificado alguns de seus rótulos em tanques de cimento em formato de ovos, por exemplo.

Antes de qualquer coisa, há relatos do uso do concreto com sucesso no processo de vinificação desde o século XIX. A “novidade”, contudo, é o formato ovalado do recipiente – inspirado nas ânforas que etruscos, gregos, persas e romanos já usavam para fermentar e envelhecer seus vinhos.

Mas, afinal, o que são esses ovos e de que forma influenciam no vinho que bebemos?

Proporção áurea

O primeiro ovo de concreto foi fabricado na França, em 2001, por Marc Nomblot – cuja expertise em construir tanques de concreto era vasta, já que sua empresa atuava no ramo desde 1922 – a pedido do renomado enólogo Michel Chapoutier. De acordo com Nomblot, não foram usados quaisquer aditivos químicos, apenas “areia lavada do Loire, cascalhos e água mineral não clorada e cimento”.

O projeto teve como base os princípios da “razão áurea” estudada pelo matemático Euclides, representada pela letra grega phi (φ) – em homenagem ao escultor grego Phidias – e ligada à mais agradável proporção entre dois segmentos ou duas medidas. Esse fato é bastante interessante, já que a proporção áurea também foi utilizada na construção das pirâmides do Egito e de alguns prédios da Grécia Antiga, como o Parthenon. Essa “regra” influenciou artistas de todas as gerações. Leonardo Da Vinci e outros renascentistas, além de Le Courbusier e Salvador Dalí, por exemplo, que calcularam as proporções de alguns de seus trabalhos levando isso em conta.

Movimento constante



O principal fator do formato oval, sem cantos ou bordas, é permitir a constante movimentação do vinho dentro do recipiente, sem necessidade do uso de bombas ou eletricidade, sem contato com oxigênio e sem bâtonnage, remontagem ou outras interferências. A composição do líquido é mais uniforme, especialmente no tocante à temperatura.

Gilles Lapaulus, da Sutton Grange Winery, foi o primeiro a importar ovos de concreto para a Austrália, em 2005, e afirma que “a cinética de fermentação parece mais regular, sem picos de alta e baixa velocidades, e, além disso, é menos redutiva do que a fermentação em tanques de aço inoxidável”.

Acredita-se que a fermentação em ovos de cimento seja mais regular

Ademais, dentro do ovo, as leveduras ficam em constante movimento ascendente ao redor de um vórtice que se forma devido a uma corrente interna, fazendo com que os taninos se tornem mais polidos e sejam suavizados pelas porosas paredes de concreto do ovo, que permitem a micro-oxigenação do vinho, sem a necessidade de usar a madeira e também sem interferência nos aromas e sabores da bebida. Tudo isso realça o caráter das uvas, aumenta a cremosidade de vinho e destaca as características de seu terroir.

Vale ressaltar que o cuidado com a qualidade das uvas e com seu ponto de maturação é muito importante na vinificação em ovos de concreto – particularmente nos tintos, quando pode acabar ocorrendo uma redução acentuada. Em suma, quando bem trabalhado, o resultado é um vinho de aromas mais pronunciados e identificáveis por apresentar uma fruta mais evidente, realçando sua estrutura de boca e, de alguma forma, mais fiel ao lugar de onde vêm as suas uvas.

Os ovos de concreto exigem alguns cuidados, todavia. Como não têm qualquer tratamento interno, devem receber aplicações de soluções à base de ácido tartárico. Segundo fabricantes e enólogos, o ideal é que a aplicação da substância seja feita em duas etapas: a primeira dois dias antes e, a segunda, na véspera de cada uso. Também deve ser inspecionado regularmente para checar eventuais rachaduras, além de terem que ser lavados com água morna após cada ciclo.

Pioneiros



Os ovos de concreto de Nomblot chegaram à América do Sul, em 2009, pelas mãos de Álvaro Espinoza, pioneiro enólogo chileno, simpático aos preceitos biodinâmicos. Sua motivação veio de conversas com colegas biodinâmicos franceses associados ao desejo de produzir vinhos não padronizados. A experiência lhe foi bastante satisfatória, tanto que seu tinto ícone, Antiyal, passa um ano em ovo de concreto, sem sequer se aproximar de qualquer madeira. Devido aos custos, Espinoza começou com ovos de 6 hectolitros no intuito de “envelhecer o vinho em suas próprias borras após a fermentação malolática” e, nos ovos, por conta de seu formato, “as borras se mantêm em constante movimento, como se fizesse bâtonnage contínua”.

Ainda no Chile, os Chardonnay, Sauvignon Blanc, Pinot Noir e Syrah da linha EQ, da Matetic, e os vinhos da linha Signos de Origen, da Emiliana, são produzidos em ovos de concreto. Na Morandé, o enólogo Ricardo Baettig compõe tanto o Sauvignon Blanc Edición Limitada quanto o Chardonnay Gran Reserva fermentando 80% dos vinhos em carvalho e 20% em ovos de 1.800 litros, deixando-os envelhecer nos ovos por dez meses. Outros exemplos de vinícolas que contam com ovos de concreto em suas adegas são Errázuriz, Undurraga, Veramonte, Cono Sur, Viu Manent e Montes.

Na Argentina, um entusiasta é Matías Michelini, que adotou o método de vinificação em 2012. E não só. Como o investimento em ovos é alto (eles não são baratos; um Nomblot, na França, varia entre € 3.000 – 6 hl – e € 6.000 – 16 hl –, fora as despesas de transporte), Michelini contratou o fabricante de tanques Daniel Moreno para construir os recipientes. Resultado disso é que outros produtores, como a Viña Morandé, por exemplo, usam ovos fabricados na Argentina. Aliás, os recipientes têm feito a cabeça de outras vinícolas como Bodega Aleanna, do famoso tinto El Enemigo, da Zorzal, com a linha Eggo, da Catena, da Zuccardi, da Trapiche, da Rutini e de muitas outras mais.

Galinha dos ovos de ouro?



O uso ovo de concreto tem sido analisado pelo Centro de Pesquisas da Universidade de Geisenheim, na Alemanha. Um experimento conduzido pelo Dr. Maximilian Freund comparou a vinificação de um Riesling Rheingau em um ovo de concreto de 900 litros fabricado pela empresa Michlits e outro em um tanque de 900 litros de aço inoxidável. Os resultados indicaram que, pelo menos na safra 2008, o branco em questão não se adaptou exatamente bem ao concreto. Isso porque o pH do vinho se mostrou muito baixo para o material e seus ácidos corroeram o concreto, ainda que as propriedades sensoriais do vinho não tenham sido afetadas.

Freund levanta duas considerações principais a respeito dos ovos de concreto: o concreto em si e o formato oval. Para ele, vinhos que apresentam pH mais elevado e acidez mais baixa – como os do sul da Europa, por exemplo – são menos corrosivos ao material. Já com relação ao ovo, nesse único experimento, não foram notadas diferenças consideráveis nas fermentações feitas no ovo de concreto e no tanque de aço, seja em relação às leveduras, seja em relação à biomassa. Um ponto diferencial foi a duração da fermentação – mais longa, e com açúcar residual ligeiramente mais alto no ovo.

O estudo conclui que os ovos não seriam uma espécie de artifício com a capacidade de fazer mágicas na elaboração do vinho. O trabalho importante continua acontecendo no vinhedo e todo o processo de vinificação deve ser considerado, não apenas um aspecto dele.

Ovo de madeira

Atenta ao interesse dos enólogos – especialmente os afeitos aos métodos biodinâmicos – em usar ovos de concreto para produzir seus vinhos, a reconhecida tonelaria francesa Taransaud desenvolveu um ovo de carvalho francês, o qual chamou de “Ovum”. É o primeiro projeto de tanque de fermentação em formato oval fabricado a partir de algo que não o concreto. O valor do Ovum é alto, aproximadamente € 40.000. A questão é: vale o investimento? As primeiras degustações de vinhos fermentados e envelhecidos no Ovum não foram tão animadoras assim. Um ponto positivo foi o fato de que, no Ovum de 400 litros, as características e qualidades pretendidas foram atingidas em metade do tempo de guarda estimado, provavelmente devido ao tamanho e ao formato do recipiente. O Domaine de Chevalier, em Bordeaux, e a Maison Drapier, em Champagne, são dois dos produtores que estão vinificando alguns de seus vinhos no Ovum.


sábado, 25 de abril de 2020

Novecento Rosado 2017


Uma vez eu disse: só comprarei espumantes brasileiros. Faz sentido e é justo, levando-se em conta que os nossos espumantes, a meu ver, são os melhores, ainda tendo uma diversidade de propostas e preços. Portanto não fui, com essa opinião, ufanista. É uma ideia acertada, mas hoje, penso que não deve ser definitiva, apenas prioritária, para não cair na contradição. Digo isso, pois, em meus passeios pelos supermercados da vida, me deparei com um espumante argentino, da região emblemática de Mendoza que, admito, foi pelo preço: R$ 19,90! Infelizmente, por melhor que os nossos espumantes sejam, encontrar um por 19,90, de qualidade, é uma árdua missão. Fiquei curioso e comecei com meu “primeiro contato” de identificação do vinho, acessando o site do produtor, lendo e interpretando as informações contidas no rótulo etc. E a primeira coisa que me chamou a atenção foi o blend. Embora as castas sejam típicas na Argentina, o corte, pelo menos para mim é atípico, com Chardonnay, Chenin Blanc e Bonarda. Foi definitivo para a minha decisão de compra.

E o vinho que degustei e gostei, que me surpreendeu de forma positiva, é o Noveento Rosado, composto pelas castas Chardonnay (50%), Chenin Blanc (40%) e Bonarda (10%) da safra 2017 e feito pelo méodo charmat Se quiser saber sobre o método de vinificação acesse: Diferenças entre os métodos Champenoise e Charmat. O curioso e que vale mencionar é que as uvas vieram de regiões ou sub-regiões diferentes de Mendoza: o Chardonnay veio da zona alta de Lujan de Cuyo, o Chenin Blanc das vinhas velhas na Zona Central e a Bonarda da região de Santa Rosa. E, segundo a informação que consta no site do produtor é de que são solos diferentes, de barro pedregoso de profundidade, solos arenosos profundos, boa amplitude térmica, excelente iluminação etc. Enfim, sendo determinante, claro, para o vinho final. Mas isso falarei agora.

Na taça apresenta um rosa casca de cebola, meio acobreado, bem bonito, com perlages finos e abundantes, muito elegantes explodindo no copo.

No nariz traz aromas de frutas vermelhas, como morango e cereja, aromas esses agradáveis prenunciando a jovialidade e frescura do vinho.

Na boca reproduz as impressões olfativas, com certa untuosidade, bom volume de boca, descortinado pelo toque adocicado que, embora seja evidente, não se torna enjoativo. Baixa acidez, afinal as castas que compõe o corte, não tem tal característica, com um final persistente e agradável.

Um vinho, apesar da safra (2017), e talvez seja exclusivamente por ela, tenha barateado o vinho, se revelou fresco, jovem, delicado, equilibrado, ideal para ser degustado em dias quentes e ensolarados ou simplesmente para dias ou noites agradáveis, sendo extremamente informal. O posto nobre dos espumantes brasileiros em minha adega estará sempre guardado, mas a flexibilidade de garimpar novos borbulhantes espalhados pelo mundo não estará fora de minhas pretensões. Um belo espumante dos hermanos. Com 11,5% de teor alcoólico.

Sobre a Bodega Dante Robino:

A Dante Robino é conhecida por ser uma vinícola argentina com espírito italiano. Com quase 200 anos de tradição, foi uma das primeiras a cultivar a uva Malbec no país e, portanto, a história desta casta na Argentina tem episódios importantes que passam pela adega. Conhecida tanto por seus vinhos tranquilos quanto pelos com borbulhas, a Bodega Dante Robino é o principal  produtor de espumantes argentinos. Nascido em uma comunidade de vinicultores do Piemonte, no noroeste da Itália, Dante Robino mudou a história da sua família ao se mudar para a Argentina, em 1920. Chegando em Mendoza, o italiano logo começou a estruturar uma vinícola que levaria seu nome, e onde ele escolheu cultivar as mudas de Malbec e Bonarda que trouxe consigo na bagagem. Foi a partir de 1982, no entanto, que a tradicional vinícola deu um passo rumo à modernidade com a chegada da família Squassini ao comando do empreendimento. Somando às técnicas tradicionais piemontesas de Dante com equipamentos de tecnologia de ponta, a nova gerência iniciou então a produção de seus vinhos espumantes, que rapidamente teriam sua qualidade reconhecida pelos cinco continentes do mundo. A vinícola trabalha com vinhas plantadas na década de 1990, ou seja, com aproximadamente 20 anos. A idade da vinha é muito importante, uma vez que determina o quanto as raízes estão profundamente embrenhadas na terra. Uma vinha nova (de até quatro anos) ainda está desenvolvendo as suas raízes, o que significa que sua maior fonte de água ainda é a chuva. Já uma vinha velha possui raízes bastante arraigadas e, dessa forma, consegue alcançar água em níveis mais profundos do solo. A vinícola possui dois vinhedos, um em Lujan de Cuyo e outro em Tupungato. Ambas as áreas tem uma temperatura média bastante favorável para a viticultura. O vinhedo de Tupungato encontra-se a 1.100 metros de altitude, enquanto o de Lujan de Cuyo está a 980 metros, ambos com excelente exposição. Atualmente a vinícola tem uma produção estimada em 9 milhões dos quais metade é de espumantes ou vinho base para espumantes – que além de ser usado na própria vinícola é também vendido a terceiros -, sendo o Novecento, um espumante produzido por método tanque e de preço bastante acessível – principalmente no mercado interno, ocupa a maior fatia.

Mais informações acesse:




sexta-feira, 24 de abril de 2020

Diferenças entre os métodos Champenoise e Charmat


Se você se interessa por espumante, já deve ter ouvido falar ou visto nos rótulos as expressões Champenoise e Charmat. As duas palavras, de origem francesa, identificam o método pelo qual o espumante foi elaborado antes de receber a rolha.

Método Champenoise

O método Champenoise recebeu esse nome porque é a forma na qual os primeiros espumantes foram feitos na região de Champagne, na França. Também conhecido no Brasil por método tradicional, nessa forma de elaboração, as borbulhas do vinho são criadas graças a uma segunda fermentação em garrafa. Primeiro, fermenta-se o mosto para que seja transformado em vinho. Depois, já com o vinho engarrafado, antes de receber a rolha de cortiça, ocorre a segunda fermentação. Diz a história que Pierre Pérignon, que era um monge beneditino da Abadia de Hautvillers, mais conhecido como Dom Pérignon, esforçou-se muito para domar os vinhos que fermentavam pela segunda vez nas garrafas, frequentemente, fazendo-as explodir. Dom Pérignon é reconhecido por vários historiadores como o criador do Champagne. A escala de produção é menor, já que um espumante elaborado pelo método demanda meses ou anos para ficar pronto. Além disso, pela forma quase artesanal, tem custo mais elevado que o método Charmat. Devido ao maior tempo de contato com a levedura, o espumante feito pelo método Champenoise tende a ser mais complexo, com aromas de fermento, pão e frutas secas.


Método Charmat

O método Charmat foi criado pelo italiano Federico Martinotti em 1895, mas foi patenteado pelo francês Eugène Charmat em 1907. Assim como no método Champenoise, as borbulhas do vinho também ocorrem devido a uma segunda fermentação. Contudo, essa fermentação não ocorre na garrafa, mas em um grande tanque de inox.  Esses tanques são especialmente desenvolvidos para suportar a pressão advinda da liberação do gás carbônico. Nesse método, o tempo de produção é bem menor, podendo o espumante ficar pronto em dias. Com isso, reduz-se consideravelmente o custo. Com um tempo bem menor de contato com a levedura, o espumante feito pelo método Charmat tende a ser mais leve, frutado e cítrico.


Não importa o método de produção, ambos produzem ótimos espumantes.

Fontes: 







quinta-feira, 23 de abril de 2020

El Lagar de la Aldea Viúra 2017


Estive em um supermercado fazendo compras cotidianas e, não me lembro (acho que sim!) na adega deste correndo os meus olhos nas suas gôndolas. E com um olhar de detetive olhei cada espaço, cada metro quadrado dessas gôndolas quando fixei os olhos em um lugar improvável: na parte de baixo e a mais empoeirada e avistei um vinho que me parecia um tanto quanto esquecido, rejeitado por tudo e todos (confesso-lhes que ultimamente tenho dado atenção aos vinhos “vilipendiados”) e o peguei. Como de costume examinei-o detalhadamente e vi série de grandes novidades, já dizia Cazuza, pelo menos para mim, um simples enófilo. Percebi que, além de ser um vinho espanhol, que não é uma novidade, observei que era um vinho da casta Viúra, que eu nunca havia degustado e de uma região chamada Navarra, local que nunca bebi um vinho sequer e, para fechar, o preço. Estava muito barato! Estava na faixa dos R$ 22,00! Animei-me, mas também fiquei com receio quanto a sua qualidade, mas arrisquei e comprei, afinal, se for ruim, pensei o gasto não seria tão alto.

O vinho que degustei e gostei, pasmem, se chama El Lagar de la Aldea (Vinícola da Vila, em tradução literal), da já mencionada região de Navarra, 100% Viúra, da safra 2017. Como muito das características e apresentações desse vinho foram novidades para mim, não posso deixar de falar, mesmo que brevemente, da história da casta Viúra e da região de Navarra.

Viúra

É a uva vinífera branca mais popular do norte da Espanha, também conhecida como Macabeu. Os nomes Macabeu e Maccabéo são mais comuns em Languedoc-Roussillon, no sul da França. Macabeo aparece em grande parte de sua terra natal, na Espanha. Viúra é comum em Rioja, onde é, de longe, a uva de vinho branco mais plantada. Uma informação relevante: essa é uma das principais variedades utilizadas na produção dos espumantes Cava. Na maioria das vezes engarrafado jovem, o vinho produzido com essa uva é seco, e tem uma boa capacidade de envelhecimento, como comprovam os melhores exemplares da cepa. E essa é uma uva, naturalmente, de alto rendimento. Sem o devido cuidado, os frutos ficam muito grandes, com baixa proporção entre casca e polpa, e os cachos, de tão apertados, podem facilmente apodrecer. Mas, com a planejada redução por parte do viticultor, essa uva concentra aromas e sabores de maneira muito interessante. Fonte: Tintos & Tantos (http://www.tintosetantos.com/index.php/escolhendo/cepas/448-macabeo).

Região de Navarra

Navarra fica no norte da Espanha e a tradição da uva, aqui, vem de muito longe. Recentemente, pesquisadores identificaram, em Navarra, plantas da primitiva Vitis silvestris, encontrada em pouquíssimos lugares do mundo, e cuja origem pode chegar a, quem sabe, 5 milhões de anos!


A produção do vinho, por sua vez, acredita-se ter sido iniciada com os romanos. Vestígios arqueológicos de adegas, túmulos e ânforas comprovam essa tese. Essa tradição sobreviveu ao domínio árabe, e expandiu-se significativamente com a ajuda do clero durante a Idade Média. Mas, depois de ver seu apogeu no século 19, a vinicultura em Navarra quase morreu, à época da Filoxera. Dos 50.000 hectares de vinhas existentes, 48.500 foram destruídos pela praga. Para saber mais sobre esse assunto, clique aqui. Atualmente, existem cerca de 11.500 hectares ocupados por vinhedos, em Navarra, distribuídos em 5 áreas de produção, de acordo com a diversidade de clima e solo: Baja Montaña, Ribera Alta, Valdizarbe, Tierra Estella, Ribera Baja. Cerca de 70% dos vinhos produzidos em Navarra são tintos, 25% são rosés, e apenas 5% são brancos (incluindo uma pequena parcela de vinhos de sobremesa). As uvas mais cultivadas na região, dentre as autorizadas pelo conselho regulador da denominação de origem, são Tempranillo, Garnacha, Cabernet Sauvignon, Merlot, Graciano e Mazuelo. Entre as brancas, destacam-se Chardonnay, Viura e Moscatel. Fonte: Tintos & Tantos (http://www.tintosetantos.com/index.php/denominando/855-navarra)

Agora o vinho!

Na taça apresentou um amarelo bem intenso, vivo, pleno, brilhante, com discretos tons esverdeados.

No nariz apresentou um discreto, mas agradável toque cítrico, frutas tropicais e notas florais, de flores brancas
.
Na boca é um vinho majoritariamente seco, típica da casta, que me agrada muito, embora tenha sido um dos vinhos mais secos que degustei nos últimos anos. Acidez muito boa, diria um pouco elevada, denunciando a sua leveza e certo frescor com final frutado e persistente.

Diria que é um vinho “atípico” e por que digo isso? É um vinho, como disse muito seco o que não agradaria, embora seja um branco, a paladares de um iniciante (a mim agradou!) e também não percebi um grande frescor no vinho, como de outros brancos que degustei que tem a mesma proposta deste em especial. Mas estava lá, graças a sua boa acidez, mas em menor intensidade, em relação aos demais brancos que já degustei. São características, sejam da casta ou do rótulo propriamente dito, que, com mais experiências de degustação da Viúra poderá formar a minha opinião com mais certeza e diria até com mais consistência. E o farei, espero que muito em breve. Fiquei muito feliz com essa degustação cheia de estreias! Um achado que, mesmo rejeitada no fundo das gôndolas dos supermercados, à sombra dos badalados, me trouxe grande satisfação, principalmente pelo fato de que, conforme já mencionado no histórico da região de Navarra, de onde o vinho veio apenas 5% dos vinhos nesta região produzidos são brancos! Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a Bodegas El Lagar de la Aldea e o Grupo Manzanos Wines:

Manzanos Wines é a divisão de vinhos da Manzanos Enterprises, dedicada à produção de DOCa Rioja , DO Navarra e vinho espanhol desde 1890. Sua história está ligada à história de uma família, ao seu esforço, à sua constância e aos seus vinhos, o saber fazer. Como resultado, a empresa possui onze vinícolas que cresceram as cinco gerações da família Fernández de Manzanos. Depois de mais de 128 anos dedicados de corpo e alma à cultura do vinho, a Manzanos Wines possui 950 hectares protegidos pelo DOCa Rioja. Juntamente com os 575 hectares cobertos pela Denominação de Origem Navarra, a empresa possui um total de 1.525 hectares. A principal atividade da empresa é a elaboração e comercialização do vinho DOCa Rioja e suas principais vinícolas pertencem a essa denominação. Bodegas Manzanos Haro, Bodegas Manzanos Azagra , Viña Marichalar e  Bodegas Luis Gurpegui Muga  são as vinícolas nas quais Manzanos produziu os vinhos desta Denominação de Origem Qualificada a partir de seus 950 hectares de vinhedo. As vinícolas onde os vinhos DO Navarra são feitos são as recém-adquiridas Bodegas Manzanos Campanas (antiga Vinícola Navarra, a mais antiga da DO Navarra), Castillo de Enériz e Monte Ory . Manzanos possui 575 hectares de vinhedos nessa denominação. Por seu lado, Bodegas Mosen Pierre, El Lagar de la Aldea e Bodegas Gurpegui são as vinícolas onde são feitos os vinhos espanhóis. As Bodegas El Lagar de la Aldea estão localizadas na cidade de Azagra , no sul de Navarra e quase na fronteira com La Rioja. São as vinícolas com as quais a família Fernández de Manzanos iniciou há mais de 125 anos, em 1890 , a produção e a comercialização de seus vinhos quando as denominações de origem ainda não existiam. Eles renovaram as instalações e continuam a produzir o vinho clássico de todos os tempos, mas aplicando as novas técnicas e tecnologias adquiridas nesses 125 anos. Eles não apenas produzem a marca El Lagar de la Aldea, mas também têm outros vinhos como Portil de Lobos, La Heredada, Marqués de Araiz e Davne.

Mais informações acesse:



Vinho degustado em 2019.


Elegido Bivarietal tinto 2015


Na escolha de um vinho temos que seguir, basicamente, a meu ver, o que diz o nosso coração aliado, é claro, aos seus anseios de momento, tais como: casta que quer degustar, região a qual o vinho foi produzido, safra em especial, o país etc. Mas também uma recomendação de outra pessoa pode ser preponderante para a sua escolha e isso não é ser sugestionável, é tão somente mais uma ajuda que você fará uso, como uma espécie de “suporte” para a sua decisão final. E neste vinho em especial foi uma dica que recebi. Estive em uma loja especializada de vinhos e o funcionário me abordou perguntando se eu tinha uma predileção. Disse que sim, gostaria de um vinho uruguaio, de preferência, é claro, da casta Tannat e que não “doesse” ao bolso. Ele foi categórico na escolha e me indicou um vinho de uma região que não conhecia, bem como o seu produtor.

O vinho escolhido e que degustei e gostei é o Elegido da tradicional Montes Toscanini, da emblemática região de Canelones, mais precisamente de Las Piedras, da safra 2015, um bivarietal das castas Tannat (60%) e Merlot (40%). Embora seja um bivarietal e a minha intenção era ter um 100% Tannat, esse corte foi, diria, determinante para a minha simpatia ao rótulo e o direi nas minhas descrições organolépticas.

Na taça apresenta um vermelho rubi intenso, com entornos violáceos com lágrimas espessas e ocasionais, que logo se dissipa.

No nariz tem aromas intensos de frutas vermelhas frescas com destaque também para frutas vermelhas maduras, mas que lhe conferem aquele sabor enjoativo comum em alguns vinhos frutados. Tem também um curioso toque de tostado e baunilha, não sei dizer ao certo se é em virtude de passagem por barricas de carvalho ou características oriundas do próprio vinho. No rótulo, bem como no site do produtor não há referências sobre este vinho ter passado por madeira, principalmente por se tratar de um vinho básico.

Na boca traz as mesmas percepções olfativas, além de ser seco, corpo leve para médio, elegante, equilibrado, isso se deve muito ao corte onde o Tannat é amansado pelo Merlot, graças ao percentual praticamente igual entre as cepas. Trata-se de um corte típico nos vinhos uruguaios. Apresenta ainda boa acidez, que traz ao vinho certo frescor e jovialidade, taninos macios e um final de média persistência e frutado.

Um vinho pronto para ser degustado, graças, como disse, ao corte das cepas, agradável de ser degustar, redondo e de interessante custo X benefício. O teor alcoólico segue a proposta com seus 12%.

Sobre a Montes Toscanini Wines:

Tudo começa em 1894 quando don Juan Toscanini e sua esposa dona María Bianchi, deixam a cidade de Gênova, na Itália, e se estabelecem na região do Rio da Prata, mais precisamente na zona de Canelón Chico, localizada a 30 Km ao norte de Montevidéu, Uruguai.


Em dito lugar, desempenham atividades como trabalhadores rurais, arrendando uma pequena parcela de campo que posteriormente conseguem adquirir. Visionário e empreendedor, e, após vários anos trabalhando como peão, don Juan Toscanini funda sua própria vinícola no ano de 1908, elaborando 4200 litros de vinho que se comercializaram sob a marca “La Fuente”. A partir desse momento, a fértil semente da vitivinicultura lança raízes muito firmes na família com a arte do cultivo da uva e a produção de vinhos sendo seguida, até hoje, por seus filhos, netos e bisnetos.



Em 1982, ocorre a re-estruturação de nossos vinhedos substituindo-se as variedades comuns por tannat, cabernet e merlot. Com tal mudança, começam a elaborar vinhos finos. Em 1995, obteve o primeiro reconhecimento internacional e, dois anos mais tarde, nossa primeira exportação ao Reino Unido. No ano de 2000, nasce o vinho premium ADAGIO, uma fusão de tannat, cabernet sauvignon e merlot. É um vinho elaborado apenas com vindimas excepcionais, maximizando o melhor das uvas. Em 2001, graças a projeção internacional, surge uma joint venture com Chateau Los Boldos, do grupo Massenez. Nasce CASA VIALONA, um vinho 100% tannat com maturação de um ano e meio em barril. Em 2008, a Montes Toscanini completou 100 anos de história. E, para honrar essa trajetória, criou o vinho ANTOLOGÍA. Trata-se de uma edição limitada de 1908 garrafas que contêm a maior experiência na vinificação da uva tannat. É um vinho elaborado com arte e as melhores uvas da vindima desse ano.

Mais informações acesse:

https://www.toscaniniwines.com/pt/

Vinho degustado em 2016.


quarta-feira, 22 de abril de 2020

Nederburg Foundation Pinotage 2015


Esse não foi a minha primeira experiência com a Pinotage. Já havia degustado outros rótulos desta cepa antes do rótulo que falarei agora. O que motivou mais uma compra da Pinotage foi a sua história e, sobretudo, claro, pela sua qualidade, pela sua personalidade. Um vinho que, independente da sua proposta, se mostra maiúsculo, potente e exemplarmente saboroso, com um belo volume de boca. E, como disse, um dos fatores que fez com a Pinotage ganhasse a minha atenção e logo simpatia, foi por ser conhecida como uma, como costumo dizer, uma “casta de laboratório”. Não sei se essa observação é correta, mas, pela sua história, em tese tinha tudo para ser rejeitada, mas hoje é tida como um produto de exportação, um orgulho para os sul africanos, os pais da casta.

O vinho que degustei e gostei vem, como já disse, da África do Sul, da região de Paarl, sub-região da Província da Western Cape, o famoso Nederburg Foundation Pinotage da safra 2015. Mas como degustar vinho, para mim, estimula o aprendizado, não podemos negligenciar a história, já por mim mencionada do Pinotage e como ela surgiu.

Pinotage

A Pinotage foi criada pelo professor de viticultura Abraham Izak Perold da Universidade de Stellenbosch, por volta do ano de 1925. A intenção do professor era unir as qualidades da Pinot Noir, como a sua delicadeza, seus aromas, com a notável produtividade e resistência da Hermitage (Cinsault). Isso porque, a Pinot Noir não resistia muito bem ao clima da África do Sul, ao passo que a Hermitage se desenvolvia muitíssimo bem. O objetivo, portanto, era criar um vinho leve e aromático, como o Pinot Noir, com uvas que crescessem e se desenvolvessem como a Cinsault. Mas o resultado não foi muito próximo do esperado: o vinho elaborado com a nova uva, a Pinotage, era bem escuro, encorpado e com muitos taninos. A uva entrou em evidência a primeira vez, quando em 1959 um vinho produzido com esta cepa foi campeão no Concurso Cape Young Wine Show na Cidade do Cabo. Em 1991, outro vinho produzido somente com Pinotage foi eleito o melhor tinto no Concurso Internacional “Wine & Spirits” em Londres, reforçando a sua imagem de qualidade e a história a gente já sabe. Como curiosidade, o termo “Pinotage” é a combinação dos nomes das duas uvas que lhe deram origem: “pino”, de Pinot Noir, e “tage”, de Hermitage. Fontes: Vinitude clube de vinhos (https://www.clubedosvinhos.com.br/quase-indomavel-pinotage/) e Winer (http://www.winer.com.br/uva-pinotage/).

Sobre a região de Paarl, Western Cape

Paarl está localizada na província de Western Cape, ficando a 60 km da Cidade do Cabo, na África do Sul, sendo hoje uma região produtora dos melhores vinhos daquele país, exportados para o mundo todo.


A região vitivinícola de Paarl é das mais importantes para a produção de vinho na África do Sul, podendo ser considerada como o grande portal para quem quer conhecer os vinhos da região do Cabo. O nome Paarl é derivado de pérola, sendo a designação da Montanha Pérola, uma rocha de granito que se sobrepõe à paisagem, tornando-se brilhante à luz do sol, principalmente em dias de chuva. A história da vitivinicultura na região de Paarl remonta ao século XVII, precisamente em 1680. A produção de vinhos teve início na África do Sul com os franceses, em 1652, com Jan Van Riebeek, o primeiro comandante da guarnição que fundou a Cidade do Cabo. Sua pretensão era produzir vinho para combater o escorbuto que grassava na época entre os marinheiros da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais. Os vinhedos foram se espalhando ao longo do tempo, ocupando a região de Stellembosch, em seguida Constantia, chegando a Paarl em 1680. Fonte: Vinitude clube de vinhos (https://www.clubedosvinhos.com.br/paarl-uma-longa-tradicao-em-vinhos-nobres/).

O vinho:

Na taça tem um vermelho rubi com reflexos violáceos, sendo muito brilhante e bonitos aos olhos. Tem lágrimas abundantes e vibrantes, finas, persistentes, teimando em desenhar as bordas do copo.
No nariz é intenso, muito aromático, sendo frutado, uma explosão de frutas vermelhas frescas, com um toque discreto, mas agradável de especiarias.

Na boca é seco, apesar de ser muito frutado, com médio corpo, apresentando certa estrutura e alguma complexidade, com bom volume de boca, com taninos presentes, mas suaves, com acidez instigante e final de média intensidade, sendo muito agradável.

Um vinho que expressa, em sua plenitude, o verdadeiro Pinotage sul africano, com muita personalidade, aliado a maciez e facilidade de degustação, revelando também equilíbrio, harmonia e versatilidade, sobretudo na harmonização que vai de carnes vermelhas, queijos fortes a massas condimentadas e uma boa pizza de quatro queijos, por exemplo. Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Nederburg:

A história de Nederburg começou em 1791, quando o imigrante alemão Philippus Wolvaart adquiriu 49 hectares de terra no vale de Paarl. Ele nomeou sua propriedade Nederburgh, em homenagem ao comissário Sebastiaan Cornelis Nederburgh. Mais tarde, o 'h' foi retirado da grafia do nome da fazenda e tornou-se Nederburg como é conhecido hoje. A bela mansão holandesa do Cabo, coberta de palha e empena, que Wolvaart completou em 1800 é hoje um monumento nacional. E sobre a linha “56 Hundred” há uma curiosidade: Essa variedade de vinhos refrescantes, frutados e suave leva o nome ao preço de mil e seiscentos florins que Philippus Wolvaart pagou em 1791 pela fazenda em que deveria nomear Nederburg. Um visionário que reconheceu o potencial vitícola da terra, ele teve a tenacidade de domesticar a propriedade e estabelecer uma fazenda que continua a florescer hoje. Em 1810, vendeu a fazenda para a família Retief, que conservou a propriedade por 70 anos. Em seguida a Nederburg passou por diversos proprietários até ser adquirida, em 1937, por Johann Graue que foi buscar na Alemanha o talentoso enólogo Günter Brözel para comandar a produção. Durante anos, Brözel elevou a reputação da Nederburg a nível mundial. Quem o sucedeu foi o enólogo romeno Razvan Macici, que recebeu inúmeros prêmios ao longo dos anos. Macici aliava a capacidade de criar vinhos exclusivos à habilidade para a elaboração de rótulos acessíveis. A Nederburg é conhecida pela visão vanguardista, sempre valorizando os cuidados no vinhedo e na vinificação para a elaboração de exemplares famosos mundialmente.

Mais informações acesse:

https://www.nederburg.com/

Vinho degustado em 2017.


Coppiere Nero d'avola 2018


Mais um vinho da série “Vinhos baratos que degustei e gostei”! A busca, o garimpo, bem como a “coragem” de degustar vinhos baratos pode trazer o risco da decepção, daquela sensação de que você esperava um pouco mais do rótulo. Mas há quem diga que os emblemáticos e caros rótulos também trazem essa máxima. O fato é que não é só grife e fama da vinícola que confere qualidade ao vinho, esse não é tão somente o fator que pode fazer, ou não, de um vinho especial. Sempre costumo dizer que a questão orgânica influencia e muito na decisão, não é à toa que encontramos algumas análises tão distintas de um mesmo rótulo de vinho, elogiando ou não. Alguém está errado? Não! São reações e percepções diversas que temos do vinho. Por isso que, antes de comparar os rótulos que degusta se informe das propostas que estes oferecem, talvez não sejam dignos de comparação por conta da proposta. Enfim, o rótulo que apresentarei, além de ter sido de um custo x benefício extremamente atrativo (estava, pasmem, na faixa dos R$ 20), me trouxe a novidade da casta que eu nunca havia degustado: Nero d’ Avola! Então, antes de apresentar o meu rótulo, vou apresentar a história da casta tão popular na Itália, mas que, embora encontremos alguns rótulos aqui no Brasil, não é tão popular em nossas terras.

A Nero d’Avola:

A uva tinta Nero D’Avola é a “uva negra da cidade de Avola”, região italiana localizada na costa sudeste da Sicília. Essa uva, também conhecida como Calabrese, é a variedade tinta mais plantada na Sicília. E não é de hoje. Essa é uma história de séculos.


As áreas de cultivo da uva Nero D’Avola podem ser encontradas na Austrália, na Califórnia e nos Estados Unidos, importante região vitivinicola do Novo Mundo, mas a região de maior expressão dessa casta é, sem dúvidas, na região da Sicília, província responsável pela produção de premiados e elogiados vinhos. Mas há uma polêmica envolvendo a origem da uva. Há quem afirme que ela nasceu na Calábria. Há quem sustente que o nome Calabrese não tem essa ligação, tendo derivado, na verdade, da palavra Calavrisi ou Calaurisi, usada para identificar os habitantes de Avola. Há quem afirme, ainda, que ela surgiu na Mesopotâmia. O fato é que Nero d’Avola é considerada uma uva nativa da Itália. Nero d’Avola é intensamente aromática. Quando jovem, o vinho produzido com a Nero d’Avola traz aromas de ameixa, frutas vermelhas, pimenta e cravo. Com o tempo em carvalho, contudo, Nero d’Avola adquire também sabores de chocolate e acentuado aroma de framboesa. Com cor profunda, acentuada acidez, alto teor alcoólico e muitos taninos, esse é um vinho que envelhece bem. Fontes: Tintos & Tantos (http://www.tintosetantos.com/index.php/escolhendo/cepas/670-nero-d-avola) e Mistral (https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/nero-d-avola).

O Vinho que degustei e gostei foi o Coppiere da casta 100% Nero d’Avola, da safra 2018, da região da Sicília, na Itália.

Vamos ao vinho.

Na taça, conforme já esclareceu o histórico da cepa, mostra um vermelho rubi escuro, mas com discretos traços violáceos em seu entorno, com lágrimas finas de média intensidade e que demoravam um pouco a se dissipar das paredes do copo.

No nariz traz intensos aromas de frutas vermelhas, como ameixa, cereja, e toques agradáveis de especiarias, como pimenta e cravo.

Na boca é seco, equilibrado, elegante, com notas frutadas intensas, sem ser enjoativo, com boa acidez, taninos delicados e sedosos, com um final médio, um retrogosto, diria, frutado.

Para a minha primeira experiência com a Nero d’Avola foi extremamente proveitosa e pretendo sim, degustar mais vinhos com essa casta nos seus mais variados estágios de proposta, dada a sua versatilidade. E a proposta deste rótulo da Coppiere é jovem, direto, mas que mostra a personalidade desta uva autóctone da Itália. Apenas para registro, ao desarrolhá-lo, percebi o álcool, no auge dos seus 13%, um tanto quanto alto, em desequilíbrio com o conjunto do vinho, mas, respirando na taça, logo se equilibrou sendo muito fácil de degustar e extremamente versátil também nas harmonizações. É possível fazê-lo com carnes magras e macarrão, a minha opção na degustação.  

Sobre a Schenk Wineries:

As vinícolas italianas de Schenk são de longe um dos produtores de vinho mais importantes a nível nacional. Fundada em 1952 em Reggio Emilia e transferida em 1960 para Ora, no sul do Tirol, a sede da primeira vinícola está intimamente ligada à área de produção. Este foi o primeiro passo do projeto "Vinícolas Italianas". Através deste projeto, a empresa, anteriormente dedicada ao engarrafamento de vinho a granel, torna-se produtora antes de tudo com o desenvolvimento de “Marcas da terra”, graças à colaboração com pequenos produtores de alta qualidade localizados nessas regiões, historicamente mais vocacionados para produção de vinho como Tirol do Sul, Toscana, Veneto, Sicília, Piemonte, Apúlia e Abruzzo. Em segundo lugar, através da aquisição das vinícolas “Bacio della Luna” em Vidor - Valdobbiadene (Treviso) e “Lunadoro” em Valiano di Montepulciano (Siena). Um caminho evolutivo começou há muitos anos, com o objetivo de fortalecer os laços com a terra e as tradições. Esses valores, juntamente com as fortes oportunidades oferecidas pelo progresso tecnológico, permitem que as vinícolas italianas da Schenk trabalhem de maneira sustentável.

Mais informações acesse:

http://www.schenkitalia.it/

Vinho degustado em 2019.


Autoritas Chardonnay 2016



Sempre falo, com muita alegria, que, quando investimos em rótulos baratos que entregam além do que valem, traz um sentimento de que acertamos, fomos felizes na escolha, diria que, talvez seja um pouco de pretensão da minha parte, estamos “capacitados” para escolher mitigando os riscos que existem em comprar vinhos com determinadas faixas de preços, sobretudo os mais baratos. Admito também que o conceito de valor, do baixo custo, seja um tanto quanto relativo, afinal o que é barato para mim pode não ser para outra pessoa, levando em consideração também a proposta do vinho que se consome. Mas estou falando de R$ 25,90! Sim, um valor muito atrativo quando falamos de um vinho chileno da famosa vinícola Luis Felipe Edwards, um produtor que definitivamente entrou no meu rol das preferidas. Pronto! Acho que essas credenciais já faz com que o valor seja imbatível.

O vinho que degustei e gostei a que me refiro é o da linha Autoritas da casta Chardonnay, a rainha das castas brancas e que se dá muito bem com as terras produtivas do Chile, esse é da emblemática Valle Central, um DO (Denominação de Origem), da casta 2016.

Antes de falar do vinho, vamos as curiosidades. A palavra “Autoritas” vem do latim auctoritas, que significa prestígio, honra, respeito, autoridade. Esses valores foram o que inspirou a criação desta marca, desenvolvida por Luis Felipe Edwards Family Wines. A crista (brasão) da família, presente em cada garrafa, é o selo que reúne esses valores, passados ​​de geração em geração e expressos em cada copo da Autoritas.



Vamos ao vinho:

Na taça apresenta um amarelo palha com discretos reflexos esverdeados, muito brilhantes.
No nariz é intensamente aromático, com notas generosas de frutas brancas, tropicais e cítricas. Nota-se pêra, abacaxi, lima. Um agradável toque floral, flores brancas, denunciando o frescor e a jovialidade do vinho.

Na boca é leve, fresco, frutado, com acidez baixa, típico da Chardonnay, independente da sua proposta, com um final frutado, saboroso e de média persistência.

O Autoritas Chardonnay é leve, informal, despretensioso, mas que te entrega personalidade e equilíbrio. Versátil harmoniza com frituras, carnes brancas como peixe e até um bom macarrão ao alho e olho, sem aqueles molhos mais picantes. Tem 12,5% de teor alcoólico.  

Sobre a Viña Luis Felipe Edwards:

A Viña Luis Felipe Edwards foi fundada em 1976 pelo empresário Luis Felipe Edwards e sua esposa. Após alguns anos morando na Europa, o casal decidiu retornar ao Chile e, ao conhecer terras do Colchágua, um dos vales chilenos mais conhecidos, se encantou. Ali, aos pés das montanhas andinas, existia uma propriedade com 60 hectares de vinhedos plantados, uma pequena adega e uma fazenda histórica que, pouco tempo depois, foi o marco do início da LFE. De nome Fundo San Jose de Puquillay até então, o produtor, que viria a se tornar uma das maiores vinícolas do Chile anos mais tarde, começou a expandir sua atuação. Após comprar mais 215 hectares de terras no Vale do Colchágua nos anos de 1980, começou a vender vinho a granel, estudar a fundo seus vinhedos e os resultados dos vinhos, e cultivar diferentes frutas para exportação. O ponto de virada na história da Viña Luis Felipe Edwards veio na década de 1990, quando Luis Felipe Edwards viu a expectativa do mercado sobre os vinhos chilenos. Sabendo da alta qualidade dos rótulos que criava, o fundador resolveu renomear a vinícola e passou a usar o seu próprio nome como atestado de qualidade. Após um período de crescimento e modernização, especialmente com o início das vendas do primeiro vinho em 1995, a LFE se tornou um importante exportador de vinho chileno no começo do século XX. A partir de então, o já famoso produtor começou a adquirir terras em outras regiões do país. Na busca incessante por novos terroirs de qualidade, ele encontrou no Vale do Leyda um dos seus maiores tesouros: 134 hectares de videiras plantadas em altitude extrema, a mais de 900 metros acima do nível do mar.

Mais informações acesse:

https://www.lfewines.com/

Vinho degustado em 2017.


sábado, 18 de abril de 2020

Malma Malbec 2013



Quando você vai degustar um vinho argentino, um bom vinho dos Hermanos vem a sua mente os grandes vinhos da região emblemática de Mendoza, afinal, é a região que a Argentina vende ao mundo, são os vinhos exportados, a maior região vinífera daquele país. O que dizer dos Malbecs amadeirados, estruturados, macios e famosos? Mas graças a esse rótulo que, confesso descobri bem depois da compra, há outras regiões importantes e que parece produzir grandes vinhos, pois este rótulo me surpreendeu pela estrutura, complexidade, aliado ao frescor, equilíbrio, a fruta tão característica da Malbec argentina. Falo de um lugar chamado San Patricio del Chañar, que fica na Província de Neuquén, na Patagônia argentina. E, antes de falar do vinho, de apresenta-lo, cabe apresentar também um pouco dessa região, pouco comentada da Argentina.

Neuquén, a Patagônia argentina



A região da Patagônia, no sul da Argentina, foi habitada a milhões de anos por grandes Dinossauros. Nos últimos anos grandes achados paleontológicos estão sendo realizados, como pegadas petrificadas e esqueletos quase completos de dinossauros. Os vinhos da Patagônia estão em evolução e grandes projetos estão em desenvolvimento nesta região para a produção de vinhos de alta qualidade. Neuquén, sub-região da Patagônia, limita-se ao norte com a província de Mendoza, a leste com La Pampa e Rio Negro, ao sul com Rio Negro e a oeste faz fronteira com o Chile, separada pela Cordilheira dos Andes. A produção de vinhos está concentrada nos arredores de San Patricio del Chañar e na cidade de Añelo. O clima seco, os ventos moderados e a grande amplitude térmica proporcionam ótimas condições de sanidade nos vinhedos e excelentes níveis de acidez aos vinhos.

Vamos ao vinho:

O vinho que degustei e gostei foi o Malma Malbec, da Bodega Malma, da safra 2013, da região de Neuquén, na Patagônia argentina.

Na taça conta com um vermelho rubi intenso, quase negro, arroxeado, com lágrimas em abundância e que teimam em se dissipar, desenhando as paredes do copo.

No nariz remetem a frutos vermelhos como framboesa e ameixa, um toque discreto de especiarias, mas que denunciam muita frescura, típico da Malbec produzida na Argentina.

Na boca é intenso, estruturado e muito frutado com toques sutis da baunilha graças aos 9 meses de passagem por barricas de carvalho, cerca de 20% do vinho, enquanto os outros 80% estagiaram, também por 9 meses, em tanques de aço inox. Tem taninos robustos, presentes, mas sedosos, amansados pela madeira, com boa acidez e um retrogosto frutado e longo.

Um vinho surpreendente, saboroso, harmonioso, equilibrado, que, apesar de não ser de Mendoza, expressa fielmente a “marca” de ser um Malbec argentino. Espero degustar mais e mais vinhos dessa região para conhecer ainda mais essa região ainda pouco badalada da Argentina. Tem 14,5% de teor alcoólico. Para finalizar o termo que consta no rótulo “finca La Papay”, consiste na primeira geração de Malma, que homenageia a uma mulher visionária que, no começo do século XX escolheu essas terras patagônicas para concretizar seus sonhos de família e prosperidade.

Sobre o termo “Malma” que dá nome ao vinho e a vinícola:

O nome da vinícola, no dialeto Mapundungun (Mapuches), significa “orgulho” e é exatamente o que desperta nas pessoas que trabalham para obter vinhos de classe mundial. Por curiosidade: Os índios mapuches, do Chile e Argentina, foram os únicos, entre os povos nativos da América, a vencer militarmente os conquistadores espanhóis, no século XVI. Com táticas inéditas de guerrilha, sua resistência durou nada menos que 300 anos. Foram os criadores dos primeiros sindicatos de trabalhadores chilenos e hoje — apesar de espremidos no sul daquele país e numa pequena área da Argentina, situados nas regiões Chubut, Neuquén e Rio Negro — ainda lutam bravamente.

Sobre a Bodega Malma:

A Bodega Malma nasceu no coração da região vinícola de San Patricio del Chañar, na província de Neuquén, na Patagônia Argentina. Focado desde a origem na produção de vinhos sofisticados para exportar para os mercados mais exigentes do mundo, conta com o conselho do prestigiado Roberto de la Mota. A adega introduziu seus vinhos no mercado no ano 2004 e continua exportando seus produtos para o mundo desde esse momento. Seus 167 hectares de vinhedos cercam o edifício elegante e moderno que combina com a cerca e abriga a vinícola e o restaurante, onde se podem saborear os pratos do chef Pablo Buzzo, conhecido por suas raízes locais e pelo uso de matérias-primas da Patagônia. A localização da vinícola é em grande parte a chave para a qualidade de seus vinhos. No 39º sul, as condições climáticas são ideais para uma maturação lenta das uvas, permitindo um equilíbrio ideal entre açúcar e acidez, enquanto a exposição ao sol e os ventos que mantêm os frutos pequenos permitem obter vinhos de grande cor e estrutura. A vinícola pertence às famílias Viola e Eurnekian, comprometidas em obter excelentes vinhos das mãos do enólogo Sergio Pomar e da equipe agronômica com mais experiência em viticultura na região e, o mais importante, apaixonada pelo terroir da Patagônia.

Mais informações acesse:

http://www.bodegamalma.com/pt-br/

Vinho degustado em 2015.